terça-feira, 16 de dezembro de 2025

O quadro da produtividade latino-americana - Estudo do IEDI

 IEDI, 15/12/2025

Produtividade e investimento: alavanca subutilizada 
  
No Brasil, assim como na América Latina como um todo, a produtividade cresce muito pouco e é bastante heterogênea. Entre 1991 e 2019, a alta foi de apenas de +0,6% a.a. na região. Se quisermos crescer de forma sustentada, com elevação de renda das pessoas, redução da desigualdade e sem pressões sobre a inflação, é incontornável que consigamos uma trajetória superior para a produtividade. A força propulsora que falta? Investimento. Investimento em pessoas, em máquinas e equipamentos mais modernos, em infraestrutura, em inovação.


O quadro da produtividade latino-americana

Sumário

Para que o Brasil cresça de forma sustentada, com elevação da renda per capita, redução da desigualdade e sem pressões sobre a inflação, é incontornável que consigamos uma trajetória superior de ganhos de produtividade, ainda mais em um cenário de esgotamento do chamado “bônus demográfico”. Nas últimas décadas, deixamos muito a desejar neste quesito. 

Esta deficiência, contudo, não é uma especificidade brasileira, mas acomete a grande maioria dos países latino-americanos, implicando um ritmo muito baixo de crescimento econômico na região vis-à-vis o restante do mundo.

De fato, baixa capacidade de crescimento, além de alta desigualdade e limitada mobilidade social e governança ineficaz formam três armadilhas que bloqueiam o desenvolvimento da América Latina e Caribe, segundo o estudo recente da CEPAL, intitulado “Panorama das políticas de desenvolvimento produtivo na América Latina e Caribe 2025: como sair da armadilha do baixo crescimento?”.

Nesta Carta, o IEDI volta a discutir o tema da produtividade, agora a partir do estudo da CEPAL acima mencionado, bem como de outra análise, neste caso, realizada pela McKinsey sob o título “Latam Productive Imperative”. Ambos os estudos se complementam e dão um panorama latino-americano e a evolução brasileira recente.

Outras divulgações do IEDI sobre o tema incluem, por exemplo, as Cartas n. 1173 “Produtividade: o Desafio Brasileiro” e n. 1319 “Dinâmica da Produtividade, segundo a McKinsey”, além do próprio documento “Indústria e Estratégia de Desenvolvimento Socioeconômico do Brasil”.

O estudo da CEPAL traz não apenas a evolução decepcionante da produtividade do trabalho latino-americana nos últimos anos, como também analisa suas características segundo o porte das empresas, sua localização e sua atividade. E ainda se vale da situação europeia como comparativo.

O diagnóstico é claro: na América Latina, a produtividade cresce muito pouco e é bastante heterogênea.

Razão de muito debate entre economistas, se a produtividade é baixa e cresce pouco devido à composição da estrutura produtiva ou devido às deficiências internas de cada setor, o caso latino-americano atende a ambas as visões. Ambos os fatores estão presentes, embora o segundo deles possa ser mais proeminente.

Setores como agropecuária e comércio têm os níveis mais baixos de produtividade na América Latina, equivalente a apenas 38% e 59% da produtividade da manufatura e 19% e 30% da produtividade de serviços empresariais. Mas pesam 37,5% do emprego total da região ante 29% na União Europeia, por exemplo. 

Já manufatura e serviços empresariais, onde a produtividade é mais alta do que a média da economia, têm participações menores na América Latina: -3,3 e -4,3 pontos percentuais em comparação com a Europa. Ou seja, a composição da estrutura econômica é um fator a ser considerado.

O crescimento da produtividade na região, embora baixo, de +0,6% a.a. em 1991-2019, tem se dado justamente porque o peso da agricultura no emprego caiu e a participação de serviços empresariarias aumentou. Mas que fique claro, ainda é preciso que todos estes setores sejam mais produtivos: do aumento de +0,6% a.a. somente +0,1% a.a. veio de progressos intrassetoriais.

Por isso, se a composição setorial da América Latina fosse igual ao da UE, sua produtividade seria 12% mais alta, portanto, insuficiente para anular a defasagem atual. Vale destacar que a produtividade média latino-americana era equivalente a 29,7% da europeia em 2023.

Segundo o estudo da McKinsey, porque a região investe pouco, obtém ganhos muito pequenos de produtividade e cresce pouco. Suas estimativas identificam que em 1997-2022 apenas 35% do crescimento do PIB da América Latina foram explicados por ganhos de produtividade, sendo 33% no caso do Brasil. Isso contrasta fortemente com a experiência asiática: 97% na China e 81% na Índia.

Vejamos o que isso significa: se a produtividade brasileira tivesse crescido no ritmo da indiana, o PIB do país em 2022 seria duas vezes maior. Se tivesse acompanhado o ritmo da produtividade da China, nosso PIB seria quatro vezes maior, segundo o estudo. Saltos de produtividade fazem toda a diferença.

A força propulsora que falta? Investimento. A McKinsey observa que a taxa de investimento do Brasil é de 18% e da média da América Latina, 20% no período 2003-2023 ante 31% na Índia e 41% na China. Investimento em modernização produtiva, infraestrutura, inovação etc.

Além da alta informalidade, assimetrias no acesso a financiamentos adequados, na capacidade de oferecer garantias, de estruturar projetos de investimento afetam o custo de capital, o que se soma a outros custos sistêmicos do ambiente de negócios brasileiro e latino-americano, prejudicando notadamente a capacidade de investimento das empresas de menor porte.

Os dados da CEPAL mostram que a produtividade de empresas menores é muito mais baixa do que as empresas de maior porte, como costuma ser a regra, mas o contraste com a realidade europeia indica que este tipo de heterogeneidade é muito mais intensa na América Latina. E vale observar que isso atinge inclusive empresas médias.

Na União Europeia, a produtividade das microempresas corresponde a 23,4% da produtividade de suas grandes empresas, relação que é de apenas 12,5% na América Latina e Caribe. Quanto às médias empresas, sua produtividade é 77,4% e 63,8% da produtividade das grandes, respectivamente em cada região.

Ou seja, para as microempresas, a produtividade relativa às grandes é 10,9 pontos percentuais menor na América Latina do que na Europa (12,5%-23,4%) e para as média empresas chega a 13,6 pontos percentuais (63,8%-77,4%).

Destravar o investimento é, por tanto, fundamental para alavancar a produtividade e reduzir as heterogeneidades é um potencial campo para a política pública.

A McKinsey avalia que o mundo passa por transformações que podem representar oportunidades para os países da região aumentarem sua produtividade, com destaque para o Brasil. 

Entre elas estão o imperativo da transição energética; a emergência de um mundo multipolar, com aumento da influência asiática e reestruturação do comércio exterior e das cadeias globais; forças demográficas que pressionam a oferta de alimentos e ampliam necessidades sociais; revoluções tecnológicas e crescimento de ecossistemas digitais que transformam a operação industrial.

Segundo suas estimativas, soluções de automação e de IA generativa podem reduzir em 36% o tempo de trabalho na manufatura até 2030. E também podem levar a uma maior ênfase dos gestores em atividades de maior valor.

Já a CEPAL aponta a importância de políticas que promovam o aumento da produtividade em empresas de diferentes portes, de todos os setores de atividade econômica e em todas as regiões do país. Também chama atenção para a falta de mecanismos de monitoramento e avaliação nos países latino-americanos e para o seu baixo impacto nos indicadores de produtividade e crescimento. 

Por isso, entre suas recomendações de política estão: adotar abordagem horizontal e vertical para impulsionar a produtividade; contemplar todos os setores da economia, não apenas a indústria; definir prioridades; promover a coordenação entre múltiplos atores dos setores público, privado, acadêmico e da sociedade civil; reforçar a governança das políticas; assegurar que uma parcela significativa das ações ocorra no nível subnacional; estimular iniciativas de cluster; adotar uma abordagem de internacionalização visando ampliar os mercados, competir efetivamente com as importações, atrair e maximizar o impacto do IDE etc.

Evolução recente da produtividade na América Latina, segundo a CEPAL

A produtividade de um país está relacionada ao nível de renda e ao bem-estar da população. A CEPAL também aponta evidências de que o aumento da produtividade do trabalho está associado à melhoria da satisfação da população com a vida.

Segundo a entidade, uma das formas mais poderosas e eficazes de aumentar a produtividade é por meio da transformação produtiva, entendida como a sofisticação, a diversificação e a geração de mudanças estruturais positivas, que a entidade classifica em três grupos: 

     i)  melhoria da produtividade das atividades existentes; 

     ii)  surgimento de novas atividades mais produtivas e; 

     iii)  migração de fatores de produção de setores de menor produtividade para setores de maior produtividade.

Apesar do aparente consenso em torno da importância do aumento da produtividade, o relatório revela declínio na produtividade do trabalho na América Latina e Caribe (ALC) na última década, em contraste com o crescimento médio da produtividade global no período. 

A situação se agravou a partir de 2017, como mostra o gráfico abaixo, quando a região registrou produtividade em patamar inferior à média global. A produtividade total dos fatores seguiu a mesma tendência, embora com maiores variações interanuais e com queda que começou mais cedo, em 2011. 

 

No contexto desse movimento descendente da produtividade do trabalho na ALC, o ano de 2024 representa uma exceção. Neste ano, a região apresentou crescimento de 2,2% em relação ao ano anterior, com avanços observados em 23 países, três a mais do que em 2023. 

A CEPAL argumenta, ainda, que o nível e a evolução da produtividade e da renda de um país estão vinculados aos níveis de produtividade e à dinâmica das atividades ou setores predominantes em cada economia. 

Nesse contexto, chamam atenção, nos dados de 2023, os grandes diferenciais nos níveis de produtividade entre os setores. Alguns, como mineração, serviços básicos e serviços empresariais, apresentam alta produtividade relativa, e outros, como agricultura e comércio, baixa. 

Recomenda-se, porém, cuidado ao comparar níveis de produtividade do trabalho entre setores com intensidades de capital muito díspares, pois é razoável esperar que setores intensivos em capital tenham níveis de produtividade muito mais elevados do que setores intensivos em trabalho. Se a produtividade do trabalho é calculada como o valor agregado (VA) dividido pelo número de trabalhadores (ou pelo número de horas trabalhadas), uma empresa (ou um setor) com maior proporção de trabalhadores em relação ao VA terá um nível de produtividade inferior ao de uma empresa (ou setor) no qual essa proporção seja menor, independentemente de qualquer outro critério de eficiência assumido. Numericamente, um setor com VA = 100 e 10 trabalhadores terá o dobro da produtividade do trabalho de um setor com VA = 100 e 20 trabalhadores. O mesmo raciocínio vale para comparações entre países com estruturas setoriais muito distintas. 

 

A essa diferença “intrínseca” de produtividade entre os setores, soma-se o fato de que, segundo a CEPAL, nas economias da ALC os setores de baixa produtividade respondem por uma parcela muito alta do emprego. 

A comparação com a estrutura setorial do emprego na União Europeia mostra que, na ALC, as participações dos dois setores de menor produtividade, agricultura e comércio, são significativamente maiores: 37,5% ante 21,9%, respectivamente. 

Por outro lado, um dos setores de maior produtividade, o de serviços às empresas, tem uma participação significativamente menor do que a observada na Europa: 9,5% ante 13,8%.

 

Canais de aumento da produtividade: intersetorial e intrasetorial

O relatório da CEPAL decompõe as mudanças na produtividade do trabalho em dois componentes: i) um intersetorial, que representa a mudança estrutural e decorre da variação da produtividade entre setores diferentes; e ii) um intrasetorial, que decorre de variações na produtividade dentro de cada setor.

Segundo suas estimativas, da década de 1990 em diante, o crescimento da produtividade na região é explicado em parte pelo fenômeno da "mudança estrutural", que ocorre quando o fator trabalho se desloca de atividades de menor produtividade para atividades de maior produtividade, podendo incluir mudanças para subsetores de maior produtividade anteriormente inexistentes.  

Nesse contexto, as mudanças mais notáveis observadas entre 1991 e 2023 estão ligadas à queda de participação da agricultura de 21% para 12,1% ao e aumento da participação dos serviços empresariais no emprego total de 5% para 9,5%. 

A CEPAL avalia que, se tal mudança estrutural não tivesse ocorrido e a estrutura produtiva atual preservasse a antiga participação setorial no emprego, em 2023 a produtividade do trabalho na região seria 9,5% menor.

Com relação à produtividade intrasetorial, a entidade destaca um movimento de convergência, ou redução da heterogeneidade da produtividade entre setores: atividades com altos níveis de produtividade, como mineração e serviços empresariais, perderam produtividade, enquanto atividades com índices mais baixos, como agricultura, pesca e silvicultura, ganharam. 

 

Entretanto, mesmo que a composição setorial do emprego na ALC se assemelhasse ao da União Europeia, o aumento da produtividade da região seria muito restringido pelo diferencial de produtividade dentro de cada um dos setores.

A ALC possui uma produtividade equivalente a apenas 29,7% da produtividade da União Europeia, sendo que essa diferença é explicada fundamentalmente pela produtividade intrasetorial e é observada em quase todos os setores de atividade econômica, com exceção de mineração e exploração de petróleo e gás. As maiores defasagens estão na construção, agricultura e comércio.

O relatório aponta que uma mudança estrutural que igualasse a composição setorial da região com a da UE resultaria em uma produtividade apenas 12% mais alta. 

 

Entre 1991 e 2019, a produtividade média do trabalho na região cresceu 0,6% ao ano, sendo que o componente intersetorial foi responsável pela maior parte da variação (0,5%). A CEPAL destaca que esse resultado foi bastante influenciado pelo crescimento do componente intersetorial nas maiores economias — Argentina, Brasil e México —, que puxou a média regional para cima e compensou a contribuição negativa do componente intrasetorial registrada em um número significativo de países.

O gráfico abaixo ilustra a contribuição dos dois componentes na variação da produtividade dos países entre 1991 e 2019. Como se pode observar, no caso brasileiro a contribuição do componente intersetorial foi mais expressiva do que a do componente intrasetorial. 

 

Esses resultados sugerem que não basta fomentar a criação e o crescimento de setores de alta produtividade. É fundamental promover o crescimento da produtividade dos setores existentes, atuando no nível das empresas, como o IEDI também tem argumentado.

Heterogeneidades da produtividade na América Latina

O relatório da CEPAL também chama atenção para a heterogeneidade da produtividade entre os diferentes territórios dos países da ALC e destaca casos em que o território mais atrasado tem produtividade 12 vezes menor do que o registrado no território mais produtivo.

De forma análoga ao que foi feito na seção anterior, a variação da produtividade entre regiões pode ser decomposta em dois efeitos: i) o intrarregional, que decorre de ganhos de produtividade das atividades dentro de uma determinada área; e ii) o inter-regional, resultante do deslocamento de fatores de produção de uma região para outra ou ainda de diferenciais de natalidade/mortalidade entre regiões. 

O relatório conclui que a variação negativa da produtividade da ALC no período recente é explicada fundamentalmente por aspectos intrarregionais. Ou seja, as variações populacionais entre regiões tiveram um efeito muito pequeno na produtividade do trabalho, o que reforça a importância de políticas de desenvolvimento produtivo que enfrentem essa situação. 

Na última década foram registradas variações negativas na maioria dos 172 territórios para os quais existem séries temporais comparáveis de produtividade do trabalho. As maiores quedas ocorreram nos territórios que iniciaram a década anterior com altos índices de produtividade. Em muitas dessas áreas, nas quais há produção significativa de minerais, petróleo e gás, uma causa para a queda da produtividade é a influência da queda nos preços internacionais das commodities.

A CEPAL chama atenção para o fato de que o declínio majoritário da produtividade nos países da região coexiste com um fenômeno de convergência regional da produtividade na última década, pois os territórios com maior e menor produtividade estão se aproximando em termos de produtividade do trabalho. A entidade alerta que esse fenômeno de “convergência regressiva” é o oposto da “divergência progressiva” que se observa entre os países da OCDE, onde ocorre crescimento da produtividade com aumento da desigualdade entre regiões.

Outro fator de heterogeneidade é por porte das empresas.

A diferença de produtividade entre empresas maiores e menores em uma economia não é exclusividade da AL e decorre principalmente das diferentes economias de escala associadas ao porte das firmas. Apesar disso, em uma comparação internacional, observa-se que, em 2023, a produtividade das empresas da ALC foi inferior à das europeias para todos os portes. Mesmo no caso das grandes empresas, a produtividade média da ALC corresponde a apenas 32,3% da europeia. 

Uma segunda característica que chama a atenção é que o diferencial de produtividade entre as grandes empresas e as MPEs é muito mais acentuado na ALC do que na UE. Como destaca a CEPAL, essa característica prejudica a integração do sistema produtivo, pois a baixa produtividade associada à falta de escala e carências técnicas dificulta que as pequenas empresas se tornem fornecedoras daquelas de maior porte.  

Na União Europeia, a produtividade das microempresas corresponde a 23,4% da produtividade de suas grandes empresas, relação que é de apenas 12,5% na América Latina e Caribe. Quanto às médias empresas, sua produtividade é 77,4% e 63,8% da produtividade da grandes empresas na União Europeia e na América Latina, respectivamente.

 

O maior diferencial, vale notar, se dá nas médias empresas. A produtividade relativa destas empresas frente às grandes na América Latina é 13,6 pontos percentuais inferior à da União Europeia (diferença entre 63,8% e 77,4%). No caso das pequenas e das microempresas, a produtividade relativa na América Latina é, respectivamente, 12,6 p.p. e 10,9 p.p. menor do que na União Europeia.  

Diante disso, a entidade defende políticas de encadeamento produtivo entre empresas de diferentes tamanhos, como iniciativas de cluster e outros mecanismos de coordenação produtiva, bem como melhorar a produtividade por meio de esforços de extensão tecnológica em empresas com menor produtividade, iniciativas também defendidas na Carta IEDI 1173.

O imperativo da produtividade no Brasil e na AL, segundo a McKinsey

Outro estudo, que também mapeia o baixo desempenho da produtividade latino americana é o “Latam Productive Imperative”, divulgado em agosto de 2025 pela McKinsey, no qual destaca a posição do Brasil.

O documento observa que a contribuição da América Latina para o crescimento global está abaixo da sua potencialidade: a região conta com 8% da população mundial e 6% do PIB global, mas contribuiu apenas com 5% do crescimento global nos últimos 25 anos. Nesse período, sua participação no PIB global caiu 15%.

Entre os fatores que explicam esse desempenho, a McKinsey destaca o baixo crescimento da produtividade do trabalho, que faz com que o crescimento da economia dependa fundamentalmente da expansão do emprego, em contraste com a realidade observada em outros países nos quais os ganhos de produtividade são a principal fonte da evolução do PIB.

Ao decompor a taxa de crescimento do PIB, identifica que entre 1997 e 2022 a contribuição da produtividade para o crescimento na China atingiu 97% e na Índia, 81%. Se tomada a Ásia emergente como um todo, esta contribuição foi de 60%, isto é, bem acima daquela da América Latina, de 35%. No Brasil, esta contribuiução foi ainda menor, de apenas 33%.

 

O estudo da McKinsey simula o que teria ocorrido com o PIB brasileiro entre 2003 e 2022 caso a produtividade do país tivesse crescido às taxas observadas em outras economias. 

A conclusão é que, caso a produtividade brasileira tivesse crescido no ritmo da indiana, o PIB do país em 2022 seria duas vezes maior. Se, por outro lado, ela tivesse acompanhado o ritmo da produtividade da China, nosso PIB seria quatro vezes maior. Mesmo considerando o ritmo da produção média da Ásia emergente, teríamos tipo um PIB 40% maior do que tivemos em 2022.

Um padrão semelhante teria ocorrido para a América Latina como um todo, como ilustra a figura a seguir: 1,3 vez maior assumida a produtividade média asiática emergente ou então 1,9 e 3,7 vezes maior se considerado o ritmo de expansão da produtividade indiana e chinesa, respectivamente.

A principal explicação para o baixo crescimento da produtividade, segundo a McKinsey, tem sido o baixo nível de investimento. A posição do Brasil é particularmente ruim nesse indicador, com uma taxa de investimento (18% do PIB) inferior, inclusive, à média da AL (20%) no período 2003 – 2023, quanto mais em relação aos asiáticos (31% na Índia e 41% na China).

Em boa medida devido a esta baixa taxa de investimento brasileira, para a América Latina atingir uma participação no investimento proporcional ao seu peso no PIB global terá que dobrar o valor corrente de seus investimentos.

Transformação tecnológica, transição climáticas e oportunidades para a América Latina

A Mckinsey lembra que produtividade depende do valor adicionado das empresas em suas operações e identifica três teixos para ampliá-la, envolvendo tecnologia, talentos e eficiência de custos.

Em primeiro lugar, operar com excelência, o que implica adaptar a cultura e as práticas de gestão para direcionar recursos às iniciativas de maior valor. A McKinsey aponta que cerca de 50% do tempo dos gestores seguem alocados em atividades de baixo valor.

Em segundo lugar, equilibrar os custos de talentos, ativos físicos e tecnologia para multiplicar o impacto da linha de frente da produção. A adoção de soluções de automação e de IA generativa irá possibilitar importantes ganhos de produtividade. Na manufatura, por exemplo, 36% do tempo de trabalho atual que podem ser automatizados até 2030.

Em terceiro lugar, acelerar o crescimento das receitas, aprimorando os benefícios das ofertas existentes e oferecendo experiências novas e inovadoras aos clientes.

 

A McKinsey alerta, ainda, que o esgotamento do bônus demográfico no Brasil e nos demais países da AL reforça o sentido de urgência de políticas que promovam o crescimento da produtividade.

Apesar do histórico recente e dos desafios existentes, a consultoria avalia que o mundo passa por transformações que podem representar oportunidades para os países da região, com destaque para: 

     i)  O imperativo da transição energética, que aumenta a relevância de recursos estratégicos; 

     ii)  A emergência de um mundo multipolar, com aumento da influência asiática e reestruturação do comércio exterior e das cadeias produtivas globais; 

     iii)  Forças demográficas que pressionam a oferta de alimentos e ampliam necessidades sociais; e 

     iv)  Revoluções tecnológicas e crescimento de ecossistemas digitais que transformam a operação industrial.

A McKinsey defende que a AL está especialmente bem posicionada para tirar proveito dessas tendências, sendo que o Brasil possui vantagens de mercado diferenciadas considerando aspectos econômicos, políticos, demográficos e tecnológicos. 

 

Se bem aproveitados, esses fatores de competitividade podem destravar oportunidades de investimentos em áreas como alimentos e recursos naturais; minerais críticos; revitalização da base industrial; novas energias de baixa emissão; digitalização e datacenters.

A McKinsey estima em US$ 1,2 trilhão de receitas adicionais para a América Latina até 2040 nestas seis áreas de investimento identificadas: US$ 380 bilhões na produção e processamento de alimentos e US$ 120 bilhões na extração de minerais críticos (lítio, cobre e iron), US$ 190 bilhões em novos setores manufatureiros (veículos elétricos, semicondutores, equipamentos médicos), US$ 50 bilhões em vetores energéticos ou “power to X” (amônia, metanol, querosene sintética, hidrogênio), US$ 380 bilhões em serviços digitais e BPO – Business Process Outsourcing e US$ 70 bilhões em datacenters.

Nova visão para políticas de desenvolvimento produtivo

Já a CEPAL aponta a importância de políticas que promovam o aumento da produtividade em empresas de diferentes portes, de todos os setores de atividade econômica e em todos os territórios nacionais.

Do ponto de vista setorial, a diferença de produtividade entre os setores na ALC sugere que há grande potencial para aumentar a produtividade por meio de mudanças estruturais positivas mais profundas. 

Por outro lado, a diferença de produtividade entre os setores em comparação com seus pares internacionais demonstra que há uma oportunidade significativa para melhorar a produtividade dentro dos setores existentes, inclusive daqueles intensivos em mão-de-obra.

Na dimensão regional, os desafios indicam a necessidade de políticas de desenvolvimento produtivo implementadas pelos governos subnacionais em toda a região.

Por fim, a análise da evolução da produtividade considerando diferentes portes de empresas reforça a necessidade de políticas específicas para MPEs, como políticas de extensionismo tecnológico e iniciativas de formação de encadeamentos produtivos.

Segundo a Cepal, as três armadilhas que a ALC enfrenta – baixo crescimento; alta desigualdade e pouca capacidade institucional – podem se tornar mais graves em um contexto de tensões geopolíticas e incerteza econômica. 

Além dos impactos diretamente associados à mudança de direção na política comercial dos EUA nos países da região, a persistência e o aumento dos conflitos militares provocaram uma redefinição de prioridades entre as grandes potências mundiais, que estão alocando mais recursos para o desenvolvimento de suas capacidades produtivas e de defesa em detrimento de áreas ligadas ao apoio aos países em desenvolvimento.

Para a ALC, esse novo cenário reafirma a urgência para que os países e territórios subnacionais definam estratégias que lhes permitam enfrentar as três armadilhas e abordar os problemas estruturais subjacentes, com destaque para o desafio da produtividade.

Para isso, a Cepal defende que os países da região avancem na concepção e implementação de políticas de desenvolvimento produtivo visando: 

     i)  Aumentar a produtividade dos setores, empresas e territórios mais atrasados; 

     ii)  Melhorar a produtividade dos setores, empresas e territórios líderes; 

     iii)  Incentivar o investimento e o desenvolvimento de novos setores, atividades e empresas de maior produtividade; e 

     iv)  Promover mudanças estruturais que permitam a migração de fatores de produção para setores e empresas de maior produtividade. 

Segundo a Cepal, contudo, até o momento os governos da região têm feito esforços marginais quando comparados com os de outros países. A entidade argumenta, ainda, que tais esforços são realizados de forma desarticulada, descontínua e gerenciados de forma muito centralizada, com pouco envolvimento dos territórios e partes interessadas locais. 

Com relação ao desenho das políticas, a CEPAL chama atenção para a falta de mecanismos de monitoramento e avaliação e para o seu baixo impacto nos indicadores de produtividade e crescimento. Diante disso, o relatório apresenta um conjunto de recomendações para aumentar a eficácia das políticas de desenvolvimento produtivo da região:

     •  Adotar abordagem que considere esforços horizontais e verticais para impulsionar a produtividade;

     •  Contemplar todos os setores da economia, não apenas a indústria;

     •  Definir prioridades – a CEPAL sugere, como referência, uma lista de “setores impulsionadores”: indústria farmacêutica e de ciências biológicas, de dispositivos médicos, manufatura avançada, exportação de serviços modernos ou habilitados por tecnologia da informação e comunicação, a sociedade de cuidados, serviços intensivos em mão de obra, governo digital, transição energética (energia renovável, hidrogênio verde e lítio), eletromobilidade, economia circular, bioeconomia (agricultura sustentável, recursos genéticos e bioindustrialização), agricultura para segurança alimentar, gestão sustentável da água e turismo sustentável, juntamente com uma área transversal de realocação geográfica de cadeias de produção e valor em todo o mundo.

     •  Promover a coordenação entre múltiplos atores dos setores público, privado, acadêmico e da sociedade civil para o trabalho em múltiplas frentes, como ciência, tecnologia e inovação, extensão tecnológica, empreendedorismo, transformação digital, redução de lacunas de talentos humanos, financiamento, investimento, infraestrutura e outros bens públicos específicos, agendas normativas e regulatórias e internacionalização;

     •  Reforçar a governança das políticas para viabilizar a coordenação de múltiplos atores, recursos e esforços em torno de agendas estratégicas de desenvolvimento produtivo; 

     •  Assegurar que uma parcela significativa das ações ocorra no nível subnacional, nos territórios e com atores locais, mas de forma alinhada com os esforços nacionais;

     •  Estimular iniciativas de cluster como uma forma de organizar esforços de desenvolvimento produtivo que combinem governança multissetorial, priorização setorial, abordagem territorial e governança experimental;

     •  Adotar uma abordagem de internacionalização visando: ampliar os mercados internacionais; competir efetivamente com as importações; atrair e maximizar o impacto do investimento estrangeiro direto; conectar setores produtivos com fontes globais de tecnologia e conhecimento (incluindo universidades, centros de tecnologia, redes de empreendedorismo e a diáspora); elaborar e implementar agendas regionais de desenvolvimento produtivo; e conectar-se com as políticas de desenvolvimento produtivo de outras regiões.

Las nuevas ultraderechas conservadoras y reaccionarias - José Antonio Sanahuja Perales

 Desde el post de José Antonio Sanahuja Persles (Linkedin)

Con Camilo López Burian, de la Universidad de la República, estudiamos el ascenso de las nuevas ultraderechas tratando de combinar factores situados en la trayectoria histórica de cada país, con una mirada global, que nos permite situarlas en un ciclo histórico de alcance mundial. Con esos antecedentes hablamos, como categoría analítica, de “ultraderecha neopatriota”, situándola en el cruce de dos clivajes: el que establece la ideología, y el que definen los posicionamientos ante una globalización en crisis: rechazo o aceptación del libre comercio y la transnacionalización económica, con sus ventajas, costes y riesgos globales; rechazo o aceptación de la migración y la multiculturalidad, o sobre las instituciones y normas regionales e internacionales respecto al marco soberano del Estado nación. Este segundo clivaje se puede resumir como la disputa entre nacionalismo y cosmopolitismo, o entre soberanismo y globalismo. 

La combinación de la extrema derecha, en el eje o clivaje ideológico; con posiciones soberanistas, ultranacionalistas y antiglobalistas en el segundo eje o clivaje entre nacionalismo y globalismo, conforma a lo que denominamos las ultraderechas neopatriotas. Siendo fuerzas conservadoras, incluso reaccionarias, también arremeten contra el orden liberal internacional y el “globalismo” de Naciones Unidas, el Foro Económico Mundial de Davos, la Agenda 2030, o las reglas de la Organización Mundial de comercio, en nombre de la libertad y la soberanía de las naciones y los individuos. La reciente Estrategia de Seguridad Nacional de Estados Unidos es un ejemplo de esas posiciones y de las alianzas políticas que se quieren promover a partir de ellas.

En ese grupo de ultraderechas neopatriotas, con las lógicas diferencias derivadas de su trayectoria nacional, se encuentra hoy el movimiento MAGA y Donald Trump en Estados Unidos; el bolsonarismo en Brasil; Javier Milei en Argentina; Putin en Rusia, Erdogan en Turquía, el movimiento Hindutva de Narendra Modi y el Bharatiya Janata Party en la India, las ultraderechas sionistas que apoyan a Netanyahu en Israel, y, por supuesto la pléyade de fuerzas de ultraderecha que hoy reúne el grupo “Patriotas por Europa” en el Parlamento Europeo, impulsado por Viktor Orbán, y que alberga a Vox. Denominación, por cierto, que se ajusta a nuestra categoría de análisis, aun siendo más reciente.

¿Cómo se explica en este contexto el triunfo electoral de José Antonio Kast, líder del Partido Republicano de Chile, vencedor en las elecciones presidenciales de 2025? Este interesante artículo de Natalia Chientaroli en elDiario.es lo relaciona con esa categorización, en diálogo con otras perspectivas, para explicar su ascenso y posiciones políticas, y cómo se relacionan con el rechazo a la inmigración y la inseguridad, factores clave en esas elecciones. 

https://lnkd.in/ePbQuVvy

Conversando com os Brics? Talvez, mas sem deixar de pensar… - Paulo Roberto de Almeida

 O Brics vai de vento em popa, ao que parece. Como eu nunca fui de tomar as coisas pelo seu valor de face, nunca deixei de expressar meu pensamento:

Uma parábola geopolítica mal sucedida?

Paulo Roberto de Almeida 

O BRIC diplomático já era totalmente artificial em sua origem forçada a partir de uma assemblagem arbitrária de quatro economias totalmente divergentes e interesses nacionais contraditórios. 

Tornou-se ainda mais artificial como BRICS, construido à força pela China.

Já sua conformação como BRICS+, desde o comando de suas duas autocracias, contra o desejo de seus dois outros membros originais, razoavelmente democráticos, deformou ainda mais sua arquitetura diplomática, parodiando o velho adágio segundo o qual “um camelo deveria ser um cavalo, mas foi desenhado por economistas”. 

Parece ser o destino desse grupo disforme, num desenho que fica entre o Picasso cubista e o Dali surrealista.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 28/11/2025”

Como diplomata, confesso que tenho vergonha da política externa do atual governo - Paulo Roberto de Almeida

Como diplomata, confesso que tenho vergonha da política externa do atual governo

Passei 44 anos trabalhando para o serviço exterior do Estado brasileiro, cumprindo instruções (mesmo se tivesse qualquer discordância parcial com algumas delas), acreditando servir ao melhor o interesse nacional.

Não era apenas, nunca fui, um burocrata obediente: contestei posturas e registrei em artigos e livros minha própria concepção de uma diplomacia adequada a nossos principios e valores e de uma política externa compatível com o Direito Internacional, não aquele abstrato, mas um apoiado na ética e na moral.

Pois devo dizer claramente agora, que como cidadão do mundo, antes mesmo que como um brasileiro comum, e ante a maior guerra de agressão levada a cabo por um Estado terrorista, comandado por um criminoso de guerra, contra um país soberano, tenho profunda vergonha do apoio objetivo que o atual governo concede ao Estado agressor. Repito: PROFUNDA VERGONHA, para que fique bem claro!

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/12/2025


Uma paz não kantiana?: Sobre a paz e a guerra na era contemporânea (trechos) - Paulo Roberto de Almeida

Um trecho de meu ensaio:
Uma paz não kantiana?
: Sobre a paz e a guerra na era contemporânea

Paulo Roberto de Almeida
In: Eduardo Svartman, Maria Celina d’Araujo e Samuel Alves Soares (orgs.),
Defesa, Segurança Nacional e Forças Armadas: II Encontro da Abed
(Campinas: Mercado de Letras, 2009, 376 p.; ISBN: 978-85-7591-112-9; p. 19-38).

Sumário:
1. Introdução: Raymond Aron corrige Immanuel Kant
2. Guerra e paz em perspectiva histórica
3. Sobre uma paz não kantiana, em meio a conflitos prováveis
4. Da grande para a pequena geopolítica (em torno dos conflitos regionais)
(...)

"Inglaterra e Espanha tiveram um grande enfrentamento geopolítico no século 16, em torno de seus interesses nacionais respectivos (que não se limitavam ao controle do Atlântico Norte). França e Inglaterra estiveram em conflito geopolítico no decorrer dos dois séculos seguintes, na Europa e nas Américas, episódios apenas concluídos com a derrota definitiva de Napoleão (ainda assim com escaramuças subsequentes, localizadas na África e no sul da Ásia). Depois, ambas as potências levaram uma luta geopolítica conjunta contra a expansão russa em direção do Mar Negro e contra o império otomano, nos Balcãs e no Oriente Médio. O século 19 e a primeira metade do século 20 foram, indiscutivelmente, etapas sucessivas da grande luta hegemônica conduzida pela Alemanha em sua busca de supremacia geopolítica na Europa central e em âmbito mundial. O Japão acompanhou a tendência, no mesmo período, tentando construir sua esfera de ‘co-prosperidade’ na Ásia, primeiro derrotando a China e a Rússia em conflitos limitados, depois invadindo a China em grande estilo, finalmente enfrentando o grande rival geopolítico no Pacífico, os EUA."
(...)
Trecho do final:
"Como dizia Sun Tzu (2008: 20), a guerra tem importância crucial para os Estados e, no cenário previsível, nenhuma comunidade internacional suplantará o poder dos Estados nacionais nas questões definitivas de guerra e de paz. Nas condições da globalização, porém, a guerra não tem mais por objetivo conquistar terrenos, subjugar inimigos ou esmagar desafiantes no plano diretamente material. A ‘guerra’ econômica da atualidade (e, presumivelmente, cada vez mais, as ‘guerras’ do futuro) tem mais a ver com o domínio da tecnologia e do saber científico do que com o deslocamento de tropas no terreno, mesmo que este ainda seja um fator diferencial para os conflitos de pequena geopolítica do presente e para contendores secundários (e, aqui, tanto Clausewitz quanto Maquiavel podem ser de grande auxílio intelectual).
Quanto à grande geopolítica, ela provavelmente terá mais a ver com Adam Smith do que com Kant, mesmo que este continue relevante, talvez em alguma combinação com o primeiro, segundo uma fórmula ainda não exatamente detectada pelos cientistas políticos da globalização. Para terminar mais uma vez com Raymond Aron, ouso reinterpretar seu velho diagnóstico do início da Guerra Fria e formular uma antevisão para os primeiros (e seguintes) anos do século 21: guerra distante, paz possível, mas conflitos muito prováveis...

[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de março de 2009]

Ler a íntegra aqui:
Disponível na plataforma acadêmica Academia.edu:
https://www.academia.edu/145428228/1987_Uma_paz_n%C3%A3o_kantiana_Sobre_a_paz_e_a_guerra_na_era_contempor%C3%A2nea_2009_
Divulgado no blog Diplomatizzando: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/12/uma-paz-nao-kantiana-sobre-paz-e-guerra.html

Mercado Comum da Guerra? Acordo Militar EUA-Paraguai

Mercado Comum da Guerra?

O Mercosul deveria ser, em princípio, uma zona de livre comércio e também uma zona de paz, entre seus próprios membros e entre eles e terceiros, sem algum acordo exclusivo com vistas à cooperação com um Departamento de Guerra de uma grande potência. O Paraguai — que eu achava, em meu primeiro livro sobre o Mercosul, 1993, que NÃO deveria pertencer ao Mercosul, mas esse trecho foi objeto de censura de algum sábio do Itamaraty — acaba de inovar nesse quesito e cria um enorme problema para o Brasil (mas não para a Argentina de Milei, d talvez não para o Chile de Kast, em 2026). Tudo agora é possível, até um esvaziamento do Mercosul, sobretudo se o acordo com a UE não sair. Tempos interessantes!

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Governo Trump assina acordo de cooperação com Paraguai que prevê atuação de militares dos EUA no país

Acordo condiz com novas bases da estratégia militar americana, divulgadas do início do mês, que estabelecem a América Latina como uma esfera prioritária de interesse estratégico dos Estados Unidos, ecoando a Doutrina Monroe.”

Redação g1, 15/12/2025


https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/12/15/governo-trump-assina-acordo-de-cooperacao-com-paraguai-que-preve-militares-dos-eua-no-pais.ghtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=share-bar-mobile&utm_campaign=materias

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

RECHERCHES INTERNATIONALES, FISSURES DANS L’ATLANTISME - Alexis COSKUN, Pierre GUERLAIN, Michel ROGALSKI

 RECHERCHES INTERNATIONALES, décembre 2025

PRÉSENTATION
FISSURES DANS L’ATLANTISME
Alexis COSKUN, Pierre GUERLAIN, Michel ROGALSKI
COORDINATEURS DU DOSSIER

Tout chez Donald Trump peut surprendre les observateurs européens : son style, son agressivité, son approche transactionnelle des affaires publiques. Il ne faut pourtant pas se méprendre. La « doctrine Trump » ne constitue pas une rupture imprévisible dans une relation transatlantique pourvoyeuse éternelle de paix, de prospérité et de stabilité.
La relation transatlantique est d’abord le produit de relations de puissances au sein de et entre l’Europe et les Etats-Unis. Ensuite, loin d’être continue et constante la trajectoire de cette relation a épousé les revirements, parfois brutaux, des différentes doctrines stratégiques américaines. Ce faisant les évolutions de la relation transatlantique ont participé de chacune des grandes étapes de la redéfinition des rapports de forces mondiaux depuis le XXème siècle.
Dans ce cadre, il est légitime de s’interroger : à l’heure de Donald Trump, qu’est-ce que la relation transatlantique nous dit des rapports de puissance entre l’Europe et les États-Unis ?
Les conditions commerciales drastiques exigées lors de l’accord dit de « Turnberry » aux européens ont largement été comparées aux Traités inégaux imposés par ces derniers à la Chine au milieu du 19ème siècle. Si l’identification a ses limites, il en demeure un trait commun essentiel : dans les deux cas une différence massive de puissance permit de forcer la partie la plus faible à des concessions extraordinaires et défavorables à ses propres intérêts. Hier l’Empire du milieu acceptait d’ouvrir ses ports à la marine marchande britannique, aujourd’hui l’Europe promet 600 milliards d’investissements productifs aux États-Unis. Si l’Union européenne ne cède pas de territoire en concession, comme auparavant la Chine livrait Hong-Kong aux britanniques et comme les menaces trumpiennes sur le Groenland le faisaient craindre, elle s’engage à payer un tribut de 730 milliards de dollars en produits gaziers et pétroliers auprès des États-Unis. Pour exiger son dû, l’administration américaine a fait étalage de toute sa force. Politiquement elle a remis en cause la souveraineté même des États européens : en menaçant d’annexion certains territoires, en refusant l’application des règles et décisions de justice européennes, particulièrement celles visant ses géants numériques, en dénigrant ses gouvernants et en intervenant directement dans plusieurs forums ou processus électoraux en soutien à certaines des forces xénophobes et populistes du gouvernement. Stratégiquement, elle a contraint les États européens membres de l’Otan à accroître leurs niveaux de dépenses. Économiquement, surtout, elle a directement menacé les industries européennes en faisant planer le risque de couper tout accès réel à son marché, destination toujours privilégiée d’un grand nombre de productions des pays d’Europe, en imposant des droits de douanes largement disproportionnés.
Donald Trump a pu imposer de tels sacrifices à ses homologues européens car ces derniers se trouvent dans une situation de dépendance critique vis-à-vis des États-Unis. Le militaire en est le plus ancien et le plus évident aspect : la majeure partie des armées européennes repose presque exclusivement sur les États-Unis pour leur armement, leur entraînement et leur commandement au sein de l’État-Major de l’Otan. Cependant, la marque distinctive de la période actuelle réside dans un assujettissement européen grandissant dans d’autres domaines. Aux premiers rangs de ceux-ci figurent la soumission des européens aux grandes entreprises numériques américaines, les GAFAM qui sont désormais devenues indispensables non seulement aux entreprises mais également aux citoyens européens. Au travers de ces entreprises, bien souvent en situation de monopoles ou d’oligopoles sur leurs marchés, le gouvernement américain peut contrôler l’accès à des données, des technologies, des savoirs faires essentiels aux européens. S’affirme également avec force la dépendance grandissante des européens à l’énergie américaine, et particulièrement à son Gaz Naturel Liquéfié (GNL) remplaçant de manière croissante les hydrocarbures et le gaz russe. Les européens payent le prix de leurs dépendances. Le refus de maintenir une indépendance militaire et politique réelle vis-à-vis des États-Unis, le recul des investissements dans les infrastructures critiques et énergétiques, l’alignement militaire et diplomatique quasi constant vis-à-vis des États-Unis ont conduit nécessairement les États européens à une situation de fragilité. Plus qu’une rupture franche et éclatante dans la relation transatlantique, Donald Trump tire parti des déséquilibres structurels accumulés dans les rapports économiques et stratégiques entre l’Europe et les États-Unis depuis la fin de la Seconde Guerre mondiale.
L’affirmation grandissante de la domination américaine sur l’Europe répond à l’impératif stratégique immédiat des États-Unis : contrer la montée en puissance de la Chine. Plus qu’un retour à un isolationnisme théorique, il s’agit d’envoyer un message clair aux européens : l’inféodation pleine et entière. Face à la Chine, alors que les flux commerciaux se concentrent de manière croissante autour de blocs géopolitiques, l’équidistance entre puissances ne peut plus être tolérée par Washington. Cette évolution expose, en définitive, les limites d’un modèle de développement européen construit sur le double pari de la délégation de ses prérogatives militaires et régaliennes aux États-Unis - moins vrai pour la France -, de l’intégration de sa production économique dans des chaines de valeur mondialisées toujours plus étendues et intégrées. Privés de ressources énergétiques et minérales propres, tributaires de technologies qu’ils ne maîtrisent pas, sujets à des mesures commerciales brisant l’intégration économique mondiale dont ils sont dépendants les européens ne peuvent maintenir l’équilibre précaire construit depuis 1989. La Chine se refuse au cantonnement au statut d’atelier du monde et n’offre plus de débouchés commerciaux sans fins. L’Europe est écartelée entre puissances contradictoires. En exigeant un alignement total, la relation transatlantique constitue aujourd’hui un handicap pour l’Europe. Les pays européens ne peuvent ignorer la nécessité de repenser leur modèle de développement, et leur relation à Washington. La discussion est d’ailleurs, de manière protéiforme, sur la table, à l’image du denier rapport Draghi. Il demeure que sans mise en cause de leur alignement stratégique vis-à-vis des États-Unis et sans rupture dans un modèle ancré sur les seules logiques de la mondialisation financière, au détriment de la pensée stratégique, les pays européens ne retrouveront pas les voies de leur souveraineté, si ce n’est de leur indépendance.
Les fissures dans la relation transatlantique s’amorcent lorsqu’Obama décide d’amorcer le virage vers le « pivot asiatique » marquant tout à la fois un moindre intérêt pour l’Europe, la certitude que la Russie était reléguée à un statut de puissance régionale et que désormais son seul rival était la Chine et sa préoccupation le contrôle de l’Asie-Pacifique. La guerre entre la Russie et l’Otan sur les terres ukrainiennes a confirmé la différence d’approche entre les deux rives de l’Atlantique et la prise de conscience brutale pour les Européens que la solidarité qui s’exerçait dans le cadre de l’Otan n’avait plus rien d’automatique. La période ouverte par le deuxième mandat de Trump se traduit par un triple mouvement : la perte d’influence, notamment économique, des États-Unis face à la montée d’un Sud global emmené par les BRICS et la Chine ; une Europe qui se « fabrique » un adversaire russe pour accroître ses dépenses militaires et ne pas se désarrimer de Washington ; et cette dernière qui exige de ses Alliés une inféodation absolue – on pense à l’accord signé par Ursula Van de Leyen au nom de l’Europe avec Trump – qui emprunte les formes grossières d’une colonisation que l’on pensait obsolète. Un tel équilibre ne peut qu’être instable, tant les dynamiques à l’œuvre sont rapides et puissantes.

ÉDITORIAL

LA GÉNÉRATION Z BOUSCULE TOUT SUR SON PASSAGE
MICHEL ROGALSKI*

Comme une traînée de poudre qui rappelle les prémices de 1968 ou les Printemps arabes, de fortes manifestations de jeunes, sans affiliation politique ou syndicale, ont gagné la planète, notamment le Sud global, de façon inopinée et empruntant des formes spécifiques selon le pays.
Sans lutte armée, sans putsch mais avec détermination impressionnante face à la répression. Utilisant les formes les plus modernes de communication, d’échanges et de coordination comme la plateforme « Discord » de messagerie américaine destinée aux adeptes de jeux en lignes instantanée et bien vite détournée. La plateforme Discord s’est révélée un formidable outil de communication et d’échanges politiques et affirme réunir 200 millions d’utilisateurs à travers le monde. Tik Tok et Instagram complètent le dispositif. Le mouvement s’est répandu à travers la planète, portant partout des revendications largement partagées pouvant se résumer à travers le mot d’ordre « Donnez-nous des droits, enlevez les privilèges ». À cela s’ajoute le refus contre la vie chère et le chômage élevé, l’indigence de services publics ou celui d’être considérés comme des parasites. Parfois avec violence de masse comme au Népal où le Parlement a été incendié et le gouvernement limogé Ce mouvement mondial s’est doté d’un symbole, une tête de pirate, inspiré du célèbre manga One Piece où le pirate Luffy libère les peuples et se bat contre un gouvernement corrompu.
Deux luttes emblématiques : Maroc et Madagascar
Ces deux pays illustrent bien la diversité de ces mouvements.
Tout d’abord le Maroc où rappelons-le la colère s’est propagée après la mort, en août, de huit femmes venues, la même semaine, accoucher par césarienne dans l’hôpital Hassan II d’Agadir dans le sud du pays. Des débordements violents entraînent la mort de trois manifestants. Les protestations s’enchaînent dans tout le pays et demandent la démission du premier ministre Aziz Akhannouch en poste depuis quatre ans. Par contre, le Roi du Maroc – 26 ans de règne - et le régime monarchique sont épargnés. La répression s’organise contre le mouvement qui s’est autoproclamé Gen Z 212 (c’est le numéro du code postal international du pays). La vague répressive atteint déjà plusieurs milliers d’arrestations dont un millier a abouti devant le procureur. Non seulement le mouvement n’a pas été cassé mais la presse s’est solidarisée avec les manifestants et stipendie le système oligarchique. Les mots d’ordre et les revendications s’étoffent et réclament de meilleurs services d’éducation et de santé et plus largement de services publics au service de tous. Le capitalisme de rente et de connivences, la corruption deviennent le centre des mots d’ordre. La bataille idéologique fait rage et pose la question du « patriotisme sportif » mis en avant par le régime pour désamorcer le ressentiment populaire. En effet le Maroc ambitionne d’accueillir la prochaine Coupe d’Afrique des Nations de football CAN) et la Coupe du monde de 2030 et s’attire la réponse cinglante des manifestants : « des écoles et des hôpitaux, plutôt que des stades ! ». Et d’ajouter dans une feuille de route : « Nous exigeons que soit comblé le fossé béant entre le Maroc promis par les textes officiels et le Maroc que nous vivons au quotidien. » On assiste à la naissance d’un mouvement sans leader, mené par des jeunes, à la recherche d’un nouveau contrat social et bien décidé à affronter le pouvoir. L’image du royaume notamment à l’étranger a pris un sérieux coup et s’est déjà fissurée. Mais pour l’instant le régime tient bon grâce à la répression et bénéficie d’un large appui des États-Unis qui en ont fait leur principal allié militaire en Afrique ou de la France, son meilleur point d’appui au Maghreb. En outre le Maroc est le premier pays arabe à avoir eu des liens diplomatiques avec Israël, dès 2020, et rêve d’un rapprochement avec l’Union européenne. C’est dire combien le Maroc est un maillon important du système occidental.
À Madagascar, l’armée a désavoué la répression des manifestants par la gendarmerie – comme lors du printemps tunisien, lorsque l’armée a refusé de rejoindre la police entraînant la fuite de Ben Ali. Là encore le président en place depuis 2018 a été exfiltré dans un avion militaire français. Il se trouve aujourd’hui à Dubaï alors que ses collaborateurs les plus proches ont trouvé refuge, grâce à des avions privés, à l’île Maurice où certains d’entre eux ont étés arrêtés et inculpés pour blanchiment d’argent. Le mouvement de protestation s’est mobilisé fin septembre sur deux éléments qui empoisonnent et désorganisent la vie des habitants : les coupures d’eau et d’électricité qui témoignent du caractère obsolète et non-entretenu des réseaux d’équipement ainsi que du manque d’investissements de l’État et sa mauvaise gouvernance dans un pays où le taux de pauvreté touche 75 % de la population. 400 000 jeunes arrivent sur le marché du travail chaque année. C’est devenu une bombe à retardement qui explose aujourd’hui car l’économie ne créée pas suffisamment d’emplois, ce qui oblige ces jeunes à se tourner vers le secteur informel, sous-payé et précaire par définition. Très vite les partis d’opposition et les syndicats ont épousé la cause de la jeunesse et ont appelé à la grève générale alors que les manifestations se sont transformées en émeutes, en pillage et en incendies. La situation est devenue insurrectionnelle et le président a dû lâcher du lest et limoger le gouvernement. La viralité des réseaux sociaux a contribué à l’extension du mouvement. Aujourd’hui les militaires ont pris le pouvoir. Le mouvement Gen Z essaie de les mettre sous surveillance tout en craignant lui-même d’être écarté du processus en cours. En signe de gage de bonne fois, les militaires ont confié à une quarantaine de magistrats de la Cour des comptes le mandat de procéder à un audit de l’État et de la gestion de l’ancien régime. Madagascar est un allié fidèle de Paris. Il faudra suivre avec attention l’évolution de l’avenir de la base navale de Diégo-Suarez, un temps tombée en désuétude mais que les autorités françaises voudraient remettre en activité – base essentielle pour surveiller le trafic qui transite par le canal de Mozambique.
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Ces luttes multiples témoignent de la remise en cause du système partout dominant. Du Maroc au Népal, du Pérou au Bangladesh, du Sri Lanka au Kenya, de la Birmanie à Madagascar, d’Indonésie au Timor-Oriental ou aux Philippines, ces luttes, parfois insurrectionnelles partent à l’assaut des inégalités. Il faut reconnaître l’universel à travers chacune de ces situations particulières. Si la démocratie libérale et les régimes qui la portent sont partout conspués, ils ne sont pas pour autant tous défaits. Le contenu idéologique de ces mouvements reste flou, et s’il témoigne d’un « dégagisme » certain, la colère s’exprime en termes moraux mettant en avant la corruption, le népotisme, la dignité, la trahison, les dépenses fastueuses et l’incompétence. Tous ces griefs s’ajoutant aux traits fondamentaux de ces régimes qui reposent sur l’injustice sociale, le déclassement, la précarité permanente, le chômage, la pauvreté de masse qui touchent l’ensemble de la population et surtout une jeunesse - dont le poids démographique est énorme - qui reste sans avenir et sans perspectives. La détresse et la colère de la jeunesse sont emblématiques d’une situation qui touche toute la population qui assiste à la privatisation des services publics. Les jeunes souvent plus éduqués et diplômés et aujourd’hui largement connectés ont très vite pris conscience, surtout en milieux urbains, de cette situation qui ne peut que les révolter.
Il ne faut pas s’étonner, en l’absence d’idéologie constituée et de structures organisées pour la porter, si les succès sont peu nombreux ou de courte durée et cèdent vite la place à des régimes autoritaires comme ce fut le cas en Tunisie ou en Égypte où des forces organisées de longue date ont su capter le mouvement à leur profit. Les réseaux sociaux – seuls outils de communication et d’organisation – efficaces pour la mobilisation, peuvent accompagner un mouvement mais ne pourront pas se substituer à lui s’il n’existe pas.

A Paz como Projeto e Potência! - Ciclo de Humanidades, André Magnelli e Paulo Roberto de Almeida

 ÚLTIMO ENCONTRO DO CICLO DE HUMANIDADES 2025- 🕊️ 

A Paz como Projeto e Potência! 🌎

Acadêmicos, pesquisadores e todos os curiosos por um mundo mais justo! 🚨 O que é a Paz? Quais são os tipos e modos de sua realização? Podemos construir ativamente uma convivência justa e livre? 🤔

💬 Esses são alguns questionamentos do nosso quarto e último encontro do Ciclo de Humanidades 2025! Encerramos o ano nos concentrando na “pesquisa construtiva da paz”, que consiste na diminuição dos conflitos internacionais por meio de mecanismos cooperativos que fortaleçam um mundo comum – capazes, eventualmente, de gerar uma “paz perpétua” (Kant).

Em diálogo com pensadores como Kant, Paul Valéry, Norberto Bobbio, Hannah Arendt e Raymond Aron, pensaremos a paz não como uma realidade imposta pela impotência, mas sim como um projeto de potencialização, capaz de propiciar uma convivência satisfatória entre os povos da Terra.

Teremos a valiosa participação do diplomata e doutor em Ciências Sociais, Paulo Roberto de Almeida, e do sociólogo e curador do Ciclo, André Magnelli @magnelliandre , compondo nossa mesa redonda! 🙌

Não perca o encontro que encerra a edição deste ano! Venha refletir e construir caminhos conosco!

https://ateliedehumanidades.com/2025/12/15/quarto-encontro-do-ciclo-de-humanidades-2025-a-paz-como-projeto-e-potencia/

📢  Quando e Onde:

🗓 18 de dezembro de 2025

⏰️ 17h30 – Evento online – transmissão ao vivo no canal do Youtube da BiblioMaison:

https://www.youtube.com/watch?v=g2xfS4cngpI 

Venha participar!

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Para conhecer meu "pensamento estratégico" (estou brincando), convido os interessados a ler este meu trabalho: 

Uma paz não kantiana: sobre a guerra e a paz na era contemporânea

Ler a íntegra aqui:
Disponível na plataforma acadêmica Academia.edu:
https://www.academia.edu/145428228/1987_Uma_paz_n%C3%A3o_kantiana_Sobre_a_paz_e_a_guerra_na_era_contempor%C3%A2nea_2009_
Divulgado no blog Diplomatizzando: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/12/uma-paz-nao-kantiana-sobre-paz-e-guerra.html


Uma paz não-kantiana? Sobre a paz e a guerra na era contemporânea - Paulo Roberto de Almeida

 Uma paz não-kantiana? Sobre a paz e a guerra na era contemporânea

(Brasília, 5 março 2009, 19 p.; 1987)

Paulo Roberto de Almeida
In: Eduardo Svartman, Maria Celina d’Araujo e Samuel Alves Soares (orgs.), Defesa, Segurança Nacional e Forças Armadas: II Encontro da Abed (Campinas: Mercado de Letras, 2009, 376 p.; ISBN: 978-85-7591-112-9; p. 19-38). Disponível na plataforma acadêmica Academia.edu: https://www.academia.edu/145428228/1987_Uma_paz_n%C3%A3o_kantiana_Sobre_a_paz_e_a_guerra_na_era_contempor%C3%A2nea_2009_ . Relação de Publicados n. 908.

Sumário:
1. Introdução: Raymond Aron corrige Immanuel Kant
2. Guerra e paz em perspectiva histórica
3. Sobre uma paz não kantiana, em meio a conflitos prováveis
4. Da grande para a pequena geopolítica (em torno dos conflitos regionais)


Resumo: Em 1948, Raymond Aron, convencido dos impasses da Guerra Fria, formulou um diagnóstico por ele confirmado três décadas depois: “paz impossível, guerra improvável”. Uma leitura não kantiana dos problemas da paz e da guerra atualmente – isto é, não condicionada aos sistemas políticos dos contendores, mas situada na tradição aroniana – poderia introduzir novas reflexões sobre a natureza dos conflitos contemporâneos. As possibilidades de conflito aberto entre as grandes potências retrocederam em relação ao panorama de guerras totais, de estilo clausewitziano, que Aron contemplava em sua época. Mas não estamos sequer próximos de qualquer tipo de paz “kantiana”. O cenário estratégico poderia ser resumido numa paráfrase da afirmação aroniana: paz possível, conflitos prováveis.
Palavras-chave: Guerra. Paz. Globalização. Conflitos contemporâneos.

A non-Kantian peace?: On peace and war in the contemporary era
Abstract: Raymond Aron, believing in the irretrievable nature of the Cold War divide between Western powers and Soviet Empire, formulated in 1948 his very well known diagnostics about this conflict: “impossible peace, improbable war”, which he confirmed three decades later, in his posthumous work, “The Last Years of the Century”. A present-day non-Kantian reading of the peace and war problems in the context of globalization – and thus not conditioned by the political system of the contenders, albeit within Aronian tradition – could help in bringing new light to the discussion about possible conflicts in contemporary era. Possibilities of open conflicts between the big powers have receded in comparison with the Clausewitzian scenario, analyzed by Raymond Aron in his time. Yet, we are very far from any kind of a Kantian peace. Strategic scenario could be interpreted by a paraphrase of the Aronian dicto: “possible peace, probable conflicts”.
Key-words: War. Peace. Globalization. Contemporary conflicts.

FORÇA, MINISTRO FACHIN EDITORIAL DO ESTADÃO, 15/12/2025 - Por um Código de Ética para a ministrança

 FORÇA, MINISTRO FACHIN

EDITORIAL DO ESTADÃO, 15/12/2025

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, propôs um código de ética para ministros. A reação dos colegas, entre a indiferença e a irritação, não poderia ser mais eloquente, razão pela qual, segundo se relata em Brasília, Fachin está isolado no Supremo. Diante disso, este jornal manifesta total apoio à iniciativa de Fachin – e concita o Brasil a fazer o mesmo. Se o presidente do Supremo está isolado na Corte, deve ficar claro para seus pares que o País está com ele.

Suprema ironia: o tribunal que alterna seus dias entre promover cruzadas moralizantes e reescrever leis e a própria Constituição recusa-se a redigir um punhado de regras para si mesmo.

Paradoxal, mas consequente: regulamentos elementares de decoro e transparência, que regem as cortes de democracias civilizadas, ameaçam a rotina de privilégios, permissividade e jurisdições alternativas no Brasil – viagens bancadas por empresários com processos na Corte; jantares de lobby travestidos de “seminários”; palestras remuneradas por grupos de interesse; camarotes e jatinhos emprestados; parentes operando como cambistas processuais; sociedades comerciais de ministros; comentários políticos na grande mídia; apadrinhamento de indicações na Justiça; costuras com caciques parlamentares. No mundo real isso se chama conflito de interesses; no STF é “agenda institucional”.

A Corte é hoje a reserva amoral da Nação. Os ministros tornaram inaplicáveis a si mesmos as resoluções do Conselho Nacional de Justiça, a Lei Orgânica da Magistratura Nacional e seu Código de Ética. Declararam-se imunes a impedimentos por suspeição, limitações a atividades empresariais ou à obrigação de se manifestar somente nos autos.

Quando o topo cultiva a indústria do lobby judicial, o empreendedorismo togado, o nepotismo de alta performance, o ativismo ideológico, a guerra santa contra a transparência, por que um desembargador se daria ao trabalho de dizer “não”? Juízes e promotores observam e concluem: a ética é adereço opcional. O STF deveria ser o vértice da integridade republicana. Converteu-se no epicentro da degradação. A confiança pública na Corte segue em queda livre. Tribunais vivem de autoridade simbólica – e ela se desintegra quando seus membros parecem personagens de uma crônica de costumes, não guardiões da lei.

O caso do Banco Master é um microcosmo nesse universo promíscuo. Seu controlador, Daniel Vorcaro, investigado por uma coleção de fraudes, patrocinou encontros exclusivos dos ministros com políticos e empresários e celebrou contratos multimilionários com seus parentes. Quando sua situação criminal se agravou, uma petição nebulosa aterrissou no gabinete de Dias Toffoli, que já confraternizou com ele e advogados do banco. O inquérito foi trancado sob sigilo e descansa em paz.

Se o Estado não controla sua cúpula judicial, como resistirá à infiltração do crime organizado? “Esse país já teve presidente preso, deputado preso, governador preso”, alertou o senador Alessandro Vieira, “mas ainda não teve ministros dos tribunais superiores – e me parece que esse momento se avizinha”.

A crise ética não decorre de pecadilhos individuais. É estrutural. Nasce da fusão entre poder ilimitado e autorregulação indulgente. O personalismo monocrático contaminou a vida judicial. A autoimunidade é reforçada por uma blindagem ativa contra qualquer controle externo: rechaço a auditorias independentes, resistência a mecanismos parlamentares de responsabilização, hermenêuticas criativas que convertem prerrogativas em salvo-condutos. O STF tornou-se juiz – e não raro cúmplice – de si mesmo. Quebrou a bússola moral e a jogou fora.

O código proposto por Fachin não é panaceia, mas seria um bom começo. Ele não limitaria a liberdade da Corte, só a libertinagem de seus ministros. O STF vive a maior crise moral de sua história. E não porque é desmoralizado por “extremistas de direita”, mas porque seus membros normalizaram comportamentos que em jurisdições civilizadas são incompatíveis com a toga. Um tribunal que confunde independência com licença, prerrogativa com privilégio e autoridade com impunidade não conseguiria defender a Constituição – nem que quisesse.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...