O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Avaliação da Conferência sobre Paz na Ucrânia na Suíça - Anton Geraschenko

The Ukrainian Peace Summit that took place in Switzerland last weekend was the first gathering of world leaders dedicated to ending Russia's war against Ukraine.

Russia and China made great efforts to prevent the Summit from taking place and tried to make sure it was attended by a small number of participants.

But the Peace Summit was truly unprecedented in scale - it physically brought together representatives of more than 90 countries, including 56 heads of state and government. This is an extraordinary number. It required some serious diplomatic work.

The Summit demonstrated strong support for Ukraine from Western countries. However, the event did not unite the world in support of Ukraine and did not provide specific answers on how to end the war, as expected.

Presence did not mean support for all countries. And some countries chose a wait-and-see strategy.

The main outcome of the Peace Summit is in the opportunities it generates. The presence of such a large number of countries confirmed that the Summit's agenda is of interest not only to Ukraine.

According to military expert Oleksii Kopytko, the main content and background at the event centered around:

◾️ "food" (guarantees of freedom of ship navigation) 

and

◾️ "nuclear safety" (new rules of nuclear weapons proliferation).

First, as early as 2021, the Ukrainian side publicly drew the attention of its partners that Russia was destroying the very idea of freedom of ship navigation in the Black Sea and the Sea of Azov. Russia continues to try to redefine borders starting from the seas - e.g., their recent attempt in the Baltic Sea. And if it is possible for some in one part of the world, it will be possible for others - which is already clearly proved by the Houthis.

If the violator is not punished, chaos in sea communications will become the new norm. Development of drone technologies makes the entry point into the process much cheaper for all sorts of evil-doers. Aircraft carriers can't always solve this problem.

Second, Ukraine voluntarily gave up its nuclear arsenal in exchange for promises. The lack of security guarantees made many countries think hard.

Russia's full-scale aggression has maximized the demand for possession of their own nuclear weapons among all those who hesitated previously. No one will be convinced anymore that there are any "guarantees." And Russia, finding itself in a strategic deadlock, has also started to play this card.

In February, Russia hinted that it was ready to give away nuclear weapons to its "friends." To reinforce the thesis, it did so in Belarus, which Russia controls.

The Kremlin is trying to present BRICS as an entity with nuclear weapons "for those who are on our team." Europe, of course, is extremely concerned about this. 

Against the background of all this, many people on the planet have a question for global powers: "Fellow leaders, either fulfill your duties and deal with this mess, or there will be trouble."

There are two "deal with the mess" options on the table:

1. Appeasing the aggressor. 

🔹️Pro: the easy way out, the costs fall mainly on the victim of the aggression, all the risks are postponed for the future. 

🔹️Con: No insurance against further aggression, open-door policy for all dictators, more and more countries will obtain their own nuclear weapons.

2. Making sure the aggressor loses and making that a precedent. 

🔹️Pro: global security is restored.

🔹️Con: requires a lot of hard work.

Doing nothing is not an option. The fire may become uncontrollable.

Ukraine is the point where all this can be solved so that it does not have to be solved later everywhere else.

Even those who did not sign the final document at the Summit (and those who were not present) clearly understand the price of the issue. This really is not about Kherson and Zaporizhzhia regions. This is their lives. And the Summit clearly showed that.

From Anton Geraschenko

Kyiv, June 18, 2024


terça-feira, 18 de junho de 2024

Dia dos avós: dicas para comemorar essa data (nem sei qual é a data, mas como me enquadro na "profissão", resolvi colocar; PRA)

 Dia dos avós: dicas para comemorar essa data

No Dia dos Avós, celebramos a presença afetuosa e fundamental que eles têm na vida das crianças. Os avós desempenham um papel significativo no desenvolvimento infantil, transmitindo valores familiares e proporcionando momentos especiais.

Neste post, vamos explorar a importância dos avós na infância e compartilhar dicas incríveis para comemorar essa data de forma memorável. 

Qual a importância dos avós no desenvolvimento infantil?

Os avós são verdadeiros pilares de afeto e sabedoria na vida dos netos. Sua presença é enriquecedora para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social das crianças.

O convívio com os avós permite que os pequenos estabeleçam laços familiares mais profundos, fortalecendo o senso de pertencimento e identidade.

Além disso, essa relação afetiva proporciona um ambiente seguro e acolhedor, que contribui para a formação de uma autoestima saudável.

Os avós também têm a oportunidade de compartilhar conhecimentos e valores familiares, transmitindo tradições, histórias e experiências de vida que enriquecem o aprendizado das crianças.

Esse contato com diferentes gerações favorece a compreensão do mundo e das relações interpessoais, tornando-as mais empáticas e compreensivas.

Dia dos avós: como comemorar a data?

No dia dos avós, é essencial celebrar esse amor incondicional e demonstrar a gratidão por todo o carinho e cuidado que eles oferecem.

Para tornar essa data especial, a Carolina Baby separou algumas dicas encantadoras para comemorar junto com toda a família e deixar as crianças muito felizes!

Árvore Genealógica

Uma atividade divertida e significativa é criar uma árvore genealógica em conjunto com os avós e as crianças. Utilizando fotos e desenhos, vocês podem montar um mural ou um álbum de família, mostrando a linhagem de gerações e relembrando momentos preciosos.

Essa experiência irá estimular o sentimento de pertencimento e conexão entre todos.

Passeio em Família

Que tal programar um passeio em família para o Dia dos Avós? Escolham um local que traga boas lembranças ou que esteja relacionado à história da família.

Pode ser um parque, um museu, uma praia ou qualquer outro lugar especial. Aproveitem o momento para compartilhar histórias e desfrutar da companhia uns dos outros.

Jogos divertidos

Os avós têm um repertório incrível de jogos tradicionais que podem ser revividos com as crianças. Jogos de tabuleiro, brincadeiras de roda, quebra-cabeças, tudo é válido para passar momentos alegres e descontraídos em família.

Essas atividades estimulam o trabalho em equipe, a cooperação e a diversão compartilhada.

Como feliz avô que sou, desejo um dia dos avós incrível para você e sua família

O Dia dos Avós é uma data especial para expressar o amor e a gratidão por essas figuras importantes em nossas vidas.

A presença dos avós na infância das crianças é uma fonte de aprendizado, cuidado e afeto que contribui significativamente para a vida das crianças!

Aproveite essas dicas para comemorar essa data de forma inesquecível, fortalecendo os laços familiares e criando memórias afetivas que ficarão para sempre no coração de todos.

Bretton Woods Revisited - A Monetary and Financial Order for the 21st Century (Webinar)

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Creator: Pavel Brodsky via Unsplash. This image is licensed under Creative Commons License.
Tuesday, 25. June 2024 2:30 pm – 4:00 pm Save in my calendar
Online discussion

Bretton Woods Revisited

A Monetary and Financial Order for the 21st Century

July 2024 marks the 80th anniversary of the Bretton Woods Agreement, a pivotal moment in history that established the global financial and monetary order post-World War II, leading to the creation of institutions like the International Monetary Fund (IMF) and World Bank. While some elements have changed over the decades, the core structure remains largely intact.

However, in the face of unprecedented ecological challenges, and shifting economic power dynamics, the current framework is proving inadequate. Among its limitations are the lack of fair representation for developing economies, inadequate attention to climate risks, and the disproportionate influence of the US dollar.

Against this backdrop, an international consortium of think tanks is hosting a webinar discussion on Tuesday, June 25, 2024, from 14:30 - 16:00 CEST / 8:30 - 10:00 EDT / 9:30 - 11:00 Rio / 18:00 - 19:30 IST to discuss how to restructure the global economic governance to meet the challenges of the 21st century. The event will feature a statement from the co-hosting institutions outlining key reform priorities for the international financial architecture. This will be followed by a panel discussion with influential economists and policymakers from across the world.

Theis event is co-hosted by the Centre for Social and Economic Progress from India, the BRICS Policy Center from Brazil, the Boston University Global Development Policy Center from the US, the Institute for Economic Justice from South Africa, the Centre for Sustainable Finance at SOAS University of London, and the Heinrich Böll Foundation.

By bringing together such a wide range of institutions and speakers this event aims to foster an international dialogue on how the system can be revitalized and made more inclusive and responsive to current and future needs.

Introduction and Keynote

  • Ulrich Volz, Professor of Economics and Director of the Centre for Sustainable Finance, SOAS University of London

Panel Discussion:

  • Dr Rakesh Mohan, President Emeritus and Distinguished Fellow at Centre for Social and Economic Progress, former Executive Director for India at the IMF, former Deputy Governor of the Reserve Bank of India
  • Annalisa Prizzon, Principal Research Fellow in the Development and Public Finance Programme at ODI, former economist and policy analyst at OECD and World Bank
  • Ayanda Dlodlo, World Bank Group Executive Director for Angola, Nigeria, South Africa, former Minister of Home Affairs of South Africa
  • Tatiana Berringer, Coordinator of the Social G20 in the Finance Track
  • Shari Spiegel, Director of the Financing for Development Office of the Department of Economic and Social Affairs at the UN (UN-DESA)

Moderation by Kamal Ramburuth, Researcher for Debt and Development Finance, Institute for Economic Justice, South Africa.

Contact:
Sarah Ribbert, Senior Programme Officer Heinrich-Böll-Stiftung
ribbert@boell.de


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Timezone
14:30 - 16:00 CEST / 8:30 - 10:00 EDT / 9:30 - 11:00 Rio / 18:00 - 19:30 IST 
Address
➽ Online Event
Organizer
Heinrich Böll Foundation - Headquarters Berlin
Language
English

Extrema direita e extrema esquerda: semelhanças e diferenças - Paulo Roberto de Almeida

Extrema direita e extrema esquerda: semelhanças e diferenças 

Vejamos: pessoas de direita e de esquerda, nas extremas, cultuam regimes autoritários.

Na Extrema-direita eles costumam ser:

Antiabortistas, antivacinais, negacionistas climáticos e, sobretudo, criacionistas anticientíficos. Representam o retrocesso educacional, a negação dos direitos humanos. São preconceituosos e favoráveis a regimes autoritários!

Na Extrema-esquerda eles costumam ser:

Estatizantes, nacionalistas tacanhos (na direita também, as duas coisas), pelas liberdades coletivas e contra liberdades individuais, direitos humanos seletivos aos defensores do coletivismo, preconceituosos contra a propriedade e os ricos em geral, pretensos defensores dos pobres pelas vias erradas de restringir plenas liberdades econômicas.

As duas correntes são marcadamente autoritárias.

Nisso são anti-Iluministas e antiliberais.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18/06/2024


Congresso Brasileiro de Direito Internacional- Convite

 Recebido, propenso a aceitar:

ILMO. SR. PROFESSOR

PAULO ROBERTO DE ALMEIDA

É com grande alegria que comunicamos a realização do 22o Congresso Brasileiro de Direito Internacional, que ocorrerá entre os dias 21 e 24 de agosto de 2024, de forma presencial, na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, sob os auspícios da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. O tema central dos debates desse ano é:

O Direito Internacional e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

 Ao longo de 22 anos, o Congresso tem se caracterizado por ser um evento que contribui para a formação e aprimoramento intelectual de professores e pesquisadores do Direito Internacional, fomentando produção científica de excelência, sendo respeitado internacionalmente.

Reconhecendo sua contribuição e liderança intelectual para academia e estudo do Direito Internacional, temos a honra de convidar Vossa Senhoria para ministrar conferência no Congresso em Natal-RN, que acontecerá no Hotel Praiamar Hotel Convention, localizado na Rua Dr. Francisco Gurgel, 33 – Ponta Negra.

A confirmação de sua presença e indicação dos dias e horários de disponibilidade deverá ser feita rigorosamente entre os dias 18 de junho e 05 de julho de 2024, por meio do Sistema CBDI (Guia de acesso abaixo). O tempo da palestra é de 25 (vinte e cinco) minutos. Destacamos que, para a organização do evento, o programa será fechado no dia 05 de julho e o quanto antes fizer a confirmação mais opções de horário estarão disponíveis, pois serão marcados por precedência de preenchimento. Será expedido certificado de palestrante e divulgada sua participação nos canais de comunicação e redes sociais da ABDI.

Caso queira contribuir com artigo sobre o tema central do evento em um capítulo de livro a ser lançado oportunamente, solicitamos enviar o artigo até o dia 15 de julho de 2024, para o seguinte email: contato@direitointernacional.org

Aproveitamos para solicitar a Vossa Senhoria todo apoio possível, especialmente o incentivo a alunos(as) na participação e envio de artigos, bem como divulgação em suas redes sociais do cartaz do evento. Por fim, ressaltamos que sua presença muito contribuirá para o avanço dos debates científicos do Direito Internacional no país e estamos felizes em contar com sua presença.

Cordialmente,

Professor Wagner Menezes

Presidente da Academia Brasileira de Direito Internacional

São Paulo, 18 de junho de 2024.


Emmanuel Todd: La Défaite de l’Occident: continuando e terminando a leitura

 Notas de leitura: 

Emmanuel Todd: 

La Défaite de l’Occident

Paris: Gallimard, 2024

Já manifestei aqui mesmo meus comentários iniciais ao livro provocador de Todd. 

Ver aqui: La Défaite de l’Occident, d’Emmanuel Todd - notas de Paulo Roberto de Almeida

E esta outra postagem: La Défaite de l'Occident, d'Emmanuel Todd: um livro controverso - Marc Polonsky e Paulo Roberto de Almeida

Depois tive de interromper a leitura para atender a demandas mais urgentes, durante dois ou três meses. Retomo agora e vou registrar o que me parecem ingenuidades de um pesquisador sério, mas que obviamente não pode saber de tudo.

Ele acha que a Rússia é uma democracia autoritária; é seu direito. A Rússia  está apenas defendendo o seu espaço contra o Ocidente dominador e mandão. Seja! Ela quer permanecer uma nação soberana, exterior ao sistema ocidental. Será?

Mas, vamos ver o que ele diz de um país, um bloco, que conhecemos bem e ele conhece pouco. O Brasil, o Brics e suas três democracias mais pobres:

“Trois des Brics initiaux sont d’incontestables démocraties: le Brésil, l’Afrique du Sud et l’Inde: elles ont leurs imperfections, mais, si l’on considère l’état actuel de déliquescense des démocraties occidentales, devenues des oligarchies libérsmales, ces imperfections ne sont que des péchés véniels.”

Bem, então segundo Todd, os EUA e os europeus são oligarquias decadentes, mas os três do Brics são autênticas democracias, e nada nada oligárquicas. Eu chamaria isso simplesmente de cegueira.

Para ele, a guerra de agressão de Putin contra a Ucrânia é uma guerra econômica da Rússia contra o Ocidente, pois a Rússia não quer ser colonizada pelos ocidentais. Ou melhor, a guerra é o resultado da tentativa de dominação econômica ocidental contra a Rússia, inclusive pelo uso de sanções econômicas, como descritas no livro de Nicholas Mulder, The Economic Weapon (2022), que eu já usei em um dos meus textos.

Ele acha que o Resto do Mundo, ou seja, nós mesmos, sustentamos a Rússia contra o bloqueio ocidental, porque não gostamos da Otan. Por isso continuamos a comprar petróleo e gás da Rússia e a fornecer-lhe os materiais dos quais ela necessita para a sua economia de guerra. 

Ele acha que os bloqueios do Ocidente contra o Iraque e a Venezuela destruiram esses paises, que poderiam estar melhores sem as sanções. Para Todd, o Estado americano predador assusta as elites do Resto do mundo.

Todd acha que o Ocidente liberal é uma pequena ilha e que o Resto do mundo é antropologicamente diferente, portanto, não ocidental e não liberal.

Mas no caso Brasil isso não opera totalmente. Somos ocidentais, mas, como ele diz: “L’hostilité du Brésil [aos EUA] est économique et politique.”

Os outros povos se opõem ao Ocidente por uma questão de estruturas familiares patrilineares. O Ocidente acha que o mundo todo deveria aderir aos direitos LGBT, do contrário eles, os países do Resto, nunca serão modernos. A Rússia concorda com Putin na sua hostilidade aos gays. Será verdade?

O problema americano e ocidental seria que eles se tornaram niilistas e oligárquicos, ou seja, sem religião, sem valores morais, e dominados por elites autocentradas e predatórias. Se for isso, o Brasil também se tornou niilista e oligárquico, o que ele já era por sinal. Os EUA particularmente já estavam em decadência desde antes da implosão soviética, entregues ao “Estado Zero da religiao”, niilista em suma.

No caso da Ucrânia, Todd acredita que são os EUA que estão em guerra contra a Ucrânia e não o contrário.

Essa é a principal acusação de Todd contra os EUA, e sua justificativa da derrota do Ocidente, a tese principal do seu livro, se deu por motivos antropológicos, culturais e espirituais. 

Todd parece apostar em uma vitória russa na Ucrânia, e creio que essa possibilidade o deixaria satisfeito, pois acabaria comprovando a justeza de sua “tese” - estabelecida a priori - que é a da DERROTA DO OCIDENTE. O Ocidente vai perder porque ele é decadente, não tem valores, é niilista e quer continuar a explorar o Resto do mundo. 

Ele acha que a derrota americana na Ucrânia vai terminar com uma reaproximação da Alemanha à Rússia, pois os dois paises seriam complementares.É uma tese ousada, e apoiada numa certa semelhança antropológica entre os dois gigantes da Europa.

Ao fim e ao cabo, a Rússia é ou seria estável e o Ocidente se encontra num despenhadeiro irreversivel.

Não tenho certeza de que a marcha da História confirmará a tese de Todd, um provocador por excelência.

Termino aqui, minhas observações sobre o seu livro, mas vou voltar em algum trabalho sobre as mudanças geopolíticas em curso no mundo.

O que posso afirmar com certa confiança é que o Brasil continuará marginal a todas essas mudanças, o que tampouco é negativo, pois nos livra de outros problemas além dos que já temos internamente. Entretanto, cabe registrar que Lula 3 fez uma opção deliberada de unir o seu governo - e não os interesses nacionais - ao campo autoritário da Rússia e da China, o que considero um erro estratégico maior, de todos os seus equívocos já cometidos na política externa. Voltarei a este assunto também.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 18/06/2024


Outra postagem sobre o mesmo autor: 

Emmanuel Todd: um demografo intelectual pouco convencional - Herodote


segunda-feira, 17 de junho de 2024

Cold War II Grand Strategy - Dmitri Alperovitch, Jordan Schneider, Lily Ottinger (China Talk)

Cold War II Grand Strategy

Dmitri Alperovitch on how to compete with China

https://podcasts.apple.com/us/podcast/a-grand-strategy-for-cold-war-ii/id1289062927?i=1000659247595&uo=4&utm_source=substack&utm_medium=email 

A Grand Strategy for Cold War II ChinaTalk

    • Politics

Is Cold War II upon us? What should America do to prevent it from becoming a hot war?

To discuss, ChinaTalk interviewed Dmitri Alperovitch. Dmitri emigrated from Russia in 1994 at age 13. He co-founded the leading cybersecurity startup Crowdstrike, and has spent the past four years running his new think tank, the Silverado Policy Accelerator.

He's also the author of the new book World on the Brink: How America Can Beat China in the Race for the Twenty-First Century.


We discuss:

Lessons from Cold War crises that almost went nuclear;

Underappreciated parallels between the Soviet Union and China today;

Groupthink in Washington as well as in Silicon Valley;

What a productive economic relationship with China would look like given national security concerns;

Some bold military and diplomatic recommendations for Taiwan;

… and more!


Work with Matt at Open Philanthropy: Clickable link, URL: https://jobs.ashbyhq.com/openphilanthropy/f33460e1-e092-46ae-918a-85338ffad9a3

Kennedy's speech to the American people regarding the Berlin Wall: JFK Library.

Outtro music: Leningradskie mosty from 1957 USSR

Learn more about your ad choices. Visit megaphone.fm/adchoices

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https://open.spotify.com/episode/2Kr2ecQ4eUiNQfntLJdW4m?utm_source=substack&utm_medium=email 

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From Salami-Slicing to Full Invasion 蚕食鲸吞

Jordan Schneider: I want to start with the question that every normie friend of mine asks me — is Xi is going to invade Taiwan? When I answer this question, I explain the contrast between Xi and Putin, but your book argues that they are actually quite similar.

One reason the two might be different involves Putin’s professional backstory. He was a spy who lucked his way into power, whereas Xi is a princeling born into aristocracy. He spent the majority of his career being a local politician, fixing potholes, and focusing on economic growth. He had only about one year on the national stage prior to becoming Hu Jintao’s Vice President.

Dmitri Alperovitch: By the way, it’s actually the same thing with Putin. He spent the 1990s serving as deputy mayor of St. Petersburg.

Jordan Schneider: There we go. I think the biggest difference to me, though, is less the personal backstory than what they’ve done in power.

With Putin, of course, there was blood from the very beginning, as he used the wars in Chechnya to solidify his power. He’s started or gotten himself involved in wars throughout his entire reign [Ed.: Georgia 2008, Ukraine 2014, Ukraine 2022, Syria since 2015, Libya beginning in 2017, the Central African Republic beginning in 2018].

Whereas with Xi, we don’t have that track record. We have all of these obnoxious incursions and salami slicing, but we have nothing on the scale of the invasion of Georgia, for example. My hope is that after ten years in power, the guy might have already shown us who he is. Maybe Xi just isn’t the type of guy who’s really ready to roll the iron dice, but rather takes military adventurism more seriously than Putin.

I don’t know. Dmitri. Tell me I’m wrong.

Dmitri Alperovitch: Yeah, I think you are wrong. It’s true that Putin is much more of a gambler than Xi — I agree with you on that. But I still think that Xi is a gambler.

Xi has gambled and engaged in adventurism, whether it’s the Sierra Madre in the South China Sea, or whether it’s the confrontation with India on the border.

Or we can look at zero Covid, which was the ultimate gamble — he shut down the whole country for several years in the hopes of stopping a virus that spreads through air droplets.

The crackdown on the tech industry was another incredible gamble. Not on the scale of Ukraine 2022, of course, but Putin had never gambled on that scale before either.

All the other conflicts you mentioned — whether it’s Ukraine 2014, whether it’s Syria, whether it’s Georgia or even Chechnya — were on a much, much smaller scale with much smaller stakes. But appetite grows with eating, in the case of both men. As they succeed in their gambles and don’t receive pushback, they try for more. Ultimately, that’s how you end up with Ukraine 2022.

A 2003 radio interview with Vladimir Putin during the Second Chechen War. (Source: A Russian Diary by Anna Politkovskaya)

Xi clearly wants to invade Taiwan, or at least have that option. You see that from the intelligence community assessments, but you can also see it because the military buildup that he is pursuing is specifically focused on that one thing.

If you look at things like the mass construction of RORO ships (roll-on roll-off), the building of Yushen amphibious assault ships and helicopter landing decks — those are not for just random power projection or a blue-water navy. They’re focused on one thing and one thing only, which is taking the island of Taiwan. He talks a lot about how he’d like to do it peacefully. But the option of using force is not off the table.

I think he’s going to step into it cautiously, and the goal for him is to keep America out. I think that’s been his strategy since day one. His objective after coming into power is to increase his leverage over the US economically, and decrease our leverage over him economically. He’s building the military capability to inflict severe losses on American forces in the region.


O assalto ao Estado e a cada um de nós: o indecente Fundo Eleitoral FIXADO pela própria casta parlamentar - Ricardo Bergamini (Congresso em Foco)

 O Brasil não corre o menor risco de dar certo (Roberto Campos). 

Preados Senhores

 

Em 2024, PL e PT recebem do fundo eleitoral R$ 1,5 bilhão (31.00%) do total. A luta entre os primatas continuará.


Ricardo Bergamini

 

 

SAIBA O QUANTO CADA PARTIDO VAI TER DE FUNDO ELEITORAL EM 2024

 

CONGRESSO EM FOCO

 

17.06.2024 

 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou nesta segunda-feira (17) o quanto cada partido vai receber do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), conhecido como Fundo Eleitoral ou Fundão.

 

No total, são R$ 4,9 bilhões, divididos entre 29 partidos para o financiamento das campanhas de prefeitos e vereadores.

 

A divisão do bolo leva em conta o número de deputados e de senadores de cada partido. O PL, partido de Bolsonaro, é a sigla com mais recursos (R$ 886,84 milhões), seguido do PT (R$ 619,86 milhões).

 

Matéria completa clique abaixo:

 

https://congressoemfoco.uol.com.br/area/justica/partidos-fundo-eleitoral-2024-tse/

 

A imoral e desumana Previdência Social do Brasil - Ricardo Bergamini

 A imoral e desumana Previdência Social do Brasil

Ricardo Bergamini

 

- Em 2023, o Regime Geral de Previdência Social (INSS) destinado aos trabalhadores de segunda classe (empresas privadas) com 98,0 milhões de participantes (64,3 milhões de contribuintes e 33,7 milhões de beneficiários) gerou um déficit previdenciário da ordem de R$ 312,8 bilhões (déficit per capita de R$ 3.191,84).

 

- Em 2023, o Regime Próprio da Previdência Social destinado aos trabalhadores de primeira classe (servidores públicos) – União, 26 estados, DF, FCDF e 2.125 municípios mais ricos, com apenas 10,7 milhões de participantes (5,7 milhões de contribuintes e 5,0 milhões de beneficiários) gerou um déficit previdenciário da ordem de R$ 244,0 bilhões (déficit per capita de R$ 22.822,43).

 

Resumo do resultado previdenciário de 2023 do RPPS (servidores públicos): União (civis e militares) déficit previdenciário de R$ 113,3 bilhões; governos estaduais (civis e militares) e governos municipais déficit previdenciário de R$ 130,7 bilhões Totalizando déficit previdenciário do RPPS da ordem de R$ 244,0 bilhões.

 

- Em 2023 a previdência social brasileira total (RGPS E RPPS) gerou um déficit previdenciário total de R$ 556,8 bilhões, cobertos com as fontes de financiamentos (COFINS e CSSL, dentre outras pequenas fontes) que são uma das maiores aberrações e excrescências econômicas e desumanas já conhecidas, visto que essas contribuições atingem todos os brasileiros de forma generalizada, mesmos os que não fazem parte do grupo coberto pela previdência, tais como: os desempregados e os empregados informais sem carteira de trabalho assinada, contingente composto de 70% da população economicamente ativa. Esses grupos de excluídos estão pagando para uma festa da qual jamais serão convidados a participar.


Anne Applebaum most recent book: Autocracy Inc. -Presentation

Anne Applebaum most recent book: Autocracy Inc. 

Five weeks from now, my new book will be published: Autocracy, Inc: The Dictators Who Want to Rule the World. It’s a short book, an argument, really, about the way the world now works. I think of it as the opening of a discussion rather than a definitive statement. At the center of the book is a network (not an axis, alliance or bloc) of dictatorships: Russia, China, Iran, Venezuela, Syria, Cuba, Belarus, Myanmar, Zimbabwe, North Korea plus a dozen-odd others who are seeking to change the international system in order to keep their regimes in power and to preserve their leaders’ wealth. They are not united ideologically. They do not meet either openly or secretly to make policy. They have many conflicts with one another. 

The only thing that bring them together is their dislike of the democratic world, whose language and ideals are a threat to their form of power. The book focuses on the things they have in common: kleptocracy, information war tactics, diplomatic and military collaboration and a common approach to dissent. 

Autocracy, Inc

pre-order Autocracy Inc

pre-order Autocracy Inc (UK)

For a deeper, pre-publication dive - this is the introduction: 

All of us have in our minds a cartoon image of an autocratic state. There is a bad man at the top. He controls the army and the police. The army and the police threaten the people with violence. There are evil collaborators, and maybe some brave dissidents. But in the twenty-first century, that cartoon bears little resemblance to reality.

Nowadays, autocracies are run not by one bad guy but by sophisticated networks relying on kleptocratic financial structures, a complex of security services— military, paramilitary, police—and technological experts who provide surveillance, propaganda, and disinformation. The members of these networks are connected not only to one another within a given autocracy but also to networks in other autocratic countries, and sometimes in democracies too. Corrupt, state-controlled companies in one dictatorship do business with corrupt, state-controlled companies in another. The police in one country may arm, equip, and train the police in many others. The propagandists share resources—the troll farms and media networks that promote one dictator’s propaganda can also be used to promote another’s—as well as themes: the degeneracy of democracy, the stability of autocracy, the evil of America.

This is not to say that there is some secret room where bad guys meet, as in a James Bond movie. Nor is our conflict with them a black-and-white, binary contest, a “Cold War 2.0.” Among modern autocrats are people who call themselves communists, monarchists, nationalists, and theocrats. Their regimes have different historical roots, different goals, different aesthetics. Chinese communism and Russian nationalism differ not only from each other but from Venezuela’s Bolivarian socialism, North Korea’s Juche, or the Shia radicalism of the Islamic Republic of Iran.  All of them differ from the Arab monarchies and others—Saudi Arabia, the Emirates, Vietnam—which mostly don’t seek to undermine the democratic world. They also differ from the softer autocracies and hybrid democracies, sometimes called illiberal democracies—Turkey, Singapore, India, the Philippines, Hungary—which sometimes align with the democratic world and sometimes don’t.

Unlike military or political alliances from other times and places, this group operates not like a bloc but rather like an agglomeration of companies, bound not by ideology but rather by a ruthless, single-minded determination to preserve their personal wealth and power: Autocracy, Inc. Instead of ideas, the strongmen who lead Russia, China, Iran, North Korea, Venezuela, Nicaragua, Angola, Myanmar, Cuba, Syria, Zimbabwe, Mali, Belarus, Sudan, Azerbaijan, and perhaps three dozen others share a determination to deprive their citizens of any real influence or public voice, to push back against all forms of transparency or accountability, and to repress anyone, at home or abroad, who challenges them.

They also share a brutally pragmatic approach to wealth. Unlike the fascist and communist leaders of the past, who had party machines behind them and did not showcase their greed, the leaders of Autocracy, Inc., often maintain opulent residences and structure much of their collaboration as for-profit ventures. Their bonds with one another, and with their friends in the democratic world, are cemented not through ideals but through deals—deals designed to take the edge off sanctions, to exchange surveillance technology, to help one another get rich.

Autocracy, Inc., also collaborates to keep its members in power. Alexander Lukashenko’s unpopular regime in Belarus has been criticized by multiple international bodies—the European Union, the Organization for Security and Cooperation in Europe—and shunned by its European neighbors. Many Belarusian goods cannot be sold in the United States or the EU. The national airline, Belavia, cannot fly to European countries.

And yet, in practice, Belarus is not isolated at all. More than two dozen Chinese companies have invested money in Belarus, even building a China-Belarus Industrial Park, modeled on a similar project in Suzhou. Iran and Belarus exchanged high-level diplomatic visits in 2023. Cuban officials have expressed solidarity with Lukashenko at the UN. Russia offers markets, cross-border investment, political support, and probably police and security services too. In 2020, when Belarusian journalists rebelled and refused to report a false election result, Russia sent Russian journalists to replace them. In return, Belarus’s regime has allowed Russia to base troops and weapons on its territory and to use those assets to attack Ukraine.

Venezuela is also, in theory, an international pariah. Since 2008, the United States, Canada, and the European Union have ramped up sanctions on Venezuela in response to the regime’s brutality, drug smuggling, and links to international crime. Yet President Nicolás Maduro’s regime receives loans from Russia, which also invests in Venezuela’s oil industry, as does Iran. A Belarusian company assembles tractors in Venezuela. Turkey facilitates the illicit Venezuelan gold trade. Cuba has long provided security advisers and security technology to its counterparts in Caracas. Chinese-made water cannons, tear-gas canisters, and shields were used to crush street protesters in Caracas in 2014 and again in 2017, leaving more than seventy dead, while Chinese-designed surveillance technology is used to monitor the public too. Meanwhile, the international narcotics trade keeps individual members of the regime, along with their entourages and families, well supplied with Versace and Chanel.

The Belarusian and Venezuelan dictators are widely despised within their own countries. Both would lose free elections, if such elections were ever held. Both have powerful opponents: the Belarusian and the Venezuelan opposition movements have been led by a range of charismatic leaders and dedicated grassroots activists who have inspired their fellow citizens to take risks, to work for change, to come out onto the streets in protest. In August 2020, more than a million Belarusians, out of a population of only ten million, protested in the streets against stolen elections. Hundreds of thousands of Venezuelans repeatedly participated in protests across the country too. If their only enemies had been the corrupt, bankrupt Venezuelan regime or the brutal, ugly Belarusian regime, these protest movements might have won.

But they were not fighting autocrats only at home; they were fighting autocrats around the world who control state companies in multiple countries and who can use them to make investment decisions worth billions of dollars. They were fighting regimes that can buy security cameras from China or bots from St. Petersburg. Above all, they were fighting against rulers who long ago hardened themselves to the feelings and opinions of their countrymen, as well as the feelings and opinions of everybody else. Autocracy, Inc., offers its members not only money and security but also something less tangible: impunity.

The conviction, common among the most committed autocrats, that the outside world cannot touch them—that the views of other nations don’t matter and that no court of public opinion will ever judge them—is relatively recent. Once upon a time the leaders of the Soviet Union, the most powerful autocracy in the second half of the twentieth century, cared deeply about how they were perceived around the world. They vigorously promoted the superiority of their political system, and they objected when it was criticized. They at least paid lip service to the aspirational system of norms and treaties set up after World War II, with its language about universal human rights, the laws of war, and the rule of law more generally. When the Soviet premier Nikita Khrushchev stood up in the United Nations and banged his shoe on the table, as he famously did in the General Assembly in 1960, it was because a Filipino delegate said that Soviet-occupied Eastern Europe had been “deprived of political and civil rights” and “swallowed up by the Soviet Union.” Khrushchev felt it was important to object.

Even in the early part of this century, most dictatorships hid their true intentions behind elaborate, carefully manipulated performances of democracy. Today, the members of Autocracy, Inc., no longer care if they or their countries are criticized or by whom. Some, like the leaders of Myanmar and Zimbabwe, don’t stand for anything beyond self-enrichment and the desire to remain in power, and so can’t be embarrassed. The leaders of Iran confidently discount the views of Western infidels. The leaders of Cuba and Venezuela treat criticism from abroad as evidence of the vast imperial plot organized against them. The leaders of China and Russia have spent a decade disputing the human rights language long used by international institutions, successfully convincing many around the world that the treaties and conventions on war and genocide—and concepts such as “civil liberties” and “the rule of law”—embody Western ideas that don’t apply to them.


Sobre a diplomacia do governo Lula - Celso Lafer (OESP)

 Sobre a diplomacia do governo Lula

A condução da política externa requer um esforço de sintonia com a sociedade para amainar riscos de polarização interna 

Por Celso Lafer

O Estado de S. Paulo, 16/06/2024 


Lula da Silva assumiu o seu terceiro mandato com o objetivo de se contrapor ao que foi o peso de passivos diplomáticos oriundos do “negacionismo” circunscrito da visão de mundo do presidente Jair Bolsonaro.

A repercussão internacional da eleição de Lula foi altamente positiva. Foi substanciada pelas suas prévias realizações diplomáticas, a vis atractiva de sua personalidade, seu conhecido interesse pelas relações internacionais, e pela sinalização, inovadora em relação ao Lula I e II, da ênfase que pretende dar ao meio ambiente.

É indiscutível que do ponto de vista quantitativo o Brasil de Lula está de volta ao mundo. É o que atestam suas muitas viagens internacionais, importante presença em reuniões em instâncias multilaterais, plurilaterais e regionais e as não menos numerosas visitas de altas personalidades estrangeiras.

Se o Brasil com Lula está, em termos quantitativos, de volta ao mundo, qual é a dimensão qualitativa desta reinserção? Lula III se confronta com um mundo, uma região e um país distintos dos de suas anteriores Presidências.

O Brasil de hoje é muito mais polarizado do que o de Lula I e II. É muito menos organizado do que aquele que recebeu da qualificada Presidência de Fernando Henrique Cardoso. Carrega o peso do negativismo da Presidência de Bolsonaro e seus desdobramentos para a vida democrática. Por isso, a condução da política externa requer um esforço de sintonia com a sociedade para amainar riscos de polarização interna.

A latitude da política interna de Lula III para a sua ação diplomática é menor do que a de Lula I e II, nos quais pôde contar com o respaldo de sua popularidade e a preponderância política do PT. Não é o caso agora. Lula III foi eleito com uma margem apertada, e o seu sucesso foi e vai além do PT. A compreensão desta nova realidade não é forte na percepção e na conduta do presidente, que é mais autocentrado na sua experiência anterior. Também não é forte no PT, que tem o ouvido do presidente na articulação diplomática de sua visão do mundo, que não é compartilhada por um espectro grande dos atores políticos brasileiros. A consequência disso tudo é a internalização conflitiva da atual política externa que se soma com outros temas e problemas da pauta de governança de Lula III.

A América do Sul é hoje muito mais heterogênea e fragmentada do que era em Lula I e II. Daí a diminuição das oportunidades de esforços comuns de cooperação na região e o seu potencial de impacto no plano mundial.

Menor latitude interna e menos espaço para ambiciosas ações regionais se conjugam com menos espaço para a atuação do “soft power” brasileiro no plano mundial. O mundo de hoje é mais hobbesiano. É mais propenso ao conflito e menos a consensos internacionais sobre temas globais que sempre foram parte das ambições diplomáticas de Lula.

Estamos inseridos num mundo permeado por tensões regionais e internacionais de poder, que vem propiciando o retorno da geopolítica e da geografia das paixões. A mais relevante é a tensão de hegemonia China e EUA, que não existia em Lula I e II, quando a China não estava disputando primazia hegemônica com os EUA. É o que dificulta a calibração do Brasil na vida internacional.

A diplomacia de Lula III se confronta com dois conflitos de magnitude: em Gaza e na Ucrânia. O de Gaza vai além da terrível situação humanitária. Está relacionada ao equilíbrio das forças no contexto regional e ao espaço e papel de potências externas na dinâmica do Oriente Médio. Identifico na posição brasileira, em especial nas improvisadas e não medidas manifestações do presidente, uma emotiva exortação em prol da paz. Carrega a simpatia pela causa palestina presente no PT. Possui uma opacidade em relação ao desafio existencial de Israel. Lula III vem se associando ao coro da geografia das paixões que o conflito suscita. É um tema que se internalizou.

O conflito na Ucrânia está vinculado às tensões de hegemonia. Conduzida pela Rússia de Vladimir Putin, é uma guerra de agressão. É uma inequívoca expressão do uso da força contra a independência e a integridade territorial da Ucrânia, o que se contrapõe à Carta das Nações Unidas.

A continuidade da guerra e a sua violência alteram o prévio horizonte da segurança europeia. Colocam na pauta o uso das armas nucleares. São uma ameaça existencial aos vizinhos da Rússia. Neste contexto, não cabe benevolência em relação à Rússia de Putin, que se contrapõe à política jurídica externa do País, positivada na Constituição de 1988.

O recente endosso de Celso Amorim à proposta de uma conferência de paz articulada pela China, aliada da Rússia, para constituir um eixo de paz (a palavra eixo não traz boas lembranças para os estudiosos da paz) atrela o Brasil à China e aos seus interesses hegemônicos. Não contribui para a credibilidade da equidistância do “soft power” do nosso país e as ambições de Lula III de assegurar um apropriado lugar no mundo. Não fará do Brasil um terceiro em favor da paz, mas sim um terceiro aparente, aliado a uma visão compreensiva da Rússia, que se dissolve na dinâmica das polarizações.

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PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES (1992, 2001-2002)

Opinião por Celso Lafer

Professor emérito do Instituto de Relações Internacionais da USP, foi ministro de Relações Exteriores (1992; 2001-2002)

 Professor emérito da USP, ex-ministro das Relações Exteriores (1992 e 2001-2002) e presidente da Fapesp, Celso Lafer escreve mensalmente na seção Espaço Aberto