Um cenário de terra arrasada (não é na Ucrânia, é na política brasileira)
Paulo Roberto de Almeida
Diplomata, professor
(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)
Nada do que venha a ocorrer no curso da próxima campanha política presidencial me impedirá de reconhecer exatamente quem são os corruptos, os grandes mentirosos, os incompetentes e até um totalmente psicopata, e também de me confirmar que o estamento político predatório — que de fato se converteu numa categoria à parte no cenário social brasileiro — se apresenta hoje como sendo o pior inimigo do Brasil e dos trabalhadores brasileiros, que estão sendo sistematicamente extorquidos por ladrões organizados.
Vai ser difícil reparar tal sistema necrosado pela corrupção entranhada, totalmente alheio a qualquer ética no serviço público, servindo apenas a si mesmo e confiante na impunidade judicial que seus grandes integrantes construíram para si.
Como chegamos a isso?
Foi um lento acumular de distorções e de deformações banais, que atingiram inclusive as mais altas corporações de Estado, e que produziram um mundo à parte das preocupações mundanas dos brasileiros do setor produtivo, um mundo focado exclusivamente na captura da riqueza criada pelo setor produtivo sob a forma de nacos cada vez maiores do orçamento nacional, sistematicamente desviados para ganhos prebendalistas, o que está no centro do patrimonialismo que nunca deixou de se fortalecer no Brasil.
Nossa decadência política é de um tipo diferente: ela não tem nada de ideológico, pois que todas as correntes de opinião política, todas as tendências do sistema partidário partilham do mesmo afã pelo ganho fácil, pela extorsão legalizada por um sem número de dispositivos e mecanismos dedicados ao objetivo comum de extrair renda do Estado brasileiro.
Os rentistas do estamento político estão unidos no aprofundamento do declínio da nação e prometem aperfeiçoar o sistema de extorsão legalizada justamente no ano em que “comemoramos” o Bicentenário do Estado independente.
Existe maior ironia do destino do que essa?
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 4119, 27 março 2022, 1 p.