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terça-feira, 20 de novembro de 2018

Politica externa no governo Bolsonaro: novo chanceler: seleção de artigos de imprensa

A imprensa continua a dar intensa atenção às declarações e posições do chanceler designado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, como registro abaixo a partir dos alertas enviados pelo Google:

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politica externa do Brasil
Atualização semanal  19 de novembro de 2018
NOTÍCIAS 
Brasil desiste de identificar seus interesses nacionais e passa a agir por ... O lulismo inseminou a política externa brasileira com o esperma da ...
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A ausência de uma orientação clara sobre política externa e o impulso do presidente eleito para tratar da matéria prejudicam a imagem do Brasil no ...
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Durante a campanha, Bolsonaro e aliados deram a entender que o Brasil teria uma mudança profunda na sua diplomacia, aliando-se com países ...
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247 - "Não faltam declarações de intenções as mais variadas de Bolsonaro e sua equipe que infelizmente parecem apontar para uma inversão ...
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"Corrigir os rumos da política externa no período do PT não significa adotar uma atuação de direita no comércio exterior. A relação não pode ser ...
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A reorientação da política externa brasileira defendida pelo presidente eleito, ... Em países com os quais o Brasil tem relações diplomáticas de menor ...
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Brasil deve distinguir-se no concerto internacional como país soberano, ... A luta por uma política externaaltiva e ativa, baseada na cooperação ...
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domingo, 18 de novembro de 2018

Politica externa: campo aberto ao radicalismo - Editorial O Globo

Política externa é campo aberto ao radicalismo

É curioso que Bolsonaro repita Lula e coloque a diplomacia a serviço da ideologia do presidente

A diplomacia brasileira tem tradição de profissionalismo. Com o passar do tempo, consolidou-se como uma atividade típica de Estado, cuja característica é a estabilidade, independentemente do governo de turno. Grande símbolo deste aspecto positivo é que aquele considerado patrono da diplomacia na República, José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, era filho de importante personagem do II Reinado, Visconde do Rio Branco, também diplomata. Maior demonstração de continuidade, impossível.

A era Bolsonaro causa preocupação com a política externa que seguirá a partir da indicação para ministro das Relações Exteriores do embaixador Ernesto Araújo, da chefia do Departamento dos EUA, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty.
Araújo é conhecido, por meio de textos e do que escreve em blog, por defender posições ultraconservadoras, ser contra o “globalismo” e alinhar-se ao nacionalismo isolacionista de Donald Trump.
Além de ser preocupante, a escolha de Araújo gera o fato curioso de repetir com sinal trocado o que o PT, em seus 13 anos de poder, fez com a diplomacia brasileira, ao subordiná-la à ideologia dos ocupantes do Planalto. Com Bolsonaro e Ernesto Araújo, tudo se repete, neste aspecto.

Bolsonaro sempre criticou o lulopetismo, e com razão, por atrelar a política externa brasileira ao nacional-populismo latino-americano, e ao privilegiar ditaduras africanas, deixando em segundo plano o chamado Primeiro Mundo (Estados Unidos e Europa).
Pois agora, também claramente por ideologia, Bolsonaro conecta a diplomacia a um nacional-populismo, mas ao de Donald Trump e de simpatizantes do presidente americano na Europa. O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, por exemplo.
Também como Lula, Bolsonaro, que tem feito e bancado escolhas corretas na administração da economia (Paulo Guedes e equipe) e na Justiça (Moro) — destinando, aos dois, importantes estruturas de poder para que possam enfrentar ameaças sérias ao estado democrático de direito (crise econômica, corrupção e crime organizado) —, usa a política externa para atender a seus pendores ideológicos e de seguidores.
Em 2003, ao assumir o primeiro mandato, Lula também acertou na montagem da equipe econômica (Palocci, Meirelles, Levy etc.), e, em compensação, doou o Itamaraty a companheiros (Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia, Samuel Pinheiro Guimarães).
Uma preocupação com o futuro chanceler é que, seguidor de Trump, ele poderá investir contra a China — o que Bolsonaro já fez. Sucede que os chineses são os maiores parceiros comerciais do Brasil. E ainda poderá dificultar a integração do país ao mundo, por ser contra a globalização.
Araújo não parece exercitar o tradicional pragmatismo do Itamaraty. Não seria aprovado pelos Rio Branco, o visconde e o barão.

Celso Lafer: A política externa e seus desafios (OESP)

DOMINGO, 18 DE NOVEMBRO DE 2018

A política externa e seus desafios

"No contexto dessa Torre de Babel, cabe ao Brasil, na especificidade das conjunturas, orientar-se nas suas posições diplomáticas pelos princípios que regem as relações internacionais do País, consagradas na Constituição (artigo 4.º)", escreve o professor Celso Lafer, via Estadão:
(via blog de meu amigo Orlando Tambosi)

Discuti neste espaço em 19/2 a relevância da política externa como política pública. Sublinhei que ela tem como nota identificadora avaliar a abrangência das necessidades internas do País e ponderar quais as possibilidades externas de torná-las efetivas. Pontuei que a conversão de necessidades em possibilidades requer um apropriado juízo diplomático que leve em conta os ativos e as especificidades do País e saiba orientar-se num mundo com as características do atual, dentro do qual se dá a inserção internacional do Brasil. Vale a pena retomar a discussão nesta antevéspera da posse do presidente Bolsonaro.

Destaco inicialmente que o novo governo partirá de um meritório reposicionamento da política externa empreendido no governo Temer pelos chanceleres José Serra e Aloysio Nunes Ferreira, que se dedicaram a conduzi-la como política de Estado. Deixaram de lado, num movimento que o resultado das eleições endossou, uma preponderante política de governo, inspirada pela visão circunscrita de um partido e seus interesses.

Aponto, por exemplo, o resgate da válida vocação original do Mercosul como expressão de regionalismo aberto, empenhado no livre-comércio, devidamente escoimado das distorções provenientes das preferências político-ideológicas.

A tarefa de damage control proveniente da erosão do soft power do País deverá ser uma faceta da condução da política externa. Trata-se de um dado das percepções, repercutidas na mídia internacional, que resultam de manifestações do presidente na campanha eleitoral em matéria de direitos humanos e convivência democrática. Para a erosão acima mencionada tem também contribuído a ideológica irradiação externa em circuitos de esquerda de uma autocentrada “narrativa” petista.

A agenda diplomática do próximo governo lidará, respaldada pela qualificada competência dos quadros do Itamaraty, com alguns significativos campos de atuação da política externa de um país. Passo a comentá-los na sua abrangência, lembrando, como dizia Hannah Arendt, que somos do mundo, e não apenas estamos no mundo.

O primeiro campo é o estratégico. Diz respeito aos riscos de guerra que permeiam a vida internacional e o que um país pode significar para outros como aliado, protetor ou inimigo. No mundo atual, caracterizado por tensões difusas que exacerbam os conflitos e instigam a geografia das paixões, magnificando a insegurança internacional, esse é um campo relevante. Tem peso maior ou menor tendo em vista a lógica própria das regiões que compõem, com sua especificidade, a arquitetura do sistema internacional. É um tema forte da agenda do Oriente Médio, da Ásia e de países como EUA, China, Índia ou Rússia. É menos premente para o Brasil, em paz com seus vizinhos desde o fim do século 19, empenhado em fazer de suas divisas fronteiras de cooperação, e que sempre esteve mais distante dos focos de tensão da vida internacional. A menor premência não exclui, no entanto, a relevância.

O campo dos valores diz respeito às afinidades e dissonâncias que resultam de distintas formas de conceber a vida em sociedade. As dissonâncias, hoje em dia, num sistema internacional heterogêneo e fragmentário são consideráveis. Estão comprometendo a universalidade da agenda normativa, propiciando a intensidade das aspirações de identidade e reconhecimento, que obedece ao ímpeto centrífugo de sublevação dos particularismos, e revigorando o zelotismo dos fundamentalismos religiosos e políticos. Essa é uma das causas do drama de escala planetária dos refugiados que também nos afeta por causa dos desmandos autoritários da Venezuela de Maduro.

No contexto dessa Torre de Babel, cabe ao Brasil, na especificidade das conjunturas, orientar-se nas suas posições diplomáticas pelos princípios que regem as relações internacionais do País, consagradas na Constituição (artigo 4.º).

O campo das relações econômicas internacionais é prioritário para o Brasil. Explicita a importância de outras economias num mundo interdependente e globalizado, conferindo significado aos mercados, para importações e exportações, obtenção de financiamentos, atração de investimentos e de inovações.

No mundo contemporâneo isto tem como pano de fundo as novas tecnologias, que vêm levando à reorganização dos modos de interagir e produzir, de que é exemplo o papel das cadeias globais de valor da produção e da comercialização. Tem também como pano de fundo uma multipolaridade econômica não regida por um abrangente multilateralismo comercial de que são amostras o unilateralismo das guerras comerciais em andamento e as ameaças que pairam sobre a OMC.

É nesse contexto que o próximo governo deverá buscar convergências na diversidade na lida com as parcerias econômicas do País, incluídas as de nossa região, com acordos comerciais, e com os temas da liberalização comercial. Estes passam pelos desafios do acesso a mercados, dificultados por barreiras não tarifárias, por obstáculos em matéria de convergências regulatórias e por protecionismos, em especial de produtos agrícolas.

Finalizo com a agenda do meio ambiente, campo inter-relacionado com o dos valores e o das exigências de uma economia internacionalmente competitiva. Lembro que o acesso a mercados de outros países passa crescentemente por produtos e processos que atendam a requisitos de sustentabilidade ambiental. Meio ambiente sob a égide do conceito de desenvolvimento sustentável consagrado na Rio-92 insere os custos da sustentabilidade do meio ambiente nos processos decisórios públicos e privados. Meio ambiente é indivisível, por isso é internacional. Afeta a todos – as gerações presentes e futuras. Basta pensar no impacto das mudanças climáticas. Daí a relevância no plano interno da transição para uma economia de baixo carbono e de energias renováveis e limpas na matriz energética e de dar sequência aos compromissos internacionais de redução de emissões do Acordo de Paris.

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Historiografia da politica externa brasileira - IRBr, 22/11


FUNAG / CHDD / IPRI/IRBr
A Historiografia da Política Externa Brasileira
Auditório Araújo Castro , Instituto rio Branco-IRBr, Brasília - DF 
22/11/2018 às 9h00.
9h00min         Abertura:
Embaixadora Gisela Maria Figueiredo Padovan, Diretora-Geral do IRBr;
Embaixador Gelson Fonseca Júnior, Diretor do CHDD;
Embaixador Marcos Bezerra Abbott Galvão, Secretário-Geral do MRE;
Embaixador Paulo Roberto de Almeida, Diretor do IPRI;

9h20min         Conferência do  Embaixador Rubens Ricupero

10h00min       Painel da Manhã: A historiografia do Império à Primeira República
Moderador: Amado Cervo.
João Daniel de Almeida. “A independência portuguesa: 200 anos de olhar nacionalista sobre o desmembramento de um império global”;
Francisco Doratioto. “O Primeiro Reinado”;
Gabriela Nunes Ferreira. “O Segundo Reinado (1840-1889)”;
Clodoaldo Bueno. “A Primeira República (1889-1930)”.

12:30               Almoço

14h30min       Painel da Tarde: Da Revolução de 1930 à Nova República
Moderador: Matias Spektor.
Fábio Koifman. “Da Revolução de 1930 até o fim de 1945”;
Antônio Carlos Lessa. “A Nova República (1946-1964)”;
Paulo Vizentini. “O Regime Militar (1964-1985)”;
Paulo Roberto de Almeida. “Da redemocratização aos nossos dias (1985-2018)”.

17h30min      Encerramento
Síntese dos trabalhos Professor Amado Cervo.
Embaixador Gelson Fonseca Júnior

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Desafios ao novo chanceler - Bernardo Mello Franco (Globo)

Um artigo mal humorado, enviesado, deliberadamente crítico, com base em poucos fatos e muitas suposições. Um exemplo de mau jornalismo.
Paulo Roberto de Almeida

Próximo chanceler terá árduo trabalho

BERNARDO MELLO FRANCO

O Globo, 13/11/2018


O próximo chanceler ainda não foi escolhido, mas terá trabalho dobrado. Quem assumir o Itamaraty enfrentará uma forte desconfiança externa sobre os rumos do país. Além disso, precisará conter a língua do presidente e de seus principais assessores.

Na campanha, Jair Bolsonaro já demonstrou potencial para produzir incidentes diplomáticos. O então candidato fez uma série de provocações à China, maior parceira comercial do Brasil. Depois do segundo turno, foi avisado de que as bravatas podem custar caro à economia do país.

O presidente eleito também criou mal-estar com os países árabes ao imitar Donald Trump e anunciar a mudança da embaixada em Israel para Jerusalém. O Egito foi o primeiro a reagir:cancelou uma visita oficial do ministro Aloysio Nunes. Os empresários brasileiros tiveram que antecipar a volta para casa sem fechar negócios.

O futuro ministro Paulo Guedes virou outra fonte de preocupação para os diplomatas brasileiros. Na noite da eleição de Bolsonaro, ele respondeu de forma grosseira quando uma jornalista argentina quis saber seus planos para o Mercosul.“ O mercosul não é prioridade. Não, não é prioridade. Tá certo? É isso que você queria ouvir?”, disse, assustando a Casa Rosada.

Ontem o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, abriu mais uma frente de desgaste internacional. Na linha do chefe, atacou ONGs da área ambiental e disparou contra a Noruega. “Os noruegueses têm que aprender com os brasileiros, e não a gente com eles”, esnobou. O país escandinavo é —ou era — o maior doador do Fundo Amazônia. Já repassou mais de US$ 1 bilhão para a preservação das nossas florestas.

O futuro ministro das Relações Exteriores terá que segurar a língua de Bolsonaro e dos colegas. O governo ainda não começou, mas já criou atritos com Argentina, Egito, China e Noruega

Palestra: emb. Rubens Barbosa: 20/11, 16hs, Itamaraty

Palestra-debate com o embaixador Rubens Barbosa: 20/11, 16hs, Auditório PNB


A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) têm o prazer de convidar para a palestra-debate “A política externa e o novo governo”, a ser proferida pelo embaixador Rubens Barbosa, autor do livro “Um diplomata a serviço do Estado: na defesa do interesse nacional”, que será lançado na mesma noite no Restaurante Carpe Diem (104 Sul). A palestra será feita no Auditório Paulo Nogueira Batista, no Anexo II do Itamaraty, no dia 20 de novembro, às 16h00.

sábado, 27 de outubro de 2018

Matias Spektor: pressões externas contra Bolsonaro (FSP)

Matias Spektor
Descrição de chapéu Eleições 2018

Pressão externa contra Bolsonaro será pequena no início do governo

Caso candidato do PSL seja eleito, suas decisões não enfrentarão oposição cerrada


Folha de S. Paulo, 25.out.2018 às 2h00 

Se eleito, Jair Bolsonaro encontrará um ambiente internacional permissivo a sua agenda de governo. Os ventos do mundo lhe são favoráveis.
Suas decisões não enfrentarão oposição cerrada de nenhum país ou organismo internacional com influência imediata sobre o Brasil.
Comecemos pelos Estados Unidos: embora seja impossível prever quão fluida será a relação interpessoal de Bolsonaro com Trump, o próximo governo brasileiro gozará, ao menos no início, da anuência tácita de Washington.
Mesmo que a lua de mel com o mercado financeiro dure pouco, o tom oficial na capital americana se parecerá mais ao último editorial positivo do jornal The Wall Street Journal que ao negativo do diário The New York Times.
Na Argentina, Mauricio Macri não poderá alardear intimidade com Bolsonaro (o sistema político argentino não tolera o radicalismo do capitão).
Mas Macri, enfraquecido, tampouco pode se dar ao luxo de provocar o Brasil. Se Bolsonaro chegar propondo uma parceria na segurança das fronteiras, tema caro à Casa Rosada, o governo em Buenos Aires tende a engolir a seco as diferenças e a seguir o Planalto a reboque.
 China, por sua vez, é o país que mais tem a perder se Bolsonaro implementar suas promessas de campanha. Nada indica, no entanto, que Pequim vá correr para as trincheiras. Antes, trabalhará nos bastidores para diminuir arestas e encontrar convergências.
Muito menos se ouvirão críticas de Vladimir Putin (Rússia) ou Narendra Modi (Índia). A empatia dos governantes dos Brics com Bolsonaro já está contratada: assim como ocorre com o capitão, eles são alvo da imprensa internacional e da opinião de intelectuais.
oposição externa a Bolsonaro virá, no primeiro momento, de movimentos sociais transnacionais, organizações não-governamentais e imprensa. A comunidade de cientistas na área de mudança do clima também tende a vocalizar suas críticas.
Esses atores buscarão influenciar governos estrangeiros, parlamentares e organismos internacionais mundo afora.
Burocracias de instituições tais como Banco Mundial, Organização Mundial do Comércio, Nações Unidas e União Europeia são candidatas naturais a ecoar argumentos críticos em relação a uma administração Bolsonaro. Governos de países como França, México e Canadá tendem a ser particularmente sensíveis a isso.
A pressão externa, portanto, será fraca no início. A implicação prática é que, ao menos em 2019, os contrapesos necessários para manter o prumo democrático terão de vir aqui de dentro. O resto do mundo será passivo no primeiro momento.
O impossível de prever agora é durante quanto tempo.


sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Augusto Heleno e Celso Amorim: diplomacias de Bolsonaro e Haddad (O Globo)

Ministeriáveis de Bolsonaro e Haddad analisam desafios para a política externa do próximo presidente

General Augusto Heleno e embaixador Celso Amorim veem com preocupação crise humanitária e imigratória na Venezuela

Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) disputam segundo turno da eleição presidencial Foto: Mauro Pimentel/AFP//Marcos Alves/Agência O Globo

'Bolsonaro repudia frontalmente o governo Maduro'

O general Augusto Heleno concede entrevista - Daniel Marenco 11-09-2018 / Agência O Globo
Na campanha de Jair Bolsonaro, o general da reserva Augusto Heleno Pereira, que foi comandante militar da Amazônia, chefiou a missão de paz do Brasil no Haiti, e é cotado para assumir o Ministério da Defesa, considera que o país será fortemente impactado pela crise humanitária no país vizinho. "A situação tende a se agravar cada vez mais, com reflexos evidentes e nefastos para o Brasil, porque nós estamos recebendo venezuelanos", disse. Ele avalia que as propostas de fechamento de fronteira, para conter a onda de refugiados, são utópicas e não condizem com a tradição brasileira de solidariedade aos imigrantes.
O que é preciso mudar na atual política externa brasileira?
Acho que o viés ideológico que foi impresso, de maneira absolutamente evidente no Itamaraty, nos últimos 15 anos, foi muito prejudicial ao Brasil. Nós temos de mudar isso e buscar uma posição diferente em relação ao contexto internacional. Sempre tivemos uma diplomacia extremamente atuante e um quadro diplomático da melhor qualidade, que foi impregnado de pouco pragmatismo e muita ideologia.
Recentemente, Jair Bolsonaro disse que o Brasil deveria sair da ONU. Isso não vai contra a tradição diplomática brasileira a favor do multilateralismo?
Não, não. Isso foi totalmente desmentido pelo Bolsonaro. Ele cometeu um ato falho e reconheceu que se expressou mal.
Ele teria se confundido por causa do Comitê de Direitos Humanos da ONU, que defendeu que o ex-presidente Lula pudesse se candidatar?
Não é que ele se confundiu. Ele se expressou mal, ao dizer "vamos sair da ONU". Já aquela comissão é formada por alguns desempregados internacionais, que querem ganhar notoriedade e vivem de fazer proselitismo marxista. Essa comissão não pode interferir nos assuntos internos do Brasil que, por outro lado, tem uma tradição na ONU muito grande. O Brasil abre anualmente a reunião da Assembleia-Geral. Segundo a História, foi até cogitado para ser um dos membros permanentes do Conselho de Segurança, com direito a veto e tudo.
Como um governo Bolsonaro agiria em relação à Venezuela?
Quero deixar claro que esta é minha opinião, e não a de Bolsonaro, que repudia frontalmente o governo Maduro (Nicolás Maduro, presidente do país vizinho), e que resolverá a questão quando tiver nomeado seu chanceler. O problema da Venezuela, mais do que político, é humanitário. Temos um povo passando fome, vendo seu país ser destroçado e que é incapaz de reagir, porque foram criadas milícias de repressão a qualquer tipo de reação. Os meios democráticos são completamente sufocados por ações do governo, em prol da sua permanência no poder. A situação tende a se agravar cada vez mais, com reflexos evidentes e nefastos para o Brasil, porque nós estamos recebendo venezuelanos.
Há quem defenda, dentro do próprio partido de Bolsonaro, o PSL, o fechamento da fronteira em Roraima.
O fechamento da fronteira, além de ser uma utopia, está fora dos padrões que o Brasil sempre adotou em relação aos refugiados. Não faz parte da tradição brasileira fechar uma fronteira numa situação dessas. Afinal de contas, eles [os imigrantes venezuelanos] são os menos culpados. Só que, para nós, é pesado. Roraima é um estado que poderia ser muito rico, poderia estar em uma situação muito boa economicamente, mas foi subtraído. Parte de seu território passou por demarcações duvidosas de terras indígenas e hoje é um estado pobre. Há uma tentativa de deslocar esse pessoal para São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, é claro que a situação do Brasil não nos permite fazer esse gesto humanitário sem que haja alguma consequência também para nós.
Bolsonaro costuma demonstrar uma postura crítica em relação à China. Por que isso, se os chineses são os principais parceiros comerciais do Brasil?
O Bolsonaro é muito claro. Pretendemos manter essa relação comercial com a China, até pela grandiosidade do país no mercado mundial. O que a gente não pode é vender o Brasil para a China. Há um interesse muito grande em manter esse relacionamento, mas não podemos aceitar, de repente, que eles saiam comprando um pedaço do Brasil e isso chegue a comprometer esse relacionamento. As relações internacionais são sempre para atender aos interesses dos dois lados.
E os Estados Unidos?
Nossas relações são boas, mas podem melhorar. Há, por parte do pessoal da esquerda mais radical, um preconceito, uma prevenção enorme com relação aos EUA e não há necessidade disso. É a maior potência do mundo, está perto do Brasil e temos ligações históricas. Mas existe preconceito impregnado por doutrinas ideológicas. Também queremos manter boas relações com outros países, como os da Comunidade Árabe, Israel, Europa...Também temos uma forte aproximação e, felizmente, nenhum contencioso, na América do Sul. No entanto, há problemas com alguns que precisam ser divididos com os vizinhos, como o monitoramento das fronteiras.

'Nós não queremos um Vietnã na nossa fronteira'

O ex-ministro Celso Amorim na sede do Sindicato dos Metalurgicos, no ABC paulista - Edilson Dantas / Agência O Globo
Na campanha de Fernando Haddad, o embaixador Celso Amorim, ex-chanceler do ex-presidente Lula e ex-ministro da Defesa de Dilma, critica o discurso que prega uma ação militar contra o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro. Um intervenção militar ou um golpe, na visão do representante, causaria ainda mais radicalização. O petista afirma que os governos do PT "nunca deram apoio irrestrito" ao governo venezuelano e nega a visão de que a política externa do partido seja marcada pela ideologia. Para ele, a solução da crise passa por retirar o país vizinho do isolamento.
Bolsonaro e sua equipe dizem que a política externa do PT é muito ideologizada.
Não é verdade. Nós nunca demos apoio irrestrito ao governo venezuelano, por exemplo. Muito pelo contrário. Na época do Chávez (Hugo Chávez, ex-presidente do país), éramos bastante abertos ao diálogo. Criamos um grupo de amigos com a participação dos Estados Unidos, para tentarmos resolver o problema. Aliás, não preciso dizer o quanto eram boas as relações entre o ex-presidente Lula e o então presidente americano George W. Bush. Não há nada de ideológico. O Brasil sempre trabalhou pelo interesse nacional. Negociamos acordos comerciais de interesse do agronegócio e da indústria brasileira. Criamos uma parceria estratégica com a União Europeia que não existia. O que há de ideológico nisso? O que há de ideológico em você vender mais ônibus? A Arábia Saudita é de esquerda, por acaso? Só porque é um país em desenvolvimento? Tudo isso é uma tolice que não tem cabimento nenhum. A nossa política era de defesa do interesse brasileiro.
A que o senhor atribui essas críticas?
Essas coisas são inventadas e é muito difícil você derrubar histórias inventadas. Dizem que o Brasil vai ser uma Venezuela. Gente, estivemos doze anos no poder e não viramos Venezuela! Por que agora, em que o nosso candidato é justamente um professor? O que é isso, gente? São invenções. Invenções puras. Mas somos, sim, a favor de soluções pelo diálogo e não de intervenção. Nós não queremos um Vietnã na nossa fronteira. Também não vejo nada de ideológico em ter relações com a África. Isso é o reconhecimento, primeiro, da nossa identidade. O brasileiro gosta de olhar no espelho e imaginar que está vendo um europeu. Mas não é.
O que é preciso fazer em relação à Venezuela?
A crise na Venezuela é, indiscutivelmente, um problema sério, que não se resolve com intervenção militar ou golpe, pois isso radicalizaria ainda mais as posições. Não dá para isolar a Venezuela. Também não podemos nos esquecer que temos grandes interesses, com destaque para Roraima, que depende da energia da Venezuela.
É possível esperar que a política externa de Fernando Haddad repita a dos governos petistas anteriores?
O mundo mudou desde então. Não havia o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), nem o atual conflito entre EUA e Rússia, ou a guerra comercial entre americanos e chineses, ou o acirramento dos problemas entre Arábia Saudita e Irã e o namoro entre EUA e Coreia do Norte. Eu diria que a política externa de um governo Haddad continuará se pautando por uma diretriz de independência, integração sul-americana, aproximação com a África, fortalecimento do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) e boas relações com EUA e União Europeia.
O senhor tem conversado com personalidades internacionais a respeito da situação política do Brasil. Qual a sua percepção?
O mundo inteiro está assustado com o que se passa no Brasil. Assustado com a possibilidade de haver a vitória de um candidato que fez afirmações de machismo, xenofobia, racismo, violência. E não estou falando da Venezuela, nem de Cuba. Eu estou falando da França, da Alemanha, dos EUA. Os grandes jornais nesses países todos refletem isso. Os governos ficam quietos, porque eles não querem perder a oportunidade de fazer negócios, e isso é diferente. E não estou falando de jornais de esquerda. Estou falando do Le Monde (francês), do New York Times, do The Economist, e do Washington Post, que dois dias atrás botou uma charge em que o losango da bandeira brasileira se transforma uma suástica.
O multilateralismo está em crise. O presidente Donald Trump tem colocado a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a própria ONU em xeque. Como proceder ante esse impasse?
O multilateralismo é algo que o Brasil sempre defendeu. Talvez não na época do auge do governo militar, porque não se falava muito nisso. E o Brasil estava meio sob amarras ali, se isolava, era a Ilha da Fantasia naquela época. Os governos que eu me lembro de ter servido mais de perto, como do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, sempre defenderam o multilateralismo. Então, quando ocorre essa decisão do Comitê de Direitos Humanos e a gente ouve afirmações do tipo: o Brasil não vai se curvar à ONU, isso é absolutamente assustador. Eu acho isso assustador, mas provavelmente isso não é nada diante do que virá com esse candidato, se ele por acaso vencer mesmo. Porque ele já disse que vai tirar o Brasil da ONU. Provavelmente ele não sabe onde fica a ONU, nem o que é a ONU. Mas, enfim, é muito temerário.