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sexta-feira, 8 de março de 2019

Brazil First, política externa - Eliane Cantanhede (OESP)

Um artigo sem muita consistência da conhecida jornalista que tenta apresentar como razoável a postura da política externa oficial, de romper com os velhos padrões do multilateralismo, quando até aqui essa política externa não apresentou nenhuma realização digna de nota, a não ser o gesto deplorável de "desassinar" o Pacto Global das Migrações, apresentado estupidamente como uma defesa da soberania.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 8 de março de 2019

‘Brazil first’

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
08 de março de 2019 | 03h00

No Itamaraty, ideia é ‘desligar o botão automático’ e rever tradição e multilateralismo

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro distrai o digníssimo público com uma barbaridade por dia, o mercado só quer saber da reforma da Previdência e o mundo, os investidores, os exportadores e os importadores perguntam qual é a política externa brasileira. Aliás, se há uma. Se há, pode ser resumida assim: “Brazil first”.
É, obviamente, um plágio do slogan de Donald Trump nos Estados Unidos: “America first”. A questão, levantada por ex-presidentes, ex-chanceleres e diplomatas da ativa é se é “Brazil first” ou se vai acabar sendo “Brazil after America”.
Além de causar perplexidade de novo ontem, ao dizer que “liberdade e democracia só existem quando as Forças Armadas assim o querem”, Bolsonaro enumerou os seus aliados no governo e incluiu aí “aqueles que querem aproximação com países que têm ideologia semelhante à nossa (Brasil)”.
Mais do que uma manifestação de ojeriza a Cuba e Venezuela, foi uma referência à aliança com os EUA e com Trump, pedra fundamental da política externa da “nova era”. Há consenso quanto a aprofundar as relações com a maior potência mundial, tradicional parceira brasileira. A dúvida é sobre a calibragem. Alinhamento automático? Brasil caudatário dos EUA?
Tudo isso vai ficar mais claro no encontro de Bolsonaro com Trump, dia 19. Além da gorda pauta bilateral de negócios, cooperação e facilitação de trânsito de pessoas e produtos, os dois terão muito a conversar sobre temas globais e regionais e interesses estratégicos de EUA e Brasil, como Venezuela e China.
Setores do Itamaraty lembram que Bolsonaro deixou muito claro na campanha eleitoral o que pensava, o que significava e o que pretendia. Logo, o eleitorado chancelou uma forte guinada ideológica no poder e isso, evidentemente, tem reflexo direto no Itamaraty. Na montagem do gabinete, na distribuição das peças no tabuleiro e na própria política externa.
A equipe do chanceler rechaça “caça às bruxas” e diz que os movimentos são naturais. Mudou o governo, muda o Itamaraty. Quanto à política externa, a intenção é “quebrar a inércia”. Ou seja: rever conceitos, práticas e hábitos que vêm de décadas, de governo após governo, como se fossem cláusulas pétreas. “É desligar o botão automático”, resumiu um dos artífices das mudanças, sempre enfatizando que tudo está sendo suave, sem solavancos.
Uma das “verdades absolutas” é justamente que o multilateralismo tem de se sobrepor a tudo. “Por quê?”, pergunta ele. Decisões de organismos internacionais são boas quando são boas para o Brasil. Não são quando não convêm ao País. Simples assim. Quer dizer... mais ou menos simples, porque a ONU tem seus problemas, mas é fonte de estabilidade internacional, e a OMC, útil nas guerras comerciais, é fundamental para países médios como o Brasil. E vai por aí afora.
Quanto aos temas mais bombásticos da campanha, eles trariam enorme prejuízo ao Brasil e foram estacionando no caminho para o poder: embaixada em Jerusalém, retirada do Acordo do Clima, cacetadas na China. Parecem bem distantes.
Após reduzir a estrutura do Itamaraty – “escolher pessoas para cargos, não cargos para pessoas”, diz Araújo –, há sérias dificuldades para fechar postos no exterior criados pelo ex-chanceler Celso Amorim como forma de atrair votos para uma vaga no Conselho de Segurança da ONU. Criar é fácil, fechar é que são elas. É o oposto do “soft power”, é como dizer aos países: “Vocês não têm a menor importância”.
E a exoneração do embaixador Paulo Roberto de Almeida por críticas ao chanceler? Resposta: não é nenhuma novidade, que o digam os embaixadores Moscardo, Bustani e Samuel Pinheiro Guimarães no governo FHC. Turma é turma.


terça-feira, 5 de março de 2019

“Ernesto Araújo enganou o presidente”, diz embaixador demitido - Paulo Roberto de Almeida, Caio Junqueira (Crusoe)


“Ernesto Araújo enganou o presidente”, diz embaixador demitido

Paulo Roberto de Almeida
Entrevista com o jornalista Caio Junqueira, da revista Crusoé (5/03/2019)

O embaixador Paulo Roberto de Almeida (foto) recebeu na manhã de segunda-feira, 4, um telefonema de Pedro Wollny, chefe de gabinete do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A ligação era para demiti-lo do cargo de presidente do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais, órgão acadêmico ligado ao Itamaraty. O motivo: uma postagem em seu blog pessoal na noite anterior com artigos críticos à política externa atual.
A demissão chamou a atenção de diplomatas. Muito mais pelo histórico do demitido do que pelos artigos em si. Almeida é um antigo opositor do petismo, que caíra no ostracismo por reprovações feitas à diplomacia dos governos Lula e Dilma Rousseff. Em entrevista a Crusoé nesta terça-feira, 5, ele diz que Araújo só passou a defender teses da direita por oportunismo, e critica os padrinhos do chanceler: o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, e o escritor Olavo de Carvalho.
Diplomata de carreira desde 1977, Almeida foi ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington e trabalhou entre 2003 e 2007 como Assessor Especial no Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Ele afirma que quem está mandando mesmo nas questões envolvendo o Brasil com outros países são os militares. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como foi sua demissão?
Eu publiquei no domingo uma postagem no meu blog remetendo a um PDF que montei com base em três documentos sobre política externa do Brasil: uma palestra do Rubens Ricupero, um artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a Venezuela e um artigo do chanceler Ernesto Araújo. Juntei os três e convidei os leitores a fazer um debate sobre política externa. Isso foi usado na segunda-feira pela manhã para me exonerar. O chefe de gabinete (Pedro Wollny) me ligou e disse que eu tinha demonstrado inconveniência ao postar os documentos no meu blog pessoal. Ora, fiz isso ao longo de todo o lulopetismo e talvez para o meu próprio prejuízo, porque fiquei no ostracismo completo. Durante os dois anos do governo Michel Temer, quando fui finalmente chamado para exercer um cargo no Itamaraty, postei constantemente. Coloquei no blog tudo o que achava relevante sobre política externa. Fui tomado de surpresa agora, por ter sido dispensado a mim o mesmo tipo de tratamento que tive no passado, de censura, isolamento e, de certa forma, punição.

O sr. acredita que foi essa postagem que gerou sua demissão?
Na verdade, o que foi levado em conta foram comentários anteriores que fiz no blog e no Twitter sobre o Olavo de Carvalho, que acho um personagem nefasto para a política externa brasileira. É um inepto em relações políticas internacionais e vem se pronunciando sobre essa fantasmagoria do globalismo, que parece que contaminou o nosso chanceler.

Qual sua avaliação sobre o chanceler?
O Ernesto nunca, jamais, em nenhum momento da história anterior e do regime lulopetista, se manifestou contra o marxismo cultural, contra o apoio a governos esquerdistas. Ele se aproveitou dessa onda antipetista e contra a esquerda para ascender. Como fez o Samuel Pinheiro Guimarães (secretário-geral do Itamaraty e depois secretário de Assuntos Estratégicos no governo Lula), que no final do governo FHC começou a falar contra a Alca (Área de Livre Comércio das Américas idealizada pelos Estados Unidos e cuja participação brasileira Lula barrou), contra o Mercosul neoliberal, e se tornou um dos principais gurus do lulopetismo. O Ernesto farejou essa ascensão da direita. E sendo ou não conservador, religioso ou direitista, aderiu completamente a ela. Criou um blog em que apoiava abertamente Bolsonaro e se pronunciava em tons ásperos contra os marxistas e contra os esquerdistas. Contra a China maoísta, algo que não existe há mais ou menos 40 anos. E contra o climatismo. Tem muito de construído aí. Eu o considerava um diplomata normal. Competente, como são os diplomatas em geral. Essa transformação de burocrata normal da diplomacia para arauto da luta contra o globalismo é uma construção artificial e feita de forma um pouco oportunista para entrar nessa onda bolsonarista e da direita. Ele enganou os olavistas verdadeiros e o próprio presidente para conquistar esse cargo.

Então, no fundo, foram suas críticas a Olavo de Carvalho que causaram a sua demissão?
Olavo é um guru distante que pode ter sido influente politicamente, mas não determinante nas medidas que são adotadas pelo chanceler em relação à Venezuela, ao Pacto das Migrações, à mudança da embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém. Ele defende a luta contra o globalismo e nosso chanceler encampa isso. Como eu me pronunciei contra o que eu chamo de “sofista de Virginia”, isso deve ter chocado muito o chanceler.

Eduardo Bolsonaro também tem influência sobre o chanceler?
O Eduardo Bolsonaro também é um personagem nefasto para a política externa brasileira, porque vive pregando não uma adesão aos Estados Unidos, mas ao governo Trump, o que é de uma inconveniência total. Ele certamente é o grande responsável pela aceitação do Ernesto como chanceler, juntamente com o Filipe Martins, que era assessor de assuntos internacionais do PSL (e atual assessor especial da Presidência da República).

Filipe é outra eminência parda na política externa brasileira? 
Ele é um desses verdadeiros crentes que ascenderam na onda da direita e foi guindado a essa posição por influência dos chamados bolsokids (os filhos do presidente). Não acho que tenha muita influência, não. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, já mostrou que não dá muita importância a um garoto que já foi chamado de Robespirralho ou Sorocabannon (termo que une Sorocaba, cidade natal de Filipe, a Steve Bannon, um dos estrategistas do presidente americano Donald Trump). Tem lá sua influência porque foi quem fez o desastroso discurso de Jair Bolsonaro em Davos, de seis minutos, em que o presidente não disse absolutamente nada. Tem uma influência marginal. Reúne-se sempre com o Ernesto. Faz parte daquilo que o Ricupero denominou como lunatic fringe: a franja lunática do governo Trump. É um verdadeiro crente nessa coisa de olavismo. Uma ideologia muito difusa e confusa, à qual aderem os jovens carentes de formação mais completa.

Como avalia a política externa atual conduzida pelo ministro Ernesto Araújo?
Gostaria de responder positivamente, se houvesse uma política externa do Ernesto Araújo. Não vejo nenhuma. Não tenho nenhuma exposição clara, abrangente, completa e sistemática de todos os pontos do que pudesse ser chamado de política externa do Ernesto Araújo. Se você descobrir e me enviar, agradeço e vou me pronunciar sobre ela. O que você tem são esses artigos no blog dele e declarações no discurso de posse que não têm quase nada de política externa. São chamamentos a uma missão salvadora, de resgatar o nosso Itamaraty do marxismo. Isso é uma ofensa aos diplomatas, que, na maior parte das vezes, são profissionais dedicados a questões técnicas da política externa e não a causas salvacionistas.

Por que é uma ofensa?
Se tiver petistas no Itamaraty, são dois ou três. O resto é oportunista, porque quer promoção, posto, remoção. Se o presidente fosse o Paulo Maluf, eles seriam malufistas. Com Lula, houve no Itamaraty uma grande adesão às causas lulopetistas, ao desenvolvimentismo, à política Sul-Sul. Mas diplomatas são burocratas bem-comportados, no mais das vezes.

Então pode haver também uma adesão à política externa bolsonarista, não?
Não sei. Essa adesão à luta contra o marxismo cultural, contra o globalismo… Não sei o que os diplomatas teriam a fazer porque tudo isso é muito confuso.

Como está o Itamaraty hoje?
Está parado. Há uma grande paralisia quanto a definições para saber o que se deve fazer.

Com isso tudo acontecendo, os militares estão assumindo a política externa?
Eles têm uma determinação maior que a do próprio chanceler. Isso se revelou desde o início, em temas como a instalação de uma base americana no Brasil, China, embaixada em Jerusalém e outros elementos da política externa que ficaram sob controle estrito da ala militar do governo. Há uma espécie de comitê de tutela da ala militar sobre o chanceler. Isso está muito claro e se revelou agora de novo na reunião do grupo de Lima (reunião de países formada para debater a crise na Venezuela), quando o vice-presidente foi o chefe da delegação e expressou claramente posições dos militares brasileiros contra o chanceler. Há uma liderança diplomática exercida por militares.

Eles que mandam de fato?
Não diria que eles mandam porque tem aí, digamos, um conselho de defesa que se reúne com militares e o chanceler. O conselho toma posições de substância. Eu imagino que essas duas próximas visitas do presidente a Israel e aos Estados Unidos estejam sendo planejadas por um conselho que extravase o Itamaraty. Imagino que a opinião dos militares será mais determinante do que a do chanceler nessas questões de acordos, anúncios e declarações.

O Itamaraty vê com bons olhos a influência militar sobre seu trabalho?
Soldados e diplomatas sempre se entenderam muito bem em todos os países. São dois grandes esteios do estado nacional e da defesa e segurança do país. Atuam conjuntamente. Mas no Brasil está havendo uma inversão. Atualmente, são os soldados que estão defendendo posições mais diplomáticas, e o chanceler, uma posição mais dura e de intervenção em assuntos internos dos outros países. Há uma indefinição quanto às grandes linhas da política externa. Não se sabe o que vamos fazer, por exemplo, com China, Estados Unidos e Venezuela. E os militares entram nesse vácuo. São um corpo bem preparado, democrático e consciente dos grandes desafios do país, ao passo que no Itamaraty há indefinição sobre tudo isso.

Já há exemplos da supremacia militar sobre o Itamaraty neste governo?
Sim. Você começou o ano com o anúncio de uma grande base americana no Brasil, que foi rechaçada pelos militares. Teve anúncio da mudança da embaixada de Israel de Tel-Aviv para Jerusalém, descartada por pressão dos agricultores e dos militares. Teve a demonstração de animosidade em relação à China, tanto do presidente quanto do chanceler, minimizada pelos militares. Teve anúncio de retirada do Acordo de Paris, que não se consagrou por ser uma medida inócua, por ignorância do que representa o acordo sobre mudanças climáticas, algo até benéfico as políticas do Brasil.

É possível comparar sua demissão à perseguição que  sofreu na era petista?
Pela motivações autoritárias e censuradoras, sim. Na substância, não. Na era petista, eu já tinha um passado de comentários sobre a política externa do PT, sobre as posições do Lula em matéria de política agrícola, de subsídio, ou sobre a aliança com pobres e oprimidos para enfrentar os vilões hegemônicos. Eles sabiam bem quem eu era e fui vetado logo no início, até mesmo para exercer um cargo que não tinha nada a ver com diplomacia: ia assumir o mestrado do Instituto Rio Branco e fui impedido. E depois fui vetado pelo Celso Amorim em diferentes cargos no Itamaraty. Ele acabou me oferecendo uma embaixada na Ásia, que não aceitei. E aí fiquei anos nos corredores sem função, trabalhando na biblioteca. Hoje é diferente. Você tem uma pessoa insegura (Ernesto Araújo). Vamos falar claramente: o ministro é uma pessoa insegura, que precisa firmar sua autoridade, e até para uma perspectiva geracional, ele está trocando todas as chefias mais antigas por pessoas mais jovens. Precisava se livrar dos mais velhos. Em algum momento, eu seria substituído. Mas,na verdade, fui defenestrado por suposta insubordinação ou inconveniência de postar coisas no meu blog. Acho que o espírito é o mesmo, mas as motivações talvez sejam diferentes. O petismo sabia bem o que queria fazer, e portanto eu era um opositor ideológico identificado desde o início. Agora, eles não sabem bem o que fazer, mas se revoltam contra todos os supostos opositores.

Para onde o senhor vai agora? 
Não espero nada agora. Vou ficar nos corredores e vou para a biblioteca como sempre fiz.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de março de 2019

segunda-feira, 4 de março de 2019

Ernesto Araujo ataca FHC e diz que Brasil guiou EUA na crise da Venezuela - FSP

Mais um episódio de um "não-debate" sobre a diplomacia brasileira e a sua política externa.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4/03/2019

Ernesto Araújo ataca FHC e diz que Brasil guiou EUA na crise da Venezuela

Em blog, chanceler diz que ex-presidente desprezava povo brasileiro e critica tradição diplomática

Em artigo publicado em seu blog, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ataca Fernando Henrique Cardoso por suas declarações sobre a crise na Venezuela, dizendo que o ex-presidente defende “tradições inúteis de retórica vazia” e que ele “abertamente desprezava” o povo brasileiro e os eleitores de direita.
No texto, intitulado Contra o consenso da inação, Araújo também afirma que foi o Brasil que guiou os EUA nas decisões tomadas recentemente em relação ao país vizinho, e não o contrário.
Na última quinta-feira (28), FHC havia postado em seu Twitter que “novas eleições livres são o caminho para o futuro democrático na Venezuela” e que “intervenções militares não conduzem à democracia”.
Araújo criticou FHC, dizendo que ele usa “o mais surrado dos artifícios retóricos” ao criar “uma falsa dicotomia” entre consenso e intervenção armada no país vizinho. “Ao contrário de FHC, eu acredito na diplomacia, porque acredito na força da palavra e do espírito humano para mudar a realidade, porque não sou cínico nem materialista, porque acredito no povo brasileiro, esse povo dos “grotões” que FHC abertamente desprezava (assim como desprezava e despreza os eleitores de direita que o fizeram presidente duas vezes)”, escreveu.
No texto, o chanceler Araújo critica a tradição da política externa brasileira nos últimos 25 anos, baseada no “consenso” —que ele qualifica de “infame”—  e dizendo que ela permitiu a consolidação de Hugo Chávez e de Nicolás Maduro no poder na Venezuela, a entrada do país no Mercosul e o “predomínio crescente do bolivarianismo na América do Sul concebida como um bloco socialista”.
“Insistir agora em que esse consenso continue a prevalecer na esfera da política externa, por temor e preguiça, sob o pretexto de ‘manter as tradições’, seria trair o povo brasileiro”, escreveu.
Segundo o chanceler, “uma grande liderança democrática venezuelana” disse a ele que foram as iniciativas do Brasil que “mobilizaram os próprios Estados Unidos a romperem a inércia em que se encontravam até o início de janeiro e a virem colocar seu peso político em favor da transição democrática”. “Não foi o Brasil que seguiu os EUA, mas antes o contrário.”
Araújo também teceu críticas ao ex-ministro Rubens Ricupero, ao afirmar que recebeu o agradecimento dos venezuelanos quando visitou as fronteiras do país com a Colômbia e o Brasil e abraçou o autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, “enquanto Rubens Ricupero e Fernando Henrique Cardoso escreviam seus artigos espezinhando aquilo que não conhecem, defendendo suas tradições inúteis de retórica vazia e desídia cúmplice”.

A politica externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araujo


A política externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araujo

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: textos para debate; finalidade: discutir as orientações da diplomacia]


Sumário
1) Introdução: Paulo Roberto de Almeida, 4 de março de 2019                1
2) Rubens Ricupero, 25 de fevereiro de 2019                                                2
3) Fernando Henrique Cardoso, 3 de março de 2019                                  13
4) Ernesto Araujo, 3 de março de 2019                                                          15


1) Introdução: Paulo Roberto de Almeida, 4 de março de 2019
Em toda a minha carreira diplomática, sempre defendi ideias próprias sobre as orientações de nossa política externa, o que aliás foi objeto de algumas controvérsias e uma tantas advertências de superiores quanto a certas posturas que mantive e mantenho em discordância eventual com as orientações oficiais. Nunca me abstive de expressar minhas opiniões a esse respeito, inclusive por escrito, o que aliás suscitou uma ou outra “punição” em certas ocasiões, e um longo ostracismo sob o lulopetismo, que sempre considerei a deformação maior de nossa política, não apenas pela sua extraordinária inépcia administrativa e formidável corrupção, mas também pelos equívocos de política econômica, que nos levaram ao que já chamei de “Grande Destruição”, a inédita recessão que ainda penaliza o povo brasileiro até muitos anos à frente.
Na área da política externa – justamente a que motivou a minha longa travessia do deserto durante toda a duração do criminoso regime –, minhas discordâncias eram conceituais, operacionais, metodológicas, substantivas e de estilo, ou seja, em toda a linha. Em qualquer hipótese, numa me eximi de manifestar essas discordâncias, de forma mais discreta ao início, de maneira aberta ao final, e atualmente. Mas, já estamos em outro regime, supostamente oposto em toda a linha ao regime lulopetista anterior.
Isso não me exime, no entanto, de continuar seguindo a política externa do atual governo, e de formular eventualmente a minha opinião sobre as orientações em curso. No momento, não disponho de nenhum texto estruturado sobre a atual diplomacia, inclusive porque não tivemos, até o presente momento, nenhuma exposição abrangente, sistemática e completa sobre os fundamentos políticos, as orientações conceituais, as prioridades e as preferências táticas da política externa do governo Bolsonaro, a não ser a emissão de alguns grandes slogans, que não constituem um documento de política, mas apenas conceitos gerais, que revelam intenções, mais do que uma estratégia precisa.
Mas, o debate já está aberto, aliás desde antes das eleições, e desde antes da posse do novo governo, em função de declarações do chanceler designado, o que suscitou uma série de reações, favoráveis e contrárias, na comunidade interessada em política externa. De minha parte não me pronunciei a respeito, mas venho seguindo atentamente essas manifestações, e postando no meu blog Diplomatizzando os textos mais relevantes. É o caso agora, com três exposições razoavelmente abrangentes sobre essas orientações gerais em política externa, e mais especificamente sobre a Venezuela, possivelmente o caso que servirá de teste para a diplomacia brasileira na presente conjuntura. Além desse test-case, permanecem questões de fundo que ainda serão mais debatidas. Transcrevo aqui os três textos mais significativos do debate atual, os dois primeiros nominalmente mencionados no terceiro, do próprio chanceler, que os acusa, de forma direta e nominal, de serem parte de uma diplomacia que ele rejeita e abomina.
O debate está aberto, e certamente teremos outros textos e outras polêmicas.
Minha função é esta: abrir meu espaço público a ideias inteligentes para o debate de pessoas inteligentes.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4 de março de 2019

Ler os três textos no seguinte link: 

https://www.academia.edu/s/70710c9869/a-politica-externa-brasileira-em-debate-ricupero-fhc-e-araujo

Contra a Corrente: ensaios contrarianistas - novo livro, Paulo Roberto de Almeida

Finalmente disponível. Aqui seu sumário e apresentação:




Contra a corrente
Ensaios contrarianistas sobre as relações internacionais do Brasil (2014-2018)
(Curitiba: Appris, 2019)


Disponível para vendas online, inclusive no formato e-book, nos seguintes links: 
https://www.editoraappris.com.br/produto/2835-contra-a-corrente-ensaios-contrarianistas-sobre-as-relaes-internacionais-do-brasil-2014-2018
e
https://www.amazon.com.br/s?k=contra+a+corrente+ensaios+contrarianistas&__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=AWUCCAL8SUDB&sprefix=Contra+a+Corrente%3A+ens%2Caps%2C249&ref=nb_sb_ss_fb_1_21


Sumário

Apresentação: Do “nunca antes” ao finalmente depois... 
                                    
Primeira Parte
A diplomacia brasileira sob o lulopetismo
1. A política externa em tempos não convencionais 
2. Rumos da política externa na próxima década 
3. Tentativas de aparelhamento lulopetista da diplomacia 
4. Desafios do governo na frente econômica externa 
5. A agenda econômica internacional do Brasil  
6. Questões institucionais e políticas da diplomacia lulopetista
7. Peculiaridades da diplomacia sob o lulopetismo 
8. A política externa companheira e a diplomacia partidária 
9. Retorno a uma diplomacia normal?  
10. Fim das utopias na Casa de Rio Branco? 
11. A diplomacia dos antigos e a dos modernos (Benjamin Constant) 
12. Contra as parcerias estratégicas: um relatório de minoria 
13. Epitáfio do lulopetismo diplomático  

Segunda Parte
A política externa numa fase de transição
14. O renascimento da política externa    
15. O Itamaraty e a nova política externa brasileira  
16. A política externa e a diplomacia brasileira no século XXI  
17. Como retomar uma política externa profissional  
18. O papel da diplomacia nas reformas: justiça, trabalho, educação 
19. Questões de política externa numa conjuntura eleitoral 
20. Uma delicada questão diplomática: o caso de Israel 
21. Balanço e trajetória futura das relações internacionais do Brasil 
22. O poder do Itamaraty: o conhecimento como base  

Apêndices:
23. Auge e declínio do lulopetismo diplomático: depoimento pessoal  
24. Entrevista sobre o Itamaraty em tempos não convencionais
25. Breve nota biográfica: Paulo Roberto de Almeida   
26. Livros e trabalhos de Paulo Roberto de Almeida  



Apresentação
Do “nunca antes” ao finalmente depois...

Against the tide e minority report são duas conhecidas expressões em inglês que podem representar o espírito com o qual foram escritos a maior parte dos ensaios aqui reunidos, compilando esforços de leitura, de reflexão e de redação que empreendi entre os anos de 2014 e 2018, não por acaso dois períodos eleitorais decisivos na história política recente do Brasil, o primeiro por representar o ponto culminante do regime lulopetista vencedor em quatro eleições presidenciais sucessivas, mas também a sua agonia e queda final, em 2016, o segundo por evidenciar a vontade da sociedade brasileira de dar um basta ao festival de corrupção sistêmica a que assistimos desde o início daquele regime.
“Contra a corrente” e “relatório de minoria” podem, efetivamente, caracterizar minha atitude básica na análise e produção de ensaios ao longo desse período, mas não só ele, pois tenho mantido a mesma atitude – que chamo de ceticismo sadio – ao longo de uma vida toda ela dedicada ao estudo dos problemas brasileiros, ao exame das melhores soluções de políticas públicas a esses problemas, especialmente na área de atividade que é a minha desde 1977, as relações internacionais do Brasil, sua política externa, o exercício prático da diplomacia, mas sempre combinada a uma reflexão crítica que sustenta, justamente, a atitude que mantenho, e que pode ser resumida nessas duas expressões.
Os textos aqui reunidos podem, portanto, enquadrar-se numa das duas categorias acima descritas, ou em ambas, simultaneamente, justificando-se, portanto, o uso do conceito de “contrarianismo”, que pode também identificar alguns traços de minha atitude em face de questões relevantes do país, mas em relação aos quais mantenho uma postura que não se enquadra na corrente geral. Esses ensaios foram preparados marginalmente à minha agenda habitual de trabalho, que em geral compõe-se unicamente de escritos que eu mesmo escolho deliberadamente empreender. Normalmente, consistem em ensaios acadêmicos, pesquisas históricas, ou sínteses de leituras e reflexões sobre os temas que me ocupam tradicionalmente: desenvolvimento econômico do Brasil, história diplomática, política internacional e assuntos afins, ademais de resenhas de livros, muitas resenhas.
Em certos momentos, esses ensaios podem situar-se em etapas decisivas da conjuntura política, como são os períodos eleitorais, quando campanhas presidenciais nos colocam em face de escolhas relevantes para o futuro da nação, sobre as quais eu nunca deixei de refletir, e de ponderar minhas opções, justamente com essa atitude que já descrevi como sendo constituída basicamente de ceticismo sadio, e que se reflete em textos que geralmente vão no sentido contrário ao da maioria da opinião – inclusive na instituição a que pertenço – e que podem também serem enfeixados nessa segunda categoria, a dos relatórios de minoria.
Dividi a presente coletânea em duas partes bem caracterizadas. A primeira compõe-se de ensaios sobre diferentes temas da diplomacia brasileira redigidos no período final do regime lulopetista. Elas não visavam examinar tão simplesmente a diplomacia brasileira, nos seus aspectos gerais, pois a intenção era a de discorrer sobre “problemas” da diplomacia brasileira, criados pelo governo do Partido dos Trabalhadores (PT) desde 2003, e que ameaçavam se prolongar por um período indefinido, em caso da vitória do PT nas eleições daquele ano, o que efetivamente se confirmou, da pior forma possível, com as consequências que todos sabemos. Logo em seguida tivemos a crise terminal do lulopetismo e o ingresso numa fase de transição que talvez ainda não tenha terminado.
Esta é justamente a segunda parte desta compilação de escritos, muitos deles compostos no período mais recente, refletindo a campanha presidencial de 2018, durante a qual não exerci nenhum papel relevante, para nenhum dos candidatos em liça, mas no decorrer do qual não me eximi de redigir algumas notas refletindo meu pensamento sobre alguns dos temas que valorizo sobremaneira, desde minha formação inicial em problemas do desenvolvimento brasileiro e de sua inserção internacional.
Entre uma e outra etapa, se situa uma espécie de “intermezzo” contrarianista, com a produção de alguns ensaios reveladores do que eu pensava sobre a crise terminal do lulopetismo e os desafios para o Brasil; algumas referências a esses escritos figuram no apêndice, no qual informo alguns dados pessoais e relaciono leituras adicionais.
Devo desde já registrar que, durante todo o decorrer do regime lulopetista – ou seja, de 2003 a 2016 –, eu não tive nenhum cargo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), tendo sido “condenado”, desde o início desse regime, a uma longa travessia do deserto, que só veio a termo com o impeachment de meados de 2016, quando finalmente fui convidado para o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Itamaraty.
Vários dos textos que aqui figuram não se destinavam a divulgação, nem nunca pretenderam representar o pensamento ou as posições de quaisquer grupos, partidos ou movimentos, mas unicamente as minhas próprias reflexões e posturas, em relação a temas que sempre foram cruciais nas relações exteriores do país, embora bem mais em função das deformações acumuladas naqueles anos do que em função da agenda normal do Itamaraty. A confecção dos argumentos e a exposição de minhas opiniões foram feitas sem notas preparatórias, sem remissões e sem suporte em documentos, oficiais ou não, já que os textos expressam, exclusivamente, o pensamento do autor, além de constituir um guia pessoal sobre o que poderia ser feito se o autor destas linhas tivesse, por acaso, algum poder de decisão, algum dia. Isso provavelmente jamais ocorrerá. Ainda que ocorresse uma mudança de regime, o que vai aqui escrito tampouco teria chances de concretização, tendo em vista a inércia burocrática e a lentidão mental na adaptação a novas ideias que prevalecem nos governos, mesmo num órgão que é geralmente tido por excelente, como é o caso do Itamaraty.
Como diria o velho Péricles – não o grego, mas um humorista brasileiro de uma antiga revista de atualidades fotográficas –, “as aparências enganam...”. Este autor, contudo, não pretende enganar a si próprio: estes textos representam a minha opinião sobre alguns momentos especiais vividos pela diplomacia brasileira ao longo do regime lulopetista e, agora, na fase de transição que se abriu com sua derrocada. Eles também constituem uma projeção utópica, totalmente pessoal, sobre um futuro hipotético, provavelmente irrealizável, de construção de uma economia avançada, de uma sociedade livre das amarras corporativas que dificultam um processo mais ágil de crescimento econômico e de desenvolvimento social.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, janeiro de 2019




Orelhas:
Sistemas políticos podem evoluir por meio de reformas progressivas, obtidas consensualmente pela via institucional, ou podem, também, conhecer erosão e deformação, pela ação de lideranças políticas pouco comprometidas com os valores e princípios da democracia e infensos à transparência normalmente associada às formações políticas comprometidas com tais princípios. O Brasil conheceu, em sua história recente, um deplorável processo de deterioração de suas instituições – que atingiu os três poderes – e que se refletiu igualmente numa lamentável perda de qualidade das políticas públicas, macroeconômicas e setoriais, incluindo a diplomacia.
Na área econômica, conhecemos a maior e mais profunda recessão de toda a história, em meados da segunda década deste século, e que ainda vai prologar seus efeitos até praticamente o ano do bicentenário da independência. Na vertente da política externa, teve vigência uma diplomacia partidária, até mesmo clandestina, que alterou as bases de funcionamento do Itamaraty, colocado a serviço dos arroubos megalomaníacos de um presidente que agora cumpre uma justa condenação à prisão, por crimes continuados contra o Estado e contra a própria sociedade.
Este livro se coloca na continuidade de obra anterior do autor, Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Appris, 2014). Ele compila, em sua primeira parte, análises do lulopetismo diplomático em sua fase agônica, mas que ainda assim exercia fascínio sobre certa franja do gramscismo acadêmico, obnubilada pela enganosa propaganda da “diplomacia ativa e altiva”, mas que estava alinhada com algumas das ditaduras mais execráveis da região. A segunda parte se ocupa das questões da política internacional do Brasil na presente fase de transição, com textos sempre motivados pelo perene compromisso do autor com uma diplomacia de qualidade, livre de partidarismos espúrios, que seja capaz de representar e defender os interesses fundamentais da nação, com a alta qualidade que sempre marcou a ação do Itamaraty no decorrer de sua longa história de quase dois séculos.
Ao final, depoimentos pessoais esclarecem as circunstâncias sob as quais se desenvolveu a trajetória intelectual do autor, afastado de qualquer função na Secretaria de Estado das Relações Exteriores durante toda a duração do regime lulopetista. Ele nunca cedeu à truculência arbitrária do regime que o condenou a um longo ostracismo profissional, quando teve de fazer da biblioteca do MRE o seu escritório de trabalho.

Paulo Roberto de Almeida é mestre em economia do desenvolvimento, doutor em ciências sociais e diplomata de carreira desde 1977. Ensinou na UnB, no Instituto Rio Branco e é professor convidado em várias instituições brasileiras e estrangeiras. Em 2004 tornou-se professor de Economia Política nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub) e, em agosto de 2016, assumiu o cargo diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Itamaraty.

Quarta capa:
Comecei a leitura de seu Contra a Corrente pelos apêndices pois a narrativa da experiência profissional e intelectual é sempre reveladora das balizas do pensamento, como apontava Hannah Arendt.
A sua avaliação da diplomacia lulopetista é contundente, mas muito bem embasada. São pertinentes suas considerações sobre o Itamaraty e o seu papel na vida brasileira e de particular relevo a ênfase dada ao papel do conhecimento na condução da política externa.
O livro expressa as características da sua identidade intelectual que combina o empenho no rigor e o domínio do conhecimento à uma inquieta vocação polêmica, que explica o seu destemido à vontade de escrever contra a corrente.”
Carta de Celso Lafer ao Autor
São Paulo, 31 de janeiro de 2019


O embaixador Rubens Barbosa, com quem o Autor trabalhou em diversas ocasiões, ao longo de quase três décadas de carreira diplomática, o chamou certa vez de accident-prone diplomat, ou seja, um diplomata criador de casos. Ele confessa aceitar a designação com prazer, pois nunca hesitou em expressar abertamente suas opiniões, sem muito respeito pelos sacrossantos princípios da hierarquia e da disciplina.

Costuma dizer que nunca deixou o cérebro em casa quando saia para o trabalho, nem nunca o depositou na portaria ao adentrar no Itamaraty. Sempre expressou suas posturas e opiniões, independentemente dos regimes e dos governos. Por isso mesmo, pagou um alto preço durante os quase 14 anos de desgoverno lulopetista no país.