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quarta-feira, 12 de outubro de 2016

A reforma agrária que o Brasil NÃO fez - Percival Puggina

Essa misteriosa reforma agrária brasileira

O bandoleiro Stédile, chefão do MST, e o tirano Chávez.
Orlado Tambosi: Curto e grosso: a reforma agrária brasileira produziu apenas o MST e sua obsoleta ideologia anticapitalista. Uma ideologia de primatas, como diz Percival Puggina, que faz uma análise pontual dessa desgraça:

Há cerca de 20 anos, visitei diversos assentamentos do Incra no sul do Rio Grande do Sul. Alguns tinham barreira no acesso. Ninguém podia entrar sem autorização e a autorização era negada a curiosos. Eu era exatamente isso. Os que visitei estavam praticamente inativos, sem aproveitamento. Quase não se percebia sinal de vida. Em um deles, porém, encontrei animais de pasto e vasta extensão cultivada, prenunciando generosa safra. Pertencia a uma família de vários irmãos, procedentes da região noroeste do Estado, que trabalhavam seus lotes em conjunto. Fui conversar com eles e perguntei o motivo do contraste em relação aos demais assentados. A resposta foi surpreendente - eles plantavam. No entanto, fariam a colheita e iriam embora porque a vizinhança era perigosa. À menor desatenção, eram roubados.

***

Os órgãos destinados à Reforma Agrária no Brasil operam com a terceira geração de servidores. As duas anteriores se dedicaram a fazer a reforma agrária e hoje se beneficiam da aposentadoria. Uma terceira vai tocando o trabalho, olhos no desenvolvimento de suas vidas funcionais. Nada haveria de extraordinário nisso. É o que acontece em todo o órgão público longevo e os órgãos públicos costumam ser longevos. Depois que o Estado abre uma porta ou um guichê, dificilmente essa abertura se fecha. O que torna incomparável a atuação dos órgãos de reforma agrária, hoje convergentes no Incra, é a constrangedora falta de dados sobre aquilo que é objeto de seu oneroso trabalho, oficialmente iniciado há 54 anos com a criação da Superintendência de Reforma Agrária.

Nesse "já longo andar", nosso país optou por ir na contramão da tendência mundial, que é de concentração das propriedades rurais para torná-las mais produtivas e eficientes, com ganhos de competitividade e rentabilidade. Essa tendência, natural e inevitável, reduziu a menos de 5% a população rural dos países desenvolvidos, inclusive nas potências agrícolas com as quais o Brasil compete. Resultado? Maior renda per capita no campo, aproximando-a da renda média do meio urbano.

Para atender a esse projeto de desenvolvimento com farol voltado para o século XIX, o Brasil dedicou à Reforma Agrária uma formidável extensão de terras. "Quantos milhões de hectares?" perguntará o leitor. Pois é, meu caro. Ninguém sabe! Pelo que encontrei enquanto tentava descobrir, trata-se de algo entre 40 e 80 milhões de hectares. Por outro lado, ninguém - ninguém mesmo! - sabe o que acontece nos assentamentos. As perguntas mais naturais da sociedade, que paga a conta da "reforma agrária" e os salários dos servidores ativos e inativos do Incra, não têm resposta. O que produzem essas dezenas de milhões de hectares destinados a resolver o problema social do campo pelo tão ambicionado projeto do MST e seus assentamentos? Os técnicos sequer arriscam palpite. Provavelmente se trata de insignificante fração do que poderia ser produzido se adequadamente aproveitado. Não é por acaso que o Incra aparece, mesmo nos levantamentos do próprio governo, como um dos principais responsáveis pelo desmatamento em certas regiões do país.

Até agora, o que de mais robusto se produziu com essa política foi o MST, com aquele extraordinário suporte que as organizações internacionais a serviço do comunismo dedicam aos que abraçam estratégias e pedagogias revolucionárias. Venderam caro - e, mesmo assim, parcela significativa da sociedade comprou - a ideia de que todo brasileiro nasce titular de um direito natural a receber dos demais um lote de terra para dela fazer o que bem entender, inclusive nada.

Ah, se fosse produtivo o que já se destinou para reforma agrária! Ah se não houvesse o MST, pedagogicamente, ensinado violência, desrespeito à lei e uma ideologia de primatas! Ah, se tivesse sido aplicado em educação junto aos excedentes do meio rural tudo que foi gasto para promover algo cujo resultado não se vê nem se conhece! O Brasil estaria num outro estágio de desenvolvimento socioeconômico, regido com maior racionalidade e paz.

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Latin America in Global History - conference in FGV-Rio, 18-21/10/2016

Global History Conference 
(Fundacao Getulio Vargas - Rio de Janeiro, Brazil)
by Alexandre Moreli
For more information: http://ri.fgv.br/eventos/global-history-conference

2º Coloquio Internacional: Latinoamérica y la Historia Global
2nd Workshop Latin America in Global Context
(Fundação Getulio Vargas, Praia de Botafogo, 190, Rio de Janeiro, Brazil)

In the last years, an important shift has taken place within Latin American Studies, advocating a global approach to writing history. As rewarding and innovative as these new approaches are, they provide specific challenges regarding both methodology as well as implementation. So far, global history has been dominated by Asian and African studies and Latin America has only played a marginal role, both as an object and subject of study. Despite its huge potential for Latin America as a research field, it remains unclear how historians of Latin America might contribute to it.

This Conference, hence, explores new ideas and debates on how to write Latin American history within a global framework and how to trace the links and diffusions of ideas. The event will take place at the Getulio Vargas Foundation having in parallel the 2nd “Coloquio Internacional - Latinoamérica y la Historia Global” of the Red Latinoamericana de Historia Global and the 2nd “Workshop Latin America in a Global Context”. Both events jointly aim to bring together a range of researchers from distinct countries and academic cultures with the explicit long-term goal of facilitating regional integration, co-operations and collaborations, particularly between senior researches from Latin America and early career researchers. The overall goal is to facilitate a productive and enriching forum for discussion.

18/10
(18h00-20h00) Opening session (Auditório Engenheiro M. F. Thompson Motta – 12th  floor)
Opening & Welcome: Alexandre Moreli (Fundação Getulio Vargas) & Diego Holstein (Pittsburgh University)
eynote Speech by Luiz-Felipe de Alencastro (Fundação Getulio Vargas) “Brazil between Latin America and the South Atlantic in the 21st century”

19/10
(9h00-11h30) 1) Theories, concepts and the Global South (Auditório 537 – 5th floor)
Discussant: Alexandre Fortes (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
Diego Holstein (Pittsburgh University) “The Global Turn in Latin America: A Live Survey”
Aldo Marchesi (Universidad de la Republica) “Writing the Latin American Cold War Between the "local" South and the "global" North”
Alexandre Moreli (Fundação Getulio Vargas) “Five questions to the debate on the global turn”
Melisa Deciancio (FLACSO) “International Relations (IR) from the South: A Regional Research Agenda for Global IR (GIR)”

(11h30-13h00) Lunch

(13h00-15h00) 2) Transnational networks and ideologies (Auditório 537 – 5th floor)
Discussant: James Cameron (Fundação Getulio Vargas)
Iwa Nawrocki (Princeton University) “Redeeming Socialism: Brazilian Left Catholic Intellectuals and the Socialist World”
Martín Bergel (CONICET & Universidad de Buenos Aires) “The Chinese Mirror. Haya de la Torre, Kuo-Min-Tang and the global origins of Latin-American populism”
Eline Ommen (London School of Economics) “Sandinista Nicaragua, Reagan, and the Anti-Intervention Movement, 1981-1982”

(15h00-15h30) Cofee-Break (Auditório 537 – 5th  floor)
(15h30-17h30) 3) Latin America between the Atlantic and the Pacific (Auditório 537 – 5th floor)
Discussant: Rafael Marquese (Universidade de São Paulo)
Ryan Crewe (University of Colorado) “Charting the Hispano-Asian Pacific World: Latin America on the Stage of Global History”
Ryan Musto (George Washington University) “The Limits to Desire: Latin America in India’s Diplomatic Imagination, 1962-1972”
Reinaldo Funes (Universidad de La Habana) “The Environmental History of Great Caribean and the Global History”

20/10
(9h00-11h30) 4) From Micro to Macro: different scales for Economic relations (Auditório 537 – 5th floor)
Discussant: Pedro Campos (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
José Miranda (Pontifícia Universidade Católica/RS) “Small Money, Big Problems: How an investigation on small Latin American republics shaped the financial market for sovereign debt in the 19th century”
Sandra Kuntz (Colegio de México) “Latin American first export era: Parameters to reassess its economic contribution”
Andrea Lluch (CONICET & Universidad Nacional de la Pampa) “The South American meat industry from a global perspective: firms and markets until the Great Depression”
Jean-Jaques Sene (Chatham University) “The Pan-African Ideal: Historical Foundations and Perspectives for the Future”

(11h30-13h00) Lunch

(13h00-15h00) 5) Labour and social movements (Auditório 537 – 5th floor)
Discussant: Flávio Gomes (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Alejandro Velasco (New York University) “Place, Progress, Process: Urban History as Global History”
Paulo Drinot (University College London) “The Making of the Peruvian State: A Global History?”
Angela Vergara (California State University) “International Solidarity and Department-Store Workers: A Transnational Labor History of Gath & Chaves”

(15h00-15h30) Cofee-Break (Auditório 537 – 5th  floor)

(15h30-17h30) 6) The Legal Field between nationalism, regionalism and transnationalism (Auditório 537 – 5th floor)
Discussant: Albert Manke (Universität zu Köln)
Nicholas Miller (Georg-August-University of Göttingen) “Itinerant advisers and their Latin American entanglements, 1820-1870: Global careering, intellectual history and constitutional migration”
Juan Pablo Scarfi (Universidad Nacional de Quilmes) “Globalizing the Latin American Legal Field: Continental and Regional Approaches to the International Legal Order in Latin America after World War I, 1914-1933”
Fabia Veçoso (Universidade Federal de São Paulo) “Bandung in the Shadow: The Brazilian Experience”

21/10
(9h00-11h30) 7) The Politics of identity and the circulation of concepts (Auditório 537 – 5th floor)
Discussant: João Paulo Pimenta (Universidade de São Paulo)
Cristián Castro (Universidad Diego Portales) “The Transnational Imagined Community of the Black Press of Sao Paulo and Chicago, 1900-1950”
Marixa Lasso (Universidad Nacional de Colombia) “Feudal Haciendas to the ‘Vanguard of the Atlantic World’: the changing place of XIX century Latin America and Global History”
Marina Rocha (Universidade de São Paulo) “The concept of genocide under global perspective and its use in Argentina”
Alberto Arturo Harambour Ross (Universidad Austral de Chile) “Empires, States, and Frontier Expansion. Transnational sovereignties in Latin American postcolonial colonialism (1870s-1920s)”

(11h30-13h00) Lunch

(13h00-15h00) 8) Roundtable – Is the “global turn” shaping careers? (Auditório 537 – 5th floor)
Stella Krepp (Universität Bern) & Alexandre Moreli (Fundação Getulio Vargas)

(15h00-15h30) Cofee-Break (Auditório 537 – 5th  floor)

(15h30-18h30) Closing session (Auditório Engenheiro M. F. Thompson Motta – 12th  floor)
Final report by Jose Antonio Sanchez-Román (Universidad Complutense de Madrid)
Closing remarks: Diego Holstein (Pittsburgh University), Stella Krepp (Universität Bern), Alexandre Fortes (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) & Rafael Marquese (Universidade de São Paulo)

Support: PAEP/CAPES & APQ2/FAPERJ
Organization: Fundação Getulio Vargas, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Universität Bern, Red Latinoamericana de Historia Global, Pittsburgh University, LabMundi/USP
For more information: http://ri.fgv.br/eventos/global-history-conference

Nuclear Policy Conference, Washington, March 2017


2017 Carnegie International Nuclear Policy Conference

Monday, March 20, 2017 - Tuesday, March 21, 2017

Ronald Reagan International Trade Center
1300 Pennsylvania Avenue NW
Washington, District of Columbia
United States
P + 1 202 459 0858  

Funcionarios publicos: os culpados pela crise? Provavelmente, pelo menos em parte - Ricardo Berrgamini

Ricardo Bergamini, o irascível economista, ao tratar dos déficits dos governos estaduais, coloca a culpa nos aumentos ao funcionalismo público, no que ele tem amplamente razão, embora esta não seja a explicação integral para o estado falimentar das contas públicas.
Mas, de fato, a irresponsabilidade dos políticos com sua clientela preferencial, os "indemissíveis", responde em grande medida pelo descalabro das contas públicas estaduais e municipais.
Eu começaria demitindo aspones e reduzindo salários e verbas de funcionamento dos legislativos municipais e estaduais, e depois acabaria com a estabilidade geral do funcionalismo público.
Estou sonhando? Provavelmente, mas não hesito em dizer o que faria.
Conseguiria fazer? Provavelmente não, mas não me escuso em dizer o que penso, e o que penso eu digo, e assino embaixo.
Paulo Roberto de Almeida

Ricardo Bergamini:
A melhor lei feita no Brasil sobre disciplina fiscal foi a “Lei de Responsabilidade Fiscal” que foi desmoralizada quando o senhor Temer(ário) anistiou os governadores perdulários em suas dívidas com a União, que concederam aumentos salariais, em média de 16,50% ao ano, nos últimos dez anos (período do falso milagre brasileiro) aos servidores públicos de seus estados.

O resto é “Oscar de efeitos especiais”.

Em que essa PEC mudará a imoralidade reinante no Brasil com os gastos com pessoal, conforme abaixo:

Um grupo de trabalhadores de primeira classe (servidores públicos) composto por 13,2 milhões de brasileiros (ativos, inativos, civis e militares) que representam apenas 6,39% da população brasileira, sendo 2,2 milhões federais, 4,5 milhões estaduais e 6,5 milhões de municipais gastaram em 2015 o correspondente a 14,98% do PIB. Esse percentual representou 46,18% da carga tributária que foi de 32,44% do PIB em 2015.
(recebido em 11/10/2016)
Não há solução para a tragédia acima colocada.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

A reforma do ensino medio sera longa, e dificilmente realizada a contento - Wagner Victer

A concordar com o secretário da Educação do RJ, um estado falido, literalmente arrasado por anos e anos de incúria, má gestão e roubalheira generalizada, a reforma do ensino médio nunca será realizada. Também acho.
Mas parece que políticos e sociedade não vão se comover por isso. Preferem ignorar o problema, e continuar lutando apenas por aumentos de salários.
O Brasil não corre o risco de dar certo...
Paulo Roberto de Almeida


Reforma do ensino médio demanda outra reforma 


Sem o equacionamento financeiro propostas podem não levar ao resultado esperado

Wagner Victer*
O Estado de São Paulo, Opinião, 10 Outubro 2016 | 05h00

Os recentes resultados divulgados do Ideb trouxeram de volta ao debate da sociedade as graves dificuldades enfrentadas na aprendizagem dos jovens brasileiros. Os resultados negativos reforçam a percepção de que o atual currículo do ensino médio é ultrapassado e merece profunda reforma. Um dos maiores desafios do Brasil é aumentar a atratividade das aulas, dando mais dinamismo ao processo ensino-aprendizagem, estimulando o protagonismo juvenil e reconhecendo as diferenças individuais e geográficas dos alunos, alinhados com a ampliação dos programas da formação inicial e continuada dos professores.
Como consequência desse cenário, o governo federal editou a Medida Provisória (MP) 746/2016, que se junta ao Projeto de Lei 6.840/2013, que já tramitava no Congresso, que propõe alteração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, tendo como pilar a instituição de jornada em tempo integral no ensino médio e a reorganização do currículo por áreas de conhecimento. 
Entre os maiores interessados nessas mudanças estão as Secretarias de Estado de Educação, responsáveis pela maioria dos alunos desse segmento de ensino. Esses avanços, no entanto, criam um dilema: por um lado, a MP traz sugestões importantes que realmente trarão melhoria ao ensino médio; por outro, até em função da crise econômica, não há no cenário atual como dar sustentabilidade financeira a essas importantes reformas. O projeto, por exemplo, estabelece jornada escolar de pelo menos sete horas diárias e determina que ao menos 50% das matrículas em 50% das escolas estejam em horário integral em um prazo de dez anos. O prazo para a implantação universal nas redes seria de 20 anos.
Além disso, e nada mais coerente para a solidez dessa iniciativa, que é louvável e desejada, a MP prevê a possibilidade de opção formativa ao estudante no último ano, podendo este seguir a ênfase em “linguagens”, “matemática”, “ciências da natureza”, “ciências humanas” e “formação profissional”. Para poder acompanhar as melhorias implantadas no ensino integral diurno, as turmas noturnas teriam um ano a mais, passando a quatro. Tais medidas envolverão, na maioria das escolas, um rearranjo em salas de aulas disponíveis, o que nem sempre é possível sem fazer grandes adaptações e, consequentemente, diversas obras.
Os planos são os melhores possíveis, mas nosso desafio também é matemático. Para dar um exemplo, o Estado do Rio de Janeiro tem atualmente cerca de 446 mil alunos no ensino médio público, 42 mil em horário integral. Alcançar 50% das matrículas em horário integral em dez anos significará o equivalente à necessidade de implantação de mais de uma centena de novas unidades escolares, considerando os importantes reflexos na folha de pagamento e nos recursos de merenda e manutenção. Com as metas estabelecidas pela MP, pelos cálculos preliminares o Estado do Rio de janeiro teria de construir 19 unidades escolares anualmente nos próximos 20 anos. Nos valores de hoje, ao fim da implantação e sem considerar o investimento nas novas escolas, o aumento estimado de gastos poderia chegar a R$ 1,5 bilhão ao ano, com reflexos atuariais futuros e permanentes na previdência estadual.
Os debates sobre o financiamento da educação também nos remetem ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e à compreensão equivocada de que os recursos direcionados a todos os Estados são procedentes de tributos federais. Diferentemente do que entende o senso comum, o Fundeb na maioria dos Estados não recebe recursos federais. O Fundeb destinado ao Rio de Janeiro, por exemplo, é financiado basicamente pelo ICMS do Estado. Essa transferência estadual é a principal fonte de receita dos municípios fluminenses para as políticas de educação infantil e do ensino fundamental. No ano passado, os recursos da arrecadação de ICMS repassados ao fundo que não foram revertidos diretamente à rede estadual chegaram a cerca de R$ 3 bilhões.
Somada a essas dificuldades, a importante e necessária ampliação da oferta de vagas nas creches públicas causa outro reflexo que não pode ser desconsiderado: aumenta-se o denominador de alunos e entes que compartilham os mesmos recursos do Fundeb sem que haja a alteração no numerador desta equação. Ou seja, cada vez mais cidadãos e administradores dos Estados e municípios disputam as mesmas verbas. O tema torna-se ainda mais crítico e controvertido se se adiciona a ele o debate em torno da eventual desvinculação das receitas voltadas para a educação prevista na PEC 241/2016, em discussão no Congresso Nacional, que prevê limitar o crescimento dos gastos públicos inclusive por segmentos, isso sem falar na redução dos repasses previstos pelo salário-educação, que tem caído vertiginosamente em razão do desemprego e da desaceleração econômica. Portanto, mesmo com as necessárias melhorias na gestão dos recursos por todos os entes federativos, se não tivermos a revisão e a apresentação de novas fontes de financiamento, o futuro da educação pode ser mais sombrio do que o presente. 
Assim como o ensino médio, o desenho do financiamento da educação pública – tão bem-sucedido na universalização do ensino fundamental após a Constituição de 1988 – precisa ser reformado. Para que a vitória daqueles que almejam uma educação de qualidade para os jovens brasileiros não se torne mais uma lei classificada como letra morta, é fundamental que a aprovação da MP traga consigo também os caminhos para pôr esse projeto verdadeiramente de pé e que uma questão fundamental se responda: haverá um novo imposto ou fonte com recursos significativos e permanente destinada a financiar fundo reservado para esse fim? Essa pergunta não pode ficar sem resposta, já que as propostas sem o equacionamento financeiro podem não levar ao importante resultado esperado por todos.
*Secretário de Educação do Estado do Rio de Janeiro

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Muita noticia boa num unico dia: ate parece bilhete premiado...

MPF/DF denuncia ex-presidente Lula, Marcelo Odebrecht e outras nove pessoas por cinco crimes
Para investigadores, grupo montou um esquema criminoso para garantir a liberação de financiamentos do BNDES para obras em Angola
10 DE OUTUBRO DE 2016

O Ministério Público Federal (MPF/DF) enviou à Justiça Federal, nesta segunda-feira (10), uma ação penal contra 11 pessoas – entre elas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o empresário Marcelo Odebrecht – pelos crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e organização criminosa. As práticas criminosas ocorreram entre, pelo menos, 2008 e 2015 e envolveram, segundo o MPF, a atuação de Lula junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros órgãos sediados em Brasília com o propósito de garantir a liberação de financiamentos pelo banco público para a realização de obras de engenharia em Angola. Os trabalhos foram executados pela Construtora Odebrecht que – em retribuição ao fato de ter sido contratada pelo governo angolano com base em financiamento para exportação de serviços concedida pelo BNDES –, repassou aos envolvidos, de forma dissimulada, valores que, atualizados, passam de R$ 30 milhões.

No caso de Lula, a denúncia separa a atuação em duas fases: a primeira, entre 2008 e 2010, quando ele ainda ocupava a presidência da República e, na condição de agente público, praticou corrupção passiva. E a segunda, entre 2011 e 2015, já como ex-mandatário, momento em que cometeu tráfico de influência em benefício dos envolvidos. Além disso, o ex-presidente deve responder por lavagem de dinheiro, crime que, na avaliação dos investigadores, foi praticado 44 vezes e que foi viabilizado, por exemplo, por meio de repasses de valores justificados pela subcontratação da empresa Exergia Brasil, criada em 2009 por Taiguara Rodrigues dos Santos, “sobrinho” de Lula e também denunciado na ação penal.

Outra constatação é a de que parte dos pagamentos indevidos se concretizou por meio de palestras supostamente ministradas pelo ex-presidente a convite da construtora. Nesse caso, a contratação foi feita por meio da empresa LILS Palestras, criada por Lula no início de 2011, menos de dois meses depois de deixar a presidência. Na ação, os procuradores da República Francisco Guilherme Bastos, Ivan Cláudio Marx e Luciana Loureiro Oliveira – que integram o grupo de trabalho responsável pelas investigações – explicam que as palestras foram o foco inicial da apuração. “Apesar de formalmente justificados os recursos recebidos a título de palestras proferidas no exterior, a suspeita, derivada inicialmente das notícias jornalísticas, era de que tais contratações e pagamentos, em verdade, prestavam-se tão somente a ocultar a real motivação da transferência de recursos da Odebrecht para o ex-presidente Lula”, destaca um dos trechos do documento.

Além do ex-presidente, de Marcelo Odebrecht e de Taiguara integram a lista de denunciados José Emmanuel Camano Ramos, Pedro Henrique de Paula Schettino, Maurício Bastianelli, Javier Chuman Rojas, Marcus Fábio Souza Azevedo, Eduardo Alexandre de Athayde Badin, Gustavo Teixeira Belitardo e José Madureira Correia. Na ação, os procuradores explicam que a apresentação da ação penal não significa o fim das investigações. A apuração continua – tanto no caso dos empreendimentos feitos em Angola e da participação da empresa Exergia Portugal na organização criminosa – como em relação a outros empréstimos liberados pelo BNDES no âmbito do financiamento para exportação de serviços. O programa beneficiou vários países da África e da América Latina e, além da Odebrecht, teve obras executadas por outras construtoras. Ao todo, outros cinco procedimentos investigatórios estão em andamento na Divisão de Combate à Corrupção (DCC) na unidade do MPF no Distrito Federal.

Entenda o caso - As investigações começaram em julho de 2015, quando o Ministério Público Federal instaurou um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) para apurar suposta destinação de vantagens econômicas por parte da Odebrecht ao ex-presidente Lula, como contraprestação ao fato de ele ter viabilizado vários empréstimos externos. Em um primeiro momento, a apuração se concentrou no período de 2011 a 2015, com Lula já na condição de ex-mandatário do país. No entanto, posteriormente, o período foi ampliado, alcançando o ano de 2008. Outra providência adotada pelos investigadores foi a solicitação de abertura de inquérito policial, o que aconteceu em dezembro de 2015.

Por uma questão estratégica, as investigações policiais se concentraram em desvendar a forma como se deu a liberação e as circunstâncias dos empréstimos que viabilizaram a realização de obras pela Odebrecht em Angola. É que, na comparação entre 10 países beneficiados por financiamentos do BNDES, Angola foi o que celebrou o maior número de contratos no período, recebeu o maior volume de dinheiro, teve o menor percentual de juros e onde foi verificado um dos menores prazos médios de concessão dos empréstimos.

Uma vez instaurado, o inquérito policial partiu das informações e de documentos já reunidos pelo MPF no âmbito do PIC, aprofundando, em seguida, as investigações. Também chamaram a atenção dos investigadores algumas evidências levantadas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do BNDES, como a existência de vinculações comerciais entre a Odebrecht e a empresa Exergia Brasil, de Taiguara Rodrigues dos Santos que, “embora não tivesse qualquer experiência prévia no ramo de engenharia”, firmou, de forma repentina, 17 contratos para prestar serviços complexos à Odebrecht, justamente nas obras realizadas em Angola a partir do ano de 2011. Pelos supostos serviços, a empresa de Taiguara recebeu da Odebrecht, entre 2009 e 2015, R$ 20 milhões.

Na ação, os procuradores destacam que, ainda no início do esquema, foram cooptados empresários e funcionários da Exergia Portugal. Com a promessa de subcontratações, essa empresa concedeu a Taiguara, “de maneira praticamente gratuita”, uma filial no Brasil. Além disso, passou a bancá-lo, antes mesmo que fosse contratado no processo de terceirização promovido pela Odebrecht. Nesse período, o “sobrinho” do ex-presidente recebeu, segundo as investigações, R$ 699 mil a título de despesas de viagens internacionais. Posteriormente, o repasse passou a ter o caráter de “pro labore”, cujo valor era de US$15 mil mensais, totalizando ao menos US$ 255 mil dólares.

Provas coletadas - A análise de documentos e de materiais apreendidos na chamada Operação Janus, realizada em maio de 2016 por ordem judicial, além de vários depoimentos, permitiram aos investigadores constatar e comprovar a participação de cada um dos envolvidos no esquema criminoso. No caso do ex-presidente, lembram os procuradores da República que, além de assentir na criação da Exergia Brasil, ele “supervisionou todo o processo de captação de contratos” por Taiguara junto à Odebrecht, seja aconselhando o “sobrinho" sobre os negócios em Angola, seja apresentando-o a empresários e autoridades estrangeiras nas visitas realizadas àquele país ainda em 2010. Apenas nesse ano – último do mandado presidencial de Lula, o BNDES aprovou oito contratos em favor da Odebrecht que, juntos, somaram US$ 350 milhões. As concessões continuaram nos anos seguintes, quando a empresa firmou outros 22 contratos que chegaram a US$ 2 bilhões.

Como prova da existência e do esquema criminoso, o MPF encaminhou à Justiça documentos como e-mails trocados entre os envolvidos, fotos que registraram encontro do ex-presidente com o sobrinho e empresários em Angola, além de registros que confirmam a participação, em 2010, do então presidente em uma reunião da Diretoria de Administração do BNDES, oportunidade em que “por orientação do presidente Lula”, ficou decidido que o banco público elaboraria uma agenda de ações para o período de 2011 a 2014. “Ao findar o mandato de presidente da República em dezembro de 2010, Lula deixou criadas as bases institucionais, no âmbito do BNDES, para que tivesse continuidade, nos anos seguintes, o esquema de favorecimento, mediante financiamentos internacionais, a empresas 'escolhidas' para exportação de serviços a países da África e América Latina”, reitera um dos trechos do documento enviado à Justiça.

Na ação, os procuradores frisam que, pela atuação em favor da construtora, o ex-presidente aceitou, além da remuneração pelas palestras, outras vantagens indiretas que incluíram pagamentos de despesas pessoais de seu irmão José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico. Como exemplos de contas que foram arcadas pelas empresas Exergia Brasil, a ação menciona mensalidades de plano de saúde e despesas com combustíveis (10 mil reais em plano de saúde, ao menos, e, pelo menos, 10 mil reais em posto de combustível). Outros indícios de que os envolvidos agiram para ocultar a origem dos recursos foi a descoberta de inúmeros saques em espécie realizados pelos funcionários da Exergia Brasil (mais de R$ 1 milhão) e pela T7Quatro (mais de R$ 160 mil), ambas de Taiguara.

Os pedidos - O principal pedido do MPF é para que os envolvidos respondam, na medida da participação de cada um, aos crimes enumerados na ação, com os respectivos agravantes. No caso do ex-presidente, as penas máximas somadas chegam a pelo menos 35 anos de reclusão, além de multa. Já o empresário Marcelo Odebrecht, se condenado, poderá pegar ao menos 30 anos de prisão.

Veja a lista completa dos denunciados e os respectivos crimes imputados pelo MPF:

Luiz Inácio Lula da Silva – Organização criminosa, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, corrupção passiva
Marcelo Bahia Odebrecht – Organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção ativa
Taiguara Rodrigues dos Santos – Organização criminosa, lavagem de dinheiro
José Emmanuel de Deus Camano Ramos – Organização criminosa, lavagem de dinheiro
Pedro Henrique de Paula Pinto Schettino – Lavagem de dinheiro
 Maurizio Ponde Bastianelli – Lavagem de dinheiro
 Javier Chuman Rojas -– Lavagem de dinheiro
 Marcus Fábio Souza Azevedo – Lavagem de dinheiro
 Eduardo Alexandre de Athayde Badin – Lavagem de dinheiro
 Gustavo Teixeira Belitardo – Lavagem de dinheiro
 José Mário de Madureira Correia – Lavagem de dinheiro

15 anos sem Roberto Campos - Jose Pio Martins (Gazeta do Povo)

15 anos sem Roberto Campos

 Roberto Campos faleceu no dia 9 de outubro de 2001 – portanto, há quase 15 anos, um mês após o atentado terrorista contra as Torres Gêmeas do World Trade Center e o Pentágono. Formado em filosofia e economia, em seus 84 anos de vida ele teve longa carreira de diplomata, embaixador, ministro, senador, deputado e escritor. Era um gênio de cultura enciclopédica, economista preparadíssimo, polemista de lógica implacável, um futurista que via à frente de seu tempo.
Como secretário da embaixada brasileira nos Estados Unidos, Roberto Campos participou, em 1944, da conferência de Bretton Woods, em New Hampshire, nos Estados Unidos, que criou o padrão-dólar em substituição ao padrão-ouro, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e as regras que moldaram a ordem econômica do mundo atual. Sua sabedoria econômica e a enorme competência técnica levaram governos de diferentes matizes ideológicos e partidários a dar-lhe importantes funções e missões.
Foi o criador do BNDES e seu primeiro presidente, autor do Plano de Metas de Juscelino Kubitschek e, como ministro do Planejamento de Castello Branco, foi o principal idealizador e executor das reformas tributária, trabalhista e bancária, do que resultou a criação do ICMS, do FGTS, do Banco Central e da Lei do Sistema Financeiro Nacional. A partir dos anos 80, ele passou a dizer que sua obra fora deturpada e transfigurada por modificações deletérias, inclusive pela Constituição de 1988.
A experiência internacional de Roberto Campos foi consolidada nas funções de embaixador do Brasil nos Estados Unidos, durante o governo João Goulart, e embaixador na Inglaterra, no período de Ernesto Geisel, retornando ao Brasil em 1982 para se eleger senador pelo estado de Mato Grosso e duas vezes deputado pelo Rio de Janeiro. Roberto Campos era um liberal clássico, defensor da liberdade, dos direitos individuais, da democracia política e da economia de mercado.
Como secretário da Embaixada do Brasil nos Estados Unidos na época da Segunda Guerra Mundial, desenvolveu a crença de que a intervenção estatal, sobretudo na infraestrutura física, era necessária para promover o desenvolvimento dos países; que a superação da pobreza dependia da abertura ao exterior; e que o governo devia regular as atividades privadas para direcionar os investimentos e o sistema produtivo.
Após longa experiência no setor público, ele se desiludiu com o governo, ao qual acusava de precária conduta moral e baixa capacidade gerencial. Descrente do Estado como agente do desenvolvimento, aderiu ao liberalismo como saída para a superação do atraso. Após acreditar nas ideias e soluções estatizantes de John Maynard Keynes e ver que elas acabariam em desastre, aderiu às ideias de Friedrich von Hayek, para quem a solução está na iniciativa individual, não na intervenção estatal.
Roberto Campos era pessimista com a América Latina, a cujos esquerdistas ele acusava de brigar com a lógica e ignorar a racionalidade econômica, e os ironizava, dizendo: “Se os esquerdistas latino-americanos fossem administrar o deserto do Saara, logo haveria escassez de areia”. Durante décadas, alertou sobre a vocação do governo para se tornar, cada vez mais, um guloso sugador e um péssimo provedor.
Nos tempos modernos, em que homens brilhantes andam raros, reler Roberto Campos é um prazer e um alento contra a mediocridade. Ele se foi há 15 anos, mas suas ideias continuam válidas e atuais.

Fonte: “Gazeta do povo”, dia 30 de setembro de 2016.

Palestra: Tendencias geopoliticas na America do Sul - Diego Solis

Palestra: Tendências geopolíticas na América do Sul

O presidente da Funag e o Diretor do IPRI têm o prazer de convidar todos os interessados para a palestra, em espanhol, de Diego Solis, diretor para a América Latina da Stratfor, sobre “Tendências geopolíticas na América do Sul”.
O palestrante pretende fazer uma introdução das tendências geopolíticas e os desafios futuros para os diversos países da América do Sul, da Colômbia ao Brasil, dando ênfase à crise venezuelana e ao papel da China na região.
Diego Solis é mestre em geopolítica e segurança pela Universidade de Londres, fundador da Latam Image Consulting Group, com sede na Guatemala, e consultor independente especializado em riscos geopolíticos e no planejamento de cenários para investidores; trabalha com bases na Guatemala e em Austin, TX.
A Stratfor é a mais importante consultoria americana em inteligência geopolítica, analisando tendências, anomalias e projeções geopolíticas em diversos cenários do mundo contemporâneo.
A palestra será feita no Auditório Paulo Nogueira Batista, no Anexo II do Itamaraty, às 16:00hs da quinta-feira, 13 de outubro.

Falcatruas lulopetistas (subintelequituais) dos acadêmicos gramscianos - Paulo Roberto de Almeida


Falcatruas lulopetistas (subintelequituais) dos acadêmicos gramscianos

Paulo Roberto de Almeida
 [Considerações sobre uma utopia passageira; falta uma vacina lógica]

O fenômeno lulopetista, que dominou a política – e muito das mentalidades – no Brasil das últimas duas décadas (senão mais), pode ter alguma explicação teórica mais elaborada, mas não creio, sinceramente, que ele mereça mais do que um único capítulo na história futura do Brasil, aquela que vai ser escrita apenas dentro de duas gerações, aproximadamente, quando as paixões políticas amainarem e a consciência do imenso atraso institucional (sem falar da destruição econômica) acarretado por esse fenômeno tomarem o lugar de certos comportamentos histéricos que se observam atualmente em alguns meios bem determinados. Vou tratar basicamente desse fenômeno que considero passageiro, sem a capacidade de sequestrar todo um povo, e de o manter imobilizado num populismo de baixa extração, como ocorreu, por exemplo, na vizinha Argentina, com o peronismo, que pode ser considerado uma múmia que tomou como refém toda uma nação (ou pelo menos grande parte dela) durante várias gerações.
Comparado ao fenômeno relativamente durável do peronismo – que dispunha de uma doutrina, o justicialismo – e que se manteve ativo, ainda que dividido, durante muito tempo após o desaparecimento do seu fundador, o lulopetismo representa no máximo um peronismo de botequim, com muita bazófia e nenhuma elaboração política mais consistente, pura catarse, que antes de sequestrar a nação parece ter sequestrado os corações e mentes de acadêmicos gramscianos totalmente desconectados da realidade. O lulopetismo nunca dispôs de alguma doutrina política mais elaborada, em que pesem os esforços de alguns acadêmicos gramscianos no sentido de prover o populismo rude de seu líder com algumas ideias coerentes entre si, além e acima de alguns slogans mal formulados por marqueteiros apressados, explorados abusivamente pelo “Nosso Guia”.
O lulopetismo foi, durante certo tempo, maior do que o partido que lhe deu origem, o PT – formado basicamente por três principais componentes: os sindicalistas, os guerrilheiros reciclados e os adeptos da teologia da libertação, que compõem a massa de manobra, sendo que os dirigentes são extraídos dos dois primeiros componentes –, mas ele teve um sucesso de certa forma maior do que o partido, e isso graças a um outro componente que normalmente não aparece entre os apparatchiks e líderes partidários, mas que são responsáveis por muito do seu sucesso político e eleitoral (até agora).
O partido, e o próprio personagem que representou sua alma, sua imagem, e que foi responsável por um grande triunfo eleitoral em mais de três mandatos, devem esse sucesso não tanto ao dinheiro e à capacidade de organização dos sindicatos que lhe são fiéis, ou aos apparatchiks do partido vindos das antigas organizações de oposição ao regime militar, ou ainda à sua base social bastante diversificada nos estratos humildes da população (consolidados mais solidamente depois da conquista do poder), mas ao poder de comunicação de diversas categorias de trabalhadores “intelectuais” – professores, jornalistas, funcionários públicos, classe média educada nos padrões “freireanos” de nossa educação pública (e privada também) – que, juntos, construíram os mitos sobre os quais se apoiou o lulopetismo durante sua fase ascensional, e que continua a perdurar ainda agora, numa fase de relativo declínio, talvez irresistível. Com efeito, não se sabe se o mito – que é na verdade uma falcatrua – saberá resistir aos golpes das investigações policiais e judiciarias, que devem levar boa parte da tropa dirigente do partido às barras dos tribunais e possivelmente à cadeia.
Mas, a julgar por toda a publicidade em torno dos grandes “benefícios sociais” do lulopetismo, e pela imensa reação suscitada pelo “golpe” do impeachment – com cinco ou seis livros publicados, antes mesmo o processo estar consumado – essa mistura indigesta de populismo econômico, de propaganda enganosa e de cinismo político que é o lulopetismo parece ainda dispor, e gozar, de amplos apoios em certos círculos sociais e em ambientes profissionais (entre os sindicalistas, por exemplo, mas continuadamente entre professores e jornalistas), o que promete, justamente, certa sobrevida ao fenômeno em causa, mesmo quando o seu líder estiver trancafiado por crimes cometidos contra o patrimônio público e o código penal. Entre os motivos dessa resiliência (pelo menos temporária) eu coloco a difusão desse gramscismo de academia, que não precisa de Gramsci, ou de qualquer outra teoria política, para se instalar e se disseminar, pois ele corresponde a um “estado de espírito” que “plana” nesses meios sociais e profissionais independentemente das leituras – ou falta de – que possam exibir os agentes políticos do fenômeno, ou identificados a ele.
Essa persistência da “crença” no fenômeno vago do lulopetismo foi demonstrada especificamente na conjuntura dos últimos meses, quando, a despeito dos imensos golpes assestados contra a “respeitabilidade” de “doutrina” (se existe alguma) e do personagem pelos crimes revelados nas investigações da PF e do MPF, setores ainda representativos da vida cultural, acadêmica e profissional se reagruparam atrás do próprio e do partido para defender não se sabe bem quais “conquistas sociais” que estavam sendo ameaçadas duplamente: pelo processo de impeachment e pela Operação Lava Jato. Nos meses de maior frenesi, antes da consumação do processo político no Congresso, eu contei muitos manifestos redigidos por diretorias de respeitáveis (assim pensava, em todo caso) associações profissionais, todas elas numa linguagem similar, em defesa do governo corrupto e do partido convertido em organização criminosa.
Terminei por me perguntar, numa postagem de meu blog Diplomatizzando, quais seriam as razões, as motivações, os propósitos que estavam levando acadêmicos experientes, muitos até com doutorado ou pós-doc, a insistir na defesa de criminosos reconhecidos, indiciados ou condenados pela Justiça, vários equiparados a bandidos vulgares, a delinquentes comuns (pela tipificação dos roubos cometidos contra o patrimônio público), mas vários deles organizados numa quadrilha mafiosa (desculpem a redundância), enfim, o que estaria por trás dessa insistência no apoio aos meliantes políticos ante tantas provas dos “malfeitos” já disponibilizadas nos relatórios policiais e nos processos do MPF? Confesso não ter encontrado respostas convincentes, ao menos que satisfizessem meu desejo de explicações lógicas, concordantes com as verdades expostas, com a factibilidade dos crimes perpetrados pelos aliados dos gramscianos.
O que pensar da adesão de artistas, profissionais da mídia, acadêmicos de peso, além e acima dos militantes do baixo clero e dos sindicalistas, dos quais não se espera mesmo outra atitude, inclusive em função dos benefícios materiais que muitos dessa segunda categoria retiravam e retiraram do lulopetismo no poder? A primeira categoria, em princípio, não estava diretamente envolvida com o exercício direto do poder ou foi a beneficiária direta das benesses que, não obstante, sempre fluem a partir do poder para os grupos de “companheiros de viagem”, aos apoiadores voluntários e aos associados políticos dos lulopetistas no poder (e agora fora dele). Não sei como essas pessoas, geralmente alfabetizadas (tanto quanto se possa julgar), supostamente bem conectadas, e de fato dispondo de todos os meios de informação possíveis, puderam e podem continuar apoiando personagens e partidos notoriamente implicados, envolvidos, responsáveis por crimes comprovados; por quais razões eles fariam e continuam fazendo isso? Seria por cegueira ideológica, ignorância deliberada, fundamentalismo político, ou será mesmo falta de caráter?
O que, exatamente, induziria indivíduos normalmente bem constituídos, quase sempre dispondo de diplomas superiores, a continuar defendendo os chefes de quadrilha e seus integrantes, numa fase em que se torna muito difícil ignorar os relatórios da Polícia Federal, assim como as peças acusatórias do MPF e da chamada “República de Curitiba”, contendo provas cabais daquilo que pessoas bem informadas, mas também jornalistas abertos a simples evidências factuais, desconfiavam, e agora constataram efetivamente: o fato notório de que o Brasil estava sendo governado, desde 2003, por um governo que terminou se identificando a uma organização criminosa. Não existe, a rigor, nenhuma objeção de princípio, a que indivíduos das mais diversas origens e condições sociais manifestem sua adesão a plataformas de direita, de esquerda, de centro, ou que elas se disponham a defender os programas sociais e as políticas econômicas que julgam mais adequadas às suas crenças ou concepções de vida. Fica no entanto muito difícil admitir que se possa defender, contra todas as evidências já disponíveis, lideranças políticas, funcionários de governo ou responsáveis empresariais notoriamente e comprovadamente envolvidos com os piores crimes de corrupção e de responsabilidade política, tais como assistidos no Brasil na última década e meia.
Independentemente do julgamento que se possa ter sobre a qualidade da política econômica que levou o Brasil ao que pode ser chamado – depois da Grande Depressão dos anos 1930, e da Grande Recessão do período recente – de Grande Destruição, o mais surpreendente é, de fato, a defesa acerba que os gramscianos acadêmicos fazem de criminosos políticos, que são, na verdade, bandidos comuns: assaltantes do dinheiro público (isto é, nosso), quadrilheiros vulgares. Quem ainda insiste em fazê-lo, ante tantas evidências dos crimes cometidos pelos companheiros, por razões ideológicas, ou por quaisquer outros motivos, só revela sua falta de caráter, pois já não pode alegar ignorância ou o argumento canhestro de que “todo mundo sempre fez assim”.
Como não admitir, em face dos crimes cometidos, devidamente identificados e em processo de julgamento e condenação, que o Brasil passou a ser dirigido, a partir de 2003, por uma organização criminosa? Com a instalação dessa organização criminosa no poder, os companheiros inauguraram um “modo superior de corrupção”, e adotaram uma técnica sistemática, abrangente, de extração de recursos do Estado e da sociedade. Eles não roubavam apenas para o partido, confirmando a minha tese, “dialética”, da passagem da quantidade para a qualidade, de acordo com o velho Friedrich Engels. Qual foi a natureza do “salto dialético” da roubalheira lulopetista?
Tal upgrade se expressa pela transição de um “modo de produção” da corrupção de sua fase artesanal, que é quando políticos roubam por si, para si, individualmente, (como sempre fizeram), para uma fase industrial do “modo de produção" da corrupção, que é quando o partido passa a roubar de modo sistêmico, em grande escala. O que não impediu, obviamente, que os companheiros também passassem a roubar pelo modo tradicional, para si, em si e por si, alguns até (os “mais iguais”, como certo ministro das finanças da quadrilha), em escala verdadeiramente gigantesca, multinacional.
A amplitude da roubalheira foi evidentemente muito maior do que o até aqui noticiado nos meios de comunicação. Por exemplo: contratos das grandes companhias de construção, ou de engenharia em geral (sobretudo nos terrenos do petróleo e afins) representam apenas a “crème de la crème” da corrupção institucionalizada, aquela que rendeu, por certo, centenas de milhões, ou bilhões, à quadrilha de meliantes instalada no poder. Mas os roubos, as falcatruas, os desvios de dinheiro, os superfaturamentos, as propinas, a extorsão, a rapina, tudo isso se estendeu por praticamente todas as áreas, sublinho TODAS, do setor público e se disseminou também ao setor privado, na medida em que praticamente todo o ambiente de negócios no Brasil é controlado por regras impostas pelo Estado, a começar pelo contexto regulatório e pelo sistema tributário.
Mais até do que roubar diretamente, os companheiros fizeram valer o seu exemplo criminoso em quase todas as esferas da administração pública (contaminando muitos outros partidos) e até na vida civil, na qual cada indivíduo se julgou habilitado a roubar, a trapacear e a fraudar, já que o exemplo vinha de cima. Os anos do lulopetismo no poder, além da extrema incompetência, o que redundou na Grande Destruição da economia do país, foram também, e principalmente, os anos do desmantelamento institucional (salvaram-se, felizmente, alguns bastiões do republicanismo, o que nos levou à Lava Jato, tristemente sozinha na sua missão extirpadora) e sobretudo na grande degradação moral e ética a que fomos levados por termos, justamente, uma organização criminosa no poder.
Ainda não se fez o balanço de tudo o que o Brasil perdeu, no plano estritamente orçamentário, mas também em termos morais, com a quadrilha totalitária no poder, e muito não poderá ser devidamente verificado, por ausência de registros, justamente (o que deve ter sido deliberado). Mais importante ainda, dificilmente se poderá aferir, de modo adequado, no futuro, o imenso custo-oportunidade que o Brasil perdeu com mais de uma década de políticas absolutamente erradas, em praticamente todas as áreas. Mas mesmo naquelas áreas e políticas que podem ser consideradas como bem sucedidas – como a pretensa redistribuição de renda via Bolsa Família e outros mecanismos com finalidade similares – são, na verdade, equivocadas na forma e na substância, uma vez que não são sustentáveis a longo prazo, e não apenas por dificuldades fiscais ou de natureza orçamentária. Políticas redistributivas de renda sem contrapartidas claras ou sem mecanismos de saída claramente identificados costumam provocar deformações nos mercados laborais, ou até – o que é mais sutil no plano da psicologia social – na concepção geral de sociedade que se pretende promover: uma baseada na iniciativa individual ou na responsabilidade pessoal quanto ao trabalho promotor de dignidade social, ou outra fundada no assistencialismo estatal que redunda, na maior parte dos casos, na criação de um curral eleitoral que reproduz velhos esquemas do Brasil tradicional dominado por oligarquias patrimonialistas.
Não cabe entrar aqui num debate sobre a diplomacia do lulopetismo, outro item não apenas controverso no reinado dos companheiros, mas vergonhoso do ponto de vista da diplomacia profissional, quando o Brasil passou a estar alinhado com algumas das piores ditaduras da região e alhures, e quando também diversas iniciativas de política externa permaneceram na sombra, obscurecidas por contatos paralelos que jamais deixaram registro nos arquivos da diplomacia oficial. Haveria pouco espaço para registrar tantos equívocos cometidos pelo lulopetismo diplomático – muitos dos quais identificados em meu livro Nunca Antes na diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014) – mas pode-se aventar, por exemplo, a infeliz e patética disputa entre Lula e Chávez pela liderança ideológica na América Latina: ambos se detestavam amigavelmente, pois disputavam e competiam por prestígio político entre os vizinhos e por um lugar maior na história mundial.
Infelizmente, a história real das relações dos lulopetistas – sem esquecer o papel do Foro de São Paulo e de seus mestres cubanos – com as lideranças cubanas e bolivarianas talvez nunca a venha ser escrita completamente, por falta de documentos e por falta de depoimentos sinceros de eventuais trânsfugas do lulopetismo (como foi o caso, por exemplo, dos muitos dissidentes do comunismo soviético, que contaram como eram as coisas, realmente), e também porque os cubanos não serão ser pegos de surpresa (como foi a Stasi, com a queda repentina do muro de Berlim, e porque burocratas, como os da Stasi e os nazistas, registravam tudo o que eles mesmos faziam de malvadezas), e devem estar limpando os arquivos de documentos comprometedores. De outra forma, saberíamos, por exemplo, que não havia nada de muito ideológico nessa aliança dos totalitários, mas sim dinheiro, chantagens, ameaças, cadeias diversas de submissão montadas sobre muita sujeira e patifaria. Tempos sombrios vividos pela diplomacia brasileira.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de outubro de 2016

domingo, 9 de outubro de 2016

Jornalistas estao desaparecendo; advogados serao os proximos: Robos vao ocupar seus lugares - Simon Kuper

Jornalistas velho estilo estão realmente desaparecendo, mas outros, tecnologicamente aptos, estão ocupando os lugares daqueles velhos escrevinhadores de redação, ou reporteres investigativos. Hoje tudo aparece primeiro na internet, for free (mas obviamente alguém precisou colocar isso lá).
Advogados estão sendo substituídos por sistemas online de aconselhamento jurídico, e é bom que isso ocorra, pois advogados, além de exibirem tarifas muito altas, equivalentes às limusines de luxo com champagne e massagem, são nefastos produtores de déficits públicos, ou pelo menos atuam como redistribuidores de renda da maneira mais perversa.
Enfim: qualquer que seja a sua profissão, prepare-se para ficar desempregado nos próximos dez anos.
Estou esperando algo que substitua políticos, mas parece que a raça é dura, como as baratas, que estão conosco desde muito antes de Adão e Eva...
Não, isso não vai provocar desemprego, como acreditam almas cândidas, pois alguém vai produzir os robôs, consertá-los, até conversar com eles...
Paulo Roberto de Almeida

How to cope when robots take your job
‘When your industry goes, you lose both your income and your identity’
FT, OCTOBER 6, 2016
by: Simon Kuper

The robots are coming to demolish your career. “No office job is safe,” says Sebastian Thrun, an expert on artificial intelligence at Stanford University. Lots of lawyers, accountants, even surgeons will be automated away. Having spent my career watching the long, slow carnage of my own industry, I have some insight into how that will feel, and how to cope.

When I entered journalism in 1995, it was a pretty cushy business. People bought newspapers — not necessarily for the articles but often just to find out the weather forecast, the football results, the stock prices or the TV schedule. Consequently, even mediocrities and alcoholics could have long, well-paid journalistic careers. I remember crabby FT subeditors of the 1990s who owned not just houses in London but second homes in France. When I started out, deadlines were about 6pm, after which — since rolling-news websites hadn’t been invented yet — everyone went to the pub. Expenses were good too: I’m told that at the FT, into the early 1990s, you could fly business class as long as you said you were working on the plane. So people would buy a copy of The Economist at the airport.

Companies are turning to artificial intelligence to fill jobs while hackers hope it will disguise their tracks
Unfortunately, the year I became a journalist, Microsoft produced its first web browser, Internet Explorer. Suddenly you could go online and find out almost anything for free without buying a paper. The number of journalists has been shrinking since, and most new jobs are for 25-year-olds willing to work for peanuts. My people are going extinct like dodos or factory workers. For now I’m hanging on, still on the island, grazing on one of the last patches of grass, but the waters are rising around me. One day my children will say: “My dad was a content provider. He worked for an app called FT, I think.”

When your industry goes, you lose both your income and your identity. Woody Allen has a nice comedy sketch about his father being made “technologically unemployed” — “They fired him. They replaced him with a tiny gadget … that does everything my father does, only it does it much better. The depressing thing is, my mother ran out and bought one.”

Techno-optimists predict that disappearing old jobs will be replaced by new jobs. For journalists, that’s certainly been true: in the US at last count, PRs outnumbered us 4.6 to 1. They are also better paid. The problem is that most journalists want to be journalists. We like this badly paid, poorly regarded and mostly meaningless profession. Years ago, a colleague told me about someone from the paper who had become a PR, or, in the jargon of journalism, “gone over to the dark side”. My colleague sniffed, “I just couldn’t look at myself in the mirror in the morning.” Needless to say, that colleague is now a PR himself.

But he seems happy. Having watched many former journalists stumble into new lives, I’ve assembled some tips on how to cope with technological destruction:

● Don’t make your job your identity. I remember one senior colleague whose great boast was that the chancellor of the exchequer sometimes stopped him for a chat. When the man retired, he made the devastating discovery that the chancellor wasn’t interested in him any more.

● Accept that your career isn’t building up to anything. In fact, it probably isn’t even a career.

● While your industry is still paying you, don’t get attached to money or status symbols. Expect that your job will be decimated. Don’t buy a big house. Food and stuff have never been cheaper, so if you stick to those you should be OK. I’ve been inspired by William Boyd’s fantastic novel Any Human Heart, in which the main character, once a successful writer, discovers in his sixties that dogfood is cheap, nutritious and even quite tasty, especially with “a pinch of curry powder judiciously stirred in”.

● Enjoy the fleeting moments: that shared chuckle with the chancellor, the business-class flight, those two or three truly satisfying pieces of work. Just don’t expect them to last. If you ever had a well-paid job in which you could express your talents, however briefly, you are one up on almost everybody else who ever lived.

● Don’t try to hang on in a dying industry as a freelancer. A major international newspaper recently offered a respected writer I know £10 for an article.

● Think of ways to monetise your skills in face-to-face situations in which nobody wants a computer. To quote the newly redundant England football manager Sam Allardyce: “I’m a keynote speaker.”

● If you still want to express yourself, get a blog.

● Don’t blame yourself. You are just a statistic, crushed beneath the wheels of history.

● Don’t complain. It’s boring.

● Expect to work in unsatisfying jobs until you are about 75. Hardly anyone else in history had a pension, so why should you?

Alternatively, you could just blame it all on immigrants.

simon.kuper@ft.com; Twitter @KuperSimon

Strategic Survey: The Annual Review of World Affairs 2016 - IISS (free chapters)

Strategic Survey: The Annual Review of World AffairsStrategic Survey 2016The International Institute for Strategic Studies (IISS) have released the 50th edition of its annual publication: Strategic Survey 2016: The Annual Review of World Affairs.

Strategic Survey notes that in the past year to mid-2016 rising populism and intractable conflict shook the international system. Worldwide dissatisfaction with ruling elites and resistance to globalisation appeared to reach a crescendo. Wars across the Middle East showed little sign of abating. The increasing assertiveness and military capabilities of China and Russia amplified competition, and the attendant risk of conflict, between major powers.
The 2016 Strategic Survey analyses the trends that shaped relations between global powers in the past year. This edition contains an expanded chapter of thematic essays to give the reader broader insight into these important trends, focusing its analysis of domestic events on those that affect relations between countries. Scroll down to sample free content from the 2016 edition. 

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