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sábado, 14 de maio de 2011

Como escrever bem (e existem regras para isso) - Paulo Roberto de Almeida

Meus vícios de escrita (e algumas regras para melhorar...)
Paulo Roberto de Almeida

Eu escrevo mal, eu sei. Não tanto coisas absolutamente erradas, ou estúpidas (embora sempre se encontre quem ache isso), mas basicamente construções difíceis, frases muito longas, palavras inventadas (do que não me desculpo, aliás), rebuscamento e prolixidade na expressão de um pensamento (se é que tenho algum), enfim, diversos vícios de linguagem, ou seja, de expressão oral e de escrita, que foram se acumulando ao longo do tempo, e dos quais só posso me desculpar junto a meus (poucos) leitores com promessas (vãs?) de que vou me esforçar para escrever melhor da próxima vez.
A que posso atribuir essas deficiências na expressão escrita (já que falo muito pouco, fora das aulas que ministro regularmente)? Erros de origem, provavelmente, agravados pelo desleixo em corrigi-los, por certo descuido com os aspectos formais da escrita. Mas não é apenas pelo seu estilo capenga e descuidado que meus textos são ruins; é também pelo desenvolvimento deficiente dos argumentos, se ouso agora incriminar também a substância de meus trabalhos.
Como sempre estamos procurando bodes expiatórios para nossas deficiências, aqui vão os meus. Minha primeira infância transcorreu num lar quase sem livros, carente de revistas e jornais, na total ausência de volumes enfileirados em alguma estante ou num canto qualquer da casa. Meus pais nunca terminaram o primário: tiveram de trabalhar desde muito cedo, e por isso não se poderia esperar que, na idade adulta, se convertessem, não em intelectuais, mas em pessoas motivadas pela leitura. O meio de informação habitual era o rádio (a TV só apareceu muito mais tarde), ou o que vinha na ruas e nas conversas com vizinhos e conhecidos de trabalho. Só aprendi a ler, como já disse, na “tardia” idade de sete anos, como era o hábito no primário de antigamente. Desde então, tentei me corrigir, lendo tudo o que estivesse a meu alcance, mas talvez eu me tenha motivado mais pelas ideias, em si, do que por sua expressão formal. Enfim, seja como for, nunca deixei de ler, o que pode ser uma base excelente para a melhoria do estilo e da correção formal e substantiva dos meus textos, mas parece que nunca aproveitei a oportunidade (talvez porque eu tenha me concentrado mais em livros de estudo, com o seu jargão prolixo e especializado, em lugar da boa literatura).
Depois, como me politizei muito cedo, sem nenhum desdouro por quem faz isso também, isso me levou a ler uma faixa determinada da produção nas humanidades: história, política, marxismo, economia e coisas em torno desse universo restrito. Convivi, portanto, com os “escritores” desse ambiente cheio de slogans (ou conceitos) politicamente marcados e por vezes até maniqueístas. Como eu me dirigi também muito cedo para a chamada “escola paulista de sociologia”, adquiri o terrível (temível?) jargão desse pessoal, em especial do mestre Florestan Fernandes, prolixo como poucos, com longas frases cheias de apostos e complementos. Enfim, eu me contaminei com esse tipo de escrita, que “deformou” (não hesito em dizer) completamente meu modo de expressão.
Devo dizer, também, que durante toda a minha educação formal – que eu reduzo apenas ao primário e ao ginasial, ou seja, dos sete aos quinze anos – eu nunca gostei de gramática, ou de Português em geral (como também tropecei muito cedo na matemática). Eu gostava de ler, mas não tinha nenhuma paciência pelas regras gramaticais, pelas normas de linguagem que era preciso decorar, pelo respeito a certas concordâncias ou construções estilisticamente corretas. Para mim, o mais importante era absorver as ideias e retransmiti-las de alguma forma, sem maiores cuidados quanto à forma. Devo ter passado impune por algumas reformas ortográficas e como eu gostava de ler livros antigos, também devo ter confundido formas de escrita e normas cambiantes. Para agravar o meu caso, saí do Brasil com 20 anos e passei quase sete anos completos no exterior, estudando exclusivamente em francês, falando espanhol (ou ensaiando outras línguas), com pouco contato formal com o Português (a não ser pela leitura dos mesmos livros no meu mundinho das ciências sociais e do marxismo).
Pronto, estão aí meus bodes expiatórios, os que explicam, pelo menos parcialmente, algumas das razões de minha horrível expressão escrita (claro, boa em comparação com a miséria educacional dos nossos tempos, mas sempre deficiente com respeito às normas cultas e elegantes da linguagem). Que posso fazer, então? Talvez ler mais literatura de boa qualidade, dedicar mais tempo à revisão dos meus textos, tentar expressar minhas ideias de forma mais clara, usar frases mais curtas, concentrar-me no essencial e deixar o acessório de lado (nessa tentativa ilusória de abarcar um problema por todos os seus lados e aspectos), enfim, tentar melhorar aquilo que é primordial nesse tipo de ofício que é o meu: ser atraente, interessante, conciso (já que ninguém tem mais tempo, hoje em dia, para ler textos longos). Pensando em tudo isso, vou tentar melhorar meu desempenho na expressão escrita recorrendo a algumas regras muito simples, cuja inspiração me veio da leitura de um texto na revista Piauí, “Manual de estilo para cientistas”, de Bernardo Esteves (Questões de Ciência, 11/05/2011; link: http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/manual-de-estilo-para-cientistas), mas que remete a um artigo do respeitado biólogo Kaj Sand-Jensen, (http://www.fbl.ku.dk/ksandjensen/presentation.html) da Universidade de Copenhague, autor de um clássico instantâneo da estilística científica: “Como escrever literatura científica consistentemente chata”, publicado em 2007 na revista Oikos (“How to write consistently boring scientific literature”, Volume 116, Issue 5, pages 723–727, May 2007, link: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.0030-1299.2007.15674.x/full).
Eu recomendaria uma leitura do seu original, mas vou aqui me contentar em retomar suas recomendações ao contrário, ou seja, invertendo o sentido original de suas recomendações – irônicas, por certo – para tentar apresentar algumas ideias positivas, quem sabe até úteis?, aos candidatos a uma boa escrita, a começar por mim mesmo. Portanto, ainda que eu me disponha a pagar copyright – ou talvez, mais apropriadamente, moral rights – ao cientista dinamarquês, eu tenciono converter suas regras da escrita chata em advertências ao projeto de escritor que pretende ser interessante (e lido).
Vejamos o que pode resultar.

1. Concentre-se no foco do problema
Vá direto ao assunto desde a primeira frase, eventualmente precedida de algum exemplo histórico (como é meu hábito) e literário que pretende realçar o problema a ser tratado. Diga logo de cara algo assim: “Este texto pretende abordar este problema e visa demonstrar esta coisa; meu método, ou meus procedimentos serão os seguintes: blá, blá curto”. Desenvolva a seguir seu argumento principal, mantendo o foco na questão que você de propôs tratar, fazendo eventualmente alguma alusão a questões paralelas que possam ter relevância para o problema central. Tire suas conclusões, dizendo claramente que é aquilo que você descobriu e faça algumas considerações finais sobre a importância desse tratamento para o estado da arte naquele campo (e sua contribuição para ele). Estaria bem assim, ou estou sendo muito elementar? Acho melhor ser simples e direto.

2. Tente ser original e demonstrar sua contribuição para o avanço da “arte”
Pessoas sem ideias se contentam em resumir contribuições alheias, no que não vai nenhuma grande tragédia. Se este for o caso, diga claramente: Fulano disse isto, Sicrano disse aquilo, e eu resumo o que disse Beltrano a respeito ou sobre os dois; mas tente, se possível, expressar uma opinião própria sobre a questão, ainda que seja a de dizer que você pretende apenas oferecer uma síntese que resumo o estado da arte dos outros. Se não tiver nenhuma ideia interessante ou inteligente para expressar sobre a questão, tente, pelo menos, formular algumas perguntas para pesquisa ulterior, mais ou menos neste sentido: seria útil pesquisar tal questão em sua aplicação ao caso brasileiro, ou então dizer que dados concretos sobre tais e tais manifestações do problema precisariam ser pesquisados com vistas a refletir sobre aqueles ensinamentos nesta ou naquela situação nova. Gostou?

3. Escreva contribuições concisas e objetivas, com frases legíveis e compreensivas
Tente seguir o estilo americano: frases curtas, muitos pontos, perguntas claras, afirmações diretas, sem rebuscamentos de linguagem, com eliminação de tudo que não seja absolutamente necessário para a compreensão do “seu” problema. Mesmo que tenha vontade de escrever um tratado erudito sobre o assunto, comece por expor o conjunto de forma breve, se possível com outlines prévios, enxugando tudo o que for secundário. Depois que terminar seu “mini-artigo”, você poderá se lançar na obra prima da sua carreira acadêmica, em algo que fique nos anos como o magnum opus daquela área; mas comece modestamente por favor, pois o efeito pode ser maior. Não é para ser curto e grosso, apenas conciso e objetivo. Pode até ter frases de efeito, mas apropriadas ao caso.

4. Explore implicações do seu problema e especule inteligentemente a respeito
Todo e qualquer problema humano está sempre relacionado a muitos outros, para frente, para trás, para os lados, em direção ao futuro, vindo de um passado mais ou menos próximo ou distante. Ou seja, você não está sozinho, e sua questão genial apresenta efeitos em cadeia ou impactos em outras áreas; portanto, explora essas possíveis interações e interdependências, visualize consequências desse problema para outras áreas, e até se permita digressões sobre os resultados de uma determinada ação naquele terreno (pode até ser a famosa lei das consequências involuntárias, mas sempre existo algo mais).

5. Mostre exemplos, casos análogos, dados concretos sobre o “seu” problema
Nada melhor para ilustrar uma digressão científica especialmente chata – e existem alguns filósofos franceses e sábios alemães que se especializam na chatice – do que mostrar exemplos concretos, casos reais, ações efetivamente perpetradas pelos agentes envolvidos no seu caso. Ser abstrato é vedado aos comuns dos mortais, e apenas autorizado a membros da academia e outras vacas sagradas. Como você tem de convencer pares, professores, curiosos em geral, que todos, em geral, sabem menos do que você naquela área específica (a menos que você esteja enganando todo mundo), você precisa ser o mais convincente possível. Nada melhor, portanto, do que trazer exemplos à colação (é assim que se diz nas teses jurídicas especialmente chatas?) para tornar sua demonstração perfeitamente clara e empiricamente verificável.

6. Exponha claramente o itinerário metodológico e demonstrativo do seu trabalho
Todo trabalho acadêmico apresenta uma estrutura muito simples, até repetitiva: geralmente ele tem uma pequena introdução, na qual se expõe o objeto a ser tratado, seguida da metodologia, ou das técnicas a serem seguidas no tratamento do problema; o argumento principal vai ser desenvolvimento no núcleo central do trabalho, em quantas partes forem necessárias para demonstrar, discutir, esquartejar um assunto determinado; finalmente se chegam às conclusões a serem tiradas do tratamento precedente; o resto é complemento (notas, bibliografia, anexos, etc.). O importante é que seu raciocínio seja muito claro quanto a essas diferentes etapas do trabalho de construção de uma explicação para o problema selecionado. Por isso, uma regra elementar deve ser seguida: antes de começar a escrever, pare e pense no seu problema. Quem não tem ideias claras, não pode, ou não consegue se expressar claramente, ou seguir um itinerário linearmente rigoroso de pensamento. Quando seu trabalho estiver suficientemente pensado, voilà, zut!, ele já está pronto: só falta escrever, mas isso é o de menos quando se sabe onde se quer chegar...

7. Seja claro nas expressões, use uma linguagem a menos sofisticada possível
Não existe nada entre o céu e a terra, neste vasto universo que ainda não é o nosso, que não possa ser explicado em termos simples, inteligíveis, compreensíveis a um leigo no assunto. Pense que você vai ter de explicar aquele problema para uma criança de dez anos, ou um adolescente de quinze, que seja (no limite para a sua mãe, que não é do ramo, digamos assim). Portanto, escolha expressões comuns, e se tiver de empregar termos técnicos, ofereça uma explicação mais palatável se eles forem suficientemente obscuros, talvez entre parênteses. Coloque de lado aqueles filósofos franceses que se especializaram em enganar os trouxas com frases incompreensíveis (e elas são mesmo). Essa coisa de jargão sofisticado geralmente é para iludir os incautos, portanto não abuse de sua permissão para falar difícil. Claro, não precisa descer ao nível rasteiro de certo personagem que se vangloriava de nunca ter tido diplomas na vida, e que falava deliberadamente errado para encantar o povão; mas não tente fazer de seu trabalho um exemplo do barroco linguístico.

8. Evite adjetivos, exploração de emoções, subjetivismos dramáticos
A vida e o mundo já são suficientemente complicados como eles são, mas um trabalho acadêmico não é uma novela mexicana, nem um dramalhão daqueles antigos. Adjetivos de qualidade – estupendo, magnífico, único, etc. – devem ser evitados absolutamente (e lá vou eu com um...). De forma geral, adjetivos e qualificativos devem ser banidos do trabalho, embora ele possa ter evidências quanto ao impacto significativo de certos fenômenos sobre a ação humana. Mas como diria um personagem famoso, todos os seus gestos devem ser friamente calculados, ou seja: evite grandes explosões terminológicas, quando você pode expressar a mesma ideia em tom mais comedido e, sobretudo, mais objetivo e contido. Eu, por exemplo, costumo chamar muita gente de idiota – e existem, efetivamente, muitos idiotas no mundo – mas o que é aceitável num post rápido em blog de divertimento não cabe num paper supostamente sério. Em outros termos, não deixe transparecer sua emoção no tratamento de uma questão, ainda que ela o coloque em sérios dilemas morais e em angústias existenciais. Fique frio...

9. Tente quantificar fenômenos, use números, mas não abuse da estatística
Tudo, com a provável exceção do amor (e talvez do ódio), pode ser quantificado, medido, colocado em gráficos e comparado a outras situações (anteriores, de outros agentes em outros lugares). Os economistas são pródigos em usar e abusar de estatísticas e os economistas teóricos gostam de encontrar uma equação que traduza a realidade dos indicadores a uma fórmula de sua modelagem que sirva para prever ou antecipar processos similares, podendo, portanto, ser objeto de políticas públicas, na área macroeconômica ou setorial. Se pudessem, eles resumiriam toda a complexidade do mundo numa fórmula mágica, do tipo: E = mc2. Nos assuntos humanos – e isso inclui a economia também – fórmulas e números são úteis, mas apresentam limites efetivos para sua utilização contínua, pela simples razão que os homens estão sempre ajustando sua conduta para obter a maximização de seus fatores e ativos em face dos constrangimentos do real – que são as ações dos governos (geralmente em seu detrimento, caro leitor) e as de outros agentes da sociedade. Por isso, faça recurso dos indicadores quantitativos e tente medir, ou mensurar, os problemas que são objeto de sua análise, mas não confie demais nos procedimentos estatísticos como indicativos de tendências futuras. Nada é imóvel neste nosso mundinho tumultuado...

10. Demonstre conhecimento das fontes, mas não abuse das referências
Eu já li muita monografia de aluno que, mesmo para fatos históricos indiscutíveis – uma guerra, uma revolução, enfim, coisas objetivas –, se esmeram em juntar uma pletora de citações e de referências bibliográficas para dizer, finalmente, o óbvio: “nossa civilização tem bases greco-romanas” (bem, não precisa citar nenhum grande historiador para saber disso, pois não?). Não é preciso carregar um paper, um trabalho mais alentado ou até uma tese doutoral com centenas de remissões anódinas, ou seja, tratando daqueles casos que já pertencem ao estado da arte do problema tratado. Fatos são fatos, por mais que se desgoste deles, e eles não vão deixar de existir porque algum autor tem uma opinião mais negativa sobre esses mesmos fatos (a dominação perversa do capitalismo financeiro monopolista, por exemplo). Todos nós estamos cansados de ver o capitalismo condenado ao desaparecimento como resultado das últimas dez crises ocorridas em seu itinerário tumultuado, não é mesmo? Bem, sendo mais objetivo, a regra aqui, e a última desta série desorganizada, é muito simples: erudição não precisa ser medida em toneladas de bibliografia; ela pode ser medida com comentários inteligentes à obra de um autor consagrado, o que normalmente exige mais inspiração do que transpiração. Portanto, seja comedido no “ajuntamento” (esse é o termo) de sua bibliografia de referência e tente trabalhar com os autores essenciais ao problema que você escolheu. Se algum outro autor não tem nada de relevante a dizer sobre o problema selecionado, ignore-o solenemente. Mas, em sentido contrário, não tente a sorte pescando na internet coisas que depois você não vai citar devidamente e dar o crédito a quem merece: os instrumentos de busca que os professores utilizam estão cada vez mais sofisticados, e seria muito triste alguém perder uma bela carreira por acusações de plágio ou falsificação de trabalhos alheios.

Seja feliz em seu trabalho, melhore a sua escrita (o que eu mesmo vou tratar de fazer) e avance alguns degraus na ladeira do conhecimento: você vai se sentir muito melhor olhando o mundo do alto de sua capacitação intelectual. Escreva claro, escreva bem, trate dos problemas como eles devem ser tratados: objetivamente, concisamente, reflexivamente.

Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 14 de maio de 2011)

Um peso, duas medidas: Chavez e as FARC (y otras cositas mas...)

Nem tudo está dito: quando do anúncio de um acordo militar entre a Colômbia e os EUA, para o uso de bases militares colombianas por pessoal militar americana engajado em cooperação técnica, certo chanceler brasileiro ficou quase tão histérico quanto os venezuelanos (porque supostamente as bases seriam uma preparação de uma proxy war dos EUA contra o coronel Chávez); o Brasil exigiu que o assunto fosse examinado e que tudo estivesse transparente em reuniões sul-americanas, preferencialmente para sabotar e impedir tal acordo.
Quando da invasão do território equatoriano por forças colombianas que mataram esse líder guerrilheiro das FARC e capturaram o material de que se fala abaixo, o mesmo chanceler ficou ainda mais histérico, e lutou para obter uma condenação da Colômbia na OEA e em outras instâncias latino-americanas. Foi de uma parcialidade exemplar, pois logo depois se anunciou a captura de mísseis manuais venezuelanos em poder das FARC e o mesmo chanceler histérico duvidou que a notícia fosse verdadeira. Jamais uma nota sequer se referiu, por exemplo, ao envio de tanques e aglomeração de tropas venezuelanas nas fronteiras da Colômbia (quando os problemas com o Equador se processavam a centenas de quilômetros dali, na fronteira com o Equador).
Agora, depois de todo este ativismo, talvez se devesse esperar por alguma nota com pedido de esclarecimentos de quem deve explicações.
Seria apenas uma demonstração de equilíbrio, já que histerias parece que passaram de moda...
Paulo Roberto de Almeida

Autoridades da Venezuela pediram às Farc para matarem opositores de Chávez, diz instituto
Fernando Duarte, correspondente
Agências internacionais, 10/05/2011

LONDRES e CARACAS - Um dossiê de 240 páginas publicado nesta terça-feira pelo Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), de Londres, contradiz as afirmações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de que as ligações de seu governo com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) teriam sido obra de ações individuais isoladas. Com base em arquivos eletrônicos de Raul Reyes, então o número 2 na hierarquia das Farc, não só Chávez ofereceu financiamento às operações do grupo paramilitar como autoridades venezuelanas ainda pediram apoio para o treinamento de milícias pró-governo e para matar adversários políticos do presidente. Chávez, porém, não estaria ciente dos pedidos de assassinatos. Nesta terça-feira Chávez era esperado no Brasil, mas o presidente cancelou a viagem .

De acordo com o documento do IISS, Chávez via nas Farc um aliado nas divergências com a Colômbia, sobretudo por manter ocupada a cooperação militar entre Bogotá e Washington. Em 2007, teria prometido US$ 300 milhões ao grupo. Ainda que o dossiê seja bastante claro na afirmação de que a chegada das Farc à Venezuela não tenha ocorrido na presidência de Chávez, sua ascensão ao poder, em 1999, fortaleceu os laços e abriu novas portas para a guerrilha, como a possibilidade de obter armas de parceiros comerciais da Venezuela, incluindo a China, por meio de acordos triangulares usando as exportações venezuelanas de petróleo.

As alegações não param em Caracas: ainda de acordo com o material analisado pelo IISS, as Farc teriam contribuído financeiramente para a eleição de Rafael Correa à presidência do Equador em 2006, no que representou para a guerrilha o auge dos esforços de infiltração na política e território equatorianos. Embora algumas das informações ligando Chávez e Correa às Farc já tivessem sido divulgadas anteriormente, boa parte da documentação está caindo pela primeira vez em domínio público - ainda que oficialmente, o governo colombiano tenha se recusado a confirmar a entrega de informações ao instituto britânico.

Os documentos foram encontrados em arquivos de computador de Reyes, morto em uma operação em 2008 que resultou num rompimento de relações diplomáticas entre Quito e Bogotá por dois anos. O dossiê também mostrou a relação entre o governo Chávez e os guerrilheiros, embora muitas vezes cooperativa, também teve momentos difíceis e de jogo duplo.

Segundo o ISS, Chávez se colocou ao lado do governo colombiano na luta contra as Farc em algumas ocasiões, especialmente quando havia ganhos políticos envolvidos. Em novembro de 2002, o livro reporta que antes de uma reunião entre o então presidente Álvaro Uribe e Chávez, as Farc pediram ao Exército venezuelano permissão para transportar uniformes pelo território da Venezuela. Os militares permitiram, mas depois cercaram o comboio e prenderam oito membros do grupo e os entregaram à Colômbia, permitindo que Chávez informasse Uribe da operação pessoalmente.

Traições como estas, assim como promessas de grandes quantias de dinheiro, geraram uma considerável tensão entre os guerrilheiros e o líder venezuelano.

Farc estudavam treinar membros do partido comunista para ações terroristas
Em uma das descrições mais reveladores da ação das Farc na Venezuela, o instituto explica como a principal agência de inteligência do país, o Serviço de Inteligência Bolivariano, conseguiu alistar as Farc no treinamento de forças de segurança e na realização de ataques terroristas, incluindo bombardeios, em Caracas entre 2002 e 2003.

O grupo também treinou várias organizações pró-Chávez, como as Forças de Liberação Bolivarianas - um grupo paramilitar que atua na fronteira com a Colômbia -, estudou fornecer técnicas de terrorismo urbano para membros do Partido Comunista Venezuelano.

O relatório ainda cita pedidos do governo Chávez para que a guerrilha matasse ao menos dois de seus opositores. As Farc discutiram um desses pedidos em 2006, quando o assessor de segurança Alí Rodríguez Araque pediu para que matar Henry López Sisco, que dirigia a agência de inteligência venezuelana na época. Sisco deixou o país em novembro do mesmo ano.

No mês passado, o presidente venezuelano admitiu pela primeira vez que alguns de seus aliados políticos colaboraram com os guerrilheiros colombianos, mas insistiu que eles o fizeram "pelas nossas costas".

O estudo do ISS, porém, contradiz a afirmação ao apontar um longo histórico de colaboração do próprio Chávez e de seus principais confidentes.

"(A Venezuela viu as Farc) como um aliado que manteria o poder militar americano e colombiano na região controlados pela contra insurgência, ajudando a reduzir as ameaças contra a Venezuela", diz o relatório.

Em outro trecho, o documento relata um encontro secreto em setembro de 2007 entre Chávez e Reyes, quando o presidente prometeu emprestar uma grande quantia às Farc para a compra de armas.

O porta-voz do presidente não respondeu aos pedidos de entrevista. O governo venezuelano afirma que os arquivos de Reyes são fabricações. Em 2008, a Interpol rejeitou a possibilidade de que os documentos tenham sido alterados.

"Pequenos Principes" do Haiti (nao querendo zombar de uma desgraca...)

Não sei por que, mas esta matéria me fez lembrar de um autor, um livro: se estivéssemos em época de concurso de misses, poderíamos dizer:

"Você sempre será responsável por aquilo que cativas..."

Pois é, fomos ser bonzinhos no Haiti (na verdade fazendo o trabalho que americanos e franceses não queriam fazer) e de olho numa cadeira no CSNU (por megalomania obsessiva dos dois maiores caciques da nossa diplomacia) e deu nisso.
Agora aguente-se o prejuízo que virá (não só com gente, mas com drogas, crimes, etc...).
Paulo Roberto de Almeida

Entrada ilegal de haitianos no Brasil preocupa autoridades
Nádia Pontes
Deutsche Welle Brasil, 13/05/2011

No meio da Floresta Amazônica, longe da vigilância oficial, a rota ilegal do tráfico de drogas passou a ser a porta de entrada de haitianos no Brasil. Os imigrantes pagam de 2 a 5 mil dólares para cruzar as fronteiras com a ajuda dos chamados “coiotes”.

“Esses são relatos dos próprios haitianos que entram no país. Eles contratam pessoas que conhecem a rota do tráfico, muitas vezes traficantes. E quando chegam ao território brasileiro, eles pedem o refúgio”, revelou à Deutsche Welle o procurador da República do estado do Acre.

Desde o devastador terremoto no Haiti, em janeiro de 2010, a Justiça brasileira recebeu 1.377 pedidos de refúgio de cidadãos haitianos. Mas nenhum foi concedido. “A política brasileira de refúgio é direcionada àqueles que efetivamente são obrigados a sair de seu país de origem devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política”, esclareceu a nota enviada pelo Ministério da Justiça à Deutsche Welle. Segundo a lei nacional, portanto, os haitianos não se enquadram na condição de refugiado.

Rota da esperança
Depois da catástrofe que abalou o território haitiano, seguida pela epidemia de cólera e a degradação da já precária condição de subsistência naquele país, vários imigrantes passaram a ver no Brasil uma chance de melhoria de vida. A maneira de entrada no território, no entanto, despertou a preocupação das autoridades.

Segundo o procurador Ricardo Gralha Massia, a via ilegal virou uma alternativa porque os haitianos passaram a ser barrados pela Polícia Federal. “Todos os dias chegam haitianos na fronteira do Brasil. Na semana passada, eram mais de 30 tentando entrar no país em Apari, que é o município no Peru que faz fronteira com Assis Brasil, no estado do Acre.”

A rota da fuga passa pela República Dominicana, Panamá, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia. A entrada ilegal em território brasileiro acontece por Tabatinga, no estado do Amazonas, e em Assis Brasil, no Acre. O próximo passo, então, é entrar com o pedido de refúgio. Com o protocolo em mãos, o solicitante obtém o visto provisório por 90 dias, prorrogável até que o caso seja analisado pelo Conare, o Comitê Nacional para Refugiados.

A Justiça brasileira, no entanto, ainda continua analisando os mais de mil casos em andamento, ou seja: esses haitianos prosseguem com uma situação jurídica indefinida. “A resposta do Conare precisa ser mais rápida. O adequado para uma política clara de imigração seria estimular os haitianos a formularem o pedido de ingresso na Embaixada do Brasil. Seria a porta de entrada para o visto de permanência para fins de trabalho, de forma regular”, critica Massia.

Condição legal
O governo brasileiro concedeu residência permanente a 197 haitianos que chegaram ao país desde o ano passado. Depois de duas audiências públicas convocadas na última semana pela Procuradoria da República no Acre para destravar a questão, o Ministério da Justiça informou que os pedidos de refúgio deverão ser convertidos em visto de permanência, e que foram encaminhados ao Conselho Nacional de Imigração, do Ministério do Trabalho.

Professores universitários, dentistas, profissionais especializados formam a lista de haitianos que aguardam a decisão da Justiça para viverem legalmente em solo brasileiro. “As questões humanitárias e a motivação que trazem esses haitianos ao Brasil devem ser levadas em consideração. Há uma postura do Brasil de não deportá-los”, comenta o procurador.

Com o benefício do visto de residência permanente, o imigrante pode solicitar o registro na Polícia Federal e a carteira de identidade para estrangeiros, que garante todos os direitos civis no Brasil. “É possível que nem todos os pedidos que estão sendo analisados sejam liberados. Pessoas com pendências na Justiça não vão obter a residência no Brasil. Enquanto isso, eles estão sendo mantidos no país apoiados pelos governos estaduais e municipais, e as pastorais dos imigrantes, entre outras entidades civis”, esclarece a Ministério brasileiro da Justiça.

A bobagem da semana: jogador portugues de futebol

Não por ser português, e eu não cultivo piadas de português, porque simplesmente acho que nossa população 10 vezes maior dá direito a dez vezes mais o número de idiotas, imbecis, alienados e outros estúpidos involuntários do que jamais existiu em Portugal.
Mas eu tenho horror, mais do que isso, de comentários de jogadores e técnicos de futebol em geral (de alguns comentaristas da mídia também): cada vez que alguns deles começa a falar no rádio que "desta vez não deu, mas da próxima vão fazer um futebol mais ofensivo", ou que "o time não conseguiu engrenar, porque não estava no seu dia", eu juro que desligo logo o rádio, ou mudo de estação, pois acho que não existe coisa pior no mundo -- depois de demagogia de político, claro -- do que comentaristas de futebol, jogadores, técnicos ou radialistas. Horror!
Mas este jogador português, Futre de nome de família, até que não é burro: ele quer salvar o seu time, o futebol português e, de quebra, o país que está quebrado, importando jogadores de futebol da China.
Até que ele teve uma ideia genial: os jogadores brasileiros estão muito bem cotados no mercado, são caros, e até um tanto arrogantes: basta serem contratados por algum timinho europeu que logo começam ir torrar o dinheiro em boates, com meninas de programa (espertas...), carrões vistosos, e outras loucuras mais.
Pensando beM: jogadores chineses de futebol podem não ser nenhuma maravilha, mas devem ser baratos, e se eles atraírem algumas centenas de milhares de turistas chineses para a copa europeia, isso vai ser a salvacão de muito país quebrado.
Quanto a sua sugestão de que sua biografia converta-se numa nova Bíblia, tenho minhas dúvidas, mas até pode ser: todo mundo já conhece a Bíblia, e ele pode ter boas histórias para contar...
Paulo Roberto de Almeida

Portugueses fazem piada da crise após fala de jogador
Josélia Aguiar
Folha de S.Paulo, 12.05.2011

Um festival de piadas assola Portugal em crise, e seu autor involuntário não é um comediante, mas um ex-jogador de futebol.
Paulo Futre, 45, sugeriu numa entrevista há um mês que a solução não só para o time português do Sporting, mas para o país de maneira geral, seria contratar "o melhor jogador chinês".
"Vai (sic) vir charters de chineses", explicou, a uma plateia atônita diante desta e de outras declarações absurdas. "Temos de atrair o mercado asiático. É onde está o dinheiro".
Os chineses, fãs do tal jogador -que ainda seria escolhido-, chegariam aos bandos, ocupariam hotéis, restaurantes e museus, segundo o raciocínio de Futre.
Portugal vive uma séria crise econômica. Enfrenta forte deficit público e acaba de pedir empréstimo à Comissão Europeia e ao FMI.
As declarações tresloucadas de Futre originaram paródias na mídia tradicional e nas redes sociais. Camisetas com suas frases são vestidas nas ruas.
Atento ao fenômeno midiático, o Licor Beirão contratou Futre como garoto-propaganda. Na campanha publicitária, Futre promete "um wok [panela tradicional chinesa] para cada português".
A biografia de Futre, que sairia apenas no final do ano, foi concluída a tempo de ser lançada no próximo final de semana, na Feira do Livro de Lisboa. "Espero que o livro se torne uma Bíblia", disse Futre à Folha.
Ele, que encerrou a carreira em 1998, jogou pela seleção portuguesa e times como Sporting, Porto e Benfica. Também atuou na Espanha, França, Itália e Japão.

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PS.: Agradeço a meu amigo Rolemberg Estevão de Souza o envio desta matéria, que me tinha passado despercebida, a despeito de sua importância fundamental para os rumos do futebol português e mundial... (PRA)

A frase da semana - G. K. Chesterton

A dead thing can go with the stream...
Only a living thing can go against it.

G. K. Chesterton

(Acho que combina com o meu natural contrarianista... PRA)

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Violencia escolar: de quem a culpa?: da "mercantilizacao", ora essa...

Eu tenha certa alergia à burrice, como todo mundo sabe.
Mas tenho mais horror ainda à estupidez voluntária e à desonestidade intelectual.
Somados à pedagogia ambiente, isso pode dar uma mistura explosiva (e imbecilizante).

Acabo de ver uma reportagem num canal de notícias (reputado sério, mas nada impede que ele tenha jornalistas idiotas, também) sobre a "violência na escola".

Um dos professores, provavelmente indelevelmente marcado pela pedagogia freireana -- do supremo idiota educacional Paulo Freire; não confundir com o mestre Gilberto Freyre -- disse que a culpa era da "mercantilização do ensino"...
Uma pedagoga, entrevistada expressamente sobre isso na mesma matéria, confirmou que havia uma tendência à "privatização do ensino", o que poderia explicar esse aumento da violência. Ou seja, os alunos são mal-educados e violentos, não porque os pais não os educam em casa, mas porque a escola pública é ruim, e cada vez a classe média recorre ao ensino pago.
Conclusão lógica: o pequeno delinquente é resultado da nossa sociedade capitalista.

Confesso que não tenho mais paciência para aguentar esse desfilar de imbecilidades, de professores, pedagogas e jornalistas.

Depois entrevistaram a cavalgadura da "professora" que escreveu um livro que considera normal falar e escrever errado, já que o povo fala assim.
Deve ser o efeito de outra cavalgadura que se orgulhava (deve se orgulhar ainda) de não ler livro nenhum. (E para quê?: ele está ganhando dinheiro a rodo dos capitalistas -- todos com cursos universitários, se entende -- para falar meia dúzia de bobagens e três piadas.)

Estou estarrecido, e quase desistindo de escrever e de publicar.
As cavalgaduras ocuparam todos os espaços públicos...

Preciso de um exílio temporário em algumaa ilha do conhecimento.
Vou para algum quilombo de resistência intelectual, para começar o trabalho de reconquista do terreno contra os idiotas que estão soltos por aí...

Paulo Roberto de Almeida

Maquiavel redivivo (e visitando Brasilia): dia 18 de maio, as 19hs (livro Paulo R. Almeida)

Já anunciei aqui o lançamento deste livro que foi publicado enquanto eu passeava pela China:
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
(veja sumário e alguns textos neste link)

Em todo caso, gostaria de convidar os interessados num debate sobre "Maquiavel e a Política Contemporânea", com os cientistas políticos Paulo Kramer e Murillo Aragão, seguido de um coquetel de lançamento do livro,

na Casa Thomas Jefferson da Asa Sul de Brasília
(SEP Sul EQ 706/906, Conjunto B; tel.: 3442-5501; www.thomas.org.br)
na quarta-feira, dia 18 de maio, as 19hs.

O convite da Casa Thomas Jefferson figura aqui,

e o mesmo convite, em formato-texto, está aqui.

Paulo Roberto de Almeida

Bibliomaniacos: onde acomodar tudo isso?

Eu conheço esse problema: sem ser um colecionador de livros (apenas um leitor, comprador, emprestador de bibliotecas), já não sei onde colocar todos os meus livros.
Ao longo da vida, já doei muitos livros (fora aqueles emprestados e nunca devolvidos), mas também tive de comprar um escritório só para acomodar os acréscimos. Ele já está cheio. Será que vou precisar de outro escritório? Ou um maior? Ou uma casa inteira?
Enfim, dilemas de todo leitor compulsivo...
Paulo Roberto de Almeida

Acervos pessoais ''encalham'' em livrarias da cidade
13 de maio de 2011 | 0h 00
Edison Veiga e Flávia Tavares - O Estado de S.Paulo – pág. C10

Há esgotamento inclusive de espaço para guardar bibliotecas particulares de famílias paulistanas, que abrigam preciosidades

Quando se entra naquela livraria de obras antigas, com cheiro de páginas lidas e relidas e títulos que parecem fundamentais só pela imponência da capa de couro, pode-se ter a impressão de que se trata apenas de mais um sebo do centro de São Paulo. O que não se imagina é que naquelas estantes estão décadas de dedicação, investimentos e empenho de colecionadores e bibliófilos em encontrar as obras mais especiais. São as bibliotecas pessoais - que a Livraria Calil, descrita acima, comercializa -, que movimentam um mercado vultoso e internacional.

Raridades. Maristela, em sua livraria no centro de SP: 'Recebi ofertas da Turquia e dos Estados Unidos por algumas coleções, mas preferi não vender. Essas obras devem ficar no Brasil' (foto)

A diferença básica desta livraria para as outras é a preferência por vender bibliotecas pessoais inteiras, sem desmembrá-las - embora haja também obras avulsas nas prateleiras. Ali, estão acervos que valem de US$ 120 mil a US$ 2 milhões. Na verdade, falar em dólar está desatualizado. A compra e a venda de acervos valiosos são agora em euros.

"O mercado está globalizado. Recebi ofertas da Turquia e dos Estados Unidos por algumas coleções, mas preferi não vender. Acho que essas obras devem ficar no Brasil", explica Maristela Calil, herdeira da livraria e hoje sua administradora. Ela explica ainda o que distingue uma biblioteca pessoal de um lote: a biblioteca tem mais de mil volumes.

Entre as coleções mais significativas sob sua tutela está a do próprio pai, Líbano Calil. "Já avaliaram o acervo como o terceiro mais importante do Brasil, atrás do de José Mindlin e da família Safra", diz Maristela. São 15 mil volumes sobre assuntos brasileiros, encaixotados à espera de um comprador. Maristela já tentou vender para os governos federal, estadual e municipal. Sem sucesso. "O diretor da Biblioteca Nacional me disse que compraria se eu encontrasse um patrocinador", espanta-se Maristela. Com a coleção do pai, seriam vendidas as bibliotecas do jurista e agitador cultural Luiz Arrobas Martins, com 14 mil volumes, e do professor José Pedro Galvão de Sousa, com 7 mil. A do ex-prefeito de São Paulo, José Carlos de Figueiredo Ferraz, também está lá, mas seus familiares autorizaram que as obras fossem vendidas separadamente.

Famílias que optam por vender bibliotecas, e não doá-las, acreditam que o trabalho de uma vida inteira do bibliófilo tem valor e merece um preço. Muitas vezes, são famílias tradicionalíssimas, que, por estarem em dificuldades financeiras, preferem não falar. "Como são, em geral, pessoas conhecidas no meio social ou universitário, elas não gostam de ser identificadas para não serem mal interpretadas", afirma Eurico Brandão Júnior, do sebo Brandão. Ele afirma que chega a comprar cinco bibliotecas assim por mês - geralmente com mais de 2 mil exemplares cada. "Paguei R$ 15 mil pela última, que tinha acervo de 3 mil volumes, de História, Sociologia e Filosofia."

Também há quem prefira vender a coleção para instituições de renome, justamente para ter a garantia de que o acervo não se perderá - e ficará bem cuidado. "Minha família decidiu que venderia a biblioteca de 15 mil volumes de meu pai (o crítico literário João Alexandre Barbosa, morto em 2006) ao Instituto Moreira Salles, porque eles demonstram ter um cuidado técnico muito grande", afirma filho, o poeta Frederico Barbosa.

Novos ricos. Já os compradores variam de perfil: podem ser professores universitários, intelectuais, escritores, colecionadores de raridades - os mais fanáticos até checam sistematicamente os obituários dos jornais para ver se algum notório bibliófilo morreu e sua biblioteca entrará no circuito. E, cada vez mais, novos ricos que precisam de uma biblioteca respeitável para as recém-compradas mansões. "Já vendi uma biblioteca a um banqueiro que comprou sem nem ver os livros", lembra Maristela.

Há um esgotamento, inclusive de espaço, nas livrarias. "Para estocar um livro em São Paulo, excluindo a manutenção e a mão de obra, gastam-se mensalmente R$ 0,05 por unidade", explica Gunter Zibell, da livraria Bibliomania.

Líbano Calil passou 50 anos procurando títulos muito específicos, que compusessem um acervo especializado em assuntos brasileiros. A biblioteca está à venda há 17 anos. "Alguém pode considerar esse dinheiro empatado. Um livreiro, como eu, considera que está investido", argumenta Maristela.

Bibliotecas públicas aceitam doações de livros usados
13 de maio de 2011 | 0h 00
Edison Veiga e Flávia Tavares - O Estado de S.Paulo

Maior e mais tradicional biblioteca pública de São Paulo, a Mário de Andrade investiu R$ 123 mil em 2010 na aquisição de novos títulos - no total dos acervos das bibliotecas, a Prefeitura investiu quase R$ 2 milhões. Mas nem tudo o que entra em seus catálogos precisa ser comprado.

Quem quer se desfazer de livros pode procurar as bibliotecas públicas para doar. As obras precisam estar em bom estado - e livres de fungos ou infestação de insetos, que poderiam contaminar toda a biblioteca. Em geral, as instituições recebem o material pessoalmente e fazem uma triagem.

Com a Mário de Andrade, entretanto, o processo é um pouco diferente. Isso "em razão de ser uma das mais procuradas", como informa a administração.

Ali, antes é preciso elaborar a listagem das obras (com título, autor, ano de publicação, edição e editora) e encaminhá-la para bmadesenvcolecoes@prefeitura.sp.gov.br. A mensagem deve ser identificada: nome, sobrenome, cidade e telefone para contato. Em dez dias, a relação é analisada e respondida pela biblioteca. Só então o material aprovado deve ser encaminhado.

Coleção. Assim que o editor e artista gráfico Massao Ohno morreu, no ano passado, sua viúva e amigos passaram a se mexer para que sua biblioteca - cerca de 600 títulos de poesia contemporânea - fosse incorporada pela Mário de Andrade. "Não queria que se transformasse em dinheiro, achava que precisava se tornar público na biblioteca que ele tanto gostava", conta a viúva, Marjorie Sonnenschein.

Outro caso de doação ilustre, um pouco mais antiga, é o da vasta biblioteca de 20 mil volumes do poeta e tradutor Haroldo de Campos, morto em 2003. "A família dele recebeu ofertas para vender para instituições estrangeiras. Mas optou para que permanecesse no Brasil", conta o poeta Frederico Barbosa. Ele se tornou "guardião" do acervo desde 2004, quando a coleção foi doada ao Estado e passou a ficar na Casa das Rosas, na Avenida Paulista.

Livreira dá dicas de como montar uma boa coleção
13 de maio de 2011 | 0h 00
Flávia Tavares - O Estado de S.Paulo

A livreira Maristela Calil dá dicas a quem quer montar uma biblioteca pessoal valiosa, como a de seu pai, Líbano: "Um bom acervo deve ter, obrigatoriamente, obras de referência. Aquelas que estão sempre citadas nas bibliografias de outros livros, porque são ricas conceitualmente".

Um segundo quesito importante é a raridade, a peculiaridade das obras. "Tem livreiro que, sem avaliar o acervo, oferece um preço fechado de R$ 0,50 por livro. Eu faço questão de olhar volume por volume e, se houver uma preciosidade ali, pagar o preço justo por ela."

Por fim, Maristela ressalta que a preservação dos livros custa caríssimo e, por isso, é muito importante que eles estejam bem conservados na hora da venda. "Meu pai passou cinco décadas indo a sebos, formando uma biblioteca. E ela realmente é especial. Quanto vale um trabalho desse?", pergunta a livreira

Los hermanos en guerra comercial: full retaliation now?

Parece que vamos entrar numa "drôle de guerre", como os franceses se referiam à guerra europeia nos seus primeiros oito meses, ou seja, limitada à invasão da Polônia pelos exércitos hitleristas, uma tensão na frente ocidental e amplo acordo entre as duas ditaduras xipófagas, de Hitler e Stalin, que se encarregaram de desmembrar a Polônia.
Entre o Brasil e a Argentina não vai se chegar a tanto, mas continuarão as escaramuças pelos próximos dias. Vai ser gozado assistir à próxima cúpula do Mercosul...
Paulo Roberto de Almeida

Engarrafamento na fronteira
Para retaliar Argentina, Brasil suspende importações de automóveis de todo o mundo
Eliane Oliveira, Janaína Figueiredo (Correspondente) e Aguinaldo Novo (O Globo)

Com a arma apontada para a Argentina, o Brasil suspendeu do processo de licenciamento automático as importações de automóveis prontos de todo o mundo na terça-feira. Com isso, o desembaraço desses produtos, antes imediato, agora ocorrerá em até 60 dias. Foi uma resposta ao protecionismo dos argentinos, que poderão deixar de vender ao mercado brasileiro algo em torno de US$5,2 bilhões ao ano, segundo estimativas de técnicos do governo brasileiro.

Como a medida é considerada uma salvaguarda - prevista na Organização Mundial do Comércio (OMC) -, pelas leis internacionais de comércio a restrição teve de ser estendida a todos os fornecedores, para não ser caracterizada como discriminatória. Além da Argentina, haverá reflexos nas compras de veículos de México, China, Europa, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão, o que pode dar um alívio à balança comercial, tendo em vista o forte crescimento das importações de veículos.

O governo Cristina Kirchner divulgou ontem à noite nota oficial, assinada pela secretária de Indústria, Débora Giorgi, na qual afirma que "a aplicação de licenças não automáticas para o setor de automóveis foi adotada de forma intempestiva e sem aviso prévio, afetando assim 50% do total do comércio bilateral". A Casa Rosada havia recebido na véspera a carta enviada pelo ministro de Indústria e Comércio Fernando Pimentel.


A secretária afirmou que quando a Argentina aplicou, em fevereiro, 200 novas licenças não automáticas, "informou o Brasil dez dias antes do anúncio oficial, e a medida entrou em vigência somente 30 dias depois". Para ela, esse comportamento "atenta contra o diálogo natural entre os sócios majoritários do Mercosul".

Autopeças e vinhos podem ser incluídos
Segundo fontes da secretaria, a Casa Rosada foi informada de demoras na entrada de veículos da Toyota e da Mercedes Benz no Brasil. Para o governo Kirchner, disseram fontes, estão por trás da medida os "poderosos industriais de São Paulo".

Conforme antecipou O GLOBO na semana passada, as autoridades brasileiras estão irritadas com a Argentina, que mantém sob o regime de licença não automática 600 itens, a maioria exportada pelo Brasil. Por isso, decidiram retaliar.

A balança comercial automotiva (veículos e autopeças) brasileira vem se deteriorando: até 2008 era superavitária em US$10 bilhões, mas em 2010 teve déficit de US$6 bilhões. De 2005 até agora, a exportação de veículos passou de 30% para 14% da produção nacional. Segundo o Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex), no primeiro trimestre deste ano as importações de automóveis subiram quase 50%. As compras oriundas da Argentina cresceram 40%; as da Coreia do Sul, 46%; e as da Alemanha, mais de 75%.

O governo tomou a medida, que provocou a retenção de caminhões na fronteira entre os dois países, sem confirmá-la oficialmente. Mas um alto funcionário avisou que, "em princípio", as licenças deixam de ser automáticas para automóveis, dando a entender que, se não houver uma resposta positiva dos vizinhos, outros itens, como autopeças, vinhos e lácteos, podem ser incluídos na nova regra.

Segundo técnicos envolvidos no assunto, até o fim da tarde de ontem, não houve contatos entre autoridades de primeiro escalão dos dois países. Debora Giorgi tentou falar por telefone com Pimentel, que não a atendeu e repassou a ligação à secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres.

Para a Argentina, o superávit de US$4 bilhões registrado pelo Brasil no comércio bilateral confirma a necessidade de manter o protecionismo - motivado pela queda do superávit fiscal, de US$16,8 bilhões em 2009 para US$12 bilhões no ano passado.

Risco de faltar veículos é pequeno
Representantes das montadoras minimizaram o impacto da medida, e alguns disseram ter o compromisso informal do governo de que ela só seria aplicada à Argentina, de onde vêm o Siena (Fiat), o Agile (GM) e o Space Fox (Volks). A Anfavea, que representa as montadoras, diz que a medida não vai interromper as importações, apesar de elevar a burocracia. Sobre um possível prejuízo aos consumidores afirma que, sem o teor oficial da medida, não seria possível avaliar. Para o consultor Luiz Carlos Augusto, da Jato Dynamics do Brasil, esse risco seria pequeno devido à elevada oferta de veículos.

A Abeiva, que reúne as importadoras de veículos, não comentou a decisão. Mas representantes de algumas empresas disseram ter recebido "a garantia" de que as compras de outras regiões não seriam afetadas.

- Fizemos hoje um teste, e só houve mesmo problema na alfândega com a Argentina - disse um empresário.

'Mais de 20 anos sem essa medida'
RENATO BAUMANN

BRASÍLIA. Para o economista Renato Baumann, ex-representante da Cepal no Brasil, as ações para dificultar a importação de carros são "medidas de gaveta". Hoje no Ipea e na UnB, ele alertou para o risco de problemas com outros países, a não ser que a lentidão no desembaraço se aplique, informalmente, só a carros argentinos.

Não é um passo muito grande frear importações do mundo todo apenas para atingir a Argentina?
RENATO BAUMANN: Aparentemente, a medida é para atingir a Argentina, e o governo brasileiro não poderia agir de forma mais direta, para não ferir as normas internacionais de comércio. Há mais de 20 anos não se toma esse tipo de medida de gaveta, em que se misturam decisões administrativas e demora na liberação de mercadorias para limitar importações. Mas acredito que haja algo mais, pois as importações de automóveis, de forma geral, têm crescido bastante nos últimos anos. Seria também uma forma de tampar o ralo na balança comercial.

O governo brasileiro agiu certo em relação aos argentinos?
BAUMANN: O governo argentino não cumpriu o prometido de normalizar o desembaraço das mercadorias brasileiras. Não dá para dizer o que isso pode significar a médio prazo, pois há um componente político novo. É possível até que a medida seja revogada nas próximas horas, pois quanto mais tempo vigorar, maior o impacto.

Como fazer para evitar a ira dos outros países?
BAUMANN: Como é uma medida administrativa, pode significar que o fiscal, lá na ponta, seja orientado a agilizar o desembaraço para veículos de outras nacionalidades, demorando mais com os argentinos. Espero que haja um entendimento, pois se a Argentina decidir retaliar, será o pior que poderá acontecer. (Eliane Oliveira)

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Medida é atentado a diálogo, diz Argentina
Ariel Palacios e Marina Guimarães - CORRESPONDENTES
O Estado de S.Paulo, 13/05/2011

Débora Giorgi, ministra da Indústria do país vizinho, reage e afirma que o Brasil está agindo de "forma intempestiva e sem aviso"

BUENOS AIRES - Em um comunicado emitido na noite de ontem, a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, criticou as medidas brasileiras que dificultam a entrada de automóveis argentinos no Brasil e acusou o Ministério do Desenvolvimento brasileiro de "atentar contra o diálogo natural" dos dois sócios comerciais.

Famosa por suas posições duras em relação ao Brasil, a ministra afirmou que, "com a aplicação de licenças não automáticas para o setor automotivo, o Ministério do Desenvolvimento do Brasil está agindo de forma intempestiva e sem aviso, afetando 50% do comércio bilateral".

A ministra, conhecida como "Senhora Protecionismo", sustentou que ficou sabendo da medida brasileira por meio dos empresários argentinos. "Quando a Argentina aplicou em fevereiro passado 200 posições novas em licenças não automáticas, o governo argentino informou o Brasil dez dias antes do anúncio oficial e a medida só entrou em vigência 30 dias depois."

Ontem a Associação de Fabricantes de Automotores (Adefa) disse que a medida causou surpresa porque não houve nenhuma informação nem para as montadoras no Brasil nem na Argentina, tampouco para o governo.

Débora Giorgi também disse que as medidas "repercutem sobre um setor, como a cadeia automotiva, onde a Argentina possui um déficit crescente, que no primeiro trimestre de 2011 foi de US$ 1 bilhão e duplicou o volume do mesmo período de 2010".

A ministra, autora de várias medidas protecionistas contra produtos brasileiros, afirmou que "esse tipo de comportamento (do ministério) atenta contra o diálogo natural dos dois maiores sócios do Mercosul". "E, fundamentalmente, afeta o compromisso de equilibrar a balança comercial que as duas presidentes assumiram, para conseguir uma industrialização harmônica."

A decisão do governo brasileiro é um duro golpe às montadoras instaladas na Argentina, "meninas dos olhos" do governo de Cristina Kirchner. Analistas consultados pelo Estado em Buenos Aires indicaram que a medida mostraria que a "paciência estratégica" do Brasil com a Argentina, ao longo dos oito anos do governo Lula, teria acabado.

Destino. "O Brasil é o destino por excelência das vendas argentinas de veículos. Por isso, parece que é uma retaliação encoberta", disse ao Estado o economista Mauricio Claverí, da consultoria Abeceb. "Sem dúvida, é a forma de retaliar que mais tem efeito sobre o governo Kirchner."

"Em 2009, quando o Brasil retaliou barreiras argentinas com a aplicação de medidas contra alimentos argentinos, o efeito foi rápido e o governo Kirchner cedeu. No caso das exportações automotivas, que são o "coração" das vendas ao exterior, a resposta deve ser ainda mais rápida." Na sequência, Claverí usou uma expressão tipicamente argentina para dizer que o conflito não chegará a um ponto sem retorno: "La sangre no llegará al río (o sangue não chegará ao rio)".

Em 2010, do total de 457 mil veículos exportados pela Argentina, 370 mil foram enviados ao Brasil, o equivalente a 81% das vendas do setor ao exterior. Em dinheiro, foram US$ 5,3 bilhões, de um total de US$ 6,584 bilhões exportados ao Brasil.

Segundo a Adefa, as exportações de automóveis já estão sendo barradas na fronteira por causa do licenciamento não automático anunciado pelo governo brasileiro. "Algumas empresas já foram afetadas pela medida. Elas contavam com licenças automáticas quando fizeram os embarques, mas ao chegar à fronteira as autoridades brasileiras não liberaram a entrada", disse o secretário executivo da Adefa, Fernando Canedo.

Canedo não quis identificar queis seriam as empresas atingidas, mas a Agência Estado apurou com fontes do mercado que seriam a Mercedes-Benz, a Toyota e a General Motors. "Hoje são apenas três, mas nos próximos dias serão todas as montadoras", disse a fonte.

PARA ENTENDER
Ao longo da última década, o setor automotivo argentino saiu do inferno em direção ao paraíso. O fundo do poço ocorreu em 2002, em meio à maior crise econômica, social e financeira da Argentina, quando a produção automotiva foi de apenas 90 mil unidades, a marca mais baixa desde 1960. Mas desde 2003, o setor começou uma recuperação persistente, em grande parte por causa do mercado brasileiro. Em 2010, o país produziu 724 mil unidades.

Uruguai se diz cansado de barreiras
Ariel Palacios - BUENOS AIRES
O Estado de S.Paulo, 13/05/2011

O governo do presidente uruguaio José Mujica, cansado das constantes violações do espírito de livre comércio do Mercosul, propôs aos dois principais sócios - o Brasil e a Argentina - que os países do bloco avisem com 15 dias de antecedência as eventuais aplicações de medidas protecionistas.

No pedido, que misturou ironia com frustração pela falta de cumprimento das normas de livre comércio, o governo do Uruguai destacou que se trata de "15 dias úteis antes de sua entrada em vigência" e os anúncios não somente deveriam incluir as tradicionais licenças não automáticas, mas também "medidas de qualquer tipo".

Para evitar que em Buenos Aires e Brasília os governos interpretem de forma incorreta o pedido uruguaio, o diretor nacional de Indústrias, Sebastián Torres, detalhou as barreiras que deveriam ser avisadas com antecedência: "As cotas, as disposições sobre etiquetados, os requisitos técnicos, medidas sanitárias ou fitossanitárias, a exigência da apresentação de qualquer tipo de certificado para autorizar uma importação e critérios-valor".

Em fevereiro passado o Uruguai foi pego de surpresa por uma saraivada de medidas protecionistas do governo argentino, que aplicou barreiras a 585 produtos fabricados no país. Segundo o Uruguai, "a aplicação de medidas não alfandegárias impede o livre comércio".

O governo uruguaio quer que o Mercosul defina o assunto até a cúpula que o bloco do Cone Sul realizará em Assunção, Paraguai, nos dias 23 e 24 de junho.

Nessa cúpula - que promete ser agitada pelo ressurgimento dos conflitos comerciais -, os países-sócios celebrariam de forma atrasada os 20 anos da criação do Mercosul, que completou duas décadas em março passado.

De quebra, Hugo Chávez promete insistir com a aprovação da entrada da Venezuela como sócio pleno. A entrada oficial do país foi aprovada pelos parlamentos do Uruguai, Argentina e Brasil. Ainda depende do Senado paraguaio, onde a oposição - que tem a maioria - se recusa a aceitar o país no bloco.

Nixon sobre a China: resenha de livro no NYTimes

Henry Kissinger on China
By MAX FRANKEL
The New York Times Review of Books, May 13, 2011

ON CHINA
By Henry Kissinger
Illustrated. 586 pp. The Penguin Press. $36.

Henry Kissinger was not only the first official American emissary to Communist China, he persisted in his brokerage with more than 50 trips over four decades, spanning the careers of seven leaders on each side. Diplomatically speaking, he owns the franchise; and with “On China,” as he approaches 88, he reflects on his remarkable run.

To the degree that Washington and Beijing now understand each other, it is in good measure because Kissinger has been assiduously translating for both sides, discerning meaning in everything from elliptical jokes to temper tantrums. At every juncture, he has been striving to find “strategic concepts” that could be made to prevail over a history of conflict, mutual grievance and fear. As President Nixon’s national security adviser, then secretary of state for Nixon and Gerald Ford, and since 1977 as a private interlocutor extraordinaire, Kissinger has been unwaveringly committed to surmounting what he considers the legitimate Chinese resentment of American interference in their internal affairs and Americans’ distaste for China’s brutal suppression of ethnic, religious and political dissent.

The surprise buried in his lumbering review of Sino-American relations is that the much ballyhooed Nixon-Kissinger journeys to China in 1971-72 turned out to have been the easy part. “That China and the United States would find a way to come together was inevitable given the necessities of the time,” he writes. “It would have happened sooner or later whatever the leadership in either country.” Both nations were exhausted from war (Vietnam, clashes on the Soviet border) and domestic strife (antiwar protests in Nixon’s case, the Cultural Revolution in Mao’s). Both were determined to resist Soviet advances and so could quickly agree to make common cause. The menace of Moscow took the leaders’ minds off confrontations in Vietnam and Taiwan and quelled their ritual denunciations, whether of international imperialism or Communism. They decided that the adversary of my adversary was my pal, and for more than a decade that was fruitfully that.

But that was a different time. China finally escaped from Mao Zedong’s mad doctrine of perpetual revolution and from the enfeebling nostrums of central planning; it became an industrial powerhouse. The Soviet Union and its empire collapsed. And the United States, feeling supreme, began promoting democracy with missionary zeal even as it grew dangerously addicted to foreign oil, goods and credit. The radical shift in the balance of power turned China and the United States into mutually dependent economic giants, but it left them without an overarching strategic design of partnership.

It is to demonstrate the need for such a design that Kissinger reviews the ups and downs of Sino-American relations, reaching even into ancient Chinese history to define national characteristics. (He finds it apt that the Chinese like to play “wei qi,” or “go,” a protracted game of encirclement while we play chess, looking for control of the center and total victory.) Kissinger draws heavily on much recent scholarship and on notes of his trips to Beijing to celebrate the pragmatism of Mao’s successors. He says they are content to remain within their restored historic frontiers, willing to await a peaceful reunion with Taiwan, and most determined to continue their remarkable economic growth and to eradicate China’s still widespread poverty. He is less confident about America’s capacity to sustain a steady foreign policy, noting that “the perpetual psychodrama of democratic transitions” is a constant invitation to other nations to “hedge their bets” on us.

As students of Kissinger well know, he has long considered democracy to be a burden on statecraft — both the clamor of democracy within the United States and our agitations for democracy in other lands.

He recalls yet again his agonies in office in the 1970s, when he thought that American demonstrations during the Vietnam War could have misled Mao into believing that a “genuine world revolution” was at hand. He argues that the “destruction” of Nixon in the Watergate crisis, the withdrawal of Congressional support for Vietnam, new curbs on presidential war powers and the “hemorrhaging” of intelligence secrets all combined to undermine the quasi alliance with China, making America appear ineffectual against the Soviets. He is glad that Jimmy Carter did not let his human rights concerns upset relations with China and that Ronald Reagan’s cheerful personality overcame the “almost incomprehensible contradictions” of his dealings with Beijing even as he promoted the idea of an independent Taiwan.

The severest test of the quasi alliance, of course, was the brutal suppression of democratic strivings in Tiananmen Square in 1989. That violent crackdown also tested Kissinger’s tolerance for the assertion of American values in foreign relations.

Looking back, he believes everything depends on circumstances: “There are instances of violations of human rights so egregious,” he writes, “that it is impossible to conceive of benefit in a continuing relationship; for example, the Khmer Rouge in Cambodia, and the genocide in Rwanda. Since public pressure shades either into regime change or a kind of abdication, it is difficult to apply to countries with which a continuous relationship is important for American security. This is especially the case with China, so imbued with the memory of humiliating intervention by Western societies.”

And so Kissinger admires the way President George H. W. Bush, “with skill and elegance,” walked the “tightrope” of punishing China with sanctions after Tiananmen while simultaneously apologizing with private letters and special emissaries. President Bill Clinton tried applying pressure for a time, Kissinger notes, but was shown no gratitude when he wisely relented; the Chinese “did not view the removal of a unilateral threat as a concession, and they were extraordinarily touchy regarding any hint of intervention in their domestic affairs.” And President George W. Bush, despite his “freedom agenda,” earns Kissinger’s praise for overcoming “the historic ambivalence between America’s missionary and pragmatic approaches,” by means of “a sensible balance of strategic priorities.”

If America’s preference for democratic governance is made the main condition for progress on other issues with China, Kissinger concludes, “deadlock is inevitable.” Those who battle to spread American values deserve respect. “But foreign policy must define means as well as objectives, and if the means employed grow beyond the tolerance of the international framework or of a relationship considered essential for national security, a choice must be made.” That choice “cannot be fudged,” he insists, even as he attempts to protect his flanks with a fudge of his own: “The best outcome in the American debate would be to combine the two approaches: for the idealists to recognize that principles need to be implemented over time and hence must be occasionally adjusted to circumstance; and for the ‘realists’ to accept that values have their own reality and must be built into operational policies.”

Still, in the end, Kissinger votes for national security über alles. Scattered through his history are tributes to American values and commitments to human dignity, which may indeed sometimes drive our policies beyond calculations of the national interest. Exactly that happened, in fact, after “On China” went to press, when President Obama ventured into Libya. Kissinger was perhaps surprised when that humanitarian intervention and bid for regime change failed to evoke a Chinese veto at the United Nations. But in Asia now more than Europe, he argues, “sovereignty is considered paramount,” and any attempt “from the outside” to alter China’s domestic structure “is likely to involve vast unintended consequences.” Besides, as he used to insist while practicing realpolitik in Washington, the cause of peace is also a moral pursuit.

This central theme of Kissinger’s experience and counsel must be distilled from the sometimes ­meandering and largely familiar history he tells in “On China.” Only in its last pages does he discuss the essential question of future Sino-American relations: With no common enemy to bind them, what will keep the peace and promote collaboration and trust between the world’s major ­powers?

Kissinger addresses this question by looking to the past, a memorandum written by a senior official of the British Foreign Office, Eyre Crowe, in 1907. Crowe argued that it was in Germany’s interest to “build as powerful a navy as she can afford” and that this would itself lead to “objective” conflict with the British Empire, no matter what German diplomats said or did. There is today a “Crowe school of thought” in the United States, Kissinger observes, which sees China’s rise “as incompatible with America’s position in the Pacific” and therefore best met with pre-emptively hostile policies. He perceives growing anxieties in both societies and fears they are exacerbated by Americans who claim that democracy in China is a prerequisite for a trusting relationship. He warns that the implied next cold war would arrest progress in both nations and cause them to “analyze themselves into self-fulfilling prophecies” when in reality their main competition is more likely to be economic than military.

Indulging his habitual preference for diplomatic architecture, Kissinger insists that the common interests the two powers share should make possible a “co-evolution” to “a more comprehensive ­framework.” He envisions wise leaders creating a “Pacific community” comparable to the Atlantic community that America has achieved with Europe. All Asian nations would then participate in a system perceived as a joint endeavor rather than a contest of rival Chinese and American blocs. And leaders on both Pacific coasts would be obliged to “establish a tradition of consultation and mutual respect,” making a shared world order “an expression of parallel national aspirations.”

That was indeed the mission of the very first Kissinger journey to Beijing. And while he does not quite say so, he invests his hopes in a concert of nations represented, of course, by multiple Kissingers.

Max Frankel, a former executive editor of The Times, covered the Nixon-Kissinger journey to China in 1972.

China ou India: onde voce preferiria morar?

Eu, pessoalmente, em nenhum dos dois.
Existem vários motivos, mas apontaria apenas dois: gosto de livrarias com amplo estoque de livros de todas as origens, variedades, tipos de literatura, não apenas daquela onde alguém precisa dizer o que eu posso ou não ler; também gosto de sociedades sem nenhum tipo de divisão social, pelo menos quanto aos méritos, origens e filiações de algum tipo, sociedades abertas às oportunidades e aos talentos. Apenas isto...
Paulo Roberto de Almeida

Quality of Life: India vs. China
Amartya Sen
THE NEW YORK REVIEW OF BOOKS, MAY 12, 2011

1.
The steadily rising rate of economic growth in India has recently been around 8 percent per year (it is expected to be 9 percent this year), and there is much speculation about whether and when India may catch up with and surpass China’s over 10 percent growth rate. Despite the evident excitement that this subject seems to cause in India and abroad, it is surely rather silly to be obsessed about India’s overtaking China in the rate of growth of GNP, while not comparing India with China in other respects, like education, basic health, or life expectancy. Economic growth can, of course, be enormously helpful in advancing living standards and in battling poverty. But there is little cause for taking the growth of GNP to be an end in itself, rather than seeing it as an important means for achieving things we value.
It could, however, be asked why this distinction should make much difference, since economic growth does enhance our ability to improve living standards. The central point to appreciate here is that while economic growth is important for enhancing living conditions, its reach and impact depend greatly on what we do with the increased income. The relation between economic growth and the advancement of living standards depends on many factors, including economic and social inequality and, no less importantly, on what the government does with the public revenue that is generated by economic growth.
Some statistics about China and India, drawn mainly from the World Bank and the United Nations, are relevant here. Life expectancy at birth in China is 73.5 years; in India it is 64.4 years. The infant mortality rate is fifty per thousand in India, compared with just seventeen in China; the mortality rate for children under five is sixty-six per thousand for Indians and nineteen for the Chinese; and the maternal mortality rate is 230 per 100,000 live births in India and thirty-eight in China. The mean years of schooling in India were estimated to be 4.4 years, compared with 7.5 years in China. China’s adult literacy rate is 94 percent, compared with India’s 74 percent according to the preliminary tables of the 2011 census.
As a result of India’s effort to improve the schooling of girls, its literacy rate for women between the ages of fifteen and twenty-four has clearly risen; but that rate is still not much above 80 percent, whereas in China it is 99 percent. One of the serious failures of India is that a very substantial proportion of Indian children are, to varying degrees, undernourished (depending on the criteria used, the proportion can come close to half of all children), compared with a very small proportion in China. Only 66 percent of Indian children are immunized with triple vaccine (diphtheria/pertussis/tetanus), as opposed to 97 percent in China.
Comparing India with China according to such standards can be more useful for policy discussions in India than confining the comparison to GNP growth rates only. Those who are fearful that India’s growth performance would suffer if it paid more attention to “social objectives” such as education and health care should seriously consider that notwithstanding these “social” activities and achievements, China’s rate of GNP growth is still clearly higher than India’s.
2.
Higher GNP has certainly helped China to reduce various indicators of poverty and deprivation, and to expand different features of the quality of life. There is every reason to want to encourage sustainable economic growth in India in order to improve living standards today and in the future (including taking care of the environment in which we live). Sustainable economic growth is a very good thing in a way that “growth mania” is not.
GNP per capita is, however, not invariably a good predictor of valuable features of our lives, for those features depend also on other things that we do—or fail to do. Compare India with Bangladesh. In income, India has a huge lead over Bangladesh, with a GNP per capita of $1,170, compared with $590 in Bangladesh, in comparable units of purchasing power. This difference has expanded rapidly because of India’s faster rate of recent economic growth, and that, of course, is a point in India’s favor. India’s substantially higher rank than Bangladesh in the UNHuman Development Index (HDI) is largely due to this particular achievement. But we must ask how well India’s income advantage is reflected in other things that also matter. I fear the answer is: not well at all.
Life expectancy in Bangladesh is 66.9 years compared with India’s 64.4. The proportion of underweight children in Bangladesh (41.3 percent) is lower than in India (43.5), and its fertility rate (2.3) is also lower than India’s (2.7). Mean years of schooling amount to 4.8 years in Bangladesh compared with India’s 4.4 years. While India is ahead of Bangladesh in the male literacy rate for the age group between fifteen and twenty-four, the female rate in Bangladesh is higher than in India. Interestingly, the female literacy rate among young Bangladeshis is actually higher than the male rate, whereas young women still have substantially lower rates than young males in India. There is much evidence to suggest that Bangladesh’s current progress has a great deal to do with the role that liberated Bangladeshi women are beginning to play in the country.
What about health? The mortality rate of children under five is sixty-six per thousand in India compared with fifty-two in Bangladesh. In infant mortality, Bangladesh has a similar advantage: it is fifty per thousand in India and forty-one in Bangladesh. While 94 percent of Bangladeshi children are immunized withDPT vaccine, only 66 percent of Indian children are. In each of these respects, Bangladesh does better than India, despite having only half of India’s per capita income.
Of course, Bangladesh’s living conditions will benefit greatly from higher economic growth, particularly if the country uses it as a means of doing good things, rather than treating economic growth and high per capita income as ends in themselves. It is to the huge credit of Bangladesh that despite the adversity of low income it has been able to do so much so quickly; the imaginative activism of Bangladeshi NGOs (such as the Grameen Bank, the pioneering microcredit institution, and BRAC, a large-scale initiative aimed at removing poverty) as well as the committed public policies of the government have both contributed to the results. But higher income, including larger public resources, will obviously enhance Bangladesh’s ability to achieve better lives for its people.
3.
One of the positive things about economic growth is that it generates public resources that the government can devote to its priorities. In fact, public resources very often grow faster than the GNP. The gross tax revenue, for example, of the government of India (corrected for price rise) is now more than four times what it was just twenty years ago, in 1990–1991. This is a substantially bigger jump than the price-corrected GNP.
Expenditure on what is somewhat misleadingly called the “social sector”—health, education, nutrition, etc.—has certainly gone up in India. And yet India is still well behind China in many of these fields. For example, government expenditure on health care in China is nearly five times that in India. China does, of course, have a larger population and a higher per capita income than India, but even in relative terms, while the Chinese government spends nearly 2 percent of GDP (1.9 percent) on health care, the proportion is only a little above one percent (1.1 percent) in India.
One result of the relatively low allocation of funds to public health care in India is that large numbers of poor people across the country rely on private doctors, many of whom have little medical training. Since health is also a typical example of “asymmetric information,” in which the patients may know very little about what the doctors (or “supposed doctors”) are giving them, even the possibility of fraud and deceit is very large. In a study conducted by the Pratichi Trust—a public interest trust I set up in 1999—we found cases in which the ignorance of poor patients about their condition was exploited so as to make them pay for treatment they didn’t get. This is the result not only of shameful exploitation, but ultimately of the sheer unavailability of public health care in many parts of India. The benefit that we can expect to get from economic growth depends very much on how the public revenue generated by economic growth is expended.
4.
When we consider the impact of economic growth on people’s lives, comparisons favor China over India. However, there are many fields in which a comparison between China and India is not related to economic growth in any obvious way. Most Indians are strongly appreciative of the democratic structure of the country, including its many political parties, systematic free elections, uncensored media, free speech, and the independent standing of the judiciary, among other characteristics of a lively democracy. Those Indians who are critical of serious flaws in these arrangements (and I am certainly one of them) can also take account of what India has already achieved in sustaining democracy, in contrast to many other countries, including China.
Not only is access to the Internet and world opinion uncensored and unrestricted in India, a multitude of media present widely different points of view, often very critical of the government in office. India has a larger circulation of newspapers each day than any other country in the world. And the newspapers reflect contrasting political perspectives. Economic growth has helped—and this has certainly been a substantial gain—to expand the availability of radios and televisions across the country, including in rural areas, which very often are shared among many users. There are at least 360 independent television stations (and many are being established right now, judging from the licenses already issued) and their broadcasts reflect a remarkable variety of points of view. More than two hundred of these TV stations concentrate substantially or mainly on news, many of them around the clock. There is a sharp contrast here with the monolithic system of newscasting permitted by the state in China, with little variation of political perspectives on different channels.
Freedom of expression has its own value as a potentially important instrument for democratic politics, but also as something that people enjoy and treasure. Even the poorest parts of the population want to participate in social and political life, and in India they can do so. There is a contrast as well in the use of trial and punishment, including capital punishment. China often executes more people in a week than India has executed since independence in 1947. If our focus is on a comprehensive comparison of the quality of life in India and China, we have to look well beyond the traditional social indicators, and many of these comparisons are not to China’s advantage.
Could it be that India’s democratic system is somehow a barrier to using the benefits of economic growth in order to enhance health, education, and other social conditions? Clearly not, as I shall presently discuss. It is worth recalling that when India had a very low rate of economic growth, as was the case until the 1980s, a common argument was that democracy was hostile to fast economic growth. It was hard to convince those opposed to democracy that fast economic growth depends on an economic climate congenial to development rather than on fierce political control, and that a political system that protects democratic rights need not impede economic growth. That debate has now ended, not least because of the high economic growth rates of democratic India. We can now ask: How should we assess the alleged conflict between democracy and the use of the fruits of economic growth for social advancement?
5.
What a democratic system achieves depends greatly on which social conditions become political issues. Some conditions become politically important issues quickly, such as the calamity of a famine (thus famines tend not to occur at all when there is a functioning democracy), while other problems—less spectacular and less immediate—provide a much harder challenge. It is much more difficult to use democratic politics to remedy undernourishment that is not extreme, or persistent gender inequality, or the absence of regular medical care for all. Success or failure here depends on the range and vigor of democratic practice.1 In recent years Indian democracy has made considerable progress in dealing with some of these conditions, such as gender inequality, lack of schools, and widespread undernourishment. Public protests, court decisions, and the use of the recently passed “Right to Information” Act have had telling effects. But India still has a long way to go in remedying these conditions.
In China, by contrast, the process of decision-making depends largely on decisions made by the top Party leaders, with relatively little democratic pressure from below. The Chinese leaders, despite their skepticism about the values of multiparty democracy and personal and political liberty, are strongly committed to eliminating poverty, undernourishment, illiteracy, and lack of health care; and this has greatly helped in China’s advancement. There is, however, a serious fragility in any authoritarian system of governance, since there is little recourse or remedy when the government leaders alter their goals or suppress their failures.
The reality of that danger revealed itself in a catastrophic form in the Chinese famine of 1959–1962, which killed more than 30 million people, when there was no public pressure against the regime’s policies, as would have arisen in a functioning democracy. Mistakes in policy continued for three years while tens of millions died. To take another example, the economic reforms of 1979 greatly improved the working and efficiency of Chinese agriculture and industry; but the Chinese government also eliminated, at the same time, the entitlement of all to public medical care (which was often administered through the communes). Most people were then required to buy their own health insurance, drastically reducing the proportion of the population with guaranteed health care.
In a functioning democracy an established right to social assistance could not have been so easily—and so swiftly—dropped. The change sharply reduced the progress of longevity in China. Its large lead over India in life expectancy dwindled during the following two decades—falling from a fourteen-year lead to one of just seven years.
The Chinese authorities, however, eventually realized what had been lost, and from 2004 they rapidly started reintroducing the right to medical care. China now has a considerably higher proportion of people with guaranteed health care than does India. The gap in life expectancy in China’s favor has been rising again, and it is now around nine years; and the degree of coverage is clearly central to the difference.2 Whether India’s democratic political system can effectively remedy neglected public services such as health care is one of the most urgent questions facing the country.3
6.
For a minority of the Indian population—but still very large in actual numbers—economic growth alone has been very advantageous, since they are already comparatively privileged and need no social assistance to benefit from economic growth. The limited prosperity of recent years has helped to support a remarkable variety of lifestyles as well as globally acclaimed developments of Indian literature, music, cinema, theater, painting, and the culinary arts, among other cultural activities.
Yet an exaggerated concentration on the lives of the relatively prosperous, exacerbated by the Indian media, gives an unrealistically rosy picture of the lives of Indians in general. Since the fortunate group includes not only business leaders and the professional classes but also many of the country’s intellectuals, the story of unusual national advancement is widely and persistently heard. More worryingly, relatively privileged Indians can easily fall for the temptation to focus just on economic growth as a grand social benefactor for all.
Some critics of the huge social inequalities in India find something callous and uncouth in the self-centered lives and inward-looking preoccupations of a relatively prosperous minority. My primary concern, however, is that the illusions generated by those distorted perceptions of prosperity may prevent India from bringing social deprivations into political focus, which is essential for achieving what needs to be done for Indians at large through its democratic system. A fuller understanding of the real conditions of the mass of neglected Indians and what can be done to improve their lives through public policy should be a central issue in the politics of India.
This is exactly where the exclusive concentration on the rate of GNP growth has the most damaging effect. Economic growth can make a very large contribution to improving people’s lives; but single-minded emphasis on growth has limitations that need to be clearly understood.

Notes:
1. I have discussed this issue more fully in " How Is India Doing? ," The New York Review , December 16, 1982; in (jointly with Jean Drèze) Hunger and Public Action(Clarendon Press/Oxford University Press, 1989); and in Development as Freedom(Knopf, 1999).
2. I discuss this in "The Art of Medicine: Learning from Others," The Lancet , January 15, 2011.
3. I am grateful to Lincoln Chen, Jean Drèze, and A.K. Shiva Kumar for helpful discussion of this and related issues.

Passaportes Diplomaticos: um assunto nao concluido

O Itamaraty, visivelmente, esperava dar um basta nessa história chata de passaportes diplomáticos indevidamente concedidos a quem nunca deveria, ou merecia, ter recebido. Expediu uma nota que em síntese quis dizer o seguinte: "Olha, aqueles passaportes foram concedidos na administração anterior, segundo regras então em vigor. O que passou, passou, vamos olhar para a frente".
Acho que o Ministério Público Federal não vai gostar da postura, e vai exigir cancelamento e devolução dos passaportes, pois mesmo na gestão anterior, a lei não permitia tal concessão.
Acho que a solução mais correta seria esta: se os personagens contemplados com passaportes diplomáticos não pretendem devolvê-los, basta o Itamaraty fazer uma circular, distribuída à Polícia Federal e a todos os países com os quais o Brasil tem relações comunicando que os passaportes diplomáticos de números DA xxxxxxx (listar todos) foram cancelados e não apresentam mais validade.
A rigor, se os detentores não dispõem de passaportes comuns, nem precisaria comunicar aos demais países: basta inscrevê-los na lista de saída da Polícia Federal: no aeroporto, em caso de viagem, os passaportes seriam imediatamente recolhidos e os indigitados (não preciso lembrar os nomes) nem poderiam embarcar. Tampouco poderiam receber passaportes comuns da Polícia Federal enquanto não entregassem os diplomáticos.
As simple as that...
Paulo Roberto de Almeida

POLÍTICA
O Itamaraty rebaixado
Editorial - Folha de S. Paulo
12 de Maio de 2011

Alheio a protestos pela moralidade pública, o Itamaraty anuncia que manterá a validade dos passaportes diplomáticos concedidos a familiares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no apagar das luzes de seu governo.
Os documentos, que conferem a seus portadores tratamento especial em viagens internacionais, foram distribuídos a quatro filhos e três netos do então presidente.
Tudo sob o manto de um inexplicável "princípio de excepcionalidade" e da justificativa de que assim mandava o "interesse do país".
É do interesse do país, ao contrário, impor limites à cultura do privilégio na política brasileira.
A reação negativa da opinião pública, uma vez revelada por esta Folha a benesse indevida, levou o Itamaraty a modificar, no início do ano, as regras para a emissão de passaportes diplomáticos. Justificativas formais passaram a ser exigidas daqueles que pleiteiam o documento.
Seus nomes, uma vez aprovada a distinção, têm de ser publicados no "Diário Oficial da União".
Apesar do reconhecimento tácito do erro anterior, a chancelaria do governo Dilma Rousseff decide agora desafiar um pedido formal de cancelamento dos superpassaportes, apresentado pelo Ministério Público Federal. Argumenta que os diplomas foram conferidos antes da alteração nas regras e que, portanto, não cabem questionamentos à motivação ou à legalidade da decisão.
É evidente a motivação antirrepublicana da concessão, pelo ex-ministro Celso Amorim, de privilégios à família do chefe.
E a legalidade de seu gesto é, sim, questionável, mesmo segundo os frouxos parâmetros em vigor durante o governo a que serviu.
Nunca houve interesse público - critério exigido pelas antigas normas para a emissão dos superpassaportes. Só interesse privado.
Ao mesmo tempo, seria razoável esperar que a entrada em vigor de novas normas obrigasse o Ministério das Relações Exteriores a rever os documentos recentemente concedidos pela pasta.
Nada disso será feito, jacta-se o Itamaraty. A Justiça, provocada pelo Ministério Público, precisa então obrigá-lo a voltar atrás e, assim, recompor a reputação republicana de que sempre desfrutou.

Transcrito no blog do Noblat: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2011/05/11/o-itamaraty-rebaixado-editorial-379619.asp

Diplomatizzando fora do ar: sabotagem da Al-Qaeda? Ou foi da CIA?

Sem paranoias, mas como alguns podem ter percebido -- e mais de um me escreveu dizendo que não conseguia acessar meu blog, este aqui -- o Diplomatizzando ficou "fora do ar" durante quase 24hs.
Não sei o que pode ter acontecido, e onde ele se escondeu, mas o fato é que esse modesto instrumento de informação, comunicação e análises permaneceu inacessível desde o final da tarde de ontem, 12 de maio.
Talvez já fosse uma preparação para a Sexta-Feira 13 de maio, hoje mesmo, dia em que tudo pode acontecer.
O fato é que vários posts (não sei quantos exatamente, pois não faço cópias preventivas, confiando nos bons serviços da Google) foram eliminados, perdidos em algum escaninho do grande cyberspace.
Se eu fosse paranóico, eu diria que foi sabotagem do pessoal do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, pois eu tinha postado uma nota desmentindo o Secretário da Justiça americano, que afirmava que os EUA consideraram prender e processar Osama Bin-Lade, em lugar de executá-lo simplesmente. Claro, era uma brincadeira bem humorada, mas esse pessoal leva a vida muito a sério.

O fato é que parece que estou de volta... (a confirmar).
Mas meus postos desde o dia 11 foram extraviados.
Quem tiver posts meus dos últimos dois dias e quiser me mandar, eu agradeço.
Teve muita notícia sobre o fabuloso Mercosul, sobre economia brasileira e sobre os temas habituais deste espaço inocente... (mas tem gente que não acha).
Paulo Roberto de Almeida

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Complemento em 13/05/2011, as 21:17hs:

Tão misteriosamente como tinham desaparecido, os postos surripiados por algum gênio do mal da Google apareceram de volta, aparentemente na posição certa.
Nunca vou saber o que houve, provavelmente, pois se foi o Google, a CIA ou a turma do Bin-Laden quem sabotou o meu blog, eles nunca vão confessar, mesmo submetidos a water-boarding...
Enfim, não vou fazer isso, mas eu só queria entender...
Paulo Roberto de Almeida

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Nada nos une, tudo nos separa... (ops, acho que era ao contrario...)

Teve um presidente argentino que disse essa famosa frase, muito anos atrás:
"Todo nos une, nada nos separa!"
Bonito...
Na prática, a coisa vinha crescendo, sob os olhos compreensivos, lenientes, incompreensivelmente tolerantes das autoridades brasileiras, que achavam que precisavam "ajudar" os hermanos, que passavam por dificuldades, coitados...
O fato é que em lugar de reforçar o Mercosul, isso só desmantelava as bases do bloco comercial, que virou uma peça de ficção (de má qualidade, um fake de Borges...).

Mas a solução protecionista adotada é a pior possível: só contribui para aumentar ainda mais o descolamento dos dois países das regras do sistema multilateral de comércio, muito embora os principais violadores sejam mesmo nossos vizinhos...
Agora vai haver certo burburinho pela imprensa, depois as autoridades vão se sentar, as máximas autoridades vão colocar panos quentes, prometer juras de amor e a vida seguirá, como sempre...
Paulo Roberto de Almeida

Discretamente, Brasil começa a retaliar a Argentina
Sergio Leo
Valor Econômico, 12/05/2011

Comércio exterior: Alfândegas foram orientadas para retirar do canal automático autopeças importadas

Discretamente, o governo brasileiro começou nesta semana a adotar retaliações comerciais à Argentina, em represália à retenção de produtos brasileiros nas alfândegas do país vizinho, segundo informou uma autoridade ligada ao assunto. As aduanas receberam orientação para retirar do canal automático autopeças importadas pelo Brasil, provocando pequenos atrasos, como sinal ao governo vizinho das medidas mais severas que poderão ser adotadas, caso não se resolvam as dificuldades encontradas por exportadores brasileiros nas alfândegas do sócio no Mercosul.

Ontem, a ministra da Indústria argentina, Débora Giorgi, telefonou ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, mas foi atendida pela secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres. Giorgi queria dizer ao ministro que não recebeu a carta que Pimentel, na véspera, disse ter enviado ao governo argentino, pedindo o fim das retenções de mercadorias nas alfândegas. A carta foi reenviada por fax.

Falava-se ontem, no governo, na possibilidade de enviar a Buenos Aires o secretário-geral do Ministério do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, para obter um compromisso firme do governo argentino pelo fim das medidas erráticas de bloqueio na entrada de bens brasileiros. Apesar de as retenções afetarem uma parcela ainda pequena do intenso comércio bilateral, elas ameaçam a sobrevivência, por prejuízos imprevistos com o bloqueio das vendas aos argentinos, de empresas médias e pequenas, como as do setor de chocolates. Outros produtos afetados pelas barreiras, que assumem a forma de exigências contraditórias da burocracia nas aduanas, são eletrodomésticos da linha branca e máquinas agrícolas.

Débora Giorgi mandou recados ao governo brasileiro, para que se evitasse a disputa pela imprensa, como interpretam os argentinos as queixas feitas por autoridades brasileiras nos últimos dias. O governo claramente tem usado essas declarações para reforçar as mensagens frustradas pela via diplomática. "O ideal é não tomar medidas", comentava ontem um graduado funcionário do governo. A informação de que, na prática, já começaram as dificuldades para autopeças argentinas na aduana brasileira não foi confirmada por outras fontes ligadas ao assunto, que afirmavam haver disposição para negociar até terça-feira, data da reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que deve discutir a estratégia para lidar com as medidas do país vizinho.

Os argentinos já receberam, nos últimos dias, recados de pelo menos dois ministérios do Brasil sobre a "iminência" da retaliação. Um dos fatores que irritam o governo brasileiro é a falta de resposta argentina para o pedido de uma reunião ministerial bilateral, destinada a remover os problemas. O pedido foi feito na primeira semana de abril pelo secretário-geral do Itamaraty, Ruy Nogueira, que queria uma reunião dos ministérios de Indústria e Relações Exteriores. Os argentinos fizeram questão de incluir os ministérios da Fazenda e Economia e, desde então, não fixaram uma data para o encontro.

O governo brasileiro reconhece que as exportações brasileiras crescem em praticamente todos os setores, e o saldo comercial em favor do Brasil, de US$ 1,3 bilhão até abril, já é quase 140% maior que o do mesmo período do ano passado. Havia a decisão, na cúpula do governo, de discutir e resolver o conflito discretamente. Há consenso em Brasília de que as ações protecionistas estão ligadas ao período eleitoral e se destinam também a minimizar os efeitos da fuga de capitais no país vizinho, que chega a US$ 1 bilhão por dia, nas estimativas mais alarmistas. Nesta semana, Débora Giorgi foi recebida como heroína em um evento da União Industrial Argentina (UIA), que congrega representantes dos produtores locais beneficiados pelo bloqueio aos importados.

O fracasso dos contatos diplomáticos e o descumprimento das promessas de "fast track" (ação rápida) para a liberação dos produtos brasileiros levaram, porém, as autoridades do Brasil a mudar de tom. Pois, para obter dividendos políticos, o governo argentino está, afinal, criando áreas de atrito entre o governo e o setor privado brasileiros, avalia um graduado assessor do governo.

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Editorial do Estadão:

Já viria tarde
Editorial - O Estado de S.Paulo
12 de maio de 2011

Termina no fim de semana o prazo que o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, considera necessário para que o governo da Argentina diga como vai resolver os problemas que tem causado à entrada de produtos brasileiros no país, com a imposição de diferentes restrições, cuja aplicação em muitos casos fere as regras do comércio internacional. Se, até lá, as restrições que prejudicam as exportações de centenas de produtos fabricados no Brasil não tiverem sido eliminadas, o governo diz que poderá adotar medidas de retaliação contra produtos argentinos destinados ao mercado brasileiro.

Caso decida aplicar tais medidas, o governo brasileiro estará apenas respondendo na mesma moeda ao tratamento dado pelo governo da presidente Cristina Kirchner aos produtos brasileiros vendidos para a Argentina - mas estará agindo com grande atraso, pois são antigas, crescentes e, quase sempre, irregulares as barreiras argentinas. Não há, porém, nenhuma garantia de que as autoridades de Brasília agirão com o rigor necessário para conter os excessos protecionistas do governo Kirchner.

Na área de comércio exterior, o governo brasileiro tem sido excessivamente tolerante com o argentino. Desrespeitando as regras da união aduaneira em que, pelo menos no papel, se transformou o Mercosul, o que implica a livre circulação de mercadorias entre os países que compõem o bloco, a Argentina eliminou as licenças automáticas para a entrada no país de uma lista de centenas de produtos, a maior parte dos quais o Brasil exporta para o país vizinho. Depois, estabeleceu uma espécie de preço mínimo para a entrada de outros produtos e criou taxas antidumping na entrada de outro conjunto de mercadorias. A empresa de consultoria econômica e de comércio exterior Abeceb, de Buenos Aires, calcula que 24% dos produtos brasileiros que entram na Argentina, ou praticamente um quarto do total, estão sujeitos a algum tipo de restrição.

É estranho que medidas desse tipo - aceitas pela Organização Mundial do Comércio (OMC), reconheça-se - sejam aplicadas não somente aos produtos originários de países de fora do Mercosul, mas também a mercadorias de países do próprio bloco comercial. Essas restrições enfraquecem ainda mais o já periclitante bloco comercial, que, por causa das muitas exceções às regras da união aduaneira, não justifica, na prática, essa condição. Mesmo assim, o governo brasileiro concordou com as restrições argentinas.

O caso fica ainda mais esquisito quando se observa que, não contente em descumprir as regras da união aduaneira, a Argentina deixa de obedecer também às normas da OMC. As regras internacionais determinam que as licenças não automáticas devem ser concedidas no prazo máximo de 60 dias, mas exportadores brasileiros se queixam de que seus produtos têm de aguardar até 180 dias para obter a autorização de entrada no mercado argentino. Por isso, filas de caminhões carregados com produtos brasileiros formam-se na fronteira, causando grande prejuízos para o exportador.

Em fevereiro, em Buenos Aires, o ministro Fernando Pimentel acertou com a ministra da Indústria da Argentina, Débora Giorgi, que, a partir daquele momento, a concessão da licença não automática para importação não excederia o prazo legal. Pelo visto, o acerto não está sendo respeitado. Pimentel informou que enviou cartas a sua colega argentina - conhecida pelo rigor com que trata a questão, alegando que há muitos anos o governo de seu país "tem sido excessivamente permissivo e frouxo com o Brasil" - pedindo providências para o cumprimento do que foi acertado há meses.

Os exportadores estão inquietos e se queixam do "grau de tolerância" do governo com relação às barreiras argentinas. O ministro do Desenvolvimento não se abala. "Queremos defender nossos exportadores", disse ao Estado. Mas ressalvou: "Queremos que a Argentina adote práticas condizentes com a relação que temos com eles, mas não podemos esquecer que o saldo positivo (do comércio bilateral) é para nós". Para concluir, afirmou: "Temos sempre que dar um crédito de confiança ao governo argentino". Será que ainda é possível que a resposta não venha?

EUA dizem que não queriam executar Bin Laden

Mentira!
A intenção era aquela mesma, embora eles tenham considerado outras opções, inclusive essa de prender e processar o aparentado fonográfico do presidente americano (ou estadounidense, como diriam alguns anti-imperialistas de carteirinha).
Eu conto como foi a reunião do Conselho de Segurança Nacional, que decidiu pela execução de Bin Laden. Foi assim:

O Secretário de Segurança Nacional (cujo nome é mantido secreto por razões de segurança) abriu a reunião dizendo isto:
" -- Bem pessoal, agora que a gente já localizou o Gerônimo naquela casona da família Abott, num buraco perdido daquele país do qual gostamos tanto, precisamos decidir o que fazer com ele. As opções, basicamente, são duas: executar no ato, de conformidade com a decisão presidencial tomada em 14 de setembro de 2011, ou prendê-lo, trazer para nosso resort caribenho e submetê-lo a julgamento, com inevitável condenação a morte (precisamos ainda escolher o método: se overdose, injeção letal, churrasquinho, gravata de juta ou fuzilamento, para o que teremos talvez de convidar o pessoal dos efeitos especiais de Hollywood). Quais são as opiniões?
" -- Senhor Secretário, eu acho que essa segunda opção vai ser complicada. Veja bem: vamos ter de trazer o Gerônimo sob forte escolta, com meios extraordinários, numa fase de constrangimentos orçamentários; depois, vamos dar início ao julgamento e aquela praia não vai ter condições de receber os milhares de jornalistas do mundo inteiro que vão ficar ancorados em navios de cruzeiro, com todos os seus equipamentos, num stress insuportável para nossos boys daquele ressort, que já encontram limitações de água para suas piscinas; aí teríamos de transferir o julgamento para algum estádio de super-bowl, o que também vai ser um problema, pois teria de ser suficientemente grande, e precisaríamos controlar os nossos próprios candidatos a vingadores particulares, com mobilização de muitas tropas de segurança; e depois não vai ter hot-dog para todo mundo num estádio superlotado. Acho que vai ser difícil...
" -- Está bem; manda fuzilar o sujeito e não se fala mais nisso."

As simple as that...
Pelo roteiro: Paulo Roberto de Almeida

OPERAÇÃO DOS SEALS
Estados Unidos dizem que não queriam executar Bin Laden
12/05/2011

'Se houvesse a possibilidade de uma rendição factível, isso teria acontecido', disse o secretário de Justiça dos EUA

A operação que resultou na morte de Osaman bin Laden era uma “missão de matar ou capturar”. A afirmação foi feita nesta quinta-feira, 12, pelo secretário norte-americano de Justiça, Eric Holder, que ressaltou ainda que os EUA não tinham como objetivo principal assassinar o terrorista.

Em entrevista à BBC, Holder disse também que a rendição de Bin Laden teria sido aceita pelos norte-americanos. “Se a possibilidade existisse, se houvesse a possibilidade de uma rendição factível, isso teria acontecido”, afirmou.

Ainda de acordo com o secretário de Justiça dos EUA, a principal preocupação da missão era minimizar os riscos para os oficiais da Navy Seals, a força especial norte-americana responsável por matar Osama bin Laden.

Fotos de Bin Laden morto
A ação dos oficiais da Seals foi considerada “adequada” por Holder, que ressaltou também que as leis internacionais permitem que comandantes inimigos sejam alvos de operações.

Após o governo dos EUA decidir não divulgar as imagens de Bin Laden morto, a CIA ofereceu mostrar as fotos a membros de comissões do Congresso norte-americano. O senador republicano James Inhofe foi o primeiro a ter acesso às imagens e as descreveu como “pavorosas”, embora tenha ressaltado que elas não deixam dúvidas de que o corpo é mesmo de Osama bin Laden.

Ignorancia economica tambem floresce em NY: Prefeito Bloomberg como um perfeito idiota

A gente custa a crer que pessoas perfeitamente educadas, com grande experiência na vida pública, possam ser tão estúpidas como elas as vezes aparecem. Mas isso acontece, mesmo em NY, cidade sofisticada, cosmopolita, que deveria ter uma "classe dirigente" (ugh!) supostamente esclarecida e bem informada...
Pois não é o que o prefeito de NY criou uma reserva de mercado para uma única marca de automóvel como padrão obrigatório para taxis?
Ainda estou para encontrar, no nosso mundinho subdesenvolvido, medida tão estúpida quanto essa.
Claro, sabemos que certas concorrências dirigidas, no sistema brasileiro de licitações públicas, fazem exatamente isso, mas se trata de corrupção pura e simples.
Em NY se trata de estupidez mesmo...
Paulo Roberto de Almeida

The Road to Taxi Serfdom
by Robert P. Murphy
Mises Daily, May 12, 2011

One of the more interesting recent stories of government absurdity is New York City mayor Michael Bloomberg's decree that starting in 2013, the Nissan NV200 minivan will become the official taxi of the city. Over the next five years, all other models will be phased out.

In addition to illustrating the corrupting effects of political power, the episode underscores the economic problems of government ownership of roads. Densely populated cities would be incredibly more pleasant with a free market in roads and taxis.

Agora vocês já sabem que taxi vão pegar quando desembarcarem em NY a partir de 2013...

A Senadora acha que dinheiro nasce em arvore (ou que o Tesouro o fabrica...)

Eu sempre me surpreendo -- devo ser um ingênuo -- com a formidável cultura econômica de deputados e senadores.
Vejam (ou leiam) bem o que disse essa senadora, da base governista obviamente, sobre o custo triplicado da energia paraguaia de Itaipu para os bolsos brasileiros:

Relatora do projeto e ex-diretora financeira de Itaipu, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que não haverá impactos no bolso dos brasileiros. “Não vai impactar tarifa porque o Tesouro brasileiro vai pagar.”

Ela deve achar que o Tesouro cria dinheiro, dá de mamar para ele, e depois entrega aos paraguaios, quando esse dinheiro fica grande, belo e forte. Ou que ele recolhe nos galhos das árvores, como se fossem frutos maduros.
Esse é o Congresso que temos...
Paulo Roberto de Almeida

Brasil vai pagar o triplo por energia de Itaipu
Por Gabriela Guerreiro
Folha de S.Paulo, 12/05/2011

O Senado aprovou ontem o acordo entre Brasil e Paraguai que triplica o valor pago pelo governo brasileiro ao país vizinho pela energia da hidrelétrica da usina de Itaipu não utilizada pelos paraguaios. O projeto amplia os valores que estão estabelecidos no Tratado de Itaipu, firmado pelos dois países. A aprovação ocorre quatro dias antes de a presidente Dilma Rousseff realizar visita oficial ao Paraguai. Por pressão do Palácio do Planalto, líderes governistas se articularam para aprovar o projeto a tempo de Dilma levar a “boa notícia” ao presidente paraguaio, Fernando Lugo.

Com maioria folgada no Senado, os governistas aprovaram o texto depois de mais de cinco horas de debates- mesmo com diversos protestos de senadores do DEM, PSDB e PPS, os principais partidos de oposição. Por se tratar de projeto de decreto legislativo, o texto entra em vigor logo depois da sua publicação- sem a necessidade de ser sancionado pelo Executivo. Com a mudança, o Brasil vai elevar de 5,1 para 15,3 o fator de multiplicação aplicado aos valores estabelecidos no Tratado de Itaipu para os pagamentos por cessão de energia não utilizada no Paraguai.

Na prática, a mudança de cálculo multiplica por três o valor gasto pelo governo brasileiro para financiar a energia produzida em Itaipu. Segundo a oposição, o valor de US$ 120 milhões pagos anualmente pelo governo ao Paraguai vai subir para próximo de US$ 360 milhões. “Consumidores e contribuintes serão claramente afetados por esse aumento”, disse o senador Itamar Franco (PPS-MG). Relatora do projeto e ex-diretora financeira de Itaipu, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou que não haverá impactos no bolso dos brasileiros. “Não vai impactar tarifa porque o Tesouro brasileiro vai pagar.”