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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 29 de março de 2014

Brasil-Argentina: destravando o comercio bilateral (?) Alguem acredita? - Estadao

Vejam os temos da matéria: 
- assinatura de um memorando de entendimento (ou seja, depende...);
- os dois países se comprometeram a "analisar a possibilidade de emitir títulos em moeda nacional (ou seja, a coisa é meio teórica...);
- esse é o "primeiro passo para destravar o comércio entre os países" (quantos passos mais serão necessários para simplesmente cumprir o tratado do Mercosul?);
se estuda a criação de instrumentos de hedge cambial (xiii, esquece...);
Não há um valor estipulado previamente... (ou seja, vai ter de começar tudo outra vez...);
- os dois países vão trabalhar para colocá-lo em prática... (mas o que é que fizeram, mesmo, os dois ministros?).
Bem, esquece, OK...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil e Argentina assinam acordo para destravar comércio bilateral

Governos tentarão mitigar os riscos cambiais, por meio de instrumentos financeiros, e agilizar os trâmites alfandegários


28 de março de 2014 | 21h 29
Fernando Travaglini - Agência Estado
COSTA DO SAUÍPE - O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, anunciou na noite desta sexta-feira, 28, a assinatura de um memorando de entendimento com a Argentina para facilitar o comércio entre os dois países. Em acordo assinado com o ministro da economia argentino, Axel Kicillof, os dois países se comprometeram a "analisar a possibilidade de emitir títulos em moeda nacional com correção cambial em prazos compatíveis" com os financiamentos à exportação. Reafirmaram ainda que vão "agilizar" os trâmites alfandegários.
Segundo o ministro brasileiro, esse é o "primeiro passo para destravar o comércio entre os países", que passa por dificuldades recentes em função tanto de restrições impostas pela Argentina quanto pela escassez de dólares. "Os dois governos se comprometem em atuar como facilitadores de operações financeiras privadas", disse Borges.
Como explicou o ministro, o que se estuda é a criação de instrumentos de hedge cambial, que funcionarão como garantia para viabilizar os financiamentos à exportação já existentes no mercado privado. Esses mecanismos de proteção poderão ser públicos ou privados, completou Borges, sem dar detalhes. "Os governos vão estimular uma estrutura de proteção cambial do lado do importador", disse o ministro.
Pelo acordo, caso não haja disponibilidade de instrumentos financeiros para mitigar os riscos cambiais, após a concretização de um empréstimo ao exportador, com prazo mínimo de 90 dias, os dois países se comprometem a "analisar a possibilidade de emitir títulos em moeda nacional com correção cambial em prazos compatíveis com os previstos" pelos financiamentos.
Ainda segundo o memorando assinado, os países reafirmaram o "compromisso de entrada no país importador dos fluxos comerciais", garantindo "agilidade aos trâmites administrativos e aduaneiros". Esse ponto tenta reverter a demora na liberação de produtos brasileiros por parte da alfândega argentina.
Não há um valor estipulado previamente para esses mecanismos, mas o ministro afirmou acreditar que um montante ao redor de US$ 2 bilhões será suficiente para dar liquidez ao comércio bilateral entre Brasil e Argentina. O memorando vale a partir de hoje, e os dois países vão trabalhar para colocá-lo em prática. 

Nouriel Roubini e a economia brasileira: o profeta do apocalipse anuncia crise...


Today's Monitor, Mar 28, 2014
 Nouriel Roubini

SPOTLIGHT
This is part of a series of Spotlights updating our views on the global economy and asset markets this year and next.

Bottom line: Brazil’s growth outlook has marginally worsened in the face of persistent constraints: A lack of domestic drivers, an extended monetary-tightening cycle, depressed investor confidence and insufficient policy responses. Despite better-than-expected Q4 GDP numbers, a rough start to the year and a probable extension of the Brazilian Central Bank’s (BCB) hiking cycle into 2015 have prompted us to revise our 2014 and 2015 growth forecasts downward. Our end-2014 forecast for the Brazilian real still stands at 2.4 to the dollar—unchanged from our forecasts last year. Following the BCB’s February decision, we now see the key interest rate (the Selic rate) reaching 11% by year-end, but near-term real appreciation could allow the BCB to take a marginally more dovish stance. Our October presidential election scenario remains mostly unchanged: President Dilma Rousseff is the favorite, but the opposition still has a serious chance of scoring a victory. Although policy making would be more pragmatic and market-friendly under the latter scenario, we would also expect a second Rousseff administration to correct some of its previous blunders.

What has changed: Brazil’s GDP numbers surprised to the upside in Q4, but the start of the year was marked by anxieties about the risk of contagion from the turmoil in Argentina and signs of China’s deceleration. All in all, recent developments have led us to slightly revise down our forecasts for 2014 (which were already pessimistic) and 2015 (which remain somewhat optimistic). At the turn of the year, the real was seen as one of the most fragile emerging market currencies—especially following Argentina’s devaluation and the release of China’s soft December PMI reading—but it has recently regained some strength. We now expect the Selic to end the year at 11% (we were expecting 11.25% before the February decision), but recognize the final 25-bp hike we expect in April will depend on the strength of incoming data. 

Us vs. consensus: Consensus projections for Brazil’s 2014 growth have steadily fallen over the past few months, but should rise when Q4 data are factored in. As a result, our once-below-consensus forecast is now mostly in line with analysts’ estimates, but will settle slightly below consensus after the revision cycle. Despite our 2015 GDP growth projections, we remain significantly above consensus for next year due to our expectation of a post-election improvement in policy making. On monetary policy, our projection for the Selic has gone from above consensus to generally in line with consensus, although markets continue to price in too many hikes.
  
Macroeconomic Dynamics
Despite generally disappointing data for industrial production and retail sales in late 2013, Q4 GDP surprised to the upside (0.7% q/q), providing additional statistical carry-over for 2014. However, a bumpy start to the year has led us to marginally reduce our 2014 GDP forecast. Even if exports provide a lift to growth this year on a weaker real, we see little room for consumption to be much stronger than it was in 2013, and the temporary factors that drove investment last year (scheduled projects, base effects) will not re-occur. Tighter financial conditions and political uncertainty in the run-up to the October elections have also made for a bleaker growth outlook.   
Recent inflation readings came in marginally below our expectations, prompting a small revision to our average inflation forecast for the year (from 6.2% y/y to 6.0%); however, elevated inflation expectations, a weaker real (on average), high services-sector inflation and increases in regulated prices all continue to paint a poor picture for the CPI. The BCB’s lack of credible inflation-targeting framework (the official 4.5% goal has not been actively pursued for the past few years) is feeding into elevated inflation expectations (5.7% y/y in 2015), and bringing these down would require changes in both monetary and fiscal policy (particularly the latter).
On average, the real will be weaker in 2014 than it was in 2013, although we may not see much more depreciation from current levels. The weak currency will help rein in Brazil’s wide current account gap, but we still expect a deficit of over 3.0% of GDP for 2014.

Policy Implications
Following the BCB’s 25-bp Selic hike in February, we now expect a final 25-bp increase in April. Given our call for emerging market capital flows to stabilize through the year and for the real to weaken marginally (supported by very high nominal and real rates), we also see a less worrisome external financing scenario, while the domestic growth scenario has worsened. These two factors have kept the BCB from adopting a more hawkish stance, despite elevated inflation expectations. We highlight that the currency remains a key variable to watch.
Coupled with investors’ negative assessment of Brazil’s past policy choices, the prospect of a credit-rating downgrade this year led the government to announce a budget cut in February. Although the move is a step in the right direction, Brazil’s low-growth scenario impairs implementation.

Roubini Views on Critical Issues

Our views on the most important economic issues, with a selection of alternative insight from various sources







O paradoxo da politica externa de Obama - Robert Kagan (WP)

Opinions

President Obama’s foreign policy paradox

Robert Kagan is a senior fellow at the Brookings Institution. He writes a monthly foreign affairs column for The Post.
Whether one likes President Obama’s conduct of foreign policy or not, the common assumption is that the administration is at least giving the American people the foreign policy they want. The majority of Americans have opposed any meaningful U.S. role in Syria, have wanted to lessen U.S. involvement in the Middle East generally, are eager to see the “tide of war” recede and would like to focus on “nation-building at home.” Until now, the president generally has catered to and encouraged this public mood, so one presumes that he has succeeded, if nothing else, in gaining the public’s approval.
Yet, surprisingly, he hasn’t. The president’s approval ratings on foreign policy are dismal. According to the most recent CBS News poll, only 36 percent of Americans approve of the job Obama is doing on foreign policy, while 49 percent disapprove. This was consistent with other polls over the past year. A November poll by the Pew Research Center showed 34 percent approval on foreign policy vs. 56 percent disapproval. The CBS poll showed a higher percentage of Americans approving of Obama’s economic policies (39 percent) and a higher percentage approving his handling of health care (41 percent). Foreign policy is the most unpopular thing Obama is doing right now. And lest one think that foreign policy is never a winner, Bill Clinton’s foreign policy ratings at roughly the same point in his second term were quite good — 57 percent approval; 34 percent disapproval — and Ronald Reagan’s rating was more than 50 percent at a similar point in his presidency. That leaves Obama in the company of George W. Bush — not the first-term Bush whose ratings were consistently high but the second-term Bush mired in the worst phase of the Iraq war.
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Nor are Obama’s numbers on foreign policy simply being dragged down by his overall job approval ratings. The public is capable of drawing distinctions. When George H.W. Bush’s overall approval ratings were tanking in the last year of his presidency, his ratings on economic policy led the downward trend, but his foreign policy ratings stayed above 50 percent. According to the CBS poll, Obama’s overall approval rating is 40 percent, four points higher than his foreign policy rating.
So we return to the paradox: President Obama is supposedly conducting a foreign policy in tune with popular opinion, yet his foreign policy is not popular. What’s the explanation? I await further investigation by pollsters, but until then I offer one hypothesis:
A majority of Americans may not want to intervene in Syria, do anything serious about Iran or care what happens in Afghanistan, Iraq, Egypt or Ukraine. They may prefer a minimalist foreign policy in which the United States no longer plays a leading role in the world and leaves others to deal with their own miserable problems. They may want a more narrowly self-interested American policy. In short, they may want what Obama so far has been giving them. But they’re not proud of it, and they’re not grateful to him for giving them what they want.
For many decades Americans thought of their nation as special. They were the self-proclaimed “leader of the free world,” the “indispensable nation,” the No. 1 superpower. It was a source of pride. Now, pundits and prognosticators are telling them that those days are over, that it is time for the United States to seek more modest goals commensurate with its declining power. And they have a president committed to this task. He has shown little nostalgia for the days of U.S. leadership and at times seems to conceive it as his job to deal with the “reality” of decline.
Perhaps this is what they want from him. But it is not something they will thank him for. To follow a leader to triumph inspires loyalty, gratitude and affection. Following a leader in retreat inspires no such emotions.
Presidents are not always rewarded for doing what the public says it wants. Sometimes they are rewarded for doing just the opposite. Bill Clinton enjoyed higher approval ratings after intervening in Bosnia and Kosovo, even though majorities of Americans had opposed both interventions before he launched them. Who knows what the public might have thought of Obama had he gone through with his planned attack on Syria last August? As Col. Henry Stimson observed, until a president leads, he can’t expect the people to “voluntarily take the initiative in letting him know whether or not they would follow him if he did take the lead.” Obama’s speech in Europe Wednesday shows that he may understand that the time has come to offer leadership. Whether or not he does in his remaining time in office, perhaps his would-be successors can take note.

Gabinete de Crise: um livro de José Antonio de Macedo Soares e J.A. Cunha Couto

Recomendo, uma vez mais, este livro:

que deve ser lançado no próximo dia 2 de Abril, em São Paulo: 

de autoria dos "coordenadores de crises" (se o termo existe) da Presidência da República durante 12 anos, nos governos FHC e Lula, diplomata José Antonio de Macedo Soares e especialista J.A. Cunha Couto,
agora com a ajuda de um video no YouTube, como se pode ver aqui: 

Gabinete de Crises - Fernando Henrique, Lula e Dilma - 

de José Alberto Cunha Couto e José Antônio de Macedo Soares

Editora FACAMP


Você já imaginou como uma greve de caminhoneiros poderia afetar a sua vida? Ou pensou que na iminência de uma guerra no Iraque, a compra de um suprimento extra de vacinas contra a varíola pelos EUA poderia significar o temor de uma guerra biológica? Vivendo em uma realidade altamente conectada, eventos locais podem ganhar proporções mundiais rapidamente. Esses são alguns dos temas enfrentados pelo "Gabinete de Crises", locado na Presidência da República, chefiado, por 12 anos, pelos autores do livro . Sem fazer apologia a este ou aquele Presidente da República, o livro revela os bastidores de crises e de conflitos reais. Alguns deles estão registrados na memória do leitor e outros sequer vieram a público, mas, de uma maneira ou de outra, fizeram parte da vida de todos nós. Um trabalho que permite, por um lado, a ampliação do conhecimento brasileiro do tema "crise". Por outro, proporciona uma visão mais ampla acerca do tema, que pode servir de inspiração até mesmo para aqueles que, como integrantes de organizações ou de grupos, se veem diante das mais variadas formas de crise.

O livro está disponível em edição Kindle, neste link.

Book Description

 November 21, 2013
O Gabinete de Crises da Presidência da República atuou por treze anos, entre os governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma. Sua função, como o próprio nome sugere, foi a de detectar as mais variadas crises - ou geri-las, quando não fosse possivel evitá-las, amenizando, assim, os seus efeitos negativos. Ao longo deste importante período da História recente do Brasil, foram muitas as situações nas quais sua atuação se fez necessária, são muitas também as histórias acumuladas por aqueles que estiveram mais diretamente empenhados neste interessante trabalho, algumas delas ora narradas neste livro. O leitor tem em mãos uma obra repleta de revelações inéditas sobre os bastidores do Palácio do Planalto e a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre o cotidiano da Administração Pública. Rico material capaz de inspirar até mesmo aqueles que se vejam frequentemente diante de crises nas mais variadas formas de organização.

Product Details

  • File Size: 898 KB
  • Print Length: 181 pages
  • Publisher: Everywhere Livros; 1 edition (November 21, 2013)
  • Sold by: Amazon Digital Services, Inc.
  • Language: Portuguese
  • ASIN: B00GH67SBA
  • Lending: Enabled

sexta-feira, 28 de março de 2014

Politica externa brasileira: malabarismos eticos - Marcos Troyjo

Brasil sem perfil
Marcos Troyjo
Folha de S. Paulo, Sexta-feira, 28.3.2014

Nações atuam no teatro global num misto de princípios, interesses e conjuntura. Isto vale para Alemanha, Mianmar ou qualquer país. A (não) posição do Brasil perante acontecimentos na Ucrânia comporta todas essas dimensões.

Brasília invoca noção vaga de “não-ingerência”. Anódino chamamento ao “diálogo, negociação e respeito aos direitos humanos”. Fingir-se de morto, no entanto, colide com o papel que o Brasil projetava para si durante o Governo Lula. Basta lembrar do desejado protagonismo na questão nuclear iraniana ou no conflito israelo-palestino.

O Brasil não exerce monopólio da desfaçatez. A atuação de Pequim nas últimas semanas também é ilustrativa.

A abstenção chinesa durante votação no Conselho de Segurança da ONU que condenava o referendo na Crimeia não deve ser tomada pelo valor de face. Na certeza da negativa russa à resolução, a abstenção equivaleu a veto. Putin agradeceu a China abertamente no triunfal discurso ao parlamento russo.

O Brasil deseja fortalecer a plataforma de chefes de Estado e a construção institucional dos BRICS. Estes negociam um Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) com US$ 50 bilhões para infraestrutura. Moscou é parte importante nessa dinâmica, cujo encontro de Cúpula se realiza em Fortaleza após a Copa.

Nesse assunto da Ucrânia, como em muitos outros, o Brasil se faz de tonto. Ainda assim, não será cobrado por potências ocidentais.

Não que a ausência de repercussão negativa resulte de ação bem pensada da atual política externa. É que várias frentes de interesse do país contam com suas próprias forças paralisantes.  

É zero a influência do episódio sobre a intenção do Brasil – antiga quanto a própria ONU – de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança. Sua reforma, que depende da vontade dos atuais membros, não sai em futuro previsível.

Melhor tirar o cavalo da chuva. A tensão Ocidente-Rússia não convida à modernização do sistema internacional, mas a nova versão do "Congelamento do Poder Mundial" apontado por Araújo Castro nos anos 70.

O "não perfil" brasileiro tampouco será sentido nas relações governo a governo ou no comércio com EUA ou Europa.

Depreciado há tempos, o diálogo Brasília-Washington deteriorou-se ainda mais pela bisbilhotagem da NSA. Para o Planalto, as desculpas americanas pelo episódio são ponto de honra. Como elas nunca virão, Brasil e EUA não acertam o passo. E, com Bruxelas, carregar o Mercosul nas costas já é complicado o bastante. 

A flexibilidade moral do Brasil não se explica apenas pelo interesse estratégico em fortalecer os BRICS. É, antes, resultado da predileção por cenário em que EUA e Europa têm menor importância relativa.

Tal leitura convém à preferência ideológica dos atuais “influenciadores” da política externa brasileira. Daí não surpreende todo irrealista apego às relações Sul-Sul e nossa maleabilidade ante Cuba, Venezuela, Honduras e UNASUL.  

O tempo dirá se essa combinação de malabarismo ético com distanciamento do Ocidente serve ao objetivo de tornar o Brasil mais próspero e respeitado no mundo.


Jesus e o Bolsa Familia: um pouco diferente dos Evangelhos... (sem autor)

Sem comentários.
E precisa?
Paulo Roberto de Almeida

Espionagem e revelacoes embaracosas para o Imperio: do Wikileaks a Edward Snowden - Paulo Roberto de Almeida

"Redescobri", agora, revisando velhas mensagens, uma postagem feita de artigo meu no Mundorama, tratando do Wikileaks, que já mereceu seus tremeliques diplomáticos na época de sua revelação.
O caso Snowden, de atualidade, é de outra natureza, mas concerne, basicamente, o mesmo problema: o acesso e o tratamento de informações sensíveis, de e a partir dos Estados Unidos, mas envolvendo as suas relações com outros países.
Transcrevo novamente esse longo artigo, pelo seu interesse para os analistas de relações internacionais.
Paulo Roberto de Almeida


Mundorama, 12 Aug 2011

  Uma questão inevitavelmente vinculada ao caso Wikileaks, e a liberação dos documentos relativos ao Brasil, seria a de aferir seu impacto efetivo nas relações do Brasil com os Estados Unidos, e vice-versa. Minha impressão pessoal é a de que esse impacto é limitado, tenderá a ser circunscrito a um pequeno círculo de interessados imediatos e deverá se diluir com o passar do tempo. Isso não quer dizer que todo o processo não tenha consequências para as partes envolvidas, para os Estados Unidos de maneira geral, e nas relações bilaterais em particular.
Já  elaborei e publiquei algumas reflexões a respeito, num momento em que os documentos vinculados ao Brasil – produzidos pela Embaixada americana em Brasília, ou alguns de seus consulados em algumas capitais estaduais – estavam sendo ainda liberados. Remeto os interessados a este texto meu: “Wikileaks: verso e reverso”, Mundorama (14.01.2011; link: http://mundorama.net/2011/01/14/wikileaks-verso-e-reverso-por-paulo-roberto-de-almeida/); republicado em Dom Total (03.02.2011; link:http://www.domtotal.com/colunas/detalhes.php?artId=1797). Os comentários e opiniões ali expressos tinham sido feitos num momento em que representantes do meio acadêmico no Brasil expressavam seu regozijo pela divulgação dos documentos e até circulavam listas com assinaturas em apoio ao personagem principal, antes e durante sua captura pelo polícia britânica. Um alto personagem da república (com minúscula neste caso) chegou a oferecer a possibilidade de asilo no Brasil ao “animador” do Wikileaks, Julian Assange, por causa do processo movido na Inglaterra contra ele.
Nesta altura, agosto de 2011, todos os documentos relativos ao Brasil já  foram, aparentemente, liberados (ver: “Wikileaks: todos os documentos estão no ar”, Publica, Agência de jornalismo investigativo, 15.07.2011; link: http://apublica.org/2011/07/semana-wikileaks-todos-os-documentos-estao-no-ar/). Não tenho a intenção, contudo, de desenvolver neste momento uma análise de conteúdo dos mais importantes, pois seria ainda necessário processá-los tematicamente, separar o joio do trigo – ou seja, o que é de fato relevante em termos de relações bilaterais, dispensando as simples fofocas de ocasião – e recolocar cada um deles no seu contexto próprio, antes de proceder a uma avaliação de sua importância real. Pretendo, tão somente, continuar algumas reflexões sobre seu impacto geral e vinculado ao Brasil, sob a forma de três grandes questões: o que significa o Wikileaks para a diplomacia americana na suas relações com o Brasil, como passaram a proceder as duas partes depois da liberação dos documentos – ou seja, a questão da cautela a ser observada doravante nos contatos e nos diálogos entre as duas diplomacias – e, finalmente, uma avaliação do impacto efetivo da liberação sobre todo o processo diplomático.
Como avaliar o impacto do Wikileaks na relação Brasil-EUA?
Como para qualquer outro país, a divulgação antecipada – e de forma ilegal e criminosa – de expedientes diplomáticos americanos sobre as relações Brasil-Estados Unidos, que deveriam ter permanecido confidenciais ou secretos durante aproximadamente dez anos além de sua produção, apresenta um impacto nas relações bilaterais, ainda que este aspecto seja o menos importante de todos, no conjunto de “tangos e tragédias” representada pelo fenômeno Wikileaks para a diplomacia americana como um todo, em especial para a condução das relações bilaterais dos EUA e, com impacto acrescido, para o planejamento estratégico – em primeiro lugar de segurança – daquela potência nas suas relações com o mundo todo, inclusive no encaminhamento de temas da agenda americana nos organismos multilaterais, nas suas instituições “imperiais” (tipo OTAN, por exemplo), e sob vários outros aspectos também (impossíveis de serem todos dimensionados e apreciados).
Digo “tangos e tragédias”, de modo irônico, mas deliberado, porque o Wikileaks é de fato uma “piada” – no sentido corriqueiro da palavra – e um drama, ao mesmo tempo. Uma “piada”  porque a maior parte, senão a quase totalidade do que foi “revelado” não é especialmente novidade, mas elementos de informação que se encontravam disponíveis há muito tempo na mídia de qualidade. A “piada” vem associada a certos comentários jocosos de diplomatas americanos a respeito de seus interlocutores em determinados países, ou suas próprias opiniões a respeito de situações por eles enfrentadas no desempenho funcional normal, e também ao lado “surpreendente” de certos comentários “inocentes” dos interlocutores locais dos diplomatas americanos a respeito de seus governos respectivos.
Por exemplo, o fato de que diplomatas americanos considerassem que os negócios familiares de certos ditadores árabes se assemelhavam aos da máfia americana não é propriamente algo surpreendente ou inusitado, para quem conhece o “ambiente de negócios” desses países, e apenas testemunha a favor dos diplomatas americanos em sua capacidade analítica, de não se deixarem impressionar pelo luxo e riqueza em que viviam certos “nababos do Oriente”, por saberem bem que esses recursos eram provenientes de roubo organizado, de espoliação de capitalistas nacionais e estrangeiros, de dilapidação do tesouro público, enfim, de comportamentos mafiosos, tout court. Quanto ao lado funcional, não deixa de ser piada ver um cônsul americano reclamar do intenso trabalho de escrutinização dos candidatos a vistos de turismo aos EUA, já que entre as demandas incontáveis se encontrava um pouco de tudo, do bom, do mau e do feio (frase clássica e comentário apropriado para quem se lembra do belíssimo western-spaghetti de Sergio Leone: The Good, the Bad, and the Ugly).
Pode ser também uma “piada” – mas também pode ser um “pequeno drama” para as partes envolvidas – saber da opinião de um imponente ministro brasileiro da Defesa – agora justamente dispensado em razão de sua big mouth – a respeito de um colega de ministério, chamando-o de “antiamericano”, o que não chega a ser novidade, para quem conhece o personagem, mas que revela o lado das pequenas hipocrisias que frequentam os meios oficiais. O “antiamericano” calou-se a respeito – talvez deliberadamente, para confirmar, e contentar a esquerda antiamericana, que ele se enquadra feliz e voluntariamente no conceito – e o emissor da opinião apressou-se a desmentir, dizendo ter sido mal interpretado ou não ter dito exatamente aquilo, correção que soa não apenas patética, mas totalmente falsa e ainda mais hipócrita. Ninguém pensava outra coisa do antiamericano em questão, e pode-se pensar que as relações entre ambos não tenha sido afetada minimamente por excesso de sinceridade de uma verdade tão óbvia quanto dispensável de ser confirmada. Mas esse é apenas o lado “piada” de todo este affair.
O lado dramático, uma verdadeira tragédia para a diplomacia americana, não pode ser colocado apenas no contexto bilateral, pois ele afeta TODAS as relações bilaterais dos EUA, em todo o mundo, a partir de agora. Os EUA passam a dispor, presumivelmente, de menos interlocutores, em meios oficiais e de oposição, em todas as instâncias das quais participam e em todos os países nos quais trabalham seus diplomatas. Qual é o agente público – ministro ou burocrata de alto coturno – ou o líder político de oposição, e até mesmo da situação, amigo ou “inimigo” dos EUA, que vai querer, a partir do Wikileaks, conversar, reservada e livremente, com o embaixador americano postado localmente, ou com seus diplomatas graduados, presumindo, a partir de agora, que essas conversas em off serão eventualmente reveladas em curto prazo por trânsfugas do Wikileaks (ou qualquer outra forma de apropriação indébita de expedientes oficiais)? Qual é o simples cidadão que vai continuar confiando na segurança das informações detidas pelos EUA, quando um simples soldado raso em um posto obscuro da máquina imperial pode ter acesso a esses expedientes e divulga-los livremente para o mundo inteiro?
 Esse é o lado da absoluta tragédia para os serviços diplomáticos americanos – de fato para TODO o seu sistema de segurança de informações – que passou a existir depois do Wikileaks e que vai afetar profundamente todas as formas de recolhimento, de processamento de informações, e de tratamento dessas informações para fins de tomada de decisões dessa grande máquina burocrática que é o maior império de todos os tempos. O império está não somente “nu”, como desprovido de meios de acesso a certas informações sensíveis, que são detidas apenas por seus interlocutores em todos os países e organizações internacionais: os EUA estão SEM INTERLOCUTORES, pelo menos dos que detêm, verdadeiramente, informações sensíveis e valiosas. Todos os seus encontros vão se limitar ao “banal costumeiro”, com comentários absolutamente anódinos, e agora terrivelmente aborrecidos, sobre o tempo, o vento, quão bom e correto é o meu governo, como todas as suas decisões são sábias e apropriadas, e coisas do gênero. Em outros termos, os EUA perderam valiosas fonte de informação, no Brasil e em todos os demais países, para o bem e para mal. Esta é uma tragédia que reputo incomensurável.
A outra tragédia – mas que também pode ser uma piada, dependendo de como se considere o fato – é que os diplomatas americanos, revelados em suas notas espirituosas, algumas maldosas, outras simplesmente óbvias, sobre seus interlocutores, amigos e “inimigos”, deixarão de fazer esses comentários jocosos, mas verdadeiros e sinceros, outros apenas esclarecedores, sobre seus interlocutores e sobre as informações e “análises” que eles forneceram, em caráter obviamente confidencial, numa conversa reservada e cordial. Qual é o embaixador ou ministro conselheiro que vai agregar, depois de sua transcrição fiel da conversa, sua própria opinião sobre o personagem em questão, sabendo que a mesma pode ser revelada em pouco tempo, o que redundará certamente em sorrisos amarelos, pedidos de desculpa ou “rompimento de relações”? Em outros termos, os telegramas confidenciais dos postos e embaixadas se converterão em aborrecidas transcrições de conversas, sem qualquer elaboração complementar a respeito, ou pelo menos sem o colorido e a verve das opiniões sinceras do “produtor” de telegramas, sem qualquer adição de “verdades verdadeiras” (mas incômodas, a qualquer título), que seu responsável poderia fazer a respeito. Ou seja, a “veia literária” – até histriônica – dos diplomatas americanos se encontra singularmente podada, cortada, eliminada por completa, com o que esses expedientes retornam à sua linguagem burocrática, aborrecida, terrivelmente contida, com todo o “politicamente correto” que é capaz de se expressar no “diplomatês” habitual dessas comunicações (que também contêm algumas doses de “bullshitismo”, é verdade). Enfim, vamos perder grandes vocações dramáticas, até intelectuais, com esse retorno a padrões normais da correspondência diplomática, borings como costumam ser esses expedientes.
A tragédia se amplia também para o processo de tomada de decisões nas instâncias apropriadas dos EUA, que agora são obrigadas a tomar novos cuidados quanto ao acesso e disseminação dessas informações. Ou seja, menos pessoas vão estar envolvidas nesses mecanismos e na própria tomada de decisões, o que significa que, com menos informações e menos especialistas participando de todo o processo, o “império” vai errar mais nesse itinerário entre o insumo e sua resposta, e tomará decisões equivocadas ou não apropriadas ao caso. Uma tragédia de dimensões gregas para a máquina de informações e de tomada de decisões que sustenta qualquer império. A última tragédia é a dos historiadores e analistas de arquivos, alguns dos quais ficaram absolutamente – e equivocadamente – maravilhados com essa liberação antecipada de uma massa de documentos “picantes e saborosos” sobre as engrenagens internas do maior império da humanidade – alguns até eufóricos, com a revelação inopinada das “roupas sujas” do império, o que se explica pelo antiamericano habitual em certos meios. Pois é um fato que, dentro de dez anos, os mesmos “garimpadores de arquivos” vão ficar decepcionados com a ausência súbita de informações relevantes na massa de documentos que serão liberados: todos estarão contidos pela tragédia cômico-dramática do Wikileaks, ou seja, não haverá revelações dignas de notas a serem exploradas (pelo menos durante certo tempo, até que as pessoas esqueçam o que ocorreu e o Wikileaks seja apenas um intervalo incômodo numa história diplomática bem mais ampla e interessante).
Em síntese, poucas revelações do Wikileaks podem ou devem ser consideradas apenas no contexto bilateral Brasil-EUA, e mesmo as que se situam no plano estritamente bilateral não são suscetíveis de influir decisivamente no perfil, substância ou direcionamento dessas relações, embora possa haver um curto-circuito temporário nas conversas de bastidores que sustentam, diplomaticamente, essas relações.
A nova seletividade dos contatos entre as duas diplomacias
Certamente que ministros, altos funcionários do governo, e simples diplomatas passam a ser, depois do Wikileaks, extremamente seletivos e cuidadosos na abordagem de todo e qualquer assunto com seus parceiros ou interlocutores oficiais americanos. Poucos se mostrarão dispostos a falar sinceramente de seus assuntos correntes, e menos ainda serão aqueles dispostos a falar sinceramente sobre os temas de suas agendas respectivas, ou menos fazer comentários jocosos sobre colegas ou conhecidos, sem mencionar que pequenos e grandes segredos, hipócritas ou não, serão deixados convenientemente de lado, pois ninguém está disposto a correr o risco de ver estampadas na imprensa esses comentários picantes ou sinceros sobre os temas da conversa. Somente aflorarão amenidades e banalidades, sobretudo no que se refere às análises e opiniões sobre governos amigos e menos amigos. Como, por exemplo, dizer que tal candidato a caudilho de algum país vizinho é histriônico, patético ou francamente antidemocrático, quando isso pode afetar as relações bilaterais do Brasil – ou mais importantes, negócios de grandes companhias brasileiras – com esse país, oficialmente aliado ou até “parceiro estratégico” do governo em vigor? Todo mundo vai ser amigo, até prova em contrário.
É previsível, assim, até esperado, que as relações normalmente “desconfiadas” entre o grande líder hemisférico e global e o grande candidato a líder regional se tornem ainda mais “desconfiadas” a partir de agora, com uma “contenção” acima do normal nos diálogos formais e nas conversas de coquetel entre representantes dos dois lados. Todos vão se olhar desconfiados e o mais previsível que ocorra são variações deste tipo: os brasileiros se recusarão a expressar suas opiniões pessoais, e até certas visões oficiais, sobre os temas na pauta da conversa, temerosos de revelações indevidas, e os americanos redatores de expedientes se conterão em expressar suas opiniões, além e acima da transcrição dessas conversas aborrecidas, deixando de lado, justamente, o lado bom – e talvez até o mau e o feio – desses expedientes, que seria o acréscimos de suas percepções pessoais sobre o tema e os interlocutores em pauta.
Desconheço se alguma instrução do gênero “não falem mais nada com esses americanos trapalhões” tenha sido expedida, ou feita em caráter não oficial a todos os interlocutores potenciais dos representantes do império no Brasil, mas suspeito que, sponte sua, os “visados” brasileiros passaram a ser muito mais seletivos nos seus encontros formais e informais, abertos e confidenciais, com esses representantes, e muito mais comedidos na expressão livre de suas opiniões – além e acima da versão oficial, geralmente inútil – sobre os temas das relações bilaterais e assuntos paralelos. Entre os diplomatas a contenção já era de rigor, pois são seres normalmente recatadas, discretos, quase repetitivos – tipo “la voix de son maître”, ou “hora do Brasil” – que se limitam a expressar a versão oficial, mesmo quando não acreditam nela, de qualquer assunto. Os demais interlocutores, da vida “civil”, deixarão de receber com o mesmo encanto os convites do embaixador americano para jantares e recepções, ou, se continuarem a aceitar, vão se tornar aborrecidamente anódinos em seus comentários, lembrando-se, justamente, das desventuras de algum colega flagrado pelo Wikileaks em alguma frase menos politicamente correta, digamos assim. Ou seja, as conversas daqui para a frente vão se tornar aborrecidamente dormitivas, sem as emoções da fase pré-Wikileaks.
Wikileaks-Brasil: um impacto negativo, mas limitado
O impacto da revelação dos documentos, tanto quanto se possa julgar pelo que já foi liberado, pode ser considerado como diplomaticamente negativo, embora o impacto global, no conjunto do relacionamento, seja limitado, já que algumas comunicações poderiam ter um efeito ainda mais desestabilizador nas relações bilaterais. Isto se deve a que a interface diplomática não abriga nenhum grande assunto muito sensível.
O Brasil, com exceção da venda de aviões militares, não possui, a rigor, nenhum grande tema de interesse bilateral que se situe num nível de segurança e de importância estratégica com os EUA que poderia ter sido impactado por alguma revelação mais contundente a partir dessas “fugas Wikileaks”. Todo e qualquer expediente confidencial é concebido para permanecer confidencial durante um tempo adequado, pois o tema representa, supostamente, informações não exatamente sensíveis, mas importantes, ao revelarem percepções e tratamento de determinados assuntos que são melhor conduzidos se o processo que conduz à tomada de decisão não for exposto de modo claro. Esta é uma lógica do tratamento burocrático das informações e decisões em qualquer governo que merece e deve ser respeitada.
Todo e qualquer governo é formado por pessoas que possuem diferentes percepções a respeito de um problema qualquer, que é objeto de tratamento oficial e que será formalizado numa decisão qualquer mais adiante, com uma única versão, a oficial, sendo apresentada como homogênea, consensual, etc. Ora, é evidente que o processo que levou a tal decisão é obviamente contraditório, até  desgastante, e os interesses da outra parte – no caso, os EUA e sua interface com o Brasil – podem estar sendo contemplados com maior ou menor grau de “aderência”. Ao desvendar os bastidores desse processo, o Wikileaks revela as contradições inerentes a todo e qualquer processo governamental, como opiniões pró e antiamericanas, para simplificar uma questão bem mais complexa.
Tomemos, como exemplo, o caso mais importante, justamente, o da venda de aviões militares. Além e acima de aspectos mais nebulosos ou até corriqueiros do assunto – preparação dos relatórios técnicos a respeito dos aviões concorrentes, questões técnicas, de desempenho tático ou operacional, ou, mais importante ainda, transferência de tecnologia e custo total, direto e indireto, de toda a operação –, existem aspectos propriamente políticos – e até “ideológicos”  – envolvidos numa operação gigantesca como essa, que podem afetar, decisivamente, todo o curso do negócio. Ora, que o governo brasileiro seja mais ou menos antiamericano, que “ decisores decisivos” sejam mais influenciados pela percepção que eles tenham dos EUA – de sua política “imperial”, de seu papel na região, da “subordinação estratégica” e da “dependência”  do Brasil, ou qualquer outro aspecto desse gênero –, tudo isso é  relevante, independentemente do mérito próprio das ofertas, de sua qualidade técnica ou de seu custo financeiro estrito senso. O governo americano pode estar se movimentando, além e à margem dos encontros oficiais, para lograr obter vitória na oferta de suas empresas, o que é normal e esperado de qualquer governo que defende o interesse de sua economia – e até de seu planejamento de segurança estratégica – em negócios desse tipo. Os governos francês e sueco – e outros, antes deles – também fazem e devem continuar fazendo exatamente o mesmo, com maior ou menor sucesso, justamente, em função do ativismo de seus diplomatas e representantes oficiais envolvidos no negócio. Nada do que disserem americanos e brasileiros em torno desse assunto pode ser considerado irrelevante ou supérfluo num negócio de tal magnitude; nada do que se puder fazer para “influenciar” os decisores corretos, pró-americanos entenda-se, é indiferente ao sucesso da empreitada e a seu resultado final.
Este é apenas um exemplo, entre outros, de temas importantes que podem ser, como talvez já estejam sendo, afetados pelo Wikileaks, com imenso prejuízo para os EUA e seus interlocutores e aliados –  e até seus “inimigos” – no Brasil. Outros temas relevantes são os das relações do Brasil com seus vizinhos imediatos, em especial aqueles que possam ser julgados excessivamente “inimigos” dos interesses do império, ou até amigos voluntários do próprio, na medida em que conversas reservadas, interesses ocultos e posicionamentos internos de chancelarias podem afetar, para o bem e para o mal, relações diplomáticas normais ou até a condução de negócios específicos. Enfim, todo e qualquer tema de chancelaria, de governo num sentido amplo, e até negócios privados, da sociedade civil, podem ser beneficiados ou prejudicados por revelações inesperadas, algumas até “bem-vindas”, outras absolutamente prejudiciais para o curso ulterior dos assuntos.
Mas estas são observações genéricas, até teóricas, sobre o caso Wikileaks nas relações Brasil-Argentina. Um exame mais detalhado do conteúdo de todas as mensagens reveladas até aqui, sua correta interpretação no contexto das relações bilaterais, e sua inserção no quadro mais amplo dos interesses brasileiros e americanos –  cada um de seu lado – em todas as esferas de interesse relevante, até com terceiras partes, poderia trazer um cenário e uma análise mais corretos sobre o papel e a importância real do Wikileaks para essas relações. Como julgamento genérico e superficial do assunto, eu diria que nenhum interesse essencial nesse plano bilateral foi afetado pelas revelações e – desconfortos pessoais não obstante e à parte – as relações não devem ser afetadas significativamente agora e no futuro imediato. Todos os assuntos são corriqueiros e todos os preconceitos e peculiaridades das relações foram revelados, por vezes de modo canhestro e desconfortável, e até confirmados pelo Wikileaks. Não creio que exista qualquer “potencial explosivo”  nessas revelações.
Concluindo, eu reafirmaria um julgamento anterior já feito sobre todo este assunto: o Wikileaks representa um tesouro para os jornalistas, uma tragédia para a diplomacia americana e algumas “trouvailles”  temporariamente interessantes para os historiadores da área, que serão, no entanto, “penalizados” mais adiante, dado que as fontes vão “secar” de modo perceptível.
A vida segue adiante, com ou sem Wikileaks…
Paulo Roberto de Almeida é Doutor em ciências sociais pela Universidade de Bruxelas (1984); diplomata de carreira do serviço exterior brasileiro desde 1977; professor de Economia Política Internacional no Programa de Pós-Graduação em Direito do Centro Universitário de Brasilia – Uniceub; autor de diversos livros de história diplomática e de relações internacionais (www.pralmeida.orgpralmeida@mac.com).

IRel-UnB: 40 anos - seminario comemorativo, UnB, 22-24/04/2014


Mundorama, 27 Mar 2014 07:22 AM PDT

O Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília tem a satisfação de convidar para o Seminário Internacional “Relações Internacionais no Brasil: Diálogos, conexões e perspectivas”,que realizará por ocasião da celebração dos 40 anos do ensino de Relações Internacionais na Universidade de Brasília.
O evento ocorrerá entre os dias 22 e 24 de abril de 2014, no Auditório do IREL (Prédio do IREL/IPOL – Campus Universitário Darcy Ribeiro, Universidade de Brasília – Brasília – DF).
Informações podem ser obtidas pelo telefone (61) 3107-3636 e inscrições podem ser feitas pelo e-mail celioli@unb.br.

PROGRAMA
PRIMEIRO DIA: 22 de abril de 2014, terça-feira
 18h: Mesa de abertura
●      Prof. Dr. Ivan Marques de Toledo Camargo – Reitor da UnB
●      Prof. Dr. Eiiti Sato – Diretor do IREL/UnB
●      Prof. Dr. Antonio Carlos Lessa – Coordenador do PPGRI-REL/UnB
●      Profa. Dra. Cristina Y. Inoue – Coordenadora de Graduação – IREL/UnB
●      Profa. Dra. Vânia Carvalho Pinto – Coordenadora de Extensão – IREL/UnB
●      Paulo Adriano Brito – Presidente do CA – IREL/UnB
●      Vanderlei C. Valverde – Assistente de Direção do IREL/UnB
Audição musical: Lurian Lima e seu violão
18h30min: Mesa de Homenagem aos professores aposentados e amigos do IREL
  • Prof. Dr. Eiiti Sato – Diretor do Irel/UnB
  • Profa. Dra. Ana Flávia Granja e Barros – Diretora do INT/Reitoria da UnB
  • Prof. Dr. José Flávio Sombra Saraiva – Professor Titular de Relações Internacionais da UnB
  • Prof. Dr. Alcides Costa Vaz – Ex-Diretor do Irel/UnB
 Professores e Servidores Homenageados: Amado Luiz Cervo, Antonio Augusto Cançado Trindade, Argemiro Procópio Filho, Fernando Augusto Albuquerque Mourão, José Carlos Brandi Aleixo,  Lytton Leite Guimarães, Maria Helena Castro Santos, Maria Izabel Valadão de Carvalho e Vanderlei C. Valverde
19h: Primeira Conferência: O desenvolvimento do estudo e da pesquisa em Relações Internacionais nos grandes centros do Norte
●      Prof. Dr. Andrew Hurrell – Full Professor, The University of Oxford,  Inglaterra
●      Coordenador: Prof. Dr. José Flávio Sombra Saraiva – IREL/UnB

SEGUNDO DIA: 23 de abril de 2014, quarta-feira
9h: Segunda Conferência: As transformações globais e as novas formas de pensar as Relações Internacionais nos dias atuais
●      Prof. Dr. Eduardo Viola – Professor Titular do IREL/UnB
●      Coordenador: Prof. Dr. Daniel Jatobá – IREL/UnB
10h-12h: Mesa-redonda: As Relações Internacionais no Brasil: balanços e perspectivas
●      Prof. Dr. Tullo Vigevani (com Laís Forti e Lucas Leite) – UNESP e Instituto dos Estados Unidos
●      Prof. Dr. Eiiti Sato – Diretor do IREL/UnB
●      Prof. Dr. Henrique Altemani de Oliveira – UEPB
●      Coordenador: Prof. Dr. Roberto Goulart Menezes – IREL/UnB
14h00min-16h: Mesa-redonda: Relações Internacionais do Sul
●      Prof. Dr. Fernando Mourão – Professor Titular aposentado da Universidade de São Paulo (USP)
●      Prof. Dr. Pio Penna – IREL/UnB
●      Prof. Dr. Argemiro Procópio – Professor Titular aposentado do IREL/UnB
●      Prof. Dr. José Flávio S. Saraiva – IREL/UnB
●      Coordenadora: Profa. Dra. Vânia Carvalho Pinto – IREL/UnB
16h-18h: Os 40 anos: as Relações Internacionais na UnB
●      Prof. Dr. José Carlos Brandi Aleixo – Professor Emérito da UnB e   Primeiro Chefe do Departamento de Ciências Polítiacas e Relações Internacionais da UnB (ano 1974)
●      Embaixador Carlos Henrique Cardim – Ministério das Relações Exteriores (MRE)
●      Prof. Dr. Antonio Jorge Ramalho – Ministério da Defesa e IREL/UnB
●      Profa. Dra. Maria Izabel Valadão de Carvalho – IREL/UnB
●      Coordenadora: Profa. Dra. Danielly Silva Ramos  Becard  – IREL-UnB
TERCEIRO DIA: 24 de abril de 2014, quinta-feira
9h: Conferência Terceira: Conceitos e modelos de inserção internacional na  América Latina
●      Prof. Dr. Alejandro Simonoff – Professor Titular da Universidade Nacional de la Plata e da Universidade de Buenos Aires (UBA), Argentina
●      Coordenador: Prof. Dr. Alcides da Costa Vaz – IREL/UnB
10h30min-12h: Mesa-redonda: Perspectivas e conexões continentais das Relações Internacionais da Europa com a América Latina
●       Prof. Dr. Antonio Carlos Lessa – IREL/UnB
●       Prof. Dr. Andrew Hurrell – University of Oxford
●      Coordenadora: Profa. Dra. Tânia Pechir Gomes Manzur – IREL/UnB
14h-16h: Agendas emergentes no ensino de Relações Internacionais no Brasil
●      Prof. Dr. Eugênio Diniz – PUC-MG
●      Prof. Dr. Marcos Cepik – UFRGS
●      Profa. Dra. Maria Helena Castro Santos – IREL/UnB
●      Prof. Dr. Paulo Esteves – Presidente da ABRI e Professor da PUC/RJ
●      Coordenador: Prof. Dr. José Flávio Sombra Saraiva – IREL/UnB
16h15-18h: Ensino de graduação e pós-graduação em Relações Internacionais no Brasil: perspectivas nacionais e regionais
●      Profa. Dra. Maria Regina Soares de Lima – IESP/RJ
●      Prof. Dr. Rafael Duarte Villa – USP e CAPES
●      Prof. Dr. Alejandro Simonoff – Universidade Buenos Aires, Argentina
●      Coordenadora: Profa. Dra. Cristina Y. Inoue  – IREL/UnB
18h: Conferência de encerramento: O crescimento das Relações Internacionais no Brasil e sua projeção nos próximos anos
  •  Prof. Dr. Amado Luiz Cervo – Professor Emérito da UnB
  • Coordenador: Prof. Dr. Eiiti Sato – Diretor do IREL/UnB

Patentes: uma cultura que recem desponta no Brasil - Pesquisa Fapesp

Caminhos para a proteção intelectual

Especialistas recomendam busca em bases de patentes antes mesmo do início de projetos de pesquisa
Pesquisa FAPESP, Edição 217 - Março de 2014

© DANIEL BUENO
Quanto mais patentes tem um pesquisador, maior é a possibilidade de ele deixar a academia para comercializar os resultados dos estudos e ser mais bem recompensado. Pelo menos é o que mostra um artigo da revista Nature, de 2 de janeiro, que comenta um estudo realizado com pesquisadores belgas no período de 1996 a 2005. No Brasil ainda não existe uma tendência como essa, mas sim um aumento do cuidado entre os pesquisadores e universidades em depositar patentes antes da publicação em periódicos científicos. É uma cultura que está se formando. Para os pesquisadores que ao final de um projeto acreditam que os resultados obtidos são passíveis de proteção intelectual, especialistas recomendam, como primeiro passo, a análise de três itens: saber se a invenção constitui realmente uma novidade, se ela se enquadra em uma atividade inventiva e se pode ser aplicada industrialmente.
Os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) vinculados a universidades e institutos de pesquisa, também chamados de agência de inovação ou coordenadoria de propriedade intelectual, são os responsáveis pela avaliação dos requisitos de patenteabilidade e pela interação entre o setor público e privado.“O comunicado de invenção preenchido pelo pesquisador contém as informações necessárias para que nossos especialistas compreendam a tecnologia, façam a busca em bases públicas de patentes do Brasil e do exterior e, se for o caso de proteção, definam a estratégia mais adequada”, diz Patrícia Leal Gestic, diretora de Inovação e Propriedade Intelectual da Agência de Inovação (Inova) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Quando faço a comunicação de invenção, a Inova recomenda que eu também faça uma busca de anterioridade nas bases de patentes internacionais, como Derwent e USPTO [United States Patent and Trademark Office]”, diz o professor Oswaldo Alves, coordenador do Laboratório de Química do Estado Sólido e do Laboratório de Síntese de Nanoestruturas e Interação com Biossistemas da Unicamp. Alves fala com conhecimento de causa – ele já teve 25 patentes depositadas, 3 delas internacionais, e 5 cartas-patentes concedidas, além de ter fechado um contrato de transferência de tecnologia com a empresa Contech, de Valinhos, no interior paulista.
Patrícia ressalta que a agência recomenda aos pesquisadores usar as bases públicas de patentes não só para analisar tecnologias com potencial de patenteamento, mas também antes de iniciar um novo projeto de pesquisa. “Quando essa consulta é feita antes, o pesquisador já começa a planejar a sua pesquisa com foco no ineditismo e na possível aplicação da tecnologia”, diz Vera Crósta, consultora na área de inovação e transferência de tecnologia na VC Consultoria e da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).“O foco é o avanço do conhecimento, ir além do que já foi feito”, aconselha Vera, graduada em farmácia industrial e especializada em qualidade e gestão da inovação. “Se a busca ficar restrita a bancos de artigos acadêmicos, o pesquisador estará um ou dois anos defasado no estado da técnica”, diz Vera. Em muitos países já existe a cultura de que o depósito da patente deve anteceder a publicação de artigos científicos principalmente em áreas tecnológicas. “O artigo científico só deve ser submetido para publicação quando já existir um número de protocolo de depósito concedido pelo INPI [Instituto Nacional da Propriedade Industrial]”, diz Alves.
Vera ressalta que é importante que os NITs tenham pessoal qualificado para avaliar a tecnologia e seu potencial, “porque é preciso ter um olhar de mercado para saber quais suas possíveis aplicações”. Tudo aquilo que precisa ser protegido em uma patente está descrito no quadro reivindicatório do pedido.“Se as reivindicações forem feitas só com um olhar acadêmico, o escopo de abrangência possivelmente estará restrito”, diz. É preciso entender as possibilidades de aplicação também no mercado. Tecnologias com vários usos diferentes, para atender a setores distintos, ampliam o leque de aplicações e normalmente têm maior potencial para serem comercializadas. Sigilo, propriedade intelectual e participação nos resultados são, na avaliação da consultora, os pontos nevrálgicos em uma negociação. “Quando os especialistas decidem que a invenção não se enquadra nas regras da proteção, ainda assim buscamos estabelecer estratégias para comercialização do know-how”, diz Patrícia, da Inova.

Modelo brasileiro de desenvolvimento: da substituicao de importacoes a...??? - Marcos Troyjo

Latin Trade, March 2014 issue
World Economic Forum Latin America, Special Report

Development models or growth tactics?
By Marcos Troyjo
Import substitution practices shielded Brazil and in general, Latin America, from the effects of the global recession. Now it’s time to rethink trade and openness.

Many around the world believed until recently that Latin America – and particularly Brazil – had devised an economic formula assembling high growth and social inclusion.
But that magic recipe doesn’t really exist. Policies put in place by Brazil in the past few years to boost its economy weren’t pillars of a new miracle. For the past 10 years, Brazil has resorted to import substitution and the appetite of its domestic market as recurrent tactical attempts to promote growth.
The Brazilian case offers a valuable example of the distance between “development models” and “growth tactics” in Latin America. The former are strategic in nature; they include a “plan,” a well-structured vision of the future. The latter are superficial – they react – to changes in the global economy. Models are about sustained development. Tactics are about punctual growth.
These differences are further enhanced by the stance countries take towards the “reglobalization” now in the making – a new phase in international relations shaped by further integration to global supply chains and increased terms of trade.
As a consequence, a “two-speed Latin America” emerges. On the one hand, the Pacific Alliance (México, Colombia, Perú and Chile) and its competitive drive. On the other, Mercosur – a platform now characterized by the old-fashioned ideological and protectionist attitude of its members.
Brazil is key to how Latin America will be reconfigured. The region´s largest economy has not gone down the path of isolation as deeply as Venezuela and Argentina. Nor, has it opted for a competitive integration with the global economy.
The current reinterpretation of import substitution policies in Brazil is a good example of the difference between a development model and growth tactics. Nearly all experiences in industrial development around the world resorted to some sort of import substitution as a stopover to local capacity-building.
But, import substitution cannot become an everlasting rule. In order to enable a particular sector of the economy to compete internationally, it is only to be applied at “infant industry” level. Fostering domestic consumption as a countercyclical tool following the Great Recession of 2008 did make the economy respond positively to stimulus. However, there are many constraints for such growth tactics to become a development model.
Low levels of savings and investment, outdated labor and tax legislations, infrastructure bottlenecks, a business environment lagging behind that of its competitors. These are some of the obstacles keeping Brazil away from a development road paved by entrepreneurship and innovation.
Brazil could definitely use the old economy to help build new competencies. This would necessarily involve sectors such as agribusiness, mining, deep-water oil, biofuels. These should generate surpluses to service the construction of new competitive advantages – in nanotechnology, biotechnology, new materials – areas that may drive Brazil to the forefront of emerging markets.
Building a development model requires three ingredients. Political will, capital availability and a good diagnosis of what the world is today. If along these three lines, Brazil manages to enact the much needed structural reforms, the country would be driven away from an autarkic approach to development. And, it would certainly edge closer to its rightful place amidst the leading economies of the 21st century.

*Marcos Troyjo teaches international affairs at Columbia University, where he directs the BRICLab, a special forum on Brazil, Russia, India and China.