O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Um programa insuficiente de politica externa: comentarios pessoais - Paulo Roberto de Almeida


Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: comentários a um programa de política externa; finalidade: esclarecimento]


Introdução
Insuficiente, segundo o dicionário do Google (convertido em “pai dos burros”, nos tempos que correm), é a condição ou qualidade de alguma coisa, qualquer coisa, “que não é suficiente” – o que é, obviamente, uma redundância – ou então que é “pouco, escasso”, ou então “que não alcança a qualidade necessária; fraco, medíocre, insatisfatório”. Pois bem, por que digo isto?
Acabo de tomar conhecimento do programa do candidato Bolsonaro ao governo do Brasil, um documento sintético de 81 páginas, com muitos adjetivos e grandes exclamações, das quais, confesso, não ter lido mais do que meia página, a 79, relativa à política externa que o candidato pretenderia exercer. Na verdade, essa seção, ínfima, portanto correspondendo inteiramente às definições acima, não se dedica exatamente ao tema, como se pode verificar que transcrição que efetuo aqui abaixo: 

            O “programa” de política externa
O NOVO ITAMARATY(p. 79 do documento)
    A estrutura do Ministério das Relações Exteriores precisa estar a serviço de valores que sempre foram associados ao povo brasileiro. A outra frente será fomentar o comércio exterior com países que possam agregar valor econômico e tecnológico ao Brasil.

    Deixaremos de louvar ditaduras assassinas e desprezar ou mesmo atacar democracias importantes como EUA, Israel e Itália. Não mais faremos acordos comerciais espúrios ou entregaremos o patrimônio do Povo brasileiro para ditadores internacionais.

    Além de aprofundar nossa integração com todos os irmãos latino-americanos que estejam livres de ditaduras, precisamos redirecionar nosso eixo de parcerias.

    Países, que buscaram se aproximar mas foram preteridos por razões ideológicas, têm muito a oferecer ao Brasil, em termos de comércio, ciência, tecnologia, inovação, educação e cultura.

    Ênfase nas relações e acordos bilaterais. 

Feita a transcrição, vejamos o que eu poderia dizer sobre esse “programa” que não é um programa, e sim um ajuntamento de frases, manifestamente a cargo de um neófito – definição deste substantivo masculino, tudo relativo à religião: “pagão recém-convertido ao cristianismo; pessoa que vai receber o batismo ou recentemente batizada; cristão-novo” –, pouco afeito aos temas de política externa, a quem encarregaram de dizer algumas coisas sobre o que se imagina ser o trabalho do Itamaraty. Vou apenas analisar topicamente o que me parecem ser a insuficiências desse “programa”, e depois elaborar um pouco a respeito do seria um conjunto de propostas na área externa.

Comentários pessoais
A política externa de um governo não pode limitar-se ao Itamaraty, ainda que ele seja chamado de “novo”. O “velho” Itamaraty, do seu lado, sempre se ocupou de política externa, mas a instituição, por mais venerável que fosse, ou seja, é apenas um instrumento, uma espécie de “ferramenta”, a serviço da política externa, que é definida, vale lembrar, pelo presidente da República. Sua estrutura, seja alguma nova ou mantida a “velha”, não tem muito a ver com a substância mesma dessa política externa, pois trata-se de uma ferramenta operacional que pode ser mudado segundo os requerimentos da política externa, que tampouco pode ser resumida unicamente aos “valores do povo brasileiro”, ou às atividade de “comércio exterior”. Ela abrange uma vasta gama de temas – bilaterais, regionais e multilaterais – nos terrenos político, econômico, ou de cooperação científica e tecnológica e de assistência ao desenvolvimento, assim como de apoio à capacitação do Brasil numa série de terrenos, como por exemplo, de atração de investimentos e até de engajamento em operações de paz, eventualmente determinadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. 
O segundo item do “programa” não é exatamente uma proposta, mas uma simples invectiva contra as deformações daquilo que pode ser chamado de “diplomacia lulopetista”. É certo que o lulopetismo diplomático cultivou boas relações diplomáticas – e até em outras esferas – com as ditaduras mais execráveis da região e do mundo, mas uma mudança nessa área significa apenas retornar ao padrão normal do Itamaraty, que sempre foi o de manter relações corretas com quaisquer países, sem expressar opiniões ou manter “relações paralelas” – clandestinas ou secretas, como infelizmente foi o caso naquele regime – com alguns deles, em função de simpatias ideológicas, ou até de interesses não exatamente republicanos, possivelmente na linha daquilo que o lulopetismo fazia no próprio plano interno, sobretudo em matéria de iniciativas econômicas ou acordos “espúrios” com essas ditaduras. Não cabe, no entanto, num programa de governo, efetuar distinções desse tipo, apontando para certos países e não outros; se for para seguir o padrão “normal” do Itamaraty, que é o de uma diplomacia universalista, e portanto, não discriminatória, o correto está em manter relações com todos os demais membros da comunidade internacional, segundo nossos interesses. 
O mesmo tipo de discriminação ocorre, em certa medida, no item seguinte, que diz expressamente isto: “Além de aprofundar nossa integração com todos os irmãos latino-americanos que estejam livres de ditaduras, precisamos redirecionar nosso eixo de parcerias.” O conceito de integração é muito vago, pois depende de qual conteúdo se lhe pretende imprimir, se zona de livre comércio, ou uma simples área de preferências tarifárias, ou mesmo a continuidade desse projeto de mercado comum, que é o objetivo do Tratado de Assunção, que criou o Mercosul. Um programa de governo não deveria expressar essa restrição qualitativa no caso de “ditaduras”, pois introduziria certo grau de subjetivismo nas políticas de governo, uma vez que existem outras ditaduras com as quais o Brasil mantém relações normais, sem todavia pretender aprofundar qualquer tipo de integração ou cooperação mais estreita. 
O Brasil, na verdade, necessita de maior inserção internacional, o que pode ser feito por abertura econômica e liberalização comercial, até de forma unilateral se for o caso. Processos de integração requerem negociações bilaterais ou plurilaterais que são necessariamente lentas e difíceis, mas mesmo isso exige uma definição prévia de qual seria a sua política comercial, de modo estrito, e, de modo amplo, a sua política econômica externa. Por outro lado, “redirecionar o eixo de parcerias” não prejulga minimamente quanto à natureza ou a orientação dessa “reorientação”. 
Não parece haver, por outro lado, uma estratégia muito clara quanto a esses “países que foram preteridos por razões ideológicas”, pois a frase soa mais como uma reclamação contra o lulopetismo diplomático (que de resto já, mudou desde os dois anos decorridos desde o final do regime companheiro) do que como um programa de governo. O Itamaraty sabe exatamente quais são os países que podem oferecer as melhores oportunidades em todos esses campos mencionados, ainda que algumas escolhas anteriores – como as de grupos regionais como Ibas, Unasul e Brics – permaneçam na agenda diplomática da atualidade, o que caberia, talvez, revisar.
Por fim, pretender atribuir “ênfase nas relações e acordos bilaterais” é uma, entre várias outras modalidades de relações exteriores, que passam ainda pelo regionalismo, multilateralismo, interregionalismo, plurilateralismo, ou simplesmente universalismo, com base numa definição ad hoc, ou seja, uma estratégia adaptada às diferentes circunstâncias dessas relações externas, de acordo com a natureza do assunto a ser tratado com parceiros estrangeiros. O bilateralismo estrito é necessariamente redutor das oportunidades oferecidas pela economia global, quando se assistem a negociações de mega-acordos comerciais, ou de investimentos, mobilizando um número muito variado de países (a exemplo do TPP ou de outros na área da Ásia Pacífico). 

Um programa de política externa
Um programa consistente de política externa deve partir de diretrizes gerais, que são definidas basicamente a partir das grandes orientações diplomáticas e econômicas de um governo determinado, para depois se debruçar sobre áreas temáticas: relações políticas nos planos bilateral, regional e multilateral, justamente, ou sobre os objetivos econômicos que se pretende alcançar, = situados nas área de comércio, investimentos, laços de cooperação em ciência e tecnologia, etc. Cabe dar devida atenção à “geografia” da política externa, ou seja, as prioridades no imediato entorno geográfico e a amplitude que se pretende dar às grandes parcerias externas: a Ásia, com destaque para a China, se afirma claramente como a área de maior dinamismo relativo na economia global, mas a África também parece oferecer boas perspectivas de crescimento econômico nos próximos anos. 
Existem, por outro lado, temas que já estão colocados na agenda internacional, e sobre os quais o Brasil precisa ter posições claras, e definir alianças pragmáticas, não aquelas ditadas por simpatias ideológicas como parecia ser o caso anteriormente. Outros temas podem resultar da própria iniciativa do Brasil, como o aprofundamento da integração regional, por exemplo. Muitos dos temas que devem necessariamente integrar uma agenda de política externa passam, antes, por reformas internas, pois parece meridianamente claro que é o Brasil que se encontra defasado em relação à agenda da globalização, introvertido e protecionista como ele sempre foi, e ainda é. 
Diretrizes setoriais precisam ser definidas com clareza em função dessas mesmas necessidades (ou carências) internas, e elas passam, por exemplo, por uma agenda de produtividade, que por sua vez remete a um programa – talvez a uma verdadeira revolução – no plano educacional, provavelmente o maior desafio que a sociedade brasileira tem para consigo mesma. A política externa pode ser orientada para essas áreas, mas as diretrizes a serem dadas ao Itamaraty – bem como às outras agências do governo – precisam partir do presidente, ou de seu gabinete, com uma visão clara, integrada, de como a agenda de reformas internas vai se coordenar com a ação externa do Itamaraty. Relações regionais e com grandes parceiros também precisam adequar-se a essa lista de prioridades gerais do governo, e não serem definidas de modo abstrato, ou principista, para serem conduzidas de modo mecânico pelo Itamaraty.
De forma geral, o Brasil precisa passar por reformas radicais no plano interno, e a política externa tem de ser coadjuvante desse processo. O ingresso do Brasil na OCDE, por exemplo, não pode ser visto como um objetivo em si, mas meramente como um meio para acelerar, aprofundar, qualificar esse processo de reformas internas, preferencialmente visando à intensificação de nossa inserção na economia global, o único caminho para uma modernização exitosa das estruturas internas. 
Havendo uma definição clara de quais objetivos o Brasil pretende atingir nos planos interno e externo, o Itamaraty, novo ou “velho”, será perfeitamente capaz de adaptar suas estruturas e ferramentas para coadjuvar esse processo de reformas modernizantes.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15-16 de agosto de 2018

Sobre alguns boatos persistentes: um novo desmentido - Paulo Roberto de Almeida

Tomei conhecimento, novamente nesta data (15/08/2018), por um colega de trabalho, de boatos, aparentemente persistentes, sobre minha condição de "assessor de um (tal) candidato (de direita) na área de relações internacionais", com "acusação" adicional de que seria o "indicado" para o Itamaraty nesse governo, em caso de vitória desse candidato nas eleições de outubro. 
Fui novamente tomado de surpresa, uma vez que não estou assessorando nenhum candidato, não pertenço e nem pretendo pertencer a qualquer partido, sou absolutamente independente, embora tenha convicções e escolhas políticas, sendo que meus candidatos – não tenho nenhum problema em apontar os preferidos – nas eleições presidenciais são, pela ordem, João Amoedo e Geraldo Alkmin.

A única coisa a que sou candidato seria continuar a exercer minhas atividades intelectuais, e a terminar a redação de meus volumes 2 e 3 de minha história da diplomacia econômica, cujo primeiro volume já foi publicado em terceira edição, como informo ao final.

Para dirimir qualquer dúvida quanto a minha postura, permito relembrar, e reproduzir, texto que já disseminei um mês atrás, quando os primeiros boatos chegaram aos meus ouvidos. Não tenho nada de novo a acrescentar ao que já disse neste texto, e que reproduzo novamente abaixo.

Como fiz em todas as eleições anteriores – e isto está claramente indicado numa seção da coluna da direita neste meu blog – sigo atentamente programas e propostas dos candidatos, agregando comentários pessoais, especialmente sobre economia, relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira, nos blogs temporais indicados ali. O blog deste ano é este aqui: 

Eleições presidenciais 2018
https://eleicoespresidenciais2018.blogspot.com

Segue a ficha e o texto deste meu segundo desmentido (e espero que não necessite uma terceira vez):

3300. “Uma revelação surpreendente, uma explicação necessária”, Brasília, 15 julho 2018, 3 p. Sobre um boato de que eu estaria trabalhando na equipe de certo candidato de direita e integraria seu ministério, meus comentários. Divulgado no blog Diplomatizzando(https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/07/uma-revelacao-surpreendente-uma.html), disseminado no Facebook (https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1996311863765587).

Uma revelação surpreendente, uma explicação necessária

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: retirar fundamento de um boato; finalidade: esclarecimento público]


Minha atenção foi chamada, recentemente, para uma revelação surpreendente, feita em tom de confidência por um amigo que a ouviu, direta ou indiretamente, de algum colega diplomata, segundo a qual eu estaria integrando a equipe de apoio de um dos candidatos às próximas eleições presidenciais – ou seja, fazendo parte de um grupo de formulação de políticas – e que eu poderia vir a ser membro de seu ministério, na área das relações exteriores, se por acaso esse candidato, classificado à direita no âmbito do espectro político, viesse a ser eleito. Não sei exatamente de onde pode ter saído tal “informação”, mas ela não corresponde absolutamente à minha postura, na atual campanha eleitoral, por motivos que julgo relevante explicar, por simples cuidado de transparência, aliás confirmada em relação a minha produção intelectual e atividades públicas, objeto de registro e divulgação em minhas ferramentas de comunicação social, como por exemplo o blog Diplomatizzandoe o meu site pessoal, nos quais estão consignadas minhas listas de trabalhos originais e os publicados. 
Não estou, por razões de ética profissional e de simples acatamento a uma postura totalmente independente em relação a partidos e movimentos políticos, a serviço de qualquer um dos atuais ou futuros candidatos à presidência da República, assim como não postulo, e não desejo, por razões eminentemente práticas, exercer qualquer cargo executivo em eventual governo que venha a tomar posse em janeiro de 2019. Preservo total autonomia de pensamento e ação no terreno da política e, embora seja um cidadão consciente de minhas obrigações cívicas nessa área, não aspiro cargos ou assessorias em qualquer governo que venha a se formar a partir das eleições de outubro do corrente ano. Pretendo manter minha atitude de distanciamento crítico em relação a qualquer um dos candidatos à presidência do Brasil, em especial em relação ao candidato ao qual pretendem, contra a minha vontade, me vincular politicamente.
Essa revelação surpreendente pede algum esclarecimento sobre suas prováveis origens, assim como minha postura aqui exposta apela a uma explicação credível; é a isto que se destina a presente nota. Meus colegas de carreira estão quase amplamente informados, mas não necessariamente o público externo, de que, dentre os diplomatas que, na vigência dos governos do PT, foram considerados como “adversários políticos” de um regime que eu nunca hesitei em considerar nefasto ao Brasil, eu fui o único que permaneci, na inteira vigência daquele “reinado”, sem qualquer cargo ou função na Secretaria de Estado, aliás até o presente momento. Desde o início de 2003, quando fui expressa e deliberadamente vetado para um cargo no Itamaraty, ao qual eu tinha sido convidado em razão de minha capacitação na área, atravessando os dois governos Lula e um e meio de sua sucessora, e até o momento mesmo do impeachment, em maio de 2016, eu nunca exerci qualquer função na Secretaria de Estado, vetado que estava para o exercício das atividades às quais eu estava vinculado por dever de ofício, e isso contrariamente a normas administrativas a que o Ministério deveria estar adstrito. Já me expliquei, em diversas ocasiões, mas especialmente em dois textos divulgados em meu blog pessoal – uma primeira vez em 18 de dezembro de 2016, uma segunda em 26 de junho de 2018: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/uma-longa-travessia-do-deserto.htmlhttps://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/duas-pedras-no-meio-do-caminho-paulo.html– sobre como transcorreu essa longa travessia do deserto funcional a que estive relegado, um exílio involuntário que durou exatamente o dobro de meu primeiro exílio, voluntário, a que fui levado durante o período da ditadura militar. 
Pois bem, a que se poderia atribuir a “informação” em questão, dado que sempre fui extremamente discreto quanto às minhas escolhas políticas, mas deliberadamente aberto e transparente quanto ao que penso em relação a políticas e políticos em geral? Provavelmente ao fato que nunca escondi o que pensava – e isto está registrado em inúmeros trabalhos publicados desde antes de 2003 – sobre o partido companheiro e suas políticas esquizofrênicas para a administração do país. Paralelamente às minhas atribuições profissionais na carreira diplomática, exerço desde sempre atividades complementares no mundo acadêmico, sendo autor de muitos livros e artigos sobre os mais diversos assuntos de interesse em meu universo de preocupações intelectuais. Pode-se dizer que fui o único diplomata a ter escrito e publicado artigos e livros que podem ser classificados como objetivamente – e até subjetivamente – críticos em relação ao regime e suas políticas públicas, especialmente sua política externa, que sempre chamei de “lulopetismo diplomático”. 
Entendo que devo a essa postura de objeção pessoal à maior parte das políticas companheiras, em especial na área externa, o fato de ter sido agora alinhado “à direita” do espectro político, posição que rejeito não apenas por convicções ideológicas, mas também porque ela não corresponde absolutamente à verdade dos fatos. Aliás, eu nunca fui crítico do PT e das políticas companheiras porque estas e o seu partido seriam “de esquerda”, o que eu considero plenamente admissível no terreno das opções políticas disponíveis a qualquer cidadão consciente e participante ativo do jogo político, como aliás eu mesmo sou, mesmo sem estar integrado a qualquer partido, o que nunca fiz e não pretendo fazer. Sempre fui opositor daquelas políticas e de seus promotores pelo fato singelo de que sempre considerei que eles fossem totalmente ineptos na condução das políticas públicas, e por saber, de antemão – o que depois se revelou amplamente – que eles eram tremendamente corruptos no exercício do poder, além de dominados por um inaceitável espírito totalitário. 
Creio que os inúmeros textos meus divulgados a esse respeito – a maior parte deles livremente disponíveis nas ferramentas pessoais e na plataforma Academia.edu, e os mais representativos no livro Nunca antes na diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais (Appris) – podem ter causado essa impressão de que eu estaria identificado com, ou trabalhando para, um desses candidatos também crítico aos companheiros, o que eu desminto formalmente. Recentemente formulei algumas propostas de política econômica externa – notadamente o capítulo sobre “relações internacionais” no livro organizado por Jaime Pinsky, Brasil: o futuro que queremos(Contexto, 2018) – o que pode, mais uma vez, ter aberto espaço para esse tipo de associação que absolutamente inexiste. 
Se ouso ser ainda mais transparente quanto às minhas preferencias políticas, posso confirmar, formalmente, que não sou, nem pretendo ser, eleitor do candidato em questão, por divergir filosoficamente, e absolutamente, de suas posturas gerais em uma variedade muito ampla de terrenos e políticas públicas. Se existe algum candidato que se aproxima mais ou menos daquilo que eu mesmo penso quanto à natureza e sentido das medidas que deveriam ser implementadas por algum estadista (até aqui inexistente) eventualmente alçado à condição de presidente, esta pessoa seria o candidato do partido Novo, com o qual a minha interface de ideias é mais ampla e bem mais convergente. Depois de ter sido marxista na juventude, sou, na idade madura, um libertário puro. 
Espero que estas minhas explicações sejam suficientes para eliminar qualquer questionamento quanto às minhas preferências políticas, ou qualquer “revelação” de que eu estaria interessado em exercer cargos executivos, mesmo em minha área de trabalho. Sou, e pretendo continuar sendo, um espectador engajado, e não mais do que isso. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2018

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A obra de história da diplomacia econômica no Brasil, para a qual preciso ainda escrever e publicar o segundo e o terceiro volume: 

Formação da Diplomacia Econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império. 3ra. edição, revista; apresentação embaixador Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras; Brasília: Funag, 2017, 2 volumes; Coleção História Diplomática; ISBN: 978-85-7631-675-6 (obra completa; 964 p.); Volume I, 516 p.; ISBN: 978-85-7631-668-8 (link:http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=907) e Volume II, 464 p.; ISBN: 978-85-7631-669-5(link: http://funag.gov.br/loja/index.php?route=product/product&product_id=908).Divulgado no blog Diplomatizzando(link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/formacao-da-diplomacia-economica-no_9.html)e disseminado no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1648798118516965).Relação de Originais n. 1351 (prefácio à 2aedição) e 3083 (prefácio à 3aedição).

Lula: There Is a Right-Wing Coup Underway in Brazil - NYTimes

Eis o artigo mentiroso: 

Lula: There Is a Right-Wing Coup Underway in Brazil
But justice will prevail.
Luiz Inácio Lula da Silva
The New York Times – 15.8.2018

Curitiba, Brazil – Sixteen years ago, Brazil was in crisis; its future uncertain. Our dreams of developing into one of the world’s most prosperous and democratic countries seemed imperiled. The idea that one day our citizens might enjoy the comfortable living standards of our peers in Europe or other Western democracies seemed to be fading away. Less than two decades after dictatorship ended, some wounds from that period were still raw.
The Workers’ Party offered hope, an alternative that might turn these trends around. For this reason, above all, I believe, we triumphed at the ballot box in 2002. I became the first labor leader to be elected Brazil’s president. The markets were at first rattled by this development, but the ensuing economic growth put them at ease. In the years that followed, the Workers’ Party governments that I headed cut poverty by more than half in just eight years. In my two terms, the minimum wage increased 50 percent. Our Bolsa Familia program, which assisted impoverished families while simultaneously ensuring that children received quality education, won international renown. We proved that fighting poverty was a good economic policy.
Then this progress was interrupted. Not through the ballot box, although Brazil has free and fair elections. Instead, President Dilma Rousseff was impeached and removed from office for an action that even her opponents admitted was not an impeachable offense. Then, I, too, was sent to prison, after a dubious trial on corruption and money laundering charges.
My imprisonment was the latest phase in a slow-motion coup designed to permanently marginalize progressive forces in Brazil. It is intended to prevent the Workers’ Party from again being elected to the presidency. With all the polls showing that I would easily win this October’s elections, Brazil’s extreme right wing is seeking to knock me out of the race. My conviction and imprisonment is based solely on the testimony of a witness whose own sentence was reduced in exchange for what he said against me. In other words, it was in his personal interest to tell the authorities what they wanted to hear.
The right-wing forces that have seized power in Brazil have wasted no time in implementing their agenda. The deeply unpopular administration of President Michel Temer has approved a constitutional amendment that puts a 20-year cap on public spending and has enacted various changes to labor laws that will ease outsourcing and weaken workers’ bargaining rights and even their right to an eight-hour workday. The Temer government has also tried pension cuts.
Brazil’s conservatives have done much work to roll back the progress of our Workers’ Party governments, and they are determined to keep us from coming to office again in the near future. Their ally in this effort is Judge Sérgio Moro and his prosecutorial team, who have resorted to taping and leaking private phone conversations that I have had with my family and with my lawyer, including an illegally tapped conversation. They created a media show by having me arrested and subjected to a “perp walk” as they accused me of being the “mastermind” of a vast corruption scheme. These appalling details are rarely recounted in the major news media.
Mr. Moro has been lionized by Brazil’s right-wing news media. He has become untouchable. But the real issue isn’t Mr. Moro; it’s those who elevated him to this untouchable status: right-wing, neoliberal elites who have always been opposed to our struggle for greater social justice and equality in Brazil.
I don’t believe that the majority of Brazilians approved that elitist agenda. That’s why, while I may be in jail today, I am running for president, and why the polls show that if the elections were held today, I would win. Millions of Brazilians understand that my jailing has nothing to do with corruption, and they understand that I am where I am merely for political reasons.
I do not worry for myself. I have been in jail before, under Brazil’s military dictatorship, for nothing more than defending workers’ rights. That dictatorship fell. The people who are abusing their power today will also fall.
I don’t ask to be above the law, but a trial must be fair and impartial. These right-wing forces convicted me, imprisoned me, ignored the overwhelming evidence of my innocence and denied me habeas corpus only to try to stop me from running for the presidency. I ask for respect for democracy. If they want to defeat me for real, do it in the elections. According to the Brazilian Constitution, the power comes from the people, who elect their representatives. So let the Brazilian people decide. I have faith that justice will prevail, but time is running against democracy.


Mr. da Silva, the former president of Brazil, wrote this Op-Ed essay from prison

Os "mortos-vivos" da guerrilha do Araguaia no livro de Hugo Studart - Carlos Brickamnn

ESTÃO VIVOS MAS MORRERAM

COLUNA CARLOS BRICKMANN

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 15 DE AGOSTO DE 2018

 

Carmen Navarro Rivas recebeu todos os documentos que atestam a morte de seu filho, Hélio Luiz Navarro de Magalhães. Mas, há mais de 40 anos, tem certeza de que ele continua vivo, com nova aparência e outro nome. Hélio Luiz, diz o jornalista e professor Hugo Studart, em livro ontem lançado no Rio, é um morto-vivo: foi preso na Guerrilha do Araguaia e delatou os velhos companheiros para continuar vivendo. Borboletas e Lobisomens, o livro, diz que, apesar da ordem do presidente Médici de matar todos, seis outros guerrilheiros foram poupados em troca de colaboração. E, para que não fossem mortos como vingança, anunciou-se que mortos já estariam.


O livro provocou duros protestos de famílias dos guerrilheiros citados: dizem que é falso. O jornalista Fernando Portela, autor de ótimos livros sobre a guerrilha, disse que jamais ouvira falar de guerrilheiros poupados: todas as suas fontes garantiram que nenhum sobrevivera. Mas é difícil, prossegue, dizer que é falso um livro tão detalhado, com tantas fontes.


Há informações que são verificáveis, como: “Com o falecimento de seu pai, em 1999, Hélio Luiz se apresentou à Receita Federal, em 8 de agosto de 2001, com sua verdadeira identidade, a fim de regularizar o CPF e liberar inventário. Ato contínuo, forneceu à Justiça documento no qual abria mão dos direitos sobre o imóvel no qual seu pai residia com a segunda mulher, Elza da Costa Magalhães”. Há documentos? É buscá-los.


A guerrilha

O PCdoB, Partido Comunista do Brasil, defendia a luta armada contra o regime militar; e organizou a Guerrilha do Araguaia, que resistiu a duas ofensivas militares convencionais e foi destruída pela terceira, na qual a ordem era extrair informações dos guerrilheiros aprisionados, fosse como fosse, e depois matá-los, levando os corpos para destino desconhecido.  Diz Studart, no livro, que num pequeno hiato de poder, quando Médici passou a presidência para Geisel, houve gente poupada em troca da delação.


Todos os detalhes

O capítulo 19 do livro de Studart, em que narra essa história, com nome, codinome e fotos dos guerrilheiros apontados como mortos-vivos, está em http://www.chumbogordo.com.br/20390-sonata-para-carmen-siga-a-pista-e-leia-esse-capitulo-para-o-incrivel-trabalho-do-historiador-hugo-studart/


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Sonata para Carmen. 

Siga a pista (e leia esse capítulo) para o incrível trabalho do historiador Hugo Studart

CONHEÇA TODO O EXCELENTE TRABALHO DE STUDART, QUE TAMBÉM É JORNALISTA, ALÉM DE HISTORIADOR.

Operação Mortos Vivos, a história dos guerrilheiros que fizeram delação premiada e trocaram de identidade


Operação Mortos Vivos, a história dos guerrilheiros que fizeram delação premiada e trocaram de identidade

SONATA PARA CARMEN¹

(CAPÍTULO 19 DO LIVRO “BORBOLETAS E LOBISOMENS”, DO HISTORIADOR HUGO STUDART, QUE REVELA NOVOS FATOS E ASPECTOS DA GUERRILHA DO ARAGUAIA)

(…) Carmen Navarro Rivas atravessou quatro décadas à espera de uma música. Qual? Ora, ela nunca contou, jamais revelou. É um segredo, um dos mais fechados dentre os arquivos secretos da ditadura militar brasileira. Mas a espera foi torturante. Carmen aguardou a chegada dos acordes que seu filho Hélio Luiz Navarro de Magalhães compôs antes de partir. A última vez que se viram foi em 1970. Hélio tocou-lhe a composição e partiu. Tinha 21 anos. Foi se juntar a um punhado de estudantes que montavam uma guerrilha na região do Araguaia. Era estudante de Química, falava francês, tocava piano e compunha músicas. Adotou o codinome de Edinho e aprendeu sozinho a tocar flauta. Hoje figura na lista dos 243 desaparecidos da ditadura[2].
O coração de mãe, as informações que apura, tudo dá conta que Hélio Luiz sobreviveu à aventura e que atravessou mais de quarenta anos resguardado sob a identidade que lhe arrumaram os militares. Por muitos anos Carmen alimentou a esperança de abraçar o filho ao menos uma vez. Em fins de 2016, aos 87 anos, lúcida, culta e bem informada, estava conformada em receber um singelo sinal de vida – a música que lhe compôs antes de se transformar num “desaparecido”. Somente os dois conhecem os acordes. Poderiam chegar por e-mail anônimo, ou via CD postado no Correio. Ela só esperava esse acalento.
A história por trás desse drama é delicada – e provoca tantas fúrias quanto são as lágrimas derramadas por Carmen. Já é aceito, historicamente, que em fins de 1973, depois de duas campanhas militares dentro das Leis da Guerra, o presidente Emílio Médici deu ordens ao Exército para caçar e aniquilar por completo os 47 guerrilheiros que ainda lutavam no Araguaia. Não queria ninguém vivo. Coube a Ernesto Geisel, seu sucessor, cumprir a ordem.
Ocorre que pelo menos sete deles teriam sido poupados. Uso aqui os verbos na condicional, em sinal de prudência acadêmica. Esses guerrilheiros, que passaram a ser chamados de “mortos-vivos” pelos militares, teriam feito acordo (hoje chamado de delação premiada) e recebido novas identidades. Tal qual ocorre nos decantados programas de proteção às testemunhas dos Estados Unidos, pelo acerto, não poderiam sequer procurar suas famílias. Teriam que “morrer” da antiga vida e “renascer” com outra história. Alguns seguiram a ordem com rigor, como Hélio Luiz.
A Operação Mortos-Vivos encontra-se nas categorias dos chamados “segredos de Polichinelo”, inclusive com alguns dos nomes dos sobreviventes conhecidos há quatro décadas por grande parte dos antigos militares da repressão, e há mais de vinte anos pelos militantes dos Direitos Humanos. O ex-ministro Jarbas Passarinho já revelou, reafirmou e confirmou em entrevistas à imprensa a existência dos “mortos-vivos”; contou ainda que empregou dois deles no Ministério da Educação e Cultura, MEC, quando era o titular da pasta no governo de Emílio Médici.
Em janeiro de 2011, o Ministério da Defesa e a Advocacia-Geral da União entraram com pedido junto à Justiça Federal para que a Polícia Federal investigue a possibilidade de alguns dos guerrilheiros que constam na lista dos desaparecidos políticos, na verdade, terem sobrevivido. A juíza Solange Salgado, da 1ª Vara da Justiça Federal em Brasília, responsável pela sentença que obriga a União a procurar pelos desaparecidos do Araguaia, acatou o pedido e expediu ordem à Polícia Federal(…)
A imagem pode conter: Hugo Studart, sentado

terça-feira, 14 de agosto de 2018

O PT, uma mafia, ou a Mafia? - vejamos o que diz Luigi Barzini

Existem sutis distinções entre uma máfia ou a Mafia. Creio que o PT representa ambas.
Vejamos o que diz Luigi Barzini.
Paulo Roberto de Almeida

The Italians by Luigi Barzini. 

Luigi Barzini's famous 1964 description of the Mafia:

"The word Mafia notoriously means two things, one, which should be spelled with a lower-case 'm', being the mother of the second, the capital letter Mafia.

"The lower-case mafia is a state of mind, a philosophy of life, a con­ception of society, a moral code, a particular susceptibility, prevail­ing among all Sicilians. They are taught in the cradle, or are born already knowing, that they must aid each other, side with their friends and fight the common enemies even when the friends are wrong and the enemies are right; each must defend his dignity at all costs and never allow the smallest slights and insults to go unavenged; they must keep secrets, and always beware of official authorities and laws. ...

"Mafia, in the second and more specialized meaning of the word, is the world-famous illegal organization. It rules over only one part of Sicily: its threats are terrifying in Palermo, Partinico or Agrigento, but are ignored in Messina, Catania and Syracuse. It is not a strictly organized association, with hierarchies, written statutes, head­quarters, a ruling elite and an undisputed chief. It is a spontaneous formation like an ant-colony or a beehive, a loose and haphazard collection of single men and heterogeneous groups, each man obey­ing his entomological rules, each group uppermost in its tiny domain, independent, submitted to the will of its own leader, each group locally imposing its own rigid form of primitive justice. Only in rare times of emergency does the Mafia mobilize and become one loose confederation.
1900 map of Mafia presence in Sicily. Towns with Mafia activity are marked as red dots. The Mafia operated mostly in the west, in areas of rich agricultural productivity.
"Nobody knows how many mafiosi there are. Only a minority of Sicilians are technically mafiosi, in the criminal sense of the word. Many do not honestly know whether they are mafiosi or not. West­ern Sicilians must, as a rule, entertain good relations with the Mafia in their native village or city quarter. They have to live there, they must protect their family, job, property or business, and want no trouble. The Mafia is for them a fact of life, one of the permanent conditions of existence, like the climate, the average rainfall or the local patois. It is often impossible to draw a neat dividing line between Mafiosi and non-Mafiosi.

"Take the good friars of Mazzarino, who were recently arrested and tried for having acted as messengers between the Mafia and its in­tended victims, men who were being blackmailed. The pious fathers patiently explained to the non-Sicilian court that they were by no means to be considered advisers, instigators or accomplices of the criminals. They had only done their best to persuade the intended victims, to whom they brought the Mafia's blackmail message, that it was safer to pay, and pay quickly, in order to save their lives. Were not one or two men, who had stubbornly overlooked the advice, sub­sequently found dead in solitary country lanes? Yes, of course, the monks had written some of the messages themselves, but only because the mafiosi were illiterate and did not own a typewriter.

"Furthermore, the friars pointed out that they were by no means responsible for the conditions of law enforcement in Mazzarino. They were not policemen. They took for granted that there were extortionists and potential victims, moneyed men whose only safety was in conforming with the Mafia's demands, and men who could live and prosper out of the fear they could evoke in others. The monks explained they were only doing their duty: they had avoided unnecessary bloodshed. Was theirs not a charitable mission? (The monks were found guilty, nevertheless, and given long prison sentences.)

"Everybody, of course, knows (although such things are never admitted openly) that the trouble the Mafia defends one from is almost always contrived and controlled by the Mafia itself. Every­body knows that the tributes he is paying to the local boss could be compared to a tribute to a powerful feudal baron. Everybody is resigned. But the relationship between the Mafia and its victims is not limited to the collection of money. A day always comes when the Mafia also needs some favour in return. On that day, a man discovers he can no longer refuse. A businessman finds he must give a job to an ex-convict, a banker extend a loan to a risky customer, a farmer shelter some unknown men for a few days in a barn without asking questions, an honest man remember distinctly something he never knew or forgets something he saw. All these people gradually get so enmeshed in the net, in the hope of avoiding trouble, that they cannot free themselves."

The Italians
Author: Luigi Barzini
Publisher: Penguin Books
Copyright Luigi Barzini, 1964
Pages: 253-257


Brics, ou a China e mais quatro - Rubens Barbosa

Reunião presidencial do Brics

A partir de 2019 surge uma possibilidade de convergência para uma nova etapa do grupo

Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 14/08/2018

O Brics, grupo integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, realizou sua 10.ª reunião de cúpula em Johannesburgo, África do Sul, no final de julho. Criado em 2006, o grupo representa 44% da população mundial, quase um quarto do território terrestre e 23% de seu PIB. São cinco países de renda média que buscam ampliar a cooperação e buscar soluções para os desafios de um mundo em profunda e rápida transformação, sem, no entanto, questionar os atuais fundamentos da ordem política e econômica global. 
Na reunião, a cooperação com a África foi discutida e a escalada protecionista, que ameaça o livre-comércio e amplia os questionamentos sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC), foi condenada. Ambos os temas são de direto interesse do Brasil. A ameaça de guerra comercial ficou concentrada na disputa entre EUA e China. O entendimento entre os EUA e a Europa culminou com a suspensão de todas as medidas restritivas no intercâmbio bilateral, inclusive no tocante ao aço, ao alumínio e a automóveis. Ninguém se beneficiará dessa confrontação, nem mesmo o Brasil, sobretudo nas exportações de produtos agrícolas. 
Ao final do encontro do Brics, os países-membros aprofundaram a cooperação em áreas como meio ambiente, esportes e economia digital. Foi instituído um Centro de Pesquisa em Vacinas para ampliar a capacidade conjunta da produção farmacêutica; e foi lançada parceria para explorar oportunidades no setor de aviação regional. Foi também assinado acordo para a instalação, no Brasil, de escritório do Novo Banco de Desenvolvimento. Com esta nova sede regional, em São Paulo, o banco do Brics vai financiar mais investimentos no Brasil e em toda a América Latina, em especial na área de infraestrutura. 
No momento, o Brasil corretamente tem focado sua atuação no Brics de maneira pragmática e cautelosa. Tendo em conta as atuais limitações para a convergência de uma agenda mais ampla no campo da política internacional entre países tão distintos e com pesos econômicos relativos tão díspares, o governo brasileiro aproveita o agrupamento para promover atividades concretas de cooperação, como ficou evidenciado na África do Sul. Trata-se, portanto, de auferir ganhos concretos no campo econômico-financeiro (financiamento de infraestrutura, atração de investimentos) e de promoção comercial. Do ponto de vista financeiro, a criação do Novo Banco de Desenvolvimento e de arranjos financeiros representou um avanço significativo para reforçar a identidade do grupo e ampliar os instrumentos de apoio entre os países-membros. 
O grupo tende a firmar-se como instância de cooperação para enfrentar problemas típicos de países de renda média (com destaque para saúde, educação, ciência, energia, tecnologia e inovação). Em 2018, deverão ser realizados mais de cem encontros ministeriais, de altos funcionários e setoriais entre os países-membros. 
A partir de 2019, no início de sua segunda década de existência, surge uma possibilidade de convergência para uma nova etapa dos Brics. 
Dependendo do resultado das eleições presidenciais e, espera-se, com a volta do crescimento sustentável, a disparidade relativa entre o Brasil, a China e a Índia poderá ser reduzida, e assim desenhada uma política mais ambiciosa em relação ao Brics com o objetivo de aumentar a projeção diplomática do Brasil. Considerações de natureza geopolítica deveriam também ser levadas em conta. Ser parte de um exclusivo grupo de países com grande peso econômico e político é fator de influência e prestígio diplomáticos. Hoje já existe coordenação em muitas áreas, tais como em foros multilaterais como G-20, ONU, Banco Mundial e FMI. Nos próximos anos, com a recuperação econômica do Brasil e da Rússia e o continuado avanço da China e da Índia, o Brics tenderá a ter uma crescente presença no cenário global, ampliando sua participação não só em termos econômicos, mas também político, com maior peso no encaminhamento de soluções para crises pontuais. 
Para ser ouvido nos foros internacionais ou no concerto das nações, o Brics terá de atuar de maneira coordenada e uníssona. Não interessa ao Brasil endossar posições nacionais de um ou mais membros que marquem antagonismos em geral contra os EUA e países europeus. Com maior presença global, o Brasil, nos próximos anos, terá de posicionar-se em questões geopoliticamente distantes, como no caso da Síria ou do Oriente Médio. Terá de buscar consenso para o grupo também atuar com voz única nos chamados “novos temas emergentes” (terrorismo, narcotráfico, migrações e segurança cibernética), nos quais hoje há significativa discrepância entre a posição brasileira, de um lado, e a russa e a chinesa, de outro. Também não interessa ao Brasil o aumento do número de países-membros. México, Argentina, Arábia Saudita, Indonésia, Egito e Venezuela, que já manifestaram interesse em juntar-se ao grupo, poderiam, uma vez aceitos, dificultar a obtenção de consensos, sobretudo em temas relacionados à paz e à segurança internacionais – aí incluída a reforma do Conselho de Segurança. 
O Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) promoverá em São Paulo, em setembro, encontro para discutir um novo papel para o Brasil no âmbito do Brics, levando em conta que em 2019 caberá ao Brasil sediar o próximo encontro presidencial do Brics. Com o novo presidente, a cúpula poderá ser a oportunidade ideal para ensaiarmos os primeiros passos na busca de uma posição comum dos cinco países em temas internacionais sensíveis, aprofundando a atitude de cautela adotada até aqui. O fortalecimento da política e da economia internas reforçará a política externa brasileira nos próximos anos e o Brics poderá ser uma plataforma relevante para uma ação mais proativa do Brasil no cenário internacional.

Lulopetismo: A MAIOR CORRUPÇÃO DA HISTÓRIA DO BRASIL



No Blog do Nêumanne: Prostituição, fraude e sabotagem
Nenhum candidato com chance de ser presidente ousou, no debate da Band, referir-se aos escândalos de mensalão e petrolão para não perder eventuais eleitores de Lula, político preso e ausente

No artigo Todos juntos pela impunidade, publicado na semana passada, comentei como a blindagem da Polícia Federal (PF), sob a égide do criminalista Márcio Thomaz Bastos, foi rompida por dois acidentes de percurso. Roberto Jefferson, furioso com a partilha da propina, pôs a boca no trombone, denunciando a compra de votos, e Joaquim Barbosa, o estranho no ninho, pegou o touro à unha e o levou até o fim.

Recentemente, foi publicada entrevista de Paulo Lacerda, diretor da PF dita “republicana” de Márcio Thomaz Bastos, que foi advogado de Lula na Justiça Militar à época das greves dos metalúrgicos e, depois, ministro da Justiça no primeiro mandato presidencial do petista. Segundo ele, a Polícia Federal (PF) fazia vista grossa à malandragem dos políticos que obedeciam cegamente aos poderosos e não conseguia desvencilhar-se de ingerências politiqueiras. A narrativa de “PF republicana” durou pouco e foi para o saco na Operação Xeque-Mate, que pegou Vavá, irmão de Lula. A PF “republicana”, que o causídico Bastos regia, só investigava inimigos dos donos do poder. Seu modelo era a famigerada Delegacia Especial de Segurança Política e Social (DESPS), versão federal dos Dops estaduais no Estado Novo de Getúlio Vargas e que centralizou o aparato policial para perseguir, processar e levar à prisão adversários do regime.

Quando o PT, Lula e Márcio Thomaz Bastos ascenderam ao poder, fizeram um remanejamento de quadros na PF. E a deusa da Justiça, Têmis, inspirou os ocupantes de postos-chave, em que usavam seus  olhos vendados a favor do regime e contra a liberdade de quem ousasse desafiá-lo. Por isso  os órgãos de fiscalização do Estado de Direito, descentralizado por definição – a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o Tribunal de Contas da União (TCU), a Superintendência de Previdência Suplementar (Previc/fundos de pensão), o Banco Central, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a PF –,  não ouviram o tropel nem viram a manada de elefantes passando à vista por 13 anos e meio a fio: da posse de Lula ao impeachment de seu poste, Dilma.

Só a vista grossa da deusa Têmis pode justificar como a maior corrupção da História chegou ao ponto a que chegou sem ser percebida.

A Lava Jato foi um acidente de percurso e decorreu do tratamento dado a Marcos Valério, que provocou a deserção de mercenários. No mensalão, Lula,  o comandante em chefe, nem sequer foi arrolado, sob a proteção de seus lugares-tenentes no Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski (revisor) e Dias Toffoli e com a complacência do relator (e depois presidente da mais alta Corte) Joaquim Barbosa.  Nesse ambiente, Luiz Gushiken, personagem importante no escândalo nunca desvendado da guerra das teles gigantes, foi excluído de investigação, processo e pena, chegando a ser inocentado e elevado ao panteão dos heróis nacionais num discurso laudatório fora de propósito de Lewandowski, que substituiria Barbosa na presidência do colegiado. Mesmo citado como chefe da quadrilha, José Dirceu só ficou dois anos na prisão, sendo um em prisão domiciliar. Já o publicitário Marcos Valério, que obedecia às ordens de Dirceu, foi condenado a 40 anos e a bailarina Kátia Rabello, dona do Banco Rural, usado na operação, mas na qual ela nunca teve noção do que acontecia, a 16. Os mercenários perceberam que o bote salva-vidas do PT fora inspirado no Titanic: nele só embarcaram os passageiros da primeira classe. O resto foi deixado para servir de pasto aos tubarões. Mas a trava da caixa de Pandora só foi quebrada com Márcio Thomaz Bastos fora da Esplanada dos Ministérios. E a mensagem ao Garcia chegou à “mercenariocracia”. Ao primeiro risco de afundar, os mercenários, já sabendo que não teriam lugar no bote do PT, partiram para agarrar o que flutuava: a delação premiada. O que lhes restou foi o instituto usado nos Estados Unidos e na Operação Mãos Limpas, da Itália, para perfurar a blindagem dos poderosos chefões da Máfia, originária da Sicília, que se tornou rica e influente agindo no porto de Nova York e nos bares de Chicago. Não é à toa que tal expediente é o inimigo número um de advogados grã-finos que representam a fina-flor da bandidagem nacional, em particular a turma da empreita, distribuidora de propinas nas frestas da legislação que regula as relações entre contratados e contratadores de obras e serviços públicos desde os tempos da caprichosa Xica da Silva.

O esforço atual é orquestrado para fechar de novo a caixa de Pandora e levar a situação ao estágio anterior, quando havia uma proteção velada das instituições e do Estado ao governo e o entendimento de que dinheiro ilegal usado em eleições é um mal inevitável, a que só se recorre para o bem geral. No nome desse jogo o pano de frente é a compra de votos.

O PT transformou o Congresso em mercado persa. Nele tudo é comprado: apoio, votos, leis, decretos-lei, exonerações fiscais, etc. O que antes já se fazia por baixo do pano, como no sucesso junino de Antônio Barros e Cecéu, à época da compra de apoio de bancadas no Congresso, passou a ser explícito. Nas investigações de operações como Lava Jato, Cadeia Velha, Zelotes e outras se desvendaram práticas antigas, como a de empreiteiros, mas não só eles, que financiavam campanhas políticas redigirem leis que os beneficiam. Nesse sistema, que era secreto e se tornou explícito, a contratação de obras e serviços, concessões e outras formas de negociação do Estado com fornecedores privados passaram a ser moldadas ao interesse de quem fosse premiado com contratos superfaturados e a remunerar os donos das chaves dos cofres da viúva em redes de lavagem de dinheiro no exterior, que receberam a denominação de “propinoduto”, um neologismo que não admite eufemismo.  Parte dos recursos arrecadados era, então, empregada pela elite dirigente dos três Poderes da República privatizada para comprar votos do andar de baixo, em que vivem em condições precárias os mais vulneráveis socialmente.  Na prática, o Partido dos Trabalhadores (!!!) fez o que sempre condenou nos adversários empresários, latifundiários e que tais: “cafetinou” o Congresso para prostituir o eleitorado.

O trabalho eficiente de uma geração jovem e preparada de policiais, procuradores e juízes federais resultou na devassa dos escândalos do mensalão e do petrolão, que desvendaram a prostituição da política e a fraude eleiçoeira que sabota a democracia. O mensalão foi absorvido pelo establishment: os petistas e seus aliados foram indultados por Dilma Rousseff e perdoados pelo STF. José Dirceu e Pedro Corrêa só não tiveram o mesmo prêmio porque foram pilhados pela Lava Jato delinquindo em plena cela. O primeiro, contudo, mesmo condenado a 30 anos e meio de cadeia, com a benemerência da Segunda Turma do STF, sob a égide dos mesmos de sempre, Lewandowski, Toffoli e agora Gilmar, passou férias articulando a sobrevivência do PT no Sul da Bahia, sob a égide da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), ao sol de Itabuna e banhando-se no Atlântico em Ilhéus, no gozo de plena liberdade. Como se fora um sucedâneo contemporâneo do seu Nacib de Jorge Amado.

Enquanto isso, seus companheiros de armas da guerrilha de extrema esquerda e de campanhas eleitorais petistas articulavam com condenados e suspeitos da Lava Jato o sepultamento das operações eficientes de Polícia, Ministério Público e Justiça Federal, na garantia da reeleição dos de sempre para o Congresso. E no apoio a presidenciáveis citados em processos ou aliados na guerra contra a faxina que o povo exigiu nas ruas em 2013. No debate da Bandeirantes em 9 de agosto nenhum dos presentes com chances se referiu à rapina dos cofres públicos promovida por PT, aliados e até oposicionistas domados do PSDB. O tucano Alckmin uniu-se aos apenados no mensalão Roberto Jefferson, Paulinho da Força e Valdemar Costa Neto. Os sermões de irmã Marina nem de longe se referiram aos “malfeitos” do ex-chefe Lula, político preso em Curitiba, excluído da disputa por ser inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Nem Álvaro Dias, insistindo em  nomear Sergio Moro ministro da Justiça, que afastaria do combate à corrupção seu agente mais notório, se dignou a fazer uma referência que fosse ao que provocou a fama do herói do povo. Todos de olho nos votos do único que, por exigência da lei, não mentiu no debate: o ausente Lula.

*Jornalista, poeta e escritor

(Publicado no Blog do Nêumanne segunda-feira 13 de agosto de 2018)

Para ler no Blog do Nêumanne, Política, Estadão, clique no link abaixo:


Ricardo Bergamini

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Visita do Min. da Defesa-USA ao Brasil: influencia da China? Qual influencia da China?

Paranoia correndo solta por aí...

No Brasil, chefe do Pentágono busca conter influência militar da China

Visita de secretário de Defesa é permeada por incômodo dos EUA com alta nas atividades de Pequim com países na América do Sul 

por Henrique Gomes Batista, enviado especial*

James Mattis é fotografado no exterior do Pentágono: visita estratégica ao Brasil - MARK WILSON / AFP
WASHINGTON E BRASÍLIA - A crescente influência não só econômica, mas militar da China na América Latina marca o início da primeira viagem de James Mattis, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, à América do Sul. Com a visita que começa em Brasília, ele encontra uma região muito diferente da existente em 2014, quando Chuck Hagel foi o último chefe militar americano recebido na América do Sul.
Os asiáticos já contam com uma base de monitoramento de satélites na Argentina e negociam o fornecimento de insumos à indústria bélica brasileira. Embora oficialmente o objetivo da viagem a Brasil, Argentina, Chile e Colômbia seja reforçar laços com parceiros históricos, o debate sobre Pequim esteve presente já de cara.
— Temos visto China e Rússia atuando dentro da América Latina. Existe mais de uma maneira de perder soberania no mundo. Isso ocorre não apenas com a violência, pode ser com presentes e grandes empréstimos — afirmou Mattis a jornalistas que o acompanhavam em seu voo a Brasília, quando disse que quer países “livres, democráticos e independentes” no continente. — Eu não estou olhando o que as outras nações fazem como algum tipo de ataque contra nós. Estas são decisões soberanas, e eu somente me preocuparia se estes países (latino-americanos) estiverem perdendo certo grau de soberania por causa das decisões próprias ou de outras nações.

Mas o alinhamento ideológico dos principais países da região pode ajudar os Estados Unidos a reafirmarem sua influência, se Mattis conseguir avançar em propostas concretas de parcerias, compras e desenvolvimento tecnológico. O apelo pelos laços históricos esteve presente na conversa que ele manteve na viagem de Washington a Brasília. 
— Não estou interessado em reconquistar o controle destes países (da América do Sul) pois acredito que isso nunca existiu. Eu acredito na parceria, e não em controle — garantiu. — Mas citando a Argentina, gostaria de lembrá-los de quem os ajudou quando eles tiveram o submarino desaparecido (no fim do ano passado): os americanos. Fomos os mais rápidos e com a melhor tecnologia do mundo, agimos da mesma forma que se este fosse um submarino americano.
A maior prova desta influência chinesa está na Patagônia. O país asiático tem em Quintuco, na província de Neuquén, uma estação para controle de satélites e missões espaciais. A base, que começou a operar em março e oficialmente não tem fins militares, é vista com desconfiança pelos americanos. Herança dos anos de Cristina Kirchner no poder, a instalação foi negociada em segredo com Pequim e causa estranhamentos na relação bilateral entre Buenos Aires e Washington.