O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 16 de outubro de 2011

Jabuticabas misteriosas do Brasil: seguro desemprego cresce com desemprego em queda

Abaixo, o excelente post do Mansueto de Almeida (sem relação comigo) sobre o misterioso crescimento do seguro-desemprego ao mesmo tempo em que o desemprego diminui: duas linhas que se cruzam em sentido inverso. Misterioso, pois não?
Mansueto de Almeida oferece a explicação elegante. Meus comentários vão pelo lado brasileiro mesmo...
Paulo Roberto de Almeida

O mistério do seguro desemprego no Brasil

Nos últimos anos, o mercado de trabalho brasileiro tem mostrado um saldo líquido de contratações e uma diminuição da taxa de desemprego. Em julho de 2011, segundo a Pesquisa Mensal do Emprego (PME) do IBGE, a taxa de desemprego era de 6% ante 11,9% em julho de 2002. Essa queda do desemprego foi acompanha também do crescimento da formalização. De acordo com dados do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE), de 2002 até julho de 2011, o emprego formal aumentou em 13,2 milhões (saldo líquido de contratações do CAGED). Assim, as estatísticas do mercado de trabalho têm sido bastante positivas.
Apesar do comportamento positivo do mercado de trabalho, neste mesmo período acontece algo inesperado em relação ao seguro-desemprego. As despesas do Tesouro Nacional com essa conta crescem muito independentemente do comportamento da taxa de desemprego. Em anos de baixo crescimento, como ocorreu em 2009, as despesas com seguro-desemprego e abono salarial cresceram 31,9%; mas após a crise esses desembolsos continuaram a crescer. O que diminui é a velocidade do crescimento, mas não há queda da despesa como serie esperado.
Em 2011 até julho, por exemplo, os desembolsos do Tesouro com seguro-desemprego e abono salarial cresceram 20,6% em relação ao mesmo período do ano passado. Em relação aos primeiros sete meses de 2008 quando a crise financeira internacional ainda não havia atingido o Brasil, o crescimento dos pagamentos de seguro-desemprego e abono salarial cresceram 82%, passando de R$ 10,6 bilhões para R$ 19,3 bilhões nos primeiros sete meses deste ano, apesar da queda da taxa de desemprego e do crescimento da formalização.
Tabela  – Seguro-Desemprego + Abono Salarial, Taxa de Desemprego Região Metropolitana – Janeiro a Julho de 1997 a 2011
Fonte: SIAFI, IBGE. Elaboração: Mansueto Almeida
Os dados acima são para as despesas com seguro-desemprego e abono salarial. Mas mesmo quando isolamos as despesas do seguro-desemprego dos gastos com abono-salarial (benefício anual pago aos trabalhadores que ganham até dois salários mínimos), o mesmo padrão se mantém: a despesa com seguro desemprego de JAN-JUL deste ano é 79,2% maior que a despesa com seguro desemprego nos sete primeiros meses de 2008.
Como explicar esse padrão de crescimento do seguro desemprego no Brasil que cresce com a queda da taxa de desemprego e com os recordes sucessivos de formalização? Isso não é uma pergunta simples de responder, mas deixo aqui duas hipóteses.
Primeiro, os dados de contratação da mão de obra do CAGED mostram de forma clara que há um aumento não apenas das admissões, mas também das demissões; apesar do saldo liquido ser positivo e crescente. Assim, como a taxa de rotatividade da força de trabalho no Brasil é elevada, quanto maior a formalização maior será os desembolsos do seguro desemprego meramente em virtude da elevada rotatividade da força de trabalho.
 Admissões e Desligamentos – CAGED – 2001-2011
Segundo, deve-se reconhecer que mais de 80% dos trabalhadores contratados no Brasil, segundo dados do CAGED do MTE, ganham até dois salários mínimos e esses trabalhadores recebem pouco ou nenhum treinamento das empresas. Assim, quando o mercado de trabalho está muito aquecido, pode ser vantajoso para alguns desses trabalhadores forçarem sua demissão, receberem seguro-desemprego, FGTS, aviso prévio e proporcional de férias e depois voltar novamente para o mercado formal. Essa hipótese foi originalmente levantada pelo professor José Márcio Camargo da PUC do Rio de Janeiro.
Percentual dos Trabalhadores Contratados com Rendimento Mensal de 0-2 salários mínimosFonte: CAGED/MTE
Não há perspectiva de que os gastos com seguro desemprego e abono salarial sejam reduzidos nos próximos anos. A única maneira de o governo reduzir a despesa com seguro desemprego é aumentando os controles sobre o programa e exigir que os trabalhadores que recebem o seguro participem de cursos de treinamento ministrados, por exemplo, pelo SENAI. No mais, há que se pensar em mecanismos que reduzam a elevada rotatividade da mão-de-obra brasileira. De qualquer modo, essa é uma conta que, dadas as características do mercado de trabalho brasileiro, parece ter uma dinâmica própria de crescimento independentemente do ciclo econômico.
Segue anexa a breve nota que fiz sobre assunto. Se alguém tiver interesse no tema(clique aqui)
  1. Eu já tinha tomado conhecimento, mais de um ano atrás, dessa “bizarrice” do mercado laboral do Brasil: o desemprego cai e os gastos com seguro-desemprego crescem desproporcionalmente. Bizarro, não é mesmo?
    Primeiro, pensei em roubalheira, ou corrupção, com vivaldinos do MTb e das máfias sindicais complotando para fraudar o sistema, criando casos fictícios de desemprego, enfim, um pouco do que ocorre também na Previdência, no setor da saúde e em tudo o que possa haver de prebendas governamentais.
    Depois li mais a respeito e também tomei conhecimento desse tipo de explicação um pouco mais fundamentada. É pode ser…
    Mas, pensemos mais um pouco.
    Cada vez que existe uma jabuticaba qualquer sendo distribuída gratuitamente para os oprimidos pela miséria e o desemprego, por que não criar oprimidos e desempregados de maneira a poder receber a jabuticaba e ainda tirar um por fora?
    Ou seja, os beneficiarios estão sendo “inventados” além da conta, para garantir uma prebenda extra aos mais espertos.
    Mas, atenção, essa jabuticaba não é só brasileira. Diversos países europeus também tinham seguro-desemprego muito generosos, até descobrirem que os beneficiários estavam usando o sistema para “férias remuneradas”, e passaram a limitar os beneficios no tempo, fazendo-os decrescentes e condicionais.
    No Brasil, como sempre ocorre, um programa qualquer criado por alguma demanda socialisteira acaba gerando espertezas de vários tipos e provavelmente o seguro-desemprego é o mais recente exemplo disso.
    Devem existir várias outras.
    Cavando sempre se acha…
    Paulo Roberto de Almeida

Gasto social supera investimento no Brasil

Governo gasta em assistência social mais do que o dobro do que investe
Demétrio Weber
O Globo, 16/10/2011

O governo federal gastou, no ano passado, 17% do Orçamento com transferências de dinheiro à população de baixa renda ou desempregada. Foram R$ 114 bilhões repassados diretamente às mãos de 31,8 milhões de pessoas. Se forem incluídos programas de transferência de renda de menor escala, o volume de verbas repassadas atinge R$ 116 bilhões. Isso é mais do que o dobro de todo o investimento da União somado - R$ 44,6 bilhões -, incluindo a parcela para construção de estradas e obras de infraestrutura.
O custo dos benefícios sociais em espécie reflete apenas parte da chamada rede de proteção social brasileira. Estão na lista: aposentadoria rural, Benefício de Prestação Continuada (BPC), Renda Mensal Vitalícia (RMV), seguro-desemprego, abono salarial e Bolsa Família. Eles consomem 3,1% do PIB (Produto Interno Bruto). Os cálculos foram feitos a partir de números levantados pelo economista especializado em contas públicas Raul Velloso.
O peso dos diferentes mecanismos de transferência de renda no Orçamento federal divide opiniões entre especialistas. De um lado, há quem considere as despesas exageradas, praticamente um empecilho para o desenvolvimento, enquanto outros veem a necessidade até de aumentar gastos para reduzir a pobreza e a desigualdade.
Crítica a benefícios de 1 salário mínimo
Para Velloso, o governo gasta demais e deixa à míngua a rubrica de investimentos. Pior, repassa dinheiro a quem não está na base da pirâmide e não precisaria de tamanha ajuda governamental. A crítica não se dirige ao Bolsa Família, mas a benefícios como a aposentadoria rural e o BPC, que pagam um salário mínimo mensal. Embora atendam menos pessoas, têm orçamento maior do que o Bolsa Família.
O economista considera insustentável o sistema de reajuste do salário mínimo adotado no governo Lula, que atrelou o índice não só à reposição da inflação, mas ao crescimento do PIB. Ele frisa que a fatia do Orçamento destinada a investimentos caiu de 16%, em 1987, um ano antes da Constituição, para 6,8%, em 2010.”Que país faz isso? Estão comprometendo o futuro em matéria de crescimento e emprego. Estão dando mais hoje e tirando emprego lá na frente”, resume Velloso.
O diretor de Estudos e Pesquisas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Jorge Abrahão, discorda. Lembra que 28 milhões de pessoas deixaram a miséria de 2003 a 2009, num movimento puxado pelo aumento da renda do trabalho, das aposentadorias e dos programas de assistência social, notadamente o BPC e o Bolsa Família.
Abrahão destaca o fortalecimento do mercado interno, uma vez que os gastos da população de baixa renda aquecem a economia. E defende a ampliação da rede para retirar da miséria 16,2 milhões de pessoas até 2014, meta da presidente Dilma Rousseff:”Um olhar fiscalista só vê o gasto e esquece o impacto das transferências na construção de um mercado interno. As transferências cumprem relevante papel de incluir essa população que ingressou no mundo do consumo

O conto da cigarra e da formiga: versão União Monetaria Europeia

Pois é, sempre tem cigarras e sempre tem formigas neste mundo. E as formigas estão sempre sendo chamadas a ajudar as pobres das cigarras, que estão morrendo de frio e de fome por não terem trabalhado tão intensamente quanto as formigas, ou por não terem simplesmente trabalhado, vivendo do que lhes dava a natureza -- o sol, as praias, aquela vida meio baiana, dos gregos -- e não acumulando para dias menos favoráveis.
Bem, o que vão fazer as formigas?: deixar as cigarras ao relento, arruinando sua reputação?
Talvez fosse o caso de tirar as praias (não dá para tirar o sol) da administração das cigarras e deixá-las sob gerenciamento das formigas, para rentabilizar os investimentos e amortizar a ajuda que está sendo prestada.



Claire Gatinois
Le Monde, 14/10/2011

On les appelle les "égoïstes" de la zone euro. Ces pays, qui, comme la Slovaquie, rechignent à payer pour sauver la Grèce et les dérapages budgétaires des autres "maillons faibles" du sud de l'Europe.
Après avoir voté contre, le Parlement de Bratislava a finalement approuvé, jeudi 13 octobre, l'élargissement du Fonds européen de stabilité financière (FESF) nécessaire au sauvetage d'Athènes. Mais en hésitant, le pays a effrayé les dirigeants européens et mis au jour la rigidité de la gouvernance de la zone et l'exaspération de certains membres : la Slovaquie mais aussi les Pays-Bas, la Finlande et, dans une moindre mesure, l'Allemagne. Point sur ces "égoïsmes".

La Slovaquie : ne pas payer pour plus riches qu'eux. Le blocage du vote sur l'élargissement du FESF au Parlement slovaque a d'abord répondu à un calcul purement politique. Il a permis à l'opposition de précipiter la chute du gouvernement de centre-droit.
Mais il a aussi fait écho à un ressentiment, "compréhensible" de la population, reconnaît Sylvain Broyer, économiste chez Natixis. La Slovaquie, entrée dans la zone euro en 2009, reste un pays pauvre. Plus pauvre que la Grèce et les autres nations que le pays est censé secourir. La retraite des fonctionnaires slovaques s'élève en moyenne à 600 euros par mois, contre 850 euros en Grèce. Même si le coût de la vie est moins cher en Slovaquie, le pays a le sentiment de payer pour assurer les retraites des fonctionnaires grecs.
Le soutien au FESF pourrait coûter au pays jusqu'à 7,7 milliards d'euros en garanties, soit 13 % du produit intérieur brut (PIB), souligne M. Broyer, qui rappelle que le pays bénéficie des fonds structurels européens, soit 1,6 milliard d'euros par an.
Les Pays-Bas : l'éthique protestante et l'esprit du capitalisme. Membre du club fermé des pays notés AAA par les agences de crédit, la Hollande est un exemple de rigueur et de discipline budgétaire. Selon les calculs de Natixis, compte tenu des recettes courantes, le pays ne mettrait qu'1,7 an à rembourser sa dette contre 2,02 ans pour la France et 2,3 pour le Royaume-Uni. Selon le Fonds monétaire international (FMI), son déficit budgétaire représentera 3,8 % du PIB en 2011 et 2,8 % en 2012. En dessous de la ligne jaune du traité de Maastricht (3 %).
"Cette discipline exemplaire est le résultat d'une fiscalité sévère qui trouve son fondement dans une forme d'éthique protestante", estime Shahin Vallée, économiste au centre Bruegel. Au Pays-Bas, on comprend donc mal de devoir aider encore et encore un pays comme la Grèce, "qui n'a pas présenté un budget à l'équilibre depuis cinquante ans", pointe Charles Wyplosz, professeur d'économie internationale au Graduate Institute de Genève.
La Finlande : le refus de l'aléa moral. Le pays peut mettre en avant des finances saines malgré la crise. Selon le FMI, la Finlande sera en excédent budgétaire en 2012. Le pays rappelle aussi s'être sorti seul d'une crise bancaire dans les années 1990. Pourquoi aujourd'hui soutenir ceux qui, comme la Grèce, n'ont pas respecté les règles du jeu ?
La Finlande incarne aussi le réflexe de repli sur soi. Après sa percée aux dernières élections législatives (19 % des voix), le parti nationaliste les Vrais Finlandais a pu exiger et obtenir des garanties contre les prêts à la Grèce. De tous les "égoïstes", le pays est ainsi, selon M. Vallée, "le seul à présenter un véritable euroscepticisme".
L'Allemagne : échaudée par la réunification. Angela Merkel affiche depuis quelques semaines une grande fermeté pour sauver la Grèce et éviter la contagion de la crise. Mais jeudi, la chancelière s'est encore fait rattraper par l'opinion publique.
Huit instituts d'économistes ont lancé un appel aux gouvernements pour arrêter d'investir leur énergie dans le sauvetage de la Grèce. "Les sommes engagées peuvent augmenter à l'infini", alertent-ils.
Ces experts savent de quoi ils parlent. Les transferts financiers entre l'ex-RFA et l'ex-RDA après la réunification ont coûté 1 300 milliards d'euros en vingt ans à l'Allemagne de l'Ouest. Et les Allemands considèrent avoir souffert pour redresser leurs finances publiques. Avec succès : le déficit budgétaire devrait atteindre 0,9 % du PIB cette année.
Si l'Allemagne, l'un des principaux contributeurs de l'euro, ne peut être considérée au sens strict du terme comme "égoïste", elle appartient au clan des durs, adeptes de la discipline budgétaire, et veut s'assurer que toute aide sera assortie d'engagements fermes.

Autonomia nacional em energia: Sumiu? - a fabula do petroleo e do etanol...

Não concordo com tudo o que vai escrito abaixo. Ou talvez concorde com o sentido geral, mas consoante meus hábitos empiricistas, preferiria apoiar com números e dados materiais cada um dos argumentos e afirmações.
Tudo o que diz o autor é verdade, mas nem tudo pode ser atribuído a um único homem, inclusive porque se trata de alguém que nunca leu, nunca estudou, e que possui uma inteligência apenas intuitiva, o que não quer dizer que acerte em todas as suas recomendações.
No caso da energia, o Sr. Luiz Inácio errou muito, mas muito mesmo. Mas ele não errou apenas por pretender fazê-lo, voluntariamente. Foi mal aconselhado. Os principais culpados da tragédia brasileira em energia foram seus conselheiros nessa matéria, em primeiro lugar a que agora ocupa a presidência.
Esse pessoal impôs um alto custo ao povo, isso é verdade, mas sobretudo impôs distorções tremendas à matriz energética do país, e à própria economia, cometendo erros que vão pesar anos e anos à frente, com os vieses estatizantes, e anti-capital estrangeiro que caracterizam sua (ausência de) racionalidade econômica, de fato, uma total falta de pensamento econômico mais elaborado.
De fato, pagamos muito caro pela nossa gasolina e ainda importamos. Pagamos muito caro pelo nosso etanol e ainda importamos. Existem diversas razões para isso, não apenas atribuíveis ao cérebro deformado do Sr. L.I, mas o sentido geral das políticas estatizantes e autonomistas foi ele quem determinou. Esse Senhor fez muito mal ao Brasil, e vai continuar fazendo, infelizmente.
Paulo Roberto de Almeida


Célio Pezza*, 13/10/2011

Era uma vez, um país que disse ter conquistado a independência energética com o uso do álcool feito a partir da cana de açúcar. Seu presidente falou ao mundo todo sobre a sua conquista e foi muito aplaudido por todos. Na época, este país lendário começou a exportar álcool até para outros países mais desenvolvidos. Alguns anos se passaram e este mesmo país assombrou novamente o mundo quando anunciou que tinha tanto petróleo que seria um dos maiores produtores do mundo e seu futuro como exportador estava garantido.

A cada discurso de seu presidente, os aplausos eram tantos que confundiram a capacidade de pensar de seu povo. O tempo foi passando e o mundo colocou algumas barreiras para evitar que o grande produtor invadisse seu mercado. Ao mesmo tempo adotaram uma política de comprar as usinas do lendário país, para serem os donos do negócio. Em 2011, o fabuloso país grande produtor de combustíveis, apesar dos alardes publicitários e dos discursos inflamados de seus governantes, começou a importar álcool e gasolina. (Quem é inteligente e competente não fala, FAZ)

Primeiro começou com o álcool, e já importou mais de 400 milhões de litros e deve trazer de fora neste ano um recorde de 1,5 bilhão de litros, segundo o presidente de sua maior empresa do setor, chamada Petrobrás Biocombustíveis. Como o álcool do exterior é inferior, um órgão chamado ANP (Agência Nacional do Petróleo) mudou a especificação do álcool, aumentando de 0,4% para 1,0% a quantidade da água, para permitir a importação. Ao mesmo tempo, este país exporta o álcool de boa qualidade a um preço mais baixo, para honrar contratos firmados.

Como o álcool começou a ser matéria rara, foi mudada a quantidade de álcool adicionada na gasolina, de 25% para 20%, o que fez com que a grande empresa produtora de gasolina deste país precisasse importar gasolina, para não faltar no mercado interno. Da mesma forma, ela exporta gasolina mais barata e compra mais cara, por força de contratos.

A fábula conta ainda que grandes empresas estrangeiras, como a BP (British Petroleum), compraram no último ano, várias grandes usinas produtoras de álcool neste país imaginário, como a Companhia Nacional de Álcool e Açúcar, e já são donas de 25% do setor. A verdade é que hoje, este país exótico exporta o álcool e a gasolina a preços baixos, importa a preços altos um produto inferior, e seu povo paga por estes produtos um dos mais altos preços do mundo. Infelizmente esta fábula é real e o país onde estas coisas irreais acontecem chama-se Brasil.
***
L.I. usou a mentirinha acima para se enaltecer e eleger sua candidata. Jogou sujo, mais uma vez, pois sabia que, quando suas patifarias começassem a transbordar, seria no governo seguinte, deixando-o sem responsabilidade por tanta porcaria, ao menos diante dos eleitores que acreditaram nele. Por isso é preciso ser lembrado, sempre, de que ele é o principal causador tanto pela consequencia dos seus erros que começam a surgir, quanto pelos erros cometidos por sua sucessora, pois ele jurava que a atual presidente seria a melhor coisa para o país.  Quem elegeu Dilma não o povo que nem a conheia, foi L.I.

*Célio Pezza é escritor e autor de diversos livros, entre eles: As Sete PortasAriane, e o seu mais recente A Palavra Perdida (www.celiopezza.com).

sábado, 15 de outubro de 2011

Tirar o capitalismo, OK; mas colocar o que, no lugar?

Por vezes eu tenho a leve impressão de que a humanidade está involuindo, ou seja, retrocedendo, andando para trás, ficando mais estúpida, mais burra, ou mais ingênua; vocês decidem.
Em lugar dos avanços e dos progressos que se esperam, pessoas estão regredindo mentalmente.
Pelo menos é o que eu deduzo a partir das manifestações que ocorreram nesta sábado 15 de outubro em diferentes partes do mundo.
São os "indignados" e os partidários do movimento "Occupy Wall Street", que possuem uma agenda confusa, negativa, como sempre ocorre nessas ocasiões, absolutamente ingênua e totalmente desprovida de alguma proposta racional, já não digo economicamente razoável, mas de simples bom senso.
Se eu disser que são todos uns idiotas, teremos gente que vai escrever aqui indignada (como o movimento), dizendo que sou grosseiro e arrogante, mas sinceramente, não posso chegar a outra conclusão que não essa.
Vejamos o que eles dizem, e o que eu posso comentar, a partir desse "panfleto eletrônico" português.
Eles vão de vermelho, como faz um jornalista famoso; eu vou de azul.
Paulo Roberto de Almeida 


15 de outubro
Unidos por uma mudança global
http://15october.net/pt/
O dia 15 de outubro gente de todo o mundo tomará as ruas e praças. Da América à Asia, da África à Europa, as pessoas estão se levantando para reclamar seus direitos e pedir uma autêntica democracia. Agora chegou o momento de nos unirmos todos em um protesto mundial não-violento.
PRA: Pessoas se levantando sempre é bom: um dos principais problemas da humanidade é a obesidade, os maus hábitos, a inércia, a preguiça; sair pelas ruas para passear, quem sabe correr da polícia, sempre é bom. Quanto a reclamar seus direitos, eu não sei bem a que isso se refere, pois direitos sempre existem como resultado de alguma coisa, ou seja, alguém precisa produzir esses direitos a partir de alguma produção qualquer. As pessoas querem, provavelmente que os governos, os Estados, os políticos, ou seja lá quem for, lhes dêem direitos, o que significa casa, comida, roupa lavada, empregos garantidos, altos salários, pouco trabalho (semana de 35hs, digamos), aposentadoria digna (se possível aos 55 ou 60), enfim, um conjunto de "direitos", muitas benesses que precisam ser "produzidas" por alguém, antes de serem entregues aos idiotas indignados da praça.
Se eles pensassem um pouco melhor, chegariam à conclusão -- com eu cheguei, e como qualquer idiota poderia chegar, também -- de que foi isso mesmo que eles estão pedindo agora, ou seja, direitos, serviços públicos, que causou os problemas que agora se manifestaram sob a forma de crises: governos gastaram demais e entraram em crise...
Quanto à "democracia autêntica" sempre é muito perigoso adjetivar a democracia; na Venezuela, por exemplo, estão construindo uma "democracia participativa"; nos finados países socialistas se falava de "democracia popular". Pois é...

Os poderes estabelecidos atuam em beneficio de uns poucos, ignorando a vontade da grande maioria sem que se importem do custo humano ou ecológico que tenhamos que pagar. Esta intolerável situação deve terminar.
PRA: Poderes estabelecidos não surgem do nada. Em todos os países onde ocorrem manifestações, esses poderes foram colocados pelo voto dos cidadãos. Em qual ditadura ocorreram manifestações contra os "poderes estabelecidos"? Em Cuba, na Coreia do Norte, na China?

Unidos em uma só voz, faremos saber aos políticos, e as elites financeiras a quem eles servem, que agora somos nós, as pessoas, quem decidiremos nosso futuro. Não somos mercadorias nas mãos de políticos e banqueiros que não nos representam.
PRA: Mas as pessoas sempre decidiram o seu futuro. Pelo menos nos países em que ocorreram essas manifestações. Ou será que esses manifestantes deixam que governos decidam seus futuros por eles? Mercadorias? Mas quem vota por políticos? Quanto aos banqueiros, eu não conheço os "meus", mas costumo decidir qual banco vou usar...

O 15 de outubro nos encontraremos nas ruas para botar em ação a mudança global que queremos. Nos manifestaremos pacificamente, debateremos e nos organizaremos até o conseguir. É a hora de nos unirmos. É a hora de nos ouvirem.
PRA: E qual é a mudança que eles querem? Alguém sabe me dizer? Provavelmente é aquilo mesmo: mais empregos, mais salários, mais direitos? E quem paga tudo isso? Os governos? Muito bem. E de onde os governos vão tirar os recursos para tudo isso? De vocês, idiotas, de todos nós, que somos idiotas a ponto de pedir que o governo faça sempre mais do que ele pode fazer, e com isso jogamos os governos para o déficit público.
Isso não quer dizer que políticos não gastem mais do que devem; sim, eles o fazem, mas quem votou por eles fomos nós, inclusive os idiotas que agora protestam.

Os indignados e "ocupantes de Wall Street" atual são os sucessores daqueles idiotas da Attac e do Fórum Social Mundial que, até pouco tempo atrás, também fazia ruidosos movimentos contra o neoliberalismo e o capitalismo global. Eles nunca conseguiram propor algo de racional, de factível, ou de simplesmente sensato. 
Puro besteirol, um pouco do qual examinei neste livro: 


Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2011, xx+272 p.; Inclui bibliografia; ISBN: 978-85-375-0875-6; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/107Globalizando.html). 
Paulo Roberto de Almeida 

O Brasil e o livre comercio (ma non troppo...)

Efeitos para o Brasil (todos negativos, claro) da entrada em vigor dos acordos de livre comércio concluídos pelos Estados Unidos com Coreia do Sul, Panamá e Colômbia.
O Brasil, vejam vocês, recusou o acordo da Área de Livre Comércio das Américas porque ele representaria uma "anexação da América Latina" pelos EUA. Que tragédia!
O Mercosul também corria o risco de desaparecer. Outra tragédia.
Preferimos ficar sem acordo nenhum.
A clarividência de nossos ministros e industrias é tamanha, que eles implodiram conscientemente e deliberadamente as negociações da Alca, para ficar com... o Mercosul, a Rodada Doha e o acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
Ufa! Conseguimos o melhor para o Brasil, como vocês podem constatar.


Fiesp prevê perdas com acordos dos EUA
Isable Fleck e Flavia Marreiro
Folha de S.Paulo, 14/10/2011


Tratados de livre-comércio aprovados por americanos com Colômbia, Panamá e Coreia do Sul ameaçariam exportações
Produtores colombianos preocupados com a concorrência dos EUA já iniciaram lobby por medidas de proteção


Os tratados de livre-comércio aprovados pelo Congresso dos Estados Unidos anteontem com Colômbia, Coreia do Sul e Panamá vão representar perda de mercado para o Brasil nos países envolvidos.
A previsão é da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que vê como única solução para manter os produtos brasileiros competitivos a adoção de medidas internas como o estabelecimento de um câmbio mais competitivo e a desoneração tributária total.
"Nós perderemos participação no mercado dos EUA porque esses países ficarão com vantagens tarifárias melhores que a do Brasil. Na Colômbia e no Panamá, perderemos mercado para empresas americanas", diz Roberto Giannetti, diretor de Comércio Exterior da Fiesp. Segundo ele, Brasil e EUA concorrem no mercado colombiano com máquinas agrícolas, equipamentos e material de construção e eletrodomésticos. Já os dois sul-americanos competem na exportação de alimentos -em especial café, frutas e sucos-, produtos metalúrgicos e papel para os EUA.
Até a Coreia do Sul representará uma ameaça para o Brasil na exportação de autopeças, máquinas e equipamentos para os EUA.

IMPACTO INTERNO
Na Colômbia, o governo Juan Manuel Santos comemora a aprovação do acordo com EUA após cinco anos de espera, mas corre contra o tempo para aprovar medidas que amortizem o impacto do TLC na agricultura e impulsionem a infraestrutura do país, uma das piores da América Latina.
"A Colômbia não está preparada para o acordo", disse o ministro da Agricultura, Juan Camilo Restrepo, citando o setor lácteo como um dos mais prejudicados pela competição americana.
O ministro da Fazenda, Juan Carlos Echeverry, respondeu ao colega de pasta: afirmou que o TLC será o empurrão que a Colômbia precisa para aumentar a produtividade.
Produtores de arroz e milho, no entanto, já iniciaram o lobby por medidas governamentais que os ajudem a resistir ao novo concorrente. O tratado deve vigorar em meados de 2012.
"A Colômbia tem carências muito grandes para poder aproveitar bem o acordo. Uma das principais questões é a infraestrutura terrestre. É mais caro trazer um produto do porto de Cartagena até Bogotá do que trazê-lo de Nova York à Colômbia", disse à Folha Diego Sandoval, diretor da consultoria colombiana Econometria. "Dessa maneira, é impossível ser competitivo."
Ao receber o presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, Barack Obama disse que o TLC era uma vitória para os países.

A frase do dia (do Professor): Marcel Proust



“A sabedoria não se transmite; é preciso que nós a descubramos fazendo uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar e que ninguém nos pode evitar. Porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas.”

Marcel Proust


Comentário recebido do Professor Orlando Tambosi


[A] frase do Proust me soa demasiado relativista. A ciência, por exemplo, não depende de pontos de vista.  Ah, os literatos e sua bronca contra a famigerada objetividade.


Meu comentário (PRA):
De fato, Proust é um literato e como tal não se julga preso a definições científicas. Entendo que a "sabedoria" de que ele fala é mais um conhecimento interior, uma sensibilidade, do que um conhecimento objetivo, comprovado pela materialidade de experimentos baconianos ou resultante da acumulação de provas empíricas.
Acredito, circunstancialmente, que a frase de Proust não se presta, efetivamente, ao trabalho do Professor, que deve, sim, transmitir conhecimentos e fazer com que os alunos apreendam a "sabedoria" que ele aprendeu nos livros e nos laboratórios, ou diretamente da observação da vida diária, da experiência prática.
Paulo Roberto de Almeida