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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
Venezuela: a caminho de uma "ucranizacao"? Pouco provavel - Le Monde
Socialismo é barbárie - Luiz Felipe Ponde (FSP)
LUIZ FELIPE PONDÉ
FOLHA DE S.Paulo, 24/02/2014
A esquerda está em pânico porque estava acostumada a dominar o debate público
Se eu pregar que todos que discordam de mim devem morrer ou ficarem trancados em casa com medo, eu sou um genocida que usa o nome da política como desculpa para genocídio. No século 20, a maioria dos assassinos em massa fez isso.
O Brasil, sim, precisa de política. Não se resolve o drama que estamos vivendo com polícia apenas. Mas me desespera ver que estamos na pré-história discutindo ideias do "século passado". Tem gente que ainda relaciona "socialismo e liberdade", como se a experiência histórica não provasse o contrário. Parece papo das assembleias da PUC do passado, manipuladoras e autoritárias, como sempre.
O ditador socialista Maduro está espancando gente contra o socialismo nas ruas da Venezuela. Ele pode? Alguns setores do pensamento político brasileiro são mesmo atrasados, e querem que pensemos que a esquerda representa a liberdade. Mentira.
A maioria de nós, pelo menos quem é responsável pelo seu sustento e da sua família, não concorda com o socialismo autoritário que a "nova" esquerda atual quer impor ao país. A esquerda é totalitária. Quer nos convencer que não, mas mente. Basta ver como reage ao encontrar gente inteligente que não tem medo dela.
Ninguém precisa da esquerda para fazer uma sociedade ser menos terrível, basta que os políticos sejam menos corruptos (os da esquerda quase todos foram e são), que técnicos competentes cuidem da gestão pública e que a economia seja deixada em paz, porque nós somos a economia, cada vez que saímos de casa para gerar nosso sustento.
Ela, a esquerda, constrói para si a imagem de "humanista", de superioridade moral, e de que quem discorda dela o faz porque é mau. Ela está em pânico porque estava acostumada a dominar o debate público tido como "inteligente" e agora está sendo obrigada a conviver com gente tão preparada quanto ela (ou mais), que leu tanto quanto ela, que escreve tanto quanto ela, que conhece seus cacoetes intelectuais, e sua história assassina e autoritária.
Professores pautados por esta mentira filosófica chamada socialismo mentem para os alunos sobre história e perseguem colegas, fechando o mercado de trabalho, se definindo como os arautos da justiça, do bem e do belo.
A esquerda nunca entendeu de gente real, mas facilmente ganha os mais fragilizados com seu discurso mentiroso e sedutor, afirmando que, sim, a vida pode ser garantida e que, sim, a sobrevivência virá facilmente se você crer em seus ideólogos defensores da "violência criadora".
Ela sempre foi especialista em tornar as pessoas dependentes, ressentidas, iludidas e incapazes de cuidar da sua própria vida. Ela ama a preguiça, a inveja e a censura.
Recomendo a leitura do best-seller mundial, recém publicado no Brasil pela editora Agir, "O Livro Politicamente Incorreto da Esquerda e do Socialismo", escrito pelo professor Kevin D. Williamson, do King's College, de Nova York. Esta pérola que desmente todas as "virtudes" que muita gente atrasada ou mal-intencionada no Brasil está tentando nos fazer acreditar mostra detalhes de como o socialismo impregnou sociedades como a americana, degradou o meio ambiente, é militarista (Fidel, Chávez, Maduro), e não deu certo nem na Suécia. O socialismo é um "truque" de gente mau-caráter.
As pessoas, sim, estão insatisfeitas com o modo como a vida pública no Brasil tem sido maltratada. Mas isso não faz delas seguidores de intelectuais e artistas chiques da zona oeste de São Paulo ou da zona sul do Rio de Janeiro.
A tragédia política no Brasil está inclusive no fato de que inexistem opções partidárias que não sejam fisiológicas ou autoritárias do espectro socialista. Nas próximas eleições teremos poucas esperanças contra a desilusão geral do país.
E grande parte da intelligentsia que deveria dar essas opções está cooptada pela falácia socialista, levando o país à beira de uma virada para a pré-história política, fingindo que são vanguarda política. O socialismo é tão pré-histórico quanto a escravatura.
Mas a esquerda não detém mais o monopólio do pensamento público no Brasil. Não temos mais medo dela.
Venezuela: como o poder chavista corrompeu eleicoes e fraudou a politica - Pedro Doria
Pedro Doria - Editor Executivo do Jornal O Globo
Quando o domingo de eleição chegou, eu já havia ouvido de um dos ministros do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) seus anseios; havia conversado com demógrafos, tinha as últimas pesquisas de opinião de cor. Entendia a distribuição geográfica e social dos votos de Henrique Caprilles e do presidente. Havia assistido a comícios de ambos os candidatos, todos incrivelmente cheios, todos otimistas. Naquela manhã, qualquer um poderia encontrar uma pesquisa para seu gosto: vitória folgada de um, vitória folgada do outro. As duas pesquisas com maior histórico de acerto em pleitos passados davam uma vantagem ligeira para a oposição.
Passei uma boa parte do dia em Petare, maior favela da capital. Ali, Caprilles havia sido eleito governador de Miranda pouco tempo antes.
(Pausa: erro comum a respeito de Venezuela. Não é 'pobre vota chavismo' e 'rico vota oposição'. Muitos ricos ganharam seus Humvees e BMWs por conta da política bolivariana; vi mais carros de alto luxo em uma semana de Caracas do que em cinco anos de São Paulo ou em um ano de Vale do Silício. Na mesma toada, o chavismo piora a vida de muitos pobres. Mais sobre isso à frente.)
Mais de uma vez assisti, em Petare, a voto de cabresto. Daqueles escancarados. De o presidente da mesa acompanhar o eleitor à urna "para ensiná-lo". Duas, três, quatro. Em uma das vezes, filmei. Também escancaradamente. Eu, um repórter estrangeiro, com credencial pendurada no pescoço, o iPhone travado à frente, sem disfarce. Neste caso, era um fiscal do PSUV que ajudava a senhorinha. Nem ligou. O que estava fazendo lhe era tão natural que não parecia errado. Alguém está filmando? E daí? O vídeo, publicado no site do Globo, foi trending topics na Venezuela por uma semana e tanto.
Quando saíram as pesquisas de boca de urna apuradas até as 13h, todas apontavam vantagem ligeira de Caprilles. A turma do PSUV se trancou em silêncio, nenhum jornalista conseguia acesso ao mais reles assessor. A da oposição, por sua vez, vivia uma ansiedade de que, nem acreditam, mas parece estar próximo. Havia a possibilidade de uma eleição histórica. Já à noite, na sede do CNE, os boletins começaram a demorar. Decidi com alguns companheiros rumar para o comitê Caprilles. Se Chávez fosse reeleito, 'mas de lo mismo', tudo como dantes; por outro lado, haveria história.
Aí veio o telefone: 'Gana Chávez', me informou um colega, repórter de um diário caraquenho, com suas boas fontes no CNE. A vantagem seria apertada, o anúncio ainda demoraria uma hora. Twittei, passei a notícia para o site. E meu motorista estava chorando. Ele acreditara numa vitória Caprilles. Era otimismo só o dia todo. Agora, tinha todos os motivos do mundo para chorar. Sua filha: onze anos. Viviam em um bairro pobre. A escola pública mais próxima de sua casa era excelente. Mas, lá, a menina não conseguia vaga. Por quê? Porque o pai não andava de vermelho, não fazia o serviço do partido. Uma vitória de Caprilles, para ele, era vaga naquela escola. Uma de Chávez era 'más de lo mismo', era tudo como dantes. Para a menina, seis anos de Chávez a levavam numa escola ruim até quase o fim da adolescência. Aquela notícia era uma pequena tragédia pessoal. Sua educação seria pior. Suas oportunidades de chegar à faculdade, piores. Seu futuro era permanecer onde estavam seus pais. E o homem chorava seu vazio.
Quando a manhã do dia de eleição fechou para Caprilles, a máquina bolivariana entrou em ação. Motoqueiros, carros e ônibus foram às ruas em todo o país, na direção dos lugares onde o chavismo era mais forte. Lá, o voto não é obrigatório. E o movimento tem uma capacidade ímpar de mobilização. Os homens e mulheres do partido começaram a bater à porta. 'Já votou?', 'Então venha, Chávez conta com vc.' Fazer o quê? Foram. Seções escolhidas ficaram abertas até muito além do horário e filas ainda se formavam depois das 17h, outras seções fecharam com o rigor da lei.
Cada um daqueles votos depositados em favor de Chávez existiu.
O país estava, como está, rachado. Cindido ao meio. No tempo de Chávez vivo, uma vitória estreita seria sempre impossível para a oposição. Porque vitória estreita a máquina conseguia virar na força bruta. Só que a crise econômica está pior. Será que a margem seria ainda estreita? E Chávez não está mais vivo. De que adianta? Maduro ainda vive o primeiro anos de muitos no mandato. Um Golpe governista? Talvez. Um impeachment? Com o atual Congresso, impossível. Que nem se fale do Supremo. Uma queda por fadiga de material? Talvez. Mas com que formato? Quem assume?
À distância, cada dia desses, me bate uma certa angústia. É muito barra pesada ver em cada esquina o retrato de Chávez ou de Bolívar. O culto à imagem de um país soviético. A truculência dos motoqueiros de vermelho. Os carros de luxo na rua. O altíssimo índice de latrocínios na capital. A falta de papel higiênico no supermercado. A multa para quem consome luz em excesso. Os apagões.
Quem acha que o Brasil do PT parece a Venezuela do PSUV não tem a mais vaga ideia do que aquele pobre país se tornou.
Edmar Bacha e os precos $urreais do Brasil: muito simples para resolver, nao vai dar...
O único pequeno problema, pequenino, mas gigantesco, é que essas mudanças simplesmente não vão acontecer.
Não existe político, de centro, de direita, de extrema direita, conservador, ou de esquerda (como todos são) capaz de resolver o nó tributário e de gastos públicos, no Brasil. Simplesmente não existe.
Repito em maiúsculas: NENHUM ESTADISTA, POR MAIS CAPAZ, SERIA CAPAZ DE RESOLVER O IMBROGLIO EM QUE NOS METEMOS, POR FORÇA DE UMA CONSTITUIÇÃO ESQUIZOFRENICA, E DE MENTALIDADES AINDA MAIS ESQUIZOFRENICAS.
Os impasses são de tal tamanho que só uma crise de proporções monumentais poderia nos obrigar a reformar o monstro que foi criado no Brasil, antes do PT, e aperfeiçoado e prostituído pelo PT.
Como esse desastre não virá, continuaremos a patinar no pântano da mediocridade.
Desculpem ser tão pessimista, mas não vejo saídas. Simplesmente não vejo saídas. Apenas ajustes cosméticos que não vão resolver nossos problemas fundamentais.
E estou apenas falando da economia, terreno no qual sou moderadamente pessimista.
Se eu fosse falar de educação, aí não tem jeito: sou absolutamente pessimista. Vamos continuar a caminhar para o brejo e para a total mediocridade no campo do ensino. Estamos simplesmente regredindo, e essa obra pertence sim ao PT, inteiramente ao PT, já que até Paulo Renato estávamos tentando acertar em algumas coisas (fora as universidades que são totalmente irreformáveis).
Paulo Roberto de Almeida
Venezuela: um banho de sangue em preparacao? Nao vai ser como a Ucrania, vai ser pior...
Com essas mortes, uma troika europeia simplesmente deu um ultimatum ao presidente: marque eleições para sua saída. Ele até marcou, mas foi "renunciado" antes pelo Parlamento, que finalmente se decidiu a evitar mais mortes, afastando um boneco de Putin.
Na Venezuela, os manifestantes -- pacíficos, ou armados apenas de paus e pedras -- lutam não apenas contra todo o aparelho repressivo das forças policiais e militares, como também são atingidos por balas disparadas por mercenários, snipers, esbirros do regime, que também existiam na Ucrânia.
Mas, eles não podem contar com a divisão do Parlamento e sequer, muito menos, totalmente inexistente, a pressão dos países vizinhos, que vão assistir calados ao massacre de populares.
Não tenho nenhuma dúvida: um banho de sangue se aproxima. A população decente da Venezuela pagará um alto preço por protestar pacificamente contra a máfia de assassinos totalitários que se apossou do poder.
Para nossa vergonha, o Brasil permanecerá calado ante os crimes.
Raras vezes senti vergonha do meu país: uma delas foi durante a ditadura, quando me auto-exilei no exterior.
Esta pode ser outra.
Paulo Roberto de Almeida
In Venezuela, Middle Class Joins Protests
UE-Brasil-Mercosul: estranhando arranjos comerciais estranhos; muito estranho
Paulo Roberto de Almeida
Dilma estranha contestação da UE a incentivos para indústria brasileira
Por Redação, com agências internacionais - de Bruxelas
Venezuela: entre tantos motivos para protestar, justamente o direito deprotestar - Francisco Toro
By FRANCISCO TORO
New York Times, February 24, 2014
Yet none of these competing explanations capture what’s unique about this latest outpouring of anger. Venezuela’s protests are, in a way, self-referential: Faced with a government that systematically equates protest with treason, people have been protesting in defense of the very right to protest.
The crisis started on Feb. 4, when a group of student activists in the Andean city of San Cristóbal took to the streets to protest the crime wave ravaging their campus. The Police Department’s failure to respond to the sexual assault of a first-year student sent students out en masse to demand that the state protect them.
The government’s response was a brutal police crackdown, not against the rape suspect, but against the student protesters. The security forces sprayed the protesters with tear gas; two students were arrested. The next day, a larger demonstration hit the streets of San Cristóbal to protest the previous day’s violence, and student activists in a second city, Maracaibo, joined them in solidarity, only to be harshly beaten and tear-gassed by the National Guard in return. Fifty students were wounded on Day 2.
As the cycle of protests, repression and protests-against-repression spread, the focus of protest began to morph. What was at stake, the students realized, was the right to free assembly.
Repression, in Venezuela, comes not only in the form of tear gas and rubber bullets. The government has also mobilized its sprawling propaganda apparatus — newspapers and radio stations, half a dozen TV stations, hundreds of websites — in a concerted campaign of vilification to demonize the protest leaders as a shadowy fascist cabal in cahoots with American imperialists.
The claim is outlandish, yet its ceaseless repetition reveals that to the Venezuelan government, all dissent is treason. Such a regime has little trouble justifying the use of violence against its opponents.
It’s striking that the government has now settled on “fascists” as the favored epithet to attack dissenters. It seems as if President Nicolás Maduro can’t finish a sentence without denouncing a fascist. The irony appears to be lost on Mr. Maduro, who seems to have forgotten that one of the cornerstones of actual fascism is the refusal to recognize the legitimacy of dissenting opinions.
It’s this intolerance of opposing views, and violent repression, that Venezuela’s students are now mobilized against. Today, after 13 deaths, 18 alleged cases of torture and over 500 student arrests, the protest movement has snowballed into a nationwide paroxysm of anger that puts the government’s stability in question.
The protests’ lack of structure has given them resilience, but also an anarchic edge. There is no single leader in a position to give the movement strategic direction. Its favored protest tactic — the improvised barricade to isolate given neighborhoods from the outside world — appears self-defeating at best, as some of these barricades have led to violence.
The government’s response, however, has been grossly disproportionate — ranging from an almost inexhaustible supply of tear gas and plastic bullets to the use of armored personnel carriers, tanks and paramilitary shock troops on motorcycles. At one point, the Venezuelan Air Force had its Russian-built Sukhoi fighter jets circle above San Cristóbal to cow rock-throwing kids.
The challenge now is to mold the great indignation of the last few weeks into a coherent, nimble, organized political organization able to stand up for all Venezuelans’ basic rights. Henrique Capriles, the leader of Venezuela’s moderate opposition, has made his pitch. In a speech to a large rally in Caracas last Saturday, Mr. Capriles, flanked by high-profile student leaders, made an impassioned call for an end to nighttime protests, roadblocks and other tactics liable to court violence.
Few outside the rally heard him, however, because government pressure ensured that no broadcast media carried coverage of the event: one more reason to believe the government is invested in a strategy of escalation.
Hugo Chávez was never shy about goading the opposition into a fight. He understood that confrontation was the best way to rally his hard-core supporters while consolidating autocratic control over society. Mr. Maduro, his chosen successor, certainly absorbed that lesson.
But Mr. Chávez also had an instinctive feel for the limits of such tactics and never engaged in repression on this scale. It’s that politician’s grasp of the pitfalls of going too far, too fast that seems lacking in Mr. Maduro. What’s clear, though, is that Venezuela’s students will not stand by passively while basic human rights are flouted. As their protest chant has it:
“No way! No way!
I’m not going to take
The Cuban-style dictatorship
You’re shoving in my face.”
Francisco Toro is the founder of the political website Caracas Chronicles.