O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Duas ou tres coisas que cabe falar sobre a economia (2) - Mansueto Almeida

Vamos continuar este exercício-lúdico-didático de trazer um pouco de luz ao debate econômico, já que as autoridades econômicas se esmeram em escurecer o ambiente, com suas frases otimistas demais, ou diretamente enganadoras, que não têm nada a ver com a realidade.
Para isso, me apoio novamente no economista Mansueto Almeida.
Como este que vos escreve, trata-se igualmente de um funcionário, aliás de um órgão ainda mais estratégico para a formulação de políticas econômicas, do que o que constitui meu antro de trabalho, que não tem qualquer influência sobre esse campo das políticas públicas.
Mas, também como eu, o Mansueto não costuma deixar o cérebro em casa, ou deixá-lo depositado na portaria, quando segue para o trabalho. Ele usa seus neurônios para refletir e ponderar sobre quais seriam as melhores políticas públicas para o Brasil.
Não vamos achar que o debate se esgota nestas duas ou três questões aqui formuladas, mas avancemos devagar que é para não cansar certas pessoas.
Paulo Roberto de Almeida

Entrevista à rádio CBN

Segue o link para aqueles que se interessarem em escutar a entrevista que dei hoje ao jornalista Carlos Alberto Sardenberg da rádio CBN (clique aqui). A entrevista foi baseada em uma nota simples que fiz, na semana passada, e que havia repassado ao jornal Estado de São Paulo. O jornalista Fernando Dantas aproveitou para fazer matéria publicada hoje na primeira página do caderno “Economia & Negócios” do jornal (clique aqui).
O ponto é simples: com a forte desaceleração esperada para o PIB e a necessidade de aumentar o investimento público, tornou-se elevada a chance de o governo Dilma repetir o mesmo ritmo de expansão do gasto público do governo Lula ou até superar o governo Lula. É claro que se o Brasil estivesse crescendo a 5% seria muito mais fácil acomodar os aumentos de gastos como ocorreu em 2008, quando o PIB cresceu 5,1% e, apesar do crescimento real dos gastos em quase R$ 20 bilhões, a despesa não financeira do governo federal passou de de 17,1% do PIB para 16,6% – uma queda em relação ao PIB.
O risco é se o PIB não ajudar e, agora, com esse regra formal de indexação do mínimo a dinâmica ficou pior. A propósito, apesar de eu achar que a politica do salário mínimo tem cada vez mais um custo elevado frente ao benefício, esse é um debate político. A sociedade pode até decidir por aumentos maiores.
Não cabe a um economista dizer qual deve ser a regra de reajuste do salário mínimo. Estou apenas emitindo uma opinião pessoal quando falo que essa politica tem um custo elevado frente à formas mais eficazes de combater pobreza e desigualdade como o programa bolsa-família e maiores investimento em educação. Mas vários amigos meus discordam de mim e acham que a política atual de reajuste do salário mínimo é boa.
Eu discordo deles porque não conheço no mundo nenhum caso de um país que tenha conseguido reduzir, sistematicamente, a pobreza e a desigualdade por meio de uma política agressiva de aumentos do salário mínimo. Se souberem de algum exemplo específico por favor me mandem a referência. E como já falei, o Brasil tem mecanismos mais eficazes e baratos para aumentar a renda dos mais pobres no curto-prazo, como o bolsa-família e, no longo-prazo, eu prefiro maiores investimentos em educação pré-escolar e educação básica, e  melhoria na progressividade da tributação.

Duas ou tres coisas que cabe falar sobre a economia (1) - Mansueto Almeida

Sempre é bom colocar as cartas na mesa e falar claramente as coisas que precisam ser ditas.
Em economia, por exemplo, tem muito achismo, no Brasil.
Um dos economistas que combatem achismos e que dizem as coisas que devem ser ditas é o funcionário do IPEA Mansueto Almeida , não por isso aderente a certos achismos que por lá pululam atualmente, e não por ser funcionário público menos independente de pensamento ou com menos argúcia nos argumentos.
Funcionários públicos, como costuma ser frequentemente o caso, acabam aderindo a um padrão róseo do mundo que justifica todas as bobagens que são ditas pelos dirigentes, ou tendem a ser excessivamente chapa-brancas, concordando automaticamente com todos os equívocos do governo.
Não parece ser o meu caso, nem o do Mansueto, por isso me permito postar aqui uma de suas contribuições que eu chamaria de realismo sensato. Nada a ver com o surrealismo mágico do governo e dos governistas.
Segue a primeira postagem:
Paulo Roberto de Almeida

Um pouco de verdade seria bom para o debate

Mansueto Almeida

Há coisas que se leem nos jornais e que passam despercebidas porque essas declarações têm como objetivo fazer o bem, ajudar outros países e setores, mas, na prática, partem de uma lógica equivocada.
(1) Precisamos criar rapidamente o Banco Sul para ajudar a Argentina que não tem um banco de desenvolvimento.
Os argentinos se queixam de que linhas de financiamento, como o Finame, do BNDES, dão vantagens para as companhias brasileiras no continente. Está fora de questão, até por motivos legais, estender o Finame aos vizinhos, mas o fundo no Banco do Sul poderá reduzir o desconforto na Argentina, acredita o assessor do Planalto (O Ministro Marco Aurélio Garcia) .” (Do Valor Econômico, 14 de dezembro de 2011)
O Ministro Marco Aurélio Garcia declarou em matéria recente no Valor Econômico que, dada a impossibilidade de utilizar o BNDES para financiar empresas estrangeiras fora do Brasil, que “pensamos em criar no Banco do Sul uma espécie de fundo especial para ajudar a Argentina nessas questões”, disse Garcia, que prefere não dar detalhes, por  envolverem “tecnicalidades”.
O Banco Sul ainda está para ser criado com capital de US$ 7 bilhões e o Brasil deverá colocar entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões neste banco. Mas essa preocupação especifica com a Argentina não faz sentido.
Deveríamos ensinar a Argentina como criar o seu próprio banco de desenvolvimento que é simples: cria-se um novo imposto para financiar as operações desse banco e/ou aumenta-se a dívida para emprestar recursos para esse banco. Mas se a Argentina quer ter um banco de desenvolvimento sem aumentar impostos e sem aumentar a dívida, nesse caso, são eles que precisam nos ensinar como fazer tal mágica.
(2) “A indústria brasileira precisa das mesmas condições de competitividade das empresas na China”
Li hoje no valor que um grupo de empresários de associações empresariais diferentes serão recebidos pelo Ministro da Fazenda. Da forma que a matéria foi escrita me veio à mente o filme “O Poderoso Chefão” com aquela fila grande de pessoas pedindo favores ao Don Corlleone, que deveria arbitrar a quem entender e de que forma atender a esses pedidos. Olhem o primeiro parágrafo da matéria e vejam se eu não tenho razão:
“A expectativa dos empresários do setor industrial que vão se reunir hoje em São Paulo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, é não sair do encontro de mãos vazias. Apesar de o objetivo da reunião ser apresentar um balanço do ano, os industriais se preparam para colocar na mesa suas reivindicações e esperam que algumas delas sejam atendidas. Os pedidos “natalinos” dos setores variam de desoneração tributária à crédito para o consumo de bens. (Valor Econômico, 15/12/2011: Perto do Natal, indústria espera ‘presentes’ de Mantega)”
Mas o que mais me chamou atenção foi a seguinte afirmação do presidente da Abit: “O que o setor quer é uma condição igualitária de competição com a China. A gente não pode deixar que os subsídios internos que eles têm destruam empregos no Brasil”.
Os empresários no Brasil têm que entender uma realidade dura. Eles jamais terão a mesma condição de competitividade de uma empresa na China porque Brasil e China adotam modelos diferentes de crescimento. Na China, as politicas sociais são limitadas e, consequentemente, a carga tributária é baixa: menos de 20% do PIB. Ademais, como o governo gasta pouco com transferências para famílias, concentra o uso dos recursos no investimento público e financiamento do investimento privado. Se há algum paralelo é o Brasil dos anos 70.
Hoje, no Brasil, o eleitor fez opção por um modelo diferente e, como empresários fazem parte da sociedade, estão no mesmo barco que todos nós o que significa pagar uma carga tributária elevada e participar de pacto social que ai está, o que implica gastos sociais crescentes. Assim, esqueçam, pois vocês jamais terão no Brasil, na manufatura, “condição igualitária de competição com a China”.
 É verdade que diferenças de tributação podem ser resolvidas em uma economia aberta via taxa de câmbio (a moeda mais desvalorizada pode neutralizar a maior carga tributária em relação a uma economia de menor carga tributária),  mas o nosso modelo atual de crescimento nos leva a uma maior especialização no que já temos vantagem comparativas (commodities) e, assim, a valorização do real piora ainda mais o cenário para indústria. E a desvalorização induzida do Real para digamos, R$ 2.40/US$ 1; significaria redução do salário real dos trabalhadores e, novamente, a quebra do pacto social atual no qual os eleitores querem consumir mais e desejam política sociais mais ativas.
Empresários, levem suas demandas não para o Ministro da Fazenda, mas sim para os candidatos ao longo do processo eleitoral que seria a época de questionarmos o nosso modelo de desenvolvimento. Por enquanto, o goveno está seguindo à risca o que prometeu ao seu eleitor e ainda falta 0,5% do PIB para acabar com a extrema pobreza até 2014.

Necropolitica bolivariana: onde mais poderia ser?


Chávez pone a Simón Bolívar en un sarcófago con oro y perlas de Venezuela

Infolatam/AFP
Caracas, 18 diciembre 2011
Las claves
  • El féretro de caoba está decorado con perlas de las costas venezolanas, diamantes de las zonas mineras del sur y ocho estrellas de oro donado por el Banco Central de Venezuela, según la agencia oficial de noticias AVN.
El presidente venezolano, Hugo Chávez, lideró este sábado los actos de conmemoración por los 181 años de la muerte del libertador Simón Bolívar, donde se presentó el nuevo sarcófago de caoba con perlas de las costas venezolanas en el que reposan los restos del prócer independentista.
sarcofagobolivar“Sabemos ahora, sin duda de ningún tipo y para siempre, que estás aquí, padre, estás aquí con nosotros, eres tú”, dijo Chávez durante la ceremonia en el Panteón Nacional en Caracas, donde yace la tumba de Bolívar, transmitida en cadena de radio y televisión.
El féretro de caoba está decorado con perlas de las costas venezolanas, diamantes de las zonas mineras del sur y ocho estrellas de oro donado por el Banco Central de Venezuela, según la agencia oficial de noticias AVN.
Un estudio científico, dirigido por el gobierno venezolano, confirmó en julio que los restos de Bolívar en el Panteón Nacional son auténticos, aunque no pudo precisar las causas de su muerte tras una investigación iniciada un año antes.
Los restos de Bolívar fueron exhumados en julio de 2010 de manera inesperada por el gobierno para certificar que pertenecían al Libertador, determinar las causas de su muerte en 1830 y preservar mejor sus restos.
Bajo el nuevo sarcófago, los huesos de Bolívar reposan en una urna acondicionada especialmente y fabricada con un polímero transparente que permitirá futuras observaciones.
La versión histórica señala que Bolívar murió de tuberculosis en la localidad colombiana Santa Marta, pero Chávez duda de esta interpretación e incluso ha dado a entender en ocasiones que el prócer fue envenenado por sus enemigos, que “lo querían muerto”.
“Creo que a Simón Bolívar lo asesinaron, no sé si la tecnología dé para descubrirlo”, reafirmó este sábado el mandatario.
El gobierno además construye un mausoleo contiguo para acoger definitivamente los restos de Bolívar, que, según la prensa, contendrá 2.900 toneladas de acero, un poco menos de la mitad de la Torre Eiffel.
“Aquí estaremos en 2030 delante de ti, Bolívar, a los 200 años de tu inmortalidad”, expresó Chávez, en el poder desde 1999 y aspirante a ser reelegido en las elecciones presidenciales de octubre de 2012.
El presidente venezolano, Hugo Chávez, contempla el sarcófago donde se encuentran los restos de Simón Bolívar, este sábado en Caracas.
Chávez lideró este sábado los actos de conmemoración por los 181 años de la muerte del libertador Simón Bolívar, donde se presentó el nuevo sarcófago en el que reposan los restos del prócer independentista.
El presidente de Venezuela, Hugo Chávez, posa frente al sarcófago con los restos de Simón Bolívar este sábado en Caracas. El féretro de caoba está decorado con perlas de las costas venezolanas, diamantes de las zonas mineras del sur y ocho estrellas de oro donado por el Banco Central de Venezuela, según la agencia oficial de noticias AVN.

A Coreia do Norte vai se desintegrar, agora...

...de forma que restará, única e exclusivamente, um único Estado comunista oficial na face da terra.
Boa sorte Mr. Castro...


Kim Jong-il, Leader of North Korea, Is Dead

Kim Jong-il, the reclusive dictator who kept North Korea at the edge of starvation and collapse, banished to gulags citizens deemed disloyal and turned the country into a nuclear weapons state, died Saturday, according to North Korean state news media.

Called the “Dear Leader” by his people, Mr. Kim, the son of North Korea’s founder, remained an unknowable figure. Everything about him was guesswork, from the exact date and place of his birth to the cause of his death to the mythologized events of his rise in a country formed by the hasty division of the Korean Peninsula at the end of World War II. 
North Koreans heard about him only as their “peerless leader” and “the great successor to the revolutionary cause.” Yet he fostered what was perhaps the last personality cult in the Communist world. His portrait hangs beside that of his father, Kim Il-sung, in every North Korean household and building. Towers, banners and even rock faces across the country bear slogans praising him.

A questao da lideranca do Brasil na America do Sul - Reinaldo Alencar Domingues

Raramente, ou nunca, coloco textos já publicados no Mundorama neste blog, pela simples razão de que representaria duplicar um site que já é conhecido suficientemente dos leitores deste blog, que são também, em grande medida, estudiosos de RI e, portanto, conhecedores dos recursos desse campo.
Mas em certos casos, a duplicação se justifica, como neste caso.
Paulo Roberto de Almeida 



A Aspiração de Liderança Brasileira na América do Sul no Governo Lula 

Reinaldo Alencar Domingues

 
 
 
 
 
 
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            O tema da liderança brasileira na América do Sul tem alcançado grande importância nos debates sobre política externa. No governo Lula, a questão ganhou maior destaque ao gerar uma polêmica no início de seu mandato e por permear indiretamente a visão ampla de inserção regional e internacional do país. A compreensão do papel do Brasil na América do Sul e no mundo depende intimamente da autopercepção das grandezas e limitações do país.[1]
            Percebe-se um vínculo entre a identidade internacional do Brasil e as noções de liderança desenvolvidas ao longo da história. O país assumiu consecutivamente diversas identidades: passou progressivamente da ideia de país americano para a de latino-americano e, em seguida, para a atual concepção de país sul-americano (COUTO, 2009). Em cada um dos momentos, a compreensão do papel do Brasil e as suas concepções de liderança variaram. Sob a gestão do Barão do Rio Branco, o Estado brasileiro adotou a identidade de país americano e o papel de subliderança regional ao aceitar a preeminência norte-americana no continente, ampliando sua margem de ação na vizinhança.
Com a Política Externa Independente (PEI), na década de 1960, o Brasil assumiu a identidade de país latino-americano em desenvolvimento, buscando se destacar como uma das principais vozes no movimento terceiro-mundista. A noção de liderança concebida foi de uma liderança temática – sob o signo do desenvolvimento – e que matinha um apelo de ser um movimento conjunto e mutualmente benéfico a todos.
A partir do governo de Itamar Franco e, em especial, no mandato de Fernando Henrique Cardoso a identidade sul-americana do Brasil estava em construção. Durante a gestão de FHC, a concepção de liderança desenvolvida entendia que esta se daria como consequência natural da proeminência econômica, atribuindo à região uma função diferente da conferida no mandato seguinte.
O governo Lula desenvolveu uma noção própria de liderança, inserindo-a junto à estratégia ampla de autonomia pela diversificação (VIGEVANI; CEPALUNI, 2007). Segundo esta, a América do Sul assumiria um papel central nas relações do Brasil com o mundo ao ampliar o poder de barganha e de voz do país no cenário internacional. A concepção apresentada pelo presidente abrangeu diversos valores que permearam a ação externa brasileira no período. O caráter não-hegemônico da liderança, a solidariedade e generosidade, e a ênfase nos objetivos comuns da região nortearam as relações do Brasil com seu entorno geográfico.
Apesar dos governos de FHC e Lula partirem de uma ideia semelhante da identidade internacional do Brasil – reconhecendo-o como país sul-americano –, desenvolveram noções distintas de liderança. Esta divergência sugere que, apesar da relação entre as duas variáveis, a percepção e os valores dos formuladores políticos também influenciam a noção de liderança desenvolvida pelo país.
Ao investigar os elementos de poder do Brasil, lançando um olhar sobre o ambiente doméstico do país e colocando-o em perspectiva com o continente, constatam-se duas assimetrias. A primeira refere-se à crescente assimetria entre Brasil e os demais países sul-americanos, ressaltando as potencialidades de uma liderança brasileira. A segunda representa a enorme assimetria entre a América do Sul (o Brasil, inclusive) e os Estados Unidos, destacando as limitações de uma aspiração de liderança brasileira mais ampla e a necessidade de lidar com a presença norte-americana no continente.
A liderança depende, ademais, de vontade e de mobilização em torno da decisão de liderar (DANESE, 2009). Nesse sentido, a ambição maior de um projeto de liderança mundial dos Estados Unidos e a ausência de ameaças críveis na região retiram dos norte-americanos a motivação ou ambição de exercer uma liderança continental. De outro lado, o Brasil atribui à região uma grande relevância, colocando-a entre suas principais prioridades de política externa (SOUZA, 2009).
Nesse contexto, admite-se também a importância das relações entre Brasil e Estados Unidos e suas implicações para a aspiração de liderança brasileira na América do Sul. A política externa norte-americana passou por grandes mudanças na primeira década do século XXI. Abandonou aos poucos a orientação unilateralista da gestão de George W. Bush, para uma orientação mais multilateralista ao aproximar-se do final da década. A crescente indisposição dos Estados Unidos de pagar pelos bens públicos globais (MANDELBAUM, 2002), somada ao endividamento progressivo do país com as duas guerras no Oriente Médio, a crise financeira de 2008 e o caráter transnacional de muitas ameaças em um ambiente internacional globalizado, tornou o cenário favorável ao surgimento de novos atores relevantes internacionalmente.
Apesar disso, a relação entre Brasil e Estados Unidos foi marcada por muitos desacordos ao longo da década. Os desentendimentos estiveram geralmente relacionados a duas questões: a falta de compreensão da tradição de autonomia da política externa brasileira por parte dos EUA e o receio do Brasil referente ao gigante norte-americano. Estes fatores minaram, por vezes, as oportunidades de aproximação entre os dois países. Muitos autores sugeriram enfaticamente os benefícios de uma maior aproximação e coordenação de ambos. Porém, os obstáculos ainda não foram totalmente superados.
A ausência de um projeto claro dos Estados Unidos para a América do Sul, fundamentado em uma agenda mínima relacionada ao narcotráfico, questões energéticas e a estabilidade regional, permitiu que a diplomacia brasileira atuasse com maior liberdade na região.
Porém, a aspiração de liderança brasileira na América do Sul encontra outros obstáculos. Internamente, as mazelas de um país ainda em desenvolvimento geram margem para contestação e dificultam a criação de um consenso interno da decisão de liderar, encontrando maior resistência à mobilização de recursos. Externamente, as suspeitas de um projeto subimperialista brasileiro e os problemas internos do país criam resistência à aspiração nacional e mitigam sua legitimidade.
Em análise dos instrumentos utilizados pelo Brasil na busca pelo exercício da liderança, constata-se que o país procurou exercer uma liderança branda (soft leadership). Destacam-se entre os principais meios do exercício da liderança brasileira, tanto a nível político quanto econômico, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o Fundo para Convergência Estrutural do Mercosul (FOCEM), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) – muitas vezes por meio de empresas nacionais.
As interpretações relativas aos investimentos brasileiros na região foram distintas. De um lado, os formuladores políticos do governo Lula os interpretaram como um exemplo claro do comprometimento do país com o desenvolvimento da região e com a superação de assimetrias (AMORIM, 2010). De outro, os países vizinhos muitas vezes os interpretaram como pífios e insuficientes (SORJ; FAUSTO, 2011). No nível doméstico, há parcelas da população que consideram os investimentos desnecessários e até mesmo imorais ante a miséria encontrada no próprio país. Apesar dos desafios e das críticas, deve-se reconhecer as iniciativas brasileiras que não são de maneira alguma irrelevantes. A criação da Unasul e do Conselho de Defesa Sul-Americano são algumas das importantes iniciativas que foram impulsionadas fortemente pelos esforços brasileiros, cooperando para a construção de uma imagem de liderança conforme a noção desenvolvida pelo governo Lula.
 Como gerenciador de crises na região, a postura do Brasil foi relativamente inconstante. Em casos como o da nacionalização do gás boliviano e da renegociação do Tratado de Itaipu, a diplomacia brasileira agiu – ao menos aparentemente – com certa condescendência com os países que confrontaram seus interesses em nome da generosidade e solidariedade com os mais fracos, reforçando a cordialidade oficial com os vizinhos, para citar a expressão de Cervo (2008). No caso das papeleras, o Itamaraty adotou uma postura reticente, se eximindo do papel de mediador a fim de evitar uma confrontação direta que poderia afetar sua relação com a Argentina, enquanto na crise Colômbia-Equador, agiu com certa discrição, descartando a possibilidade do desentendimento escalar para um conflito armado.
Ao final do período, o crescimento brasileiro resultou em um papel mais relevante no mundo e na preeminência na região. O novo lugar alcançado pelo Brasil no mundo tem gerado dúvidas sobre qual deve ser a orientação da política externa brasileira. A relativa estagnação do processo de integração regional e os problemas políticos enfrentados pelo eixo Brasil-Argentina (apesar do comércio dos dois países ter chegado a US$ 30 bilhões em 2010, com previsões de ultrapassar US$40 bilhões em 2011) têm levado alguns a questionar a estratégia de buscar o aprofundamento do Mercosul, sugerindo que o Brasil já alcançou peso suficiente para buscar sozinho seus interesses. Porém, a oposição entre orientações global e regional não parece totalmente rígida. Estas podem ser, por vezes, complementares (SOARES; SANTOS, 2008).
A aspiração de liderança brasileira se inclui no centro das duas orientações, permitindo que o país fortaleça seus laços regionais enquanto ascende como importante global player. O peso estratégico da América do Sul para o Brasil justifica por si um projeto que vise conduzi-la de forma favorável ao seu interesse nacional. O fato de a região ser um subsistema aberto, estando suscetível a influências externas (como do EUA ou da China), faz com que o projeto brasileiro intencione ser o mais atraente possível, criando incentivos à aceitação voluntária de sua liderança. Por outro lado, como ficou patente em alguns choques de influência como o de Honduras e das negociações com o Irã, a aspiração do Brasil possui uma clara limitação, restringindo-se à sua vizinhança. Ao transbordá-la, o país perde tanto em legitimidade como em influência, ao mesmo tempo em que esbarra em outros atores interessados em manter ou ampliar suas áreas de influência.
Referências:
CERVO, Amado Luiz. Inserção Internacional: formação dos conceitos brasileiros. São Paulo: Ed. Saraiva, 2008.
DANESE, Sérgio (2009). A escola da liderança – ensaios sobre a política externa e a inserção internacional do Brasil. Rio de Janeiro: Record.
LIMA, Maria Regina Soares; SANTOS, Fabiano (2008). “O interesse nacional e a integração regional”. Papéis Legislativos, ano 2, n. 1, p. 01-15, abr. 2008.
MANDELBAUM, Michael (2002). The Inadequacy of American Power. Foreign Affairs, vol. 81, n° 5, September/October, 2002, p. 61-73.
SORJ, Bernardo; FAUSTO, Sergio (2011). O papel do Brasil na América do Sul: estratégias e percepções mútuas. Política Externa, vol. 20, n. 2, p.11-22, Set./Out./Nov. 2011.
VIGEVANI, Tullo; CEPALUNI, Gabriel (2007). A política externa de Lula da Silva: a estratégia da autonomia pela diversificação. Contexto Internacional, Rio de Janeiro, vol. 29, n. 2, p. 273-335, julho/dezembro 2007.
Reinaldo Alencar Domingues é Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília – UCB. Integrará a turma de mestrandos da Universidade de Brasília – UnB em 2012. (reinaldoalencar@gmail.com)

[1] O presente artigo apresenta uma síntese do argumento do autor em seu trabalho de conclusão de curso no Curso de Relações Internacionais da Universidade Católica de Brasília – UCB.

Monteiro Lobato, um pioneiro do petroleo no Brasil

Descubro agora, graças ao Google -- santo Google, a mais de um título -- que um trabalho meu, publicado num suplemento especial da Revista de História da Biblioteca Nacional, encontra-se disponível online: 



2158. “Monteiro Lobato: pioneiro do petróleo no Brasil”, Beijing-Shanghai, 28 junho 2010, 4 p (+ 1p. de boxes). Contribuição a número especial de revista de história das ciências no Brasil, coordenada pela Biblioteca Nacional. 
Publicado sob o título “Um Agitador Petrolífero”, Revista de História da Biblioteca Nacional (Edição Especial n. 1, História da Ciência, outubro 2010, p. 40-43; ISSN: 1808-4001.
Disponível online em História da Ciência online, 23/12/2010; link: http://www.revistadehistoria.com.br/historiadaciencia/2010/12/um-agitador-petrolifero/). 
Relação de Publicados n. 1002.