O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 29 de março de 2019

MEC: a confusao se aprofunda (FSP)

Confesso que nem sei o que comentar – como sempre faço ao início da transcrição de cada matéria aqui selecionada para postagem –, pois a confusão reinante no MEC é de tal ordem que supera minha capacidade de dizer qualquer coisa.
Apenas transcrevo a matéria da FSP desta sexta-feira 29/03/2019:

Vélez retoma presença olavista no MEC, e ala militar busca reconquistar espaço
Folha de S. Paulo, 29/03/2019

Em busca de se manter no cargo, o ministro Ricardo Vélez Rodriguez reforçou a presença do grupo mais ideológico em seu gabinete. Nomeou nesta quinta-feira (28) como assessores o economista Murilo Resende, aluno do escritor Olavo de Carvalho, e o professor Ricardo Costa, que mantém trânsito com olavistas. Nesta quinta-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) admitiu que Vélez "tem problemas" por ser "novo no assunto" e que não teria "o tato político" necessário para o posto. A saída do ministro seria uma questão de tempo. O nome mais forte até agora é do senador ​Izalci Lucas (PSDB-DF), que tem apoio do bloco cristão desde o ano passado. O senador esteve nesta tarde no Palácio do Planalto. Resende assume posto similar ao desocupado por alunos de Olavo no início de março, fato que desencadeou a crise atual de disputas no MEC. Ao atingir olavistas dentro do MEC, o ministro passou a ser atacado e teve de demitir auxiliares próximos para atender a pressão que chegou até Bolsonaro.
Nomeado em janeiro para uma diretoria do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) responsável pelo Enem, Resende não chegou a ficar no cargo após má repercussão. No entanto, ele não saiu do MEC: desde então era assessor da Secretaria de Educação Superior e despachava em sala dentro do Inep. Defensor das ideias do movimento Escola Sem Partido e crítico da "ideologia de gênero", termo nunca usado por educadores, Resende chegou a chamar os professores brasileiros de "manipuladores" que não querem "estudar de verdade" ao participar de uma audiência pública do Ministério Público Federal de Goiás em 2016. Ricardo Costa foi nomeado como assessor especial do ministro. Professor da Universidade Federal do Espírito Santo e estudioso da idade média, Costa é admirador de Olavo. A crise atual expôs as disputas entre os grupos de militares, de técnicos e ideológicos, como seguidores de Olavo, considerado o guru da nova direita no país. Nos ataques, olavistas como Silvio Grimaldo (que era assessor do MEC e saiu no início do mês ao não aceitar mudar de cargo), atacaram diretamente os militares por uma suposta perseguição a eles.
Por outro lado, a ala militar em torno da cúpula do governo busca retomar espaços no MEC. Além de tentar emplacar o ministro, o grupo quer levar adiante os planos traçados antes da chegada de Vélez. Ao assumir, Vélez preteriu as pessoas que estavam nas discussões sobre educação havia meses. Primeiro ele descartou o cientista político Antonio Testa, indicado até então para secretaria-executiva, cargo número 2 da pasta. 
O coordenador da transição, tenente-coronel Paulo Roberto, também não foi aproveitado no MEC —está atualmente na Casa Civil. A saída de ambos desarticulou a transição e é o embrião da paralisia que acomete o MEC desde janeiro. Testa, por exemplo, participou de todas as reuniões com a gestão anterior do ministério. O time que tocava as discussões de educação antes da posse era coordenado por militares. Três integrantes desse grupo ficaram em órgãos ligados à pasta: o professor Carlos Alberto Decotelli, como presidente do FNDE (Fundo de Desenvolvimento da Educação), o general Oswaldo Ferreira, na Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), e Marcus Vinicius Rodrigues, no Inep. Marcus Vinicius Rodrigues acabou demitido nesta semana após a suspensão, depois revogada, da avaliação de alfabetização. Em entrevista à Folha, ele criticou o ministro e ressaltou que a definição do cancelamento da prova veio do secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, outro aluno de Olavo e poupado pelo ministro no episódio.

Generous Scholarship to Study In China 2019, Program Overview For Silk Road School of Renmin University

Aos possíveis interessados.
Recebi de parceiros chineses com quem já havia empreendido eventos conjuntos, no passado, quando eu ainda me desempenhava como diretor do IPRI-MRE.
Já não poderei mais fazê-lo, e duvido que o "novo" IPRI o faça, mas isso não me impede de divulgar esta oportunidade para estudos na China, para quem se candidatar e puder ganhar a bolsa.
Paulo Roberto de Almeida

Dear Paulo Roberto de Almeida,

Warm greetings from Chongyang Institute for Financial Studies, Renmin University of China(RDCY). I am writing to extend my sincere gratitude for your continued support to RDCY, as well as your wholehearted concern to our new established Silk Road School in 2018.
Today 
I would like to take this opportunity to share with you some update from our side, particularly RDCY’s think tank development progress in the past year of 2018, which can not be separated from your continued support. Some of our policy briefs have been approved by policy makers with high admiration. We organized important conferences with more than 200 persons, and over 100 public events, published over 1800 articles and 10 books, as well as a series of research reports in the fields of macro economySino-US relation, Belt and Road Initiative, 40 years anniversary of reform and opening-up etc.
It's also worth mentioning that Silk Road School launched last year in Suzhou, Jiangsu Province, jointly organized by Chongyang Institute for Financial Studies (RDCY), School of International Studies, and Suzhou Campus of Renmin University of China. It has enrolled 72 students from 35 countries in September 2018 with the support of all partiesThey already started the courses of Master of Contemporary Chinese Studies (MCCS) at Silk Road School in Suzhou, a two-year English master’s program. And it is expected to enroll around 100 students in September 2019. 

Now we are working on this MCCS program promotion domestically and internationally, If possible, we would like to ask you for some recommendation of young students to participate into this project, and your kindly forwarding and sharing of this program will be highly appreciated.

For the further details about Silk Road School enrollment, please find attached the program overview. In case of any question, please feel free to contact us.

Attachments:  
1. Silk Road School Program Overview For Scholarship to Study In China 2019
2. Silk Road School brochure
3. Introduction of Renmin University of China (RUC)

Websites:
Online Application (before March 30th, 2019): http://silkroad.school
Silk Road School: http://srs.ruc.edu.cn/
International Student Office of RUC: http://iso.ruc.edu.cn/more.php?cid=77

Application Schedule:
Cut-off date for online applications: March 30, 2019
Interview online: April, 2019
Letters of admission sent out: June, 2019
Semester begins: September2019

Contact:
Thank you very much for your attention, and look forward to hearing from you soon.  

Very truly yours,
Wu Yinxuan
Deputy Project Manager, Assistant Research Fellow of Chongyang Institute For Financial Studies, Renmin University of China
Fax: 86-10-62516305

Nazismo e fascismo como fenomenos de "esquerda", segundo chanceler atual

Não deveria surpreender, depois de tantos absurdos lidos, ouvidos, registrados, falados, externados, extravasados, gaguejados pelo chanceler acidental, ou olavista (para os mais íntimos).
Acontece que neste caso, essa posição causou estranheza em historiadores reconhecidos, que apontam o quase consenso historiográfico em torno do que poderia ser de esquerda, no fascismo e nazismo (o socialismo, aparente) e o que é efetivamente de direita (a defesa de privilégios e divisão da sociedade em estratos rigidamente hierárquicos).
Em todo caso a postura do chanceler chamou a atenção, e a maior parte dos observadores são extremamente críticos da sua postura, que só pode ter sido externada por absoluto conformismo e subserviência às ideias estapafúrdias dessa nova direita estúpida e reacionária.
Triste fim...
Paulo Roberto de Almeida

Ernesto Araújo diz a canal de YouTube que nazismo foi movimento de esquerda

Tese é considerada um disparate por acadêmicos e diplomatas; canal Brasil Paralelo propaga ideias de Olavo de Carvalho

Uma recente declaração do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sugere que uma tese tida como absurda e desonesta por acadêmicos e diplomatas europeus se incorporou ao discurso oficial do governo Jair Bolsonaro: a de que o nazismo foi um movimento de esquerda.
A declaração, dada em longa entrevista a um canal simpático à extrema direita no Youtube, repete um discurso que esteve em alta nas mídias sociais brasileiras durante as eleições, mas que jamais foi levada a sério por acadêmicos na Alemanha. A posição de Araújo impressionou historiadores.
Na entrevista, questionado sobre a diferença entre o nacionalismo que defende e o pregado pelos regimes autoritários passados da Alemanha, Itália e Rússia, o ministro respondeu que o sentimento nacional teria sido distorcido por grupos que o utilizaram para chegar ao poder.
"Uma coisa que eu falo muito é dessa tendência da esquerda de pegar uma coisa boa, sequestrar, perverter e transformar numa coisa ruim. É mais ou menos o que aconteceu sempre com esses regimes totalitários. Isso tem a ver com o que eu digo, que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda", destacou Araújo, na entrevista divulgada em 17 de março pelo Brasil Paralelo, grupo que propaga a linha de pensamento do ideólogo Olavo de Carvalho.
Foi a primeira vez que Araújo, como ministro, classificou o nazismo como um suposto movimento de esquerda —ele já o fizera em um texto publicado em 2017 em seu blog. A teoria vai contra o amplo consenso acadêmico e político sobre o tema na Alemanha, onde a disputa sobre a classificação da ideologia nazista é inexistente entre historiadores renomados.
"Quando um ministro do Exterior faz esse tipo de afirmação, considero altamente problemático diplomaticamente e um absurdo cientificamente", afirma a historiadora Stefanie Schüler-Springorum, diretora do Centro para Pesquisa sobre Antissemitismo da Universidade Técnica de Berlim.
O historiador Wulf Kansteiner, da Universidade de Aarhus, deixa claro que os nazistas jamais seguiram políticas de esquerda. "Ao contrário, propagavam valores da extrema direita, um extremo nacionalismo, um extremo antissemitismo e um extremo racismo. Nenhum especialista sério considera hoje o nazismo de alguma forma um fenômeno de esquerda. Por isso, da perspectiva acadêmica histórica, essa declaração é uma asneira", afirma.
Segundo Kansteiner, tanto o entrevistador quanto o ministro jogam com a palavra totalitarismo e, durante sua argumentação, Araújo tenta com ela traçar uma fronteira entre o nacionalismo, que seria algo bom, e o socialismo, que seria algo ruim. "Historicamente isso é um disparate", ressalta o especialista, que também é autor do livro "In Pursuit of German Memory" (em busca da memória alemã, em tradução livre).
Peter Carrier, coordenador de um projeto de pesquisa da Unesco sobre o ensino do Holocausto, promovido pelo Instituto alemão Georg Eckert, acrescenta que o ministro comete erros ao fazer referências à teoria do totalitarismo.
"Se Araújo tivesse lido precisamente os teóricos do totalitarismo e fosse fiel a suas teses, ele deveria condenar tanto a direita quanto a esquerda, pois o totalitarismo implica que regimes autoritários de direita e de esquerda são igualmente ruins", afirma.
A estratégia de tentar classificar o nazismo como uma ideologia de esquerda não é nova e chegou a ocorrer no passado em vários países. Mas nunca chegou a virar um debate sério entre especialistas.
Na Alemanha, durante as pesquisas e debates sobre o Terceiro Reich, iniciadas nos anos 1960, chegou a haver tentativas de classificar esse regime como um movimento socialista, no entanto, há décadas não restam mais dúvidas, nos âmbitos acadêmico, social e político, sobre a natureza de extrema-direita do nazismo.
Segundo Schüler-Springorum, essa estratégia era uma posição clássica da extrema-direita após a Segunda Guerra Mundial, numa tentativa de proteger o "verdadeiro nacionalismo" e se distanciar do nazismo: "Na política e ciência, porém, está mais do que consolidado que o nazismo é um movimento de extrema-direita, porque rejeita a democracia e os direitos humanos, além de dividir pessoas em grupos e hierarquizá-las".
O debate sobre o nazismo como uma ideologia de esquerda foi levantado no Brasil a partir dos anos 2000 por Olavo de Carvalho. A visão rapidamente se espalhou por páginas de direita brasileiras, ganhando adesão também entre contas de viés liberal que adotaram posições conservadoras. Entre os adeptos está o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República e atual presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
No país, os atuais defensores da visão "nazismo de esquerda" costumam se basear no nome oficial da agremiação nazista, chamada de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, ou NSDAP. A presença da palavra "socialista" revelaria a linha ideológica do regime. Historiadores internacionais de renome, porém, destacam que essa nomenclatura e a inclusão de políticas tidas como de esquerda no programa de governo apresentado antes das eleições de 1933 não passaram de uma estratégia eleitoral para atrair a classe trabalhadora.
"Na prática, isso não teve significado algum. O partido nazista se associou rapidamente e de maneira efetiva com as forças de direita da República de Weimar e, depois da tomada do poder, se juntou com as forças de direita da sociedade. Hitler nunca seguiu uma política socialista", destaca Kansteiner, lembrando o episódio que ficou conhecido como Noite das Facas Longas, em junho de 1934, quando integrantes de uma ala mais à esquerda do NSDAP foram mortos.
Apesar de circular há algum tempo entre grupos de direita, essa distorção histórica chamou a atenção na Alemanha apenas no ano passado, quando um vídeo publicado pela embaixada alemã em Brasília no Facebook sobre como a sociedade alemã lida com o nazismo e o Holocausto virou alvo de ataques de militantes direitistas brasileiros. 
Em entrevista à DW, o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, afirmou na época que a discussão sobre o "nazismo de esquerda" não tinha uma base honesta.
"Há muitas pessoas que não sabem muito sobre o nazismo. E nós queremos informar. Uma pessoa informada vai fazer de tudo para evitar uma volta do nazismo. Mas parece que há outros que têm um interesse político de reinterpretar o nazismo para encaixá-lo de acordo com seus objetivos imediatos. Esses grupos políticos fazem tentativas desonestas de mover a responsabilidade do Holocausto para o colo de outros", disse então Witschel.

The Economist: o mandato de Bolsonaro pode ser curto... (Mon Dieu!)


Um trecho da matéria: 
"Dois dos quatro presidentes eleitos anteriormente no Brasil sofreram impeachment porque, como afirmou Fernando Henrique Cardoso, “não foram mais capazes de governar”."
 Pode-se acrescentar que dois dos que não foram objeto de impeachment, foram parar na cadeia, um deles trancafiado por muitos anos, por chefe de quadrilha e ladrão maior do Brasil em toda a história do país.
Como diria um grande compositor, amigo do presidente condenado: 
"A coisa aqui tá preta..." (sem qualquer racismo, claro...).
Paulo Roberto de Almeida

The Economist: Jair Bolsonaro, o presidente aprendiz do Brasil
A menos que ele pare de provocar e aprenda a governar, o seu mandato no Palácio do Planalto pode ser curto
The Economist, O Estado de S.Paulo
28 de março de 2019 | 20h56
Uma das principais razões pelas quais Jair Bolsonaro venceu a eleição presidencial no ano passado foi o fato de prometer movimentar de novo a economia depois de quatro anos de recessão. Ao nomear Paulo Guedes, um defensor do livre mercado, como seu superministro da Economia, ele conquistou o apoio do mundo empresarial e financeiro. Muitos imaginavam que a chegada de Bolsonaro à Presidência por si só traria nova vida para a economia. Mas, depois de três meses, ela continua moribunda como sempre. Os investidores começam a perceber que Guedes tem uma árdua tarefa de conseguir aprovar no Congresso a reforma da Previdência, crucial para a saúde fiscal do Brasil. E o próprio Bolsonaro não vem colaborando.
Bolsonaro
Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: FÁBIO MOTTA/ESTADÃO
déficit fiscal de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) tem um enorme peso sobre a economia, significando que os juros para os tomadores de empréstimo privados serão mais altos do que seriam do contrário. As pensões respondem por um terço do total das despesas públicas e são uma das razões pelas quais o Estado gasta pouco na infraestrutura fragilizada. O projeto de reforma do governo enviado ao Congresso no mês passado estabelece uma idade mínima para a aposentadoria, eleva as contribuições e preenche lacunas, com uma previsão de economias de R$ 1,2 trilhão durante dez anos. O déficit da Previdência foi de R$ 241 bilhões no ano passado. A reforma da Previdência, por si só, não fará com que o Brasil retome um crescimento econômico robusto. Serão necessárias reformas fiscais e outras medidas para aumentar a competitividade. Mas ela se tornou um objeto sagrado.
Bolsonaro está numa situação privilegiada porque, depois de dois anos de debate público e político, a reforma da Previdência hoje é menos impopular do que antes. Mas não é necessariamente uma proposta que conquista votos. E Bolsonaro não faz campanha para isso. “Toda a discussão sobre a reforma da Previdência é algo que os brasileiros gostariam de não ter”, afirma Monica de Bolle, economista brasileira do Peterson Institute for Internacional Economics.
A aprovação, assim, exige liderança do topo. Que está ausente. Em sua campanha, Bolsonaro denunciou a “velha política” corrupta do “toma lá, dá cá” no Congresso. Mas ele não possui uma estratégia alternativa para controlar o Legislativo. Entrou desnecessariamente em confronto com alguns aliados, incluindo Rodrigo Maia, o poderoso presidente da Câmara. O padrasto da mulher de Maia, Wellington Moreira Franco, um ex-ministro, foi preso em 21 de março junto com o ex-presidente Michel Temer, por suspeitas de suborno, o que ambos negam. O que levou a comentários feitos pelos filhos de Bolsonaro, que são assessores próximos do presidente, e que Maia considerou como um ataque pessoal. Sua resposta foi que ele não marcaria votações sobre a reforma da Previdência para um governo que chamou de “deserto de ideias”. As autoridades esta semana tentaram apaziguar Maia. Mas a reforma da Previdência deve sofrer atrasos e diluição.
O grande problema é que Bolsonaro ainda tem de mostrar que entende a sua nova função. Ele dissipou capital político, por exemplo, exortando as Forças Armadas a comemorarem o aniversário em 31 de março do golpe militar de 1964. Seu governo é de uma “confusão monumental”, afirmou Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). À parte a sua equipe econômica, seu governo é uma coleção de generais aposentados, políticos de médio escalão, protestantes evangélicos, um filósofo antes obscuro chamado Olavo de Carvalho. “Ninguém sabe para onde ele vai, qual o curso que está tomando”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “Ele avança, depois recua, o tempo todo.”
Se o governo tem um elemento-chave, trata-se do general Hamilton Mourão, o vice-presidente, que tem tentado impor alguma disciplina política. Mas, com frequência, entra em atrito com a família Bolsonaro. Olavo de Carvalho o chamou de “idiota” e afirmou que, se as coisas continuarem como estão por mais seis meses, “tudo estará acabado”.
Embora de modo diferente, outros começam a pensar o mesmo. E ainda por cima, estão surgindo evidências de que a família Bolsonaro está ligada a membros de um grupo criminoso de ex-policiais do Rio de Janeiro acusado do assassinato da ativista Marielle Franco, o que eles negam.
Dois dos quatro presidentes eleitos anteriormente no Brasil sofreram impeachment porque, como afirmou Fernando Henrique Cardoso, “não foram mais capazes de governar”. Por mais que odeiem Bolsonaro, os democratas não devem desejar que ele não chegue ao fim do seu mandato. Ainda é o início. Mas sua Presidência já enfrenta um teste crucial. “Temos duas alternativas”, disse seu porta-voz esta semana. “Aprovar a reforma da Previdência ou afundarmos num poço sem fundo.” Se o seu chefe pelo menos fosse assim claro. 
Tradução: Terezinha Martino