Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Brasil: politica externa mais planejada? - Correio do Brasil
Franca: taxacao irracional de ativos financeiros - Le Monde
O presidente da França, um pouco por demagogia eleitoreira -- ele enfrentará sua tentativa de reeleição em poucos meses mais -- e um pouco por necessidade (porque os governos gastaram demais e não têm mais de onde tirar, e hesitam em cobrar novos impostos), quer arrancar dinheiro da sociedade.
Para isso, ele gostaria de tirar dinheiro onde ele existe: no sistema financeiro e bancário.
Apenas que, se fizer isso sozinho, vai ser um tiro no pé: as operações financeiras se deslocarão para onde não são taxadas, e assim a França perderia duplamente.
Como não pode taxar as transações financeiras, resolveu se abastecer no mercado de ações, o que também é arriscado, pois aplicadores podem optar por se dirigir a outros mercados.
No assim chamado Fórum Social Mundial, que vai se realizar dentro de alguns dias em Porto Alegre (onde estou atualmente), irracionais, ilógicos e ingênuos vão, mais uma vez, pregar uma Tobin Tax, ou seja, uma tributação sobre todas as transações financeiras transfronteiriças. Não resolve NENHUM dos problemas que é suposta resolver, e ainda cria maiores distorções num mercado que já é suficientemente volátil do jeito que é.
Os ingênuos acreditam que diminuirão a volatilidade e a especulação taxando as transações. O único resultado é aumentar ambas, e criar ainda mais distorções e movimentos erráticos por todo o planeta.
Claro, eu sei que não se pode impedir as pessoas de serem estúpidas, ou simplesmente ingênuas.
Mas sempre se pode acusar a ingenuidade e a estupidez, declarar onde elas existem, e apontar os responsáveis.
Meu blog serve, entre outros objetivos, a essas funções didáticas: acusar ingênuos de ingênuos, chamar os estúpidos de estúpidos, e esperar que respondam a essas acusações com argumentos um pouco mais consistentes do que me acusar de ser especulador, amigo de banqueiros, patrocinador de capitais voláteis e outras bobagens do gênero...
Paulo Roberto de Almeida
La taxe Tobin de Sarkozy ou le simple retour de l’impôt de Bourse sur les actions ?
O fascismo soft (e ordinario) do poder - Marco Antonio Villa
Não preciso dar explicações a ninguém sobre o que penso, como penso e por que o faço, desta maneira que faço, ou seja, totalmente independente, espírito anárquico (o que não quer dizer anarquista), sem peias, sem disciplina, sem qualquer submissão ao poder ou aos que mandam. Sou inteiramente livre, para desgosto de alguns que aqui aparecem, que gostariam da mesma rendição às falcatruas que cometem, direta ou indiretamente, da mesma submissão que obtiveram de tantos, por pressão, ameaças, dinheiro ou suposta afinidade ideológica.
Não sou comprável, nem "submetível", e por isso posso postar, e comentar o que me apraz, até reações raivosas daqueles mesmos que gostariam que todos concordassem com as falcatruas, mentiras, fraudes e desonestidade que veem sendo servidas ao povo brasileiro, com a complacência de políticos -- inclusive os de uma suposta oposição -- que não se pejam em atacar a imprensa, ou seja, os meios livres, pelos poucos ataques que merecem sua conduta a todos os títulos deplorável.
Por isso mesmo, continuo, com meu espaço de resistência à mentira, à fraude, à omissão, à burrice, à má-fé e à desonestidade de todos aqueles que pertencem aos círculos que pertencem não por mérito, mas por adesão ao que de pior a política brasileira já produziu desde tempos imemoriais.
O Brasil, infelizmente, passou a viver, ou já está vivendo, desde algum tempo, sob um regime que poderíamos descrever como de Cleptocracia, ou seja, um sistema organizado com base no roubo sistemático dos bens públicos (que são recursos da sociedade) pelos que controlam o poder, em diversas esferas. A Cleptocracia se espalha por todos os poros da sociedade, como uma peste que sufoca gradativamente a sociedade.
Não que não tivéssemos corruptos e ladrões antes do atual sistema: não, eles existiam e estavam bem vivos. Apenas que o que era feito de forma desorganizada, assistemática, de forma praticamente artesal, no máximo manufatureira incipiente, passou a ser feito de forma sistemática, organizada, em escala industrial, avassaladora, um sistema montado para justamente fraudar os cidadãos e as empresas, arrancando todos os recursos que são possíveis de serem extraídos pelos meios disponíveis, legais e ilegais, de todos os modos.
Cleptocracias, como esta do tipo que se instalou no Brasil, são difíceis de serem extirpadas. Que o diga a Venezuela, que hoje paga o preço da antiga cleptocracia tradicional que tinha se instalado no poder, e que foi substituída por uma nova, mais eficiente do que a anterior.
O Brasil vai ter um imenso trabalho para extirpar a sua. Não imagino uma "limpeza" antes de uma geração completa, aí por meados dos anos 2020, depois dos 200 anos de independência, que podem ser passados ainda sob o mesmo regime que inaugurou a vida nacional: antes eram traficantes de escravos, escravocratas, ladrões de terra, aproveitadores de cargos públicos, enfim, amigos do alheio. Hoje podemos substituir os traficantes de escravos pelos demagogos oportunistas, que se locupletam com base nos muitos pobres e ignorantes que ainda existem no Brasil. Processos históricos são lentos e imprevisíveis. Chegaremos lá, mas vai demorar...
Paulo Roberto de Almeida
domingo, 8 de janeiro de 2012
Ian Buruna on China and Asia - Le Monde
"Le modèle chinois ébranle les certitudes américaines"
NEW YORK, CORRESPONDANT - Installé depuis 2005 à New York, Ian Buruma est devenu l'un des intellectuels les plus en vue aux Etats-Unis. Il collabore à la New York Review of Books, au New York Times et au New Yorker. Polyglotte (néerlandais, anglais, allemand, chinois, japonais et français, quoi qu'il en dise), il a été l'éditeur des pages culturelles de la Far Eastern Economic Review, à Hongkong, et de The Spectator, à Londres. Aujourd'hui professeur de démocratie, droits de l'homme et journalisme à l'université Bard - "façon de dire que j'enseigne ce que je veux, c'est le charme du système universitaire américain", dit-il en riant -, il est un auteur polyvalent et prolifique. Nous avons interrogé cet intellectuel à focale large, prix Erasmus 2008, sur sa spécialité initiale : la Chine et l'Extrême-Orient.
Pausa para... um poeta fingidor... - Fernando Pessoa
China's booming cities: lessons for Europe? - The New York Times
OPINION
What China Can Teach Europe
By DANIEL A. BELL
The New York Times, January 7, 2012
Related
Times Topic: China
The New York Times
Related
Times Topic: China
A version of this op-ed appeared in print on January 8, 2012, on page SR5 of the New York edition with the headline: What China Can Teach Europe.
sábado, 7 de janeiro de 2012
O Brasil e o bonus demografico: preparado? - Revista Epoca
Por que o brasileiro não poupa para o futuro
DANIELLA CORNACHIONE E LEOPOLDO MATEUS
Revista Época, 7/01/2012
Em breve, não seremos mais um país jovem. O rápido envelhecimento da população coloca o Brasil diante de uma questão urgente: como ensinar uma sociedade inteira a economizar
Já fomos um país de crianças e adolescentes. Hoje, somos um país de jovens adultos, com idade média de 32 anos, superior à de outras grandes nações em desenvolvimento, como México e Índia. Em cada dez brasileiros, seis têm entre 20 e 65 anos, a faixa de vida mais produtiva. Isso quer dizer que o país já começou a desfrutar seu "bônus demográfico", um período ótimo no ciclo de vida das nações, em que o número de trabalhadores que produzem supera o de crianças, adolescentes e idosos. Mas David Bloom, o economista e demógrafo da Universidade Harvard que definiu esse conceito, calculou que o bônus costuma durar de 30 a 40 anos, um momento breve em termos históricos. Depois desse ápice, a parcela de idosos no país começa a aumentar, o número de trabalhadores cai e os custos com saúde e aposentadoria sobem. O ideal, para qualquer país, seria formar um bom estoque de poupança, pública e privada, antes do fim do bônus demográfico. Mas o governo brasileiro não poupa nada, os cidadãos poupam pouco e não há no horizonte sinal de que isso vá mudar. O problema também aflige outros países e, por causa disso, ao redor do mundo, experimentam-se soluções envolvendo educação, participação das empresas e até tecnologia de computação gráfica. Será que elas conseguirão mudar o comportamento de sociedades inteiras?
Esse debate é de especial interesse para os brasileiros, pois nosso bônus começará a se esgotar pouco depois de 2040. Parece longe, mas não é. É quando os adolescentes de hoje estarão no auge da vida produtiva, com idade entre 40 e 50 anos. Apesar da urgência do assunto, o país está despreparado. Um novo capítulo da série de pesquisas O futuro da aposentadoria, feito pelo banco HSBC em 17 países, constatou que mesmo entre os brasileiros mais ricos (classes A e B) 60% não poupam o suficiente para a aposentadoria. Os que são pais se mostram mais otimistas com o futuro de sua situação financeira – algo que sugere uma expectativa irreal de depender dos filhos na velhice. Outra pesquisa, da empresa de benefícios e seguros MetLife, mostrou que os brasileiros dão menos valor do que deveriam a planos de aposentadoria oferecidos pelas empresas em que trabalham. Acham mais importante vale-alimentação e seguro odontológico, benefícios instantâneos e de utilidade mais restrita. "É uma questão cultural", diz a economista Myriam Lund, da Fundação Getulio Vargas. "Os anos de inflação, os planos econômicos que levavam nosso dinheiro das aplicações bancárias e a quebra de previdências privadas traumatizaram as pessoas."
O problema pode ser ainda mais antigo. O economista e filósofo Eduardo Giannetti acredita que a cultura brasileira é imediatista desde sua origem, no que chama de "aventura colonial". "Enquanto os imigrantes puritanos que foram para a América do Norte queriam criar o paraíso – constituir uma sociedade que não tivesse os vícios daquela que eles estavam abandonando –, os imigrantes portugueses que vieram para cá, na base da aventura, queriam encontrar e desfrutar o paraíso, não criá-lo", diz. Em seu livro O valor do amanhã, Giannetti afirma que "o animal humano" tem, necessariamente, de escolher entre fazer agora, desfrutar, ou cuidar do amanhã. "São perguntas das quais não se escapa", ele escreve. "Das decisões cotidianas ligadas a dieta, saúde e finanças às escolhas profissionais, afetivas e religiosas, as trocas no tempo pontuam a nossa trajetória no mundo."
O fator cultural ajuda a explicar por que alguns povos poupam mais ou menos que outros. Americanos são tradicionalmente mais gastadores que europeus e asiáticos. Mas o clima econômico de um momento é uma força poderosa a agir sobre os hábitos de uma sociedade. Os americanos que cresceram durante a década de 1930, na Grande Depressão, eram muito mais propensos a poupar que os nascidos nas últimas décadas, diz o pesquisador Shermann Hanna, da Universidade Estadual de Ohio. A Coreia do Sul fez esse mesmo caminho mais recentemente: passou do nível de poupança de 30% do PIB, nos anos 1990, para cerca de 4% hoje. A Austrália oferece um exemplo contrário. Talvez por receio com o futuro da economia, as famílias australianas passaram de um nível de poupança de 2% do PIB até 2006 para mais de 10%, atualmente. Esse exemplo sugere algo importantíssimo: é possível mudar o comportamento de um país inteiro com respeito à poupança. No Brasil, a poupança das famílias equivale a 4,5% do PIB. Ficamos atrás dos europeus e muito atrás dos grandes emergentes asiáticos, Índia, China e Indonésia, onde a poupança das famílias passa de 20% do PIB. E temos pressa. O Brasil vem envelhecendo mais rapidamente do que se projetava até o fim do século XX. Na França, foram necessários 100 anos para que a proporção de idosos aumentasse de 7% para 14% da população. A mesma variação ocorrerá por aqui em apenas duas décadas, de acordo com o Banco Mundial.
Diante desse problema global, têm surgido diferentes propostas e soluções. Uma equipe de pesquisadores americanos testou os efeitos de mostrar a jovens na casa dos 20 anos como eles se parecerão quando forem idosos. Eles exibiram a um primeiro grupo imagens de pessoas mais velhas. Um segundo grupo interagiu, num ambiente virtual, com versões deles mesmos, envelhecidas por computação gráfica – seus avatares idosos. Após três baterias de questionários, os pesquisadores ficaram animados com a maior disposição do segundo grupo de poupar para a aposentadoria. O estudo foi publicado em novembro. "Queríamos ver se a experiência de envelhecimento fotográfico poderia fazer alguém se sentir mais conectado consigo mesmo no futuro. Deu certo", afirma Hal Hershfield, professor de marketing na escola de negócios Stern, em Nova York, e principal autor da pesquisa. Um dos mecanismos que atrapalham a poupança é que jovens têm dificuldade em trocar o prazer imediato em nome do conforto de um "estranho" – ele mesmo, dentro de 40 ou 50 anos. Ao aproximar o jovem do ancião que virá a ser, o avatar rompe esse distanciamento. "Os benefícios que os avatares podem trazer, como ajudar a poupar e emagrecer, logo estarão disponíveis em outras áreas", afirma Jeremy Bailenson, coautor do estudo e autor do livro Infinite reality (Realidade infinita). Os pesquisadores negociam com a empresa de investimentos e seguros Allianz para que clientes e funcionários possam usar esse recurso.
Métodos inovadores para estimular a poupança estão em estudo no mundo todo porque a abordagem tradicional – dizer às pessoas que elas precisam guardar para o futuro – simplesmente não está funcionando. Talvez porque a sociedade ofereça estímulos desproporcionais para o consumo imediato e o endividamento. Talvez porque a natureza humana seja resistente a encarar o futuro. "Em vez de fazer a melhor opção, simplesmente escolhemos a mais fácil", afirma Vera Rita Ferreira, doutora em psicologia econômica pela PUC-SP. Dois americanos ganharam destaque nos últimos anos por propor que as sociedades atropelem a preguiça mental dos indivíduos em benefício da sociedade. O economista Richard Thaler e o jurista Cass Sunstein defendem um novo modelo para as escolhas oferecidas ao cidadão. Eles criticam os "cardápios de investimento" em que todas as alternativas têm igual destaque. Sugerem que se apresente às pessoas a opção mais sensata, sem muita possibilidade de erro. Seguindo essa ideia, um número crescente de companhias americanas define como padrão na contratação que o funcionário seja incluído de forma automática no plano de aposentadoria, alimentado por descontos mensais no salário e depósitos mensais por parte do empregador. Se ele não quiser ficar no plano, terá de fazer um esforço burocrático para cair fora. A maioria fica e poupa para o futuro sem precisar pensar muito. Thaler e Sunstein esmiúçam essa ideia no livro Nudge – O empurrão para a escolha certa.
Entre os estudiosos do assunto, cresce a ideia de preparar também as crianças para a necessidade de poupar. "A educação na infância é muito importante. Ter bancos fictícios nas escolas japonesas incentivou as crianças a poupar mais", afirma a americana Annamaria Lusardi, professora de economia na escola de negócios George Washington e referência mundial em finanças pessoais. Ela acredita que há vários motivos para as pessoas não pouparem, mas insiste no mais óbvio: informação. Mesmo os cidadãos de classe média dos países ricos carecem de educação financeira. As pessoas não conseguem calcular quanto precisarão para a aposentadoria. É preciso instruí-las. O aprendizado nesse assunto pode provocar mudanças de comportamento notáveis, como a do empresário carioca Erick Vils, de 34 anos. Ele diz ter mudado sua forma de pensar sobre o futuro ao ler um livro de finanças. "Eu achava que precisava acumular bens. Comprei casa e carro aos 20 e poucos anos", afirma. Lendo, Vils aprendeu que poderia ganhar mais se investisse melhor. A partir dessa premissa, fez as contas para poder trabalhar menos no futuro e aposentar-se com tranquilidade. "Não tenho filhos ainda, então aproveito para poupar o dinheiro que gastaria com eles." Trata-se de uma questão individual, mas não apenas. Vils e os brasileiros que poupam viverão bem melhor daqui a algumas décadas se, além de ter dinheiro no bolso, não se virem diante de um Estado quebrado – e cercados por amigos idosos e infelizes.
O Brasil a caminho da maturidade
Daqui a uma geração, não terá mais sentido falar em "pirâmide etária" no Brasil – a figura à direita tem poucos jovens na base e muitos idosos no topo. Nos próximos anos, tende a cair a demanda por novas escolas e a crescer o gasto com saúde e aposentadorias. |