O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador nova classe media. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador nova classe media. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

A "nova classe media" e a economia do calote - Estadao

UM CALOTE DE R$ 44 BILHÕES
O Estado de S.Paulo, 30 de dezembro de 2012
 
Depois da farra do crédito fácil, que alavancou o crescimento do País até 2010, nova classe média dá calote recorde e a economia brasileira patina. Impacto chegou a diferentes setores da economia

A técnica em enfermagem Wedna Bispo, 31 anos, ganha R$ 1,2 mil por mês e até outro dia devia quase R$ 34 mil na praça. Não consegue lembrar tudo que comprou, mas estava pendurada na loja de material de construção, em dois cartões de crédito, no banco e na faculdade. Estica prazo daqui, renegocia dali, agora só falta discutir R$ 2,6 mil com o curso de enfermagem. "Minhas dívidas viraram uma bola de neve. Se você não controla, só se lasca." Wedna admite ter se perdido nas compras, mas hoje percebe que o descontrole não foi só dela: num dos cartões de crédito, a administradora lhe deu limite para gastar R$ 1,2 mil por mês - exatamente o valor de seu salário.

Wedna é uma típica brasileira da nova classe média enrolada na armadilha do crédito fácil. Como ela, milhões de pessoas atraídas pela oferta de crédito abundante nos bancos se atiraram às compras em 2009, 2010 e no início de 2011. Este ano, a conta chegou. Para muitos, foi como acordar de um surto coletivo de embriaguez: as doses de crédito a mais desaguaram num calote total de R$ 44,2 bilhões em bancos, financeiras e no cartão de crédito. Para comparar, em 2010, a inadimplência total era de R$ 23,7 bilhões, quase a metade de hoje. As contas foram feitas pela economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

O reflexo do aumento da inadimplência e do maior comprometimento da renda das famílias com dívidas foi além do balanço dos bancos e respingou em setores da economia real. Depois do avanço de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010, o País patinou e cresceu 2,7% em 2011 e deve avançar apenas 1% este ano. Para os especialistas, o impacto pode persistir até 2014.

A ressaca só não é maior porque muitos inadimplentes renegociaram dívidas para limpar o nome. Foram pelo menos 15 milhões de pessoas apenas nos mutirões organizados - em escala recorde - por duas empresas de serviços financeiros, a Serasa Experian e a Boa Vista Serviços. "Tivemos uma bolha de crédito para o consumo. E a bolha sempre estoura com a inadimplência", diz José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados.

Segundo várias avaliações, a maior parte dos inadimplentes são famílias emergentes que melhoraram de vida nos últimos anos e migraram da base para o miolo da pirâmide social. Parte dessa massa de 40 milhões de pessoas está tateando o mercado de crédito e acabou se perdendo no uso do cheque especial, do cartão de crédito e do financiamento sem entrada com parcelas a serem pagas em cinco anos ou mais.

O Instituto GEOC, que reúne 17 empresas de cobrança de dívidas, captou uma mudança significativa no perfil dos inadimplentes. Cinco anos atrás, o principal motivo para deixar de pagar a prestação era a perda do emprego. "Hoje o consumidor está empregado e o motivo é que tomou mais crédito do que podia", diz Jair Lantaller, presidente do instituto. Estudo do Ibope e da Serasa Experian, encomendado pelo GEOC, mostra que 87% dos inadimplentes e 69% de quem está com os pagamentos em dia chegam ao fim do mês sem dinheiro. "O brasileiro está cada vez mais endividado", confirma Lantaller.

Exageros. Passada a euforia, apareceram os exageros do festival de empréstimos. Não foram só os consumidores que erraram nas contas. Os bancos estavam entusiasmados com a nova classe média e emprestaram sem muito critério. O governo, empolgado com o aumento da renda da população, colocou os bancos federais para inundar a praça com crédito e alavancar a economia.

O gerente de uma grande concessionária Volkswagen de São Paulo conta que há cerca de dois anos, na disputa pela classe C, os bancos pagavam comissões às concessionárias e aos vendedores de 5% a 10% do valor financiado - prática depois proibida pelo Banco Central. "O crédito era automático. Se o nome não estava sujo, era aprovado", diz o gerente. "Na época, por exemplo, tinha muito camelô comprando carro bom e, como não tinha comprovação de renda, o banco pedia só o extrato bancário."

Um dos sinais mais marcantes dessa fase de exageros só apareceu mais tarde, na forma de um indicador que o mercado não costumava prestar atenção: de repente, os bancos descobriram que muitos dos que compraram carros em parcelas a perder de vista não pagaram sequer a primeira prestação. No Banco Votorantim, um dos líderes no financiamento de veículos, de 4% a 5% dos clientes deram calote já na primeira parcela entre 2010 e 2011. É o dobro dos 2% que o mercado costuma aceitar como índice máximo desse tipo de inadimplência.

Para piorar, o sistema de checagem dos clientes era limitado. Os bancos não tinham acesso aos dados sobre o comprometimento total da renda do comprador. Até abril deste ano, o Sistema de Informações de Créditos (SCR), do BC, só informava dívidas individualizadas acima de R$ 5 mil. Mesmo que o tomador tivesse vários contratos abaixo desse valor, não era identificado pelo sistema. Assim, a loja vendia um carro sem saber que a renda do cliente já estava comprometida em outras compras.

Hoje, dentro do governo, já há quem reconheça - com a condição de permanecer no anonimato - que houve exageros nas concessões de empréstimos em 2010. "Os bancos emprestavam sem entrada e por prazo superior à vida útil do bem. Se não tivéssemos atuado, o ajuste seria traumático", afirma uma fonte do BC, lembrando que a autoridade monetária tomou uma série de medidas no fim daquele ano para frear o crédito.

Os bancos são pragmáticos e encaram a inadimplência por outro ângulo: é o preço pago para transformar em clientes 36,2 milhões de pessoas que abriram conta em banco entre 2002 e 2011. "Os bancos não erraram, foi o preço que tivemos de pagar pela bancarização", diz um alto executivo de uma das maiores instituições financeiras do País. "Fomos compelidos pelas circunstâncias a essa velocidade."

Política de consumo. O estímulo à popularização do crédito e o incentivo às compras foram produtos de uma política de crescimento baseada no consumo. Começou com o governo Lula, na crise de 2008, e foi reforçada com as reduções temporárias de impostos para a compra de carros, eletrodomésticos e material de construção. O governo mandou seus bancos de varejo, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, abrirem os cofres para financiar o consumo. Em abril de 2009, o então presidente do BB, Antonio Francisco de Lima Neto, foi demitido porque demorou a cumprir a ordem do ex-presidente Lula.

No esforço de guerra para ampliar o crédito, o BB comprou quase metade do Banco Votorantim, da família Ermírio de Moraes. A Caixa comprou o Panamericano, mas essa estratégia deu errado porque o banco, que na época pertencia ao apresentador Silvio Santos, estava quebrado. Com a movimentação das instituições estatais, a banca privada sentiu-se pressionada a segui-las para não perder mercado.

Além da pressão de Brasília, as instituições privadas sofreram outro tipo de influência para turbinar a oferta de crédito. Na visão dos investidores, havia uma demanda por crédito reprimida no País e os bancos que se lançassem agressivamente na conquista desses consumidores ganhariam mais mercado. Foi com a promessa de abocanhar parte desse crescimento que o Santander levantou mais de R$ 14 bilhões com a abertura de seu capital no Brasil, em 2009. A operação foi, na época, a maior do tipo já realizada no País.

O caso do banco Votorantim foi exemplar. Na visão do mercado, o banco pisou forte demais no acelerador depois que o BB tornou-se sócio e passou a usá-lo como linha auxiliar na política oficial de estímulo ao consumo. Experiente no ramo de carros usados, o Votorantim passou a atuar também com veículos novos, segmento no qual a competição é maior. Como resultado, sua fatia no financiamento total de veículos saltou de 12% para 21% entre 2008 e 2011.

A onda de calotes, que envolveu todo o sistema financeiro, pegou forte no Votorantim. De janeiro a setembro, a instituição registrou prejuízo de R$ 1,6 bilhão ante lucro de R$ 455 milhões no mesmo período de 2011. Desde o fim do ano passado, o banco passa por um processo de reestruturação. "Os impactos ainda são relevantes, mas os números estão melhorando e o pior ficou para trás", diz o presidente do Votorantim, João Teixeira, que assumiu o cargo em setembro de 2011 para colocar a casa em ordem.

Para analistas, a ressaca da onda de calotes deve se estender até meados do ano que vem, em algumas instituições até 2014. "Em 2012, os bancos foram mais criteriosos e a turma ruim (de maus pagadores) está indo embora", diz Décio Carbonari, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef). "A água limpa que está entrando no lamaçal é pouca, por isso a inadimplência vai demorar a cair", afirma Luiz Rabi, assessor da Serasa Experian. /MÁRCIA DE CHIARA, CLEIDE SILVA, RAQUEL LANDIM, MELINA COSTA E DAVID FRIEDLANDER

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A nova classe media dos Brics - American Quarterly

Não deveria haver nenhuma surpresa nesse tipo de "descoberta". Todo e qualquer país, em qualquer época histórica, que conhece processos sustentados de crescimento econômico, com transformação produtiva (ou, seja inovação tecnológica), conhece, inevitavelmente, processos de incorporação social que significam, sempre, criação de novos estratos médios. Sempre haverá uma minoria de ricaços, uma elite de endinheirados, e uma proporção variável de pobres e superpobres. Mas quem cresce mais, acompanhando a diversificação da economia, são os setores médios.
Portanto, não há que saudar como criação genial de governos esse "surgimento" de uma "nova" classe média. Os governos não criam nada, são os mercados que o fazem. Governos podem ajudar nessa transição, ou também atrapalhar, com políticas adequadas atuando nas externalidades (educação, saneamento, infraestrutura), mas também podem atrapalhar, criando inflação, investimentos errados, fechando o país, enfim, fazendo muito do que os governantes brasileiros fizeram, e ainda fazem, bloqueando o crescimento (com uma enorme carga fiscal, por exemplo).
Paulo Roberto de Almeida

Latin America's Middle Class in Global Perspective

Different patterns of economic growth in BRIC countries have brought different social changes.

Watch an AQ Q&A on India's middle class and read the related sidebar.
Read a sidebar on China's middle class.
Read this article on AQ's new app, which can be downloaded on iTunes, Amazon, and Google Play.
Latin America and the Caribbean is experiencing a dramatic surge of its middle class. In just a decade, the proportion of people in Latin America and the Caribbean with a daily per capita income (in purchasing power parity) between $10 and $50 a day went from around one-fifth to one-third. For the first time in history, there are as many people in the middle class as there are in moderate poverty (i.e., per capita earnings below $4 per day).
This socioeconomic shift stems largely from the sustained rates of economic growth in the 2000s that in most—though not all— countries trickled down and generated higher incomes.
But growth in the 2000s was not exclusive to Latin America and the Caribbean. While the industrialized world was facing a challenging decade, many emerging economies surfed past the global turbulences and continued to grow, lifting people out of poverty and feeding the ranks of their middle classes.
These changes are here to stay. Thanks to more sophisticated consumption habits, the middle classes in emerging countries will influence global trade patterns. Domestically, the middle classes will have a growing voice by means of higher purchasing power—moving up the consumption chain to high-end, more technical goods—and by demanding better education. And with a growing critical mass, they will push for institutional reforms and improved service delivery in areas that are beneficial to them.
The magnitude of these changes will depend, however, on the continued growth of the middle class and on the nature of its demands on the public sector. They will likely be more dramatic in regions where the middle class will grow the fastest, such as East Asia. While it is difficult—if not impossible—to forecast these changes with precision, it is possible with some margin of error to assess in which countries the middle classes have been growing and will grow the most.

Measuring the emerging world's middle class

It is essential to choose a measure of the middle class that captures the ongoing structural changes and that allows a comparison of trends across both countries and time. The need for comparable indicators of the size and nature of the middle class narrows significantly the set of measures that can be adopted.
Further, an attempt to develop a metric for broad cross-country comparison runs the risk of also missing important differences in the nature of the middle class. To give an example, while the sociological literature adopts a rich definition of the middle class based on occupational categories, it is close to impossible to use such a definition in international comparisons, since occupational categories are not harmonized across household surveys.
Building the middle class: A laborer carries building materials at a construction site in Lucknow, India. Photo: Pawan Kumar/Reuters
For these reasons, most international comparisons tend to measure the middle class in terms of income or consumption, which is quantitatively easier to compare across countries.
Even within the narrow set of income measures, however, another important choice awaits any comparison: should relative or absolute income (or consumption) indicators be used? Both capture important, but very different, aspects of the middle class.
A relative indicator summarizes how many people sit “in the middle” of the income distribution, with a typical indicator for international comparison being the proportion of the population with per capita income between 0.75 and 1.25 of the median per capita income. While such a measure can be very useful in assessing the extent to which a society is unequal or polarized, it fails in capturing anything related to the “absolute” welfare of the middle class.
Consider the cases of Ethiopia and Brazil. Using the relative measurement described above, 43 percent of Ethiopians earned per capita incomes between 0.75 and 1.25 of the median in 2009. That was twice as high as the proportion of Brazilians who could be defined as middle class under this definition (21 percent), despite the fact that Ethiopia’s GDP per capita (in purchasing power parity terms) is 11 times smaller!
To avoid such inconsistencies, any comparison that aims at capturing the absolute well-being of the middle class must put strong weight on absolute income and consumption levels. But even in this class of measures, there exist many possibilities. For the purposes of this article, I define the middle class as those with daily per-capita income (in purchasing power parity terms) between $10 and $50. For a family of four, this corresponds to an annual income between $14,600 and $73,000. These income thresholds—in particular the lower one—have been chosen based on the vulnerability of households to fall back into poverty, and are discussed to great extent in the new World Bank report “Economic Mobility and the Rise of the Latin American Middle Class.”

BRICS compared

A comparison of the growth of the Latin American and Caribbean middle class with its counterparts in BRIC (Brazil, Russia, India, China) countries shows that, even in comparative terms, the early 2000s have been very good for the region. Between 2000 and 2009, 50 million individuals were added to the middle class in Latin America and the Caribbean—bringing the total from around 115 million people to over 165 million. The growth of the middle class goes beyond the stellar performance of Brazil: more than 30 million non-Brazilian citizens of Latin America and the Caribbean entered the middle class during that decade.
The growth of the middle class in Latin America and the Caribbean reflects dramatic trends that can be observed in all the BRICs, with the exception of India. In Brazil, Russia and China, the middle class has achieved impressive salience in a relatively short time. Around 2009, the middle class consisted of 61 million people in Brazil (up from 39 million a decade earlier), 75 million in Russia (up from 31 million), and 83 million individuals in China (a jump from just 10 million).
Still, these numbers mask strong differences across the BRICs when the middle class is measured as a proportion of the population.
In Brazil, the emergence of a middle class is not an entirely new phenomenon. In the early 1980s, the middle class made up more than 15 percent of the population; nowadays it makes up almost one-third. The most spectacular transformation toward “middle-class society” occurred in Russia, where the middle class grew from being one-fifth to more than one-half of the population. In contrast, in China, the 83 million people defined as middle class only represent less than 10 percent of the population.
Today, Russia seems to be a true middle-class society with a (small) majority of the population being middle class, while in Brazil and in many Latin American countries, almost two-thirds of the population has yet to reach middle-class status.
The performance of Russia is, however, eclipsed by the stunning growth of the middle class in China, where sustained economic growth led to an eightfold increase of the middle class in a decade. And although China, as noted above, with less than 10 percent of its population being middle class in 2009, may not yet be as much of a “middle-class society” as Brazil or Russia, it has an enormous potential for growth if current trends continue.
Among the BRICs, India’s comparatively poorer performance may come as a surprise. Both in relative and absolute terms, the Indian middle class grew significantly less than in the other BRIC countries. In 2010, only 9 million Indians had reached middle-class status, which is less than 1 percent of the population. These low estimates reflect that, despite a good growth performance in the 2000s, India’s GDP per capita remains below the levels of the other BRIC countries.
Of all the BRICs, China is forecast to experience the greatest growth of the middle class, overshadowing the good—but not as impressive—performance of Latin America (or of any other country and region). China’s middle class is expected to grow from 54 million in 2005 to more than 1 billion in 2030, or 72 percent of the population, adjusted for population growth. In contrast, while growing in absolute terms, the Latin American and Caribbean middle classes will gradually lose ground internationally. While in 2005 the region’s middle classes represented more than 40 percent of all the middle classes in low- and middle-income countries, the forecasted dramatic rise of the middle class in China will reduce Latin America and the Caribbean’s share to less than 20 percent in 2030.
Even without China’s contribution, the next two decades will be characterized by a massive increase of the middle class all over the emerging world, from around 300 million households in 2005 to almost 1.9 billion—approximately six times the current population of the United States.
According to the forecasts, however, the increase is likely to remain modest in South Asia, where the middle class is predicted to reach 100 million people in 2030—still a relatively small number given that region’s large population.
Of course, as with any projections about an uncertain future, these numbers should be taken with a grain of salt. Forecasting is as much an art as a science, and in two decades many factors could affect, in one way or another, the parameters underlying the forecasts. In particular, an average annual growth rate of the Chinese economy of 7 percent between 2005 and 2030 is a key driving assumption behind these results.

Implications for politics, economics and globalization

What will be the geopolitical and socioeconomic implications of the remarkable growth of the middle class across emerging economies? And what are the implications for Latin Americans of a Chinese middle class that will surpass by far the whole population of the region?
Any attempt to answer such difficult questions would entail a great deal of speculation, and falls beyond the scope of this article. But the growth of a strong and vocal middle class throughout the emerging world will bring change. It is difficult to predict, however, the direction of these changes.
To be sure, the middle classes differ in important characteristics from lower and upper classes and, at least in Latin America, they are surprisingly similar in characteristics across countries.
In all of Latin America and the Caribbean, the heads of middle-class households have substantially more years of schooling than those in the poor or vulnerable classes, but fewer than the rich. Middle-class households are also more urbanized than poorer households.
And significantly, formal employment seems to be a distinctive sign of the middle class in Latin America: the middle-class worker is typically a formal employee, rather than being self-employed, unemployed or an employer. In contrast, the poorer classes rely on self- or informal employment (or suffer from unemployment), while the rich are more frequently employers and, in some countries, self-employed.
Middle-class workers are often found in the services sector, including health, education and public services. There is no evidence that the middle class is disproportionally employed by the public sector. In most Latin American countries for which data exist, public-sector employment is actually more frequent among the rich than among the middle class.
Family dynamics and demographics further sharpen the portrait of the region’s middle classes. Between 1992 and 2009, the average size of a middle-class household in Latin America and the Caribbean fell from 3.3 to 2.9 individuals. This compares to regional averages that show household size decreased on average from 4.1 people in 1992 to 3.4 people in 2009.
Middle-class women are also typically joining the labor force in greater numbers. Seventy-three percent of middle-class women ages 25 to 65 across the region are either employed or looking for work, as compared to a regionwide population average of 62 percent. And their children are typically in school: virtually all middle-class children ages 6 to 12 attend school, as do roughly three-quarters of those ages 13 to 18.
But are these class characteristics sufficient to induce change? A recent analysis by Loayza, Rigolini and Llorente1 supports the notion that the size of the middle class can determine the pace of reform: using a cross-country approach, their analysis compares how the middle class relates to socioeconomic outcomes in low-, middle- and high-income countries around the world. They find that, everything else being equal, when the proportion of the middle class in a society increases, social policy on health and education becomes more active and the quality of governance regarding democratic participation and official corruption improves.
Whether the change brought by the middle classes is always good for the poor remains, however, an open question.
It has often been claimed that the middle classes carry specific beliefs and values that lead to political, economic and social reforms, but empirical evidence remains scant at best. Recent analysis, discussed in the World Bank report, suggests that the middle classes do not possess particular values and beliefs that make them more prone to push for reforms based on ideology. Middle classes, however, do not need to carry values based on a broad notion of the public good to push for reforms; they can also act upon self-interest.
Under this more pragmatic scenario, while some reforms pushed by the middle classes may benefit the poor, others may not. It could be imagined, for instance, that growing middle classes may want to slow social spending targeted to the poor to limit the fiscal burden associated with it, and to push for more public expenditures in services from which they benefit. Only time, and careful analytical efforts, will tell.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A classe media do governo: 291 reais por mes...

Como diria alguem: "acredite se quiser"...

Da coluna do jornalista Carlos Brickmann, 21/09/2012
Se o caro leitor não puder almoçar seu arroz com feijão, salada, bife e sobremesa, resolva o problema com uma folha de alface, duas ervilhas e um grão de milho. Pode não ser satisfatório, mas o caro leitor não deixou de almoçar. Se o caro leitor ganha muito pouco e está abaixo da linha da pobreza, resolva o problema com as estatísticas do Governo Federal: de acordo com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da presidente Dilma Rousseff, quem ganha mais de R$ 291 mensais integra a classe média. Assim foi possível fazer com que 35 milhões de brasileiros se alçassem à classe média nos dez anos de Governo petista.

É simples assim: uma pessoa não precisa ganhar mais de dez reais por dia para entrar na classe média. Um casal que ganhe, em conjunto, R$ 582 mensais será também de classe média.

Pronto: no Brasil, só é pobre quem quer.

Mas há limites para ser de classe média. Quem ganhar a partir de R$ 1.019,10 por mês será de classe alta. A história de achar que classe alta é coisa para Eike Batista está errada: neste país em que se plantando tudo dá (especialmente notícias), até professor, mesmo ganhando o que ganha, pertence à classe alta. O pessoal que tem recursos para comprar deputado mensaleiro, dar carona de jatinho a quem toma decisões sobre concorrências, fotografar a esposa usando sapatos de sola vermelha, esse nem chega a ter classificação. Político corrupto, dos que trocam apoios por Ministérios, está tão alto que a verdade se restabelece sozinha: este não tem classe, nem categoria.

A classe média (de verdade) paga a conta

quinta-feira, 22 de março de 2012

O Brasil de classe media: refletindo sobre os numeros

Minhas reflexões antes que vocês leiam as duas matérias abaixo.
Sem dúvida, ocorreu uma melhoria nos padrões sociais do brasileiro médio nos últimos. Enfim, não é difícil que isso ocorra: basta que haj crescimento econômico consistente que os padrões do conjunto da população aumentem proporcionalmente, embora a distribuição desses ganhos possa ser bastante desigual, com alguns grupos, ou estratos, ganhando mais do que outros, eventualmente ocorrendo também alguma perda para outros grupos não especialmente beneficiados pelas políticas distributivas, se e quando estas existem e são especialmente ativas.
No caso do Brasil, falar de crescimento da classe média, sem levar em conta outros fatores, pode ser enganador.
A própria matéria abaixo revela que as classes imediatamente acima e abaixo dessa classe média supostamente média -- não sei se uma renda familiar mensal de R$ 1.450 transforma uma família em classe média verdadeira -- tiveram seus ganhos diminuídos. Ou seja, a classe média aumentou à custa da diminuição da renda dos seus vizinhos de cima e de baixo. Seria isso especialmente saudável.
Por outro lado, não é segredo para ninguém -- os dados estão disponíveis -- que a carga fiscal continuou aumentando para todos os estratos no Brasil, especialmente para os pobres que suportam o maior peso de uma estrutura tributária altamente regressiva, ou seja, que penaliza excessivamente e absolutamente os pobres, em virtude da sua incidência mais forte nos impostos indiretos.
Por outro lado, esse aumento da renda não é sustentável em si, ou seja, como fator real de crescimento endógeno e baseado em alavancas virtuosas. Ele tem praticamente dois vetores mais fortes: a demanda externa e o aumento do crédito.
O primeiro foi dado de graça ao Brasil, e se manifesta no crescimento chinês e na sua voracidade por matérias primas, com picos de alta nas commodities exportadas pelo Brasil (e isso sem falar na obsessão do momento que é a "desindustrialização" do Brasil em face da concorrência "desleal" dos produtos chineses). Ou seja, assim como isso pode acabar, não há absolutamente nada que o governo tenha feito, ou a economia brasileira, para incrementar esse fator. O Brasil foi muito mais comprado do que vendeu, e não há muito mérito nisso, a não ser a capacidade produtiva do país (e nisso o governo tem muito pouco a ver, tendo mais a ver com nossos capitalistas do primário, em especial o agronegócio).
O aumento de crédito vem sendo dado por fatores artificiais -- crédito consignado, aumento da oferta pública, obtida justamente pelo aumento da taxação, etc. -- e pode não ser sustentável, se não é seguido de investimentos para aumentar a oferta (como não é). Isso provoca ou mais inflação, ou mais importação, e nos dois casos não se pode dizer que o governo esteja num caminho virtuoso.
Resumindo, fica a pergunta: o Brasil está tendo um crescimento virtuoso e consistente nos últimos anos. Dificilmente eu diria isto. No momento de maior crescimento econômico mundial, antes da crise de 2008, crescemos abaixo da média mundial e três vezes menos do que os emergentes dinâmicos da Ásia. Atualmente, quando o mundo desenvolvido está crescendo pouco, quase estagnado, estamos crescendo menos do que a América Latina, que está um pouco acima da média mundial, um pouco baixa. Ou seja, nosso crescimento é medíocre.
Por outro lado, o propalado crescimento da classe C não se deu por motivos muito virtuosos, mas sim com base em maior taxação sobre os ganhos de todos, e em captura de renda dos grupos abaixo e acima dos supostamente beneficiados, que podem estar sendo incentivados ao consumo (por algum aumento salarial, isso é inegável), mas em condições que podem não ser sustentáveis ou saudáveis.
Termino dizendo que a política econômica do governo continua esquizofrênica (e populista).
Paulo Roberto de Almeida 

Wladimir D'Andrade
Agência Estado, 22 de março de 2012

Com isso, a classe C passou de 34% para 54% da população no período 

SÃO PAULO - O número de brasileiros que ascenderam à classe C chegou a 40,3 milhões entre 2005 e 2011. Com isso, a classe C, em sete anos, passou de 34% para 54% da população, de acordo com o estudo O Observador Brasil 2012, divulgado nesta quinta-feira pela Cetelem BGN, empresa do grupo BNP Paribas. Em 2005, a classe C tinha 62.702.248 brasileiros. No ano passado, esse número havia subido para 103.054.685. Em 2010, eram 101.651.803 - ou 53% da população.
O estudo, desenvolvido pela Cetelem BGN em parceria com a Ipsos Public Affairs, mostra que em 2011 as classes A e B representavam, juntas, 22% do total da população e as classes D e E somavam 24%.
De acordo com a pesquisa, a renda média familiar da classe C passou de R$ 1.107 em 2005 para R$ 1.450 em 2011 - crescimento de 30,9%. Já a renda média familiar geral da população passou de R$ 974 para R$ 1.618 - aumento de 66,1%.
De 2010 para 2011 o aumento da renda média familiar geral foi impulsionada pela classe C, única faixa da população em que foi observado crescimento. A renda dos integrantes da classe C passou de R$ 1.338 para R$ 1.450. Nas classes A e B, a renda média familiar caiu de R$ 2.983 para R$ 2.907. Nas classes D e E, o valor baixou de R$ 809 para R$ 792.

Como oBrasil virou o país da classe C

Fernando Dantas
Blog Estadão, 21 de março de 2012
O economista Marcelo Neri, que dirige o Centro de Políticas Sociais (CPS) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, é provavelmente o acadêmico que mais ajudou a consolidar a ideia da ascensão da classe C, a nova classe média popular que se tornou o centro de gravidade da economia, da política e das relações sociais no Brasil.
Especialista em pobreza e desigualdade, Neri já lidava com esses temas na sua tese de Mestrado, sobre o boom de consumo do plano Cruzado. Ele nota que, nas últimas décadas, houve diversos momentos de forte ascensão social, como o milagre econômico, o plano Cruzado, o plano Real e a fase a partir de 2004, associada ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (Neri vê grandes méritos na gestão do ex-presidente, mas acrescenta que ele se beneficiou também de avanços econômicos e sociais da década de 90).
Todos aqueles momentos foram diferentes, observa o economista. No milagre, o avanço social ocorreu apesar do aumento da desigualdade (mais do que compensada pelas espetaculares taxas de crescimento econômico), enquanto a partir do governo Lula a ascensão da classe C deu-se em boa parte por causa da melhoria na distribuição da renda.
No plano Cruzado, a melhora foi fugaz, e quem cruzou a linha que separa a pobreza da classe média baixa retornou pouco tempo depois, quando a euforia inicial deu lugar à era da hiperinflação. Já o plano Real proporcionou um salto permanente, com a proporção dos brasileiros na classe C passando de 32% para 37,5%.
O plano Real, porém, representou um degrau único, que foi seguido por uma fase de estagnação. Foi preciso que se passassem dez anos para que, a partir de 2004, o Brasil iniciasse o mais potente desses períodos de progresso social. Hoje, a classe C já abrange 55% da população, e Neri prevê que esta proporção chegue a 60% em 2014.
Essa projeção está em “A Nova Classe Média: o Lado Brilhante da Base da Pirâmide” (Editora Saraiva), livro recém-lançado por Neri, e que busca reunir, organizar e condensar os inúmeros trabalhos e pesquisas que o CPS produziu nos últimos anos sobre a emergência da classe média popular no Brasil.
Um ponto polêmico em todo esse esforço de pesquisa de Neri e do CPS é o de chamar a classe C de classe média. Afinal, está se falando de famílias com renda mensal total entre R$ 1,7 mil e R$ 7,5 mil. Na visão de alguns críticos, as pessoas que estão próximas do piso daquele intervalo não poderiam ser classificadas de classe média.
O economista explica que sua divisão de classes foi realizada com uma metodologia estatística que coloca linhas de cortes entre grupos que sejam os mais homogêneos possíveis entre si, e os mais diferentes possíveis dos demais grupos. Dessa forma, a população foi dividida em três grupos: E/D, C, e B/A. Em seguida, ele dividiu os grupos da base e do topo em dois, estabelecendo as tradicionais cinco classes: E, D, C, B e A.
Um primeiro ponto relevante, portanto, é que a classe C é considerada “média” por estar de fato no meio da distribuição. “Não é uma classe média como a americana, com dois carros na garagem”, ressalva Neri. Ainda assim, ele acha que a caracterização da classe C como classe média vai além da pura estatística.
O economista observa que aquela classificação é referendada por pesquisas internacionais, como a que foi realizada pelo Goldman Sachs, que veem a ascensão global de uma classe média popular (especialmente em outros Brics, como China e Índia) que é muito semelhante à classe C no Brasil.

Brasil e o mundo em sincronia
Ele acrescenta que, quando se deixa de lado os padrões americanos e se pensa no mundo como um todo, as tendências brasileiras de redução da desigualdade e ascensão da classe C mimetizam de fato um movimento global muito semelhante.
A partir dos anos 90, a queda do índice de Gini (que mede a desigualdade) brasileiro e mundial traça linhas muito parecidas, que efetivamente se encontram em 2009 (quando os índices nacional e mundial foram praticamente idênticos).
Finalmente, numa visão mais sociológica, a classe C brasileira, independentemente da distância do seu padrão de consumo em relação ao da classe média americana ou europeia, tem características condizentes com essa classificação.
A principal é que, diferentemente da situação de carência e dependência que caracteriza as populações mais pobres, a classe C “anda com as próprias pernas”. Esta, aliás, é a conclusão mais surpreendente do livro e das pesquisas de Neri – tanto que surpreendeu o próprio autor.
Como muito outros analistas, ele tendia a ver a ascensão social a partir de 2004 como consequência das maciças políticas de transferência do governo (que vão do Bolsa-Família aos benefícios vinculados ao salário mínimo) e da expansão do crédito. Seria uma conquista muito mais pelo lado do consumo do que da capacidade produtiva.
Para testar essa hipótese, Neri e sua equipe criaram dois índices comparáveis. O índice sintético do produtor (de geração de renda) buscou medir o avanço social do ponto de vista do trabalho e da acumulação de ativos produtivos, levando em conta educação, emprego, contribuição para a previdência e a posse de bens como computador e telefone (ligados à capacidade produtiva).
Já o índice do consumidor (de potencial de consumo) incorporou itens como posse de TV, máquina de lavar e geladeira, as condições de moradia e o acesso a rede de esgoto e coleta de lixo.
Neri constatou que, de 2003 a 2009, o índice do produtor andou 38% a mais do que o índice do consumidor. Recorrendo à velha metáfora, é como se os pobres que ascenderam à classe média popular estivessem aprendendo a pescar numa velocidade mais rápida do que estavam ganhando peixes.
O economista acha que esses avanços são frequentemente mal percebidos e contestados porque os observadores tendem a olhar apenas a fotografia atual, que ainda é muito ruim, e não a diferença entre a foto de hoje e as que foram tiradas há dez ou 20 anos – que eram muito piores.
Ele acrescenta que são muitos os sinais de que a capacidade produtiva da população brasileira na base e no meio da pirâmide teve um upgrade significativo nos últimos anos. Um aspecto fundamental do decisivo ano de 2004, quando o atual ciclo de avanço social se inicia, foi a duplicação, de 700 mil para mais de 1,5 milhão, no número anual de empregos formais criados.
A partir daí, a criação de empregos formais oscilou, com avanços e recuos, tendo superado dois milhões em alguns momentos, mas um novo patamar ficou claramente consolidado (o forte mergulho durante 2009, o pior ano da crise global, foi claramente um momento de exceção).

 Atraso vira oportunidade
Para Neri, um dos grandes símbolos da ascensão da classe C é justamente a carteira de trabalho assinada e o emprego formal, emblemáticos do “andar com as próprias pernas”.
Outro sinal na mesma direção foi a grande ampliação da educação profissional, que ainda é, para boa parte da classe C, uma alternativa mais viável do que o ensino superior. “A nova classe média está trocando pneu com o carro andando, ela trabalha, faz curso à noite, se vira – isso mostra um lado batalhador, nada passivo”, analisa Neri.
Ele também cita as famílias com número cada vez menor de filhos, hoje em torno de dois, como outro vetor de ascensão social, ao permitir que se concentre em menos indivíduos o investimento dos pais em formação e educação.
Finalmente, há a melhora na educação, talvez a mais difícil de perceber, dado o estado ainda lastimável deste componente fundamental do capital humano. No início da década de 90, 17% das crianças de 7 a 14 anos estavam fora da escola, proporção que caiu para 4% em 2000 e para 2% hoje. No mesmo período, a escolaridade média saiu de menos de cinco anos para 7,3.
Apesar de ainda muito ruim, a educação melhorou, e tem um impacto considerável no crescimento, o que Neri chama de “bônus educacional”, assim como existe o “bônus demográfico”. O educacional, ele aponta, é muito maior: corresponderia a um aumento de 2,2 pontos porcentuais de renda per capita ao ano, comparado a apenas 0,5 para o demográfico.
O economista indica que é a própria dívida social brasileira que está na base do atual avanço, à medida que cria uma longuíssima estrada a percorrer no momento em que seus principais nós começam a ser desatados: “A nova classe média é fruto da recuperação a partir de gigantescos atrasos em áreas como trabalho formal, educação e fecundidade”, conclui Neri.

domingo, 14 de agosto de 2011

Onde esta a "nova classe media"? - José Lemos

Onde Está a “Nova Classe Média”?
José Lemos (*)

Há um bombardeio midiático tentando fazer-nos crer, que uma “nova classe média” surgiu no Brasil a partir de 2003. Afirmam que trinta (30) milhões de brasileiros deixaram de ser pobres e passaram a fazer parte dessa “nova classe média”. Sendo curioso da área, tentei confirmar essas informações. A investigação se apóia na hipótese de que a “nova classe média” deve ter emergido dos estratos de menor renda. A tentativa é de contabilizar esse novo grupo social ávido de consumo.

Buscamos fazer a comparação entre o último ano do Governo que se encerrou em 2002 com aquele que começou em 2003 e terminou em 2010. Os dados brutos que utilizamos são da PNAD de 2002 e 2009, tendo em vistas que este é o ultimo ano para o qual o IBGE disponibiliza informações atualmente.
Tomemos a população que sobrevivia em domicílios cuja renda varia de zero a dois (2) salários mínimos. Este contingente tem renda média domiciliar de aproximadamente 1,2 salários mínimos. Como cada domicílio abriga quatro pessoas, em média, segue-s que a renda per capita domiciliar é de 1/3 do salário mínimo. Em 2002 a população estimada para o Brasil era de 173,4 milhões. Para aquele ano o contingente sobrevivendo em domicílios sob aquelas condições de renda representava 32,5%, o que somava 55,5 milhões de brasileiros.

Em 2003 assumiu o novo governo que teve como herança, plantada no Governo Itamar Franco e consolidada nos dois Governos de FHC, a estabilidade monetária. Estabilidade que se assentava em fundamentos macroeconômicos que, se seguidos dariam condições para o novo governo deslanchar.

Não foi isso o que se observou. Entre 2003 e 2010 o PIB brasileiro apresentou crescimento pífio, se comparado às economias do mesmo porte do Brasil. A escolaridade media dos brasileiros ficou abaixo de oito (8) anos, e a taxa de analfabetos estabilizou em elevados 10%. Alem disso, houve retrocesso no acesso a esgoto, e avanço apenas modesto no aceso à água encanada. Mas o que aconteceu com aqueles brasileiros de renda domiciliar situada entre zero e dois salários mínimos?

Em 2003 este segmento já havia ascendido para 33,3% da população do Brasil. Atingiu 36,1% em 2009. Portanto, em termos relativos, houve um acréscimo de 3,6% da população que sobrevivia com renda domiciliar de até dois salários mínimos. Como a população cresceu entre 2002 e 2009, o contingente sobrevivendo sob aquelas condições de renda também cresceu. De fato, o IBGE estimava em 191,8 milhões a população de 2009. Assim, a população sobrevivendo naquela baixa faixa de renda somava 69,2 milhões. Isto significa que entre 2002 e 2009 um total de 16,5 milhões de brasileiros foi incorporado ao grupo da população que sobrevive em domicílios cuja renda varia de zero a dois salários mínimos. Migraram dos estratos superiores de renda.

A pergunta que não pode ficar sem resposta é: Como explicar a explosão de consumo que aconteceu neste período, sobretudo entre esse segmento de menor renda?

Para responder a esta instigante questão, buscamos informações no Banco Central (BC). Segundo o (BC), o crédito consignado com desconto em folha, entre os meses de janeiro e novembro de 2009, correspondeu a 80% do crescimento total do empréstimo pessoal. A “Nota de Política Monetária” divulgada pelo Banco Central em dezembro de 2010, ensina que o volume total de crédito consignado alcançou R$ 137,42 bilhões. Um avanço de 27,4% relativamente a dezembro de 2009.

Depreende-se que a explosão de consumo observada nesse segmento populacional, não ocorreu devido a uma mudança de status socioeconômico, como quer fazer crer a propaganda oficial. Mas devido ao endividamento em larga escala dos trabalhadores que tem vinculo empregatício. Na verdade os grandes beneficiados com essa ciranda foram os banqueiros, tendo em vistas que são empréstimos com riscos praticamente nulos para eles, e com taxa de inadimplência praticamente nula. Não é por acaso que há brigas intensas entre banqueiros para participarem desse banquete.

E a “Nova Classe Media”? Bom, se ter renda domiciliar de até dois salários mínimos caracterizar esses brasileiros, a propaganda oficial está corretíssima, pois acrescentamos mais 16,5 milhões em 2009, comparativamente ao que se observava em 2002. Falta apenas dizer na campanha publicitária que são brasileiros “felizes”, mas endividados como nunca antes na historia desse (sic) país. Nenhum Governo é perfeito.

(*) Professor Associado na Universidade Federal do Ceará.