O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Eleicoes 2014: o chefe dos chefes se extrema na imundicie

Sem nenhum comentário. 
Aliás, não tenho palavras. 
Paulo Roberto de Almeida 

18/10/2014

 às 17:06 \ Política & Cia

Parecendo um alucinado, Lula ataca Aécio usando o maior festival de baixarias já visto na história das campanhas presidenciais

Lula passa de todos os limites em comício de que participou na Praça Duque de Caxias, em BH, junto com Fernando Pimentel (PT),governador eleito de Minas Gerais (Foto: Alex Douglas/O Tempo/Folhapress)

Lula passa de todos os limites em comício de que participou na Praça Duque de Caxias, em BH, junto com Fernando Pimentel (PT),governador eleito de Minas Gerais (Foto: Alex Douglas/O Tempo/Folhapress)

Lula parece ter enlouquecido. O repórter Gabriel Castro registrou o que aconteceu hoje em BH, dia marcante na história das baixarias em campanhas presidenciais, mas, mesmo tendo sido correto e fiel ao que ocorreu, foi delicado ao evitar escrever que Lula tinha, na verdade, ares de alucinado ao despejar e/ou insinuar uma montanha de infâmias contra o candidato do PSDB à Presidência.

Logo ele, Lula, o arrogante que dizia pretender “ensinar” a FHC como ser ex-presidente quando deixasse o poder.

Lula está, pelo contrário, enlameando o cargo que exerceu e sujando ainda mais sua história política. Confiram e julguem vocês mesmos.

NO PONTO MAIS BAIXO DA CAMPANHA, LULA COMANDA SHOW DE BAIXARIAS EM MINAS

Por Gabriel Castro, de Belo Horizonte, paraVEJA.com

Em um comício realizado em Belo Horizonte neste sábado – sem a presença de Dilma Rousseff -, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ultrapassou os limites da inconsequência e comandou um show de baixarias e ofensas desmedidas contra Aécio Neves.

Foi o ponto mais baixo da campanha até aqui. E não apenas desta campanha: desde 1989 o Brasil não assistia a um festival de ataques como os que o PT hoje protagoniza em uma campanha.

Lula não apenas se utiliza das mesmas armas de que foi alvo na campanha contra Collor, como vai ainda mais longe. No comício, o ex-presidente citou o nome de Aécio muito mais que o de Dilma, que se tornou personagem secundário dos discursos.

A ordem era atacar, sem tréguas.

Em um discurso precedido por insultos pessoais ao tucano, Lula disse que Aécio usa violência contra as mulheres, por “experiência de vida”, e a tática de “partir para cima agredindo”.

Ao comentar a estratégia do tucano contra Dilma Rousseff, o ex-presidente insinuou que Aécio costuma bater em mulheres. “A tática dele é a seguinte: vou partir para a agressão. Meu negócio com mulher é partir para cima agredindo”, afirmou Lula.

O ex-presidente também classificou Aécio de “filhinho de papai” e “vingativo”. E o comparou a Fernando Collor. O mesmo Fernando Collor que hoje divide palanques com Dilma, como há uma semana, em Alagoas. Lula ainda voltou a mencionar o episódio em que o adversário deixou de soprar o bafômetro em uma blitz no Rio de Janeiro.

Tática é transformar Dilma em “vítima”

O ato deste sábado deixou claro que a tática do PT na reta final da campanha, após o revés de Dilma Rousseff no debate do SBT, na quinta-feira, será a de expor a presidente Dilma como uma vítima das “grosserias” de Aécio.

Foi o que fez Lula neste sábado. “O comportamento dele não é o comportamento de um candidato (…) . É o comportamento de um filhinho de papai que sempre acha que os outros têm de fazer tudo para ele, que olha com nariz empinado. Eu não sei se ele teria coragem de ser tão grosseiro se o adversário dele fosse um homem”, disse o ex-presidente.

O ex-presidente comparou Aécio a Fernando Collor porque, segundo ele, a eleição do ex-presidente (aliado do PT) foi fruto da pressão da mídia e de um falso discurso do “novo”. “Em 1989, com medo de mim, com medo do Ulysses, do Brizola, com medo do Mário Covas, muitas vezes instigado pela imprensa, este país escolheu o Collor como presidente da República dizendo que era o novo. E vocês sabem o que aconteceu neste país.”

Lula também disse que Aécio age como Carlos Lacerda, o estridente líder da oposição a Getúlio Vargas, ao mencionar o “mar de lama” para “esconder o próprio rabo”.

O petista afirmou que, quando governou Minas Gerais, o tucano perseguiu professores de forma mais intensa do que a ditadura. “Não conheço, em nenhum momento da história, nem no regime militar, um momento em que os professores foram tão perseguidos como foram em Minas Gerais”, afirmou Lula. No vale-tudo, Lula tentou até subverter o tempo: indagou o que Aécio fazia quando Dilma foi presa por enfrentar a ditadura – ignorando que, na época, o tucano tinha apenas dez anos de idade.

Inacreditavelmente, Lula tentou definir o adversário com uma frase que resume de forma precisa a tática do PT: “É muito grave, porque as pessoas se acham no direito de desrespeitar os outros com muita facilidade e depois ir para a imprensa se passar de vítima. Não é possível.”

Mais ataques

Mais cedo, antes de Lula entrar no palanque, o mestre de cerimônias do comício leu uma carta de uma psicóloga petista que atribui a Aécio a prática de espancar mulheres e de uso de drogas, além de classificá-lo como “ser desprezível”, “cafajeste” e “playboy mimado”. Ela afirma que o tucano tem um “transtorno mental”.

Depois, o rapper Flávio Renegado, que discursou já na presença de Lula, do governador eleito Fernando Pimentel e de parlamentares petistas, disse que Aécio costumava fazer festinhas regadas a “pó royal”, uma gíria para cocaína. Durante o discurso de Lula, grande parte da militância presente emplacou um grito de “Aécio cheirador”, sob a complacência de Lula – o mesmo que, minutos antes, se orgulhara de nunca ter agido de forma desrespeitosa em nenhuma das campanhas eleitorais das quais participou.

COMENTÁRIO ADICIONAL DO BLOG

São inacreditáveis o cinismo e a desfaçatez de Lula quando, utilizando contra Aécio as mesmas táticas sórdidas de que Collor lançou mão contra ele em 1989, consegue fingir que critica Collor em seu discurso de alucinado.

O comportamento de Lula pode ser efeito de coisas que desconhecemos, mas certamente tem a ver com o desespero diante dos números, publicados hoje no jornal Estado de Minas, que mostram Aécio já com 12 pontos percentuais à frente de Dilma junto ao eleitorado mineiro. E com dados outros, como os do Datafolha mostrando que em dois grandes colégios eleitorais onde perdeu feio no primeiro turno, Aécio se recuperou espetacularmente — empatando com Dilma no Rio e ultrapassando-a no Rio Grande do Sul.

Collor, que usou em 1989 a mentira de que Lula pretendeu abortar uma filha, abraça o hoje amigão Lula: vale tudo para derrubar Aécio (Foto: veja.abril.com.br)

Collor, que usou em 1989 a mentira de que Lula pretendeu abortar uma filha, abraça o hoje amigão Lula: vale tudo para derrubar Aécio (Foto: veja.abril.com.br)

Então, está realmente valendo tudo, vale “fazer o diabo” para derrotar Aécio.

LULA É FALSO, HIPÓCRITA, ao fazer isso! O mesmo Collor que demonizou Lula de todas as formas em 1989 é hoje um aliado precioso do lulopetismo — alguém que Lula, agredido em sua vida pessoal de forma sórdida pelo adversário nas eleições daquele ano, acolheu depois com carinho no rebanho de apoiadores dos governos petistas.

Tal como fez em 2012, com o vergonhoso beija-mão a Maluf — alvo de denúncias e críticas do PT de toda uma vida — em busca de segundos de tempo na TV para seu apadrinhado Fernando Haddad, na disputa pela Prefeitura de São Paulo.

LULA MENTE ao fingir que se dissocia de Collor. Sua pupila, Dilma Rousseff, cometeu o despautério, dias atrás, de criticar a corrupção num comício em Alagoas em que tinha Collor, de um lado, e Renan Calheiros, de outro — confirmando plenamente a assertiva do humorista José Simão de que “eztepaiz” é o país da piada pronta e, infelizmente, da falta cada vez mais generalizada de vergonha na cara.

Eleicoes 2014: o partido totalitario tentou proibir esta materia de imprensa (faz parte da natureza deles)

A campanha da candidata-poste (atenção, a classificação não me pertence; foi dita pelo seu criador, e chefe) tentou interditar esta matéria.
Eu nem sabia dela, só tomei conhecimento quando um ministro do TSE descartou a tentativa de censura sem sequer entrar no mérito da questão, apenas em defesa da liberdade de expressão, tal como assegurada constitucionalmente, e na verdade por que a Google não tinha responsabilidade sobre o conteúdo do material, sendo apenas um instrumento de busca. Nem a revista Veja, nem a campanha do candidato oposicionista eram partes no processo, apenas a campanha da continuista e a Google.
Por isso, vou ler agora cada uma das dez questões, e postar aqui, sem ilustrações, apenas texto.
Sirvam-se, e não precisa me agradecer, apenas agradeçam à liberdade de imprensa, que se dependesse do partido totalitário não existiria mais no Brasil.
Paulo Roberto de Almeida

Eleições 2014

Dez fatos econômicos que você precisa saber antes de votar

Dos juros à inflação, do câmbio às contas públicas, saiba como os indicadores econômicos podem impactar, para o bem e para o mal, a vida dos brasileiros

Revista Veja,  3/10/2014

O ano de 2014 se sobressai quando se trata de indicadores econômicos ruins. Tudo piorou: dos juros à inflação, da balança comercial ao emprego, das contas públicas à política cambial. São informações que afetam diretamente a vida dos brasileiros e precisam ser levadas em conta na hora do voto. O site de VEJA preparou uma lista que mostra como a deterioração dos indicadores pode mudar a realidade da população a partir do ano que vem.

10 fatos econômicos que você precisa saber antes de votar
 1) Comprar carros não é mais tão simples. Por quê?

O governo protelou até onde foi possível, mas permitiu a subida dos juros a partir de 2012. Com os financiamentos mais caros, menos brasileiros se sentem seguros para assumir uma dívida tão alta como é a compra de um veículo. Além disso, diante do crescimento baixo da economia, os bancos se tornaram mais criteriosos na hora de conceder empréstimos, o que fez com que menos brasileiros tivessem acesso a crédito. O resultado é que as montadoras enfrentam um de seus piores anos, com queda de 9% nas vendas de veículos somente em 2014. Com isso, as fábricas passaram a demitir. O setor automotivo, que inclui também as fábricas de autopeças, é um dos maiores empregadores da indústria brasileira. Se o setor vai mal, o emprego é sacrificado. Segundo o IBGE, a indústria automotiva já demitiu mais de 8.000 funcionários até agosto deste ano.

 2) A inflação voltou para ficar. Isso faz diferença?

A inflação tem sido o grande inimigo dos brasileiros. No acumulado de doze meses, ela bate 6,5%. Esse patamar é o teto da meta estabelecida há quase vinte anos com o objetivo de domar a alta dos preços que era tão feroz no Brasil nos anos 1980. O centro da meta é de 4,5% e é esse número que deve ser perseguido pelo Banco Central, o órgão responsável por controlar o indicador. A inflação, contudo, tem sido sentida com muito mais força pelos brasileiros do que os 6,5% indicam. Aluguéis, mensalidades escolares, compras de supermercado e preços de serviços têm sofrido reajustes mais dolorosos. Alimentos, por exemplo, subiram 8% em 2013 e 4,8% no acumulado de janeiro a agosto de 2014. Já os serviços subiram 6,64% nos primeiros oito meses nesse mesmo período. A inflação só não está mais alta porque há os chamados preços administrados, como a gasolina, energia elétrica e impostos, como o IPVA, por exemplo. São valores que precisam da chancela de governos federal, estaduais e municipais para serem reajustados. O governo dispõe de mecanismos para contribuir com o controle da inflação, como redução dos gastos públicos, por exemplo. Contudo, essa não tem sido a diretriz da atual presidente. Ela tem sacrificado o controle inflacionário em função de políticas de aumento de gastos. Outra forma de controlar a inflação é subindo os juros. Na prática, com juros mais altos, a população reduz o consumo num primeiro momento e os preços se reequilibram. O problema é que o BC não teve liberdade para subir juros quando necessário. No momento em que recebeu o aval, passou a elevá-los, mas já era tarde demais. Há três anos o Brasil não consegue trazer a inflação para o centro da meta.

3) Os ricos estão cada vez mais ricos. O que aconteceu?

Está engavetado no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) um estudo inédito que mostra uma realidade bem diferente da que vem sendo pregada pelo PT na campanha eleitoral de Dilma Rousseff. O mostra que a concentração de renda aumentou no Brasil entre 2006 e 2012. Dados do Imposto de Renda dos brasileiros coletados por pesquisadores do Instituto mostram que os 5% mais ricos do país detinham, em 2012, 44% da renda. Em 2006, esse porcentual era de 40%. Os brasileiros que fazem parte da seleta parcela do 1% mais rico também viram sua fatia aumentar: passou de 22,5% da renda em 2006 para 25% em 2012. O mesmo ocorreu para o porcentual de 0,1% da população mais rica, que se apropriava de 9% da renda total do país em 2006 e, em 2012, de 11%. Outro estudo feito pelos mesmos pesquisadores, usando dados da Pnad e do imposto de renda, mostram que houve sim crescimento da renda durante os governos petistas. Porém, diz o estudo, "os ricos se apropriaram da maior parte desse crescimento”.

 4) O dólar disparou. Isso é um problema?

Quando a presidente Dilma assumiu, o dólar estava cotado a 1,68 real. Hoje, está em 2,49 reais. As razões da subida são muitas e incluem desde erros cometidos pelos governantes até uma tendência internacional de alta da moeda. No caso do Brasil, os problemas internos contaram mais que as situações vindas de fora. Quando o dólar custava menos que 1,70 real, o governo o considerava baixo demais e começou a cobrar mais impostos sobre os investimentos estrangeiros que eram feitos no país. O objetivo era limitar a entrada de dólares justamente para sua cotação subir. Num primeiro momento, não adiantou nada. Mas, conforme os investidores foram perdendo a confiança no Brasil, os dólares, de fato, começaram a minguar. Com isso, a moeda passou a subir até superar o patamar de 2 reais. O dólar mais alto encarece os produtos que o Brasil importa, como gasolina e trigo. Mas, por outro lado, beneficia os exportadores brasileiros. O dólar começou a subir tanto que o governo mudou de ideia. Descobriu que, se moeda ficasse muito cara, a inflação subiria muito — o que é ruim para o bolso da população e pode gerar um alto índice de desaprovação nas urnas. Assim, por meio do Banco Central, o governo começou a estimular a entrada de dólares. Os efeitos dessas ações, no entanto, não impediram a moeda de subir. Aliás, quanto mais as pesquisas mostram que a presidente Dilma tem chances de se reeleger, mais dólares deixam o Brasil e mais alto fica o valor da moeda americana.

5) O setor elétrico está em crise. Como isso afeta o seu bolso?

Com o intuito de reduzir a conta de luz em cerca de 20%, a presidente Dilma anunciou, em 2012, um pacote de medidas para o setor elétrico. Em suma, as geradoras e distribuidoras que levam a energia até as residências teriam de se adaptar a novas regras que, num primeiro momento, reduziria seus ganhos. Nem todas as geradoras aceitaram os novos termos e deixaram de fornecer para o mercado regulado, que é o jargão do setor para explicar o mercado residencial. Com isso, a oferta de energia se arrefeceu para as residências. Outro agravante foi a estiagem que atingiu o centro-sul do país. As distribuidoras que estavam descontratadas, ou seja, precisavam fechar novos contratos com as geradoras para oferecer energia aos brasileiros, tiveram de comprar energia a um preço cinco vezes maior no mercado de curto prazo. As distribuidoras também tiveram de arcar com o custo das termelétricas. Devido à estiagem, muitas hidrelétricas não conseguiram suprir a demanda de energia. Por isso as térmicas, que são movidas a combustível e por isso são mais caras, tiveram de assumir o fornecimento. Sem caixa para bancar esse aumento de custo, as distribuidoras tiveram de pedir ajuda ao governo e reajustar a tarifa de energia dos brasileiros. Resultado disso é que o corte na conta de luz anunciado em 2012 causou tamanho desequilíbrio no mercado que gerou um ônus de mais de 60 bilhões de reais para o país. Essa conta está sendo paga pelos consumidores, por meio do aumento da conta de luz, e pelos contribuintes, que financiam a ajuda que o governo deu às distribuidoras. 

 6) Contas públicas estão um desastre. E daí?

O que o governo faz do dinheiro arrecadado com impostos pagos pela população é de grande importância. Pena que os governantes não se preocupam muito em prestar esclarecimentos sobre esses gastos. Por isso muitos brasileiros nem sabem ao certo o que são as contas públicas, que nada mais é do que o fluxo de caixa do governo — ou seja, o dinheiro que recebe em impostos e como esse valor é aplicado para o bem estar da população. A forma como o governo gasta o dinheiro público é um indicador importantíssimo da saúde financeira do país, sobretudo no caso do Brasil, que tem de pagar mensalmente os juros sobre sua dívida com outros países, investidores, bancos nacionais e estrangeiros, entre outros credores. Para pagar os juros, é preciso economizar mensalmente. Ou seja, gastar menos do que se arrecada. Assim, consegue-se o superávit primário, que é o jargão econômico usado para descrever essa economia. Quando o governo não cumpre o superávit, tem de aumentar sua dívida para conseguir pagar os juros. É como se o governo recebesse dos brasileiros o valor suficiente para pagar seus compromissos mas, por má gestão, não conseguisse pagar as contas devidas. Assim, ele toma mais empréstimo em nome dos brasileiros para conseguir pagar os juros. 
O governo Dilma tem deixado de lado o superávit. Somente em 2011 conseguiu cumpri-lo. Em 2014, o governo precisa economizar 80,7 bilhões de reais para o pagamento de juros. Até agora, a economia não passa de 4 bilhões de reais. O prejuízo de se ter as contas públicas no vermelho é o mesmo que se tem quando um indivíduo entra no cheque especial. Ao gastar mais do que ganha, o cliente paga juros mais caros e o banco começa a restringir seu acesso a mais crédito. Se sua renda cai, o cliente pode entrar numa bola de neve que, cedo ou tarde, pode fazer com que ele venda bens para saldar suas dívidas. Ele perde credibilidade na praça e corre o risco de ter que diminuir outros gastos com saúde e educação para pagar dívidas.

7) Arrumar trabalho não é mais tão fácil. Por quê?

Com a inflação no teto da meta, os juros começaram a subir e o emprego, consequentemente, deu sinais de esgotamento. A criação de vagas com carteira assinada em 2014 (até agosto) é a mais baixa desde 2002, início da série histórica disponibilizada pelo Ministério do Trabalho. Dados do Ministério mostram que, em 2014, alguns segmentos já registram mais demissões do que contratações. É o caso do Comércio, que fechou mais de 6.000 vagas nos oito primeiros meses deste ano. Não à toa, justamente o setor varejista, que foi o que mais cresceu durante o boom econômico dos últimos anos, é a ponta mais sensível à variação no bolso da população. Com a inflação acima do teto da meta (de 6,5% ao ano) e os juros em seu maior patamar desde 2011 (11% ao ano), a renda e o consumo diminuem. Os brasileiros estão também menos confiantes de que terão emprego no ano que vem, como mostra levantamento recente da CNI. O mercado de trabalho é o principal termômetro da economia. Se os empresários estão confiantes, investem e criam emprego. Mas, diante dos problemas econômicos que se colocam, a confiança do empresário também está no nível mais baixo da história, segundo a CNI.

8) Os brasileiros estão mais endividados. Quem discorda?

Com a inflação corroendo a renda da população e as parcelas de financiamentos abocanhando grandes pedaços do orçamento das famílias, é natural que o consumo caia. As vendas no varejo, por exemplo, cresceram apenas 4,2% no primeiro semestre — o segundo pior resultado desde 2006, diz o IBGE. Além disso, o último dado de inadimplência contabilizado pela Serasa mostrou que 57 milhões estão com contas em atraso. Um número recorde que representa mais de 40% da população adulta.  Nessa dinâmica, o mercado de trabalho tem papel vital. Numa situação de pleno emprego, ainda que as dívidas assustem, tem-se a perspectiva de conseguir pagá-las. Esse já não é o caso, segundo aponta a pesquisa da CNI, que mostra que os brasileiros estão temerosos em perder o emprego e não conseguir recolocação. 

9) A Petrobras foi devastada. E daí?

A Petrobras é uma empresa mista. Uma fatia minoritária pertence a investidores e a outra, majoritária, está sob o comando do governo. A Petrobras opera num setor estratégico, que é o óleo e gás, e por isso é compreensível que tenha entre seus acionistas o governo. Contudo, a empresa se transformou num centro de corrupção operado por partidos políticos. Isso significa que o governo deixa à disposição de legendas alguns cargos estratégicos da empresa. O escândalo envolvendo o doleiro Alberto Yousseff e o ex-diretor da empresa Paulo Roberto Costa trata justamente disso: as denúncias apontam que o diretor favorecia determinadas empresas prestadoras de serviços para, em troca, receber propina e repassá-la parcialmente a partidos políticos. A derrocada da empresa significa que boa parte do dinheiro público investido lá dentro, pois o governo é seu maior acionista, foi pelo ralo. Dinheiro dos contribuintes brasileiros, que não sabem ao certo como foi gasto, investido ou desviado. Mesmo com o benefício de ser a "dona" do pré-sal, a Petrobras tem 300 bilhões de reais de dívida. É a empresa de petróleo mais endividada do mundo. Mais da metade dessa dívida será paga pelo governo, ou seja, novamente pelo dinheiro dos impostos dos brasileiros.

10) O país está em recessão técnica. O que é isso?

O Produto Interno Bruto (PIB) é o resultado de todas as riquezas produzidas pelo país. É um dos principais sinais de que a economia está avançando, a população está vendo sua renda aumentar e mais empregos estão sendo gerados. Quando o PIB cai, sinaliza que essa riqueza recuou. Se cai por dois trimestres consecutivos, o país entra em recessão técnica. E isso não é bom. O PIB é importante porque sintetiza em um único número os resultados de políticas do governo, o ânimo dos empresários para investir e criar emprego e o ímpeto de consumo da população. Quando não há nenhuma crise grave no mundo e, mesmo assim, o PIB de um país mostra retração, significa que algum desses três fatores (ou todos eles) não vão nada bem. O governo tem afirmado que o PIB brasileiro, que recuou 0,6% no primeiro semestre de 2014, vai mal por causa da crise internacional. Fica difícil acreditar nisso quando apenas o Brasil está em recessão, se comparado aos Estados Unidos, à Alemanha, à França e outros países atingidos pela crise financeira de 2008. O problema de se estar em recessão é que o país se torna menos atrativo para investimentos que geram emprego. Uma empresa alemã, por exemplo, investirá mais na filial do país que mais cresce, não daquele que está em recessão. Um PIB ruim cria um círculo vicioso. E revertê-lo não é fácil, nem rápido.

Republica companheira: o Ipea em tempos orwellianos

Sem comentários. E precisa?
Lamento pelos meus muitos amigos que trabalham no Ipea.
Paulo Roberto de Almeida 

Mais um pesquisador pede demissão do Ipea por 'represamento' de dadosAlém de Herton Araújo, que colocou o cargo à disposição depois de ser impedido de divulgar estudo mostrando que pobreza não caiu de 2012 para 2013, Marcelo Medeiros pede para sair

Renata Mariz

Correio Braziliense: 22/10/2014 


A crise interna no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), iniciada com a proibição da divulgação de dados negativos para o governo no período pré-eleitoral, levou a mais um pedido de exoneração. Além de Herton Ellery Araújo, que colocou o cargo de diretor à disposição depois de ser impedido de apresentar estudo feito anualmente a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostrando que a pobreza extrema parou de cair no Brasil, Marcelo Medeiros também pediu para sair.

A carta de demissão do pesquisador — em que solicita deixar a vice-coordenadoria de Estudos de População, Desenvolvimento e Previdência — foi entregue em setembro ao chefe imediato. Embora não tenha abordado no documento o motivo do pedido, Medeiros expressou verbalmente, na presença de testemunhas, o descontentamento com o represamento de dados. Mesma razão que levou Herton a pedir demissão do cargo de diretor de Estudos e Políticas Sociais.

O imbroglio no instituto coincidiu com o início da campanha eleitoral, mas se agravou ao longo do último mês, quando o estudo de avaliação dos resultados da Pnad, que é feito e divulgado anualmente, ficou pronto. Entre as conclusões, uma tinha potencial para arranhar a principal vitrine do governo da presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição: a pobreza extrema não caiu entre 2012 e 2013.

A frase da semana: Mencken, sobre as eleicoes (e que frase...)

Toda eleição é um leilão antecipado de bens roubados.

H. L. Mencken
In:  KARSTEN, Frank; BECKMAN, Karel:
Além da democracia
(São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2013; Tradução de Fernando Manaças Ferreira), p. 13.

A frase, do mais famoso frasista americano, humorista involuntário e crítico mordaz dos costumes de sua época (inclusive e sobretudo dos políticos), deve ser entendida no sentido em que o processo político que entrega ao Estado a responsabilidade pela administração de nossas vidas nada mais é do que uma contínua extração da riqueza criada pela sociedade por políticos ladravazes.
Acertou na mosca...
Paulo Roberto de Almeida

Eleicoes 2014: ah, essa obsessao com os nazistas...

Tá explicado!
O texto é de 2009, e se refere a matéria ainda mais antiga, mas certas coisas moldam o caráter, não é mesmo?
Paulo Roberto de Almeida 

Reinaldo Azevedo, 03/12/2009

TRINTA ANOS DE LULA: OS HOMENS ADMIRÁVEIS

Publiquei ontem alguns trechos da entrevista de Lula à revista Playboy em julho de 1979 e fiz uma pequena provocação intelectual: “O sindicalista é o pai do homem”. Acho que há mais trechos que os eleitores têm o direito de ler. Sacrifico-me por vocês. Como não está na Internet, tenho de digitá-los. Mas não me importo. Tudo pelo esclarecimento.

Os trechos que vocês lerão em vermelho são fortes, sim. Não fosse o Brasil, hoje, amigo de todas as ditaduras que há no planeta; não tivesse o governo Lula estendido o tapete vermelho para o um delinqüente como Mahamoud Ahmadinejad, censurado na ONU uma semana depois, com os votos de Rússia e China, mas sem o voto do Brasil; não tivesse flertado o Itaramaty, por vias oblíquas, até com o terrorismo das Farc, e a fala de Lula de 30 anos atrás não teria relevância. Mas, infelizmente, tem. Vamos lá.

(…)
Playboy – Há alguma figura de renome que tenha inspirado você? Alguém de agora ou do passado?

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Lula [pensa um pouco]- Há algumas figuras que eu admiro muito, sem contar o nosso Tiradentes e outros que fizeram muito pela independência do Brasil (…). Um cara que me emociona muito é o Gandhi (…). Outro que eu admiro muito é o Che Guevara, que se dedicou inteiramente à sua causa. Essa dedicação é que me faz admirar um homem.

Playboy – A ação e a ideologia?

Lula – Não está em jogo a ideologia, o que ele pensava, mas a atitude, a dedicação. Se todo mundo desse um pouco de si como eles, as coisas não andariam como andam no mundo. (…)

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Playboy – Alguém mais que você admira?

Lula [pausa, olhando as paredes] – O Mao Tse-Tung também lutou por aquilo que achava certo, lutou para transformar alguma coisa.

Playboy – Diga mais…

Lula – Por exemplo… O Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer.

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Playboy – Quer dizer que você admira o Adolfo?

Lula – [enfático] Não, não. O que eu admiro é a disposição, a força, a dedicação. É diferente de admirar as idéias dele, a ideologia dele.

Playboy – E entre os vivos?

Lula [pensando] – O Fidel Castro, que também se dedicou a uma causa e lutou contra tudo.

Playboy – Mais.

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Lula – Khomeini. Eu não conheço muito a coisa sobre o Irã, mas a força que o Khomeini mostrou, a determinação de acabar com aquele regime do Xá foi um negócio sério.

Playboy – As pessoas que você disse que admira derrubaram ou ajudaram a derrubar governos. Mera coincidência?

Lula [rápido] – Não, não é mera coincidência, não. É que todos eles estavam ao lado dos menos favorecidos.

(…)

Playboy – No novo Irã, já foram mortas centenas de pessoas. Isso não abala a sua admiração pelo Khomeini?

Lula – É um grande erro… (…) Ninguém pode ter a pretensão de governar sem oposição. E ninguém tem o direito de matar ninguém. Nós precisamos aprender a conviver com quem é contra a gene, com quem quer derrubar a gente. (…) É preciso fazer alguma coisa para ganhar mais adeptos, não se preocupar com a minoria descontente, mas se importar com a maioria dos contentes.

Voltei
Que coisa, não? O único do grupo que não é um facínora, um assassino contumaz, um homicida frio, é Gandhi. Mas Gandhi, convenham, é a Portuguesa de Desportos das figuras ilustres da humanidade. Se a Portuguesa está em campo, e o adversário não é o nosso time, a gente torce pra quem?

Os outros… A referência a Hitler se presta a uma ironia sinistra: “O Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer”. Sem dúvida, o homem era o senhor do fogo…

Lula mudou? Digamos que alguns facínoras foram acrescentados à sua galeria: Ahmadinejad, Khadafi, Omar Hassan Ahmad al-Bashir (o genocida do Sudão)… Fidel, bem…, a múmia, rejeitada até pelo diabo, continua objeto de culto…

De todas as admirações, esta que diz pouco se importar com ideologia é, sem dúvida, a mais perigosa. Afinal, 30 anos depois daquela entrevista, indagado se não se incomodava em receber Ahmadinejad, que nega o holocausto dos judeus, promovido por Hitler – aquele que “tinha o fogo de se propor a fazer alguma coisa”, Lula respondeu:
“Muito pelo contrário. Não estou preocupado com judeus nem com árabes. Estou preocupado com a relação do estado brasileiro com o estado iraniano. Temos uma relação comercial, queremos ter uma relação política”.

O sindicalista, como se vê, era mesmo o pai do presidente.

Governo companheiro: decalogo do fracasso - Mansueto Almeida

Eu poderia arrumar mais três e assim teríamos treze fracassos. Mas também não seria difícil conseguir logo sete, para fazer duas dezenas, redondinho.
Paulo Roberto de Almeida 

Dez Fracassos do Governo Dilma na Área Econômica.

Segue abaixo a minha lista rápida de dez fracassos do governo Dilma na área econômica. São os únicos fracassos? Não, mas quis fazer apenas uma lista rápida.

  • A inflação média acima de 6% ao ano e perto do teto da meta (6,5% ao ano), em 2014, apesar do atraso no reajuste de preços administrados e do baixo crescimento. No governo Dilma, a inflação será maior do que nos quatro anos anteriores (5,7% aa).
  • O crescimento do PIB teve forte desaceleração. O Brasil crescerá apenas 0,2% em 2014 e 1,6% ao ano na média nos quatro anos do governo Dilma, a terceira pior média da história republicana no Brasil e muito abaixo da média internacional dos últimos quatro anos de 3,5%;
  • A situação fiscal passou de um superávit primário de 3% do PIB, em 2011, para “zero” ou negativo, quando se descontam os truques do lado da receita e da despesa. Neste ano até agosto, a economia que o Governo Central fez para pagar juros da divida foi de apenas 0,05% do PIB (R$ 1,5 bilhão) – pior resultado desde 1991.
  • Aumentou o desequilíbrio externo: déficit em conta corrente cresceu em mais de 50% em três anos para 3,5% do PIB, apesar da queda da taxa de investimento da economia brasileira;
  • Produtividade estagnada. De 2003 a 2010, segundo a FGV, a produtividade da economia brasileira cresceu 1,6% ao ano devido as reformas da década de 1990 e do primeiro governo LULA. Depois das mudanças da política econômica, em 2009, e com os excessos de intervenção do governo na economia, crescimento da produtividade total dos fatores nos últimos três anos foi “zero”.
  • Perda de confiança dos empresários. De acordo com FGV, nível de confiança dos empresários da indústria, comércio e serviços é hoje semelhante ao que era no auge da crise financeira de 2009. Quando o empresário não confia no governo e está pessimista, ele não investe.
  • Intensificação do processo de desindustrialização. Nos últimos três anos, a indústria perdeu participação no PIB (1 ponto do PIB a cada ano), déficit da manufatura cresceu em mais de US$ 30 bilhões, produção física da indústria ainda é menor do que era em 2010 e 2008, e participação da exportação de manufaturados na pauta de exportação voltou aos valores da década de 1970;
  • Queda da taxa de investimento da economia brasileira de 18,9% do PIB no ultimo trimestre de 2010 para 16,5% do PIB no segundo trimestre de 2014;
  • Forte crescimento da Divida Bruta em 7 pontos do PIB. Em 2010, a divida bruta do setor público no Brasil era de 53,35% do PIB. Este ano até agosto, a divida bruta alcançou 60,14% do PIB e a Div Liquida do Setor Público já cresceu mais de 2 pontos do PIB este ano até agosto.
  • Taxa de juros voltaram a subir e superam os valores do início do governo Dilma. Selic hoje é de 11% ao ano, maior que a taxa de 10,75% aa no início do governo Dilma.

Eleicoes 2014: Oba! Ja temos o ministro da Fazenda do governo petralha em 2015

Se eles chegarem ao poder, está claro, mas esse é só um detalhe.
O mais importante é que não existe ninguém mais qualificado no partido petralha do que o seu Tesoureiro, e coordenador da campanha do poste-candidata.
Quem eles poderiam ter de melhor?
O homem é mestre, doutor, pós-doc, em finanças públicas, privadas, partidárias, oficiais e oficiosas, enfim, tudo.
Vamos nessa: um homem assim não é de se desprezar. Tamanha capacidade administrativa e financeira precisa ser reconhecida...
Paulo Roberto de Almeida

Marcela Mattos

VEJA.com, 21/10/2014


Desde que o depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa veio a público, a campanha da presidente-candidata Dilma Rousseff (PT) entrou em pânico: criou uma força-tarefa para evitar que as novas revelações causassem estrago no projeto de reeleição da petista, redobrou os ataques ao adversário Aécio Neves (PSDB) e barrou o depoimento do tesoureiro João Vaccari Neto à CPI da Petrobras. Não à toa: nove anos após o estouro do escândalo do mensalão, outro homem-forte responsável por cuidar das contas do partido aparece às voltas em um caso de corrupção, agora como o pivô de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro. Paulo Roberto Costa afirmou que parte da propina desviada da estatal chegou às mãos de Vaccari. “Dentro do PT, a ligação que o diretor de serviços tinha era com o tesoureiro na época do PT, o senhor João Vaccari. A ligação era diretamente com ele”. Ainda segundo o delator, dois terços da propina ficavam para o PT quando a diretoria era comandada pelo PP. Já nos setores diretamente controlados por petistas, a propina seguia diretamente para o caixa do partido.

A função de Vaccari, no entanto, vai além de cuidar do financeiro do PT: ele tem posto privilegiado no projeto eleitoral da presidente Dilma. Documento obtido pelo site de VEJA mostra que o tesoureiro foi nomeado delegado da campanha de Dilma e tem a função-chave de representar a candidata no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tamanha é a autonomia que Vaccari, tem, inclusive, a prerrogativa de fazer petições e assinar as credenciais dos fiscais da coligação.

Ao lado dele estão outros quatro delegados – todos ocupam posições no projeto de reeleição de Dilma: o secretário-geral do PT, Geraldo Magela, deputado federal derrotado na única vaga ao Senado pelo Distrito Federal; o ex-presidente do diretório paulista do PT e tesoureiro da campanha, Edinho Silva; o ex-ministro do TSE, Arnaldo Versiani, e Luis Gustavo Severo, ambos responsáveis pela área jurídica da campanha.

Embora tenha sido apontado como a ponte para o recebimento da propina, o PT tem se mostrando reticente em afastar o tesoureiro. Ao contrário: saiu em defesa dele e processou Paulo Roberto Costa por difamação.

Durante debate entre os candidatos à Presidência realizado no último domingo, Dilma evitou se voltar contra Vaccari. Questionada por Aécio se confia no tesoureiro, a presidente tergiversou: “Da última vez que um delator denunciou pessoas do seu partido, no caso do metrô e da compra dos trens, o senhor disse que não ia confiar na palavra de um delator. Eu sou diferente. Eu sei que há indícios de desvio de dinheiro. O que ninguém sabe é quanto foi e quem foi. Isso é muito importante”, disse.

O tucano insistiu na pergunta, ressaltando os tentáculos do esquema de propina podem alcançar outros órgãos, como a hidrelétrica de Itaipu, da qual Vaccari integra o Conselho de Administração. Mas a presidente novamente se esquivou: “Eu mando investigar. Eu faço questão que a Polícia Federal investigue. Eu não transferi nenhum delegado para outro Estado, eu não engavetei processos. É isso que não pode ocorrer no Brasil”, disse.

Conforme mostra o site da Itaipu, também faz parte do Conselho de Administração do órgão o ministro licenciado da Casa Civil e braço-direito de Dilma Aloizio Mercadante, cotado para assumir o Ministério da Fazenda caso a petista seja reeleita. Mas a relação de Mercadante e Vaccari vem de longa data: nas eleições de 2002, quando conquistou a vaga no Senado, o ex-ministro tinha Vaccari como segundo suplente.

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Editorial O Globo, 22/10/2014

Seria injusto acusar apenas o PT de utilizar-se de conselhos de administração de estatais para abrigar correligionários, aliados políticos e similares. Outros governos foram pelo mesmo caminho, incluindo os da ditadura militar.

O artifício costuma ser usado para melhorar o rendimento de ministros, obrigados, assim como o presidente da República, a obedecer a limites salariais hipócritas. O mesmo vale para parlamentares, induzidos a se valer de copiosas verbas de gabinete para complementar os subsídios.

Mas se o PT não foge à regra, ele exagera. O que acontece no Conselho de Administração da usina Itaipu Binacional é exemplar — do que não deve ser feito, por suposto.

Este conselho entrou no noticiário porque lá se encontra, desde 2003, nomeado pela então ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff, João Vaccari Neto, estrela em ascensão no escândalo da Petrobras, personagem também de outras histórias estranhas.

Oriundo do braço sindical petista, com atuação na categoria dos bancários — origem também, entre outros, do mensaleiro foragido Pizzolato, de Berzoini, e do falecido Gushiken — o discreto Vaccari, desde 2010, responde pela acusação de ter desviado dinheiro da Bancoop, cooperativa habitacional de sindicalizados. É acusado de estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

À folha corrida de Vaccari serão acrescentadas outras denúncias ao ser encerrado o inquérito da Operação Lava-Jato, em que ele aparece, segundo testemunhos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, como recolhedor da parte do leão que cabia ao PT no pagamento de propinas por empreiteiras contratadas pela estatal.

João Vaccari, portanto, parecia dono de um currículo à altura do cargo de tesoureiro da legenda, já ocupado por Delúbio Soares, mensaleiro condenado em fase de cumprimento de pena. O “secretário financeiro” do PT foi tirado de um semianonimato ao ser citado por Aécio Neves no debate com Dilma promovido pela Record. “Semi” porque Vaccari já fora citado também como intermediário em negócios pouco claros com fundos de pensão de estatais, bilionário braço financeiro do sindicalismo petista.

O ex-bancário não está sozinho no conselho de Itaipu. Lá também se encontram o ministro-chefe da casa Civil, Aloizio Mercadante, petista; o pedetista histório Alceu Collares, ex-governador do Rio Grande do Sul e, entre outros, o filho do ex-governador do Paraná Orlando Pesutti, do PMDB. Todos recebendo R$ 20.804,31 por participação nas reuniões do conselho.

Mais um caso para sedimentar a ideia de que esses conselhos são sinecuras indevidamente financiadas pelo contribuinte. O escândalo na Petrobras levou à redescoberta de Vaccari e, por tabela, jogou luz sobre o conselho de Itaipu. Esta história não para de produzir surpresas. (O Globo).