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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
domingo, 14 de agosto de 2011
Onde esta a "nova classe media"? - José Lemos
José Lemos (*)
Há um bombardeio midiático tentando fazer-nos crer, que uma “nova classe média” surgiu no Brasil a partir de 2003. Afirmam que trinta (30) milhões de brasileiros deixaram de ser pobres e passaram a fazer parte dessa “nova classe média”. Sendo curioso da área, tentei confirmar essas informações. A investigação se apóia na hipótese de que a “nova classe média” deve ter emergido dos estratos de menor renda. A tentativa é de contabilizar esse novo grupo social ávido de consumo.
Buscamos fazer a comparação entre o último ano do Governo que se encerrou em 2002 com aquele que começou em 2003 e terminou em 2010. Os dados brutos que utilizamos são da PNAD de 2002 e 2009, tendo em vistas que este é o ultimo ano para o qual o IBGE disponibiliza informações atualmente.
Tomemos a população que sobrevivia em domicílios cuja renda varia de zero a dois (2) salários mínimos. Este contingente tem renda média domiciliar de aproximadamente 1,2 salários mínimos. Como cada domicílio abriga quatro pessoas, em média, segue-s que a renda per capita domiciliar é de 1/3 do salário mínimo. Em 2002 a população estimada para o Brasil era de 173,4 milhões. Para aquele ano o contingente sobrevivendo em domicílios sob aquelas condições de renda representava 32,5%, o que somava 55,5 milhões de brasileiros.
Em 2003 assumiu o novo governo que teve como herança, plantada no Governo Itamar Franco e consolidada nos dois Governos de FHC, a estabilidade monetária. Estabilidade que se assentava em fundamentos macroeconômicos que, se seguidos dariam condições para o novo governo deslanchar.
Não foi isso o que se observou. Entre 2003 e 2010 o PIB brasileiro apresentou crescimento pífio, se comparado às economias do mesmo porte do Brasil. A escolaridade media dos brasileiros ficou abaixo de oito (8) anos, e a taxa de analfabetos estabilizou em elevados 10%. Alem disso, houve retrocesso no acesso a esgoto, e avanço apenas modesto no aceso à água encanada. Mas o que aconteceu com aqueles brasileiros de renda domiciliar situada entre zero e dois salários mínimos?
Em 2003 este segmento já havia ascendido para 33,3% da população do Brasil. Atingiu 36,1% em 2009. Portanto, em termos relativos, houve um acréscimo de 3,6% da população que sobrevivia com renda domiciliar de até dois salários mínimos. Como a população cresceu entre 2002 e 2009, o contingente sobrevivendo sob aquelas condições de renda também cresceu. De fato, o IBGE estimava em 191,8 milhões a população de 2009. Assim, a população sobrevivendo naquela baixa faixa de renda somava 69,2 milhões. Isto significa que entre 2002 e 2009 um total de 16,5 milhões de brasileiros foi incorporado ao grupo da população que sobrevive em domicílios cuja renda varia de zero a dois salários mínimos. Migraram dos estratos superiores de renda.
A pergunta que não pode ficar sem resposta é: Como explicar a explosão de consumo que aconteceu neste período, sobretudo entre esse segmento de menor renda?
Para responder a esta instigante questão, buscamos informações no Banco Central (BC). Segundo o (BC), o crédito consignado com desconto em folha, entre os meses de janeiro e novembro de 2009, correspondeu a 80% do crescimento total do empréstimo pessoal. A “Nota de Política Monetária” divulgada pelo Banco Central em dezembro de 2010, ensina que o volume total de crédito consignado alcançou R$ 137,42 bilhões. Um avanço de 27,4% relativamente a dezembro de 2009.
Depreende-se que a explosão de consumo observada nesse segmento populacional, não ocorreu devido a uma mudança de status socioeconômico, como quer fazer crer a propaganda oficial. Mas devido ao endividamento em larga escala dos trabalhadores que tem vinculo empregatício. Na verdade os grandes beneficiados com essa ciranda foram os banqueiros, tendo em vistas que são empréstimos com riscos praticamente nulos para eles, e com taxa de inadimplência praticamente nula. Não é por acaso que há brigas intensas entre banqueiros para participarem desse banquete.
E a “Nova Classe Media”? Bom, se ter renda domiciliar de até dois salários mínimos caracterizar esses brasileiros, a propaganda oficial está corretíssima, pois acrescentamos mais 16,5 milhões em 2009, comparativamente ao que se observava em 2002. Falta apenas dizer na campanha publicitária que são brasileiros “felizes”, mas endividados como nunca antes na historia desse (sic) país. Nenhum Governo é perfeito.
(*) Professor Associado na Universidade Federal do Ceará.
3 comentários:
Sei. O valor do salário mínimo passou longe das contas desse brilhante estatístico, né? Sinceramente...com uma oposição desse nível, incapaz de abrir um frestinha entre os dedos pra enxergar além da própria mão, serão 20 anos de PT, mesmo, quem sabe 30...
Comprar uma TV ou uma nova geladeira agora é sinônimo de escalada social. Onde estão a educação e a cultura nessa conta? Nossa nova classe média (e a "velha") consome também cultura ou apenas bens anunciados em outdoors e no inervalo das novelas? Este blog traz sempre questões relevantes.
Voce tem razao Thiago. Ha uma diferenca enorme entre comprar bens duraveis e semi-duraveis e dispor de servicos de qualidade.
Paulo Roberto de Almeida
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