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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Retrato do futuro chanceler - VICE Brasil

Ernesto Araújo: o diplomata que leva ideias de comentarista de portal ao Itamaraty

Na série que apresenta os ministros do presidente eleito do Brasil, a VICE conta a história do futuro dono da pasta de relações exteriores.

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Por Fernando Cesarotti; ilustrado por Cassio Tisseo
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Dec 18 2018, 12:58pm



Imagine um blogueiro que se define como alguém disposto a “ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista, pilotada pelo marxismo cultural”. Agora pense nesse blogueiro como chefe da diplomacia brasileira, ministro das Relações Exteriores, responsável pela relação do Brasil com os outros países. Pois é: na distopia a cores e de carne e osso que virou o Brasil de Jair Bolsonaro, o chanceler Ernesto Araújo coloca no “about me” de seu blog que seu projeto, que batizou como “metapolítico”, “significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história”.
Mas o fato é que Ernesto de louco não tem nada, apesar de replicar em seu discurso baboseiras dignas dos conspiracionistas mais rasteiros, daquelas repetidas à exaustão pelos comentaristas de portal. Esse diplomata de 51 anos, quase 30 deles a serviço do Itamaraty, é na verdade bastante esperto, e soube cavar o espaço para chegar a um governo que quase não tinha quadros para encher um ministério.
O próprio blog, em que Ernesto Araújo fez críticas severas ao PT (“partido terrorista”), teve seu primeiro texto publicado apenas em 22 de setembro deste ano, a menos de um mês do primeiro turno das eleições, já depois do atentado sofrido por Bolsonaro em Juiz de Fora (MG). No último domingo, reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que até pessoas próximas ao futuro ministro se surpreenderam com seu posicionamento repentino de ultradireita. Está lá: “Diplomatas que trabalharam com Araújo em diferentes momentos de sua trajetória falam bem dele como colega e profissional, mas, protegidos pelo anonimato, se dizem desconcertados diante das facetas de sua personalidade reveladas agora”.
Como bom diplomata, Ernesto passou em 1989 pela finíssima peneira do concurso do Instituto Rio Branco: foi o nono colocado entre 24 aprovados. Um de seus primeiros postos de trabalho foi na equipe que negociava o primeiro grande tratado comercial multilateral que envolveu o Brasil: o Mercosul, criado oficialmente em 1991. Passou depois pela missão do Brasil junto à União Europeia, com sede em Bruxelas, na Bélgica, e pela embaixada em Berlim, na Alemanha.
No governo do “partido terrorista”, Araújo não pareceu ter problemas. Ao contrário, seguiu subindo na carreira, chegando a chefe de divisão no Itamaraty. Em 2008, escreveu uma tese para ser promovido em que defendia não apenas as relações multilaterais do Brasil como a postura do governo Lula nesse tipo de negociação. No mês passado, o Nexo publicou um texto apontando as contradições entre as ideias atuais de Araújo e as de dez anos atrás.
Ernesto Araújo ainda nem assumiu o posto e já tem um abacaxi complexo para descascar. O primeiro é a questão da embaixada do Brasil em Israel: o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho mais “americanizado” do presidente eleito, já prometeu mais de uma vez a mudança para Jerusalém, seguindo estratégia simbólica do governo Donald Trump de firmar posição favorável aos israelenses no eterno conflito com os palestinos, A medida é considerada um risco por ameaçar as relações comerciais do Brasil: em 2017, o superávit comercial nacional com países da Liga Árabe, que vive às turras com Israel, foi superior a US$ 7 bilhões. No dia do anúncio de Araújo, o presidente eleito confirmou o desejo de mudar a embaixada, mas sem dar prazo para que a medida vire realidade.
A saída de Cuba do programa Mais Médicos nem chega a ser um problema direto para Ernesto Araújo – é muito mais uma bucha de canhão na mesa de Luiz Henrique Mandetta, futuro ministro da Saúde. Mas obviamente é uma crise que respinga nas relações internacionais, assim como as recorrentes trocas de farpas entre os Bolsonaro e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
O vizinho problema, aliás, já causou o primeiro ruído para o novo ministro: a atual gestão do Itamaraty chegou a convidar Maduro para a posse, mas retirou o convite a pedido da equipe de transição. Maduro obviamente recusou a cortesia e ainda sapateou em cima: “O governo socialista, revolucionário e livre da Venezuela jamais assistiria a posse de um presidente que é a expressão da intolerância, do fascismo e da entrega a interesses contrários aos da integração latino-americana e caribenha", escreveram os venezuelanos em nota divulgada pelo chanceler Jorge Arreaza no Twitter.
Nada de grave ou que vá mudar a cotação do mercado, mas que serve como alerta para Ernesto Araújo: administrar as relações do Brasil num mundo globalizado (ou mesmo “globalista”, no seu linguajar tosco), é bem mais complexo do que encher um blog com textos oportunistas. Bem-vindo ao mundo real, chanceler.

Nome: Ernesto Henrique Fraga Araújo
Idade: 51
Ministério: Relações Exteriores
Formação: Licenciatura em Letras, pela Universidade de Brasília
Partidos: nenhum


Acompanhe os perfis de todos os ministros do Brasil na série A banca de Bolsonaro. Novos textos às terças e sextas-feiras.Siga a VICE Brasil no Facebook , Twitter , Instagram e YouTube

Lula's Foreign Policy: Regional and Global Strategies (2008) - Paulo R. Almeida

Hi Paulo Roberto, 
Congratulations! You uploaded your paper 2 days ago and it is already gaining traction. 
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You got 38 views from Portugal, Brazil, the United States, Thailand, the United Republic of Tanzania, Germany, Slovakia, France, India, Nigeria, the United Kingdom, and Cuba on "Lula's Foreign Policy: Regional and Global Strategies (2008)". 
Thanks,
The Academia.edu Team

Marinha do Brasil: programa de submarinos - Pesquisa Fapesp

Avanços extremamente promissores do ponto de vista tecnológico.
Paulo Roberto de Almeida


ENGENHARIA NAVAL
Marinha lança ao mar o Riachuelo, o primeiro de cinco submarinos que estabelecerão novo patamar tecnológico para a indústria naval brasileira

Revista Fapesp, Edição 274dez. 2018


Cerimônia de integração do Riachuelo, realizada no início de 2018
Marinha do Brasil

Após seis anos de construção, está previsto para ser lançado ao mar em dezembro em Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, o Riachuelo, o primeiro de cinco submarinos, quatro convencionais e um de propulsão nuclear, que estão sendo fabricados no país e integram o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) da Marinha do Brasil. Além de patrulhar e defender a chamada Amazônia Azul – área marítima de 4,5 milhões de quilômetros quadrados rica em biodiversidade e recursos como as reservas de petróleo do pré-sal –, os submarinos são um importante impulso ao desenvolvimento tecnológico da indústria naval brasileira.
O valor estimado a ser aplicado no Prosub é de R$ 31,85 bilhões. O programa contempla a edificação de um complexo industrial em Itaguaí com dois estaleiros – um de construção e outro para manutenção –, uma base naval e a Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas. Após o Riachuelo, o cronograma prevê a finalização dos submarinos convencionais Humaitá em 2020, Tonelero em 2021 e Angostura em 2022. O lançamento do submarino nuclear, o SN-BR Álvaro Alberto, está previsto para 2029. Com ele, o Brasil pretende se inserir no grupo de detentores da tecnologia de submarinos nucleares, formado por apenas seis países: China, Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e Índia.
Na medida em que ficarem prontos, os novos submarinos convencionais da classe S-BR Riachuelo irão substituir a atual frota composta por cinco embarcações da classe Tupi, informa o almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, anunciado ministro de Minas e Energia semanas depois de ter sido entrevistado para esta reportagem. Os submarinos Tupi foram fabricados nos anos 1980 e 1990, sendo um deles construído na Alemanha e os demais no Brasil, numa tarefa realizada pela Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) em parceria com o Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro.



A modernização da frota convencional já garante um aumento do poder de monitoramento e defesa das águas brasileiras, já que os novos submarinos Riachuelo têm maior autonomia do que os da classe Tupi – podem ficar 70 dias em missão, diante de 45 das embarcações atuais. O nuclear, porém, elevará essa capacidade a um novo patamar. Um convencional é impulsionado por motor elétrico alimentado a óleo diesel. Como a combustão do óleo diesel depende de oxigênio, a embarcação precisa emergir em geral duas vezes ao dia para captar o gás da atmosfera, ou, pelo menos, estender até a superfície um tubo chamado snorkel. Precisa também de reabastecimento regular de diesel. Nesses momentos, a embarcação fica exposta e se torna alvo mais fácil de ser atacada em situações de conflito.
Já os submarinos com propulsão nuclear são menos vulneráveis. Sua fonte de energia é um reator nuclear, cujo calor gerado vaporiza água, possibilitando o emprego desse vapor em turbinas. Dependendo do arranjo de cada submarino, as turbinas podem acionar geradores elétricos ou o próprio eixo propulsor. Nos dois casos, produz toda a energia necessária à vida a bordo. “Por possuírem fonte virtualmente inesgotável de energia, podem ficar submersos por tempo teoricamente ilimitado”, explica o almirante Bento. Dessa forma, a autonomia dos submarinos – entendida como o tempo fora da base – é limitada apenas pela resistência física e psicológica das tripulações e pelo estoque de mantimentos. A Marinha dos Estados Unidos definiu esse tempo em seis meses.
Outra vantagem dos submarinos com propulsão nuclear é a velocidade de deslocamento. Enquanto os convencionais se movem a uma velocidade média de 6 nós (aproximadamente 11 km/hora), os com propulsão nuclear chegam a 35 nós – quase 65 km/hora. Com isso, podem cobrir rapidamente maiores distâncias. “A disponibilidade de submarinos com propulsão nuclear aumentará significativamente a dinâmica operativa da força. As características dessas embarcações, como grande mobilidade e poder de ocultação, garantem expressiva capacidade de dissuasão na defesa da Amazônia Azul”, afirma o militar.

Transferência de tecnologia
O Prosub é resultado de um acordo de cooperação assinado em 2008 entre os governos do Brasil e da França, com participação de empresas públicas e privadas sob coordenação da Marinha brasileira. A parceria determina que os franceses não apenas assessorem os brasileiros na construção dos submarinos, como também ajudem a projetá-los. A França contribui com a tecnologia não nuclear para os projetos e construções, sendo a Naval Group, companhia que até 2017 atendia pelo nome de Direction des Constructions Navales et Services (DCNS), a responsável pela transferência do know-how.
A empresa brasileira envolvida no projeto é a construtora Norberto Odebrecht (CNO), que constituiu com a DCNS uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), a Itaguaí Construções Navais (ICN), em que a Marinha do Brasil tem uma ação preferencial (golden share). A ICN é a responsável pela construção dos estaleiros, da base naval e dos submarinos. A Unidade de Fabricação de Estruturas Metálicas é um de seus braços operacionais. Segundo o almirante Albuquerque, o desafio tecnológico do projeto está sendo superado com transferência de tecnologia em diversas áreas, incluindo a infraestrutura industrial, a construção dos submarinos e o sistema de controle e combate – o projeto da propulsão nuclear não faz parte do acordo. O processo de transferência de tecnologia envolve o fornecimento por parte dos franceses de informações e dados técnicos sobre os submarinos, cursos de capacitação, treinamentos específicos realizados na França e assistência técnica.
Outra ação prevista no Prosub é a nacionalização de equipamentos e componentes tanto para a construção da infraestrutura como das embarcações. O programa prevê a transferência de tecnologia para companhias brasileiras selecionadas. Até o momento, 52 empresas nacionais já se envolveram no Prosub, como a catarinense WEG, responsável pelo fornecimento de motores elétricos, e as paulistas Adelco, especializada em sistemas de energia, e Newpower, encarregada de desenvolver baterias adequadas aos submarinos.
O Prosub é fruto de um acordo de cooperação assinado entre os governos do Brasil e da França em 2008
Uma tecnologia considerada crítica pela Marinha para o sucesso do projeto é o sistema de combate dos submarinos, responsável pelo controle e gestão dos seis tubos lança-torpedos que equipam o Riachuelo. A tarefa ficou a cargo da Fundação Ezute, instituição privada sem fins lucrativos criada em 1997 credenciada como empresa estratégica de defesa (EED) pelo Ministério da Defesa.
O processo de nacionalização desse sistema teve início em 2011, com o envio de nove profissionais da fundação para treinamento na França em engenharia e integração de sistemas e desenvolvimento do software de gerenciamento Combat Management System (CMS). “Nossos engenheiros foram os responsáveis pela criação dos módulos que permitem a comunicação do submarino com o link de dados táticos usado pela Marinha em seus navios”, informa Andrea Hemerly, diretora para o mercado de defesa da Fundação Ezute.
Integração de sistemas
De volta ao Brasil em 2015, a equipe passou a multiplicar o conhecimento adquirido, treinando novos membros para o projeto e apoiando a Marinha na integração dos sistemas dos submarinos da classe Riachuelo e no projeto preliminar do sistema de combate do SN-BR. “Estamos confiantes em que o Brasil alcançará seu objetivo de obter autonomia em engenharia e integração de sistemas de combate de submarinos, bem como para especificação, projeto, desenvolvimento e integração do sistema de combate do primeiro submarino com propulsão nuclear feito no país”, afirma Andrea Hemerly.
O engenheiro naval Luis De Mattos, presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia Naval (Sobena), diz que o Brasil tem um corpo técnico preparado e uma estrutura industrial ampla, o que facilita a absorção de tecnologia. “O que faltava era oportunidade. E é o que o Prosub está criando”, diz. Para Mattos, foi importante a Marinha estabelecer objetivos claros na nacionalização de tecnologia, que começa com um índice de 20% de conteúdo local no Riachuelo e cresce progressivamente em cada nova embarcação. “O Prosub permitirá ao Brasil entrar em um grupo seleto de países capacitados para construir seus próprios submarinos. No futuro poderemos até participar de licitações internacionais”, avalia.
O sonho da propulsão nuclear

Projeto do submarino com reator nuclear teve início em 1979 e só deve estar finalizado no final da próxima década

 Imagem ilustrativa do submarino nuclear em construção no Brasil
Marinha do Brasil via Defesa Aérea & Naval

A construção de submarinos de propulsão nuclear é uma meta perseguida pelo governo desde 1979, quando foi criado o Programa Nuclear da Marinha do Brasil (PNMB). Seu objetivo era obter capacitação técnica para projetar, construir, operar e manter sistemas de propulsão naval com reatores nucleares, assim como deter o ciclo de produção do combustível nuclear. O desenvolvimento do sistema de propulsão nuclear do submarino SN-BR Álvaro Alberto é de responsabilidade exclusiva da Marinha, que já iniciou a implantação do Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica (Labgene) em Iperó (SP). “O Labgene possibilitará a simulação da operação do reator e dos sistemas eletromecânicos a ele integrados”, diz o almirante de esquadra Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior, diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha.
Para que o PNMB atinja seu objetivo é vital que o país domine a tecnologia do ciclo do combustível nuclear e dos reatores do tipo água pressurizada, conhecidos pela sigla PWR (pressurized water reactors), usados em usinas nucleares e na propulsão de submarinos. “Dentre as etapas do ciclo do combustível, a separação isotópica é a que agrega maior valor tecnológico e a mais complexa.  Por isso, a Marinha priorizou o enriquecimento de urânio como a primeira etapa a ser dominada”, conta o militar. Entre as tecnologias de enriquecimento, a mais promissora foi a de ultracentrifugação. As primeiras máquinas de ultracentrifugação feitas no Brasil iniciaram operação em 1982.
Com isso, o país avançou no desenvolvimento de novos materiais, sensores eletrônicos e novas válvulas para operação com hexafluoreto de urânio (UF6) – composto usado no enriquecimento de urânio –, o que impulsionou centros de pesquisas em indústrias e universidades.
Apesar dos avanços, a construção do submarino nuclear sofreu dificuldades e o cronograma teve de ser revisto. Em 2008, quando Brasil e França firmaram a parceria que daria origem ao Programa de Desenvolvimento de Submarinos, a previsão era de que o nuclear ficaria pronto em 2021. O prazo, agora, é 2029, meio século após o início do projeto.
Para o especialista em assuntos de defesa Bernardo Wahl de Araújo Jorge, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, além das restrições orçamentárias do governo federal, a demora na concretização do projeto se deveu a dificuldades para dominar o ciclo de propulsão nuclear, o que inclui o processo de produção do combustível.
“Esse não é um tipo de tecnologia que costuma ser transferido de um país para outro. Exército, Marinha e Aeronáutica desenvolveram programas tecnológicos buscando formas de enriquecer o urânio. O da Marinha prevaleceu, por ser o mais eficiente”, diz Jorge. “Se esse submarino tivesse sido prioritário para todos os governos e se não houvesse contingenciamento, o atraso seria anormal. Como isso não aconteceu, o tempo amplo que está levando para a sua conclusão não é tão excepcional.”

Chanceler designado propõe pacto de nacoes cristas: EUA, Brasil, Russia (FSP)

Artigo de Ernesto Araújo selou sua nomeação ao novo governo
Um artigo reservado do diplomata Ernesto Araújo com proposições de política externa, tais como a “contestação ao eixo globalista China-Europa-esquerda americana”, selou seu ingresso na equipe ministerial do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).
O texto, obtido pela Folha, que Araújo fez chegar ao núcleo da campanha em setembro, foi o primeiro passo para sua posterior nomeação como chanceler do futuro governo.
Intitulado “Por uma política externa do povo brasileiro”, o artigo, de cinco páginas, é propositivo, uma espécie de carta de intenções.
Nele, o diplomata revisa o pacifismo nacional (“não estamos no mundo para ser Miss Simpatia”) e sugere um realinhamento internacional do Brasil com o eixo de direita populista em ascensão.
“É o caso dos Estados Unidos com Donald Trump, da Itália com seu atual governo, de alguns países da Europa do Leste como Polônia e Hungria. É o caso talvez de alguns países não ocidentais que desejam defender suas próprias civilizações e suas nações frente ao globalismo dominante”, escreve.
Em sua interpretação, “há países que resistem à demonização do sentimento nacional, ao esmagamento da fé (principalmente da cristã), que rejeitam o esvaziamento da alma humana e sua substituição por dogmas anêmicos que servem apenas aos interesses de dominação mundial de certas elites”. 
Folha o procurou para comentar o teor. Araújo respondeu que era complicado e que conversaria a respeito depois, o que não ocorreu.
Com a vitória nas urnas, a primeira das sugestões do artigo já foi anunciada: a saída do Brasil do Pacto Mundial para Migração, que propõe a cooperação internacional para enfrentar ondas migratórias.
No texto, Araújo já defendia o que chamou de “dessacralização da imigração, combatendo a ideologia do ‘imigrante intocável’, do direito universal à migração sobrepondo-se à soberania nacional”.
O texto propõe a “renacionalização das políticas comerciais”, alegando não se tratar “de negar o comércio, mas de tornar a política comercial um instrumento do Estado, e não [fazer do] Estado um instrumento da política comercial”. 
Nessa linha, Araújo defende que o Brasil questione os Brics, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Sugeriu que se tente, no lugar, constituir “um agrupamento nacionalista Brasil – EUA – Itália – (Rússia?) – (Índia?) – (Japão?) – (países de Visegrado?)”, em suma “um Brics antiglobalista sem a China”.
Os países de Visegrado são Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia.
Sem entrar em detalhes, o futuro chanceler faz uma proposição inusitada no campo da geopolítica, que causou estranhamento entre interlocutores de Bolsonaro. Para Araújo, conviria ao governo “explorar a possibilidade de um núcleo composto pelos três maiores países cristãos, Brasil-EUA-Rússia”.
Ele expressa preocupação particular com a questão da fé, requerendo “promoção da liberdade religiosa, notadamente defesa do espaço para o exercício da fé cristã, ameaçada e acuada em todo o mundo”.
À China são reservadas numerosas linhas. Araújo quer impor ao país, principal parceiro comercial do Brasil, “pressão em todas as frentes”. 
“Condicionar qualquer avanço na relação com esses países ao exercício da liberdade religiosa e liberdades políticas básicas”, propõe. “Utilizar os organismos financeiros internacionais para frear a crescente dependência dos países em desenvolvimento em relação ao capital chinês. Virar o jogo da globalização contra a China.”
Em sintonia com o discurso de Bolsonaro, Araújo defende a “liquidação do bolivarianismo nas Américas”. Segundo o diplomata, “o Brasil poderia comandar o processo de deslegitimação do governo Maduro na Venezuela e pressão total, juntamente com os EUA, para sua substituição por um regime democrático”.

La Boetie à l’usage de tous

DISCOURS DE LA SERVITUDE VOLONTAIRE
ÉDITIONS BOSSARD
43, RUE MADAME, 43
PARIS, 1922


INTRODUCTION
Paul BONNEFON

INTRODUCTION


DANS sa brève existence de trente-deux ans, si La Boétie eut le temps de composer plusieurs opuscules, fort divers d’allure et de ton, il ne put en publier aucun. Montaigne lui-même, héritier des papiers de son ami disparu, imprima, dès 1571, les vers latins ou français de La Boétie et ses traductions de Xénophon et de Plutarque, mais il ne jugea pas à propos de divulguer ni le Discours de la Servitude volontaire, ni les Mémoires de nos troubles sur l’édit de janvier 1562, dont Montaigne confesse formellement la paternité à La Boétie, mais à qui il trouvait « la façon trop délicate et mignarde pour les abandonner au grossier et pesant air d’une si malplaisante saison ».
Ainsi, l’histoire de l’œuvre de La Boétie débutait sur une double obscurité : Montaigne, qui imprimait les ouvrages de son ami ne pouvant soulever aucune difficulté, se taisait au contraire délibérément, sur tous ceux qui pouvaient prêter à controverse ; et ce silence offrait de la sorte, au contraire, matière à commentaires dont on ne devait pas se priver. 
(...)

La Boetie, trechos: 

Ainsi donc, si les habitants d’un pays ont trouvé quelque grand personnage qui leur ait montré par épreuve une grande prévoyance pour les garder, une grande hardiesse pour les défendre, un grand soin pour les gouverner ; si, de là en avant, ils s’apprivoisent de lui obéir et s’en fier tant que de lui donner quelques avantages, je ne sais si ce serait sagesse, de tant qu’on l’ôte de là où il faisait bien, pour l’avancer en lieu où il pourra mal faire ; mais certes, si ne pourrait-il faillir d’y avoir de la bonté, de ne craindre point mal de celui duquel on n’a reçu que bien.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Assim é, se lhe parece: política comercial dos EUA, na visão do novo Brasil

Para Brasil, ‘EUA têm regime tarifário aberto’
Jamil Chade, Genebra
O Estado de S. Paulo, 17/12/2018
A duas semanas da posse do presidente eleito e em meio a uma guerra comercial, o Brasil cobriu de elogios os EUA em sabatina nesta segunda, 17, na Organização Mundial do Comércio (OMC). Não citou a proliferação de medidas protecionistas nem o bloqueio da Casa Branca aos trabalhos dos tribunais da OMC, informa o correspondente Jamil Chade. A diplomacia brasileira ainda felicitou os americanos por manterem um regime tarifário “aberto”. China e União Europeia fizeram críticas “radicais” aos EUA.
Os maiores afetados pelas barreiras foram os chineses, que enfrentam 116 medidas americanas. Até meados de 2018, o Brasil foi o oitavo país mais afetado por medidas antidumping dos EUA, com 12 casos em apenas seis meses. Em todo o ano de 2017, por exemplo, foram apenas 11 medidas contra o Brasil. Em 2015, foram sete.

O mundo segundo Washington: declínio de um imperio - The Washington Post

December 17, 2018
 Here’s how Haass sets up his history lesson on the Concert of Europe
If the end of every order is inevitable, the timing and the manner of its ending are not. Nor is what comes in its wake. Orders tend to expire in a prolonged deterioration rather than a sudden collapse. And just as maintaining the order depends on effective statecraft and effective action, good policy and proactive diplomacy can help determine how that deterioration unfolds and what it brings. Yet for that to happen, something else must come first: recognition that the old order is never coming back and that efforts to resurrect it will be in vain. As with any ending, acceptance must come before one can move on.
"In the search for parallels to today’s world, scholars and practitioners have looked as far afield as ancient Greece, where the rise of a new power resulted in war between Athens and Sparta, and the period after World War I, when an isolationist United States and much of Europe sat on their hands as Germany and Japan ignored agreements and invaded their neighbors. But the more illuminating parallel to the present is the Concert of Europe in the nineteenth century, the most important and successful effort to build and sustain world order until our own time. From 1815 until the outbreak of World War I a century later, the order established at the Congress of Vienna defined many international relationships and set (even if it often failed to enforce) basic rules for international conduct. It provides a model of how to collectively manage security in a multipolar world.
"That order’s demise and what followed offer instructive lessons for today—and an urgent warning. Just because an order is in irreversible decline does not mean that chaos or calamity is inevitable. But if the deterioration is managed poorly, catastrophe could well follow.”
• A report prepared for the Senate that provides the most sweeping analysis yet of Russia’s disinformation campaign around the 2016 election found the operation used every major social media platform to deliver words, images and videos tailored to voters’ interests to help elect President Trump — and worked even harder to support him while in office, report my colleagues:
“The report, a draft of which was obtained by The Washington Post, is the first to study the millions of posts provided by major technology firms to the Senate Intelligence Committee, led by Sen. Richard Burr (R-N.C.), its chairman, and Sen. Mark Warner (Va.), its ranking Democrat. The bipartisan panel hasn’t said if it endorses the findings. It plans to release it publicly along with another study later this week.
"The research — by Oxford University’s Computational Propaganda Project and Graphika, a network analysis firm — offers new details on how Russians working at the Internet Research Agency, which U.S. officials have charged with criminal offenses for meddling in the 2016 campaign, sliced Americans into key interest groups for targeted messaging. These efforts shifted over time, peaking at key political moments, such as presidential debates or party conventions, the report found.”
• At a time when Congress is trying to challenge Trump’s pursuit of war in Yemen, my colleague Liz Sly points in a lengthy piece to a hidden war that the president has advanced in Syria:
“The commitment is small, a few thousand troops who were first sent to Syria three years ago to help the Syrian Kurds fight the Islamic State. President Trump indicated in March that the troops would be brought home once the battle is won, and the latest military push to eject the group from its final pocket of territory recently got underway.
"In September, however, the administration switched course, saying the troops will stay in Syria pending an overall settlement to the Syrian war and with a new mission: to act as a bulwark against Iran’s expanding influence.
"That decision puts U.S. troops in overall control, perhaps indefinitely, of an area comprising nearly a third of Syria, a vast expanse of mostly desert terrain roughly the size of Louisiana.
"The Pentagon does not say how many troops are there. Officially, they number 503, but earlier this year an official let slip that the true number may be closer to 4,000. Most are Special Operations forces, and their footprint is light. Their vehicles and convoys rumble by from time to time along the empty desert roads, but it is rare to see U.S. soldiers in towns and cities.
"The new mission raises new questions, about the role they will play and whether their presence will risk becoming a magnet for regional conflict and insurgency.”
• An investigation by the New York Times digs up damning evidence of how the powerful U.S. consulting firm McKinsey abets anti-democratic regimes and practices. It kicks off its story at a desert retreat for the company’s associates in China:
“For a quarter-century, the company has joined many American corporations in helping stoke China’s transition from an economic laggard to the world’s second-largest economy. But as China’s growth presents a muscular challenge to American dominance, Washington has become increasingly critical of some of Beijing’s signature policies, including the ones McKinsey has helped advance.
"One of McKinsey’s state-owned clients has even helped build China’s artificial islands in the South China Sea, a major point of military tension with the United States.
"It turns out that McKinsey’s role in China is just one example of its extensive — and sometimes contentious — work around the world, according to an investigation by The New York Times that included interviews with 40 current and former McKinsey employees, as well as dozens of their clients.
"At a time when democracies and their basic values are increasingly under attack, the iconic American company has helped raise the stature of authoritarian and corrupt governments across the globe, sometimes in ways that counter American interests.”

40 anos de relações EUA-China: trade war trumpista e serenidade chinesa

Enquanto Mister Trump pretende, eroticamente, enfrentar a China, não se sabe bem por quais motivos legítimos – sim, tem os falcões e os paranóicos americanos, que acreditam que a China é o grande inimigo dos EUA –, os chineses, e colegas acadêmicos americanos interagem sobre os 40 anos de relações bilaterais entre os dois países. Não vamos edulcorar a postura chinesa, que é oportunista por todas as vias possíveis, e denegrir a postura americana, por mais idiota que ela seja. A verdade é que a velha Guerra Fria geopolítica dos tempos da URSS (que deu dois suspiros e depois morreu) foi agora substituída por uma nova Guerra Fria, econômica desta vez. Em função da estupidez americana atual, os chineses estão ganhando essa guerra fria econômica, e vão continuar ganhando, enquanto o governo americano tiver um aloprado em seu comando...
Paulo Roberto de Almeida

Experts reflect on 40 years of Sino-US ties

Ni Tao

Chief Opinion Writer, Shanghai Daily, December 16, 2018
Confucius once said, “At forty, I had no doubts.”
For a man, age forty is construed as a mark of maturity, the beginning of a phase in life moderated by a deflated ego, a mild temperament, and most important, the freedom from doubts and bewilderment.
But the sage’s musings don’t necessarily apply to relations between countries. China and the United States, who will soon be celebrating the 40th anniversary of the normalization of their diplomatic ties next year, apparently are far from attaining maturity in their ties.
The world’s two largest economies have been locking horns in a possibly protracted trade war that has destabilized world markets and unnerved international observers.
At a forum held in Shanghai on December 13, leading scholars from China and the US called on the public to look beyond newspaper headlines to take a long view of the achievements and setbacks of the bilateral relations.
David M. Lampton, professor at Johns Hopkins School of Advanced International Studies, recalled his first visit to China in 1976, when he was travelling with a US delegation of scientists, and saw the real China he became fascinated with while growing up in Palo Alto, California, an area teeming with Chinese immigrants.
“The big phrase then was zi li geng sheng, or self-reliance,” said Lampton.
But in the era of the new Chinese leadership, especially since President Xi Jinping took office, “we hear more phrases like interdependence, that China will do things that it is best at doing and rely on the world system for some of the things it is not so good at doing,” he noted.
As president of the National Committee on United States-China Relations from 1988 to 1997, Lampton once received a Chinese delegation headed by five mayors, including the then Shanghai mayor Zhu Rongji, who was to become the country’s premier.

Vision and statesmanship

He was impressed by the pragmatism, vision and statesmanship of leaders like Zhu, who paved the way for a more constructive and eventually one of the world’s most important bilateral relationships.
His views were echoed by many of the forum’s attendees, including Zhou Wenzhong, China’s ex-deputy foreign minister and former ambassador to the US. Having served in the Chinese mission in the US for 16 years, Zhou had dealings with every US administration since President Jimmy Carter.
Some of the high moments of his career involved handling crises like the August 17, 1982 China-US Communiqué on arms sales to Taiwan, the US-led NATO’s bombing of the Chinese embassy in Belgrade in 1999, and the spy plane crash over the South China Sea in 2001.
Despite all these upheavals that could have derailed Sino-US relations, the two countries, mindful of the “bigger picture,” have managed to overcome their differences and expand their common interests. Consequently, the bilateral ties on the whole have been “fairly successful,” said Zhou.
However, the veteran diplomat said he did note disconcerting developments exemplified by the Trump administration’s initiation of a tariff war and other acts of provocation.
Having recently returned from a trip to the US, where he hobnobbed with old friends from the business and academic community, Zhou observed that many Americans too were concerned about the extent to which President Trump appears ready to push his trade demands.
To prove that China’s market is increasingly important to American manufacturers and exporters, he cited the skyrocketing sales of American bourbon whisky in China.
The booze has seen its sales leap 1,200 percent over the past 20 years, and China is a key factor behind that dramatic growth. “Last year alone, China contributed approximately US$9 million to the US bourbon whisky’s global sales,” said Zhou.

An ‘inside out’ perspective

Agricultural products are a bulk of American exports to China. Soybeans shipped to China, for example, account for almost 60 percent of the total US soybean exports.
Therefore, Zhou believed the tit-for-tat tariffs are in no country’s interests, and both China and the US would do well to remain open to negotiating an end to their six month-old trade tensions during the 90-day truce reached at the dinner meeting of the two presidents in Buenos Aires on December 1.
Meanwhile, Lampton argued for more serious attempts at deepening mutual understanding, especially among those tasked with studying each other’s country for the purpose of making policies.
He recounted his time as a student of China learning mostly by talking to the Chinese people. Similarly, today’s generation of China watchers in the US should bring an “inside out” perspective to their China studies, rather than observing China from the outside in, said Lampton.
In response to heated discussions about the Thucydides’ Trap, the celebrated scholar of international relations did agree that problems can happen with a “rising, confident power” and a “dominant, defensive power,” but he dismissed the notion that it inevitably means war. Instead, given the levels of interdependency between the two nations, he explained that it is all the more important that both the US and China rely more on each other on fronts such as ecological and economic cooperation to conquer the Thucydides’ problem.
“The problem exists, but smart, well-meaning people can overcome that,” he said.
During the December 13 forum, organizers also unveiled a multimedia program called “40 on 40,” which consists of a series of high-profile interviews with 40 distinguished thinkers on US-China relations.
They include former US President Jimmy Carter, the father of “soft power” and Harvard university professor Joseph Nye, Lamtpon and Zhou. The interviews will be published in books next year.