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quarta-feira, 4 de junho de 2014

Pela falencia da USP, imediata, total, restauradora...

A USP foi a minha alma mater, nos tempos do AI-5. Depois eu a deixei, para estudar no exterior. Quando voltei, sete anos depois, encontrei-a acomodada ao dinheiro fácil que jorrava tanto do governo federal -- para o fomento à pesquisa -- quanto do governo estadual, para sua manutenção.
Ao longo dos anos, fui à USP dezenas de vezes, para seminários, para palestras, para bancas, para diversos tipos de atividades, e a despeito de estar sempre classificada nos primeiros lugares do Brasil e da região, sentia que alguma coisa não andava bem.
Claro, a sua administração. Ela gasta o dobro, por aluno, do que a Universidade Católica do Chile, que acaba de roubar o seu lugar como primeira da região.
Espero que sua decadência seja rápida, e a catástrofe definidora.
Infelizmente, as máfias sindicais de professores e funcionários não permitirão sua recuperação em condições normais.
É apenas por isso que eu desejo a completa falência da universidade.
Para que ela possa ser recuperada em novas bases...
Mas vai demorar...
Paulo Roberto de Almeida
A Universidade, por má gestão, gasta 106% dos seus recursos em salários. Se fosse uma instituição privada, teria falido. O modelo de governança precisa ser debatido
Editorial O Globo, 3/06/2015

Pela dimensão e importância estratégica, o ensino público básico monopoliza as atenções de especialistas e domina os debates sobre Educação. Mas, quando a Universidade de São Paulo (USP), a melhor instituição de ensino superior do país, mapeada em rankings internacionais, entra em crise, é como se fosse ligado um estridente sinal de alerta. Afinal, os centros de excelência no ensino universitário estão, em maior número, nos estabelecimentos públicos. Qualquer maior problema em seu modelo, baseado na quase total autonomia, justifica sérias preocupações.
A USP já indicava alguma perda de substância acadêmica em rankings mundiais. Em 2012, até então única universidade brasileira a aparecer entre as duzentas melhores do mundo, no levantamento da Times Higher Education (THE), a USP, ligada à estrutura do Estado de São Paulo, caiu do 158º lugar para o grupo de escolas que se distribuem entre a 226ª e a 250a posições, cujos nomes não são divulgados. Já no ranking dos melhores estabelecimentos latino-americanos, levantado pelo grupo Quacquerelli Symonds (QS), a USP, este ano, perdeu o posto de melhor universidade do continente para a Católica do Chile. Esta, por sinal, exige uma prova de proficiência em inglês. Quem vai mal, precisa estudar a língua. E assim a universidade chilena consegue produzir metade de seus artigos científicos em parceria com centros internacionais de estudo e pesquisa. A USP, apenas de 25% a 30%, um fator negativo nas avaliações internacionais.
A USP enfrenta graves problemas financeiros: tendo seguido, desde o final da década de 80, uma norma prudente, mas não escrita, de destinar 80% dos recursos, oriundos do ICMS paulista, para salários e os 20% restantes para investimentos e outras despesas de custeio, a universidade, por má administração, gasta hoje 106% em salários. Ou seja, se fosse uma instituição privada, estaria falida. O atual reitor, recém-empossado, Marco Antônio Zago, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP, propõe medidas administrativas duras. Por exemplo, nenhum reajuste salarial este ano. O resultado foi a decretação de greve de professores, funcionários e alunos. A pior solução será se o Palácio dos Bandeirantes aceitar colocar mais dinheiro na universidade, sem qualquer contrapartida, ampliando a parcela dos cerca de 5% do ICMS do maior estado da Federação recebidos pela USP. Se a autonomia foi mal usada — no caso, pelo reitor anterior, João Grandino Rodas, da Faculdade de Direito (Largo de São Francisco) —, ela precisa ser exercida agora para a própria universidade fazer um ajuste.
Será um processo doloroso, pois o campus, nos últimos anos, foi politizado e partidarizado, com a atuação de grupos radicais e sindicatos. Entende-se, por este aspecto, a crise acadêmica da USP. Em ambientes como este, a meritocracia deixa de ter valor. A questão é saber se a autonomia como tem sido praticada é o melhor sistema de governança para instituições que vivem do dinheiro da contribuinte, ao qual precisam dar retorno na forma de conhecimento, pesquisas, e assim por diante. O momento da USP põe em debate o modelo de gestão das universidades públicas.

sábado, 24 de maio de 2014

Universitarios irresponsaveis fazem greves contra universidades irresponsaveis... (vao chover no molhado)

Que prejuízos trazem ao país greves em universidades públicas?
Depende. Em países normais, onde as universidades produzem coisas com valor de mercado, podem provocar graves prejuízos.
Em países anormais, onde elas atuam em completo isolamento da vida econômica do país, pode causar muito pouco prejuízo, ou quase nenhum.
No Brasil, esse tipo de greve pode se prolongar durante meses, na indiferença geral, e de fato não faz muita diferença se a universidade funciona ou não: sua interface com o país real é muito tênue, quase inexistente.
Assim, a minha previsão é de que a greve se arraste por algum tempo, na indiferença geral, do público, das empresas, dos governos.
São, assim, uma espécie de férias não remuneradas com o adicional de 1/3 do salário (embora o PSOL possa querer reivindicar esse acréscimo nas compensações).
Minha recomendação, como aconteceria no setor privado, seria cortar imediatamente o ponto de todos os faltosos, e já preparar uma folha de pagamento refletindo essa realidade.
Afinal de contas, alguém precisa ter responsabilidade, não é mesmo?
Se não são os reitores, quem seria?
Ninguém?
Afundem, universidades...
Paulo Roberto de Almeida

A greve nas universidades

23 de maio de 2014 | 7h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
Em resposta à decisão do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) de não conceder reajuste salarial de 2014, professores e servidores da Universidade de São Paulo (USP) anunciaram que deflagrarão uma greve por tempo indeterminado a partir do início da próxima semana. A greve conta com o apoio do Diretório Central Estudantil. Docentes e funcionários da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) já tomaram a mesma iniciativa, mas ainda não a anunciaram.
As duas categorias, que obtiveram 5,39% de reajuste salarial em 2013, reivindicavam aumento de 9,78% este ano. Em resposta, além de lembrar que seus orçamentos já estão inteiramente comprometidos com a folha de pagamento, os reitores da USP, Unicamp e Unesp alegam que as três instituições enfrentam a mais grave crise financeira de sua história e não dispõem de recursos para atender a essa reivindicação.
Na USP, os salários consomem 105,33% do orçamento, o que tem obrigado a Reitoria a recorrer a uma reserva estratégica. Na Unicamp e na Unesp, os gastos com a folha são de 97,33% e 95,42%. Nas universidades estaduais paulistas, não há dinheiro para investimentos em pesquisa científica e atividades de extensão. Para assegurar o equilíbrio orçamentário, a USP, a Unicamp e a Unesp deveriam gastar com a folha de pagamento não mais que 85% de seu orçamento, argumentam os técnicos do Cruesp.
O descontrole de gastos nas três instituições ocorreu nos últimos quatro anos. Ele foi causado pela concessão de sucessivos reajustes salariais acima da inflação e pelas contratações de docentes e servidores técnicos para atuar nos campi criados na década de 2000. Com a posse de Lula na Presidência da República, em 2003, a União passou a investir na expansão da rede de universidades federais no Estado de São Paulo. Como resposta ao PT, o governo paulista, sob controle do PSDB, fez o mesmo com as universidades estaduais. Juntas, elas têm 186,3 mil alunos, 11,2 mil professores e 31,9 mil funcionários.
As entidades de docentes e de servidores da USP, da Unicamp e da Unesp alegam que essa expansão ocorreu sem planejamento e sem a concessão de recursos adicionais por parte do Palácio dos Bandeirantes. Assim, as três instituições - que por determinação constitucional recebem 9,75% da receita do ICMS - teriam sido obrigadas a aumentar suas despesas de custeio sem contrapartida financeira, o que as desequilibrou financeiramente.
Essas entidades defendem que a cota das universidades estaduais paulistas no ICMS seja aumentada para 11,6%. Pedem, também, que o cálculo leve em conta a receita bruta desse tributo e não a receita líquida (pelo critério em vigor, o governo estadual não inclui no cálculo do montante a ser dividido as multas, os juros de mora e a dívida ativa). E ainda exigem que o reajuste salarial seja bancado com as reservas técnicas das três universidades.
Diante dessa situação, a greve dos docentes e servidores é despropositada. Também não é razoável a proposta de aumento da fatia de ICMS para as universidades. Para 2014, o orçamento da USP é de R$ 5 bilhões; o da Unicamp é de R$ 2,56 bilhões; e o da Unesp, de R$ 2,7 bilhões. No total, as três instituições receberão quase R$ 10 bilhões este ano. Se ampliar a fatia do ICMS a que elas têm direito, o governo paulista será obrigado a reduzir investimentos em saneamento básico, saúde, transportes e segurança pública, o que é um contrassenso.
O que cabe ao governo do Estado é complementar o orçamento das universidades, para que superem a crise. E, para evitar que as despesas de custeio sejam maiores do que as receitas, levando-as a consumir o que resta de suas reservas estratégicas, a USP, a Unicamp e a Unesp devem cortar gastos, redimensionar seus quadros de pessoal, impor metas de produtividade e ampliar as parcerias das fundações de apoio com a iniciativa privada. Por maior que seja a resistência das entidades de docentes e de servidores contra essas medidas, as universidades estaduais paulistas não têm outra saída para sair da crise em que se encontram.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Professores e funcionários da USP, Unicamp e Unesp pretendem afundar de vez suas universidades

Professores e funcionários da USP, Unicamp e Unesp fazem paralisação

Sindicatos decidirão se categorias entram em greve em resposta à decisão de reitores de congelar salários neste ano

Veja.com, 21/05/2014
Universidade de São Paulo, Cidade Universitária
Universidade de São Paulo, Cidade Universitária (Marcos Santos/USP Imagens)
Professores e funcionários das universidades estaduais paulistas - Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) - decidiram suspender as atividades nesta quarta-feira em resposta à decisão dos reitores das três instituições de congelar os salários neste ano. Segundo as universidades, o comprometimento de orçamento com folha de pagamento atinge 94,47% na Unesp e 96,52% na Unicamp. Já na USP, o número atinge 105%: só nos três primeiros meses de 2014, a instituição desembolsou 250 milhões de reais de suas reservas financeiras para pagamentos a funcionários.
Na terça-feira, o reitor da USP, Marco Antonio Zago, declarou após reunião com o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) que a decisão de não aumentar os salários neste ano será mantida, e que só há possibilidade de revisão do congelamento de remunerações dentro de seis meses. O órgão volta a se reunir nesta quarta-feira para discutir o assunto.

Após o encontro dos reitores, os sindicatos das categorias planejam assembleia para debater a possibilidade de greve. Os sindicalistas pedem aumento de 9,78% para todos os servidores, o que corresponde à inflação e à reposição parcial de perdas salariais. Além dos funcionários, parte dos estudantes da USP também deve aderir à paralisação em protesto contra a redução de verba destinada à pesquisa.
As universidades estaduais têm autonomia financeira e recebem repasse anual de 9,57% do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Assim, as transferências variam de acordo com a arrecadação estadual. Nos últimos anos, esses valores seguiram crescendo, mas em ritmo menor desde 2012.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Um caso filosofico-criminoso: mil e uma noites de um filosofo academico - Jose Maria Slva (Jornal Opcao)

Jornal Opção, Edição 2009 de 5 a 11 de janeiro de 2014
Análise
Rachel Sheherazade: a mulher que aterroriza a esquerda
Autor de vários livros adotados em faculdades de Pedagogia, o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. desejou, como votos para 2014, que a âncora do jornalismo do SBT seja estuprada — não por ser misógino, mas por ser membro de uma universidade quase totalitária
Reprodução/SBT
Rachel Sheherazade, âncora do SBT: vítima de incitação
à violência, ainda não teve o apoio de grupos feministas
José Maria e Silva
Volta e meia os institutos de pesquisa avaliam o grau de confiança da população nas principais instituições do País, como partidos políticos, igrejas, sindicatos, empresas, organizações não governamentais, polícia, Corpo de Bombeiros, Correios, Congresso Nacional, etc. Até a credibilidade de Deus é posta em questão: as pesquisas também querem saber se as pessoas acreditam ou não n’Ele. Curiosamente, só os intelectuais e as universidades nunca são avaliados – é como se fossem mais infalíveis do que Deus. Parece não passar pela cabeça dos pesquisadores de opinião que alguém possa não confiar num professor universitário. De fato, se fosse feita uma pesquisa de opinião para avaliar o grau de confiança da população nas universidades e nos intelectuais, o índice de aprovação seria altíssimo. O que é um perigo.

Os intelectuais não são imunes ao erro e estão longe de ser um exemplo de moralidade. Se as pessoas comuns soubessem do que os intelectuais são capazes, especialmente quando ungidos pela suposta santidade da ciência, elas ficariam estarrecidas. Basta dizer que o terrorismo moderno é, sem dúvida, uma criação da intelectualidade universitária, que não só apoia a ação de grupos terroristas como sempre foi a fonte de seus principais líderes. Que o diga a luta armada brasileira, feita com braços arregimentados nas universidades. Quando os guerrilheiros do grupo colombiano M-19 tomaram a embaixada da República Dominicana em Bogotá, em fevereiro de 1980, e fizeram cerca de 60 reféns, inclusive embaixadores, os universitários colombianos promoveram manifestações de apoio aos terroristas nas imediações da embaixada.

Hoje, o “terrorismo intelectual”, para usar uma expressão do jornalista e ensaísta francês Jean Sévillia, está cada vez mais ousado, disfarçando-se de ciência de ponta quando não passa da mais baixa mistura de ideologia marxista e instintos primitivos. Uma de suas versões mais sorrateiras é a suposta luta contra o preconceito, por meio da ditadura do “politicamente correto”. Para­doxalmente, o terrorista intelectual também é capaz de fingir que se insurge contra essa ditadura em nome da liberdade de expressão, sendo que, na prática, faz o contrário. Um exemplo de terrorismo intelectual que se enquadra justamente nesse último aspecto do fenômeno são os agressivos ataques à jornalista Rachel Sheherazade, âncora do telejornal “SBT Brasil”. Uma das fontes desses ataques é o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., autor de vários livros e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Na quinta-feira, 26 de dezembro, no Facebook do filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. foi postada a seguinte mensagem: “Meus votos para 2014: que Rachel Sherazedo seja estuprada”. Logo em seguida, foi postada outra mensagem com o mesmo teor: “Votos para 2014: que a Rachel Sherazedo abrace bem forte, após ser estuprada, um tamanduá”. Alertada por um amigo, Shehera­zade denunciou os ataques em seu Twitter: “Caso grave de incitação ao crime, promovido pelo Sr. Paulo Ghiraldelli ou quem se faz passar por ele. Compartilhem!” Em seguida, questionou diretamente o próprio filósofo: “Sr. Ghiraldelli, liberdade de expressão termina onde começam calúnia, difamação, ameaça, incitação ao crime! Vai aprender isso num tribunal!”. E, no dia 30, a jornalista postou no Twitter: “Mis­são cumprida: esta manhã fui à delegacia competente representar penalmente contra meu agressor ou quem se faz passar por ele. Agora, é só aguardar as providências legais e a providência divina. Tenho a certeza de que cumpri meu papel de cidadã”.

Diante da pronta reação da jornalista, o filósofo recuou. Numa mensagem enviada diretamente para o Twitter de Sheherazade, Ghiraldelli tentou se justificar: “Prezada Rachel Sheherazade, não sou favorável a qualquer incitação à violência contra mulher, menos ainda à imprensa. Posso me explicar?” Reparem que, já nessa curta mensagem, Ghiraldelli tropeça na gramática e na ética e mostra que nada entende de direitos humanos, apesar de fingir defendê-los. Para o filósofo, uma incitação à violência contra a mulher é menos grave do que uma incitação à violência contra a imprensa. É como se instituições abstratas não fossem feitas de seres humanos concretos e fosse possível preservá-las descartando as pessoas. Por esse esconso critério de Paulo Ghiraldelli Jr., uma ditadura sanguinária que fuzilasse gente seria preferível a uma ditadura autoritária que apenas empastelasse jornais. Felizmente, para a família Mesquita, o ditador Getúlio Vargas não achou que poderia fuzilar os donos do “Estadão”, já que mantivera o jornal circulando mesmo sob intervenção.

Paulo Ghiraldelli negou ser o autor dos votos de que Rachel Sheherazade seja estuprada em 2014. Ele alegou que seu Facebook foi invadido por “hackers” e apagou as mensagens de incitação à violência contra a jornalista. Mas o filósofo deve ter fugido das aulas de lógica. Se não é o autor das mensagens injuriosas contra Sheherazade, Ghiraldelli não pode se limitar a pedir desculpas a ela por um crime que alega não ter cometido – até para demonstrar sua alegada inocência, seu dever é prontificar-se a ajudar a jornalista a descobrir o criminoso que a atacou. Para isso, tão logo se deu conta da invasão, além do pedido de desculpas e de apagar as mensagens, ele próprio deveria ter recorrido à polícia para descobrir quem foi que o usou para atacar a âncora do SBT. Todavia, o filósofo fez o contrário: ele tentou – e continua tentando – se passar por vítima, não só do suposto “hacker” que teria invadido seu perfil, mas também da “direita” e até da própria Rachel Sheherazade, a verdadeira vítima nessa história, uma vez que tem sido alvo recorrente de ataques da esquerda.
O desespero do filósofo contraditório
Paulo Ghiraldelli Jr. é um dos que atacam sistematicamente a âncora do SBT apesar de ter tentado negar esse fato na entrevista que concedeu à “Folha de S. Paulo” em 28 de dezembro, em reportagem de Anahi Martinho. Ghiraldelli, segundo o jornal, negou ser o autor das postagens e disse que ficou surpreso com a reação da jornalista: “Eu não tenho absolutamente nada contra aquela moça. Conheço o trabalho dela, sei quem ela é, mas jamais escrevi nenhuma frase contra ela” – declarou à “Folha”, num surto de amnésia. O jornal acrescenta: “Demonstrando irritação com a polêmica e a reação do público, ele afirmou não temer um processo na Justiça. ‘Minha carreira de 40 anos e meus livros não valem nada? O que vale é um Twitter que nem posso comprovar se fui eu que escrevi ou não? Se eu for processado, vou lá no tribunal, respondo. Se for condenado, pago uma cesta básica e pronto. Não vai acontecer absolutamente nada. É o milésimo processo que eu vou tomar’, disse.” Ainda segundo a “Folha”, Paulo Ghiraldelli “também negou ser o autor de outras postagens antigas ironizando Shehera­zade, encontradas em suas contas no Twitter e Facebook”.

As declarações de Paulo Ghiral­delli são tão contraditórias que não parecem saídas da boca de um filósofo. Ao mesmo tempo em que diz não ser autor dos ataques à jornalista, ele zomba da Justiça ao dizer que sua condenação, se ocorrer, não passará do pagamento de cestas básicas. Mas, valendo-se do Twitter, ele mandou uma sequência de mensagens para a âncora do SBT que revelam certo desespero: “Prezada Rachel Sheherazade, eu retirei minha conta do ar, em respeito a você, agora peço que tire o post do ar para não incitarmos torcidas. Não há nenhuma justiça nos julgamentos a priori, nas denúncias a partir de meios inseguros. Isso é linchamento público. Repudio. Gostaria que tirasse do seu Face a conclamação contra mim, pois trata-se de injustiça. Eu estou pedindo desculpas públicas”. Reparem na distorção dos fatos promovida pelo filósofo: de algoz de Rachel Sheherazade, ele tenta se passar por sua vítima, acusando a jornalista de linchá-lo publicamente, quando ela está apenas se defendendo dos ataques sórdidos que sofreu. É uma ignomínia que um filósofo e professor universitário – sustentado com dinheiro público – tenha esse tipo de comportamento.

Nas declarações à “Folha de S. Paulo”, o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. manteve essa estratégia de criminalizar Rachel Sheherazade: “Quando recebi o recado dela no Twitter, duvidei que era ela de verdade. Sou um simples professor de filosofia, um coitado, completamente desconhecido do mundo. E de repente uma jornalista da televisão querendo me caçar? A maneira com que ela me abordou não foi normal”. Ele disse que jamais faria piadas com conteúdo violento: “Eu não gosto desse tipo de brincadeira [sobre estupro]. Não é do meu feitio. Embora não ache que se deve censurar humorista, caçar gente por aí”. Como fica claro, Paulo Ghiraldelli, que se define como “o filósofo da cidade de São Paulo”, resolveu concorrer com o “Porta dos Fundos” e está se autonomeando “humorista”, numa tentativa desesperada de escapar da Justiça. Espero que a Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás e demais cursos de pedagogia do País retirem de suas respectivas bibliografias de graduação e pós-graduação os livros desse humorista confesso.
Extermínio verbal de Sheherazade

Convém citar mais dois trechos da reportagem da “Folha de S. Paulo”, pois ambos são emblemáticos da miséria moral e intelectual em que vivemos. Eis o primeiro trecho: “Mesmo negando ser o autor de todas as postagens contra Shehe­razade, Ghiraldelli lançou mão de outro argumento para se defender. Ele disse que não há lei que possa incriminá-lo por desejar o mal de alguém. ‘Vamos supor que tivesse sido eu. Primeiro que não tem o nome dela. E ainda que ela vista a carapuça, nada me impede legalmente de desejar mal a uma pessoa. Jogar praga não é crime’, defendeu-se.” Eis o segundo trecho: “A âncora [Rachel Sheherazade] é conhecida por seus editoriais controversos e de teor conservador à frente da bancada do SBT. Ela já criticou o Bolsa Família, defendeu o deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) e recentemente fez uma declaração sobre o esquecimento de Jesus no Natal”.

Ghiraldelli não só precisa conhecer melhor as leis do País como também deveria aplicar na prática seus possíveis conhecimentos de antropologia e sociologia. Ele sabe que cada indivíduo exerce, em diferentes espaços e tempos, os mais variados papéis sociais. Em sua vida privada, Paulo Ghiraldelli Jr. provavelmente é o eterno “Paulinho” de seus pais, o “benzinho” ou “amorzinho”, sei lá, de sua esposa, o “Paulo” dos amigos, o “seu” Paulo da vizinhança, etc. Mas, na universidade, na imprensa e na internet, ele é o professor e filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., que se orgulha de ter cerca de 40 anos de profissão e mais de 30 livros publicados, alguns deles adotados em universidades de todo o País. E “jogar praga”, obviamente, não faz parte do papel social de um filósofo e professor, do qual se espera um comportamento racional, condizente com a ciência de seu tempo, na qual não há espaço para as superstições populares. Figuras públicas precisam entender que redes sociais não são as velhas cercas que separam quintais e serviam para as vizinhas fofocarem. Logo, o professor universitário não “jogou praga” na jornalista do SBT – ele incitou a prática de crime contra ela, incorrendo no artigo 286 do Código Penal, tornando-se passível de pena de detenção de três a seis meses de prisão ou multa.

E não é a primeira vez que ele age assim. Desde que Rachel Shehera­zade despontou na televisão brasileira com suas contundentes – e elegantes – críticas ao pensamento de esquerda, Paulo Ghiraldelli passou a atacá-la sistematicamente no Facebook e no Twitter. Ou todas aquelas postagens atacando a jornalista foram obra de invasores? Ghiraldelli precisa tomar cuidado com o uso indiscriminado que tem feito dessa desculpa esfarrapada ou corre o risco de ser processado pelo Facebook e o Twitter, pois não é possível que essas redes sociais sejam assim tão inseguras a ponto de colocarem em maus lençóis um professor universitário que navega na internet há anos e sabe como se proteger minimamente. Entre diversas postagens contra Sheherazade que já apareceram nos perfis de Ghiral­delli convém destacar a que data de 28 de março de 2013, garimpada por Felipe Moura Brasil, blogueiro de “Veja”: “Evanjegue não lava a xana! Então... Rachel Cheira­zedo”. Esses dizeres foram estampados sobre uma foto do rosto da apresentadora, seguida por outras postagem que lhe serve de legenda: “Essa é a Rachel, o braço de Feliciano na TV. Ela incita o racismo, a xenofobia e a crueldade com animais”.

Agora, convém reler o trecho da reportagem da “Folha de S. Paulo” em que Rachel Sheherazade é descrita como a âncora que “é conhecida por seus editoriais controversos e de teor conservador”. Marilena Chauí chama de “desgraça” a classe média que lhe paga o salário, mas nunca foi classificada como “filósofa controversa”, mesmo sendo mais devota do PT do que da própria filosofia. Já Rachel Sheherazade é tida como “controversa” por defender a liberdade de expressão de um deputado democraticamente eleito, criticar um mero programa governamental como o Bolsa-Família e até pelo fato de dizer que Jesus está sendo esquecido no Natal – um fato que pode ser constatado por qualquer ateu. Ou é possível negar que o espírito religioso dessa festa há muito cedeu lugar para o seu caráter comercial? Se uma âncora de TV diz isso, ela está dizendo algo de “controverso”? Controverso é o “kit gay” ser distribuído para crianças nas escolas e não o pensamento de quem condena essa prática imoral, como faz Rachel Sheherazade, expressando o pensamento da esmagadora maioria da população brasileira, ainda não contaminada pelo vírus da imoralidade acadêmica.
Universidade em ritmo de barbárie

Os ataques do filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. à jornalista Rachel Sheherazade não são um caso isolado – eles são um sintoma da barbárie que tomou conta das universidades brasileiras, num sentido diverso daquele que o filósofo José Arthur Giannotti emprestava ao tema quando o tratou num livro com esse título publicado em 1986. Paulo Ghiraldelli não é um desconhecido professor como fingiu ser na reportagem da “Folha de S. Paulo”. Ele é o principal discípulo brasileiro do filósofo pragmatista norte-americano Richard Rorty (1931-2007), que tem considerável influência nas universidades brasileiras, com cerca de 30 dissertações e teses defendidas sobre sua obra e vários livros traduzidos e publicados em português. Além de ser um dos responsáveis pela divulgação do filósofo norte-americano no Brasil, Paulo Ghiraldelli Jr., juntamente com Michael Peters, organizou o livro “Richard Rorty: Education, Philosophy, and Politics” (“Richard Rorty: Educação, Filosofia e Política”), publicado nos Estados Unidos em 2001.

Paulo Ghiraldelli Jr., segundo informa em seu currículo Lattes, é “filósofo e escritor”. Tem doutorado em filosofia pela USP e doutorado em filosofia da educação pela PUC-SP. Tem mestrado em filosofia pela USP e mestrado em filosofia e história da educação pela PUC-SP. Fez sua livre-docência na Unesp e o pós-doutorado na Uerj, com a tese “Corpo: Filosofia e Educação”. Em seu currículo, ele informa ainda que “foi pesquisador nos Estados Unidos e na Nova Zelândia; é editor internacional e participante de publicações relevantes no Brasil e no exterior; possui mais de 40 livros em filosofia e educação; trabalha como escritor e tem presença constante na mídia imprensa, falada e televisiva” – o que depõe contra sua afirmação à “Folha de S. Paulo” de que não passa de um “simples professor de filosofia”, um “coitado”, “desconhecido do mundo”. Também Dirige o Centro de Estudos em Filosofia Americana (Cefa) é é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Mas engana-se quem pensa que Rachel Sheherazade foi escolhida como alvo de Paulo Ghiraldelli por ele ser misógino. Em um ponto ele tem razão: sua carreira intelectual, ao menos retoricamente, se alinha com o feminismo, as minorias, a liberdade de expressão. Ocorre que, mesmo se apresentando como alguém que não é de “esquerda” nem de “direita” e, sim, uma espécie de libertário, Paulo Ghiraldelli Jr. é como a filósofa Marilena Chauí, que acredita que só existe ética de esquerda. Por isso, ele não perdoa Rachel Sheherazade, que ousa discordar do pensamento hegemônico de esquerda, sobretudo num veículo de grande impacto, como a televisão. A âncora do SBT não é exatamente uma porta-voz da direita, como afirma Ghiraldelli. Ela apenas exprime o bom senso da maioria da população, que, mesmo de forma inconsciente, não aceita o totalitarismo de esquerda que quer destruir todos os valores morais da sociedade. Por isso, a esquerda quer eliminar Rachel Sheherazade do debate público. É a liberdade de expressão sendo acossada, mais uma vez, pela esmagadora capacidade de pressão da esquerda