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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 10 de julho de 2018

Luta armada no Brasil: depoimento de um quase combatente (PRA)

Por que designei este trabalho de "A luta armada no Brasil: depoimento de um quase combatente"? Ele é a base do trabalho posterior, sobre a experiência da luta armada no Brasil (nr. 2595), mas o "quase combatente" expressa efetivamente o que estava na linha do tempo naquela conjuntura (final dos anos 1960). Resolvi sair do Brasil antes que me impedissem de viajar, e passei sete anos num autoexílio dedicado basicamente aos estudos (graduação e mestrado, início do doutoramento) e algumas outras atividades paralelas sobre as quais escreverei um dia.
O trabalho abaixo é o primeiro testemunho pessoal sobre essa trajetória não planejada.
Ele pode ser lido no seguinte link: http://www.academia.edu/37006010/A_luta_armada_no_Brasil_depoimento_de_um_quase_combatente

Paulo Roberto de Almeida

Hi Paulo Roberto, 
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Fim da Unasul, fim do lulopetismo diplomático: seria real? - PRAlmeida

Na apresentação à compilação que efetuei de alguns trabalhos meus –  poucos, fui seletivo – sobre o que chamei de "lulopetismo diplomático", e colocada à disposição dos leitores com este título: 
Apogeu e declínio do lulopetismo diplomático
(disponível neste link: https://www.academia.edu/s/e421c22bd9/miseria-da-diplomacia-apogeu-e-declinio-do-lulopetismo-diplomatico)
eu perguntava o seguinte: 
    Treze anos de misérias diplomáticas: estaria o Brasil vacinado?

Creio sinceramente que não. Grande parte da academia, e algumas partes da própria diplomacia profissional parecem achar que a tal de "ativa e altiva" era a melhor diplomacia que o dinheiro pode comprar (ou roubar). Muitos suspiram de saudade em relação a essa estupidez geográfica chamada "Sul Global", imaginando que um país "periférico" como o Brasil só poderia mesmo praticar essa burrice da chamada "diplomacia Sul-Sul". Alguns, não sei se ingênuos, desinformados, ou simplesmente de má-fé acham que agora passamos a olhar só para o Norte, esperando as diretrizes desse monstro metafísico chamado "Consenso de Washington". 
Mas, a desocupação da sede da Unasul pelo governo pouco leninista de Lenin Moreno, no Equador, prometer encerrar com a triste trajetória desse outro avatar bolivariano que foi a Unasul, uma invenção original do lulopetismo para escapar da "tutela do império", e logo dominada, desviada e dominada pelos petrodólares chavistas para cumprir um triste papel de linha auxiliar do Foro de S. Paulo, essa emanação do Partido Comunista Cubano, orquestrada servilmente pelos companheiros alinhados do Brasil para servir como uma espécie de Cominform do castrismo enquanto durou a aventura dos ineptos e corruptos.
Ainda há muita coisa a ser feita para limpar o entulho totalitário deixado pelos êmulos do neobolchevismo latino-americano.  Mas já é alguma coisa.
Reproduzo aqui o sumário dessa minha compilação e a sua introdução escrita rapidamente no primeiro semestre deste ano, mais exatamente em fevereiro.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10 de julho de 2018

Apogeu e declínio do lulopetismo diplomático

Índice geral

Treze anos de misérias diplomáticas: estaria o Brasil vacinado? , 9

1.     Epitáfio do lulopetismo diplomático , 15
2.     O Itamaraty e a diplomacia em tempos não convencionais , 19
3.     Do lulopetismo diplomático a uma política externa profissional , 29
4.     O renascimento da política externa , 37
5.     Política externa e política econômica no Brasil pós-PT , 51
6.     O que faria o Barão hoje, se vivo fosse? , 57
7.     Auge e declínio do lulopetismo diplomático , 65
8.     O lulopetismo diplomático: um experimento exótico , 85
9.     O Itamaraty e a nova política externa brasileira , 91
10.   A política externa e a diplomacia no século XXI , 109
11.   Crimes econômicos do lulopetismo na frente externa , 123
12.   Uma visão crítica da política externa: a da SAE-SG/PR , 131
13.   Depois da diplomacia companheira: o que vem pela frente? , 153
14.   A diplomacia na construção da nação: qual o seu papel? ,  157
15. Política externa brasileira recente: algumas questões tópicas , 167

Relação cronológica dos trabalhos recentes sobre diplomacia brasileira , 179
Livros de Paulo Roberto de Almeida ,  181
Nota sobre o autor  ,  185

Treze anos de misérias diplomáticas: estaria o Brasil vacinado? 

Esta nova compilação de trabalhos sobre a política externa e a diplomacia brasileira pode ser vista como dando continuidade a uma assemblagem anterior, que eu havia feito apressadamente para apoiar um curso sobre esses temas no primeiro semestre de 2017: Quinze anos de política externa: ensaios sobre a diplomacia brasileira, 2002-2017(Brasília: Edição do Autor, 2017, 366 p.; blog Diplomatizzando: (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/05/quinze-anos-de-politica-externa-ensaios.html). Essa coletânea, por sua vez, já incorporava uma relação preliminar feita ao final de 2016: “Uma seleção de trabalhos sobre a política externa brasileira na era Lula, 2002-2016” (Brasília, 6 junho 2016, 13 p.; também disponível no blog Diplomatizzando:http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/06/a-politica-externa-brasileira-na-era.html). Ambas se ocupavam, basicamente, da política externa e da diplomacia nos primeiros três lustros do século XXI, quando vigorou aquilo que eu logo chamei de “lulopetismo diplomático”, uma das principais facetas do lulopetismo em geral, que havia literalmente atropelado o país durante todo aquele período. 
Tanto a política lulopetista em geral, quanto sua vertente externa foram por mim acompanhadas atentamente, a cada passo, a cada medida, a cada iniciativa do bizarro regime, que no entanto dispunha de amplo apoio na sociedade, nos meios políticos e especialmente na academia, sem esquecer a própria diplomacia. Na postagem dessa relação de junho de 2016 eu dizia que os trabalhos possuíam um “caráter geralmente acadêmico, mas não posso recusar certa orientação opinativa (e portanto subjetiva, mas bem informada, pela minha condição de diplomata) sobre esses tempos não convencionais nas relações exteriores do Brasil, um período no qual a diplomacia brasileira esteve associada ao Foro de São Paulo (uma organização controlada pelos comunistas cubanos) e aos chamados bolivarianos. Agora que isso passou, posso ser mais crítico, e incisivo, sobre esses anos de chumbo da diplomacia brasileira.”
Mas, antes mesmo de ser enterrado o bizarro regime, e sem ter certeza de que a sociedade conseguiria superar a fraude e a mistificação daqueles anos excepcionais, eu já tinha publicado um livro inteiro sobre o “rabo diplomático” do “cachorro lulista”, este aqui: Nunca Antes na Diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Appris, 2014). Esse livro não foi feito pensando nas eleições presidenciais daquele ano, mas não deixou de ser surpreendente que, consideradas todas as informações já disponíveis sobre os descalabros econômicos, as fraudes políticos, e o espetáculo de corrupção desvendado desde o início daquele ano, que os companheiros obtivessem mais um mandato para arruinar o país. Por uma dessas ironias da história, a continuidade das investigações revelou que o candidato da oposição também estava profundamente envolvido numa gigantesca teia de corrupção, que unia as grandes empresas do país aos principais partidos políticos e seus líderes.
Seria inevitável que o ativismo lulopetista em todas as direções, por quaisquer meios disponíveis, não poupasse tampouco o lado internacional das políticas públicas. Aliás, o “rabo” da diplomacia chegou mesmo a abanar o “cachorro” do lulopetismo, tal a importância dada a essa política pelo chefe da “organização criminosa” – segundo o ministro Celso Melo, do STF – que dominou o país desde o início de 2003, como já tinha sido evidenciado por ocasião do Mensalão, em 2005. Essa importância foi bastante ressaltada pelas investigações de um jornalista, Fabio Zanini, cujo livro foi objeto de uma resenha aqui inserida; mas, à diferença do Mensalão, não haviam sido detectadas até recentemente todas as manobras criminosas empregadas pela tropa de meliantes políticos que desviou recursos de fontes brasileiras e estrangeiras.
Minha relação de trabalhos cobrindo essas áreas é bem superior, mas coletei neste volume apenas aqueles que já tinham sido publicados ou divulgados pelos canais habituais que utilizo. Alguns outros serão divulgados oportunamente, o que permitirá justificar plenamente o título escolhido para este volume e esta apresentação: “miséria da diplomacia”, o que me parece muito evidente, sobretudo a partir de uma visão interna, portanto bem informada e “prevenida”, sobre as iniciativas tomadas na vertente externa do Brasil. Essa visão precede, inclusive, a própria diplomacia e o regime dos companheiros, pois se estende, originalmente, às organizações da esquerda armada que provocaram a radicalização do regime militar desde meados dos anos 1960 até o final do período autoritário. Um conhecimento sobre os métodos de atuação dos militantes neobolcheviques que se integraram ao partido hegemônico da esquerda, aqueles que eu chamei de “guerrilheiros reciclados”, permitiu retirar elementos de convicção quanto à ação deletéria, em grande medida encoberta, desenvolvida por eles igualmente na frente externa, o que entretanto é difícil de ser evidenciado, em virtude, precisamente, da falta de provas documentais de muitas dessas ações nessa vertente (sobretudo aquelas feitas em direção, e em acordo com regimes vinculados ao Foro de São Paulo). 
Esse lado da “miséria diplomática” talvez não possa ser exposta em toda a sua extensão, pois, à diferença daquilo que ocorreu com os papeis da Stasi, no momento da queda do muro de Berlim e da incorporação relativamente rápida da RDA à República Federal da Alemanha, os companheiros e seus aliados externos tomaram as devidas precauções para “neutralizar” possíveis evidências da diplomacia paralela conduzida de modo obscuro durante toda a duração do regime companheiro. Em alguns dos meus escritos aqui coletados eu abordo esse aspecto da “miséria diplomática”, que é o seu lado obscuro, mas que ainda não foi objeto de estudos mais detalhados. 
Como conhecedor de longa data do movimento comunista internacional, e de seus “derivativos” nacionais, surpreende-me que doutrinas, práticas e argumentos já devidamente denunciados e expostos claramente desde os estertores do regime stalinista nos anos 1950 – objeto de inúmeros livros esclarecedores a esse respeito, entre eles um dos mais famosos, O Ópio dos Intelectuais, de Raymond Aron, prefaciado no Brasil por Roberto Campos, o Aron brasileiro –, ainda tenham plena vigência nos meios políticos e acadêmicos do Brasil, e encontrem bastante aceitação em camadas mais amplas da opinião pública. Mais surpreendente ainda é que, a despeito de todas as denúncias e condenações já oficializadas quanto aos atos criminosos perpetrados pelos principais chefes do partido hegemônico da esquerda, várias dessas pessoas bem informadas ainda insistam em apoiar os personagens. Não é preciso lembrar aqui que o próprio chefe da chancelaria brasileira durante boa parte do regime lulopetista, diplomata de carreira, figura nessa tropa de choque constituído para uma defesa quase impossível, de certo modo desesperada, do grande responsável pela corrupção avassaladora a que assistimos durante todos esses anos de euforia, de fraudes e de mistificações. 
Meus textos não se ocupam de tais crimes comuns, mas várias das ações externas conduzidas pelo poder petista, com base em recursos nacionais, podem configurar o que eu chamaria de “crimes econômicos” (talvez não muito diferentes de crimes comuns), uma vez que diversas “intervenções” externas pelo então chefe de Estado, depois ex-presidente, foram precipuamente conduzidas para se integrar a essa cadeia de corrupção montada deliberadamente por esses líderes políticos em pleno acordo com os dirigentes de grandes empresas geneticamente corruptas. Por outro lado, pontos obscuros da ação externa dessa diplomacia lulopetista foram diversas vezes detectados em determinados episódios – nacionalização de ativos brasileiros no exterior, apoio financeiro a aliados ideológicos, por exemplo – também poderiam ser catalogados sob a rubrica de “crimes diplomáticos”, ou seja, mais um aditivo definidor da “miséria da diplomacia” que legitima a opção pelo título deste compêndio. Continua a existir uma imensa zona de sombras sobre o desenvolvimento de toda a diplomacia lulopetista.
Ainda assim, e a despeito de todas as evidências e sinais “precursores” de que coisas estranhas estavam acontecendo na diplomacia brasileira durante esses anos de euforia do lulopetismo, sua vertente diplomática continuou a dispor de amplo apoio entre os principais formadores de opinião no Brasil, notadamente nos meios acadêmicos e jornalísticos, com ampla capacidade de convencimento dos “corações e mentes” dos brasileiros comuns, simples eleitores ou até membros das chamadas elites. Nisso, a esquerda em geral e o lulopetismo em particularmente foram particularmente eficientes – sobretudo usando recursos do Estado para divulgar sua versão deformada da realidade e sustentar propaganda mentirosa por diversos canais de comunicação – na veiculação e na disseminação de uma visão do mundo conforme a seus princípios ideológicos, que encontram, por isso mesmo, grande aceitação em diversos meios. 
Tenho plena consciência de que meus escritos destoam, em grande medida, das análises acadêmicas e dos próprios argumentos diplomáticos normalmente encontrados nos diferentes veículos que se dedicam à discussão e análise da política externa, das relações internacionais e da diplomacia brasileira. Talvez porque eu me dedique não só a uma exposição descritiva do que é feito na vertente externa das políticas públicas do Brasil, mas também por que é feito, e por quem é conduzido, e com quais motivações. Começo, aliás, por discordar frontalmente da terminologia geralmente empregada nas exposições e análises “normais”, que tendem a caracterizar as ações diplomáticas como sendo “do Brasil”, quando eu me inclino a falar diretamente da “diplomacia lulopetista” como sendo diferente, específica e peculiar às forças que controlaram o poder do Estado durante os anos de seu controle dos executivos federais (e até de outros poderes). 
Meus artigos – os aqui compilados, os demais em livros ou periódicos, inclusive os ainda não divulgados  – não esgotam, obviamente, a análise de todos os aspectos conceituais e operacionais daquilo que eu chamei de “miséria da diplomacia” no Brasil. Isso que vai requerer ainda certa pesquisa (mas existem muitos fatos sem documentação adequada) e acesso adequado a atores envolvidos em vários episódios não devidamente documentados ao longo desses anos de fraudes, mentiras, de mistificações e de crimes, de diversas ordens. De minha parte não tenho nenhuma hesitação em expressar minha opinião fundamentada sobre esses anos pouco gloriosos de nossa trajetória política. Só não tenho certeza de que o Brasil e os brasileiros estejam devidamente vacinados contra essa “doença de pele”, que representou o lulopetismo, a despeito de todos os crimes desvendados e de todos os processos concluídos ou em curso. Talvez ele seja mais do que uma simples “doença de pele”, e conforme uma predisposição “genética” na incorporação de concepções políticas e econômicas absolutamente nefastas e prejudiciais à boa governança do país, e nisso se confunda com outras “epidemias” muito comuns no Brasil: patrimonialismo tradicional, corporativismo entranhado, protecionismo exacerbado, nepotismo e fisiologismo extensivos, nacionalismo primário e ingênuo, estatismo atávico e outros “ismos” desde longe presentes em nossa cultura e no sistema político. 
Na diplomacia, no entanto, vigorava, um profissionalismo meritocrático – ainda que contaminado por diversos resquícios “feudais” – e uma excelente capacitação dos recursos humanos, o que sempre distinguiu o serviço exterior no conjunto das carreiras de Estado e das instituições de boa qualidade a serviço do Estado e dos governos. O período lulopetista afetou apenas superficialmente o serviço diplomático em si, ainda que tenha contaminado mais amplamente a orientação da política externa e da atuação do Estado brasileiro em escala regional e internacional. Esperemos que ao menos o serviço diplomático tenha sido vacinado contra o exotismo e a bizarrice dessa presença deformadora em nossa diplomacia, com um mínimo de efeitos colaterais sobre suas ações futuras. É o que posso esperar como participante e analista – relativamente objetivo e independente – de nossa política externa e de nossa diplomacia nos últimos 40 anos de atividades e de reflexões nesse campo especializado da ação estatal.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 17 de fevereiro de 2018

Luta Armada no regime militar: testemunho pessoal de Paulo Roberto de Almeida

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Unasul: epilogo de uma fantasia - Jose Casado (O Globo)

Nunca deveria ter sido criada, mas o lulopetismo diplomático tinha suas obsessões antiamericanas e anti-imperialistas, e o desejo ridículo de ver o Brasil liderar o continente, o que nunca iria acontecer.
Desde o início eu me coloquei contra essa aventura sem sentido, e por isso ganhei o ódio dos companheiros no poder.
Deveria ter sido encerrado com mais estardalhaço do que foi, mas creio que ainda demorou para acabar de vez...
Paulo Roberto de Almeida 


Epílogo de uma fantasia
Jose Casado
O Globo, 10 Julho 2018 
Custou R$ 220 milhões. Parece um prédio parado no ar, com vidros refletindo montanhas ao fundo e cercado por espelhos d’água. Tem 19,5 mil metros quadrados distribuídos em cinco andares e dois subsolos. Desde a inauguração, em 2008, abrigou três dezenas de diplomatas, um para cada 650 metros quadrados de construção. Em dez anos, eles quase nada tiveram para fazer, além de receber salários de R$ 60 mil por mês e desfrutar mordomias.
Era símbolo do principal projeto petista para a política externa brasileira, traçado no 1º de janeiro de 15 anos atrás em jantar no Palácio da Alvorada, quando Lula celebrou a posse na Presidência da República. Nasceu da ambição de líderes regionais que desejavam impor um contraponto à influência dos Estados Unidos na Organização dos Estados Americanos (OEA).
No fim de semana, o governo do Equador mandou a polícia interditar o edifício-sede da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), na Metade do Mundo, periferia de Quito. Quer o prédio de volta, para instalar uma universidade. Lenín Moreno, presidente equatoriano, alega razões objetivas: seu país gastou uma fortuna numa fantasia política, porque, na prática, a Unasul nunca funcionou, e há anos sobrevive em coma político.
Metade dos países associados abandonou a entidade — inclusive o Brasil, que pagou 39% das despesas na última década, o equivalente a R$ 168 milhões. “Me pergunto se algum dia a Unasul serviu para alguma coisa”, argumenta Moreno.
Dos quatro presidentes-fundadores, Lula está preso, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro; a argentina Cristina Kirchner e o equatoriano Rafael Correa têm prisão decretada, acusados de corrupção, fraudes, sequestro e associação a grupos terroristas; e o venezuelano Hugo Chávez morreu. A Unasul foi comandada por ex-presidentes com biografias turvadas por episódios de corrupção. O primeiro, Néstor Kirchner, falecido marido de Cristina, enriqueceu na Presidência argentina. Assumiu em 2003 com patrimônio de US$ 1,9 milhão, saiu cinco anos depois com fortuna 7,5 vezes maior (US$ 14,2 milhões), segundo as próprias declarações juramentadas. Kirchner morreu em 2010. A viúva gastou US$ 116 mil dos contribuintes para homenageá-lo com uma estátua de 2,2 metros de altura, plantada na entrada da sede da Unasul. O último secretário-geral da entidade foi o ex-presidente colombiano Ernesto Samper, cuja biografia está marcada por vínculos com cartéis de drogas. Em 1995, na Presidência da Colômbia, ele assistiu a confissões públicas sobre o patrocínio do narcotráfico à sua eleição. Os principais doadores foram os irmãos Miguel e Gilberto Rodríguez Orejuela, na época chefes do Cartel de Cáli. Até hoje, Samper não pode entrar nos Estados Unidos.
Se passou década e meia desde que o entusiasmado chanceler brasileiro Celso Amorim apresentou o projeto da Unasul ao venezuelano Hugo Chávez, e sorriu ao ouvi-lo dizer: “O que vocês estão propondo é uma ‘Alquita’”, referência à versão menor, regionalizada, do projeto dos EUA para uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca). A iniciativa do governo Lula foi festejada e apropriada por Chávez e pelo casal Kirchner. Dela sobraram um prédio vazio na Metade do Mundo e dúzias de burocratas bem remunerados, absolutamente sem nada para fazer. É o epílogo melancólico de uma fantasia política chamada Unasul.
Principal projeto de política externa nos anos Lula, a Unasul acabou com a sede interditada no fim de semana e burocratas absolutamente sem nada para fazer.

Rubens Barbosa: excesso de cúpulas (e como...)


Excesso de cúpulas
É hora de examinar se vale a pena mantermos encontros que soam ineficazes e obsoletos
Rubens Barbosa *
O Estado de S.Paulo, 10 Julho 2018

A realização da VIII Cúpula das Américas, em Lima, em abril, sugere uma reflexão sobre as sucessivas reuniões presidenciais que vêm sendo realizadas no continente americano sem apresentarem um caminho para os países da região em temas de interesse geral. Caso o número de reuniões de alto nível de fato engendrasse coordenação e resultados concretos, as Américas seriam um exemplo para o mundo e se apresentariam como um modelo de entendimento e cooperação.
Se houvesse resultados concretos para os 34 países da região, a partir de discussões objetivas e desideologizadas, os encontros poderiam ser positivos e deveriam ser apoiados. Mas não é o que ocorre. Poucos guardarão na lembrança alguma conclusão das oito Cúpulas das Américas, incluída esta última. À exceção, talvez, da primeira, que se realizou em Miami em 1994, quando, inaugurando uma estratégia de negociação comercial, os EUA propuseram ao Hemisfério um acordo de livre-comércio das Américas, repetido depois com a Europa e com a Ásia.
O continente americano é o campeão mundial de cúpulas. Contei perto de 20 fóruns, associações e organizações multilaterais, regionais e reuniões presidenciais com outras regiões. Exemplos são a Cúpula Ibero-Americana, a Alba, aliança bolivariana das Américas, a Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), a Organização dos Estados Americanos (OEA), a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o Tratado de Cooperação Amazônico, a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, uma reunião de presidentes latino-americanos com presidentes da África e do Oriente Médio, o Mercosul e a Aliança do Pacífico. Recentemente, o Brasil, pela inexistência de governança e de resultados concretos, propôs a suspensão da participação de seis países na Unasul. O destino do Conselho de Defesa da América do Sul ficou incerto.
Fica assim evidenciado que há poucos interesses concretos que de fato alinhem nessas cúpulas os 34 países. Elas se repetem sem nenhum resultado prático, em meio a rituais de pomposo cerimonial e oratória vazia e medíocre. Em muitos casos a demagogia fácil supera discussões sérias.
Num momento em que a nova geopolítica reforça o papel do regionalismo em todos os continentes, a América Latina encontra-se fragmentada e enfraquecida. Em cada uma dessas reuniões surge a discórdia entre os países, em muitos casos com ênfase e animosidade.
Chegou a hora de examinar, do ponto de vista do Brasil, se vale a pena o investimento em recursos burocráticos, tempo dos presidentes e atenção da mídia para a manutenção dessa prática de encontros entre os 34 países, mas que agora soa ineficaz e obsoleta. Chegou a hora de mudar o formato e a substância das cúpulas para dar conteúdo real a esses encontros. O documento final da Cúpula de Lima teve 57 parágrafos tratando somente de medidas contra a corrupção, enquanto a prática se amplia e há presidentes e altos funcionários presos ou sendo investigados...
Isso por si só não significa que reuniões presidenciais sejam desimportantes. Encontros de cúpula em outras partes do mundo têm sua lógica e se justificam, ao pautarem os interesses dos países participantes. O G-7, que reúne os países mais industrializados para discutir as linhas principais da economia e das finanças globais, tomou medidas concretas que passaram a afetar o mundo todo. O G-20, criado depois da crise financeira de 2008, focalizou os problemas daquele momento e tem se reunido menos pelo esvaziamento de seu objetivo inicial. Encontros entre chefes de governo da União Europeia, do Nafta, da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), do Acordo Transpacífico (CPTPP) são feitos regularmente por terem foco bem específico e de interesse geral, tal como o aprofundamento da cooperação econômica e comercial.
Com o acelerar das técnicas de comunicação e buscando poupar tempo e recursos, vemos o início de encontros presidenciais virtuais por teleconferência. Apesar da falta do encontro cara a cara e de uma troca direta entre os altos dirigentes presentes, a teleconferência permite mais objetividade e menos perda de tempo.
A partir de 2019, o novo governo brasileiro deveria examinar de forma objetiva, do ponto de vista dos interesses nacionais e dos resultados que se querem alcançar, a conveniência de manter nossa participação nessas reuniões que pouco ou nada representam para nós e, assim, estimular o encerramento de suas atividades. As cúpulas presidenciais vêm carecendo de uma agenda com medidas concretas de avanço - especialmente no caso do Mercosul. Às reuniões presidenciais de rotina, sem nenhum objetivo relevante, o presidente brasileiro não deveria comparecer ou mandaria substituto.
Como forma de compensar essa nova atitude em relação às reuniões de cúpula, o Brasil poderia inaugurar uma nova fase de aprofundamento do relacionamento bilateral com todos os países da região. Caberia apresentar propostas concretas para ampliar o comércio, os investimentos, os projetos de desenvolvimento de infraestrutura, e a assistência e a cooperação técnica que de fato expandam interesses mútuos e nacionais.
Superadas as dificuldades políticas dos últimos dois anos com a eleição do novo governo, em 2019, como uma das dez maiores economias globais e pelo peso da participação do Brasil na América do Sul, o País não poderá deixar de oferecer, de maneira proativa e construtiva, sua contribuição para o crescimento e a estabilidade da região. Esse trabalho poderá começar com iniciativas para a superação das dificuldades políticas por que passa a Venezuela. Com essa atitude o Brasil poderia criar um fato político que permitiria uma reflexão geral sobre o assunto.

* PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E DE COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE)


Trade Policy in the USA: tariffs - Mises org

Woodrow Wilson and the Tariff: Lessons for Today

Theodore Roosevelt (president 1901–09) and Woodrow Wilson (president 1913–21) are the two celebrated progressive presidents. Many of today’s observers, not familiar with the detailed history of that era, fail to appreciate the fundamental importance of the tariff issue to debates of that time.

A search for “tariff” in Scott Berg’s biography, Wilson, turns up 66 hits. Then, 250 hits in Doris Kearns Goodwin’s, The Bully PulpitTheodore Roosevelt, William Howard Taft, and the Golden Age of Journalism. Wilson’s 1913 book, The New Freedom A Call For the Emancipation of the Generous Energies of a People, was an edited selection of his campaign speeches. Sixty-three hits on this book.

What were the issues? The tariff was a breeding ground for corruption and unfair to those forced to pay elevated prices. The tariff reinforced the position of firms with market power — the “trusts” in the language of that time.
Wilson was thoroughly familiar with how the tariff actually worked, as he explained clearly in The New Freedom. “We have come to recognize in the tariff as it is now constructed, not a system of protection, but a system of favoritism, of privilege, too often granted secretly and by subterfuge, instead of openly and frankly and legitimately, and we have determined to put an end to the whole bad business … .”
Goodwin discusses the difficulties reformers had in making any progress in Congress. “Aware that [Senator Nelson] Aldrich had abundant experience in devising obscure classifications for each of the 4,000 duties in the tariff schedule, …” How familiar does this passage sound?
As is true of pro-tariff arguments today, obfuscation of the issues was a key mechanism of the forces supporting trade restriction during the Progressive Era. Goodwin recounts the campaign against the tariff waged by journalist Ida Tarbell. “Fifty years ago, [Tarbell wrote in 1909] wool was disposed of in perhaps fifty words, which anybody could understand; to-day it takes some three thousand, and as for intelligibility, nobody but an expert versed in the different grades of wools, of yarns, and of woolen articles could tell what the duty really is.” These tariffs pumped up the profits of American firms manufacturing woolen clothing. Tariffs raised the cost of machinery used in cotton production and reduced competition from machinery producers abroad.
Then, as now, log-rolling coalitions made reform difficult. Goodwin writes: “To Taft’s disappointment, the controversial wool schedule was not changed. The combination of ‘the Western wool growers and the Eastern wool manufacturers,’ he lamented, rendered it ‘impossible’ to get lower duties ‘through either the Committee or the House.’ ”
Wilson was a Southerner, born in Virginia and raised in Georgia and South Carolina. He understood the costs high tariffs imposed on the South. The beneficiaries were Eastern manufacturing interests. Farmers were especially disadvantaged as they paid excessive prices for farm equipment in an era of rapid mechanization of agriculture.
A key campaign promise of Wilson’s was reduction of the tariff. This he did after assuming office with the Revenue Act of 1913. Tariff reduction was good for the South and the rest of the country as well. Unfortunately, Wilson failed to institutionalize a lower tariff and did not “put an end to the whole bad business.” In 1922, Congress raised tariffs once again with the Fordney–McCumber Tariff. As I recounted recently in my Tariff of Abominations II, President Trump is taking the United States back to an unhealthy era of tariff controversy, special-interest pleading and retaliation by other countries.
Worse, President Trump has upset a painful and slow institutional process begun after World War II in moving the world toward freer trade. No country will be a winner. Wilson’s experience as president after the election of 1912 should serve as a warning. Winning a battle is not enough to win a war.
Perhaps it is time to start thinking about the tariff in an entirely different way. Starting with the Tariff Act of 1789, the US tariff has been the playground of special interests, and used as a means of rewarding political friends, and harming political enemies. If we must have a tariff, all tariffs ought to be levied at the same rate. This approach would turn the tariff principle from that of “bad business” favoritism to pure revenue.

William Poole is Distinguished Scholar in Residence at the University of Delaware. He was a member of President’s Reagan’s Council of Economic Advisers 1982-85. He retired as President and CEO of the Federal Reserve Bank of St. Louis in March 2008.

RBPI: uma revista de impacto - Antonio Carlos Lessa (IRel-UnB)

Meu amigo, professor no IRel-UnB e editor da Revista Brasileira de Política Internacional me comunica esta grande notícia sobre o sucesso da nossa revista: 

Caros(as) Colegas,

Trago a boa notícia da grande elevação do Fator de Impacto da RBPI no Journal Citation Reports - JCR-InCites, chegando nos números consolidados de 2017 ao índice de 0,906. Tendo por base o ano de 2016, o Fator de Impacto da RBPI foi praticamente triplicado. Esses dados foram publicados na última semana de junho, sendo o Impact Factor do JCR é uma das medidas mais esperadas da ciência global.
Com isso, a RBPI tem o maior fator de impacto de todas as publicações da grande área de humanidades no Brasil, situando-se na 49a posição no ranking das revistas brasileiras. Como medida de comparação, a icônica Revista Dados está na 116a posição, com fator de impacto de 0,286. A Revista de Ciência Política, da Universidade Católica do Chile, que é reputada como uma das melhores publicações da área de humanidades da América Latina, teve um fator de impacto de 0,413.
Com o seu Fator de Impacto, a RBPI se situa da 132a posição em termos globais no cluster International Relations & Political Science, no universo considerado de 217 publicações internacionais. A RBPI, em termos globais no cluster, se situa logo abaixo de International Peacekeeping (129a posição - IF 0,937) e à frente de outras revistas prestigiadas que compõem o universo de publicação de autores brasileiros e latino-americanos, a exemplo de Latin American Perspectives (170a posição - IF = 0,575), Political Science Quarterly (185a posição - IF 0,422), Revista de Ciência Política - Chile (187a posição - IF 0,413) e do Journal of Global War Studies (210a posição - IF 0,167). Esses indicadores fazem com que a RBPI se situe pelo meio do terceiro quartil das publicações mais influentes do cluster International Relations & Political Science, em termos globais.
Envio abaixo uma tabela que sumariza a evolução da medida desde 2010, quando a RBPI teve o seu primeiro fator de impacto divulgado (referente a 2009).

Saudações a todos,
Antônio Carlos Lessa

Antônio Carlos Lessa
Professor Titular - Full Professor 
University of Brasília
Institute of International Relations
p: +55 61 31073651 
a: Caixa Postal 4306 - Brasilia, DF 70919-970, Brazil 
 

Master em Pensamento economico: Complutense Madrid



INVITACIÓN

MÁSTER PENSAMIENTO ECONÓMICO Y EMPRESARIAL
LOS DEBATES DE LA ECONOMÍA EN EVOLUCIÓN

2018 - 2019
El máster propio de la UCM, que se encuentra en su segunda edición, extiende una fraterna invitación a la comunidad académica de la Asociación Latinoamericana de Historia del Pensamiento Económico (ALAHPE). Este programa de posgrado responde a un vacío que existe en el panorama de titulaciones en relación a la difusión de las distintas escuelas y teorías de historia del pensamiento económico y empresarial, así como la compren-sión de los fundamentos de las controversias que se producen entre ellas. El recien-te bestseller de Lawrence White, El choque de las ideas económicas (2015, Ed. Antoni Bosch), muestra el interés que hay en conocer las razones de las más seña-ladas disputas entre economistas, en definitiva, hacer un viaje por las ideas que han marcado el pensamiento económico hasta su forma actual: ¿Cómo combatir la po-breza, la desigualdad, el paro? ¿Hay que tener austeridad, gasto público, regula-ción, privatizaciones?

El máster además tiene un programa especial de becas y la opción de ser impartido en español y en inglés. Para mayor información visite nuestro enlace:
Información MÁSTER
En caso de que no funcione el botón, haga clic en:
http://www.ucm.es/titulospropios/masterpensamientoeconomico
Para acceder al formulario de pre-inscripción ir a este enlace.

Contactos e información adicional
Estrella Trincado | Directora (UCM)
estrinaz@ccee.ucm.es
Info: masterpenseco@ucm.es
Giovanny Manosalvas |  Coord. Ecuador - UCE
giovaman@ucm.es | gmmanosalvas@uce.edu.ec
giovamalvs@yahoo.com

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Minha utopia pessoal: o que poderia ser um governo de recuperação no Brasil? -Paulo Roberto de Almeida

De vez em quando eu me pego sonhando, como por exemplo ao retornar de Portugal no último dia 2 de julho, uma semana atrás, portanto. Em Portugal encontrei um país recuperado da enorme crise vivenciada alguns anos atrás, recebendo milhões de turistas, mas basicamente comprometido com sólidos princípios econômicos, que não são mais os da austeridade dos ajustes necessários, mas tampouco são os da irresponsabilidade habitual de populistas distributivistas, mesmo se os socialistas voltaram ao poder.
Portugal parece ter encontrado um equilíbrio entre a estabilidade macroeconômica e a busca de opções realizáveis dentro das limitações econômicas do país, que ainda é uma pequena economia, muito dependente da UE. 
No caso do Brasil não temos a UE, e nem o Mercosul poderia lhe ser comparado. Só temos nós mesmos. Pois eu imaginei que tudo poderia ser diferente, mas infelizmente acho que não vai ser.
Em todo caso, deixo aqui a minha fórmula realista de ajustes e equilíbrios, que não é um remédio milagroso, pois vai demorar anos e anos de lenta e dura recuperação.
Acho que não vai dar, mas deixo aqui minhas sugestões.
Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 9 de julho de 2018


A divisão do país e a transição da nação: tarefas do próximo governo

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: análise da conjuntura; finalidade: recomendações de postura]

Introdução
Quaisquer que sejam a análise conjuntural e o diagnóstico prescritivo que se façam sobre os problemas atuais e futuros do Brasil, bem como sobre as maneiras de resolver determinados impasses em torno das medidas a serem adotadas para superá-los, com vistas a retomar um processo de crescimento sustentado, impossível não partir da constatação de que o país se encontra hoje bastante dividido politicamente e fragmentado por correntes opostas de opinião quanto às tarefas à frente da nação, ou até mesmo quanto à forma de se fazer esse diagnóstico. Esse é, justamente, o resultado de anos e anos de incitação à divisão do país, um discurso monotemático bastante conhecido, que insistiu, desde sempre, em dividir a nação entre o povo e as elites, entre “nós” e “eles” (ou seja, eles e nós mesmos), entre uma suposta maneira correta de se fazer “justiça social”, por definição virtuosa, e uma alegada via “neoliberal” de ajuste austero e socialmente injusto.
Não é necessário qualquer explicitação detalhada quanto aos principais atores responsáveis por esse tipo de discurso, e seus efeitos notoriamente deletérios no aprofundamento dessa divisão política, que ameaça contaminar o debate político nesta fase eleitoral, e nas semanas e meses seguintes. Agora, qualquer que seja o governo que assuma o comando do Estado a partir de 1ro de janeiro de 2019, terá de começar, já desde o início da transição que começa ao término do segundo turno de outubro deste ano, a tarefa de reconstrução das bases da governança, a começar pela formação de um governo minimamente representativo das forças que se uniram para chegar à vitória no prélio definidor. Digo minimamente porque imagino que uma solução de melhor conveniência política seja uma composição entre os eleitos, ou seja, representativos do voto popular, e certo número de tecnocratas basicamente comprometidos com o processo de reformas já em curso, portanto necessárias, e outras que serão indispensáveis à continuidade dos ajustes programados.
A primeira tarefa do futuro chefe de Estado e comandante da nação será a de expor claramente à sociedade os terríveis problemas econômicos que a nação enfrenta e enfrentará nos próximos anos, sem nada esconder, sem nada mudar no conteúdo do que deve ser esclarecido à população para que ela tenha plena consciência da terrível situação que a nova administração herda para administrar. A função de um comandante da nação não deve ser a de apaziguar seus supostos apoiadores no Congresso, com os quais ele terá de trabalhar, mas isso apenas depois que ele se dirigir em primeiro lugar à população para informá-la do que deve e precisa ser feito para enfrentar o terrível legado recebido. Cabe o máximo de realismo nessa primeira mensagem, tão pronto anunciado o resultado oficial da votação. O discurso à nação é o primeiro ato da governança que se iniciará em 1ro de janeiro de 2019.

A primeira mensagem: a união da nação
O Brasil não pode mais continuar dividido entre, de um lado, os mentirosos que nos legaram a terrível situação presente – supostamente de esquerda, ou associados a ela – e que pretendem novamente se impor pela mentira e pela fraude sobre o que efetivamente ocorreu nos anos de populismo econômico, e de outro, os saudosistas de um regime militar – supostamente de direita – que não tem a menor chance de voltar. Esse passado de divisões artificiais não mais serve à nação no presente, e não pode ser a base da difícil reconstrução que temos no presente e no futuro previsível. Não existe um orçamento de esquerda ou de direita, assim como não existe um maná dos céus que derrame continuamente recursos supostamente coletivos para gastos públicos contínuos. 
A nação, de uma vez por todas, precisa aprender a viver dentro dos seus meios. A fratura entre os brasileiros de uma ou outra opinião não nasce apenas dessa divisão artificial de direita e esquerda, inclusive porque a maioria da população não se define em torno de conceitos abstratos. A divisão é claramente impulsionada por aqueles que pretendem continuar pregando conquistas impossíveis, os patrocinadores do populismo econômico e da demagogia política, formulando promessas fáceis, e mentirosas, de que existe um protetor natural de todos os pobres, que se chamaria Estado brasileiro. Esse Estado que tira dois quintos de toda a riqueza produzida por empresários e trabalhadores é precisamente o Estado que prolonga e mantém a pobreza dos mais humildes, ao mesmo tempo em que distribui fartamente subsídios e vantagens aos mais ricos. Isso precisa parar, e com isso deve cessar a divisão artificial entre pobres e ricos, e essa noção viciosa e viciada de que os interesses de ambos divergem entre si, numa “luta de classes” que só serve aos interesses dos mesmos divisionistas que infelicitaram a nação.
 Todos os brasileiros precisam tomar consciência de que o governo informará precisamente, de forma totalmente transparente, quais são as despesas obrigatórias, às quais não se pode constitucionalmente evadir, e quais são os recursos que nos restam para um debate aberto sobre as prioridades de gastos de livre arbítrio. Não se poderá atender a todos os reclamos ao mesmo tempo, mas as razões das escolhas básicas serão apresentadas com clareza ao mesmo tempo à população e ao Congresso. 

A primeira medida: o governo ainda será de transição
Não se deve eludir ou elidir a verdade. O Brasil tem um longo e penoso caminho de reconstrução pela frente, tantas são as deformações e os vícios acumulados ao longo dos anos. Já estamos em transição há muito tempo, primeiro da relativa estabilidade dos anos 2000, com crescimento moderado impulsionado pela demanda chinesa, para uma fase de crescimento irresponsável do final daquela década e que se prolongou durante toda a primeira metade da presente década, que nos precipitou na terrível recessão que enfrentamos há pelo menos três anos. A transição dos últimos dois anos, depois do final do governo irresponsável que produziu a maior crise de nossa história, não foi suficiente para recompor as bases de um novo ciclo de crescimento com distribuição de renda. Nem o fará sem a adoção de medidas duras de correção das deformações acumuladas.
Não há porque prometer um correção rápida dos imensos problemas que figuram na agenda da nação, e a melhor forma de ser honesto com a nação é dizer de modo claro quais são, quantos são, quão difíceis são esses problemas, se a presente geração quiser entregar aos nossos filhos e netos um país melhor do que o recebido neste momento, uma economia destroçada pela irresponsabilidade fiscal, a saúde, a educação e a aposentadoria futura ameaçadas de insolvência pura e simples.
Insistir sobre a transição é também uma maneira de preparar a nação para as comemorações do seu segundo centenário da independência, quando, infelizmente, a renda média da população será igual, talvez até mesmo inferior, à que a nação exibia dez anos antes, dada a gravidade da crise que nos foi legada, a maior recessão de toda a história econômica do país. O que o governo pretende fazer, até 2022, é uma completa inversão das tendências seguidas nas últimas décadas, de maneira a podermos iniciar um terceiro século de vida independente em bases sensivelmente diferentes daquelas que foram as nossas até o presente momento.

Uma certa concepção do Estado: ao menor custo para a sociedade
Pela primeira vez em nossa história bissecular, os custos do ajuste incidirão não sobre a sociedade, mas sobre o próprio Estado, que avultou de modo exagerado, a ponto de engolir um volume de recursos incompatível com a capacidade da cidadania de gerar riquezas na proporção exigida pelo ogro famélico no qual converteu-se esse Estado. O Brasil não tem produtividade para registrar uma carga fiscal típica de país rico, exibindo ao mesmo tempo uma renda per capita cinco ou seis vezes inferior à dos países ricos. Essa carga fiscal precisa diminuir, sobretudo sobre os produtores e investidores, do contrário estaremos matando a galinha de ouro que mantém esse Estado vorazmente predatório. Isso tem de acabar, e o Brasil precisa voltar a ser um país normal, daí que o esforço de austeridade incidirá em primeiro lugar sobre o próprio Estado.
O governo passará a trabalhar com um número reduzido de ministérios, voltando tanto quanto possível ao formato e à estrutura administrativa existente na transferência da capital para Brasília. O presidente tem a obrigação de reunir-se com cada um de seus ministros, e deve poder discutir com eles todos os aspectos das políticas setoriais que ele tem de levar a cabo. Isso só é possível com um ministério enxuto, o que significa uma redução real das agências públicas, não apenas pequenos ajustes no organograma.
O governo vai propor ao parlamento a redução do número de deputados numa mais estrita proporcionalidade na Câmara, assim como o corte de um terço no número de senadores. Também vai sugerir ao parlamento a redução do número de juízes da Suprema Corte para nove, como foi tradicionalmente no Brasil republicano. O sistema eleitoral será revisto, para um modelo distrital misto, com o fim do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral, como maneira de reduzir naturalmente o número anormalmente elevado de agremiações politicas. A Justiça do Trabalho, em suas várias instâncias, criadora de conflitos ao contrário do que habitualmente se crê, não pode continuar a trabalhar nos moldes atuais, quando ela tipicamente gasta o dobro do valor médio dos contenciosos com o seu próprio funcionamento. Algo precisa ser feito a esse respeito, uma vez que a própria instituição representa uma anomalia no cenário internacional, já que poucos países, se algum, exibe essa pletora de cortes trabalhistas. 

Um programa de tarefas baseado em cinco princípios claros
O programa completo de governo será detalhado oportunamente, em torno de cinco grandes capítulos de ação, cujo sumário breve pode ser anunciado da seguinte maneira: 
1) Macroeconomia estável
A volatilidade, que obsta ao planejamento microeconômico e ao investimento produtivo, não é o resultado de capitais especulativos ou da ganância dos financistas, e sim a consequência de mudanças intempestivas nas políticas de governo, macroeconômicas ou setoriais, daí a necessidade de proclamar regras claras – como aquelas existentes no tripé econômico do governo que implementou o Plano Real – e de ater-se a elas com o compromisso da continuidade. Equilíbrio fiscal, juros de referência o mais próximo possível do nível de equilíbrio dos mercados financeiros, um regime de flutuação cambial acompanhando a dinâmica dos intercâmbios externos, estrito controle do endividamento público de maneira a incluir o serviço da dívida no limite, ou pouco abaixo, das disponibilidades orçamentárias e redução das metas de inflação a patamares existentes na maioria dos países. 

2) Microeconomia competitiva
Liberdade de mercados é a coisa mais simples de se conceber: inexistência de carteis e monopólios estatais ou privados, eliminação ou redução das barreiras à entrada de competidores em todas as áreas de interesse público relevante, fim das corporações de ofício ou concessões em regime de reserva de mercado (interna, setorial ou passível de abertura a concorrentes estrangeiros). O principio é válido para praticamente todas as áreas de oferta de bens universais, ou seja, de consumo indistinto, mas também pode ser aplicado a serviços públicos de interesse geral, que podem ser adequados para funcionar em bases semelhantes ou similares às dos mercados. Abertura econômica e liberalização comercial são dois instrumentos essenciais nessa vertente.

3) Governança eficiente e transparente
Uma reforma política e administrativa, nos três poderes e em cada um dos níveis da federação, e em suas agências especializadas, impõe-se como condição incontornável ao trabalho de redução do tamanho, do peso, dos custos de manutenção do Estado hoje extrator e predador. Reformas nos códigos do Judiciário e modernização de suas práticas também são essenciais para diminuir os custos de transação e o terrível ônus para os particulares das delongas inaceitáveis nos prazos de solução de litígios. Certos  “direitos adquiridos” terão de ser revistos, pois eles correspondem, na maior parte dos casos, a “espertezas” contrabandeadas para dentro do Estado por interesses corporativos em prol da criação e manutenção de privilégios inaceitáveis a qualquer título, aliás em grande medida defendidos com disfarces de duvidosa legalidade. Cabe rever, também, o princípio da estabilidade funcional no serviço público, pois ele só se justifica em restrito número de casos, sendo o Brasil notoriamente tolerante com abusos nesse terreno. Isso vale, igualmente, para certos dispositivos constitucionais que prolongam privilégios não justificados pela natureza dos serviços oferecidos pelo Estado.

4) Alta qualidade dos recursos humanos
O principal obstáculo a um crescimento mais vigoroso dos índices notoriamente medíocres da produtividade total de fatores, especialmente a do trabalho, é o espetáculo deprimente da baixíssima qualidade da educação brasileira, em todos os níveis, o que está a exigir não uma simples reforma, mas uma verdadeira revolução nessa área. Não se trata de processo linear ou limitado no tempo, pois as correções a serem feitas nessa área necessitam prolongar-se por mais de uma geração para produzirem resultados minimamente satisfatórios. Metodologias e padrões já testados numa ampla gama de países, em estudos coordenados por uma instituição como a OCDE, oferecem diversas sugestões de mudança, a serem conduzidas por força-tarefa nacional, com mandato a ser exercido por largo tempo.

5) Abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros
Se existe um item na política econômica externa que deve passar à frente de quaisquer outros temas da agenda diplomática são esses dois, felizmente podendo ser guiados por relatórios pragmáticos já disponíveis para consulta e ação: o Fazendo Negócios, do Banco Mundial, o Relatório Global de Competitividade, do Fórum Econômico Mundial, e o Liberdade Econômica no Mundo, do Fraser Institute, fornecem dezenas de recomendações absolutamente transparentes a esse respeito.
A política externa será basicamente uma política econômica externa, em esforço coadjuvante ao processo de ajustes e reformas na economia. O foco da diplomacia estará, assim, centrado na inserção global da economia brasileira, de maneira a elevar os níveis notoriamente baixos de participação nos intercâmbios de bens e serviços e de competitividade externa da oferta nacional. Maior abertura aos investimentos diretos estrangeiros, inclusive em áreas ditas “estratégicas”, assim como a redução da proteção tarifária e não tarifaria terão o efeito de aumentar a produtividade geral da economia.

Paulo Roberto de Almeida
Lisboa, em voo Lisboa-Brasília, 2 de julho de 2018