Digo bolha porque não existem razões racionais que expliquem, pelo menos para o chamado mercado, esse entusiasmo com uma representante da floresta que sequer explicou o que pretende fazer na economia. O encantamento do povo se entende por razões emotivas, mas o do mercado soa artificial.
Não que ele seja irracional. Não é isso.
Minha interpretação é a seguinte: o mercado não aprecia especialmente a Marina pelo que ela é, pois é completamente desconhecida enquanto dirigente econômico, mas se sabe que é anticapitalista, como todos os petistas de coração, o que ela nunca deixou de ser.
Só que o mercado tem ainda mais horror da Dilma, e o Aécio não estava sendo considerado em condições de derrotá-la.
A Marina parece ser a única em condições de derrotar a soberana, e além de ter o apoio do povão, que quer algo diferente (mas isso é puramente emotivo e não tem nenhuma fundamentação na realidade), passou a gozar da simpatia do mercado por outras razões, ou pelo menos, pelas razões negativas.
Isso significa que a mediocrização cresceu celeremente sob o lulo-petismo, e estamos nos aproximando da Argentina...
Triste constatar isso, mas é como vejo: estamos com políticos medíocres, despreparados, e uma população que não consegue mais distinguir entre o que seria o certo e o puramente emotivo, irracional.
Acho que temos longos anos de decadência educacional e cultural pela frente.
Infelizmente...
Paulo Roberto de Almeida
O mercado financeiro celebra a onda Marina Silva
A Bolsa de Valores subiu com a pesquisa, e os agentes econômicos já dão como certa a vitória da candidata do PSB
O Brasil dormiu Dilma Rousseff e acordou Marina Silva nos últimos dias com a reviravolta nas pesquisas eleitorais.
A pesquisa do instituto Ibope de quarta-feira,
que revelou um salto no número de seus potenciais eleitores, virou o
humor o país. Marina, do Partido Socialista Brasileiro (PSB), tem 29%
das preferências, a petista Dilma tem 34%, enquanto Aécio Neves, do
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), 19%. Se nas redes
sociais se estabeleceram os debates contra e a favor do avanço da
ambientalista, na Bolsa de Valores de São Paulo ela já é tida como a
próxima titular no Palácio do Planalto. A bolsa fechou nesta
quarta-feira em 60.950 pontos, seu melhor resultado desde janeiro de
2013. Os analistas atribuem o desempenho à divulgação da pesquisa
eleitoral, que colocou Marina num movimento ascendente, com capacidade
de bater Rousseff no segundo turno. “A Marina é o nosso Obama”, diz Tony
Volpon, chefe de
Pesquisas para Mercados Emergentes da Nomura Securities.
A comparação com o presidente dos Estados Unidos diz respeito à
eleição dele em novembro de 2008, quando os Estados Unidos começavam a
ver o fim do sonho americano da opulência financeira, e buscavam uma
nova referência. “A Marina está com esse impulso de capitalizar o
sentimento de mudança no Brasil. Ela está se colocando como uma agente
de mudanças segura e confiável”, completa Nomura. Isso porque em suas
aparições como candidata oficial, desde a semana passada, ela tem
deixado claro que vai respeitar os compromissos assumidos por
Eduardo Campos.
E porque as pessoas que colaboram com o seu programa de Governo, como
o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, têm falado a linguagem das
finanças. Nesta segunda-feira, Fonseca concedeu uma entrevista ao jornal
Folha de S. Paulo anunciando que a equipe de Marina vai
restabelecer o tripé macroeconômico [câmbio flutuante, meta de inflação e
disciplina fiscal], estabelecido no segundo mandato de Fernando
Henrique Cardoso, que perdurou até o primeiro governo Lula e, ainda, que
vai reduzir o teto da meta inflacionária.
A Marina é o nosso Obama
Tony Volpon, da Nomura Securities
Dar esse norte para o futuro é saciar a fome de previsibilidade do
mercado financeiro. Assim, ao mesmo tempo que Marina capta a
insatisfação dos mais desiludidos com a política –jovens e indecisos– a
sua candidatura cativa os economistas. O mercado financeiro, entretanto,
pode até reagir com oscilações nos índices de bolsa, ou alta do câmbio,
como aconteceu durante o primeiro mandato do Governo Lula, quando o
dólar, hoje em 2,26 reais, chegou a 4 reais pelo temor de mudanças
radicais no cenário. Era o trauma da passagem de Fernando Collor de
Mello, que confiscou a poupança em 1990. O PT foi obrigado a escrever
uma cartilha de
combinados, a
Carta ao Povo Brasileiro, anunciando as diretrizes do governo que previa, por exemplo, o respeito às regras já estabelecidas.
Zeina Latif, economista chefe da
XP Investimentos,
diz que a verdade é que o mercado financeiro não tem ideologia. “Num
cenário, em que Dilma ganhe e ela anuncie que fará um governo indicando
um determinado ministro, e que faria uma gestão parecida com o do
primeiro governo Lula, o mercado ia celebrar”, diz Latif.
Quanto mais clara a sinalização de que haverá ajuste de contas
públicas, e as preocupações para o controle de inflação, maior o apoio.
Por isso, havia um bom humor com Aécio Neves, esclarece a economista da
XP Investimentos. “Ele já tem um time mais definido, já sabe quem será
ministro, quem será o nome para a pasta da Fazenda, e assim por diante”,
completa Latif.
Curiosamente, uma pesquisa informal, elaborada pelo
jornal Valor Econômico,
num evento com empresários na noite de segunda-feira, mostrou que se o
eleitorado fosse composto somente pelos empresariado, Aécio Neves,
candidato do PSDB, venceria de cara no primeiro turno, com quase 70% dos
votos, enquanto Rousseff teria 14%, e Marina Silva, 12%. Neste caso, o
setor empresarial se mostra mais conservador que o mercado financeiro em
apoiar a candidata do PSB porque Silva ainda não detalhou seu programa
de Governo e não se sabe exatamente como ela vai operar diante da
necessidade, por exemplo, de aumentar investimentos ou de ampliar os
acordos internacionais.
Tivemos muitos embates enquanto trabalhamos juntos, mas sempre
acabamos em acordos. E ela [Marina] está muito mais aberta hoje do que
naquele tempo
Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura
Já o mercado do agronegócio se mostra dividido diante da nova
perspectiva eleitoral. Roberto Rodrigues, por exemplo, ex-ministro da
Agricultura de Lula, que trabalhou ao lado de Marina, quando ela era
titular da pasta de Meio Ambiente, confia que a presidenciável do PSB
respeitará os compromissos firmados por Eduardo Campos. “Eu mesmo estive
em várias reuniões dele com lideranças rurais e ele foi muito claro e
positivo, defendendo a importância do agronegócio. Mas que fosse feito
com sustentabilidade”, conta Rodrigues.
O ex-ministro da Agricultura diz que conhece muito bem o estilo de
Marina Silva, e embora haja desconfianças sobre a sua postura, ele
acredita que a presidenciável se rende fácil ao diálogo e à negociação.
“Tivemos muitos embates enquanto trabalhamos juntos, mas sempre acabamos
em acordos. E ela está muito mais aberta hoje do que naquele tempo”,
elogia.
A senadora Kátia Abreu, do PMDB do Estado de Tocantins, tida como uma
forte porta-voz do agronegócio, entretanto, não esconde suas reservas.
Em entrevista recente à revista Época, Abreu disse que a candidata
socialista faz da questão ambiental “um dogma, uma religião”. E que
Silva “se recusa a dialogar e a abrir sua mente para outras situações
que a sociedade demanda”.
Ainda é muito cedo para falar em derrota da presidenta Dilma
Rousseff. Apesar de todas as questões econômicas, ela consegue dar
respostas
Elizabeth Johnson, da Trusted Sources
Mais imediatista, os investidores de curto prazo captam o movimento
do presente, seguindo a popularidade crescente de Marina Silva. Já é
dado como certa que uma nova pesquisa que será divulgada neste final de
semana terá a presidenciável na frente inclusive de Rousseff. Por isso, o
mercado já incorpora “É só ela não tropeçar, não fazer besteira que ela
ganha”, avalia Volpon, da Nomura Securities, que tem conversado com
pessoas do mundo econômico e político nos últimos dias. “Está difícil
encontrar alguém que não acredite na vitória da Marina”, completa.
Elizabeth Johnson, diretora de pesquisa para o Brasil da
consultoria britânica Trusted Sources,
prefere manter a cautela, mesmo com as mudanças no humor do eleitorado.
“Ainda é muito cedo para falar em derrota da presidenta Dilma Rousseff.
Apesar de todas as questões econômicas, ela consegue dar respostas”,
afirmou.