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domingo, 3 de dezembro de 2023

Arnaldo Godoy examina a obra de Alberto da Costa e Silva sobre a Africa e a escravidão brasileira

 

EMBARGOS CULTURAIS

A manilha e o libambo, de Alberto da Costa e Silva

Conjur, 3 de dezembro de 2023, 10h28

Editorias:  Sem categoria

Os títulos que os autores dão a seus livros compõem um universo fascinante para pesquisas interessantes. Há aspectos formais. Há dilemas psicanalíticos. Há razões mercadológicas. Há jogos de palavras. Há pistas (inclusive falsas), e há também uma chave interpretativa para o que espera o leitor.

Spacca
Caricatura: Prof. Arnaldo Godoy

“O nome da Rosa”, de Umberto Eco, por exemplo, não é referência a personagem com esse nome, que não se encontra no livro, obviamente. Eco contava com um outro título, “A abadia do crime”; a opção, no entanto, “O nome da Rosa”, remete o leitor a um dos problemas centrais do romance: o tema do nominalismo.

O próprio Eco lembrava-se de Dumas (que contou a história de D’Artagnan, que não era um dos “Três Mosqueteiros), além de outros títulos labirínticos (“O vermelho e o negro”, “Guerra e Paz”). Eu acrescentaria “Esaú e Jacó” (argumento bíblico que Machado de Assis transpôs para Pedro e Paulo, com a paisagem do Rio de Janeiro na passagem do Império para a República como pano de fundo) ou, ainda mais objetivamente, “Dois Irmãos”, de Milton Hatoum, no contexto da perturbadora tensão entre Uaqub e Omar.

Uma lista de títulos intrigantes contaria também com “A manilha e o libambo”, de Alberto da Costa e Silva. Diplomata, poeta, africanólogo, memorialista, historiador, faleceu neste último 26 de novembro, aos 92 anos de idade. Uma rápida olhada sobre um de seus livros principais, cujo título também é prova inconteste de sua inventividade, é o tema dos embargos culturais dessa semana, que seguem em forma de homenagem a esse grande intelectual.

“A manilha e o libambo” é um portentoso estudo sobre a escravidão e o comércio de escravos, sob uma inusitada perspectiva de historiador brasileiro que conhece profundamente a história africana, inclusive sob uma miragem local. Uma abordagem raramente enfrentada com sucesso na tradição historiográfica brasileira.

Sobre o título. O autor (no prefácio) faz uma referência a um conto de Machado de Assis, “Pai contra Mãe”, cujo tema é a violência da escravidão. Machado de Assis registrava que a escravidão levara consigo ofícios, aparelhos e instituições sociais. Exemplificava com a máscara da folha de Flandres, símbolo dessa ignominia. O assunto — escravidão — é um dos temas do mencionado contopublicado em “Relíquias da Casa Velha”, na edição de 1906. Raimundo Faoro também comenta esse conto na parte 7 do capítulo III de “Machado de Assis, a pirâmide e o trapézio”.

O problema da escravidão é um dos mais intricados na obra de Machado de Assis, além, evidentemente, de ser o mais vergonhoso de nossa história. Pode-se atribuir à ironia machadiana uma crítica à mais sórdida fórmula de exploração que o Brasil conheceu, que muito nos envergonha, e que nos choca, sempre e sempre; e que deixou reflexos que até hoje são assustadores. Condições desumanas de trabalho e exploração superlativa da força humana são desdobramentos modernizados dessa condição odiosa.

A manilha, explica-nos Alberto da Costa e Silva, é um instrumento de metal, quase uma pulseira, em forma de C. O libambo evoca uma sequência de ferros que prendia escravos, comum nas caravanas de cativos. Manilha e libambo reportam-se, assim, à escravidão africana, que o autor identificou como forma de “iniquidade, violência, humilhação (e) sadismo”. Ainda que “toda história tenha um lado de sombra e um lado de sol”, o autor, após indicar várias contribuições africanas, registra que o livro enfatiza a escravidão e o comércio de escravos na África subsaariana, de 1500 e 1700.

São quase 1.000 páginas. Um texto elegante, culto, manifestadamente preparado, estudado, esquadrinhado. Uma leitura que exige tempo, dedicação e interesse pelo assunto. O último capítulo “Escravo igual a negro” retoma que também houve escravidão de eslavos (e o nome da instituição vem daí), gregos, turcos, árabes, armênios, berberes, búlgaros, circassianos. O autor lembrou que Américo Vespúcio tinha em sua casa cinco escravos: “dois negros, um guancho e dois mestiços de canários”. O guancho, encontrei no Aurélio, era um habitante do Tenerife. Alberto da Costa e Silva refere-se também ao fato de que “(…) não era invulgar encontrar-se em cativeiro árabes, berberes e turcos (…) ainda que em número bem menor, indianos, malaios, chineses e ameríndios”.

Nessa parte final do livro retoma o papel dos jesuítas no Brasil, quanto ao problema da escravidão, sob a luz da intrincada questão da oitiva de confissão, por parte dos inacianos, em relação a proprietários de escravos. A questão é intricada justamente porque à escravidão de indígenas (que os jesuítas abominavam) opunha-se a escravidão de africanos, o que teria provocado, segundo o autor, reprimendas do Papa II, que teria se insurgido contra a dominação de africanos convertidos ao catolicismo.

Alberto da Costa e Silva, também na parte final, refere-se ao escravo como tema e argumento literário. Evoca Bernardo de Guimarães (Isaura) e Coelho Neto (Lúcia, de “Rei Negro”), a par do próprio Machado de Assis, que é o ponto de partida do livro. É só um estudo aprofundado dos porquês dessa opção (tema de crítica genética) que poderia esclarecer se não há na referência uma leitura radical sobre um problema que a historiografia literária ainda não resolveu. Remeto o leitor ao primeiro capítulo de “Machado de Assis Historiador”, de Sidney Chalhoub, e o problema pode ser melhor compreendido.

Em “A manilha e o libambo” o leitor insere-se em uma viagem histórica pela Costa do Ouro, pelo reino do Congo, pela região dos Grandes Lagos, por Madagáscar, por Angola, pelo Chade, sobe e desce o Nilo, percebe a Etiópia, o Mali, o Benim. Um desfile de nomes diferentes e de regiões distantes e de personagens inesperadas. O autor trata desses assuntos com competência historiográfica, desarmado de qualquer apelo ao exótico, e no contexto de uma perspectiva humana e esforçadamente compreensiva.

Ao mesmo tempo, o leitor interessado em Alberto da Costa e Silva deve correr para ler “Invenção do Desenho”, o segundo livro de memórias desse exuberante autor (o primeiro foi “O espelho do príncipe”). Conhecerá (ou revisitará) provavelmente um de nossos maiores intelectuais; um pensador de cultura enciclopédica (para usar um chavão) com a alma aberta para o inusitado, o que me parece uma imagem cheia de metafísica e, paradoxalmente, carregada de realismo, condições e circunstâncias que marcam escritores que, ao mesmo tempo, enxergam a pureza putativa do céu e consideram a realidade angustiante da terra.

Alberto da Costa e Silva ocupava a cadeira número 9 da Academia Brasileira de Letras.

O Capitólio como ringue de luta livre - Le Figaro

 Donald Trump prépare un programme musclé en vue de sa réélection

Le Figaro, 2/12/2023

Le Projet 2025, élaboré avec des cercles de réflexion conservateurs, orchestre la « revanche » de l’ex-président.
À LA MI-NOVEMBRE, au beau milieu
d’une séance en commission
du vénérable Sénat américain,
Markwayne Mullin, sénateur de
l’Oklahoma et trumpiste convaincu,
a failli en venir aux mains avec
Sean O’Brien, le patron d’un syndicat,
venu témoigner sur des
questions économiques. Depuis
des mois, les deux hommes se bagarraient
sur les réseaux sociaux.
Après avoir lu à haute voix les
tweets injurieux du syndicaliste
qui le mettait au défi de se battre, le
sénateur Mullin, un ancien lutteur,
lui a lancé : « C’est ici et maintenant
! » « OK, parfait », a rétorqué
O’Brien, ajoutant qu’il « adorerait
» régler sur le champ leur différend.
« Eh bien, debout ! Remue
tes fesses », lui a lancé le sénateur
en se levant. Bernie Sanders, le
président de la commission, a essayé
en vain de rétablir l’ordre,
avant de hurler : « Vous êtes sénateur
des États-Unis, comportezvous
en tant que tel ! » Le même
jour, Kevin McCarthy, l’ex-speaker
républicain de la Chambre, a
été accusé d’avoir donné, dans un
couloir du Congrès, un coup de
coude bien senti dans le dos de son
collègue Tim Burchett qui avait
voté son limogeage en octobre.
Kevin McCarthy a nié l’avoir fait
exprès.
Il y a toujours eu des altercations
au Congrès. La plus mémorable
s’est produite en 1856, lorsqu’un
anti-abolitionniste a frappé sauvagement
à coups de canne un sénateur
opposé à l’esclavage. Ces
derniers temps, cependant, les républicains
font assaut de virilité.
C’est à celui qui se montrera le plus
bravache, le plus belliqueux, le
plus macho. « Cette hypermasculinité
n’est pas nouvelle, mais elle est
aujourd’hui plus fréquente, plus
forte et plus débridée que dans le
passé », affirme l’historienne
Kristin Kobes Du Mez. Dans son livre
Jesus and John Wayne (1), elle
fait remonter la glorification du
cow-boy rugueux et sans état
d’âme à l’idéologie évangélique
conservatrice.
Les femmes aussi
Ces dernières années, Donald
Trump a popularisé la testostérone
en politique et normalisé l’usage
des menaces, des déclarations incendiaires,
des attaques humiliantes
contre ses ennemis… Il a qualifié
récemment l’un de ses
adversaires de « fils de p… », un
autre de « gros porc ». Il porte une
admiration sans borne aux dirigeants
à poigne, de Vladimir Poutine
à Kim Jong-un. En juillet, ce
grand amateur de boxe s’est fait
photographier avec des combattants
d’arts martiaux mixtes
(MMA) lors d’un match à Las Vegas.
Tout un symbole !
Cela ne dérange pas sa base, loin
de là. Selon un sondage récent, un
tiers des conservateurs n’exclut
pas le recours à la violence en politique
et estime que « de vrais patriotes
» pourraient s’en servir s’il
s’agit de « sauver » le pays. « Donald
Trump a fait émerger quelque
chose », jusque-là « maintenu derrière
les normes et la civilité », estime
le sénateur républicain Mitt
Romney.
Conscients du succès politique
de la formule, nombre de conservateurs
la copient sans vergogne.
Sur le réseau X, la représentante
Marjorie Taylor Greene a traité un
collègue de « lopette ». Nikki Haley,
ex-ambassadrice à l’ONU et
candidate aux primaires, a qualifié
à la télévision l’un de ses rivaux de
« raclure ». Ron DeSantis, le gouverneur
de Floride, a défié Donald
Trump « d’avoir assez de couilles »
pour participer à un débat télévisé.
Sa porte-parole a ensuite tweeté
élégamment une photo de balles de
golf en suggérant à l’ancien président
de s’en acheter « une paire ».
Tous les prétendants aux primaires
se présentent aussi comme
des John Wayne modernes, partisans
d’un retour à la loi du Far
West. Donald Trump veut revenir
au peloton d’exécution, tirer sur
les individus qui dévalisent en
bande les magasins, et il « regrette
» de ne pas avoir fait exécuter
son ex-chef d’état-major des armées…
Ron DeSantis, diplômé de
la fac de droit de Harvard, parle de
« zigouiller net » les trafiquants de
drogue à la frontière mexicaine,
sans autre forme de procès. Il a
promis également de « couper la
gorge » des fonctionnaires fédéraux,
avant de préciser qu’il
s’agissait « d’une figure de style ».
Quant à l’homme d’affaires Vivek
Ramaswamy, il rêve de mettre
« sur des piques les têtes des
100 leaders du Hamas ». Et bien
sûr, tous se disent prêts à envahir
militairement le Mexique pour
écraser les cartels de la drogue.
Tant pis si la plupart de ces promesses
sont clairement en infraction
avec la loi… « Historiquement,
la masculinité agressive va de pair
avec l’autoritarisme. Et l’on voit en
ce moment des attaques sans précédent
contre la démocratie américaine
», note Kristin Kobes Du Mez.
Se démarquer
des démocrates
Les candidats républicains ne se
contentent pas de propos musclés.
Ils vantent aussi leur forme physique.
Robert Kennedy, qui se présente
sous la bannière d’un indépendant,
s’est filmé torse nu en
train de faire des pompes. Vivek
Ramaswamy a exhibé ses abdominaux
à deux reprises dans des vidéos,
sur un court tennis et au volant
d’un Jet-Ski, pour illustrer sa
« préparation » au débat télévisé.
Nikki Haley, elle, se prend pour une
James Bond Girl: «Quand vous donnez
des coups, ça fait plus mal si vous
portez des talons », assure-t-elle.
Jouer les machos musclés a le
mérite d’attirer l’attention, particulièrement
des jeunes conservateurs
sur les réseaux sociaux. C’est
également une façon de se démarquer
des démocrates défenseurs
des transgenres et des gays. À
quand un Donald Trump torse nu
et en short sur un ring de boxe ? ■
H. V. (À WASHINGTON)
(1) «Jesus and John Wayne. How
White Evangelicals Corrupted a Faith
and Fractured a Nation », Liveright
Publishing.
Rouler des mécaniques est à la mode chez les républicains
HÉLÈNE VISSIÈRE £@hvissiere
WASHINGTON
ÉTATS-UNIS Il y a un point positif
dans la campagne de Donald
Trump : il ne cache pas ses intentions
et parle ouvertement des
mesures qu’il prendra, une fois
réélu. Le côté plus négatif, c’est
qu’il propose un programme bien
plus radical que celui de son premier
mandat. Sa réélection « serait
la fin de notre pays tel qu’on le
connaît », prophétise Hillary
Clinton. Joe Manchin, sénateur
démocrate de la très conservatrice
Virginie-Occidentale va plus loin :
« Il va détruire la démocratie en
Amérique. »
L’ex-président a manifestement
adopté les thèmes et la rhétorique
des autocrates pour lesquels
il a un faible. Dans un
rassemblement électoral, il a vanté
les mérites de Viktor Orban, le
dirigeant de Hongrie, et se présente
comme un leader à poigne :
« On va éradiquer la racaille communiste,
marxiste, fasciste et gauchiste
qui vit comme de la vermine
» dans le pays, a-t-il clamé. Un
terme utilisé avant lui par la propagande
nazie.
Les États-Unis sont loin de ressembler
à l’Allemagne des années
1930. Mais un second mandat serait
« désastreux », estime George
Edwards, professeur de sciences
politiques à l’université Texas
A&M. « En 2016, Donald Trump
avait autour de lui des adultes qui le
canalisaient un peu. Cette fois, il va
s’entourer de loyalistes et il n’y
aura personne pour lui résister. »
Et comme il maîtrise désormais les
rouages de la Maison-Blanche, il
lui sera plus facile de contourner
les obstacles.
En 2016, il n’avait pas préparé
son arrivée au pouvoir et avait recruté
une équipe disparate sans
expérience. Ses premiers mois
avaient été chaotiques et nombre
de ses réformes furent bloquées
par des recours en justice. Cette
fois, l’ex-président et ses alliés
n’entendent pas faire les mêmes
erreurs. En coulisses, The Heritage
Foundation, un cercle de réflexion
très à droite, a concocté,
en collaboration avec des dizaines
de groupes conservateurs, un
grand plan d’action baptisé
« Projet 2025 », qui ne laisse rien
au hasard. Cette vaste opération
élabore des réformes, planche sur
la mise en oeuvre de décrets que le
nouvel élu pourra signer dès son
arrivée, examine les contre-attaques
légales possibles…
La priorité de Donald Trump, à
l’entendre, c’est de « se venger ».
Il prévoit de forcer le ministère de
la Justice à mettre en examen ses
ennemis politiques, dont William
Barr, son ancien Attorney General
(ministre de la Justice), et le général
Mark Milley, ex-chef d’étatmajor
des armées. Il nommera
« un procureur spécial » pour
poursuivre Joe Biden et sa famille
et s’attaquera à « tous les procureurs
marxistes » (comprendre,
nommés par les démocrates).
Sa vengeance passe également
par une purge massive de l’Administration
fédérale qui, selon lui, a
freiné ses réformes. Il entend remettre
en vigueur un décret, signé
juste avant son départ, qui élimine
les protections sur l’emploi des
fonctionnaires. Il pourra ainsi limoger
jusqu’à 50 000 employés,
pense-t-il, et les remplacer par des
vrais trumpistes. Une des missions
du Projet 2025 est de constituer
“Lors de son premier
mandat, les garde-fous
ont fonctionné, mais
ils ont été affaiblis

GEORGE EDWARDS, ”
PROFESSEUR DE SCIENCES POLITIQUES
À L’UNIVERSITÉ TEXAS A & M
Quand vous
donnez des
coups, ça fait
plus mal
si vous portez
des talons» NIKKY HALEY,
DIPLOMATE,
CANDIDATE
À L’INVESTITURE
RÉPUBLICAINE
POUR L’ÉLECTION
PRÉSIDENTIELLE
DE 2024

A trajetória do Brasil para o gasto infinito - Paulo Roberto de Almeida

A trajetória do Brasil para o gasto infinito

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as políticas econômicas do Brasil na pós-democratização e o aumento de gastos. 

 

Desde a redemocratização, a qualidade da política econômica da nação tem sido tão errática quanto o foi sob a ditadura e, anteriormente, sob a República oligárquica. 

O projeto militar do Brasil Grande Potência levou o Brasil a dez anos de estabilização com crescimento, seguidos de dez outros anos de gastança desenfreada, inflação e dívida externa. 

Os militares abriram as portas para um longo declínio, com estatismo exacerbado e o mesmo protecionismo renitente desde os tempos do mercantilismo colonial.

O inflacionismo de Sarney foi o resultado do aventureirismo econômico e da pesada herança deixada pelo regime militar.

Collor foi um turbilhão econômico com amadores no comando da economia, a despeito da vontade de modernizar um país acostumado ao voluntarismo.

O aumento de gastos reais sob FHC foi obra de uma Constituição generosa demais, mas pelo menos legou um plano de estabilização que ainda se sustenta precariamente, a despeito das bobagens estatizantes que vieram em seguida.

Os déficits de Temer foram consequência do desastre econômico mais do que previsível sob Dilma: ela conseguiu produzir uma mega recessão, que superou a crise de 1929-1931. Ainda assim, Temer começou um ajuste fiscal mais do que necessário, infelizmente descontinuado.

Os orçamentos fictícios do Bozo foram o efeito do seu puro desespero eleitoral e uma enorme irresponsabilidade política de um psicopata desvairado, apoiado pelos milicos vingativos da ditadura, drogados em sinecuras corporativas. 

Já a gastança instintiva do lulopetismo é a tradicional deformação populista de esquerdistas que detestam os limites impostos pela dura realidade dos mercados: acham que a vontade política deve predominar sobre a cupidez de um “capitalismo” imaginário.

Resumindo: todos os governos acabaram tungando os cidadãos, em especial os pequenos e médios empresários e os trabalhadores em geral. 

E todos eles tiveram um comportamento predatório no tocante à opção sensata de uma sólida política macroeconômica voltada para o crescimento, desde que respeitada a responsabilidade fiscal. 

O estamento político oligárquico do Centrão sempre ajudou a esquerda e a direita a concentrar ainda mais a renda e a aumentar a desigualdade social.

O Brasil, finalmente, não mudou tanto assim: acabou acomodando-se ao atraso e à mediocridade!

Alguma possibilidade de melhoria?

Sempre existe, mas ainda não se encontra no horizonte previsível das opções políticas: a baixa educação política, a péssima qualidade da educação tout court são dois óbices ao progresso da nação.

Os avanços, modestos, são feitos aos trancos e barrancos, como diria Darcy Ribeiro, mais um desses visionários que acreditam ter a chave de um país sempre surpreendente na repetição do mesmo.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4522, 3 novembro 2023, 2 p.


sábado, 2 de dezembro de 2023

A ONU e o sistema internacional: posturas da diplomacia brasileira - Paulo Roberto de Almeida

 A ONU e o sistema internacional: posturas da diplomacia brasileira

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Notas para aula em curso preparatório aos exames de ingresso na carreira diplomática

  

Sumário:

1. ONU: uma visão sintética sobre suas origens e desenvolvimento

2. O Brasil e a questão da assimetria do poder na ONU

3. O papel do Brasil no processo de reforma da ONU

Bibliografia

 

1. ONU: uma visão sintética sobre suas origens e desenvolvimento

A Organização das Nações Unidas foi criada como sucessora da Liga das Nações pelos países vitoriosos na II Guerra Mundial (as “nações aliadas”), visando assegurar que seu funcionamento preservasse a paz e a segurança internacionais em bases mais efetivas do que aquelas com que se tinha defrontado sua antecessora de Genebra. A Liga, cujo sistema diretivo e de implementação de decisões tinha sido definido na Conferência de Paz de Versalhes, em 1919, não logrou estabelecer mecanismos credíveis de manutenção da paz, seja pela ausência de grandes atores na organização (como os Estados Unidos, cujo Senado recusou a ratificação do tratado concebido em grande medida pelo presidente Woodrow Wilson), seja pelos desentendimentos persistentes entre os membros permanentes do Conselho. Nem todos os países considerados grandes potências integraram a Liga desde o início: alguns deles estiveram ausentes em determinados períodos (União Soviética, Alemanha, Itália) ou saíram porque se tornaram eles mesmos agressores de membros mais fracos (como o Japão na China, a Itália na Etiópia, a Alemanha contra pequenos países da Europa central e a URSS contra a Finlândia, no início da Segunda Guerra Mundial). 

Para remediar esses problemas, entendimentos preliminares foram mantidos entre os EUA e a Grã-Bretanha, que estabeleceram desde 1941, na Declaração do Atlântico, os princípios pelos quais se deveria pautar a nova organização. A Carta das Nações Unidas foi finalizada por representantes de 50 países, reunidos em São Francisco de abril a junho de 1945, com base em projeto preparado pelos EUA, pelo Reino Unido, pela União Soviética — os “três grandes” das conferências preparatórias — e pela China. Esses quatro países, com a adjunção ulterior da França, passaram a integrar seu órgão principal, o Conselho de Segurança, como membros permanentes, mas a representação da China foi objeto de duas décadas de contestação ao operar-se a passagem do governo nacionalista de Chiang Kai-Shek (refugiado na ilha da Taiwan a partir de 1949) ao comunista de Mao Tsé-Tung, vencedor da guerra civil no continente. Estavam excluídos dessa qualidade no Conselho as potências perdedoras na II Guerra, como a Alemanha e o Japão, mas, em vista das mudanças operadas no pós-guerra e da grande importância econômica desses países, uma das motivações do processo de reforma da Carta é precisamente a mudança de seu status.

O Brasil foi um dos membros fundadores da organização – cujos princípios, baseados na igualdade soberana de seus membros e na solução pacífica de controvérsias, sempre corresponderam aos de sua diplomacia – e mantinha a esperança, em 1945, de ser admitido como um dos integrantes permanentes de seu Conselho: para tal, o governo de Getúlio Vargas realizou o esforço de enviar tropas para o teatro europeu de operações, mas a incorporação ao seleto grupo dos “mais iguais” foi bloqueada pela Grã-Bretanha, que já tinha se posicionado contrariamente à entrada do Brasil no Conselho da Liga das Nações, em 1926, daí resultando a saída do país dessa entidade. A despeito disso, o Brasil sempre foi um dos mais ativos participantes do sistema onusiano, assumindo a direção de órgãos, propondo projetos de resolução nos mais diferentes campos (sobretudo em matéria econômica e social, mas igualmente em desarmamento e meio ambiente) e promovendo o trabalho de coordenação no seio do grupo dos países em desenvolvimento (G-77) e de conciliação de posições com os demais países e blocos regionais.

(...)


Bibliografia

A principal fonte de informação sobre a ONU é a própria página da organização: https://www.un.org/en/; ver também as páginas das agências especializadas; sobre as Nações Unidas no Brasil, ver: https://brasil.un.org/pt-br

ALMEIDA, Paulo R. Os primeiros anos do século XXI: o Brasil e as relações internacionais contemporâneas (São Paulo: Paz e Terra, 2002)

GARCIA, Eugenio Vargas: O Sexto Membro Permanente: o Brasil e a criação da ONU (Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, 458 p.)

SEIXAS CORREA, Luiz Felipe de (org.). A Palavra do Brasil nas Nações Unidas: 1946-2011 (Brasília: Ministério das Relações Exteriores-Funag, 2011)

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4520, 29 novembro 2023, 11 p.

 

 Ler a íntegra neste link: 

https://www.academia.edu/110401124/4520_A_ONU_e_o_sistema_internacional_posturas_da_diplomacia_brasileira_2023_