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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

A contribuição teuta à formação da nação brasileira - Dietrich Böhnke

A contribuição teuta à formação da nação brasileira - por Dietrich Böhnke

Blog Brasil-Alemanha, 16/01/2014
A história teuto-brasileira está cheia de fatos impressionantes. Não dá para entender por que os brasileiros nada sabem a respeito da contribuição de seus concidadãos alemães. A historiografia brasileira está orientada só para o lado luso. 
Saiba mais >>>

Uma matéria marcante e abrangente sobre a presença alemã no Brasil desde o seu descobrimento está nas páginas 1 e 8 do semanário Brasil-Post de 20 de julho 2001. O jornalista e historiador Dieter Böhnke, ex-assessor de Imprensa da Bayer S. A., faz um amplo relato da participação contínua de alemães na história do Brasil, presentes já na esquadra de Pedro Álvares Cabral, e de sua profunda influência nos mais diversos setores. A bandeira do Brasil, por exemplo, é a expressão da feliz união de duas dinastias: o verde representa a Casa de Bragança de Dom Pedro I e o amarelo a Casa de Loríngia e Habsburg, da qual descende a Imperatriz Dona Leopoldina, esposa de Dom Pedro I. O verde e o amarelo representam também, como cores nacionais, a República. “Wo, bitte - fragt Dieter Böhnke – wird das an brasilianischen Schulen gelehrt - Onde, por favor - pergunta Dietrich Böhnke – isso é ensinado em escolas brasileiras?” Também o brasão da República do Brasil foi projetado por um engenheiro alemão, Artur Sauer, em 1889, por incumbência de seu amigo Marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da nova República e grão-mestre do Grande Oriente dos maçons. (Íntegra, em alemão, do artigo de Dieter Böhnke em “Destaques” no site www.bralon.com  -  obs.: bralon foi durante algum tempo a forma abreviada de designar "brasilalemanhaonline"). Esperamos em breve recuperar este texto também no original alemão, publicado no BrasilAlemanha em 2001 - Nota da Redação).

* * * * *
Em complemento a este breve relato, BrasilAlemanha recebeu o seguinte Comentário esclarecedor, de André Luís Hammann, de Montenegro, RS, aqui reproduzido na sua sequência lógica e na íntegra:
“Olá caro Rockenbach,

Eu li o artigo postado no site Brasil-Alemanha, elaborado pelo Sr. Böhnke, o felicito pelo excelente e preciso resgate histórico sobre a importância dos imigrantes germânicos na formação do nosso país.

Quero apenas complementar que na parte de Economia se falou de uma forma mais exclusiva sobre a Indústria, porém gostaria de reforçar que o imigrante alemão e seus descendentes também foram a chave para o boom agrícola do Brasil, a produção em larga escala da soja protagonizada pela cidade de Santa Rosa no RS e com isto veio o surgimento e expansão da indústria agrícola ou de máquinas agrícolas, como grande ícone a antiga SLC de Horizontina RS – veja um breve relato que fiz um tempos atrás, mas que pode complementar este resgate histórico:

“Cito empreendedores de origem alemã como Gerdau (maior multinacional brasileira, com grande número de fábricas de aço nos EUA), a antiga SLC (Schneider, Logemann e Cia) fabricante da primeira colheitadeira de grãos (soja, milho, trigo, arroz...) brasileira, consagrando Horizontina como a capital nacional da colheita mecanizada, a IDEAL da família Gelbhaar de Santa Rosa (também fábrica de colheitadeiras), Eickhoff e Fankhauser fabricantes de plantadeiras, antiga fábrica de tratores Müller, as indústrias de couro e calçadistas do Vale do Rio dos Sinos no RS, cidades do noroeste gaúcho, colonizadas em sua maioria por alemães, responsáveis pela produção leiteira e de suínos do Estado, o pastor luterano teuto-americano Lehenbauer que trouxe as primeiras sementes de soja para Santa Rosa (“Capital Nacional da Soja”), de onde a cultura foi difundida, tornando-se hoje o produto agrícola mais produzido no Brasil, importantíssimo para a economia nacional e exportações. Temos ainda Kohlbach, Renner, WEG, Schulz, VARIG... Ainda temos indústriis de capital alemão, como Stihl, Thyssen Krupp, Mannesmann, Siemens, Voith, Volkswagen, Mercedes-Benz, Motores MWM... A Alemanha é um dos países que mais possui investimentos no Brasil, sendo responsável por cerca de 10% do seu PIB.”

Eu espero que o Governo Brasileiro e a Sociedade reconheçam neste ano Festivo a importância dos alemães e seus descendentes para a formação da nossa cultura e economia, além de outras áreas...”

André Luís HAMMANN 
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Comentários


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Historiadores em geral são brasileiros descendentes de portugueses de Rio e SP, e menosprezam a presença germânica, italiana, polonesa, japonesa, dentre outros tantos povos que construíram este país... Meu doutorado foi sobre os alemães no Rio de Janeiro, de 1816-1866, formada por negociantes, artífices, fabricantes e artistas.

Eu e minha turma de gastronomia da UNIMONTE de Santos, SP, estamos organizando um pequeno evento cujo tema é Alemanha no Sul do Brasil. Será realizado nas dependências da faculdade no dia 10/06. Agradeço por compartilharem conosco suas tradições e costumes. Nos sentimos honrados por divulgar esta rica cultura em nossa região. Este site foi de grande valia para nós.


Parabenizo este site pela ótima reportagem, tivessem mais sites, escolas, e outros meios culturais no Brasil, que, infelizmente carece muito destes, o povo brasileiro teria mais acesso ao conhecimento e a sua história verdadeira! Infelizmente nada do que se pode ler acima é ensinado nas escolas e nem faculdades, o povo brasileiro sequer conhece metade de sua história! No desenvolvimento, nas artes, cultura, e até na criação de símbolos nacionais do nosso país sempre esteve o conhecimento e a participação dos valorosos imigrantes Alemães que, outrora e as vezes ainda pouco são valorizados e reconhecidos! A bem da verdade, sem a participação dos imigrantes Alemães, nem sei onde estaríamos hoje neste país, que mesmo assim, ainda engatinha e esta tão difícil conseguir tirar do atoleiro generalizado em que sempre está com suas corrupções, desvios, altos impostos e demais desorganizações, em todos os sentidos! Parabéns ao Sr. Dieter Böhnke por este belo trabalho de esclarecimento, e tamb... (...)



Olá caro Rockenbach, Eu li o artigo postado acima escrito pelo Sr. Böhnke, o felicito pelo excelente e preciso resgate histórico sobre a importância dos imigrantes germânicos na formação do nosso país. Quero apenas complementar que na parte de Economia se falou de uma forma mais exclusiva sobre a Indústria, porém gostaria de reforçar que o imigrante alemão e seus descendentes também foram a chave para o Boom agrícola do Brasil, a produção em larga escala da Soja protagonizada pela cidade de Santa Rosa no RS e com isto veio o surgimento e expansão da Indústria Agrícola ou de máquinas agrícolas como grande ícone a antiga SLC de Horizontina RS – veja um breve relato que fiz um tempo atrás, mas que pode complementar este resgate histórico: “Cito empreendedores de origem alemã como Gerdau (maior multinacional brasileira, com grande número de fábricas de Aço nos EUA), a antiga SLC (Schneider, Logemann e Cia) fabricante da primeira colheitadeira de grãos (soja, milho, trigo, arroz...) brasileira, consagrando Horizontina como a capital nacional da colheita mecanizada, a IDEAL da família Gelbhaar de Santa Rosa (também fábrica de Colheitadeiras), Eickhoff e Fankhauser fabricantes de plantadeiras, antiga fábrica de tratores Müller, as Indústrias de Couro e Calçadistas do Vale dos Sinos no RS, cidades do noroeste Gaúcho, colonizadas em sua maioria por alemães, responsáveis pela produção leiteira e de suínos do Estado, o Pastor Luterano Teuto-Americano Lehenbauer que trouxe as primeiras sementes de soja para Santa Rosa (capital nacional da soja), de onde a cultura foi difundida, tornando-se hoje o produto agrícola mais produzido no Brasil, importantíssimo para a economia Nacional e exportações, temos ainda Kohlbach, Renner, WEG, Schulz, VARIG... Ainda temos Indústrais de capital alemão, como Stihl, Thyssen Krupp, Siemens Voith, Volkswagen, Mercedes-Benz, Motores MWM... a Alemanha é um dos países que mais possui investimentos no Brasil.”
 (incompleto...)

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Colunistas do blog Brasil-Alemanha:

Colunistas


STF aumenta seus vencimentos: a indecencia legal dos magistrados

Ricardo Bergamini indignado, tanto com a desfaçatez dos supeminhos quanto com a passividade da clientela pagante, ou seja, nós mesmos:

Como em 2016 Temer (réu confesso) concedeu aumentos salariais aos servidores do executivo até 2019, nada mais justo que o pleito do judiciário. Cabe lembrar ser o salário do STF base para aumentos em cascatas em todo o judiciário.
Em 2002 os gastos com pessoal consolidado (união, estados e municípios) foi de 13,35% do PIB. Em 2017 foi de 15,90% do PIB. Crescimento real em relação ao PIB de 19,10% representando 49,20% da carga tributária de 2016 que foi de 32,38%. Para que se avalie a variação criminosa dos gastos reais com pessoal, cabe lembrar que nesse mesmo período houve um crescimento real do PIB Corrente de 36,10%, gerando um ganho real acima da inflação de 43,00% nesse período. Nenhuma nação do planeta conseguiria bancar tamanha orgia pública.
Como não há nenhuma indignação da sociedade brasileira sobre essa aberração econômica, somente me resta espernear na solidão.
Ricardo Bergamini

STF aprova aumento de 16% para seus ministros
08/08/2018 

Por 6 votos a 4, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu enviar ao Congresso Nacional proposta de aumento dos salários dos ministros da Corte, para 2019. O salário atualmente é de R$ 33,7 mil e o percentual de reajuste, de 16,38%.
Caso o reajuste seja aprovado no Orçamento da União, que será votado pelo Congresso, o salário dos ministros poderia chegar a R$ 39 mil, valor que provocaria efeito cascata nos salários do funcionalismo – o subsídio dos ministros é o valor máximo para pagamento de salários no serviço público.
Votaram a favor do reajuste Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio Mello, Luís Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Luiz Fux e Alexandre de Moraes. Votaram contra Edson Fachin, Rosa Weber, Celso de Mello e Cármen Lúcia.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

Representacao Proporcional: a fonte de todos os problemas - Marcus Andre Melo

REPRESENTAÇÃO PROPORCIONAL NO BRASIL: "MAIORIA FEITA AOS PEDAÇOS"!

Marcus André Melo, Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Folha de S.Paulo, 06/08/2018 

"Não conheço melhor sistema para a representação das minorias, nem pior para a constituição de maiorias", escreveu Barbosa Lima Sobrinho em 1952. Seu pessimismo sobre a recém introduzida representação proporcional (RP) era também partilhado por muitos atores influentes.

Em "Lições da Crise" (1955), Hermes Lima, homem forte de Getúlio e ex-ministro do STF, atribuiu à representação proporcional "o espetáculo das maiorias feitas aos pedaços, instáveis, artificiais e onerosas que os presidentes e governadores são compelidos a arranjar nas Câmaras". E apontou para "combinações oportunistas e esdrúxulas que exaurem a vida política num processo contínuo de reajustamentos, compromissos, imposições e cumplicidade. Maiorias débeis vizinhas da corrupção".

Certas características da nossa RP —exemplo o fato que os distritos eleitorais são estados, alguns gigantescos-- exacerbavam os problemas de formação de coalizões e produzia distorções: eleições caras. "Não é por outro motivo que as emendas ao orçamento na Câmara se apresentam aos milhares... Cada deputado necessita de votos no estado inteiro e julga-se no dever de distribuir, por intermédio da lei orçamentária, verbas e auxílios pelo estado inteiro." Mas sabiamente, Lima também anteviu outro problema: o dinheiro corrompia a RP.

Sua conclusão mais contundente contra a RP era que "as condições criadas ou exasperadas pelo proporcionalismo se devem à tremenda influência do dinheiro em nossos derradeiros prélios eleitorais. Os gastos eleitorais são astronômicos, as despesas dos candidatos elevadíssimas. O dinheiro corrompeu definitivamente o proporcionalismo nos termos atuais de sua prática".

Parte do diagnóstico feito por nosso ex-premiê, na década de 50, é repetido por muitos analistas atualmente como se novidade fosse. Sua acuidade estava em reconhecer endogeneidade na relação representação proporcional-corrupção. De fato, a RP em distritos com grande magnitude eleva brutalmente o custo de campanha, que se torna assim o foco das barganhas interpartidárias.

Mas há mais: a corrupção afeta a RP. O dinheiro corrompe as "maiorias débeis". Mas isso apenas quando as instituições de controle são fracas, o que garante altas taxas de retorno para o investimento corrupto. A questão fundamental ao fim e ao cabo é assim a força das instituições.

Senão como explicar que os gastos em eleições majoritárias também sejam "astronomicamente" altos? Ou que o custo das eleições em Israel ou Holanda onde o distrito eleitoral é o próprio país seja baixo? Ou que a RP não produz distorções onde o estado de direito prevalece?

Venezuela: caos total - Miguel Otero

El Nacional, Caracas – 7.8.2018
Rumbo al caos total
Miguel Enrique Otero

Tres características del caos como fenómeno político y social quiero destacar como preámbulo de este artículo. La primera es que el caos no se anuncia. Su comportamiento es imprevisible. De repente se desata y se expande hacia las direcciones menos pensadas. La segunda es la ausencia de proporción entre causas y efectos: en momentos de caos, pequeños hechos pueden producir grandes y graves consecuencias. La tercera característica, y esto es fundamental para entender la situación de Venezuela ahora mismo, es que el caos se alimenta del caos. Aunque las realidades sean específicas, y tengan cada una su propia historia y su propia trayectoria, en un ambiente de caos pueden solaparse, mezclarse y dar lugar a situaciones simplemente inimaginables.
Sugiero al lector de este artículo que piense en estos factores, uno a uno: las cada vez más frecuentes caídas del sistema eléctrico, producto puro y duro de la falta de mantenimiento y de una gerencia adecuada en la conducción de las empresas eléctricas. La falta de agua que afecta a casi 80% del país. Las recurrentes fallas del servicio de Internet, el más lento y calamitoso de América Latina y que es fundamental para la atención de las emergencias. El colapso de todos los sistemas de transporte del país: el transporte público, los metros, los buses y camionetas, los taxis, los vehículos de los cuerpos de bomberos, el parque automotor privado, los camiones que sirven de perreras, las motos, etcétera. La falta, cada vez más dramática, de efectivo para realizar las más básicas transacciones.
Sume a lo anterior: escuelas donde predomina la deserción y en las que, a diario, entre 40% y 50% de sus docentes no asisten por las más diversas razones: porque no tienen comida, porque se enferman, porque no tienen un par de zapatos que ponerse.Hospitales y ambulatorios colapsados por la demanda, y que carecen de insumos, de medicamentos, de médicos y paramédicos, de instalaciones adecuadas y de las mínimas condiciones de salubridad para el cumplimiento de sus funciones.
Algo que se nos olvida a menudo: la situación de los conglomerados. ¿Acaso la situación de hambre, enfermedad, deterioro de la infraestructura, abandono por parte de los funcionarios, no está golpeando las cárceles, los centros para menores, los geriátricos y otras instituciones donde conviven personas de distinta edad y proveniencia? ¿Y qué decir de los cuarteles? ¿Cree el lector que decenas de miles de soldados y oficiales de baja graduación comen, beben, duermen, se bañan, se asean, se visten y llevan las vidas de reyezuelos, que es el rasgo del ministro de la Defensa y de los miembros del Alto Mando Militar?
Y hay más: si la industria petrolera es una especie de campo cada vez más ruinoso e inseguro, ¿podría acaso producirse una suspensión de las ventas de combustible a nivel nacional? ¿Será cierto lo que dicen algunos expertos, que el gobierno está preparando el terreno –incluido el intento de carnetizar a toda la sociedad para tener un cupo de gasolina– porque sabe que, en poco tiempo, su capacidad para producir combustibles se verá definitivamente impactada?
Podría agregar a este recorrido muchos otros asuntos: las guerras entre bandas de delincuentes; los operativos de ajusticiamiento que los cuerpos armados y paramilitares del gobierno ejecutan con total impunidad; las medidas económicas que se toman, carentes de sentido, como las de la reconversión monetaria, que quedará en la historia venezolana como una de las más insólitas payasadas que haya producido gobierno alguno; la hiperinflación, que apunta a cifras que dejan atrás las peores previsiones al respecto.
Todas estas variables afectan a diario a las familias venezolanas. No son padecimientos aislados. Actúan de forma colectiva, hasta el punto de volver la cotidianidad una pesadilla constante, que no da tregua.Basta comparar el estado de las cosas en Venezuela, entre agosto de 2017 y este agosto, un período de solo un año, para que la conclusión sea evidente: los problemas se están solapando, se están fusionando, se están alimentando los unos a los otros.
En conclusión: las expresiones de caos ya presentes en la escena venezolana, podrían dar un salto cualitativo en cualquier momento. A nadie debe sorprender: en el momento menos pensado, Venezuela habrá ingresado en estado de caos total.

Hipolito da Costa, defensor precoce dos judeus, protesta contra perseguições na Alemanha

CORREIO BRAZILIENSE ou 
ARMAZÉM LITERÁRIO
Julho – Dezembro, 1819

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil): 
Costa, Hipólito José da
Correio Braziliense, ou, Armazém literário, vol. XXIII/Hipólito 
José da Costa. – São Paulo, SP: Imprensa Oficial do Estado:
Brasília, DF: Correio Braziliense, 2002
“Edição fac-similar”

Vol. XXIII, julho-dezembro de 1819, p. 314-317

Perseguição Contra os Judeus

As noticias de Alemanha continuam a informar-nos dos mais vergonhosos atos de opressão contra os Judeus. Em Warteburg, Darmstadt, Hamburgo, Frankfort, Hanau, Bamberg, Bayreuth e Dusseldorff, tem a populaça cometido os maiores excessos contra os Judeus residentes naqueles lugares. Como estes ataques foram quase simultâneos, conjecturou-se que eram execução de algum plano concertado.
Conjecturando as causas de tão inesperada perseguição, custa a atirar com alguma razão suficiente de tal fenômeno? Será ódio contra a religião dos             Judeus, diferente da maioridade dos habitantes dos países, aonde eles residem? Será isto efeito das agitações políticas, que existem na Alemanha? Será efeito da rivalidade do Comércio?
Quanto à diferença de religião, as perseguições por esta causa são diametralmente opostas às ideias tolerantes do nosso século, como tem acontecido em todos os tempos e em todos os países, em que as luzes tem efeito esconder o fanatismo. Os poucos religiosos furiosos, que ainda existem, e que desejariam propagar os seus princípios pelo ferro e fogo, como os Mahometanos, ou como a Inquisição, ano se atrevem a propor hoje em dia tais planos, que os faria objeto do desprezo público. Em uma palavra, estas perseguições da Alemanha, nem se quer mencionam a diferença de religião, como causa acidental.
Quanto a causas políticas, os Judeus, há muitos séculos, vivem nos diferentes Estados da Europa, como estrangeiros, a quem se não permite exercício algum ativo dos direitos de cidadão, nem empregos públicos; sendo meramente protegidos pelas leis, como pessoas de uma residência temporária: com esta mera faculdade de existir, se tem eles contentado, satisfeitos de que os deixem seguir, na obscuridade, as práticas de sua religião. As mais atrozes e injustas perseguições, não tem oposto senão a paciência e o retiro. Não é logo possível atribuir agora estes seus novos males, a inimizades políticas, em que não consta, que eles tenham a menor parte.
Resta, pois, a rivalidade mercantil, a que alguns escritores imputam os atuais sofrimentos dos Judeus, supondo que as suas riquezas e a sua indústria tem excitado a inveja dos mais negociantes Alemães. Não se pode negar a possibilidade desta hipótese; mas nem ainda nela achamos razão cabal, para explicar o mal em toda a sua extensão.
As riquezas dos Judeus, assim como as de todo o outro capitalista, que não tem outra pátria senão aquela em que reside deve redundar em beneficio do país, dando emprego a muitos habitantes, e servindo de produzir novas riquezas. Logo o ódio contra as riquezas dos Judeus, seria dirigido contra o beneficio, que delas resulta a toda a Sociedade: um ou outro negociante individual poderia entreter este ódio contra o rico negociante Judeu e seu vizinho, pelo espirito de rivalidade; mas isto não se podia estender a toda a populaça; nem abranger tantas cidades, desde a margem do Rheno até Copenhaguen, como são aquelas por que esta perseguição se tem difundido.
Suponhamos que os Judeus Alemães se retiravam, com seus haveres, daqueles países em que são perseguidos: nesse caso, não só a população sofreria, mas a falta de seus capitães traria a ruina a muitas fábricas, e até a mesma agricultura; como bem palpavelmente se experimentou em Portugal, que com a expulsão dos Judeus, perdeu os seus cabadaes, e estes foram enriquecer a Holanda, tornando-se ali rivais e ao depois inimigos dos capitais e comércio de Portugal. Daqui concluímos, que a generalidade desta perseguição se não explica pelo ódio contra as riquezas dos Judeus, pois elas são de grande beneficio aos países, em que eles residem.
Quaisquer, pois, que fossem as causas destas perseguições dos Judeus, a Alemanha perderia um imenso fundo de riquezas, que se transferiria ao Brasil. Mas disto, pela razão que demos acima, não tem a Alemanha, que se temer.
Voltando, porém, as causas da perseguição, que parecem tão geral na Alemanha, parece que a proteção dos respectivos Governos não tem sido tão eficaz como devera ser.
Sobre esta matéria achamos um curioso artigo, datado de Carlsbad aos 24 de Agosto; em que se diz, que os Ministros nas conferências, que se faziam naquela cidade, tomaram em consideração a perseguição contra os Judeus; e que notificaram aos respectivos Governos, que deviam obrigar os magistrados a prestar eficaz proteção aos Judeus, como todo o Governo é obrigado a fazer, aos que vivem em seus territórios, sem distinção de classes. Pretende mais este artigo, que os Ministros intimaram, que se aqueles Governos não castigassem os Magistrados, pela falta de proteção dos Judeus, se fariam acessórios e correos dos mesmos crimes; e que seria preciso que os seus territórios fossem ocupados militarmente por tropas da Áustria ou da Prússia.
Assim parece, que estas perseguições populares contra os Judeus, vem cheias de consequências, que não aparecem à primeira vista: pois no mesmo artigo se insinua, que será preciso ceder os territórios, aonde tais ultragens se tem cometido, a algum Estado vizinho, que tenha a vontade e o poder de coibir tais excessos.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Hipolito da Costa, o primeiro americanista brasileiro - Paulo Roberto de Almeida

O trabalho abaixo, redigido originalmente em Washington, em 20 de setembro de 2002, com base na leitura anotado do Diário de Minha Viagem para a Filadélfia, de Hipólito José da Costa (publicada pela Academia Brasileira de Letras em 1955), e tinha como seu primeiro título “Um Tocqueville avant la lettre: Hipólito da Costa como founding father do americanismo”, e se dedicava a mostrar as características pioneiras de primeira obra representativa do americanismo brasileiro. 
Ele foi publicado sob esse título de “Hipólito José da Costa, reporter”, como tal acolhido pelo grande jornalista Alberto Dines, no Observatório da Imprensa (nº 191, 25/09/2002; link: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/al250920021.htm).
Reproduzo-o aqui como homenagem a ambos, Hipólito da Costa, a quem considero o primeiro estadista brasileiro, e Alberto Dines, a quem considero um dos maiores jornalistas brasileiros.
Paulo Roberto de Almeida 


ENVIADO ESPECIALHipólito José da Costa, repórter
Paulo Roberto de Almeida (*)

O francês Alexis de Tocqueville é geralmente considerado como um dos founding fathers da moderna ciência política, assim como dessa vertente especial das ciências sociais (que usualmente adota o método comparativo, mesmo se de forma inconsciente) voltada para o estudo das formações nacionais, no seu caso o "americanismo". Com efeito, seu De la démocratie en Amérique tornou-se um clássico praticamente desde a publicação de sua primeira parte, poucos anos depois de sua viagem exploratória ao novo mundo, em 1831-32, a ponto de suscitar as maiores expectativas quanto à divulgação da segunda parte, vários anos depois. Esse trabalho sobre os fundamentos sociais da igualdade na jovem nação americana granjeou-lhe uma reputação de primeira grandeza, não apenas em sua França natal (onde ele logo galgou os degraus da Academia), mas igualmente nos países anglo-saxônicos.
Poucos sabem, no entanto, que uma geração antes de Tocqueville, Hipólito José da Costa, muito antes de se estabelecer na Inglaterra, fugindo da Inquisição portuguesa, e de ali editar seu Correio Braziliense, viajou pela costa leste dos Estados Unidos, tendo deixado um pouco conhecido Diário de Minha Viagem para Filadélfia, 1798-1799, encontrado inédito na Biblioteca de Évora por Alceu Amoroso Lima e publicado pela Academia Brasileira de Letras, em 1955. Não se tratou, propriamente, de um estudo de especialista, uma vez que o jovem (24 anos) português nascido na Colônia do Sacramento, criado no território do Rio Grande do Sul e formado em Coimbra, viajou a serviço do cortesão dom Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de Linhares, futuro ministro dos Negócios Estrangeiros, tendo produzido um relatório específico e detalhado sobre suas observações agrícolas, industriais e botânicas nos Estados Unidos.
Tratou-se, contudo, da primeira obra sobre os Estados Unidos escrita do ponto de vista de um observador do Brasil, preocupado em trazer para a colônia lusitana da América as espécies vegetais e animais e aqueles melhoramentos técnicos que julgava poder contribuírem para o engrandecimento de sua pátria de fato. Não destinado à publicação, mas sumamente adaptado ao formato do ensaismo bem informado, seu Diário poderia ser comparado, sem nenhum deslustro, a uma espécie de Baedecker de alto vôo, um ensaio intelectual que ainda hoje surpreende pela pertinência e acuidade das observações sociológicas, bem como pela atualidade dos seus julgamentos certeiros, a começar pelos hábitos e características da população, pela proliferação de sua "indústria religiosa" e por uma certa "rusticidade" de sua classe dirigente.

"Pai da imprensa"
Recém-formado em Direito por Coimbra em meados de 1798, Hipólito José da Costa recebe do conde de Linhares, menos de três meses depois, o encargo de fazer no território da América do Norte (Estados Unidos e México) o que se poderia designar, na moderna linguagem dos negócios, de comissão de prospecção econômica. Grande estadista português da transição para o século 19, dom Rodrigo de Souza Coutinho ostentava uma concepção essencialmente econômica da administração pública, preocupando-se com a agricultura, o comércio, a gestão financeira e as novas práticas industriais. Foi provavelmente Linhares quem inculcou em Hipólito o gosto pelas questões econômicas – inclinação que ele manteve durante toda a sua vida, aliás revelada de maneira cabal nas páginas do seu "Armazém Literário".
Com efeito, a rubrica "Commercio" (geralmente acompanhada das "Artes") vinha logo após a importante seção inaugural dedicada à política. Tão pronunciada era a tendência de Hipólito pelo estudo das questões econômicas que, em 1819, já no auge de sua carreira jornalística, ele protestava solenemente contra a velha proibição dos estudos de economia política na Universidade de Coimbra ("Os estudos de Economia Política são proibidos na Universidade de Coimbra e não sabemos que haja no Reino escolas em que se aprendam"; cf. Correio Braziliense, janeiro de 1819, vol. XXII, pág. 84, citado por Mecenas Dourado, Hipólito da Costa e o Correio Braziliense, Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1957, tomo I, pág. 44).
Na verdade, a missão nos Estados Unidos comportava um caráter sobretudo técnico, mais do que de prospecção de mercados ou de incentivo ao comércio. Tratava-se de levantar os recursos naturais e apreciar os conhecimentos científicos que a jovem nação independente da América do Norte mobilizava em sua marcha ascensional para o progresso econômico. Em outros termos, o encargo comportava também aspectos que hoje em dia poderiam ser equiparados à "espionagem industrial ou tecnológica", numa etapa histórica na qual os direitos de propriedade intelectual não desfrutavam da mesma proteção absoluta como na atualidade.
O futuro "pai da imprensa" brasileira estava amplamente habilitado para fazê-lo, uma vez que, ademais dos conhecimentos práticos aprendidos em sua vida de fazenda no Rio Grande, ele tinha sido formado em outras matérias que simplesmente filosofia e direito. Os estudos de filosofia em Coimbra comportavam, precisamente, o ensino de botânica, agricultura, zoologia, mineralogia, física, química e mineralogia, artes e disciplinas nas quais também se destacava o futuro "pai da independência", José Bonifácio, freqüentador das academias européias.
Mobilidade nos negócios
Quando Hipólito partiu para os Estados Unidos e o México, no final de 1798, ele era, portanto, nada mais do que um recém-formado, alguém que de certa forma completou seu "mestrado" numa missão de trabalho, mais do que na forma de estudos suplementares – virtualmente inexistentes, aliás. As instruções de Linhares eram no sentido de se obter informações as mais detalhadas possíveis sobre todos os progressos havidos na América do Norte no terrenos das artes práticas, das culturas agrícolas e dos ofícios ligados ao fabrico e manufatura de bens em geral, complementando a missão pelo encargo de recolher as espécimes e variedades de plantas e cultivos que se pudessem aproveitar em Portugal e na colônia brasileira.
Nos Estados Unidos, atenção especial deveria ser dada ao cultivo do tabaco, então concentrado em Maryland e na Virgínia, ao passo que no México, ademais de observar as minas de ouro e de prata, a instrução essencial era a de lograr subtrair o inseto e a planta da cochinilha, iludindo a vigilância rigorosa das alfândegas espanholas. De tudo, Hipólito deveria mandar relatórios circunstanciados, o que ele obviamente fez de maneira rigorosa, ao despachar notícias teóricas e comentários práticos sobre tudo o que viu e ouviu em sua longa estada naquelas partes, nos anos finais do século 18.
Nos Estados Unidos, Hipólito teve de, algumas vezes, fazer-se de diplomata, mesmo sem autorização para tanto ou diploma legal, por motivo da ausência do representante português, ministro Cipriano Ribeiro Freire. Mais importante do que esse exercício episódico de diplomacia, de fato mais bem em encargos consulares, foi a provável adesão de Hipólito, nessa estada, à maçonaria, possivelmente mais relevante na determinação de seu futuro destino político do que a missão de "espionagem industrial" pela qual iniciava sua vida profissional. Em todo caso, sua prospecção técnico-científica na América do Norte poderia ser também aproximada de uma missão de diplomacia econômica, não no sentido negocial, mas no de uma "embaixada" voltada para a informação a mais ampla possível sobre as capacidades naturais e os atributos humanos de uma potência amiga, como forma de habilitar a sua pátria (e a sua terra de formação) a competirem em melhores condições no grande jogo econômico das indústrias e do comércio que Linhares adivinha formavam a base da potência das nações.
Nessa missão Hipólito conheceu artesãos, cientistas e agricultores, ademais do futuro, Thomas Jefferson, e do então presidente dos Estados Unidos, John Adams, cuja informalidade e falta de protocolo surpreenderam um pouco o súdito de uma monarquia absoluta, rigorosa com o cerimonial. Seu "diário de viagem" não é uma simples coleção de observações naturalistas e agrícolas, pois que Hipólito tece considerações extensas sobre as religiões dos americanos e, mais importante, sobre questões econômicas e monetárias.
Não deixou de notar a preferência dos americanos pelo comércio, mais que pela agricultura, e o seu gosto acentuado pela especulação, sendo o dinheiro um valor absoluto naquela sociedade. Já naquela época, os bancos emprestavam facilmente, acima das posses reais, animando os empreendimentos e facilitando as especulações mercantis, muito embora no interior do país a falta de dinheiro condenasse os produtores muitas vezes ao escambo.
Ele observou, também, as tendências a falências abruptas e a uma mobilidade excepcional nos negócios, traços que ainda hoje marcam a modalidade peculiar do capitalismo americano. Como se vê, nada de muito novo em termos de funcionamento do sistema econômico, particularmente no que toca a "infectious greed" (apud e copyrightAlan Greenspan) que não parece ter contaminado apenas recentemente os executivos das empresas americanas.

Gênio "escrevinhador"
Os Estados Unidos do final do século 18 estavam obviamente longe de se constituírem em uma sociedade industrial e, de fato, eles se tornaram a primeira potência econômica do planeta apenas no final do século 19, quando ultrapassaram o volume da produção industrial combinada da Grã-Bretanha e da Alemanha. Naquela conjuntura, os fluxos de comércio, as inovações técnicas e as finanças internacionais ainda eram dominados pelos países mais avançados da Europa, mas o "modo inventivo" americano já exibia todas as características sociais e financeiras que converteriam o país de uma sociedade agrária em potência industrial.
Ainda que não descritas com tal estilo "sociológico" em seu diário de viagem, essas características empíricas da sociedade americana – mais do que qualquer teoria econômica ou doutrina comercial, das quais os EUA continuariam, aliás, sendo importadores líquidos pelo resto do século 19 – devem ter impressionado a mente do jovem Hipólito, determinando muito de suas reflexões pragmáticas posteriores sobre os problemas econômicos, comerciais e monetários "brazilienses".
Lido à distância de mais de dois séculos, não tanto pela sua forma mas pelo conteúdo efetivo, o Diário de Viagem de Hipólito sustenta muito bem a comparação com o bem mais cuidadosamente elaborado ensaio de Tocqueville, este sim feito para expor aos franceses os contornos sociais e políticos do imenso laboratório humano e societal que então constituía a América do Norte. Justamente por não pretender, primariamente, à divulgação, as anotações e observações de Hipólito adquirem um caráter de ensaismo sociológico avant la lettre, possuindo todos os requisitos literários para figurar como obra fundadora do americanismo brasileiro, e quiçá universal. Seu diário é uma mina de boas trouvailles e de desconcertantes antecipações da sociedade americana, numa espécie de "planejamento utópico do futuro" (a expressão pertence ao filósofo da história Reinhart Koselleck) que confirma, também por antecipação, a densidade analítica e o gênio de "escrevinhador" do futuro jornalista (aliás único) do Correio Braziliense.

Recomendação de leitura
Hipólito José Costa, Diário de Minha Viagem para Filadélfia, 1798-1799. Rio de Janeiro: Publicações da Academia Brasileira, 1955.
O livro possui uma segunda edição (Porto Alegre: Livraria Sulina Editora, 1974) mas mereceria, de todo modo, ser traduzido para o inglês e publicado nos Estados Unidos. Como a Embaixada do Brasil criou, juntamente com as editoras das universidades de Duke e da Carolina do Norte, uma coleção Brasiliana, destinada a facilitar a tradução e a publicação de títulos brasileiros naquele país, trata-se de uma mais que bem-vinda sugestão para inclusão nesse empreendimento editorial conjunto.

(*) Diplomata; URL: <www.pralmeida.org>, e-mail: <pralmeida@mac.com>

domingo, 5 de agosto de 2018

Um hangout sobre o marxismo cultural, com Marcel Van Hattem - Paulo Roberto de Almeida

O que poderia ser classificado como um "trabalho" meu, neste caso puramente oral, mas de toda forma objeto de registro audiovisual e integradas ao YouTube: 

Um hangout sobre o marxismo cultural com Marcel Van Hattem”, Brasília-Porto Alegre, 3 agosto 2018, gravação de 53,40 minutos, disponível no site do YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=Y65XaYdCNA8&feature=share). 535 visualizações em 5/08/2018. 



Marcos Troyjo: o Brasil precisa se inserir na economia global (IstoE)

MARCOS TROYJO, ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO  
O mundo está dando uma nova chance ao Brasil
Entrevista
MARCOS TROYJO, ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO
O mundo está dando uma nova chance ao Brasil 
Marco Ankosqui

Germano Oliveira
IstoÉ, Edição 03/08/2018 - nº 2537

O economista e cientista político Marcos Troyjo, professor da Universidade Columbia, em Nova York, avalia que o Brasil já teve inúmeras oportunidades para desenvolver sua economia e obter papel de destaque no comércio internacional, mas desperdiçou a maioria delas, sobretudo por não realizar reformas estruturais que tornassem o País mais atraente aos investidores estrangeiros, que hoje dispõem de enormes recursos para aplicar em países emergentes. Uma dessas oportunidades perdidas, segundo ele, aconteceu no governo Lula, período no qual as commodities agrícolas viveram um momento amplamente favorável, mas o petista preferiu adotar políticas populistas e protecionistas que afastaram grandes investimentos. Agora, contudo, de acordo com Troyjo, o mundo está dando “uma nova chance ao Brasil”, mas adverte:“o País não pode eleger um presidente que defenda o nacional-desenvolvimentismo como alternativa, como é o caso do PT, PCdoB, PSol e, às vezes, Ciro Gomes”. Especialista em política externa, Troyjo está finalizando o livro “Choque de Globalizações: o Brasil em Busca da Grande Estratégia”, que chega às livrarias em outubro.

O senhor diz no seu livro que a globalização vem perdendo força, sobretudo por causa do crescimento do populismo e da intolerância no mundo. Como isso está se dando?
Quando acabou a guerra fria, a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, o mundo foi tomado de um grande entusiasmo no início da década de 90, com a vitória do Ocidente, dos países mais democráticos, com economias abertas, prevalecendo o livre mercado. Desse período até a grande crise do Lehman Brothers em 2008, vivemos um processo de globalização profunda. De 2008 para cá, os sinais se inverteram. O clima de livre comércio foi substituído por sinais do protecionismo e pelo mundo do cada um por si, devido ao populismo e intolerância. Eu chamo esse período dos últimos dez anos de desglobalização. O comércio internacional, por exemplo, começou a cair. A livre circulação de bens e de serviços, também começaram a cair. E ao mesmo tempo aumentaram as restrições no intercâmbio de universidades, no mercado de trabalho.

O que a desglobalização está provocando de malefícios para a humanidade?
Estamos tendo uma perda de eficiência da economia muito grande. Num momento em que uma empresa como a Starbucks tem que comprar o papel que envolve os canudinhos de uma fábrica em Ohio, em vez de comprá-los em uma fábrica na Tailândia, por uma fração do preço que paga nos Estados Unidos, isso gera desemprego no local onde anteriormente a empresa tinha sua operação. E isso onera a plataforma de custos das empresas, afetando seu balanço patrimonial. Na última sexta-feira 27, quando se anunciou o PIB americano, de 4,1% de expansão no trimestre, todo mundo ficou de olho arregalado, mas as bolsas caíram. E não foi só por causa do efeito das ações do Facebook e Twitter. Mas também porque há a idéia de que haverá uma adequação do PIB americano por conta da guerra comercial desenvolvida por Trump e essa é uma das facetas da desglobalização. Com a guerra comercial que vem por aí, quem perde mais são os países que tem grandes empresas transnacionais e nenhum país tem tantas empresas transnacionais como os EUA.

O senhor diz ainda no seu livro que o Brasil também teve um grande um ciclo populista e protecionista. Como foi esse processo? 
Tivemos um ciclo populista e protecionista de 2003 a 2016, durante os governos do PT. E por que esse período foi lamentável? Em primeiro lugar, porque o mundo esteve muito bom para o Brasil e não se aproveitou as chances que nos foram dadas. Se levarmos em consideração o grande ciclo favorável das commodities, os grandes estoques de liquidez disponíveis no mundo para serem aplicados em países com pouca poupança, como era o caso do Brasil, e também as vantagens comparativas que temos em produtos como a soja, poderíamos ter aproveitado esse vento de cauda para ter feito as reformas estruturais e nós não as fizemos. E não fizemos por quê? Porque o governo teve a sensação de que os bons tempos iriam perdurar para sempre. E isso fez com que os governos petistas não mexessem em problemas cruciais, como a Previdência e as questões trabalhistas, o que nos deixou em continuado atraso, vivendo esse grande ciclo populista.

E o ciclo protecionista?
Também durante os governos petistas vivemos o renascimento das antigas teses de substituição de importações, com a idéia de desenvolver uma cadeia de produção vertical em todo o território nacional e que, para isso, deveríamos dar incentivos aos chamados campeões nacionais. O Brasil voltou a adotar uma estratégia econômica parecida com a que foi adotada nos anos 40 ou 50, ou mesmo no período nacional-desenvolvimentista do regime militar. É muito parecida a filosofia econômica do PT com a adotada pelo governo militar. E um dos legados disso foi ver como o Brasil diminuiu sua participação no fluxo do comércio internacional. Tudo o que o Brasil exporta e importa — e que chegou ser de 2,5% do comércio mundial — agora é de 1%. Se fizermos uma radiografia do nosso comércio, vamos perceber que tudo o que o Brasil importa, somado ao que exporta, dá 22% do nosso PIB. Das 15 maiores economias do mundo, é o menor contingente em relação ao PIB.

O período petista representou, então, um retrocesso?
Foi uma oportunidade desperdiçada. Deveríamos ter feito as reformas internas e, sobretudo, a reforma na nossa inserção internacional. Reforma que levasse nosso comércio ao patamar de 35% a 40% do PIB, com a adoção de uma política voltada para a ampliação das exportações e importações, assinando novos acordos comerciais.

Dos candidatos a presidente que estão aí, quem ameaça o nosso melhor desempenho internacional?
Quem continua defendendo o nacional-desenvolvimentismo como alternativa é o PT, PCdoB, PSol e às vezes Ciro Gomes, que tem um discurso um pouco pendular. A não ser que ele esteja utilizando a estratégia do violino: pega com a esquerda, mas toca com a direita. Já o Meirelles, o Alckmin e o Bolsonaro/Paulo Guedes, têm adotado uma retórica mais liberal de inserção internacional. Eles entendem melhor as necessidades do dinamismo do nosso comércio.

O senhor afirma que, além dos Estados Unidos na era Trump, também a Europa tem se tornado mais protecionista. De que forma isso está acontecendo?
O protecionismo da Europa é mais sofisticado. As tarifas na União Européia até estão caindo, mas eles têm muitas barreiras fitossanitárias e barreiras técnicas, que acabam funcionando como protecionistas. Vou dar um exemplo. Exportação de carne de gado. Eles exigem a rastreabilidade, desde o momento do nascimento do animal, com chip subcutâneo, para o acompanhamento em real-time da sua saúde. Fazem exigências enormes. Ou então eles dão subsídios para seus produtores e isso torna os produtos dos concorrentes quase que inviáveis.

Nos próximos dois anos e meio, essa guerra travada por Trump trará mais benefícios do que malefícios para o Brasil

O senhor avalia que a tendência é da China se tornar a maior economia do mundo, superando os EUA. Então o Brasil deveria se aproximar ainda mais da China?
Já estamos muito próximos da China. É o nosso principal parceiro comercial e provavelmente vamos fechar 2018 com exportações para a China que representam quase o dobro das nossas exportações para os EUA. Para a China, vendemos muita soja, minério de ferro, petróleo. Mas é importante perguntar para os candidatos a presidente que estão aí qual é sua política para a China? Além de parceiro comercial, a China cada vez mais é fonte de investimento estrangeiro direto. Nesses processos de fusões e aquisições, os chineses estão comprando muita coisa no Brasil. Ainda é um dos poucos países do mundo que podem atuar como fonte de empréstimo governo a governo, porque isso quase não existe mais no mundo. Existia nos anos 70 e 80, quando o governo americano e o governo japonês faziam empréstimos-ponte. Isso só os chineses fazem hoje. E como os chineses precisam ter garantias para seu processo alimentar, é natural que seus investimentos também venham mais para o Brasil. Os candidatos a presidente precisam saber lidar com a China.

Um dos legados da política nacionalista dos governos do PT foi ver que a participação do Brasil no comércio mundial caiu de 2,5% para os atuais 1%

Nessa guerra comercial que os EUA começam a fazer, o Brasil pode sair como perdedor?
Pelo contrário. Nos próximos dois anos e meio, a guerra comercial travada pelo Trump trará mais benefícios do que malefícios para o Brasil. Trará benefícios porque hoje os chineses compram R$ 14 bilhões por ano em soja dos EUA. E se os chineses retaliarem os americanos na soja, o produto tem que ir de algum lugar. E pode ser do Brasil e da Argentina.

Então os cenários são favoráveis ao Brasil?

O mundo não está ruim para o Brasil. Há uma demanda aquecida por commoditeis e há um grande estoque de dinheiro no mundo sedento por aplicações em mercados emergentes. Os grandes centros internacionais de liquidez, como China, Japão e países Árabes, querem diversificar seus investimentos. Temos espaço agora para correr atrás na atração desses capitais. Provavelmente, teremos que intensificar nosso processo de privatizações e de projetos de parcerias-público-privadas. Uma das características umbilicais desse nocivo processo de desenvolvimento nacionalista do governo petista entre 2003 e 2016 foi a de cultivar a idéia de que poderíamos fazer tudo por meio da liderança do Estado.

O que o novo presidente pode fazer para melhorar a inserção do Brasil no comércio internacional?
É indispensável uma maior promoção do Brasil no exterior. Nossa presença física em vários mercados é inadiável. Ter agências de promoção de negócios em Cingapura, Xangai, Londres. Poderíamos aproveitar melhor nosso patrimônio no exterior. O Brasil tem um imóvel gigantesco em Nova York, na rua 79. E para o que serve aquilo? Para o embaixador dormir. A embaixada deveria ser uma agência de promoção do Brasil.

E não podemos repetir erros do passado, certo?
O mundo está, mais uma vez, dando uma chance para o Brasil. O que poderia ser negativo, como a guerra comercial, nos dará oportunidades para novos negócios. Eu não digo que estamos entrando num dia de sol perfeito, mas estamos com boas chances de crescer no comércio internacional e alavancar nossa economia. Já tivemos várias oportunidades e perdemos quase todas. Vamos perder mais uma chance ou vamos aproveitar que nossas commodities serão valorizadas e que há um grande volume de recursos para investir nos países emergentes? Não podemos perder essa nova chance.