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sábado, 30 de abril de 2016

O estudo das relacoes internacionais do Brasil: revisitando os ultimos dez anos - Paulo Roberto de Almeida


O estudo das relações internacionais no Brasil

Paulo Roberto de Almeida
 [Notas para uma entrevista concedida a Alessandro Candeas, feita em 29/04/2016, no Anexo II do Itamaraty; para divulgação em arquivo de vídeo pelo IPRI-Funag.] 


Tendo exercido, voluntária e episodicamente, desde o início dos anos 1990, atividades didáticas e de pesquisa em diversos campos das relações internacionais do Brasil, e tendo também elaborado alguns trabalhos de história diplomática do nosso país, o que igualmente incluiu resenhas críticas das mais importantes obras publicadas nesses campos, creio possuir alguma autoridade acadêmica, ou puramente pessoal, para pronunciar-me sobre essa produção intelectual desde a primeira publicação de um livro meu que traz exatamente esse título: O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (Brasília: LGE Editora, 2006).
Cabe primeiramente esclarecer que o livro que leva esse título, tendo como subtítulo “um diálogo entre a diplomacia e a academia”, tinha sido publicado uma primeira vez em 1999, como resultado de aulas e palestras que eu havia ministrado no imediato seguimento de um outro livro meu, publicado em 1998, chamado, precisamente Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998). Tendo continuado a exercer atividades didáticas e continuado a pesquisar nesses diferentes terrenos no período imediatamente subsequente publiquei, logo em seguida, o livro que pode ser considerado a primeira edição dessa obra, intitulada apenas O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (São Paulo: Editora da Universidade São Marcos, 1999), justamente no seguimento de cursos que eu havia ministrado naquela instituição de São Paulo. Entre a primeira e a segunda edição, diversos capítulos foram revistos, atualizados, expandidos, alguns suprimidos, outros acrescentados. Nele já constava um capítulo sobre “A produção brasileira em relações internacionais: tendências e perspectivas”, que tratava justamente das obras mais relevantes no campo desde épocas pretéritas até os anos 1990.
Esse texto descritivo e analítico foi transposto para o livro de 2006, como primeiro capítulo, tendo recebido o conceito de “avaliação” no seu subtítulo, o que indicava justamente o esforço de exame qualitativo de cada uma das obras ali consideradas. Desde então, não voltei mais a atualizar esse trabalho, que certamente mereceria complemento analítico e descritivo, com base na produção acumulada nos últimos dez anos, mas a tarefa foi, de certa forma, coberta em outros trabalhos e livros publicados desde então. Por exemplo, em meu livro Relações internacionais e política externa do Brasil: a diplomacia brasileira no contexto da globalização (Rio de Janeiro: LTC, 2012), retomo um trabalho pioneiro que havia publicado pela primeira vez em 1992, na revista Contexto Internacional, num plano bem mais metodológico do que propriamente substantivo, inaugurando esse livro e intitulado “Introdução ao Estudo das Relações Internacionais do Brasil”, imediatamente seguido por um outro, chamado “Historiografia Brasileira de Relações Internacionais”, no qual percorro a longa lista de grandes autores e obras decisivas no campo puramente historiográfico – e menos em ciência política – desde Pandiá Calógeras até as contribuições mais recentes de diplomatas e acadêmicos, passando por Hélio Vianna, Delgado de Carvalho (cuja História Diplomática do Brasil, de 1959, fiz reeditar facsimilarmente pela Editora do Senado), o manual bastante conhecido de História da Política Exterior do Brasil, de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno, e uma recuperação por Ricardo Seitenfus de aulas dadas no Instituto Rio Branco nos anos 1950 pelo historiador José Honório Rodrigues (até a gestão Rio Branco), que ele complementou até o ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Esse meu livro também comporta uma extensa bibliografia de todas as obras relevantes publicadas até 2012.
Não cabe mencionar aqui muitos outros artigos que publiquei em diversas revistas nessa mesma problemática, com destaque para a Revista Brasileira de Política Internacional, da qual sou editor-adjunto, e a já referida Contexto Internacional. Mas cabe, sim, mencionar que mantenho, desde 2004, a seção “Prata da Casa” na revista da ADB, Associação dos Diplomatas Brasileiros, na qual faço curtas notas sobre os livros (em todos os gêneros) de diplomatas, em sua grande maioria teses do Curso de Altos Estudos, e portanto publicados não exatamente pelos diplomatas em edições comerciais, mas pela Fundação Alexandre de Gusmão (o que não subtrai em nada sua qualidade). Essas muitas dezenas de “miniresenhas”, junto com diversas resenhas críticas, bem mais longas, de livros de diplomatas e não diplomatas, sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil, bem como sobre assuntos da política internacional e da economia mundial, foram por mim coletadas em livros digitais livremente disponíveis em plataformas de cooperação acadêmica, como Academia.edu ou Research Gate, com títulos sugestivos: Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor; Versão de: 16/07/2014; completo), Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas (Amazon Digital Services: Kindle edition, 2014), Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros (Hartford, Edição de Autor, 2014) e uma compilação digital das resenhas de livro de não-diplomatas Rompendo Fronteiras: a Academia pensa a Diplomacia (Hartford, Edição de Autor, 2014).
Creio, assim, estar plenamente habilitado a discorrer sobre a produção de acadêmicos e diplomatas brasileiros nas diversas áreas setoriais das RRII do Brasil, muito embora eu não seja um pesquisador em tempo integral – tendo de dividir o meu tempo entre atividades profissionais e estudos voluntariamente conduzidos nas horas vagas – e não exercendo sequer uma atividade didática nessa área específica, uma vez que, desde mais de dez anos divido minhas atividades diplomáticas com a função de professor de Economia Política nos programas de mestrado e doutorado em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Mas é a partir desse patrimônio de estudos e publicações acumuladas desde pouco mais de três décadas, coincidentes com minha carreira diplomática, que posso manifestar-me a respeito dessa temática, a partir do roteiro muito bem traçado de perguntas formuladas por meu colega e amigo Alessandro Warley Candeas, diretor do IPRI-Funag.

1) Como evoluiu a produção do conhecimento na área de RRII no Brasil nas últimas 2 décadas?

Ela acompanhou, de certa forma, a expansão dos cursos de RRII em nível de graduação, bem como o surgimento de diversos programas de mestrado em universidades públicas já possuindo uma graduação nesse campo (as faculdades particulares, mais numerosas na oferta de cursos de graduação, não se lançam, em sua grande maioria, nos estudos pós-graduados stricto senso, embora possam fazê-lo no tipo lato senso ou cursos de extensão mais genéricos ou focados em áreas mais operacionais, tipo administração de negócios ou comércio exterior). Não tenho certeza de que se possa falar concretamente de “produção de conhecimento”, pois isso implicaria que a pesquisa nessa campo tenha avançado tanto quanto a multiplicação de cursos em nível de graduação, nos quais a transpiração costuma ser bem maior do que a inspiração.
Em todo caso, os professores desses cursos tentam se posicionar numa escala mais favorável nos indicadores de produtividade – bem mais quantitativos do que propriamente qualitativos – que lhes possam permitir um belo currículo Lattes, ou a conhecida distinção entre os pares. O grande elemento propulsor, aqui, foi a constituição da ABRI, em 2005, e seu desenvolvimento satisfatório desde então, muito embora, antes de sua aparição, a realização dos encontros anuais da ENERI ou FENERI tenha oferecido uma boa plataforma para a apresentação de trabalhos, contatos com palestrantes brasileiros e conferencistas estrangeiros. Cabe reconhecer o papel da ABRI no aperfeiçoamento dos padrões de qualidade na pesquisa e interação entre os atores da área, professores, alunos, alguns diplomatas ou personalidades da vida civil com alguma atuação prática no campo das RRII do Brasil.
As “semanas de RRII” nas faculdades, em número bem mais restrito do que o volume de cursos, também ofereceram espaço para o aprofundamento de alguns temas desse campo, congregando o público interno e alguns estudiosos externos, servindo também, tanto quanto os encontros da ABRI, para a divulgação de obras produzidas pelos pesquisadores brasileiros ou edições brasileiras das obras estrangeiras mais conhecidas e já utilizadas. Os cursos de RRII, por sua vez, ascenderam quase exponencialmente no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, para bater no teto do mercado, em meados dessa data, para começar a diminuir lentamente a partir daí, mas se trata de um fenômeno típico de oferta e demanda em função das oportunidades ainda relativamente modestas de emprego nessa área (lembrando que a profissão não se encontra regulada em formato de reserva de mercado para “internacionalistas” e não parece haver chance de a hipótese se concretize).
Editoras universitárias ou comerciais passaram a lançar maior volume de livros didáticos de RRII, ou obras gerais dentro do campo, mas o fenômeno editorial mais relevante, com grande intensidade nos últimos dez anos, foi a ascensão da Funag como a maior editora e distribuidora (gratuitamente nas versões digitais) de um alto volume de obras a cada ano. Esse fenômeno é provavelmente tão importante quanto a expansão da diplomacia – no plano funcional corporativo – e da política externa brasileira nos anos aparentemente gloriosos dos governos lulopetistas no Brasil, a partir de 2003. O grande ativismo – alguns diriam a pirotecnia diplomática – conduzido pelo próprio Lula e por seu chanceler foi um grande elemento de propulsão do interesse pela carreira e pelos estudos de RRII nesse período, inclusive porque grande parte da produção acadêmica nesse terreno se dedica mesmo às etapas contemporâneas da diplomacia brasileira.
Em resumo, a produção de conhecimento na área de RRII se densificou, se consolidou, e ao mesmo tempo se diversificou (o que parece óbvio e natural), com a multiplicação de revistas, de seminários, de encontros de pesquisa e de debates, com o aumento da oferta de livros e outros recursos livremente disponíveis, mas não existem ainda condições para se fazer um mapeamento metodológico muito preciso de todas as tendências observadas nos últimos vinte anos, que foram certamente ricas, mas precisam ser avaliadas nas suas diversas categorias analíticas e metodológicas. Talvez o IPRI pudesse promover um encontro de discussão sobre a questão.

2) Quais os principais eixos analíticos e temas?

Existem duas grandes áreas de trabalho, ou seja, de pesquisa e de produção de contribuições significativas nas RRII: a história e a ciência política, ou de ciências sociais, num sentido mais amplo (compreendendo, digamos, sociologia política ou relações econômicas internacionais, esta aqui bem menos explorada na pesquisa ou nas publicações especializadas. Em ambas as dimensões mais relevantes, existem estudos monográficos, de amplo escopo analítico (ou de síntese), trabalhos diacrônicos (ou seja, históricos), e em cada uma delas, o Brasil, sua diplomacia e suas relações exteriores, também chamada de política externa, constituem naturalmente os objetos centrais dos trabalhos de pesquisa e de elaboração na academia brasileira. Mais raros, embora também existam, são os trabalhos na perspectiva comparativa, seja com vizinhos que de fato possuem elementos comparáveis, como a Argentina, por exemplo, seja com grupos ou blocos artificialmente reunidos, como pode ser o Brics, uma assemblagem bizarra de cinco países totalmente díspares em suas características próprias, mas unidos num mesmo foro apenas por iniciativa diplomática de duvidosa racionalidade.
Os temas geralmente tangenciam a grande agenda da diplomacia brasileira: as relações bilaterais (especialmente com grandes atores mundiais), a integração regional (com destaque para o Mercosul), o multilateralismo político (com ênfase na ONU e seu Conselho de Segurança), os novos temas da cooperação internacional (como energia ou meio ambiente, por exemplo) e os das negociações comerciais multilaterais ou mesmo “minilaterais” (bilaterais ou regionais).

3) Quais as principais orientações teórico-metodológicas?

Não existe muita unidade teórico-metodológica nos trabalhos de RRII produzidos no Brasil, pelo menos numa avaliação superficial da literatura publicada, em formato de artigos ou de livros. Manuais à parte – e eles são poucos, inexistindo aqui o modelo dos textbooks muito usados nas academias dos EUA ou da Europa – os textos singulares publicados evidenciam grande diversidade nos métodos de abordagem e nos chamados “marcos teóricos” utilizados, por vezes mais para responder a uma demanda expressa de algum orientador do que a decisões voluntárias daqueles que trabalham nessas áreas. Em situações “normais” de ensino e pesquisa, e em condições normais de exercício da atividade diplomática, a academia brasileira formulou suas próprias orientações em matéria de metodologia dos trabalhos publicados, havido preferência, durante certo momento, pelos estudos em torno da “diplomacia do desenvolvimento”, juntos ou separados com trabalhos sobre as relações com os principais atores nessa equação, os Estados Unidos ou países europeus.
Mas ocorreu, também, a importação de modelos estrangeiros, seja no terreno da história – onde o conceito de “forças profundas”, recolhido em Renouvin, fez sucesso a partir da sua disseminação por um professor renomado como Amado Cervo – ou no da ciência política – como o de Soft Power, aparentemente uma compensação teórica, no nosso caso, por ser um país sem maior dotação de poder material. Aparentemente, no Brasil já fizemos a nossa “substituição de importações” nos estudos de RRII, o que não garante, no entanto, que os novos conceitos e orientações sejam metodologicamente fundamentados e logicamente consistentes. Um dos grandes fantasmas não só dos estudos, em si, mas da própria atividade diplomática e até da postura internacional do Brasil, é a famosa “busca pela autonomia”, talvez uma espécie de compensação psicológica justamente em virtude da pouca autonomia do Brasil na dotação real de fatores de poder, o que se chama de “capacidades”, ou capabilities.
É provavelmente devido a essa obsessão com a autonomia da política nacional, externa ou na área econômica, que o conceito de soberania também é extremamente valorizado na ideologia diplomática nacional. A construção da autonomia, ou da afirmação soberana do país no cenário internacional, emerge naturalmente com o nacionalismo econômico no decurso do século 20, até chegar à sua versão algo caricatural na chamada diplomacia altiva, aquela que se afirmaria de forma autônoma, ou seja, sem a tutela do imperialismo, esse tigre de papel de todos os esquerdistas que se acreditam defensores da soberania nacional, quando na maior parte das vezes estão contribuindo para a introversão econômica e o provincianismo diplomático.

4) Quais autores e obras de maior impacto?

Efetuar uma seleção de obras ou de autores é extremamente arriscado, pois sempre se corre o risco de cometer alguma injustiça com autores consagrados, ou até com autores menos conhecidos que ofereceram trabalhos de alta qualidade, mas que se tornaram menos divulgados por razões diversas. Entre os diplomatas, alguns nomes se tornaram ícones da produção com pretensões a servir de referência nos estudos de área. Pode-se mencionar, por exemplo, Gelson Fonseca, na área da ciência política, ou das relações internacionais sentido estrito. Entre os não diplomatas, o cientista político e ex-chanceler Celso Lafer também produziu uma obra relevante, feita de estudos teóricos, de reflexões sobre os grandes temas de negociações internacionais de que participou (e dos quais foi, muitas vezes, formulador) e de incontáveis artigos de imprensa sobre os mais diversos temas da agenda internacional do Brasil e da realidade política mundial.
Entre os diplomatas, existem incontáveis trabalhos preparados no âmbito do Curso de Altos Estudos do IRBr, e uma seleção certamente implicaria certa dose de arbítrio na indicação dos melhores (que de toda forma foram publicados pela Funag e registrados em minha seção Prata da Casa da revista da ADB e compilados em meus livros digitais de resenhas de livros de diplomatas. Obras produzidas paralelamente a esse âmbito ou fora do ambiente funcional, mas ainda assim atinentes ao universo da diplomacia brasileira podem ser destacadas nos exemplos a seguir: Luis Cláudio Villafañe Gomes Santos tem produzido trabalhos muito consistentes no terreno da história diplomática brasileira, em especial no período imperial e primeira República. Fernando Mello Barreto produziu uma sequência de três grandes obras, resumindo a atuação diplomática de todos os chanceleres da República a partir de Rio Branco até a atualidade, na gestão Celso Amorim, que aliás ofereceu diversas contribuições tanto no terreno memorialístico, como de reflexão sobre sua atividade em diversas grandes temas da política exterior brasileira, tendo tido uma longevidade como chanceler (em duas administrações) que ultrapassou a até então a mais longeva, a do Barão do Rio Branco. Eugênio Vargas Garcia, historiador, trabalhou com grande competência a história (e a pré-história) do multilateralismo brasileiro, em trabalhos de pesquisa sobre a Liga das Nações, sobre a política externa brasileira no entre-guerras e sobre a participação do Brasil na criação da ONU, ademais de ter editado compêndios de documentos históricos e uma cronologia das relações internacionais do Brasil.
Caberia incluir nesse cômputo minha própria contribuição, sob a forma de diversos livros de relações econômicas internacionais, em especial o livro de pesquisa histórica, Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (em duas edições pela Editora Senac- São Paulo, 2001 e 2005). Ainda no terreno da história, não se pode descurar alguns dos livros do diplomata historiador pernambucano Evaldo Cabral de Melo, em especial O Negócio do Brasil, que trata da “recompra” do Nordeste por Portugal aos Países Baixos. Os embaixadores Rubens Ricupero, Luiz Felipe Seixas Correa, Samuel Pinheiro Guimarães e Rubens Barbosa também produziram trabalhos dignos de registro em qualquer compilação de obras de diplomatas, assim como o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia, tanto no terreno das memórias como no da análise de questões da atualidade diplomática (atividade também reproduzida em veículos digitais e artigos de jornais).
Entre os não diplomatas, destacam-se, obviamente, as diversas edições do livro de Amado Cervo e Clodoaldo Bueno sobre a História da Política Exterior do Brasil, bem como diversos trabalhos organizados ou escritos por Henrique Altemani e Antonio Carlos Lessa, entre eles a obra de referência organizada por ambos, Relações internacionais do Brasil, ademais de coleções editadas no âmbito do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (que edita a Revista Brasileira de Política Internacional), do próprio IRel-UnB, ou com editoras comerciais. Registre-se igualmente o ativismo de acadêmicos como Paulo Vizentini, Demetrio Magnoli, Moniz Bandeira, Francisco Doratioto, Ricardo Seitenfus, Tullo Vigevani ou ainda o eminente jurista Antonio Augusto Cançado Trindade, autor de imponente obra no campo do direito internacional e juiz da Corte da Haia.
Cabe aqui uma digressão pessoal quanto ao que me parecem ser as orientações da produção brasileira em RRII segundo a afiliação institucional de seus “produtores”, e se pode aqui distinguir essa comunidade razoavelmente heteróclita – pois que feita de profissionais e de “amadores” da diplomacia – como constituída, grosso modo, de agentes da diplomacia real, que também se dedicam às artes da escrita independente, e de analistas externos, ou seja, todos os acadêmicos e jornalistas, ou quaisquer outros observadores não profissionais da diplomacia, que também se ocupam de descrever, analisar, interpretar os aspectos mais relevantes da política externa do Brasil ou as características da política internacional, incluindo aqui os arqueólogos das relações internacionais, ou seja, historiadores da diplomacia brasileira de eras passadas ou da política mundial ou regional segundo escolhas pessoais.
As orientações da diplomacia profissional, tal como reveladas num exame mesmo perfunctório dos trabalhos por ela publicados (textos resultantes dos Cursos de Altos Estudos em sua vasta maioria), são obviamente quase que um espelho fiel das orientações conjunturais dessa diplomacia, ou seja, da política externa do governo em vigor. Não poderia ser de outro modo: diplomatas são, na grande maioria dos casos, seres perfeitamente imbuídos de princípios e valores da diplomacia tradicional, que por vezes se deixam arrastar por inclinações temporárias ou opções políticas momentâneas, e se guiam, salvo em poucos casos “libertários” (por sua própria conta e risco) pelas duas características sempre repetidas como fazendo parte do padrão comportamental da corporação (tanto quanto para os militares e membros da Igreja Católica): hierarquia e disciplina. Não se pode esperar, assim, que as análises e propostas de políticas feitas por esses profissionais se afastem muito do cânon do momento, ou do governo.
Quanto à academia e ao jornalismo especializado em RRII seria de se esperar uma maior diversidade de opiniões, de metodologias, de orientações políticas e de posturas quanto às políticas concretas que caberia adotar na frente externa das políticas públicas, o que de certo modo ocorria até algumas décadas atrás. Desde o início do milênio, porém, não por acaso coincidente com o governo do PT no Brasil, amplamente bem acolhido, saudado e elogiado por vastos setores da comunidade acadêmica, não foi o que ocorreu e o que se observou nestes anos todos, com uma ampla aceitação, até entusiástica, por parte da academia brasileira, sobretudo (e isso é óbvio) por parte dos professores das faculdades de humanidades em geral, com destaque até para os da área específica de RRII. A falta de senso crítico quanto aos aspectos nefastos, histriônicos e até danosos ou criminosos da diplomacia lulopetista em relação sobretudo a “aliados” regionais, inclusive as piores ditaduras do continente e de outras regiões. Que isso se tenha tornado tão evidente, aos olhos de todos – com os empréstimos ditos “secretos” a algumas dessas ditaduras, por exemplo, em total desrespeito ao Senado Federal e à Constituição – e que isso não tenha despertado o espírito crítico dos acadêmicos, é uma realidade que fere a consciência não só da cidadania organizada, como deveria chamar a atenção de qualquer acadêmico dotado apenas de senso de equilíbrio e espírito crítico.
Estas observações são importantes porque elas revelam uma característica que se tornou marca registrada de grande parte da produção acadêmica durante os anos do lulopetismo diplomático: a adesão acrítica – e até imoral no caso das ditaduras – à tal de diplomacia ativa e altiva que possui aspectos obscuros que não foram e talvez não sejam jamais revelados em todos os seus matizes e fundamentação documental. O que é ainda mais surpreendente é que esses acadêmicos tenham baseado seus argumentos apenas nas declarações do próprio governo, sem o cuidado – que deveria ser uma condição essencial do trabalho acadêmico – de ir buscar fontes independentes, ou de aferir quanto ao resultado dessas políticas no mundo real, ou seja, distante das declarações oficiais e sem embasamento num volume adequado de dados empíricos quanto aos resultados e efeitos concretos dessas políticas – do tipo Sul-Sul, politização do Mercosul, aliança com certos parceiros escolhidos apenas por suas posturas antiocidentais – e sua própria adequação aos objetivos iniciais (reforço do Mercosul, ingresso no Conselho de Segurança, conclusão de negociações comerciais, por exemplo, todos frustrados).

5) Em termos comparativos com os Estados Unidos e a Europa, como a produção brasileira recente se situa? É possível falar em uma contribuição nacional específica para o avanço nessa disciplina?

Difícil fazer uma comparação nessa área, pois a nossa produção ainda é muito incipiente quando confrontada à diversidade e quantidade dos trabalhos de todos os tipos produzidos nos grandes centros acadêmicos, think tanks e mesmo de governos nas duas grandes massas democráticas e de conhecimento avançado do Atlântico norte. Os autores ali são prolíficos, sofisticados e atuantes em determinadas agendas diplomáticas, em função de uma osmose bem mais frequente e mais intensa com os serviços nacionais da área diplomática, de planejamento político e de inteligência, o que praticamente inexiste no Brasil, onde esses órgãos estatais são excessivamente introvertidos e pouco abertos à colaboração acadêmica na agenda efetiva das relações exteriores.

6) Quais são as tendências e perspectivas em RRII no Brasil e no mundo?

Esta é uma questão que exigiria uma elaboração bem mais cuidada e cuidadosa, do que a permitida neste espaço. Melhor deixar a questão para uma discussão mais elaborada em oportunidade futura. Entendo que uma aposta genérica possa se referir ao crescimento tanto organizacional quanto substantivo dessa área, tanto no plano puramente acadêmico, quanto sua crescente interação, talvez osmose futura, com os profissionais da diplomacia e outros agentes das posturas externas do Brasil (como os encarregados do comércio internacional, por exemplo, ou das finanças internacionais).
Ocorrerá, provavelmente, uma crescente diversificação das abordagens e dos objetos de trabalho, até num sentido ridiculamente adepto de vertentes analíticas baseadas no politicamente correto, como questão de gênero ou de minorias sociais na diplomacia, e várias outras metafísicas metodológicas. Mas uma análise consistente dessas possíveis tendências e perspectivas das RRII no Brasil depende de um balanço adequado do que foi efetuado até aqui e de alguns prognósticos que possam ser feitos, provavelmente de modo colaborativo, com base nesse balanço qualitativo dos últimos vinte anos. Pretendo dedicar-me a isto num futuro não muito distante, mas apenas e exclusivamente em relação ao Brasil, pois não tenho a pretensão de tentar abarcar os mesmos aspectos em relação às RRII no mundo.

Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 29 de abril de 2016


Atualizado em 29/04/2016

33) Going Global: Brazil and Latin America in International Context (em preparação, 2016).
32) Do passado para o presente: clássicos revisitados na perspectiva da modernidade (em preparação, 2016).
31) Nunca Antes na Diplomacia…: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editora Appris, e-book, 2016; link: https://editoraappris.lojasdot.com.br/produto/e-book-nunca-antes-na-diplomacia-a-politica-externa-brasileira-em-tempos-nao-convencionais).
30) Révolutions bourgeoises et modernisation capitaliste: Démocratie et autoritarisme au Brésil (Sarrebruck: Éditions Universitaires Européennes, 2015, 496 p.; ISBN: 978-3-8416-7391-6). divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2015/10/avant-propos-revolutions-bourgeoises-et.html). Relação de Originais n. 2863.
29) Die brasilianische Diplomatie aus historischer Sicht: Essays über die Auslandsbeziehungen und Außenpolitik Brasiliens (Saarbrücken: Akademiker Verlag, 2015, 204 p.; Übersetzung aus dem Portugiesischen ins Deutsche: Ulrich Dressel; ISBN: 978-3-639-86648-3).
28) O Panorama visto em Mundorama: Ensaios Irreverentes e Não Autorizados (Hartford: 2a. edição do autor, 2015, 294 p.; DOI: 10.13140/RG.2.1.4406.7682), available: Academia.edu; link: http://www.academia.edu/12038814/29_O_Panorama_Visto_em_Mundorama_2015_2a._edicao_).
27) Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Hartford: edição do autor, 2015, 380 p.; DOI: 10.13140/RG.2.1.1916.4006; available: Academia.edu; link: https://www.academia.edu/11981135/28_Paralelos_com_o_Meridiano_47_ensaios_2015_).
26) Volta ao Mundo em 25 Ensaios: Relações Internacionais e Economia Mundial, Hartford, 5 novembro 2014, 110 p. Livro montado com base nos textos preparados para o site Ordem Livre em dezembro de 2009 e janeiro de 2010, e divulgados ao longo de 2010, e esporadicamente e aleatoriamente ulteriormente. Publicado como Kindle book (file size: 809 KB; ASIN: B00P9XAJA4; link: http://www.amazon.com/dp/B00P9XAJA4). Inserido na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/9126863/26_Volta_ao_Mundo_em_25_Ensaios_Rela%C3%A7%C3%B5es_Internacionais_e_Economia_Mundial_2014_). Researchgate.net (DOI: 10.13140/2.1.3057.5683). Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/11/volta-ao-mundo-em-25-ensaios-relacoes.html). Relação de Originais n. 2712. Relação de Publicados n. 1149.
25) Rompendo Fronteiras: a Academia pensa a Diplomacia, Hartford, 4 novembro 2014, 414 p. Livro de resenhas de não-diplomatas, completando os dois anteriores na série de três derivados do Prata da Casa. Editado em formato Kindle (1202 KB, ASIN: B00P8JHT8Y; link: http://www.amazon.com/dp/B00P8JHT8Y). Researchgate.net (DOI: 10.13140/2.1.4106.1447). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/9108147/25_Rompendo_Fronteiras_a_academia_pensa_a_diplomacia_2014_). Informado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/11/rompendo-fronteiras-academia-pensa.html). Relação de Originais n. 2710. Relação de Publicados n. 1148.
24) Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros, Hartford, Edição de Autor, 2014, 326 p. Livro digital, plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/9084111/24_Codex_Diplomaticus_Brasiliensis_livros_de_diplomatas_brasileiros_2014_). Kindle Edition (1117 KB; ASIN: B00P6261X2; link: http://www.amazon.com/dp/B00P6261X2). Researchgate.net (DOI: 10.13140/2.1.2008.9927). Relação de Originais n. 2707. Relação de Publicados n. 1147.
23) Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas (Amazon Digital Services: Kindle edition, 2014, 151 p. 484 KB; ASIN: B00OL05KYG; DOI: 10.13140/2.1.4630.4325; disponível na Amazon; link: http://www.amazon.com/dp/B00OL05KYG; e na plataforma Academia.edu; link: https://www.academia.edu/8815100/23_Polindo_a_Prata_da_Casa_mini-resenhas_de_livros_de_diplomatas_2014_). Prefácio e Sumário disponíveis no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/10/mini-resenhas-de-livros-de-diplomatas.html). Relação de Originais n. 2693. Relação de Publicados n. 1145.
22) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (book reviews; Edição de Autor; Versão de: 16/07/2014, 663 p.; disponível nos links: Academia.edu: página do livro: https://www.academia.edu/5763121/Prata_da_Casa_os_livros_dos_diplomatas_Edicao_de_Autor_2014_; link direto para download do arquivo em pdf: https://www.academia.edu/attachments/34209509/download_file?s=work_strip&ct=MTQwNzAwODExOCwxNDA3MDExMjI5LDc4NTEwNjY; divulgado neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2014/07/prata-da-casa-os-livros-dos-diplomatas.html; disponível em Researchgate.net: https://www.researchgate.net/publication/269701236_Prata_da_Casa_os_livros_dos_diplomatas?ev=prf_pub; DOI: 10.13140/2.1.4908.9601). Relação de Originais n. 2533. Relação de Publicados n. 1136.
21) Nunca Antes na Diplomacia...: A política externa brasileira em tempos não convencionais (Curitiba: Editora Appris, 2014, 289 p.; ISBN: 978-85-8192-429-8); Hartford, 30 março 2104, 312 p. (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/6999273/21_Nunca_Antes_na_Diplomacia_a_politica_externa_brasileira_em_tempos_nao_convencionais). Relação de Originais n. 2596. Relação de Publicados n. 1133.
20) O Príncipe, revisitado: Maquiavel para os contemporâneos (Hartford, 8 Setembro 2013, 226 p. Revisão atualizada do livro de 2010) Publicado em formato Kindle (disponível: http://www.amazon.com/dp/B00F2AC146). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/5547603/20_O_Principe_revisitado_Maquiavel_para_os_contemporaneos_2013_Kindle_edition). Relação de Originais n. 2512; Relação de Publicados n. 1111.
19) Integração Regional: uma introdução (São Paulo: Saraiva, 2013, 174 p.; ISBN: 978-85-02-19963-7; site da Editora: http://www.saraivauni.com.br/Obra.aspx?isbn=9788502199637). Relação de Originais ns. 2996, 2998, 2300, 2303, 2304, 2313, 2316, 2317, 2373, 2383, 2431, 2438 e 2449. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2013/04/integracao-regional-novo-livro-enfim.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32644653/download_file). Relação de Publicados n. 1093.
16) O Moderno Príncipe (Maquiavel revisitado) (versão impressa: edições do Senado Federal volume 147: Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2010, 195 p.; ISBN: 978-85-7018-343-9; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/95MaquiavelRevisitado.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642375/download_file). Relação de Originais n. 1804. Relação de Publicados n. 1014.
15) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8; R$ 12,00; disponível para aquisição no seguinte link: http://freitasbas.lojatemporaria.com/o-moderno-principe.html). Anunciado no site pessoal (link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/95maquiavelrevisitado.html) e no blog Diplomatizzando (21.12.2009; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2009/12/1591-novo-livro-pra-o-moderno-principe.html), com livre disponibilidade do Prefácio, da Dedicatória, da carta a Maquiavel e das Recomendações de Leitura. (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/5546980/15_O_Moderno_Principe_Maquiavel_revisitado_2009_e-pub). Relação de Originais n. 1804. Relação de Publicados n. 940.
14) O Estudo das Relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE Editora, 2006, 385 p.; ISBN: 85-7238-271-2; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/93EstudoRelaIntBr2006.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642184/download_file).
12) Relações internacionais e política externa do Brasil: história e sociologia da diplomacia brasileira (2ª ed.: revista, ampliada e atualizada; Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004, 440 p.; coleção Relações internacionais e integração nº 1; ISBN: 85-7025-738-4; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/74UFRGS2004.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642325/download_file).
11) A Grande Mudança: consequências econômicas da transição política no Brasil (São Paulo: Editora Códex, 2003, 200 p.; ISBN: 85-7594-005-8; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/58GrdeMudanca.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/5546940/11_A_Grande_Mudanca_consequencias_economicas_da_transicao_politica_no_Brasil_2003_).
10) Une histoire du Brésil: pour comprendre le Brésil contemporain (avec Katia de Queiroz Mattoso; Paris: Editions L’Harmattan, 2002, 142 p.; ISBN: 2-7475-1453-6; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/48HistoireBresil2002.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642309/download_file).  
09) Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002, 286 p.; ISBN: 85-219-0435-5; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/45SeculoXXI2002.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642303/download_file).
8) Formação da diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (São Paulo: Editora Senac, 2001, 680 pp., ISBN: 85-7359-210-9; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/44FDESenac2001.html). (Academia.edu, link: http://www.academia.edu/attachments/32642297/download_file).
7) Le Mercosud: un marché commun pour l’Amérique du Sud, Paris: L’Harmattan, 2000, 160 p.; ISBN: 2-7384-9350-5; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/40Mercosud2000.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642281/download_file).
6) O estudo das relações internacionais do Brasil (São Paulo: Editora da Universidade São Marcos, 1999, 300 p.; ISBN: 85-86022-23-3; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/31EstudoRelaIntBr1999.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/5546888/06_O_estudo_das_relacoes_internacionais_do_Brasil_1999_).
5) O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, na coleção “Direito e Comércio Internacional”, 1999, 328 p.; ISBN: 85-7348-093-9; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/30Multilateralismo1999.html). (Academia.edu, link: http://www.academia.edu/attachments/32642262/download_file).
4) Velhos e novos manifestos: o socialismo na era da globalização (São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 1999, 96 p.; ISBN: 85-7441-022-5; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/29Manifestos1999.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642256/download_file).
3) Mercosul: Fundamentos e Perspectivas (São Paulo: Editora LTr, 1998, 160 p.; ISBN: 85-7322-548-3; link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/26MercosulLTr1998.html). (Academia.edu, link: https://www.academia.edu/attachments/32642244/download_file).
2) Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998, 360 p.; ISBN: 85-7025-455-5); link: http://www.pralmeida.org/01Livros/2FramesBooks/25RelaIntPExtUFRGS1998.html). (Academia.edu: https://www.academia.edu/attachments/32642231/download_file ).

Jazz: 300 GB de todos os classicos, de 1921 a 1991 - David W. Niven

A facilidade de arquivar e disseminar conteúdo que a internet nos oferece, aliada às paixões que as pessoas cultivam e cuidam ao longo da vida pode nos oferecer verdadeiros tesouros escondidos. É o caso do professor do ensino médio David W. Niven, que desde sempre foi um fiel amante do Jazz.
Mais do que isso: ao longo de muitos anos David colecionou registros de apresentações ao vivo das maiores lendas do gênero, catalogadas em mais de 650 fitas-cassete. E esse catálogo agora está disponível aos nossos ouvidos, para streaming e download.
São mais de 1000 horas de gravação em 360GB de áudio, reunindo grandes gênios do jazz como Duke Ellington, Charlie Parker, Thelonious Monk, Chat Baker, Frank Sinatra, Django Reindhart, Billie Holiday e muitos outros (muitos outros mesmo!). Cada fita foi perfeitamente catalogada à mão por David, trazendo o setlist dos shows, a data, o local e outras informações. O acervo percorre o período de 1921 até 1991. A coleção está hospedada no site Archive.org, e basta acessa-la para o deleite começar.
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O acesso irrestrito que a internet nos oferece hoje pode fazer tal dedicação parecer despropositada e anacrônica, mas o fato é que a internet sem a paixão humana é só um veículo vazio – que bom que o que ela nos traz de melhor é justamente a possibilidade de acessar conhecimentos diversos, e passear um pouco pelas vidas não só dos gênios, mas também daqueles que souberam apreciar e cuidar de tesouros verdadeiramente valiosos.
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A Revolucao Cultural na China, por um historiador (Frank Dikotter) e um sobrevivente da RCC (Xia Yeliang) - Cato Book Forum

The Cultural Revolution: A People’s History, 1962–1976

(Bloomsbury, 2016) 

Book Forum in Cato Institute, April 25, 2016

http://www.cato.org/events/cultural-revolution-peoples-history-1962-1976

Featuring the author Frank Dikötter, Chair Professor of Humanities, University of Hong Kong; with comments by Xia Yeliang, Visiting Fellow, Center for Global Liberty and Prosperity, Cato Institute; moderated by Marian L. Tupy, Editor, www.humanprogress.org, Cato Institute.
After the economic disaster of the Great Leap Forward that claimed tens of millions of lives from 1958–1962, Mao Zedong launched an ambitious scheme to shore up his reputation and eliminate those he viewed as a threat to his legacy. The stated goal of the Cultural Revolution was to purge China of its bourgeoisie and remaining capitalists. The Cultural Revolution soon resulted in street fighting between rival factions. As China descended into chaos, the military intervened, turning the country into a garrison state marked by bloody purges that killed as many as one in 50 people. After the army itself fell victim to the Cultural Revolution, ordinary people used the political chaos to resurrect the market and hollow out the party’s ideology. In short, they buried Maoism. Please join us for a discussion of the horrors of the Cultural Revolution and its unintended consequences.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Reformas politicas: parlamentarismo, voto distrital misto, clausulas de barreira - Jose Serra

O Senador José Serra, parlamentarista convicto, acredita que a reforma política no Brasil deve começar pela aprovoção de uma emenda parlamentarista, para que o sistema funcione já a partir de 2018. Junto com o novo regime o sistema eleitoral baseado no modelo alemão: distrital misto, e também cláusulas de barreira para conter a fragmentação partidária (mas não se pronuncia contra o Fundo Partidário ou outras facilidades concedidas aos partidos).
Paulo Roberto de Almeida

NEM SÓ DE PÃO...
José Serra
Jornal O Estado de S. Paulo, 28 de abril de 2016

Estamos sofrendo a maior queda de produção jamais ocorrida no Brasil contemporâneo, ao lado do aumento exponencial do desemprego, contração da renda das famílias e cortes nas despesas sociais da União, estados e municípios. Este é o grande desafio a ser enfrentado de cara pelo futuro governo Temer. Como disse um de seus principais colaboradores, o ex-governador Moreira Franco: “O problema maior da sociedade brasileira é a economia. O segundo maior é a economia. O terceiro maior é a economia.”

Com vistas a deliberar sobre seu apoio a esse governo, o PSDB certamente enfatizará quais deveriam ser, no seu entendimento, os critérios de política econômica para o enfrentamento da crise. Mas há outros tópicos que serão abordados pelo partido.

Pensando no médio e longo prazo, uma demanda, a meu ver, se sobrepõe, é anterior e superior a todas as outras: a realização de profundas reformas nas instituições políticas do país. Ao melhorar a qualidade da política e a estabilidade da democracia, tais reformas terão impacto duradouro no desempenho da economia e nas perspectivas de desenvolvimento do país. Não se trata de fazer tudo de uma vez, nem a curtíssimo prazo. Mas o processo deve, sim, ser deflagrado o antes possível. E o apoio do chefe do Executivo poderá ser decisivo para isso.

A primeira grande reforma é a implantação do parlamentarismo, espécie de cláusula pétrea do programa do PSDB, em torno da qual convergiu o núcleo fundador do partido no final da Assembleia Nacional Constituinte.

O modelo de parlamentarismo que defendemos mantém a figura do presidente da República como chefe de Estado, representante da Nação no concerto mundial, comandante das Forças Armadas, intermediário nas relações entre os poderes Executivo e Legislativo nas mudanças de governo. A ele cabe escolher o primeiro-ministro, chefe do Executivo, desde que disponha de maioria do Congresso para aprovar seu programa de governo. Quando perde essa maioria, o primeiro-ministro se demite e seu governo cai, cabendo ao presidente compor outra maioria ou, se isso não for possível, convocar novas eleições parlamentares.

No parlamentarismo, governos são trocados sem grandes traumas quando perdem sustentação na sociedade e, consequentemente, no Legislativo. No presidencialismo, aquilo que deveria ser solução vira sinônimo de crise. O período pós-Constituinte mais do que confirmou o acerto dessa premissa: dos quatro presidentes eleitos desde então, um perdeu seu mandato num perturbador processo de impeachment e outra está em vias de perde-lo num processo ainda mais penoso.

A segunda grande reforma é no sistema eleitoral: voto distrital para o Legislativo, que poderá ser puro nas eleições de vereadores das cidades maiores e misto, conforme o modelo alemão, para deputados estaduais e federais. Esse é o caminho para aumentar a hoje baixíssima representatividade dos eleitos e baratear as caríssimas campanhas eleitorais. Pode haver algo mais irracional do que um entre milhares de candidatos a deputado disputar o voto de 32 milhões de eleitores em cerca de 645 municípios num estado como São Paulo?

Além de mais simples, barato e democrático, o sistema distrital facilita o funcionamento de um aspecto essencial do parlamentarismo, que é a possibilidade de se dissolver a Câmara e convocar-se antecipadamente eleições quando não se consegue formar um governo de maioria. Essa possibilidade, diga-se, tende a tornar os votos dos parlamentares no dia a dia do Congresso muito mais responsáveis. A aprovação de bombas fiscais, por exemplo, pode provocar a queda do governo e trazer eleições antes da hora, hipótese que desagradaria a maior parte dos deputados. Em outras palavras, a chance de dissolução da Câmara enfraquece o que eu tenho chamado de FUCE – Frente Única Contra o Erário. Esse fenômeno, tão brasileiro, tem si do uma presença constante no nosso Congresso, onde floresce desde a época da Constituinte, juntando parlamentares de todos os partidos e de todo o espectro ideológico.

A terceira grande reforma deveria focalizar a legislação partidária. Convenhamos: é muito difícil se governar um país e melhorar a qualidade da sua política com um sistema de partidos tão fragmentado e cartorial – graças à posse do tempo de propaganda gratuita na TV e aos recursos do fundo partidário. A mudança, no caso, requer a restrição às coligações eleitorais e o estabelecimento das chamadas cláusulas de barreira. Essas cláusulas implicam, em essência, que um partido só tenha assento na Câmara se eleger um número mínimo de representantes.

A agenda de reformas deve prever a implantação do parlamentarismo a partir das eleições de 2018. Até lá seria feita a transição para que o novo sistema funcione bem desde o início. Assim haverá tempo para discutir cuidadosamente e votar a emenda constitucional necessária. Aliás, já há várias emendas apresentadas, entre elas a do Senador Aloysio Nunes, que representa um bom ponto de partida para o debate. Além disso, se deverá promover de forma integral ou, quando for o caso, gradual, as reformas nos sistemas eleitoral e partidário. Mudanças complementares na organização do serviço público também terão que ser promovidas. Apenas para exemplificar, num sistema parlamentarista de gover no, os altos cargos dos ministérios devem ser ocupados por funcionários de carreira, incluindo os secretários executivos, que são, na pratica, vice-ministros.

Há quem argumente que mudanças como as propostas aqui não devem ser empreendidas em tempos de crise – crise profunda, diga-se. Eu penso exatamente o contrário. A crise atual não proveio apenas de erros na gestão da economia ou das transgressões à ética na política e no governo. Ela foi aberta, em 2013, antes dos escândalos e do colapso da economia, pelas imensas manifestações de rua em todo o Brasil, como reflexo da insatisfação com o desempenho do poder público em todos seus níveis e do fato de as pessoas não se sentirem representadas pelos mandatários eleitos. Nada mais apropriado do que encarar agora essas questões de frente, começando pelo próprio sistema político. Nem só de pão vive a economia.

SENADOR DA REPÚBLICA, EX-PREFEITO E EX-GOVERNADOR DE SÃO PAULO
Acompanhe novos artigos no meu site: http://www.joseserra.com.br

As tarefas da oposicao popular - Augusto de Franco (Dagobah)

A oposição popular e seus desafios
 DAGOBAH
NL 0004 - 29/04/2016

Para entender o que se passa no Brasil atual é preciso perceber, antes de qualquer coisa, que existe uma oposição popular no país, compreender a sua natureza e identificar quais são os seus principais desafios.

1 - Existe uma oposição popular no Brasil. Essa oposição é chamada de popular para não se confundir com a oposição formal, (que deveria ter sido) exercida pelos partidos de oposição (os quais receberam mandato das urnas para tanto, mas resolveram abdicar da sua missão). A oposição popular não pertence a partidos - em grande parte, aliás, desconfia dos partidos - nem está de qualquer forma atrelada às suas lideranças. Ela é composta por pessoas que votaram em candidatos de diferentes partidos, mas sua expressão não se dá - nem apenas, nem principalmente - por via eleitoral.

2 - Foi a oposição popular - e não a oposição formal - que colocou na pauta política nacional o Fora Dilma (o impeachment), o Fora Lula (Lula na cadeia) e o Fora PT (extinção do registro do partido).

3 - Foi a oposição popular que exerceu de facto a resistência democrática a um governo que se tornou ilegítimo. Essa resistência é praticada no dia a dia (e não apenas, como costumam fazer os partidos de oposição, nos períodos eleitorais), nas conversas familiares, de grupos de amigos, de colegas de estudo e trabalho, de comunidades de vizinhança, de prática, de aprendizagem e de projeto.

4 - A oposição popular não é organizada por ninguém, não tem uma liderança destacada, não segue condutores de rebanhos, não veste camisas de clubes hierárquicos, não recebe jeton, cargos ou sanduíches de mortadela em troca de sua participação (porque não se conforma dentro de ambientes participativos previamente configurados e sim ao léu da interação) e não é acarreada (levada de ônibus ou caminhão para eventos políticos) por alguém.

5 - A oposição popular não foi criada, nem é comandada, liderada, dirigida, arregimentada ou organizada, pelos grupos que se formaram para convocar manifestações, como o Vem Prá Rua, o MBL e outros menores. A atuação desses grupos foi muito importante para convocar os protestos de rua de 15 de março, de 12 de abril e de 16 de agosto de 2015 e de 13 de março de 2016. Mas não foram eles os responsáveis pelo que aconteceu. Assim como não foi o Movimento Passe Livre o responsável pelos grandes enxameamentos de junho de 2013 no Brasil. Assim como não foram as poucas dezenas de ambientalistas, que protestavam contra a remoção de um parque urbano na capital da Turquia, os responsáveis pelas grandes manifestações em Istambul em 2013. Assim como não foi a Irmandade Muçulmana no Egito a responsável pelo grande swarming de 11 de fevereiro de 2011 na Praça Tahir, que levou à queda do ditador Mubarak. Assim como não foram os numerosos grupos de todo tipo - de anarquistas à neonazistas - os responsáveis pela resistência democrática na Praça Maidan, em Kiev, em dezembro de 2014, que obrigaram Viktor Yanukovich (o agente de Putin no governo da Ucrânia) a fugir do país no início do ano seguinte. Assim como não foram Leonardo Capriles ou Leopoldo López os responsáveis pelas mega manifestações de fevereiro de 2014 em Caracas e em quase todas as cidades da Venezuela. Assim como não foram os ativistas pró-democracia Chan Kin-man, Benny Tai e Chu Yiu-ming (que fundaram o Occupy Central) os responsáveis pelos enormes enxames sociais que ocuparam as ruas de Hong Kong em setembro e outubro de 2014 (e nem mesmo aquele jovem de 17 anos, Joshua Wong, ao qual a imprensa internacional atribuiu o papel de grande líder).

6 - Os grupos que se formam centralizadamente quando a sociedade é atravessada por ondas de alta interatividade, podem atuar - a depender das circunstâncias - como agentes detonadores de fenômenos inusitados que constelam multidões, mas não são a causa desses fenômenos. Se as condições não estiverem dadas pela rede - quer dizer, pelos fluxos interativos da convivência social - esses grupos podem convocar o quanto quiserem que os fenômenos não acontecerão. No Brasil - como em todo lugar - a maioria desses grupos que foram organizados para convocar manifestações de protesto contra o governo, não entendeu até agora o que realmente acontece. Em geral são grupos ancorados no século 20, que sofrem de deficit cognitivo por dessincronia. Ou seja, eles não conseguem entender: 1) que a rede social existe (não é um epifenômeno e não se confunde com as mídias sociais); 2) que o processo é interativo (e não participativo); e 3) que seu padrão de organização é distribuído (e não centralizado ou descentralizado). Em suma eles não conseguem entender o próximo ponto:

7 - A oposição popular não é unitária e sim fractal. No fundo são as pessoas que enxameiam a partir da sua interação, nas ruas - em grandes manifestações de protestos que constelam multidões -, mas não somente nas ruas. A interação ocorre em todo lugar: nas mídias sociais, nos locais de moradia, trabalho, estudo e lazer.

8 - O surgimento de uma oposição popular com tais características só foi possível em razão do aumento da interatividade na sociedade-em-rede. Ela começou a se manifestar mais visivelmente a partir dos grandes swarmings de junho de 2013, sem um pauta política explícita, mas expressando descontentamento com o sistema como um todo (e não apenas com os governantes), notadamente com um sistema representativo que apodreceu (era o que mais se ouvia em 2013: "vocês não nos representam"). Com o tempo, sobretudo após as eleições de 2014, a oposição popular expressou uma pauta explicitamente política contra a governante (Dilma), contra o líder máximo do partido no governo (Lula) e contra esse partido (o PT). Essa pauta não foi previamente elaborada e incutida "nas massas" por alguma organização centralizada, mas emergiu das ruas, por cloning (uma fenomenologia da interação), em todos os lugares do país.

Isto posto, cabe examinar agora quais são os principais desafios da oposição popular, que são também desafios para quem pretende falar em seu nome (o que é, a rigor, impossível, dada a sua natureza fractal, à sua forma distribuída de organização e à sua dinâmica mais interativa do que participativa ou adesiva).

São dois os principais desafios da oposição popular na conjuntura. O primeiro deles é não morrer.

Consumado o impeachment (e ele se consumará - em termos políticos - nos próximos dias, com a saída da presidente da República após a primeira votação do plenário do Senado e não no final do julgamento, daqui a seis meses), o governo será assumido por Temer, na condição de vice-presidente, em obediência à Constituição. Mas a oposição popular nada tem a ver com Temer e deve continuar na resistência democrática. Quem tem a obrigação de ajudar o governo, assumindo funções institucionais de governança, são os partidos de oposição, como o PSDB, o DEM, o PPS e as demais agremiações que saíram da base aliada para apoiar o impeachment.

Nada disso significa que a oposição popular esteja contra as instituições do Estado democrático de direito. Significa, porém, que não cabe a ela entrar no jogo formal, que é papel dos partidos e dos demais atores formais da democracia representativa. E significa, sobretudo, que a energia política das pessoas que se manifestam autonomamente não pode ser canalizada para servir ao governo Temer. Do contrário elas perderão sua autonomia e sua capacidade de continuar questionando, não apenas o governo (tanto o que caiu, como o que vai lhe suceder), mas o regime (no sentido de democratizá-lo cada vez mais) e o sistema (que apodreceu).

Seria um erro grave a oposição popular pendurar as chuteiras confiando que "ainda existem juízes em Brasília", concluindo que já realizou sua tarefa e passando o bastão para as instituições. Se a oposição popular fizer isto, estará morta.

Isso é grave. Pois se as ruas não continuarem falando, nada estará garantido. A saída de Dilma é decisiva, mas é apenas o primeiro passo da redemocratização!

Sim, o primeiro grande desafio agora é a redemocratização, ou seja, a retomada do processo de democratização que foi enfreado por treze anos de domínio autocratizante do PT.

O segundo grande desafio da oposição popular é impedir que se instale no país um clima de guerra civil fria de longa duração. Este assunto já foi tratado em outro texto, mas sobre ele cabe dizer ademais algumas palavras. Para não morrer - manter seus laços como força orgânica e seu enraizamento em setores sensíveis da sociedade - o PT precisará de um ambiente de guerra, erigindo no espaço-tempo dos fluxos um muro de separação entre os que estão a seu favor e os que estão contra ele. Precisará estabelecer uma dualidade de poder (em termos gramscianos, não leninianos), mais no plano simbólico ou cultural do que no terreno da confronto violento, pervertendo a política como continuação da guerra por outros meios (a famosa fórmule-inverse de Clausewitz-Lenin que mata a política democrática). Esse comportamento do PT provocará uma clivagem na sociedade brasileira que tende a incidir em todas as formas estáveis de sociabilidade, a começar das famílias (com dissensões que separarão e colocarão uns contra outros: pais contra filhos, irmãos contra irmãos, esposos contra esposas), dos grupos de amigos (que agora serão grupos de amigos x grupos de inimigos) e de colegas de trabalho, estudo, esporte, lazer. Tudo vai ser pervadido por um ethos adversarial, que se expressará - numa intensidade jamais vista entre nós - na campanha eleitoral de 2018. As instituições - o governo, o parlamento, o judiciário - não têm instrumentos para reconfigurar esses ambientes sociais que serão infectados pelos germens de inimizade inoculados pelo PT. Só a oposição popular poderá fazê-lo.

Por isso é fundamental a continuidade da resistência democrática. A resistência democrática não é apenas uma resistência contra um governo e sim uma resistência contra as tentativas de autocratizar a democracia, que só podem florescer em ambientes de guerra. Cabe a ela derrubar os muros que serão (já estão sendo) erigidos pelos agentes da guerra fria, na cabeça dos quais o muro de Berlim ainda não caiu. Desarmar a disposição para a guerra através de um comportamento pazeante, impedindo que a rede seja esgarçada pela ação beligerante da militância ou que nosso capital social continue sendo dilapidado. A paz, sim, só a paz poderá abrir um caminho efetivo para isso.

ESTE ARTIGO É PARTE DE UMA ANÁLISE PROFUNDA DISPONÍVEL AOS ASSINANTES. PARA RECEBER O ARTIGO COMPLETO E OS COMENTÁRIOS DE AUGUSTO DE FRANCO EM VÍDEO,
ASSINE DAGOBAH - INTELIGÊNCIA DEMOCRÁTICA.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Mais aulas de economia - Rodrigo Philemon (10 videos)

Parece interessante, mas ainda preciso assistir.
Neste link: https://www.youtube.com/playlist?list=PLggXT4MqJ2DrbbfQZITBMWFL1cWxhdgfA
Paulo Roberto de Almeida

Economia Brasileira - A história contada por quem a fez

  • Caio Carlini
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  • Última atualização em 19 de abr de 2016
EP01 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


27:52


EP02 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


27:51


EP03 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


27:51


EP04 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


27:51


EP05 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


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EP06 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


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EP07 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


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EP08 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


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EP09 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


27:52


EP10 Economia Brasileira - A Historia Contada Por Quem A Fez


26:10

Você só vai ficar sem dormir uma dessas noites. Não deixe de ver...
Paulo Roberto de Almeida