O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Across the Empire (11): de Portland, OR a Tacoma, WA, pelo Pacífico


Crossing the Empire, 2014 (11)
De Portland, OR a Tacoma, WA, pelo Pacífico

Paulo Roberto de Almeida
Postado no blog Diplomatizzando (8/09/2014; link: )

            Domingo, 7 de setembro, foi um dia inteiramente dedicado a uma nova etapa da viagem: saímos de Portland, Oregon, em direção a Tacoma, no estado de Washington, o mais setentrional e ocidental nos EUA, no canto superior esquerdo (não contando o Alaska), em face da Colúmbia Britânica, do Canadá, onde fica Vancouver, nossa etapa seguinte. Em vez de seguir diretamente, pela autoestrada 5, decidimos ir pela costa do Pacífico, e hoje foi verdadeiramente o dia em que acabamos de viajar em direção ao ocidente, parando no Pacífico. Literalmente, banhei minhas mãos nas águas do Pacífico, tendo viajado desde Portland para a costa via estradas 26 e 6, através de uma floresta estatal enorme, milhões de pés de pinheiro, provavelmente replantados.
            Ao subir a costa norte do Pacífico, pela estrada 101– que já conhecíamos de largos trechos na Califórnia –, paramos numa cidade chamada Garibaldi, mas que provavelmente não tem nada a ver com o próprio, a não ser alguma homenagem singela ao libertador italiano por alguns precoces habitantes oriundi. Foi lá que fiz a única foto da viagem, reproduzindo a fachada do museu marítimo. A escultura em bronze do pátio fronteiro não tem nada a ver com Garibaldi, e sim com o explorador John Gray, quem primeiro devassou as costas do Oregon.

            Depois disso, almoçamos num excelente restaurante perto dali: Pirate’s Cove. Comi um sole com amêndoas, e Carmen Lícia um halibut empanado, com fritas, e eu com salada verde. Para acompanhar, dois pinots do Oregon, eu um branco, Carmen Lícia um tinto. No resto da viagem foram apenas paradas para descanso e para reabastecimento. Chegamos a Tacoma, no estado de Washington, cerca de 21hs, para descansar num Holiday Inn. Amanhã passeios na cidade e depois vamos para Seattle.
            Paulo Roberto de Almeida
            Tacoma, 8 de setembro de 2014

Amazon Brasil em funcionamento: descobri livros meus, com precos interessantes...

Avisado por um amigo, fui verificar: de fato, lá estava um dos meus livros, oferecido, ao que parece, a preços inferiores aos de uma concorrente. Procurando pelo nome em http://www.amazon.com.br/, acabei achando outros...
Neste link.
Paulo Roberto de Almeida
(PS.: Desculpem a desordem do arranjo abaixo: copiar e colar nunca funciona muito bem com colunas pré-formatadas...).

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Os Primeiros Anos Do Século XXI por Paulo Roberto de Almeida (7 Nov 2005)


O Brasil e o Multilateralismo Econômico por Paulo Roberto de Almeida

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A Grande Mudança por Paulo Roberto de Almeida (1 Jan 2003)

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Relações Internacionais E Politica Externa Do Brasil [Português] [Capa comum]

Paulo Roberto de Almeida
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O Príncipe, revisitado: Maquiavel para os contemporâneos por Paulo Roberto Almeida e Pedro Paulo Palazzo de Almeida (8 Set 2013)

 

Powers and Principles: International Leadership in a Shrinking World por Michael Schiffer, David Shorr, Suzanne Nossel e Nikolas Gvosdev (31 Dez 2008)

A pergunta de dois milhoes de dolares: como demitir a si mesm@???!!!

Primeiro as notícias: 
(da coluna diária do jornalista Políbio Braga)

Dilma diz que quer ver "provas concretas" antes de decidir se demite seu ministro de Minas e Energia

A presidente Dilma Rousseff reafirmou, neste domingo que aguardará informações oficiais dos órgãos de investigação sobre o teor do depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, para só então decidir se demite o ministro Edison Lobão.
. A presidente diz que não há informação do que ele foi acusado:

- A revista “Veja”, que deu essa matéria, ela mesma diz, e depois toda a imprensa diz que o depoimento foi criptografado e colocado num cofre. Eu gostaria muito de ter acesso a essas informações de forma oficial. Eu preciso dos dados que digam respeito, ou que tenham alguma interferência no meu governo. Enquanto não me derem os dados oficialmente, não tenho como tomar uma providência. Ao ter os dados, eu tomarei todas as providências cabíveis, tomarei todas as medidas, inclusive se tiver de tomar medidas mais fortes.
. Dilma está sendo apenas esperta, porque o caso não atinge apenas seu ministro das Minas e Energia, mas parlamentares e governadores da sua base aliada, inclusive o tesoureiro do seu Partido, o PT, João Carlos Vaccari. 
. O caso só está começando. 
 

Aécio avisa que Dilma "sempre soube de tudo sobre as propinas na Petrobrás".

O candidato à Presidência da República pelo PSDB, Aécio Neves, cobrou uma manifestação mais contundente da presidente Dilma Rousseff sobre a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que denunciou um esquema de propinas envolvendo políticos do PT e da base do governo na Câmara e no Senado em obras da Petrobras. Aécio voltou a chamar o episódio de "mensalão dois".
. Aécio vem subindo o tom e poderá usar o tema no seu programa de terça-feira:
- Não dá para a presidente Dilma dizer que não sabia o que vinha acontecendo. A marca mais perversa do governo do PT é o aparelhamento do Estado. Eles têm um plano para se perpetuar no poder, causando situações como esta da Petrobras.


Agora a pergunta:
Havendo provas, @ chefe do Executivo deveria demitir todos os envolvidos, certo?
Isso implica demitir a si mesm@?
A questão é apenas filosófica...
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 7 de setembro de 2014

Banco Central bolivariano? - Selva Brasilis

Apenas transcrevendo os propósitos de um economista indignado, como eu, com a atitude do Banco Central.

Então, qualquer político, qualquer sindicalista, qualquer industrial pode acusar o Banco Central e seus diretores de estarem a serviço dos banqueiros, de serem apenas um instrumento dócil nas mãos do tal de capitalismo financeiro internacional, e não acontece nada com eles?

E um economista sério, que faz artigos com opiniões fundamentadas sobre as c......s que o Banco Central vem fazendo em termos de política monetária, merece uma denúncia, uma queixa-crime, como se fosse um inimigo do Brasil?

Ridículo, patético, inaceitável.

Paulo Roberto de Almeida 

 

O Ridículo, Covarde e Boçal Bacen Bolivariano

Blog Selva Brasilis, 6/09/2014
Se o Bacen ainda tinha alguma reputação ele acabou de perdê-la ao abrir um processo ridículo contra o economista Alexandre Schwartsman por ter feito críticas a péssima condução da política monetária pelo Bacen. Com esse processo covarde e boçal de intimidação o Bacen joga no lixo uma grande conquista do plano Real, que foi a recuperação do seu nome e reputação. O Bacen se cobre de ignomínia e ridículo ao macaquear a típica reação autoritária dos idiotas bolivarianos.

A Super Mafia, em todos os seus estados (petralhas, claro)

Impressionante o número, e os montantes, dos desvios, das malversações, falcatruas, roubalheiras e todos os tipos de patifarias que a Mafia instalada no poder é capaz de perpetrar. Eles não tinham limites. Está mais do que na hora de escorraçá-los do poder, para que o Brasil possa respirar aliviado.
Paulo Roberto de Almeida 

 Governo e PT perderam a bússola da campanha

• ‘Sobram razões para temor’

Primeira consequência das revelações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa ao Ministério Público Federal, na tentativa de garantir benefícios previstos na lei de delação premiada extensivos aos familiares: o governo, o PT e a presidente-candidata Dilma Rousseff perderam a bússola no planejamento da campanha a 26 dias da eleição.

Até a manhã de sexta-feira, no Palácio do Planalto e no comando do PT debatia-se uma miríade de táticas regionais para tentar levar Dilma imediatamente a outro patamar nas pesquisas. O objetivo era reduzir a grande diferença (de sete pontos percentuais) que a separa de Marina Silva (PSB) na preferência dos eleitores para a disputa em segundo turno. A vantagem de Marina não é pequena: equivale à soma do eleitorado dos estados do Centro-Oeste, ou seja, 10 milhões de votos.

Mudou tudo, a partir do vazamento de informações sobre as denúncias do ex-diretor da Petrobras contra políticos do PT, PMDB, PP, PR e PTB. Ontem, de passagem por São Paulo, a candidata dissimulou e prometeu tomar “providências cabíveis” no dia em que souber de alguma coisa.

Para o Palácio do Planalto e o comando do PT, a principal dificuldade agora é como conter danos à candidatura de Dilma, porque o caso só tende a crescer às vésperas do pleito(o rito entre a Procuradoria e o Supremo Tribunal Federal obedece a um calendário de 20 dias para formalização de inquérito, coincidindo com a semana da eleição.)

Sobram razões para temor. Entre elas está uma irrefutável linha do tempo: Paulo Roberto Costa ocupou a Diretoria de Abastecimento da Petrobras — em pelo menos duas dezenas de ocasiões, foi presidente interino—, durante os nove anos nos quais Dilma apareceu como a voz de comando na estatal, em sucessivos papéis de ministra das Minas e Energia, presidente do Conselho de Administração, chefe da Casa Civil de Lula e presidente da República.

O enredo protagonizado por Costa e associados começou no governo Lula, em 2003, quando o chefe da Casa Civil José Dirceu se dedicava à construção da “maior base política do Ocidente”. Sob patrocínio do PP do então deputado José Janene, indiciado no mensalão, ele transformou Abastecimento numa diretoria autônoma, com apoio do então presidente Sérgio Gabrielli, o “embaixador” de Lula na estatal. Depois, Costa passou a representar um condomínio partidário (PT-PMDB-PP-PTB-PR) cujo poder de influência nos negócios da Petrobras se estende do Brasil à África.

A Costa foi entregue, entre outros, o maior empreendimento da empresa, a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Durante sete anos (de 2004 a 2012), ele e Gabrielli mantiveram sob sigilo o orçamento de contratação de serviços e equipamentos para essa refinaria, cujos custos subiram nove vezes e até novembro devem somar US$ 20,1 bilhões. Inúmeras vezes o Tribunal de Contas da União pediu planos e estimativas de custos, mas só começou a recebê-los no ano passado. A estatal ocultou até os estudos de viabilidade econômica, técnica e ambiental do empreendimento.

Costa e Gabrielli sempre contaram com respaldo governamental. No Congresso, Costa se tornou conhecido como caso raro de diretor de estatal com bancada própria. Sabe-se, agora, que eram pelo menos 25 parlamentares federais — entre eles, caciques do PMDB e do PT fluminenses. Coincidência ou não, alguns figuraram em episódios investigados na CPI dos Correios — inclusive em manobras com fundos de pensão estatais —, mas, por variadas razões, ficaram à margem do processo do mensalão.

Se é imprevisível a dimensão do impacto das denúncias na disputa presidencial, é certo que a presidente-candidata passa ao centro do alvo dos adversários. Certa, também, é a tendência à rápida difusão do caso pelo interior do país: há 7,3 mil candidatos a uma das vagas disponíveis na Câmara e no Senado, e pelo menos 25 parlamentares federais estão na vitrine, citados por Costa como beneficiários de propinas.

Até ontem, vazaram poucos nomes de políticos. No conjunto, o que já é conhecido sugere algo muito mais amplo do que a listagem de mensaleiros e suas mesadas. Até porque na Petrobras desvios de quantias inferiores a US$ 10 milhões são quase um problema menor, de “assuntos internos”. Trata-se de uma empresa com cerca de cinco mil fornecedores cujos contratos geralmente ascendem a US$ 100 milhões.

O TCU, por exemplo, há quatro anos investiga superfaturamentos a partir de US$ 400 milhões em contratos de obras, equipamentos e serviços da refinaria de Pernambuco.

Os valores manejados por Costa na estatal em benefício do condomínio partidário governista tendem a pontuar com um tom de escândalo a reta final desta campanha eleitoral.
(José Casado - O Gobo)

Propina da Petrobrás inclui governadores e ministro, diz revista

• Em depoimento de delação premiada, ex-diretor Paulo Roberto Costa cita envolvimento de Edison Lobão, Sérgio Cabral, Roseana Sarney e Eduardo Campos; nome de Renan foi antecipado pelo 'Estadão'

- O Estado de S. Paulo

Governadores de três Estados que receberam investimentos da Petrobrás – Eduardo Campos, de Pernambuco, Sérgio Cabral, do Rio, e Roseana Sarney, do Maranhão – foram citados pelo ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, em depoimentos à Polícia Federal, como supostos beneficiários do esquema de desvios de recursos e lavagem de dinheiro investigado na Operação Lava Jato. O ex-governador e então candidato a presidente pelo PSB, Eduardo Campos, morreu em um acidente aéreo no dia 13 de agosto, no litoral paulita.

Segundo informa a revista Veja desta semana, também estão na lista de citados por Costa o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, além de seis senadores e pelo menos 25 deputados federais. O portalestadão.com.br antecipou, na tarde de sexta-feira, 5, que o ex-diretor havia revelado à PF os nomes de pelo menos 30 parlamentares que teriam recebido dinheiro do esquema. Entre eles, estaria o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

De acordo com a revista, Paulo Roberto Costa também teria mencionado o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), além dos senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Romero Jucá (PMDB-RR). Entre os deputados, estariam Cândido Vaccarezza (PT-SP) e João Pizzolatti (PP-SC).
Foram citados ainda pelo ex-diretor da estatal o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que faria a “ponte” do esquema com o partido. O nome de Vaccari já havia aparecido nas investigações da Operação Lava Jato. Ele teria visitado empresas do doleiro Alberto Youssef, a principal engrenagem do esquema investigado na operação da PF.

Nas conversas com a PF, o ex-diretor teria dito que, quando estava na Petrobrás, entre 2004 e 2012, conversou diretamente com o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, para tratar de assuntos da empresa. Nos bastidores políticos, Costa era apontado como um homem que resolvia problemas.

Segundo a revista, Costa demonstrou “mágoa” em relação à presidente Dilma Rousseff, que foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil na época em que ele atuava na estatal. Isso porque ela ataca abertamente os ex-diretores pegos na investigação, embora tenha sido indiretamente beneficiada pelo esquema. O esquema, diz a revista, teria funcionado até 2012, servindo para garantir a base de apoio político a Dilma no Congresso nos dois primeiros anos de seu mandato. Mas, até o momento, Costa nada disse que incriminasse a presidente.

O conteúdo das conversas com o ex-presidente Lula ainda será detalhado pelo ex-diretor. Da mesma forma, ele ainda vai explicar a participação de cada um dos políticos no esquema.

Nas mais de 40 horas de depoimentos, dados num esquema de delação premiada, Costa tem ajudado os investigadores a mapearem o esquema que se instalou na Petrobrás. Ele confirmou o que já era suspeita: que, para fechar contratos com a estatal, as empresas eram obrigadas a pagar um “pedágio”.

Esses recursos eram “lavados”, com a ajuda de Youssef, e depois utilizados para irrigar a base aliada do governo no Congresso.

Esse esquema teria funcionado, por exemplo, na compra da refinaria de Pasadena (EUA), que causou prejuízo de US$ 792 milhões para a estatal, segundo o Tribunal de Contas da União. Segundo a revista, Costa teria dito que esse negócio também serviu para distribuir recursos a partidos aliados. A compra da refinaria passou a ser investigada por duas CPIs depois que o Estado revelou, em março, que o negócio teve a bênção de Dilma, então presidente do conselho de administração da estatal. Pasadena será tema de depoimento específico. O delegado responsável vai a Curitiba, onde Costa está preso, para ouvi-lo.

A Veja diz que Costa decidiu contar o que sabe porque teme repetir a história do publicitário Marcos Valério. Operador do mensalão, Valério optou pelo silêncio e acabou condenado a quase 40 anos de prisão.

As informações de Costa estão sendo repassadas à Procuradoria-Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal. Eles entraram no caso porque as denúncias atingem políticos com direito a foro privilegiado.

Uruguai. Em outra reportagem, a revista relata negócios suspeitos no ramo imobiliário de outro ex-diretor da Petrobrás investigado no caso Pasadena, Nestor Cerveró. O apartamento em que ele viveu durante cinco anos na zona sul do Rio, avaliado em R$ 7,5 milhões, pertence a uma offshore uruguaia que tem como representante no Brasil o advogado Marcelo Oliveira Mello, que seria amigo do ex-diretor.

A obsessão antiamericana de Samuel Pinheiro Guimaraes - Paulo Roberto de Almeida


A obsessão antiamericana de um ideólogo diplomático dos companheiros: algumas ideias fixas de Samuel Pinheiro Guimarães

Paulo Roberto de Almeida

Antigamente, muito antigamente, quando ele andava discordando publicamente das posições diplomáticas do ancien régime neoliberal dos tucanos no poder, o Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães costumava me mandar por e-mail (eu no exterior) os artigos que ele dizia pretender publicar, e solicitava comentários. Ingênuo, como muitos acadêmicos abertos ao debate, eu afastava certas tarefas urgentes para comentar imediatamente os textos geralmente polêmicos que ele me enviava; pena perdida: assim que eu terminava de redigir minhas réplicas em total sinceridade, o artigo em questão já tinha sido postado e estava circulando em todos os quadrantes.
Depois que ele foi ascendido a conselheiro principal da nova política externa dos companheiros no poder (ativa, altiva e soberana), ele nunca mais me mandou artigo nenhum, mesmo continuando a publicar intensamente, em meio às suas novas funções de Secretário-Geral da Casa que outrora era conhecida como sendo de Rio Branco (deixou de sê-lo durante todo o reinado dos companheiros, a despeito deles pretenderem retomar a tradição). Ele fez mais do que isso: bloqueou um convite que eu tinha do Diretor do Instituto Rio Branco para assumir a direção do programa de mestrado que estava então sendo montado, com a tarefa de dirigir pesquisas, editar uma revista, etc. Fiquei no deserto do Itamaraty – mais conhecido por Departamento de Escadas e Corredores – durante toda a gestão da dupla Samuel-Amorim (nessa ordem) à frente da diplomacia lulo-petista. Não que isso me incomodasse muito: eu me incomodaria muito mais se tivesse de defender algumas das posições malucas, e anti-diplomáticas, que eles imprimiram àquela instituição, ao arrepio de todas as posições de direito e de bom senso. Ficando no deserto, eu pude ler, escrever e publicar livremente, o que deve ter aumentado ainda mais a antipatia de ambos por minhas posições.
Em todo caso, nunca deixei de comentar os textos de Samuel, mesmo se ele não me mandava mais nada. E é por isso que comento agora sua mais recente entrevista, publicada simultaneamente em dois veículos companheiros: “EUA apostam em Marina”. Os interessados e admiradores do Embaixador Samuel (SPG) podem ler a entrevista completa no site de Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Samuel-Pinheiro-Guimaraes-EUA-apostam-em-Marina/4/31754) ou no jornal Correio do Brasil (http://correiodobrasil.com.br/destaque-do-dia/com-aecio-fora-do-jogo-eua-se-inclinam-para-marina-afirma-pinheiro-guimaraes/726801/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20140907); eu também a postei no meu blog (http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/09/eleicoes-2014-desespero-companheiro-ve.html), todos com data de 6/09/2014.
Como sempre faço, vou destacar apenas alguns trechos, algumas frases, ou ideias do Embaixador Samuel (SPG: ) e comentar imediatamente após (PRA: ). Como sempre, também, eu não discuto pessoas, e sim ideias, ou posições políticas, e tenho o hábito de dizer sinceramente o que penso a respeito. Acredito que SPG goze de um imenso prestígio entre milhares de acadêmicos, professores e alunos, e suas ideias são seguidas quase religiosamente por toda essa tribo de universitários convencidos de que aquelas posições são as melhores possíveis, de acordo com os interesses nacionais. Como eu discordo em praticamente tudo do que eles pensam, mas não disponho da mesma audiência ou prestígio, meu combate é de retaguarda, e apenas de caráter idealista, mas creio que vale a pena persistir. Chamo o meu esforço de quilombo de resistência intelectual e acho que, como quilombo, ele permanecerá relativamente isolado e sem maiores consequências imediatas ou futuras. Mas não me importo com isso: basta eu conservar coerência metodológica e honestidade intelectual. Isso me basta.

SPG: “Considero que a candidata Marina Silva encarne a anulação do progresso conquistado nestes 12 anos. Ela e os setores que representa buscam outro modelo de inserção internacional. Um pensamento que se traduz no propósito de enfraquecer o Mercosul com o pretexto de torná-lo aberto ao mundo”
PRA: Não me interessa nada o que pensa ou deixa de pensar a candidata sobre política externa. Permito-me apenas registrar que SPG já sabe que Marina Silva (MS) vai enfraquecer o Mercosul, o que me parece redundante, pois ele já foi enfraquecido tremendamente nos últimos doze anos pelas ações combinadas (mas não entre si) de argentinos e brasileiros, estes sempre apoiando as arbitrariedades e ilegalidades dos primeiros. Também registro que SPG não quer que o Mercosul se abra ao mundo.

SPG: “...há interesses dos Estados Unidos que foram prejudicados durante os governos de Lula e Dilma, e é claro que o candidato de que mais gostavam era o Aécio. (...) Quando o Aécio fica fora do jogo, os Estados Unidos se inclinam para a Marina, por pragmatismo e porque ela representa o oposto ao PT. Além disso, é alguém sem quadros próprios e, segundo dizem, tem bons contatos nos Estados Unidos, e que demonstrou estar aberta para desmontar o Estado, reduzir sua capacidade e autonomia internacional. Interessa aos Estados Unidos que o Mercosul sejam desmontado e que projetos da era tucana sejam retomados, não nos enganemos: nestas eleições, está em jogo a retomada do processo privatizador, parcial ou total, da Petrobras, do Banco do Brasil e do BNDES.”
PRA: Se existe uma obsessão tipicamente samuelística – não que ela lhe seja exclusiva, mas é que ele a mantém de forma “extraordinária”, como gosta de repetir – esta é o antiamericanismo renitente, entranhado, exibido e até orgulhoso, sem que ele explique muito bem as razões dessa oposição de princípio ao grande império. Talvez seja porque SPG, como seu amigo Moniz Bandeira, acredita que os EUA nasceram e cresceram imperialistas desde que eram uma colônia, e isso se desenvolveu, de forma “extraordinária” diria ele, a partir da ascensão industrial daquele país. Para SPG, os EUA sempre têm um golpe baixo pronto para sacar do coldre de intenções maléficas, e tudo o que eles fazem é ditado pelo seu próprio interesse egoísta, e obviamente contra os interesses dos demais povos, contra quem eles se esforçam por dominar, submeter, ou em todo caso impedir o desenvolvimento e a ascensão. SPG não é marxista, muito menos leninista, mas ele também acha que o capitalismo dos países avançados é necessariamente perverso e interessado apenas na dominação de outros povos e nações. Ele acredita piamente nas bobagens construídas por Ha-Joon Chang, um pretenso economista historiador – que nem é bom economista, muito menos historiador – que construiu uma nova versão da teoria da dependência e do cepalianismo prebischiano, com todos os requintes dos antiglobalizadores atuais, inclusive retomando a teoria conspiratória do Consenso de Washington (que as metrópoles do capitalismo avançado aplicariam antes mesmo que ele existisse, depois de se terem desenvolvido aplicando políticas exatamente contrárias ao CW). Esse manancial de bobagens, apenas um pouco mais trabalhadas do que as imensas bobagens de um Eduardo Galeano e suas “Veias Abertas da América Latina” – das quais ele se redimiu recentemente –, constitui toda uma doutrina anti-imperialista e antiamericana que não difere muito das bobagens mais antigas que haviam sido criadas por Rosa Luxemburgo e repetidas por Lênin.
Não existem provas de que os EUA tramem contra o Mercosul e queiram desmantelá-lo, mas a questão para SPG é de fé, não de provas. Quem tem fé, não precisa de provas, e para SPG os EUA sempre serão contra o Mercosul e atuantes para desmontá-lo. Não se sabe de documentos do Departamento de Estado, algum wikileaks que demonstre isso, mas não é preciso provas documentais para demonstrar a perversidade imperial, não é mesmo? Quanto às intenções – dos EUA, de MS? – de privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil e o BNDES não se sabe bem de onde veio isso, nem estava na pergunta do repórter.

SPG: “Avalio que [o desmantelamento do Mercosul] possa começar com a eliminação da cláusula que obriga os países do Mercosul a negociar conjuntamente acordos de livre comércio com outros blocos. Este ponto, que até agora não conseguiram derrubar, é uma cláusula que vem desde o Tratado de Assunção (assinado em 1991, na formação do Mercosul).”
PRA: É surpreendente que SPG, um diplomata que negociou os primeiros acordos de integração Brasil-Argentina – baseados em protocolos setoriais, e não no livre comércio automático, como seria o caso do Mercosul – e que assistiu ao nascimento do Mercosul, com o qual ele não estava de acordo, diga-se de passagem – e isso desde a Ata de Buenos Aires, que trocou a metodologia de integração entre o Brasil e a Argentina, abrindo caminho para o Mercosul, menos de um ano depois, não saiba que não existe, no Tratado de Assunção, nenhuma cláusula de negociação conjunta de acordos de livre comércio com terceiros países ou outros blocos. Repito: nenhuma. O que existe, sim, é um compromisso, constante do artigo primeiro de um tratado que foi expressamente mencionado como provisório (o TA), pelo qual os países membros estabeleceriam uma política comercial comum, o que jamais foi cumprido, além da implementação da Tarifa Externa Comum (TEC), que começou a ser furada desde o seu início. O que existiu, logo em seguida, foi uma resolução do Conselho de Ministros, durante a fase de transição, comprometendo os países a negociarem conjuntamente acordos com terceiros, e a não oferecerem a esses maiores vantagens, sem consulta aos outros membros. Esse compromisso, sempre sob a forma de uma resolução do CMM, foi reafirmado, já na fase em que o Mercosul era, supostamente, uma união aduaneira (UA) e possuía, hipoteticamente, personalidade de direito internacional.
Ora, sabemos perfeitamente que a TEC nunca foi respeitada integralmente pelos quatro países, que eles criaram e mantiveram exceções nacionais, e não comuns, à TEC, e que jamais houve coordenação suficiente ente eles para o estabelecimento de uma política comercial comum. O que havia era um consenso negativo, pelo qual os quatro membros recusavam acordos com terceiros (países ou blocos) e se juntavam apenas no mínimo denominador comum (que era absolutamente mínimo, ou seja, irrisório). Na verdade, o Mercosul jamais chegou a completar sequer a sua zona de livre comércio e sua UA nunca funcionou, a começar que nunca teve uma autoridade aduaneira comum e sequer um código aduaneiro funcional e efetivamente aplicado (o que pode parecer bizarro, para uma UA, mas é o que de fato ocorre com o Mercosul). Enfim, o certo é que não existe cláusula desse tipo no TA, e isso SPG parece ignorar.

SPG: “Uma vez eliminada essa cláusula, o caminho estará aberto para a assinatura de acordos do Brasil com a União Europeia, sem a participação dos outros quatro integrantes do Mercosul.”
PRA: SPG parece ignorar que, logo no início do Mercosul, a Argentina insistiu em assinar um acordo com os EUA, e depois Uruguai e Paraguai também bateram na mesma tecla. Foi o Brasil quem se opôs, até “hegemonicamente”, que isso acontecesse, não por uma defesa de sagrados princípios, ou cláusula fundacional, do Mercosul, mas porque simplesmente essa “proibição” inteiramente política garante que o Mercosul continue sendo uma reserva de mercado para suas próprias indústrias, um interesse egoísta portanto. Foi aliás o Brasil quem “forçou a mão” dos outros três membros para a imposição de alíquotas aduaneiras bem mais elevadas do que seria o gosto dos demais, numa série de produtos que eles teriam interesse em importar mais barato, para atender seu mercado interno, consumidores ou industriais. Essa foi uma das razões para que a TEC nunca funcionasse efetivamente, uma vez que o Brasil se desviava da alíquota para cima – consoante seus instintos eternamente protecionistas – e os outros países o faziam para baixo, com tarifa zero ou muito reduzida para os produtos de seu interesse importador. Como as pautas eram diferentes, tendo em vista os níveis diferenciados de intensidade industrial, o Mercosul passou a conviver com essas perfurações da TEC, mantendo ainda assim a ficção de que constituía uma UA.
É certo que, uma vez eliminado o compromisso – que não é cláusula, voltamos a repetir –, o que pode ser feito mediante uma simples decisão do Conselho, todos os países, e não só o Brasil, poderão, teoricamente, negociar acordos de livre comércio com terceiras partes. E a existência da TEC, pergunta-se prontamente? Pois bem: uma vez que existem desvios, basta que o acordo com terceiros seja consagrado como um desvio da TEC, à condição que todo e qualquer favor e vantagem concedido a uma terceira parte seja automaticamente estendido a todos os membros do Mercosul, consoante a cláusula de nação-mais-favorecida (esta sim uma cláusula, não do Mercosul, mas um velho princípio do direito comercial internacional, que os países se obrigaram respeitar pelo Gatt, não por um acordo regional, onde ele também vigora).

SPG: “Mas se a cláusula continuar em pé, seria igualmente perigoso um pacto entre todo o Mercosul e a União Europeia. E essa negociação, que já se iniciou mas avança lentamente, provavelmente será acelerada durante o governo de Marina.”
PRA: Bem, parece que SPG é contra qualquer acordo de livre comércio entre o Mercosul e qualquer parceiro que não seja do seu agrado, e estes são apenas os do Sul (mas provavelmente não a China). Ou seja, o Mercosul deve permanecer puro e intocado, como uma vestal, ou apenas transacionando internamente, não com estranhos. Ele também já sabe, profeta que é, que isso seria acelerado sob um governo MS. Bem, é seu direito achar isso, embora vários expoentes já tenham dito, inclusive a própria presidente de plantão, sem saber que feria uma “cláusula férrea” do Mercosul.

SPG: “...uma [das consequências que um acordo do Mercosul com a UE traria] é a redução considerável das tarifas [de importações] industriais europeias afetando nossas fábricas. Defendo faz tempo que esta aproximação, que agrada os economistas da Marina, é o passo inicial rumo ao fim do Mercosul.”
PRA: Ou seja, SPG é contrário qualquer acordo que reduza tarifas, o que realmente faz sentido em quem defende a inexistência de qualquer acordo com a UE, pois supostamente ele teria essa consequência. SPG acredita que o Mercosul está muito bem ao manter tarifas elevadas, e que a sua redução significaria o fim do Mercosul. Este, na visão de SPG, seria tão frágil a ponto de não poder suportar qualquer acordo externo. Não se venha argumentar com os supostos acordos Sul-Sul, pois estes são ridiculamente inexpressivos, irrelevantes, marginais, consistindo geralmente na redução negociada de algumas poucas tarifas fixas, sem qualquer incidência sobre o comércio real, já que abrindo mercados onde eles são os menos importantes.

SPG: “...a assinatura de um acordo entre os dois blocos significará uma extraordinária vantagem para empresas europeias que poderão exportar para cá sem que cobremos taxas, enquanto não haverá grandes benefícios para os exportadores sul-americanos.”
PRA: Para SPG, os negociadores brasileiros, ou mercosulianos, que não ele, seriam tão incompetentes, e entreguistas, que fariam um acordo que só daria vantagens à outra parte, sem qualquer benefício para os seus próprios países e seu bloco. Para ele não importa que nossas empresas também tenham tarifa zero (se beneficiando ainda de mão-de-obra mais barata, eventualmente energia e outros insumos, que podem contar à altura de 60% do custo de um produto), o que vale mesmo é que as vantagens estejam todas pré-determinadas para um só lado. Trata-se, aqui também, de um artigo de fé.

SPG: “E acrescento que se este acordo acontecer, afetará outra instituição fundamental do Mercosul, que é a Tarifa Externa Comum, fixada para terceiros países. Se isto acontece, a união aduaneira é pulverizada, qualidade central do Mercosul.”
PRA: Supreendentemente, só SPG se lembra da TEC, quando nenhum outro ator relevante sequer a mencione nos seus planos estratégicos ou cálculos de abertura de mercados, uma vez que ela é tão desrespeitada que parece uma colcha de retalhos, e ninguém parece dar muita bola para ela. Em todos esses anos, nunca consegui obter de algum economista dos quatro países membros – ou de algum funcionário da Secretaria do Mercosul – uma informação completa, fiável e credível sobre o quanto do comércio dos membros é feito ao abrigo da TEC, pois as entradas e saídas do mecanismo são tão intensas, recorrentes e arbitrárias que esse cálculo seria muito complicado, talvez impossível, de ser feito. E assim ficamos: ninguém sabe qual a cobertura da TEC para o comércio efetivo do Mercosul, e SPG ainda pretende defendê-la. Na verdade, como disse acima, não é certo que a TEC seja desrespeitada num acordo de livre comércio entre o Mercosul e a UE, e se o for, as mesmas vantagens passam a valer para todos, automaticamente, em virtude da cláusula (essa sim, férrea) de NMF. De resto, nunca haverá um acordo de livre comércio entre a UE e o Mercosul, mas sim um simples acordo de liberalização comercial, o que é muito diferente.

SPG: “E uma vez que chegarmos à hipotética assinatura do pacto de livre comércio com os europeus, os Estados Unidos reaparecerão.”
PRA: É surpreendente, mais uma vez, que SPG não saiba que os europeus só “apareceram” porque havia a ameaça de um acordo de livre comércio entre os EUA e os países da América Latina, que os companheiros, com SPG à frente, se encarregaram de sabotar e de implodir rapidamente, uma vez chegados ao poder. Isso não porque tenham feito cálculos e estimações econômicas sobre os eventuais efeitos nefastos da Alca para os países latino-americanos, e sim por pura prevenção ideológica, por simples anti-imperialismo primário, por antiamericanismo infantil e paranoico. Tanto não foi assim que, uma vez implodida a Alca, vários países da região correram para assinar acordos de livre comércio com os EUA: eles o fizeram porque são todos submissos ao império, porque são vendidos ao imperialismo, porque são entreguistas, ou por interesse próprio e de suas economias? Tanto não foi assim que grande parte do Congresso americano – em grande medida formado por protecionistas caipiras – e a quase a totalidade dos sindicatos de trabalhadores americanos também eram contra a Alca: eles assim o fizeram contra o interesse imperial de explorar outros países? Ou seja, de obter vantagens unilaterais contra nossos próprios interesses? SPG parece pensar que todos são ingênuos e desinformados, e apenas ele é clarividente e sábio.

SPG: “Os meios e os grupos de interesses brasileiros que se sentirem representados pela Marina só falam de um acordo com a União Europeia por oportunismo, pela boa imagem dos europeus, que seriam maravilhosos, educados, que nos abririam as portas do primeiro mundo. Uma retórica para ocultar que o acordo será prejudicial para nós. Quem quiser saber o que nos espera com esse acordo que pergunte aos gregos e aos espanhóis como a velha Europa é tratada.”
PRA: SPG deveria perguntar aos gregos e espanhóis se eles se sentem explorados pelos velhos imperialistas da Europa setentrional, e se eles pretendem realmente sair da UE, já que essa integração seria prejudicial para eles. Mas aqui também é um artigo de fé: SPG já sabe que um acordo seria prejudicial para o Brasil e o Mercosul, e por isso ele o recusa por princípio, antes mesmo de fazer estudos a respeito. Ele prefere que o Mercosul permanece soberanamente isolado do mundo, ou só se relacione cm outros iguais a ele, ou seja, protecionistas e introvertidos.

SPG: “Agora tudo isso nos leva ao começo desta conversa, que são os Estados Unidos. Por quê? Porque uma vez assinado o pacto UE-Mercosul, no outro dia, Washington vai querer igualdade de condições comerciais que europeus conquistaram, exigindo de nós um acordo de livre comércio. Os Estados Unidos nunca se esqueceram do espírito da ALCA (Área de Livre Comércio das Américas).”
PRA: Ah, as velhas obsessões nunca desaparecem: os imperialistas americanos (ou estado-unidenses?) estão sempre sorrateiramente à espreita, prontos para abocanhar mais um pedaço do continente se deixarmos. Ainda bem que SPG está vigilante. Mas, parece que os EUA desistiram de vez dessa ideia de fazer uma Alca: muito complicado, aliás inútil. Como deveria saber SPG, ao império convém melhor a estratégia “divida e domine”. Para que se aborrecer com um esquema multilateral se é muito melhor negociar separadamente com cada parceiro – ou conjuntamente com um bloco de pequenos – e assim impor as condições que melhor lhes apetecem, do que ficar se chateando com protecionistas históricos como Brasil e Argentina

SPG: “Tudo me leva a pensar que o projeto norte-americano de integração hemisférica comercial, de eliminação de barreiras, de sanção de um sistema de leis que privilegiam suas multinacionais etc., continua em vigor. É preciso prestar atenção na Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile).”
PRA: Engano de SPG: os EUA já abandonaram essa ideia, que foi um mau passo dado por Bush pai, querendo ser generoso para os pobres latinos, endividados (ao propor a “Iniciativa para as Américas”), mau passo reiterado por Bill Clinton, com sua ideia de uma Alca (mais uma vez querendo ser bonzinho). Os realistas dos EUA já chegaram à conclusão que é muito melhor negociar separadamente, tanto é assim que assinaram diversos acordos bilaterais de livre comércio com vários tipos de países.
Quanto à menção à Aliança do Pacífico, não está muito claro o que SPG quis dizer com essa “atenção”. Seria algo como: “atenção, eles são traiçoeiros, já se aliaram ao império, todos eles, e agora vão querer seduzir o Mercosul também; não caiamos nessa, olha lá hem!” Só pode ser isso. Pois do contrário o que poderiam esses quatro países contra os poderosos dois grandes do Mercosul: obrigá-los a entrar num acordo iníquo e desigual com o império? Mas a Aliança do Pacífico não tem tanto a ver com o comércio regional – aliás nem entre eles, que é pequeno – e sim com uma estratégia de negociação conjunta com a bacia do Pacífico, o grande eixo da integração produtiva, comercial e tecnológica, que se desenha rapidamente naquela vasta região, e que deve superar os fluxos e intercâmbios econômicos norte-atlânticos dentro de mais alguns anos, superando, assim, o cenário geopolítico dos últimos cinco séculos.

SPG: “suas posições [de MS] sobre política externa refletem as aspirações se setores empresariais, de banqueiros e grandes meios de comunicação que demonstraram certa saudade da dependência colonial.”
PRA: Uau! SPG não deixa por menos e não vai por quatro caminhos. Para ele, nossos empresários e banqueiros, tão protecionistas e introvertidos, sentiriam saudades de uma suposta dependência colonial. Mas seria possível? 200 anos depois? Ou seria a dependência dos EUA ainda muito em voga nos anos anteriores à gloriosa era do Nunca Antes? Não se sabe, exatamente, mas é bom ficar prevenido, alerta ele. Se algum outro presidente se instalar, que não seja um companheiro, vai logo sacrificar o Brasil nos braços do império.

SPG: “No segundo mandato, a presidenta [Dilma] deveria ter como objetivo reduzir a vulnerabilidade externa do país, a dependência de capitais especulativos para o pagamento da dívida e tudo isto cria um círculo vicioso que aumenta as taxas de juros. É falso, é um mito que as taxas sobem para combater a inflação.”
PRA: Surpresa: em 12 anos os companheiros, dispondo de um Congresso submisso, de uma oposição castrada e inoperante, e de toda a simpatia de gregos e goianos, vale dizer, de toda a comunidade acadêmica, empresarial e banqueira, não conseguiram diminuir a tal de vulnerabilidade externa, nem a dependência de capitais especulativos, nem a dívida externa, nem os juros, nem a inflação? Incompetentes eles são, não é mesmo? Mas o que eles fizeram exatamente? Durante anos, seus economistas esquizofrênicos, os seus keynesianos de botequim ficaram azucrinando nossos ouvidos, acusando os neoliberais tucanos de terem feito tudo aquilo, e quando chega a vez deles, necas de pitibiribas, não conseguem fazer nada? Aliás, seria preciso dizer ao Banco Central para abaixar os juros, pois isso não serve para combater a inflação. Inflação se combate com produção, com oferta, com investimentos, não é mesmo? O resto é conversa de economista neoliberal, ou monetarista...

SPG: “...em um segundo governo a presidenta Dilma terá que trabalhar para diversificar nosso comércio exterior, para reduzir nossa vulnerabilidade comercial devido ao crescimento das exportações de produtos primários cujos preços não somos nós quem decidimos. Quando digo diversificar penso em base para reforçar exportações industriais porque o Brasil corre o risco de seguir rumo a uma especialização regressiva na produção agropecuária e mineral, acompanhada de uma contração do setor industrial, aliada a uma atrofia de sua capacidade tecnológica.”
PRA: Mas, tudo isso não foi construído justamente sob os três governos lulo-petistas? SPG quer agora que um quarto governo lulo-petista faça exatamente o contrário do que eles fizeram até aqui? Mas que contradição! Eles tiveram doze anos para fazer tudo isso, implementaram cinco ou seis políticas industriais, inventaram uma fabulosa teoria da “nova geografia do comércio internacional” – comércio Sul-Sul, que era Sul-Sul só para o Brasil, não para os outros do Sul – e assistiram passivamente à nova dominação das exportações primárias sobre o conjunto do comércio exterior brasileiro, e agora SPG vem dizer que vão fazer tudo ao contrário! Dá para acreditar?
Será que o tal banco dos Brics, mais o Banco do Sul, proposto por Chávez, vão ajudar nessa reconquista? Mas será que o problema do comércio ou dos investimentos é falta de dinheiro? Não parece! Dinheiro abunda no mundo, e cada vez mais concentrado (se acreditarmos num tal de Piketty), e o que faz falta são projetos consistentes e sólidos para fazer jus aos capitais produtivos.
Não parece que os companheiros sejam capazes de reconhecer o que fizeram de errado, e que levou o Brasil justamente a esses impasses mencionados por SPG. Se eles mesmos não reconhecem o que está errado, como e por que deveríamos dar-lhes novo crédito de confiança para que continuem especulando com as políticas econômicas? Eles merecem isso? Se até SPG aponta o que está errado, por que é que nós, que não temos nada a ver com o que foi feito de errado, deveríamos renovar o contrato? Não é melhor mudar a direção do barco? Com a palavra o sábio, o profeta Samuel...

Paulo Roberto de Almeida
Portland, 7 de setembro de 2014.

sábado, 6 de setembro de 2014

O Petrolao dos companheiros: um super-Mensalao - Reinaldo Azevedo

Na VEJA.com:
Em campanha em Brumado, cidade baiana a 555 quilômetros ao sul de Salvador, Marina Silva classificou de “ilação” a citação ao ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, morto em 13 de agosto, no depoimento de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, que aceitou negociar os termos de um acordo de delação premiada com a Justiça.

Segundo Marina, “o fato de haver um investimento da Petrobras em Pernambuco não dá o direito, a quem quer que seja, de colocar Campos na lista dos que cometeram irregularidades” na estatal. “Todo o Brasil aguarda as investigações dos desmandos da Petrobras, que estão ameaçando o futuro da empresa e do pré-sal”, disse Marina. Para ela, o governo deve explicar a má governança na Petrobras, “levando a empresa que foi sempre exitosa e respeitada dentro e fora do Brasil a quase uma total falência.”
Marina ainda ironizou os recentes ataques de Dilma Rousseff (PT), presidente da República e candidata à reeleição, que critica a suposta falta de prioridade que Marina dá à exploração de petróleo. “Quem está ameaçando o pré-sal não somos nós. Vamos manter a exploração no pré-sal e usar os recursos para a saúde e educação. Quem ameaça o pré-sal é a corrupção que está assolando a Petrobras.”
O candidato a vice-presidência na chapa de Marina, Beto Albuquerque, também defendeu Campos das acusações. “Repudio as ilações e a vilania que estão tentando fazer contra Eduardo Campos depois que ele morreu. Quando ele estava vivo, não tinham coragem de enfrentá-lo. Agora, começam a levantar acusações, como se ele pudesse se defender.”
Por meio de comunicado, a assessoria do PSB afirmou que não se manifestará sobre a menção a Campos no depoimento do ex-diretor da Petrobras. Dentro do partido, a avaliação é a de que Paulo Roberto Costa não apresentou provas concretas contra o ex-governador de Pernambuco. “Apenas jogaram no ar o nome de uma pessoa que já morreu, é um absurdo”, comentou um auxiliar.
Até o momento, Costa afirmou que três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da Petrobras. Entre os nomes elencados por Costa estão os ex-governadores Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, Campos, de Pernambuco, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, além do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Os nomes das autoridades com foro privilegiado já foram encaminhados ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável por levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).
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 Por Felipe Frazão, na VEJA.com:
A presidente-candidata Dilma Rousseff chamou de “especulação” as revelações de distribuição de propina a parlamentares e aliados do governo federal, detalhados com exclusividade na edição de VEJA deste fim de semana. Em ato de campanha em São Paulo, ela afirmou que “tomará as providências cabíveis” sobre o depoimento do ex-diretor de Refino e Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, que aceitou negociar os termos de um acordo de delação premiada com a Justiça.

“Acredito que precisamos ter dados oficiais dessa questão. A própria revista que anuncia este fato diz que o processo está criptografado, guardado dentro de um cofre e que irá para o Supremo. Eu gostarei de saber direitinho quais são as informações prestadas nessas condições e te asseguro que tomarei as providências cabíveis. Não com base em especulação. Eu quero as informações. Acho que elas são essenciais e são devidas ao governo, porque, caso contrário, a gente não pode tomar medidas efetivas”, disse Dilma.
Até o momento, Costa afirmou que três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da Petrobras. Entre os nomes elencados por Costa estão os ex-governadores Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, Eduardo Campos, de Pernambuco, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, além do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Os nomes das autoridades com foro privilegiado já foram encaminhados ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável por levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A equipe da campanha de Dilma à reeleição, assim como a de seus principais rivais, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), passaram a noite desta sexta-feira discutindo o impacto das denúncias de corrupção. Entre aliados de Dilma, a avaliação é a de que, por envolver aliados diretos do governo federal, parlamentares alinhados ao Palácio do Planalto e até um ministro de Estado, as revelações do ex-diretor da Petrobras causarão danos à campanha da presidente-candidata.
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O QUE ELES DIZEM SOBRE O PETROLÃO 3 – Aécio: “É mensalão 2″!
Por Laryssa Borges, de Brasília, e Bruna Fasano, na VEJA.com:
O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, afirmou neste sábado que as revelações de distribuição de propina a parlamentares e aliados do governo federal, detalhados com exclusividade na edição de VEJA deste fim de semana, equivalem a um novo mensalão, até então o maior esquema de corrupção desde a redemocratização. “O Brasil acordou hoje perplexo com as mais graves denúncias de corrupção na nossa história recente. Está aí o mensalão 2. É o governo do PT patrocinando o assalto às nossas empresas públicas para a manutenção do seu projeto de poder”, disse Aécio em um vídeo publicado em seu canal de campanha no YouTube.

Ao participar de ato público na cidade de Presidente Prudente, em São Paulo, Aécio afirmou que a presidente Dilma Rousseff, que já ocupou o Ministério de Minas e Energia e foi presidente do Conselho de Administração da estatal, não pode alegar que desconhece o megaesquema de corrupção na Petrobras. A tese do “eu não sabia” foi utilizada pelo ex-presidente Lula para tentar se desvincular do escândalo do mensalão. “A atual presidente da República controlou com mão de ferro essa empresa ao longo dos últimos 12 anos. Foi ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho da Petrobras. Foi ministra da Casa Civil. É inadmissível ela alegar desconhecimento sobre isso, a exemplo do que fez seu antecessor com o mensalão”, declarou o candidato.
“Durante os últimos 9 anos, o mensalão continuou a existir nesse governo. Agora ele é financiado pela principal empresa pública do país, a Petrobras. Poucas vezes na história deste país assistimos a tanta desfaçatez. É algo extremamente vergonhoso”, afirmou ele em Presidente Prudente.
Até o momento, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou, em um acordo de delação premiada, que três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da estatal. Entre os nomes elencados por Costa estão os ex-governadores Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, Eduardo Campos, de Pernambuco, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, além do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Os nomes das autoridades com foro privilegiado já foram encaminhados ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável por levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Em vídeo postado na internet, Aécio Neves cobrou investigações profundas sobre o caso. No Congresso Nacional, a oposição vai pressionar por uma convocação extraordinária da CPI mista da Petrobras para analisar as novas denúncias. “É fundamental que essas investigações possam ir ainda mais a fundo para que os verdadeiros responsáveis pelo assalto às empresas brasileiras sejam punidos de forma exemplar. Estamos disputando essas eleições contra um grupo que utiliza dinheiro sujo da corrupção para manter-se no poder. Por isso eu acredito que chegou a hora, de forma definitiva, de darmos um basta nisso e tirarmos o PT do poder”, afirmou Aécio Neves no vídeo em que comenta a reportagem de VEJA.
Além da campanha do tucano, as equipes da petista Dilma Rousseff e da ex-senadora Marina Silva passaram a noite desta sexta-feira em reuniões internas para analisar os efeitos das denúncias de corrupção. Eduardo Campos, citado por Costa, era o cabeça de chapa de Marina Silva antes de morrer em um acidente aéreo no dia 13 de agosto e, por isso, o partido avalia ser inevitável que as acusações respinguem na nova candidata. No bunker petista, o ministro da Comunicação Social, Thomas Traumann, acompanha de perto os desdobramentos do caso e também entre aliados de Dilma a avaliação é a de que, por envolver aliados diretos do governo federal, parlamentares alinhados ao Palácio do Planalto e até um ministro de Estado, as revelações do homem-bomba da Petrobras causará danos à campanha da presidente-candidata.