Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 17 de outubro de 2019
Venezuela: 200% de inflação, 50% de desemprego, retração econômica de 33% em 2019, sobre queda à metade desde Maduro
Eduardo Bueno e a história do Brasil pelo método confuso
(Eduardo Bueno – Ilustrissima - Folha de S.Paulo, 13) Se o plano consistia em lançar as bases do futuro país do pretérito, então ele não poderia ter dado mais certo. Tudo que as capitanias hereditárias tinham de ruim —e não era pouco—, vingou, cresceu e multiplicou-se no solo fértil do Brasil, como se a justificar o imorredouro vaticínio de Pero Vaz de Caminha: nessa terra, em se plantando, tudo dá.
Cerca de 500 anos depois de sua fracassada implantação nos tristes trópicos, as capitanias hereditárias estão vivas e passam bem, obrigado. Floresceram no latifúndio improdutivo, na monocultura da cana, no trabalho escravo ou mal pago, na invasão das terras indígenas, no desmatamento desenfreado, no compadrio, no clientelismo e, é claro, no coronelismo —ou seria mais apropriado dizer “capitanismo”?
Afinal, os donatários foram os primeiros “capitães do Brasil”; para o capitalismo aquele sistema, de fato, não servia —sendo até definido, por certos historiadores de antanho, como um regime feudal, apesar do evidente anacronismo.
A partilha do Brasil em vastos lotes denominados “donatarias” ou “capitanias hereditárias” deu-se entre março de 1534 e fevereiro de 1536, embora a decisão tenha sido tomada cerca de um ano e meio antes, em agosto de 1532.
O modelo colonizatório era bem conhecido e já fora testado anteriormente, não só nas ilhas do Atlântico (Açores e Madeira), mas dois séculos antes no próprio território continental de Portugal, especificamente no Alentejo e no Algarve, após essas regiões do sul terem sido retomadas aos mouros durante a dita reconquista cristã.
Ao contrário do que ocorreu no reino e nas ilhas atlânticas, porém, não houve interesse da alta nobreza lusitana em se associar ao projeto no Brasil, embora os lotes doados fossem literalmente incomensuráveis: eles tinham, em média, cerca de 350 quilômetros de largura (ou de costa), prolongando-se, de fundo, até a linha estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, algures nas lonjuras ainda desconhecidas do continente.
As donatarias possuíam, portanto, dimensões similares, por vezes até superiores, às de vários reinos europeus.
Não foram infantes, duques ou condes, contudo, os agraciados com esses vastos e selvagens sertões. Como eles deveriam ser colonizados com recursos próprios, quem pôde cedo declinou do convite. Afinal, da Coroa os donatários não recebiam mais do que a própria terra e os poderes para colonizá-las —embora tais poderes pudessem ser “majestáticos”, como os definiu o historiador Francisco de Varnhagen, a tarefa cedo se revelaria virtualmente inexequível.
Ninguém descreveu melhor as agruras e os reveses dos capitães do Brasil do que o único bem-sucedido dentre eles. Em dezembro de 1546, em carta ao rei dom João 3º, Duarte Coelho, donatário de Pernambuco, disse: “Somos obrigados a conquistar polegadas a terra que Vossa Alteza nos fez mercê por léguas”.
Dos 12 capitães donatários agraciados com 15 lotes no Brasil, oito eram, como o próprio Coelho, militares com folha corrida, a maioria com serviços prestados no Oriente —ou que então haviam “fincado lança em África”. Os quatro restantes podem ser chamados de “criaturas do rei”: membros da alta burocracia estatal (tesoureiros, vedores ou fiscais da Fazenda) responsáveis pela administração dos negócios ultramarinos, nomeadamente a cobrança de impostos.
Dessa uma dúzia, quatro jamais puseram os pés no Brasil, apesar de essa ser a exigência real. Não chega a ser surpresa o fato de terem sido os burocratas os que se revelaram capazes de burlar a ordem régia.
De todo modo, postos em prática pessoalmente ou à distância, os projetos de colonização estavam fadados a ser rotundo fracasso, e os donatários que não pagaram por seus erros com a própria vida perderam (e jamais recuperaram) as fortunas que haviam adquirido nas antessalas do poder ou com saques na Índia.
O destino foi mais cruel, é claro, com os capitães que tiveram que empreender a perigosa viagem até o Brasil e empregaram todos seus recursos na empresa colonizadora. A única recompensa obtida foi o silêncio régio, a desolação completa de seus lotes e o gosto amargo de um revés pessoal e coletivo.
O laborioso Duarte Coelho, por exemplo, morreu de desgosto, tamanho era o desprezo que o rei, que nunca respondeu dezenas de suas cartas suplicantes, lhe devotou. Pero do Campo Tourinho (de Porto Seguro), acusado de heresia, foi preso por seus próprios colonos e enviado para a Inquisição. Francisco Pereira (da Bahia), vulgo Rusticão, capturado pelos tupinambás da Bahia, foi por eles devorado.
E Vasco Coutinho (do Espírito Santo), viciado em tabaco e em “bebidas espirituosas”, perdeu o controle sobre sua capitania e ao morrer, em Portugal, “nem uma mortalha que o cobrisse tinha” e sua mulher e filhos acabaram desamparados num hospital de caridade.
O gênio da língua João de Barros, autor de uma das primeiras e melhores gramáticas portuguesas, sobreviveu só porque não veio ao Brasil, porém ficou sem um tostão. Seu sócio Fernão Álvares também perdeu muito dinheiro, mas, como era o tesoureiro-mor do reino, a grana perdida tinha vindo de um poço que não secaria.
Já outro sócio de ambos, Aires da Cunha, que completava a chamada “tríade de donatários” a qual coube dois lotes no Maranhão, foi tragado pelo mar quando chegava ao Brasil à frente da opulenta frota de 13 navios armada pelo trio.
Jorge Figueiredo, escrivão da Fazenda, amigo íntimo do rei, também não se abalou para vir colonizar a capitania de Ilhéus, mas os aimorés acabaram com tudo o que ele havia erguido lá.
E o donatário do Ceará, o futuro provedor-mor do Brasil, Antônio Cardoso de Barros, não perdeu nada do que havia surrupiado da Casa dos Contos de Lisboa, da qual era fiscal. Não que fosse bom administrador ou contasse com melhor sorte; ele simplesmente nunca empreendeu a colonização de seu lote.
Cardoso de Barros viria para o Brasil em 1549, na companhia do governador-geral Tomé de Sousa, quando o regime das capitanias, feito para durar “para todo o sempre”, já havia falido. Foi ele, grosso modo, o primeiro ministro da Fazenda na colônia. Meteu-se em ladroeiras indizíveis e, enxotado de volta para o reino junto com o famigerado bispo Sardinha, naufragou nas Alagoas —como o bispo, virou repasto dos caetés.
Dessa turma toda, só quem se deu bem foi o fidalgo Martim Afonso de Souza, embora tenha ignorado solenemente suas duas capitanias: São Vicente ficou nas mãos de traficantes de escravos, como João Ramalho; o Rio de Janeiro, à mercê dos franceses.
Martim Afonso foi fazer fortuna no Oriente, onde se notabilizou como um dos mais desonestos vice-reis da Índia. Como era amigo de infância do rei dom João 3º e primo-irmão de dom Antônio de Ataíde, o mais proeminente dentre todos os conselheiros régios, jamais foi punido e terminou seus dias na abastança, retirado numa mansão palaciada no coração de Lisboa.
Portanto, disparar um tuíte —como fez o general Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil— saudando o suposto empreendedorismo dos donatários, sugerindo que eles deram início à construção de um dos maiores países do mundo, é tão equivocado, retrógrado e incongruente quanto mencionar, digamos, “a indolência do branco, a malandragem do índio e o privilégio do negro”, ou algo assim, fora de propósito e de foco.
De todo modo, se Mourão quiser usar as capitanias hereditárias como metáfora, eu, como autor de um livro de quase 400 páginas só sobre esse assunto, recomendo-lhe que poste o seguinte: “Na primeira vez na qual o Brasil decidiu deixar seu governo na mão de capitães, a vaca foi pro brejo. Mas pelo menos ela não estava fardada”.Tem exatos 140 caracteres e dá para entender fácil, fácil.
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
Olavo de Carvalho: um crápula nojento - Natália Silva (Abraji)
O sujeito é um criminoso em potencial, ao incitar a sua turba fanática contra jornalistas.
Paulo Roberto de Almeida
Natália Silva
ABRAJI, 17/04/2019
https://www.abraji.org.br/noticias/olavo-de-carvalho-incita-seguidores-contra-jornalista
Olavo de Carvalho usou suas páginas no Facebook e no Twitter para incitar seus seguidores contra o jornalista Denis Russo Burgierman. Carvalho divulgou a foto e o endereço de uma casa que supostamente pertenceria ao jornalista, acompanhada de um pedido para que seus seguidores verificassem o dado. Em outra publicação, pediu para que quaisquer informações sobre Burgierman fossem compartilhadas nos comentários, para que o jornalista tomasse “um pouco do seu próprio veneno”.
Burgierman foi aluno do Curso On-line de Filosofia (COF), ministrado por Carvalho pela internet, e escreveu reportagem sobre o assunto publicada na revista Época em 14.mar.2019. O jornalista tentou entrar contato com o filósofo diversas vezes ao longo dos últimos meses, tanto como aluno — fazendo perguntas no decorrer das aulas — quanto como jornalista. Suas solicitações de entrevistas e questionamentos nunca foram respondidos. Burgierman contou que, a cada tentativa de contato, Carvalho fazia postagens ofensivas contra ele. Foram feitas 10 menções ao nome do jornalista no Twitter de Carvalho desde 15.mar.2019.
Nos recentes ataques, Olavo de Carvalho acusa o jornalista de uma suposta tentativa de vingança através de uma biografia com entrevistas de "velhacos" — referindo-se a Carlos Velasco, ex-aluno que virou seu desafeto — e Heloísa, filha com quem o filósofo tem uma relação conflituosa. Burgierman usou o Twitter para responder ao ataque: “Não é verdade que estou escrevendo biografia do Olavo. Minha pauta é "o que aprendi no COF", não tenho interesse em fofocas familiares”.
No Facebook, Carvalho recebeu nove respostas aos pedidos de informações sobre Burgierman. Um dos comentários foi feito por Walkis Pacheco, delegado da 23a Delegacia de Homicídios de Alcoverde, em Pernambuco. Outra seguidora chamada Cristiane Aleixo dirigiu acusações à esposa do jornalista. O perfil de Karin Sebti — nome que também aparece no blog de Olavo de Carvalho — compartilhou uma lista de telefones supostamente ligados ao jornalista. Na manhã de 17.abr.2019 a publicação e os comentários não estavam mais disponíveis.
Segundo Thiago Dias Oliva, coordenador de pesquisa no centro de pesquisa em direito e tecnologia InternetLab, a conduta de Carvalho em relação ao jornalista é um exemplo de doxxing, prática que envolve a busca e a publicação de informações privadas de uma pessoa ou entidade disponíveis em bases públicas de dados ou redes sociais. “Ela pode ser utilizada para diversas finalidades, inclusive para coerção”, comenta.
Oliva classifica o caso de Burgierman como “extremamente prejudicial à liberdade de imprensa e ao acesso à informação”, pois o doxxing de Carvalho e seus seguidores foi utilizado para intimidar o jornalista, e não debater o conteúdo produzido por ele. “Ao expô-lo dessa forma, tem a intenção de silenciá-lo, além de desestimular a crítica em geral e o trabalho de outros jornalistas no futuro - o que é muito prejudicial para o debate público, considerando que o Olavo é uma pessoa pública”.
No longer the host, Brazil still aims for key role at U.N. climate talks
No longer the host, Brazil still aims for key role at U.N. climate talks
terça-feira, 15 de outubro de 2019
ABL homenageia Antonio Olinto e Sergio Correa da Costa, os centenarios
ABL homenageia os 100 anos de nascimento dos Acadêmicos Antonio Olinto e Sergio Corrêa da Costa em Mesa-Redonda especial
Os Acadêmicos
Os americanos continuam querendo enfrentar um "China challenge". Quanta bobagem...
Uma demanda para participar de um concurso com a melhor resposta para definir uma "grande estratégia" para "enfrentar o desafio chinês", o que me faz pensar se esses think tanks americanos são tão bons quanto parecem.
Eu responderia – mas não sei se vou participar – que não existe, em primeiro lugar um "China challenge", a não ser aos olhos paranoicos dos paranoicos americanos (desculpem a redundância).
A China não tem nenhuma grande estratégia para conquistar os Estados Unidos: sua grande estratégia é enriquecer o povo chinês, e, claro, impedir, que ele seja humilhado por qualquer grande potência, como já ocorreu no passado. Apenas não isso.
A China não quer exportar ou impor a ninguém o atual regime autocrático do Partido Comunista Chinês, o guardião imperial das poucas liberdades chinesas, e dos muitos, enormes, gigantescos controles exercidos contra o seu próprio povo, pois os atuais mandarins, ou seja, os comunistas – atualmente sob o comando de um novo imperador – sabem que eles não possuem nenhuma legitimidade para oprimir sua população da forma como o fazem, censurando, proibindo, controlando, e que a única forma de se manter no poder é garantir níveis cada vez mais altos e melhores de prosperidade e bem-estar material, apenas isto. Não tem nada a ver com qualquer pretensão a um novo imperialismo colonizador, como fizeram os ocidentais no passado.
Enfim, quem quiser responder à consulta do Belfer Center, sinta-se à vontade.
Eu ainda vou pensar, mas acho que minhas respostas não vão ser bem recebidas no império...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de outubro de 2019
Governabilidade: livro online - Humberto Dantas (KAS)
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Organizador: Humberto Dantas | |||
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