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terça-feira, 14 de março de 2023

Meandros da globalização claudicante - Paulo Roberto de Almeida

 Meandros da globalização claudicante

Paulo Roberto de Almeida 

Como andamos de globalização nesta segunda Guerra Fria, agora econômica e tecnológica (por enquanto), diferente da primeira, geopolítica e radical, na confrontação imperial?


Interessante observar que a despeito da atual confrontação aberta EUA-China, os negócios não conseguem se separar um da outra completamente, o que nunca ocorreu na primeira Guerra Fria (inclusive pela mediocridade econômica da URSS).

Parece impossível, e não apenas aos EUA, contornar a China na atual globalização fragmentada, como muitos já explicaram.

O Brasil fica com a parte menor disso, apenas o fornecimento de commodities para satisfazer, parcialmente, a voracidade da gigantesca máquina industrial chinesa, hoje superior à dos EUA e UE combinadas. 


A China é realmente incontornável, sobretudo economicamente, hoje voltando, com o seu novo imperador, à arrogância do seu antigo Império do Meio até os Qing, superior, científica e tecnologicamente, e até administrativamente, aos “reinos bárbaros” do Ocidente, que viviam se guerreando entre si. Tanto lutaram que acabaram humilhando o Império quase imóvel, que agora promete ser tão poderoso para nunca mais ser humilhado pelos ocidentais. A Rússia atual, decadente e deformada, já é um vassalo menor (mas ainda dotado de mortíferas máquinas de guerra) nesse gigantesco empreendimento que deve levar a China à primazia econômica compartilhada com os EUA.

A Humanidade espera que não resolvam se confrontar nesse processo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 14/03/2023

domingo, 5 de agosto de 2018

Marcos Troyjo: o Brasil precisa se inserir na economia global (IstoE)

MARCOS TROYJO, ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO  
O mundo está dando uma nova chance ao Brasil
Entrevista
MARCOS TROYJO, ECONOMISTA E CIENTISTA POLÍTICO
O mundo está dando uma nova chance ao Brasil 
Marco Ankosqui

Germano Oliveira
IstoÉ, Edição 03/08/2018 - nº 2537

O economista e cientista político Marcos Troyjo, professor da Universidade Columbia, em Nova York, avalia que o Brasil já teve inúmeras oportunidades para desenvolver sua economia e obter papel de destaque no comércio internacional, mas desperdiçou a maioria delas, sobretudo por não realizar reformas estruturais que tornassem o País mais atraente aos investidores estrangeiros, que hoje dispõem de enormes recursos para aplicar em países emergentes. Uma dessas oportunidades perdidas, segundo ele, aconteceu no governo Lula, período no qual as commodities agrícolas viveram um momento amplamente favorável, mas o petista preferiu adotar políticas populistas e protecionistas que afastaram grandes investimentos. Agora, contudo, de acordo com Troyjo, o mundo está dando “uma nova chance ao Brasil”, mas adverte:“o País não pode eleger um presidente que defenda o nacional-desenvolvimentismo como alternativa, como é o caso do PT, PCdoB, PSol e, às vezes, Ciro Gomes”. Especialista em política externa, Troyjo está finalizando o livro “Choque de Globalizações: o Brasil em Busca da Grande Estratégia”, que chega às livrarias em outubro.

O senhor diz no seu livro que a globalização vem perdendo força, sobretudo por causa do crescimento do populismo e da intolerância no mundo. Como isso está se dando?
Quando acabou a guerra fria, a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética, o mundo foi tomado de um grande entusiasmo no início da década de 90, com a vitória do Ocidente, dos países mais democráticos, com economias abertas, prevalecendo o livre mercado. Desse período até a grande crise do Lehman Brothers em 2008, vivemos um processo de globalização profunda. De 2008 para cá, os sinais se inverteram. O clima de livre comércio foi substituído por sinais do protecionismo e pelo mundo do cada um por si, devido ao populismo e intolerância. Eu chamo esse período dos últimos dez anos de desglobalização. O comércio internacional, por exemplo, começou a cair. A livre circulação de bens e de serviços, também começaram a cair. E ao mesmo tempo aumentaram as restrições no intercâmbio de universidades, no mercado de trabalho.

O que a desglobalização está provocando de malefícios para a humanidade?
Estamos tendo uma perda de eficiência da economia muito grande. Num momento em que uma empresa como a Starbucks tem que comprar o papel que envolve os canudinhos de uma fábrica em Ohio, em vez de comprá-los em uma fábrica na Tailândia, por uma fração do preço que paga nos Estados Unidos, isso gera desemprego no local onde anteriormente a empresa tinha sua operação. E isso onera a plataforma de custos das empresas, afetando seu balanço patrimonial. Na última sexta-feira 27, quando se anunciou o PIB americano, de 4,1% de expansão no trimestre, todo mundo ficou de olho arregalado, mas as bolsas caíram. E não foi só por causa do efeito das ações do Facebook e Twitter. Mas também porque há a idéia de que haverá uma adequação do PIB americano por conta da guerra comercial desenvolvida por Trump e essa é uma das facetas da desglobalização. Com a guerra comercial que vem por aí, quem perde mais são os países que tem grandes empresas transnacionais e nenhum país tem tantas empresas transnacionais como os EUA.

O senhor diz ainda no seu livro que o Brasil também teve um grande um ciclo populista e protecionista. Como foi esse processo? 
Tivemos um ciclo populista e protecionista de 2003 a 2016, durante os governos do PT. E por que esse período foi lamentável? Em primeiro lugar, porque o mundo esteve muito bom para o Brasil e não se aproveitou as chances que nos foram dadas. Se levarmos em consideração o grande ciclo favorável das commodities, os grandes estoques de liquidez disponíveis no mundo para serem aplicados em países com pouca poupança, como era o caso do Brasil, e também as vantagens comparativas que temos em produtos como a soja, poderíamos ter aproveitado esse vento de cauda para ter feito as reformas estruturais e nós não as fizemos. E não fizemos por quê? Porque o governo teve a sensação de que os bons tempos iriam perdurar para sempre. E isso fez com que os governos petistas não mexessem em problemas cruciais, como a Previdência e as questões trabalhistas, o que nos deixou em continuado atraso, vivendo esse grande ciclo populista.

E o ciclo protecionista?
Também durante os governos petistas vivemos o renascimento das antigas teses de substituição de importações, com a idéia de desenvolver uma cadeia de produção vertical em todo o território nacional e que, para isso, deveríamos dar incentivos aos chamados campeões nacionais. O Brasil voltou a adotar uma estratégia econômica parecida com a que foi adotada nos anos 40 ou 50, ou mesmo no período nacional-desenvolvimentista do regime militar. É muito parecida a filosofia econômica do PT com a adotada pelo governo militar. E um dos legados disso foi ver como o Brasil diminuiu sua participação no fluxo do comércio internacional. Tudo o que o Brasil exporta e importa — e que chegou ser de 2,5% do comércio mundial — agora é de 1%. Se fizermos uma radiografia do nosso comércio, vamos perceber que tudo o que o Brasil importa, somado ao que exporta, dá 22% do nosso PIB. Das 15 maiores economias do mundo, é o menor contingente em relação ao PIB.

O período petista representou, então, um retrocesso?
Foi uma oportunidade desperdiçada. Deveríamos ter feito as reformas internas e, sobretudo, a reforma na nossa inserção internacional. Reforma que levasse nosso comércio ao patamar de 35% a 40% do PIB, com a adoção de uma política voltada para a ampliação das exportações e importações, assinando novos acordos comerciais.

Dos candidatos a presidente que estão aí, quem ameaça o nosso melhor desempenho internacional?
Quem continua defendendo o nacional-desenvolvimentismo como alternativa é o PT, PCdoB, PSol e às vezes Ciro Gomes, que tem um discurso um pouco pendular. A não ser que ele esteja utilizando a estratégia do violino: pega com a esquerda, mas toca com a direita. Já o Meirelles, o Alckmin e o Bolsonaro/Paulo Guedes, têm adotado uma retórica mais liberal de inserção internacional. Eles entendem melhor as necessidades do dinamismo do nosso comércio.

O senhor afirma que, além dos Estados Unidos na era Trump, também a Europa tem se tornado mais protecionista. De que forma isso está acontecendo?
O protecionismo da Europa é mais sofisticado. As tarifas na União Européia até estão caindo, mas eles têm muitas barreiras fitossanitárias e barreiras técnicas, que acabam funcionando como protecionistas. Vou dar um exemplo. Exportação de carne de gado. Eles exigem a rastreabilidade, desde o momento do nascimento do animal, com chip subcutâneo, para o acompanhamento em real-time da sua saúde. Fazem exigências enormes. Ou então eles dão subsídios para seus produtores e isso torna os produtos dos concorrentes quase que inviáveis.

Nos próximos dois anos e meio, essa guerra travada por Trump trará mais benefícios do que malefícios para o Brasil

O senhor avalia que a tendência é da China se tornar a maior economia do mundo, superando os EUA. Então o Brasil deveria se aproximar ainda mais da China?
Já estamos muito próximos da China. É o nosso principal parceiro comercial e provavelmente vamos fechar 2018 com exportações para a China que representam quase o dobro das nossas exportações para os EUA. Para a China, vendemos muita soja, minério de ferro, petróleo. Mas é importante perguntar para os candidatos a presidente que estão aí qual é sua política para a China? Além de parceiro comercial, a China cada vez mais é fonte de investimento estrangeiro direto. Nesses processos de fusões e aquisições, os chineses estão comprando muita coisa no Brasil. Ainda é um dos poucos países do mundo que podem atuar como fonte de empréstimo governo a governo, porque isso quase não existe mais no mundo. Existia nos anos 70 e 80, quando o governo americano e o governo japonês faziam empréstimos-ponte. Isso só os chineses fazem hoje. E como os chineses precisam ter garantias para seu processo alimentar, é natural que seus investimentos também venham mais para o Brasil. Os candidatos a presidente precisam saber lidar com a China.

Um dos legados da política nacionalista dos governos do PT foi ver que a participação do Brasil no comércio mundial caiu de 2,5% para os atuais 1%

Nessa guerra comercial que os EUA começam a fazer, o Brasil pode sair como perdedor?
Pelo contrário. Nos próximos dois anos e meio, a guerra comercial travada pelo Trump trará mais benefícios do que malefícios para o Brasil. Trará benefícios porque hoje os chineses compram R$ 14 bilhões por ano em soja dos EUA. E se os chineses retaliarem os americanos na soja, o produto tem que ir de algum lugar. E pode ser do Brasil e da Argentina.

Então os cenários são favoráveis ao Brasil?

O mundo não está ruim para o Brasil. Há uma demanda aquecida por commoditeis e há um grande estoque de dinheiro no mundo sedento por aplicações em mercados emergentes. Os grandes centros internacionais de liquidez, como China, Japão e países Árabes, querem diversificar seus investimentos. Temos espaço agora para correr atrás na atração desses capitais. Provavelmente, teremos que intensificar nosso processo de privatizações e de projetos de parcerias-público-privadas. Uma das características umbilicais desse nocivo processo de desenvolvimento nacionalista do governo petista entre 2003 e 2016 foi a de cultivar a idéia de que poderíamos fazer tudo por meio da liderança do Estado.

O que o novo presidente pode fazer para melhorar a inserção do Brasil no comércio internacional?
É indispensável uma maior promoção do Brasil no exterior. Nossa presença física em vários mercados é inadiável. Ter agências de promoção de negócios em Cingapura, Xangai, Londres. Poderíamos aproveitar melhor nosso patrimônio no exterior. O Brasil tem um imóvel gigantesco em Nova York, na rua 79. E para o que serve aquilo? Para o embaixador dormir. A embaixada deveria ser uma agência de promoção do Brasil.

E não podemos repetir erros do passado, certo?
O mundo está, mais uma vez, dando uma chance para o Brasil. O que poderia ser negativo, como a guerra comercial, nos dará oportunidades para novos negócios. Eu não digo que estamos entrando num dia de sol perfeito, mas estamos com boas chances de crescer no comércio internacional e alavancar nossa economia. Já tivemos várias oportunidades e perdemos quase todas. Vamos perder mais uma chance ou vamos aproveitar que nossas commodities serão valorizadas e que há um grande volume de recursos para investir nos países emergentes? Não podemos perder essa nova chance.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Desglobalizacao - Marcos Troyjo, PRAlmeida, Sergio Florencio (Ipea, 8/11/2017)

IPEA. 8/11/2017. Seminário no Ipea discute os fenômenos da desglobalização e reglobalização. Instituto recebeu o professor da Columbia University Marcos Troyjo para falar sobre tendências no mundo e projeções para o Brasil

A desglobalização é um fenômeno no mundo desde 2008. Paulo de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais (Ipri/Funag), explica que esse conceito diz respeito, em linhas gerais, "à nova globalização sob a liderança chinesa". Mas de que forma esse processo impacta nas relações entre os países? O que existe de oportunidade para o Brasil nessa nova fase de globalização? Essas foram algumas questões discutidas no Seminário Desglobalização, nesta quarta-feira, 08, realizado na sede do Ipea, em Brasília.

Segundo o palestrante convidado Marcos Troyjo, diretor do Centro de Estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China (BRINClab) da Columbia University, em Nova York,  que também é autor do livro "Desglobalização – crônica de um mundo em mudança", a desglobalização é um fenômeno no mundo desde 2008. "O mundo que está por vir é o da ‘reglobalização’. Enquanto isso, a desglobalização não significa o fim da globalização, mas que essa está perdendo velocidade", explica. 

Na palestra, Troyjo criticou ideias e conceitos do senso comum que tentam explicar o motivo de nações tornarem-se próximas e prestigiosas. Ele defende que as nações que ascendem são aquelas que conseguem se adaptar adequadamente à globalização. "Mas que globalização é essa?", provocou.

De acordo com ele, o maior milagre econômico da humanidade não se deu sem clara separação entre os poderes, sem imprensa livre, sem instituições reguladoras, sem democracia representativa, sem livre mercado e sem uma noção muito específica sobre o que é comércio internacional. "E por trás de tudo isso, o êxito das nações combina instituições fortalecidas e uma porção de estratégia", acrescenta.

Desafios para o Brasil

Para Troyjo, nesse contexto, o Brasil deve fazer mais investimentos horizontais, como a educação, e em uma indústria específica, além de ficar mais aberto às exportações. "O Brasil é a economia mais fechada entre os vinte países de maior PIB do mundo. E não há países que ascenderam sem ter 35 a 40% do PIB para ações de exportações", destaca.

diretor de Estudos e Relações Econômicas e Políticas Internacionais do Ipea, Sergio Abreu e Lima Florencio, destaca que, mesmo com todos os desafios impostos ao país, conseguimos nos diferenciar em relação à América Latina por nossas instituições sólidas. "Na primeira metade dos anos 2000, o Brasil crescia 4% ao ano, se revelava uma economia emergente, com uma influência crescente no comércio e na economia internacional. Isso ajudou a projetar a nossa política externa", finalizou.

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Desglobalizacao - Marcos Troyjo, Paulo Roberto de Almeida, Sergio Florencio (Ipea, 8/11)


A palestra “Reglobalização”, a ser  proferida  por Marcos Troyjo, Diretor do Centro de Estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China (BRICLab), da Columbia University, em Nova York, onde é Professor-adjunto de Relações Internacionais, será realizada no dia 08 de novembro próximo.
Os debates serão coordenados por Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais –IPRI/FUNAG e por Sérgio Abreu e Lima Florêncio, Diretor de Estudos e Relações Econômicas Internacionais -DINTE/IPEA.
Data e Local:  08 de novembro de 2017, Auditório do Divonzir Gusso, Setor Bancário Sul, quadra 1, bloco J, Edifício BNDES/IPEA-Brasília, das 15h às 17h30.
Solicito confirmação sobre sua participação, por meio do e-mail dinte@ipea.gov.br ou pelos telefones (61) 2026- 5527 ou 2026-5338.
Sua participação nos debates será muito bem vinda.
Atenciosamente,
Sergio Abreu e Lima Florencio.
Diretor de Estudos e Relações Econômicas Internacionais (DINTE/IPEA).