Em 1994 e 1998, quem despertava temores no mercado era o PT de Lula, que perdeu as duas disputas no primeiro turno. A reeleição das forças governistas representava estabilidade. Em 2002, a possibilidade de o petista vencer a disputa custou caro ao país. A especulação passou a comer solta, a inflação disparou, e o país teve de recorrer ao FMI — uma solução negociada com os companheiros, diga-se. Por quê?
Mesmo com a “Carta ao Povo Brasileiro”, em que o partido prometia seguir as regras de mercado, respeitar contratos e não dar calote em ninguém, havia uma grande e justificada desconfiança. Afinal, o PT passara 21 anos prometendo intervir na economia com mão forte — e não se descartava calote por lá nem da dívida interna nem da externa. Antonio Palocci se encarregou de evidenciar, no primeiro ano de sua gestão, que aquela conversão à realidade era para valer. A tensão passou.
Nas eleições de 2006 e 2010, esse era um não-assunto. Vencesse Dilma, Alckmin ou Serra, ninguém antevia grandes problemas pela frente. Aliás, se vocês recuperarem o noticiário da disputa em 2010, encontrarão alguns cretinos, fingindo-se de fundamentalistas de mercado, mas atuando como esbirros do PT, a falar, creiam, de um tal “risco Serra”.
Ou por outra: nas disputas de 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, o governismo nunca foi encarado como risco pelo mercado. Ela era sempre a solução — porque, reitero, os agentes econômicos preferem a certeza de turbulência às incertezas da escuridão.
Nesta quinta, acreditem, o mercado reagiu bem à derrota da Seleção Brasileira para a Alemanha por 7 a 1 porque considerou que isso eleva a possibilidade de Dilma perder a eleição. A Bolsa no Brasil se descolou do mercado internacional, que teve um mau dia: no fim da sessão, o Ibovespa fechou em alta de 1,79%, aos 54.592,75 pontos, maior patamar desde 20 de junho (54.638,19 pontos).
E olhem que o Ibovespa resistiu até a indicadores ruins. Segundo o IBGE, a produção industrial recuou em sete dos 14 locais pesquisados de abril para maio. Os destaques foram as retrações verificadas no Amazonas (-9,7%), Bahia (-6,8%) e Região Nordeste (-4,5%).
Nunca antes na história “destepaiz”, a possibilidade de reeleição do governo foi encarada como um risco.