O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Os mitos em torno do golpe militar de 1964 - um texto de Paulo Roberto de Almeida

Como:
(a) estamos há meio século do golpe militar que derrubou o governo João Goulart em 1964, e inaugurou um regime que deveria durar poucos anos de restauração, mas acabou durando 21 anos, e
(b) como os supostos derrotados naquela oportunidade estão hoje no poder, e ocupados em "vender" -- em alguns casos impor -- sua versão da história, e
(c) como, finalmente, eu sou alguém que preza antes de mais nada a verdade, também pretendo participar das "comemorações" dos 50 anos do golpe, mas à minha maneira.
Ou seja, fui um opositor, desde o início, do regime militar, participei de manifestações estudantis e me preparava para lutar contra o regime -- sim, à maneira de muitos daqueles que hoje fazem de conta que lutavam pela democracia, quando na verdade pretendiam um belo regime à la cubana, ou talvez maoista no Brasil -- mas resolvi sair do Brasil, ao constatar a insanidade dos projetos dos opositores do regime. Ainda assim, permaneci na oposição ao regime militar durante todo o seu período, o que significa que também fui aderente das teorias que pretendiam, e pretendem ainda, que antigamente tínhamos um belo regime democrático comprometido com reformas, perversamente interrompido por militares de direita, mancomunados com os anticomunistas da burguesia e aliados aos imperialistas, e portanto totalmente submissos aos ditamos do império.
Tudo isso é uma grande bobagem, e para não deixar em branco estas minhas palavras, pretendo escrever alguns artigos sobre esse período, com minha proverbial honestidade intelectual.
Para começar, reproduzo aqui um artigo da série "Falácias Acadêmicas", que trata do período.

Falácias acadêmicas, 7: os mitos em torno do movimento militar de 1964, Brasília-Rio de Janeiro, 20 março 2009, 23 p. Continuidade do exercício, tocando no maniqueísmo construído em torno do golpe ou da revolução de 1964, condenando a historiografia simplista que converteu-se em referência nos manuais didáticos e paradidáticos. Espaço Acadêmico (n. 95, abril 2009); Espaço da Sophia (n. 26, maio 2009). 1990

Neste link: http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/1990FalaciaAcad7Maniq1964.pdf

O esquema do trabalho é o seguinte:

1. Ossificação ideológica e revisionismo histórico: interpretações abertas
2. O maniqueísmo em torno do golpe de 1964: triunfo de uma escola
3. Mitos do governo Goulart: reformas de base e autonomia frente ao império
4. Desmontando os mitos: instabilidade política e incapacidade de reformar
5. Desmontando os mitos: uma análise das ‘reformas progressistas’
6. Balanço econômico do governo Goulart: uma visão pouco complacente

Seguirei escrevendo sobre o período.
Paulo Roberto de Almeida

História Econômica & História de Empresas (HE&HE, ISSN 1519-3314) - chamada para artigos

Recebo, dos editores da História Econômica & História de Empresas, uma revista extremamente conceituada, de uma associação da qual faço parte, o seguinte convite, que suponho possa estender-se a todos os demais pesquisadores acadêmicos interessados ou trabalhando nessas áreas da revista.

Pela comissão executiva da revista, vimos convidá-lo, bem como a seus orientandos, a submeter textos (artigos e/ou resenhas) para História Econômica & História de Empresas (HE&HE, ISSN 1519-3314) da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE). 

A submissão deve ser feita pelo sistema OJS no link http://www.revistaabphe.uff.br, onde você encontrará os números já publicados (desde 1998) e as diretrizes editoriais, bem como poderá fazer seu registro como autor e/ou parecerista. Este processo eletrônico de submissão e avaliação é mandatório para a inclusão de nossa revista na rede Scielo.

Pesquisando no site da revista, verifiquei que já publiquei um artigo ali, este: 
Faz tempo, portanto. Hora de escrever outro...

v. 4, n. 1 (2001)A diplomacia financeira do Brasil no ImpérioRESUMO  PDF
Paulo Roberto Almeida

Golpe de 1964 e ditadura militar: 50 anos - comeca o maniqueismo (Cafe Historia)

Precisamos estar preparados para a nova onda de maniqueísmo que vai assolar o país: os 50 anos do golpe de 1964 (em 31 de março ou 1ro de Abril, como preferirem) e o julgamento peremptório da maior parte dos historiadores no sentido mais convergente com a historiografia corrente, ou seja, de que o golpe foi uma armação da direita brasileira -- ai confundidos capitalistas, ou burguesia nacional, latifundiários, militares e, sobretudo, os perversos imperialistas americanos -- e do Império, para derrocar um governo democrático empenhado em reformas.
Creio que vou escrever algo a respeito, para tentar restabelecer a balança...
Paulo Roberto de Almeida

Do site Café História, 7/01/2014

MURAL DO HISTORIADOR

Ditadura Militar 50 Anos - Parte I
Durante os últimos trinta anos, o jornalista Elio Gaspari reuniu documentos que serviram de base para a edição e a reedição de seus livros sobre o governo militar no Brasil. Entre bilhetes, despachos, discursos, manuscritos, diários de conversas travadas pela cúpula e telegramas do governo americano, seu arquivo pessoal reúne mais de 15 mil itens sobre a ditadura. São registros que se iniciam nos anos anteriores ao golpe de 1964 e seguem até os estertores do regime. Entre eles, há 10 mil provenientes do arquivo do general Golbery do Couto e Silva, como suas apreciações e análises conjunturais redigidas em três momentos distintos, de 1960 a 1968. A partir de fevereiro de 2014 o seu site “Arquivos da Ditadura” passará a disponibilizar uma seleção desse rico material, parte dela presente também na versão em e-book dos quatro volumes da série sobre os “anos de chumbo”. É a primeira vez que esses documentos ficam disponíveis para consulta na internet. Confira aqui.

Ditadura Militar 50 Anos - Parte II
O jornal Folha de S.Paulo inaugurou uma página especial em seu site dedicada exclusivamente aos 50 anos do Golpe Civil-Militar de 1964, o qual jogou o Brasil em uma ditadura que levaria mais de vinte anos. O site foca nos momentos e nas circunstâncias que levaram à deposição do presidente João Goulart. Em destaque: os 53 militares, políticos e civis mais importantes no contexto do golpe militar; os dez momentos em que as Forças Armadas atuaram na política antes do golpe de 1964; uma comparação do contexto econômico, demográfico e cultural de 1964 com os dias atuais. No site, é possível ver também uma cronologia do golpe, hora a hora. Para ver o site, que já se encontra no ar, clique aqui.

China: ditadura de Mao causou 70 milhoes de mortos - livro de Jung Chang e Jon Halliday

O livro já é antigo, quase dez anos atrás, mas sempre é útil relembrar esses dados. O PCdoB teria alguma justificativa para o fato de ter apoiado -- e supostamente ainda apoia -- uma ditadura crimonosa que matou mais do que Stalin e Hitler juntos?
Paulo Roberto de Almeida

26/12/2013 - 20h27

Mao Tse-tung foi responsável por mais de 70 milhões de mortes, diz livro

da Livraria da Folha
Ouvir o texto
Mao Tse-Tung liderou a Revolução Cultural (1966-1976), que fez a China se tornar um país comunista. A execução sistemática de inimigos foi uma das consequências da "limpeza" pela qual a China passou naquele período.
Andrew Wong/Reuters
Mao Tsé-tung liderou o exército vermelho que expulsou Chiang Kai-shek da China
Mao Tsé-tung liderou o exército vermelho que expulsou Chiang Kai-shek da China
"Mao Tse-tung, que durante décadas deteve poder absoluto sobre a vida de um quarto da população mundial, foi responsável por bem mais de 70 milhões de mortes em tempos de paz, mais do que qualquer outro líder do século 20", escrevem Jung Chang e Jon Halliday em "Mao: A História Desconhecida".
Mao –que assumiu o governo em 1949– se apoiou em estudantes, um dos objetivos principais era garantir a participação da juventude nas mudanças. Antes, o país vivia uma crise política e econômica.
A Revolução se fez a partir do campo, pelos camponeses, e não das cidades, pelos operários. Uma receita que contrariava a ortodoxia marxista.
A biografia "Mao: A História Desconhecida" é o resultado de uma década de pesquisa em arquivos do mundo todo e centenas de entrevistas com amigos, colaboradores e conhecidos do líder chinês.
Os autores procuram demolir diversos episódios da revolução chinesa. Eles contrariam o professado heroísmo da Longa Marcha, relatam ajuda financeira e militar da União Soviética de Stálin e desqualificam os relatos de rebeldes comunistas que teriam enfrentado o Japão na Segunda Guerra Mundial.
O livro causou grande impacto quando foi publicado, no Reino Unido, em 2005. No Brasil, a Companhia das Letras lançou o título em duas edições, a última delas, em versão econômica, em 2012. Abaixo, leia um trecho de "Mao: A História Desconhecida".
*
PARTE 1
Um crente sem entusiasmo
1. Entre o antigo e o moderno
(1893-1911; 1-17 anos)
Mao Tse-tung, que durante décadas deteve poder absoluto sobre a vida de um quarto da população mundial, foi responsável por bem mais de 70 milhões de mortes em tempos de paz, mais do que qualquer outro líder do século XX. Ele nasceu numa família de camponeses, em um vale chamado Shaoshan, na província de Hunan, no coração da China, em 26 de dezembro de 1893. Seus ancestrais haviam vivido no vale por quinhentos anos.
Era um mundo de beleza antiga, uma região temperada, úmida, cujas colinas ondulantes e enevoadas eram habitadas desde o Neolítico. Templos budistas que datavam da dinastia Tang (618-906), quando o budismo ali chegou, ainda estavam em uso. Florestas onde quase trezentas espécies de árvores cresciam, entre elas bordo, cânfora, metassequóia e o raro ginkgo, cobriam a área e abrigavam tigres, leopardos e javalis, que ainda vagavam pelas montanhas (o último tigre foi morto em 1957). Esses morros, sem estradas nem rios navegáveis, separavam a aldeia do resto do mundo. Ainda no começo do século XX, a notícia de um acontecimento tão momentoso como a morte do imperador, em 1908, não chegou lá e Mao só ficou sabendo disso dois anos depois, quando deixou Shaoshan.
O vale de Shaoshan mede em torno de cinco por três quilômetros e meio. As cerca de seiscentas famílias que viviam ali plantavam arroz, chá e bambu e usavam búfalos para lavrar os arrozais. A vida cotidiana girava em torno dessas atividades antiqüíssimas. Yi-chang, o pai de Mao, nasceu em 1870. Aos dez anos de idade, ficou noivo de uma menina de treze, de uma aldeia distante cerca de dez quilômetros, do outro lado de uma passagem chamada Passo do Tigre em Repouso, onde os tigres costumavam tomar banho de sol. Naquele tempo, essa curta distância era o suficiente para que as duas aldeias falassem dialetos quase ininteligíveis mutuamente. Sendo uma mera menina, a mãe de Mao não recebeu um nome; e, como era a sétima filha do clã Wen, era conhecida apenas como a Sétima Irmã Wen. De acordo com séculos de costume, seus pés haviam sido comprimidos e amarrados para produzir os assim chamados "lírios dourados de três polegadas", que eram o modelo de beleza da época.
Divulgação
Os autores mostram como Mao concentrou-se em expandir seu domínio
Livro mostra como Mao concentrou-se em expandir seu domínio
O noivado com o pai de Mao seguiu costumes ancestrais. Foi arranjado pelos pais e se baseava numa consideração prática: o túmulo de um dos avôs dela estava em Shaoshan e precisava ser cuidado periodicamente com rituais elaborados; assim, ter um parente lá seria útil. A Sétima Irmã Wen mudou-se para a casa da família de Mao depois do noivado e casou-se aos dezoito anos, em 1885, quando Yi-chang estava com quinze.
Pouco depois do casamento, Yi-chang partiu para se tornar soldado, a fim de ganhar dinheiro para pagar as dívidas da família, o que conseguiu depois de vários anos. Os camponeses chineses não eram servos, mas agricultores livres, e entrar para o Exército por razões puramente financeiras era uma prática estabelecida. Felizmente, não se envolveu em nenhuma guerra; em vez disso, conheceu um pouco do mundo e captou algumas ideias para negócios. Ao contrário da maioria dos aldeões, Yi-chang sabia ler e escrever, o suficiente para lidar com contabilidade. Ao retornar, criou porcos e processou grãos para obter um arroz de alta qualidade, a fim de vender no mercado de uma cidade próxima. Comprou de volta as terras que o pai havia penhorado, depois comprou mais terras e se tornou um dos homens mais ricos da aldeia.
Embora relativamente próspero, Yi-chang continuou a ser um homem extremamente trabalhador e econômico por toda a vida. A casa da família consistia em meia dúzia de dependências que ocupavam uma ala de uma grande propriedade coberta de sapê. Mais tarde, Yi-chang substituiu o sapê por telhas, uma grande melhoria, mas conservou o chão batido e as paredes de barro. As janelas não tinham vidros - um luxo ainda raro - e eram apenas aberturas quadradas com barras de madeira, fechadas à noite com pranchas de madeira (a temperatura dificilmente caía abaixo de zero). A mobília era simples: camas de madeira, mesas e bancos de madeira nua. Foi num desses quartos espartanos, sob uma colcha de algodão azul tecida em casa, dentro de um mosquiteiro azul, que Mao nasceu.
Mao foi o terceiro filho, mas o primeiro a sobreviver à infância. Sua mãe, budista, tornou-se ainda mais devota para que Buda o protegesse. Mao ganhou o nome duplo Tse-tung.Tse, que significa "brilhar sobre", foi o nome dado a toda a sua geração, tal como predeterminado quando a crônica do clã foi escrita pela primeira vez, no século XVIII; tung significa "o Leste". Assim, seu nome completo significava "brilhar sobre o Leste". Quando dois outros meninos nasceram, em 1896 e 1905, ganharam os nomes de Tse-min (min significa "o povo") e Tse-tan (tan se referia possivelmente à região local, Xiangtan).
Esses nomes refletiam a inveterada aspiração dos camponeses chineses de que seus filhos fossem bem-sucedidos - e a expectativa de que poderiam ser. Altos cargos estavam abertos a todos por meio da educação, que durante séculos significou estudar os clássicos confucianos. A excelência possibilitaria que homens jovens de qualquer extração passassem nos exames imperiais e se tornassem mandarins - a caminho de se tornarem primeiros-ministros. Um cargo na burocracia era sinônimo de sucesso e os nomes dados a Mao e seus irmãos expressavam as esperanças neles depositadas.
Mas um grande nome também tinha um peso e desafiava potencialmente o destino; então, a maioria dos filhos ganhava um nome de estimação que era mais despretensioso ou forte, ou ambos. O de Mao era "Menino de Pedra" - Shi san ya-zi. Para esse segundo "batismo", sua mãe o levou até uma rocha de cerca de dois metros e meio de altura, que tinha fama de ser encantada, pois havia uma fonte sob ela. Depois que Mao fez mesuras e reverências, foi considerado adotado pela pedra. Ele gostava muito desse nome e continuou a usá-lo na idade adulta. Em 1959, quando voltou a Shaoshan e se encontrou com os aldeões pela primeira - e única - vez na qualidade de líder supremo da China, começou o jantar para eles com um gracejo: "Então, estão todos aqui, exceto minha Mãe Pedra. Devemos esperar por ela?".
Mao adorava sua mãe real, com uma intensidade que não demonstrava com mais ninguém. Ela era uma pessoa gentil e tolerante, que, como ele lembrava, jamais ergueu a voz para o filho. Dela herdou o rosto redondo, os lábios sensuais e um autocontrole calmo nos olhos. Mao falaria com emoção sobre a mãe pelo resto da vida. Foi seguindo seu exemplo que se tornou budista quando criança. Anos mais tarde, disse ao seu staff: "Eu idolatrava minha mãe [...] Onde quer que ela fosse, eu a seguia [...] indo a feiras de templos, queimando incenso e dinheiro de papel, fazendo reverências a Buda [...] Porque minha mãe acreditava em Buda, eu também acreditava". Mas ele abandonou o budismo na adolescência.
Mao teve uma infância despreocupada. Até os oito anos, morou com a família da mãe, os Wen, na aldeia deles, pois ela preferia morar com sua própria família. Lá, sua avó materna o adorava. Os dois tios e esposas o tratavam como filho e um deles se tornou seu pai adotivo, o equivalente chinês de padrinho. Mao fazia um pouco de trabalho agrícola leve, juntando forragem para os porcos e levando os búfalos para passear nos bosques de camélias, junto a um lago sombreado por folhas de bananeiras. Na velhice, ele lembraria com ternura dessa época idílica. Começou a aprender a ler, enquanto as tias teciam e costuravam à luz de uma lamparina a óleo.
Mao só voltou a morar em Shaoshan na primavera de 1902, aos oito anos de idade, para receber instrução, que assumiu a forma de estudo na casa de um tutor. Os clássicos confucianos, que compunham a maior parte do currículo, estavam acima da compreensão das crianças e tinham de ser aprendidos de cor. Mao foi abençoado com uma memória excepcional e se saiu bem. Seus companheiros de estudo lembravam de um menino diligente que conseguia não somente recitar mas também escrever mecanicamente aqueles textos difíceis. Ele também adquiriu conhecimentos básicos de língua e história chinesas e começou a aprender a escrever boa prosa, caligrafia e poesia - escrever poemas era uma parte essencial da educação confuciana. A leitura tornou-se uma paixão. Em geral, os camponeses se deitavam ao pôr do sol, para economizar óleo, mas Mao ficava lendo noite adentro, com uma lamparina acesa sobre um banco, ao lado de seu mosquiteiro. Anos depois, quando era governante supremo da China, metade de sua enorme cama vivia empilhada de clássicos chineses e ele enchia seus discursos e escritos com referências históricas. Mas seus poemas perderam qualidade.
Mao entrava frequentemente em choque com seus tutores. Fugiu de sua primeira escola aos dez anos, dizendo que o professor era um tirano. Foi expulso de pelo menos três escolas - ou "pediram que as deixasse" - por ser teimoso e desobediente. A mãe o protegia, mas o pai não estava contente e o salto de Mao de tutor em tutor era apenas uma das fontes de tensão entre eles. Yi-chang pagava pela educação do filho e esperava que ele pudesse ao menos ajudar nas contas da família, mas Mao não gostava da tarefa. Durante toda a vida, foi confuso com números e uma nulidade em economia. Nem gostava muito do trabalho braçal pesado. Passou a evitá-lo assim que acabaram seus dias de camponês.
Yi-chang não suportava ver Mao ocioso. Tendo gasto cada minuto de seus dias trabalhando, esperava que o filho fizesse a mesma coisa e batia nele quando não obedecia. Mao odiava o pai. Em 1968, quando estava se vingando dos adversários políticos em vasta escala, disse aos torturadores deles que gostaria que seu pai tivesse sido tratado com a mesma brutalidade: "Meu pai era mau. Se estivesse vivo hoje, deveriam 'pô-lo no jato'". Tratava-se de uma posição de tortura em que os braços da pessoa eram presos às costas e a cabeça forçada para baixo.
Mao não era uma mera vítima do pai. Ele reagia e muitas vezes saía vitorioso. Dizia-lhe que, por ser mais velho, deveria fazer mais trabalho manual do que ele, o mais jovem - o que era um argumento incrivelmente insolente pelos padrões chineses. Um dia, de acordo com Mao, pai e filho tiveram uma briga diante de convidados. "Meu pai me repreendeu diante deles. Isso me enfureceu. Disse-lhe uns palavrões e saí da casa [...] Meu pai [...] me perseguiu, me maldizendo e ordenando que eu voltasse. Cheguei na beira de um lago e ameacei saltar se ele se aproximasse mais [...] Meu pai recuou." Certa vez, ao recontar essa história, Mao riu e acrescentou uma observação: "Velhos como ele não queriam perder os filhos. Era essa a fraqueza deles. Eu ataquei o ponto fraco deles, e venci!".
Dinheiro era a única arma que o pai de Mao possuía. Depois que o filho foi expulso pelo quarto tutor, em 1907, ele deixou de pagar os estudos e o menino de treze anos teve de se tornar camponês em tempo integral. Mas logo encontrou uma maneira de evitar o trabalho na lavoura e voltar ao mundo dos livros. Yi-chang estava ansioso para que o filho se casasse e assim, amarrado, passasse a se comportar com responsabilidade. Sua sobrinha estava com a idade certa para se tornar esposa, sendo quatro anos mais velha do que Mao, o qual concordou com o plano do pai e retornou à escola depois do casamento.
O matrimônio realizou-se em 1908, quando Mao tinha catorze anos, e a noiva, dezoito. O nome da família da garota era Luo, mas ela mesma não tinha nome próprio e era chamada apenas de Mulher Luo. A única vez que Mao a mencionou foi numa conversa com o jornalista americano Edgar Snow, em 1936, quando manifestou um notável desprezo e exagerou a diferença de idade entre eles: "Quando eu tinha catorze anos, meus pais me casaram com uma garota de vinte. Mas eu nunca vivi com ela [...] Não a considero minha esposa [...] e pensei muito pouco nela". Não deu nenhuma pista de que não estava mais viva; na verdade, Mulher Luo morreu em 1910, pouco mais de um ano após o casamento.
O casamento precoce de Mao fez dele um feroz oponente dos casamentos arranjados. Nove anos depois, escreveu um artigo violento contra a prática: "Nas famílias ocidentais, os pais reconhecem a livre vontade dos filhos. Mas, na China, as ordens dos pais não são de modo algum compatíveis com a vontade dos filhos [...] Trata-se de um tipo de 'estupro indireto'. Os pais chineses estão todo o tempo estuprando indiretamente seus filhos".
Assim que sua mulher morreu, o viúvo de dezesseis anos exigiu partir de Shaoshan. O pai queria que ele fosse aprendiz num armazém de arroz na cidade próxima, mas Mao estava de olho numa escola moderna, distante cerca de 25 quilômetros. Ele soubera que o exame imperial fora abolido. Agora havia escolas modernas que ensinavam matérias como ciência, história e geografia mundiais e línguas estrangeiras. Foram essas escolas que abriram as portas de saída da vida camponesa para muitos chineses como ele.
No final do século XIX, a China havia embarcado numa transformação social dramática. A dinastia manchu, no poder desde 1644, vivia uma transição do antigo para o moderno. A mudança foi precipitada por uma série de derrotas acachapantes nas mãos das potências europeias e do Japão, a começar pela Guerra do Ópio, de 1839-42, quando as potências ocidentais vieram bater nas portas fechadas da China. Da corte manchu aos intelectuais, quase todos concordavam que o país precisava mudar se quisesse sobreviver. Fizeram-se muitas reformas fundamentais, entre as quais a instalação de um sistema educacional completamente novo. Iniciou-se a construção de ferrovias.
Indústrias e comércio modernos ganharam alta prioridade. Permitiu-se a existência de organizações políticas. Publicaram-se jornais pela primeira vez. Mandaram-se jovens ao exterior para estudar ciências e mandarins para aprender sobre democracia e sistemas parlamentares. Em 1908, a corte anunciou um programa para se transformar numa monarquia constitucional dentro de um período de nove anos.
Hunan, a província de Mao, que tinha algo em torno de 30 milhões de habitantes, tornou-se um dos lugares mais liberais e excitantes da China. Embora longe do litoral, era ligada por rios navegáveis à costa e, em 1904, sua capital, Changsha, se tornou um porto de comércio "aberto". Um grande número de comerciantes e missionários estrangeiros chegou, trazendo modos e instituições ocidentais. Quando Mao ficou sabendo das escolas modernas, havia mais de cem delas, mais do que em qualquer outro lugar da China, inclusive muitas para mulheres.
Uma delas se localizava perto da aldeia de Mao e se chamava Monte Oriental, no condado dos Wen, a família de sua mãe. As taxas e despesas de acomodação eram bem caras, mas Mao conseguiu que os Wen e outros parentes convencessem seu pai, que arcou com o custo durante cinco meses. A esposa de um de seus primos Wen substituiu o velho mosquiteiro feito à mão por um de musselina feito à máquina, apropriado à modernidade da escola.
Essa escola abriu os olhos de Mao. Havia aulas de educação física, música e inglês e entre o material de leitura havia biografias resumidas de Napoleão, Wellington, Pedro, o Grande, Rousseau e Lincoln. Mao ouviu falar da América e da Europa pela primeira vez e ficou de olho em um homem que estivera no exterior - um professor que estudara no Japão e que os alunos apelidaram de "falso diabo estrangeiro". Décadas mais tarde, Mao ainda lembrava de uma canção japonesa que esse professor ensinara e que celebrava a formidável vitória militar do Japão sobre a Rússia em 1905.
Mao esteve na escola Monte Oriental apenas por alguns meses, mas foi o suficiente para que encontrasse uma nova abertura. Em Changsha havia uma escola criada especialmente para jovens do condado dos Wen e Mao persuadiu um professor a matriculá-lo, ainda que, em termos estritos, ele não pertencesse àquele condado. Na primavera de 1911, chegou a Changsha sentindo-se, em suas próprias palavras, "extremamente excitado". Aos dezessete anos, dizia adeus para sempre à vida de camponês.
Mao afirmou mais tarde que quando era menino, em Shaoshan, se preocupara com os camponeses pobres. Não há provas disso. Ele disse que fora influenciado, ainda em Shaoshan, por um certo P'ang, o Fazedor de Mós, que tinha sido preso e decapitado após liderar uma revolta local de camponeses, mas uma busca exaustiva dos historiadores do Partido Comunista por esse herói não encontrou nenhum traço dele.
Não há sinais de que Mao tenha derivado de suas raízes camponesas alguma preocupação social, muito menos que fosse motivado por um sentimento de injustiça.
Em 5 de abril de 1915, o professor Yang Chang-chi escreveu em seu diário: "Meu aluno Mao Tse-tung disse que [...] seu clã [...] é composto principalmente de camponeses, e é fácil para eles enriquecer" (grifo nosso). Mao não demonstrava nenhuma simpatia em particular pelos camponeses.
Até o final de 1925, quando estava com trinta e poucos anos, e cinco anos depois de se tornar comunista, Mao fez poucas referências a camponeses em todos os seus escritos e conversas conhecidos. Eles aparecem, de fato, numa carta de agosto de 1917, mas, longe de expressar simpatia, Mao diz que estava "surpreso" com o modo como um comandante chamado Tseng Kuo-fan havia "liquidado" com a maior revolta camponesa da história chinesa, a Rebelião Taiping, de 1850-64. Dois anos depois, em julho de 1919, Mao escreveu um ensaio sobre pessoas de diferentes ocupações na vida - os camponeses foram inevitavelmente mencionados -, mas sua lista de questões era muito geral, e seu tom, neutro. Havia uma notável ausência de emoção quando mencionava os camponeses, em comparação com a paixão que transpirava ao falar dos estudantes, cuja vida descrevia como "um mar de amargura". Em uma lista abrangente de pesquisas que traçou em setembro daquele ano, que continha não menos que 71 itens, somente um título (o décimo) era sobre trabalho; o único de seus subtítulos que mencionava camponeses só o fazia como "a questão dos lavradores que intervêm na política". A partir do final de 1920, quando entrou para a órbita comunista, Mao começou a usar expressões como "operários e camponeses" e "proletariado". Mas eram meras frases, parte de um vocabulário obrigatório.
Décadas depois, Mao falou sobre como, na época em que era um jovem de Shaoshan, ele se preocupava com o povo faminto. Os documentos não mostram tal preocupação. Em 1921, Mao esteve em Changsha durante uma epidemia de fome. Um amigo dele escreveu no diário: "Há muitos mendigos - devem ser mais de cem por dia [...] A maioria [...] se parece com esqueletos embrulhados em pele amarela, como se pudessem ser levados por uma rajada de vento". "Ouvi que tanta gente que veio para cá [...] a fim de fugir da fome em suas regiões, havia morrido - que aqueles que vinham dando tábuas de madeira [para fazer caixões] [...] não têm mais condições de fazer isso." Não há menção desse evento nos escritos de Mao da época, e nenhum sinal de que tenha dado alguma atenção a esse assunto.
O passado camponês de Mao não o imbuiu de idealismo que pudesse melhorar o fardo dos camponeses chineses.
[...]
*
MAO
AUTORES Jon Halliday, Jung Chang
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 39,50 (preço promocional*)
Eugene Hoshiko/Associated Press
ORG XMIT: 083901_0.tif 50 Anos da Revolução Chinesa: exemplares do Livro Vermelho da Revolução Cultural e uma foto de Mao Tsé-tung e Lin Piao, em antiquário de Xangai, China. A black and white photograph of Mao Tse-tung, founder of the People's Republic of China, in photo at right, and Lin Piao, Chinese Communist general and political leader, in photo at left, and antiquated Red Books from the Cultural Revolution are placed at a local antique stall Tuesday, May 25, 1999 in a back alley in Shanghai. Mao goods are one of the most wanted Chinese souvenirs among tourists from the U.S. According to local travel agencies majorities of tour reservations from the U.S. and Europe have been canceled after NATO's missile attack on the Chinese embassy in Yugoslavia. On May 28th Shanghai will celebrate its 50th Anniversary of the Arrival of the Communist Army in Shanghai led by Mao. (AP Photo/Eugene Hoshiko)
"Livro Vermelho da Revolução Cultural" e uma foto de Mao Tsé-tung e Lin Piao, em antiquário de Xangai

Cuba: de uma ditadura a outra, bem mais duravel e muito mais miseravel e repressora - Carlos Malamud

A revolução cubana -- que na verdade começou como uma revolta contra a ditadura de Fulgêncio Batista, bem sucedida, e só se transformou em revolução depois da tomada do poder -- degenerou na pior das ditaduras JAMAIS conhecida na América Latina.
Sim, de fato, tivemos muitas ditaduras militares na região, e até algumas ditaduras civis, mas jamais um regime stalinista totalitário, repressor ao extremo, anacrônico como todos os regimes socialistas, e altamente custoso em termos de direitos humanos, liberdades civis, progresso econômico.
Antes dos irmãos Castro, Cuba, a despeito das desigualdades e da pobreza de uma parte da população, era um dos países mais avançados da América, com os melhores indicadores de renda, bem-estar, longevidade, educação e outros mais. 55 anos depois é uma miséria, e cabe contestar grande parte dos seus indicadores, manipulados, como todo o resto de seus outros dados oficiais.
Já escrevi bastante sobre a ilha, e continuo surpreso com a atitude de muitos jornalistas e subintelequituais brasileiros, que continuam a defender uma ditadura criminosa, contra qualquer racionalidade. Gente atrasada, desonesta e de má-fé, certamente.
Paulo Roberto de Almeida

Carlos Malamud: Cuba Revolución

Cuba a los 55 años de su revolución

Infolatam
Madrid, 5 enero 2014
Por CARLOS MALAMUD

(Infolatam).- Algo no debe ir muy bien con el programa reformista de Raúl Castro cuando el actual y máximo responsable del gobierno revolucionario cubano debe dedicar su discurso conmemorativo del 55 aniversario de la caída de la dictadura de Batista a contentar al ala más dura y ortodoxa del establishment. De otro modo no se entendería ni el tono general ni los párrafos dedicados al constante enfrentamiento con los Estados Unidos o a la conspiración internacional y neoliberal que intenta negar “la vitalidad de los conceptos marxistas, leninistas y martianos” que todavía caracterizan la vida cotidiana de la sociedad isleña.

Salvo un par de alusiones a los programas de restablecimiento de la red de distribución de agua potable y a la reconstrucción de los edificios públicos y particulares de Santiago, no hubo referencia alguna a las iniciativas reformistas impulsadas por el propio Raúl Castro ni a los enormes desafíos que el pueblo cubano enfrenta como consecuencia de las mismas. De no ser por la duración del discurso uno podría pensar que su hermano Fidel había vuelto, ya que los principales conceptos utilizados en esta ocasión nos retrotraen a la noche de los tiempos.
Toda la intervención estuvo enmarcada por tópicos pre y post revolucionarios que pese a su vigencia sólo describen parcialmente una realidad más compleja y contradictoria. Si la Cuba de Batista era un nido imperialista de atraso, corrupción y prostitución, la Cuba de Fidel se convirtió, gracias al esfuerzo revolucionario, en el mejor de los mundos. En palabras de Raúl Castro: “La imagen de Cuba, famosa en América antes de la Revolución como un paraíso para el juego, la prostitución, refugio de mafiosos y destino preferido de sus sucias inversiones, facilitadas por la generalizada corrupción administrativa de la tiranía, se transformó mediante el proceso revolucionario en símbolo de dignidad, independencia, humanismo e intransigencia en defensa de los principios”.

Más allá de su longitud, no me resisto a reproducir los párrafos destinados a denunciar en la mejor clave conspirativa “la permanente campaña de subversión político-ideológica concebida y dirigida desde los centros del poder global para recolonizar las mentes de los pueblos y anular sus aspiraciones de construir un mundo mejor”. Pese a ello, el discurso de Raúl Castroreproducido en la web de Cubadebate y en los otros órganos oficiales castristas, puede seguirse a través de las redes sociales, incluyendo las muy imperialistas facebook y twitter.
El complot denunciado busca “introducir sutilmente plataformas de pensamiento neoliberal y de restauración del capitalismo neocolonial, enfiladas contra las esencias mismas de la Revolución Socialista a partir de una manipulación premeditada de la historia y de la situación actual de crisis general del sistema capitalista, en menoscabo de los valores, la identidad y la cultura nacionales, favoreciendo el individualismo, el egoísmo y el interés mercantilista por encima de la moral”.
Los responsables de la trama, que no dan la cara , “se afanan engañosamente en vender a los más jóvenes las supuestas ventajas de prescindir de ideologías y conciencia social, como si esos preceptos no representaran cabalmente los intereses de la clase dominante en el mundo capitalista. Con ello pretenden, además, inducir la ruptura entre la dirección histórica de la Revolución y las nuevas generaciones y promover incertidumbre y pesimismo de cara al futuro, todo ello con el marcado fin de desmantelar desde adentro el socialismo en Cuba”.

Llegados a este punto la gran duda que surge es si la respuesta gubernamental al complot será la paralización de las medidas aperturistas de los últimos años que han permitido elevar el nivel de crítica en la sociedad cubana, o si sólo se trata de un recado destinado a los sectores más duros para pasarles la mano por la espalda y decirles no os hemos abandonado. La suerte de aquellos espacios de opinión creados por la afanosa labor de mucha gente, tanto opuesta como más próxima al régimen, puede estar amenazada. Esto podría ocurrir con los numerosos blogs y otros medios emergidos recientemente, o por emerger en un futuro próximo. Menos peligro corren algunos espacios laicales próximos a la jerarquía eclesiástica, gracias al paraguas institucional con el que cuentan.
El discurso de Raúl Castro tuvo bastante de maniqueo y poco de autocrítico. Tras reconocer que el mundo había cambiado mucho en los últimos 55 años, sólo admitió que había sido para reconocer las justas reivindicaciones cubanas. En realidad dijo que pese a la fuerte presión estadounidense para separar a Cuba de Estados Unidos, hoy su gobierno preside la CELAC (Comunidad de Estados Latinoamericanos y Caribeños) y se prepara para celebrar su próxima Cumbre a fines de este enero. Por el contrario, ni una palabra acerca del sentido de la revolución en un mundo globalizado como el actual.

Dicho de otra manera, ¿ha valido la pena el sufrimiento de varias generaciones de cubanos para llegar a los resultados actuales?, ¿se ha consultado a la juventud cubana lo que piensa respecto a las reformas emprendidas? Si después de largos años de privaciones se festeja como verdaderos logros el poder salir al extranjero, vender coches, tener un teléfono móvil o una mejor conexión a internet es porque las premisas revolucionarias de favorecer la libertad y el interés general no se han cumplido totalmente. Como se viene repitiendo desde hace tiempo, aunque algunos no hayan madurado lo suficiente para admitirlo, el unanimismo es la tumba de todas las revoluciones.

Ironia 2: pessoal do aquecimento global continua preso no gelo, desta vez no navio chines...

Esse mundo é mesmo engraçado.
Esse pessoal tinha ido à Antártida para investigar a diminuição da cobertura gelada desse continente por causa do aquecimento global, que como todo mundo sabe, anda arrasando pelo mundo afora. Eu, pelo menos, aqui na Nova Inglaterra, tenho suportado um "calor" de menos 20.
Não é que eles primeiro ficaram presos no seu navio de pesquisa? Depois os chineses bravamente foram em seu socorro, e também ficaram presos...
Agora parece que um navio dos malvados imperialistas americanos virá salvar todo mundo...
Paulo Roberto de Almeida

Antarctique : le navire chinois espère se libérer des glaces

Le Monde.fr avec AFP et Reuters |  • Mis à jour le 
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Un vent d'ouest qui devrait se lever d'ici mercredi pourrait aider le "Xue-Long" à se dégager de la glace dans laquelle il s'est retrouvé bloqué.

Le Xue-Long (Dragon-des-neiges), un brise-glace chinois piégé par les eaux gelées dans l'Antarctique en portant secours à un navire russe va tenter de s'extirper de la zone de banquise en profitant d'une fenêtre de météo favorable, rapporte, mardi 7 janvier, la presse chinoise. Un vent d'ouest qui devrait se leverd'ici à mercredi pourrait, en effet, aider le navire à se dégager de la glace dans laquelle il est resté bloqué après avoir lui-même porté assistance à un navire russe immobilisé, précise le China Daily.

Cette brise est censée aider à déplacer les morceaux de banquise bloquant le brise-glace chinois, qui sont trois fois plus épais que ce que peut fendre le bâtiment, a indiqué l'agence de presse Chine nouvelle. De son côté, un brise-glace des garde-côtes américains, le Polar-Star, est en route vers la zone pour tenter d'ouvrir un chenal aux marins et scientifiques bloqués.

Le "Polar-Star" est en route vers la zone pour tenter d'ouvrir un chenal aux marins et scientifiques bloqués.

Le Xue-Long a permis jeudi grâce à son hélicoptère d'évacuer les passagers du navire russe Akademik-Chokalskiy, immobilisé depuis le 24 décembre à une centaine de kilomètres à l'est de la base française Dumont-d'Urville. Mais le bâtiment chinois s'est, à son tour, retrouvé prisonnier de la banquise, victime de l'environnement extrême du continent blanc. Le navire russe embarquant 22 membres d'équipage et 52 passagers avait quitté la Nouvelle-Zélande le 28 novembre pour une expédition organisée à l'occasion du 100e anniversaire duvoyage polaire de l'explorateur australien Douglas Mawson en Antarctique.
« La Chine peut être fière » de l'opération de sauvetage réalisée par le Xue-Long, a estimé dans un éditorial le quotidien chinois Global Times, estimant que celle-ci avait été « saluée par l'opinion publique internationale ». Le navire chinois a des réserves de vivres lui permettant de tenir jusqu'en avril et des réserves d'eau douce jusqu'au mois prochain.