O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Cesse tudo o que a musa antiga canta...: lancamento do livro de Ricupero em Brasilia anulado

Que Camões me perdõe o uso, talvez indevido, dessa estrofe dos Lusíadas, mas creio que esse abuso se justifica. Explico e ilustro, a partir do anúncio de lançamento deste livro:

O embaixador Rubens Ricupero, que iria lançar em Brasília (dias 9 e 10 de outubro) o seu livro – A Diplomacia na Construção do Brasil, 1750-2016 (Rio de Janeiro: Versal, 2017, 780 p.) – teve de postergar, ou anular, sua viagem à capital por motivos de força maior (literalmente...).
O programa de lançamento era intenso, como revelado nesta minha postagem de alguns dias atrás: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/ricupero-livro-diplomacia-na-construcao.html 
 
O último capítulo do livro, antes do Posfácio (datado de 27 de julho de 2017), termina da seguinte maneira: 

Ao alcançar este meu Cabo da Boa Esperança, certamente me enganei em julgar terminado o livro, da mesma forma que se equivocou Diogo Cão, a tomar a foz do rio Zaire pelo fim da África. Ergueu mesmo assim seu marco, deixou outro corrigir-lhe o erro e seguiu avante, dizendo: 

"A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus".

No caso do lançamento, eu nunca me tomei por Deus – impossível, até mesmo por ser um irreligioso igualmente imperfeito – mas o "por-fazer" era comigo mesmo, com marco ou sem marco, no caso, todos eles virtuais, nesta fase.
Havia até preparado o painel: 

e o banner de lançamento do livro no Itamaraty:


Outros lançamentos estavam previstos, como na UnB: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/rubens-ricupero-e-construcao-do-brasil.html
O Centro de Estudos sobre as Relações Internacionais do Brasil Contemporâneo
<https://mailtrack.io/trace/link/645b08bb1a6eefabc8a730336c0451d65a92e810?url=https%3A%2F%2Fsites.google.com%2Fview%2Fribrasil&userId=949769&signature=e988d976afc773a1>,
laboratório do programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da
Universidade de Brasília, convida para a Mesa Redonda “A diplomacia na
construção do Brasil – 1750 – 2016”, a propósito do lançamento do livro de
autoria do Embaixador Rubens Ricupero. O evento terá lugar no dia 10 de
outubro de 2017, as partir das 17:30h, como se vê no Programa abaixo.
*PROGRAMA*
*14h 30 min – Abertura*

- Prof. José Flávio Sombra Saraiva, diretor do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília

*14h 40 min – Mesa Redonda*

- Embaixador Rubens Ricupero – A diplomacia na construção do Brasil
(1750 – 2016)
- Prof. Estevão Chaves de Rezende Martins, professor titular do
Departamento de História da Universidade de Brasília – Debatedor
- Ministro Paulo Roberto de Almeida, diretor do Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão (Ministério das
Relações Exteriores).

*Moderador*
- Prof. Antônio Carlos Lessa, professor do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília.

*Sessão de autógrafos do livro A diplomacia na construção do Brasil (1750 –
2016)*
O evento terá lugar no Auditório do Instituto de Relações Internacionais da
Universidade de Brasília (Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte –
Brasília – DF), no dia 10/10/2017, das 14h 30 min às 16h 40 min.

e na CNI: 

http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/cni-convida-para-o-lancamento-do-livro.html

Tudo cancelado, até nova oportunidade. Para os que não sabem, exatamente, porque os eventos foram cancelados, creio que estas duas postagens são suficientes: 



Para não frustrar aqueles desejosos de conhecer o livro, transcrevo abaixo uma pequena resenha que elaborei em intenção da imprensa periódica: 



Construindo a nação pelos seus diplomatas: o paradigma Ricupero

Paulo Roberto de Almeida

Em meados do século XX, os candidatos à carreira diplomática tinham uma única obra para estudar a política externa brasileira: a de Pandiá Calógeras, publicada em torno de 1930, equivocadamente intitulada A Política Exterior do Império, quando partia, na verdade, da Idade Média portuguesa e chegava apenas até a queda de Rosas, em 1852. Trinta anos depois, os candidatos passaram a se preparar pelo livro de Carlos Delgado de Carvalho, História Diplomática do Brasil, publicado uma única vez em 1959 e durante muitos anos desaparecido das livrarias e bibliotecas. No início dos anos 1990, passou a ocupar o seu lugar o livro História da Política Exterior do Brasil, da dupla Amado Cervo e Clodoaldo Bueno. Finalmente, a partir de agora uma nova obra já nasce clássica: A Diplomacia na Construção do Brasil, 1750-2016 (Rio de Janeiro: Versal, 2017, 780 p.), do embaixador Rubens Ricupero, ministro da Fazendo quando da introdução do Real, diretor-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento nos anos 1990, atualmente aposentado.
O imenso trabalho não é uma simples história diplomática, mas sim uma história do Brasil e uma reflexão sobre seu processo de desenvolvimento tal como influenciado, e em vários episódios determinado, por diplomatas que se confundem com estadistas, aliás desde antes da independência, uma vez que a obra parte da Restauração (1680), ainda antes primeira configuração da futura nação por um diplomata brasileiro a serviço do rei português: Alexandre de Gusmão, principal negociador do Tratado de Madri (1750). Desde então, diplomatas nunca deixaram de figurar entre os pais fundadores do país independente, entre os construtores do Estado, entre os defensores dos interesses no entorno regional, como o Visconde do Rio Branco, e entre os definidores de suas fronteiras atuais, como o seu filho, o Barão, já objeto de obras anteriores de Ricupero.
O Barão do Rio Branco, aliás, é um dos poucos brasileiros a ter figurado em cédulas de quase todos os regimes monetários do Brasil, e um dos raros diplomatas do mundo a se tornar herói nacional ainda em vida. Ricupero conhece como poucos outros diplomatas, historiadores ou pesquisadores acadêmicos a história diplomática do Brasil, as relações regionais e o contexto internacional do mundo ocidental desde o início da era moderna, professor que foi, durante anos, no Instituto Rio Branco e no curso de Relações Internacionais da Universidade de Brasília. Formou gerações de diplomatas e de candidatos à carreira, assim como assessorou ministros e presidentes desde o início dos anos 1960, quando foi o orador de sua turma, na presidência Jânio Quadros.
Uma simples mirada pelo sumário da obra confirma a amplitude da análise: são dezenas de capítulos, vários com múltiplas seções, em onze grandes partes ordenadas cronologicamente, de 1680 a 2016, mais uma introdução e uma décima-segunda parte sobre a diplomacia brasileira em perspectiva histórica. Um posfácio, atualíssimo, vem datado de 26 de julho de 2017, no qual ele confessa que escrever o livro foi “quase um exame de consciência... que recolhe experiências e reflexões de uma existência” (p. 744). Ricupero concluiu o texto principal pouco depois do impeachment da presidente que produziu a maior recessão da história do Brasil, e o fecho definitivo quando uma nova crise “ameaça engolir” o seu sucessor. O núcleo central da obra é composto por uma análise, profundamente embasada no conhecimento da história, dos grandes episódios que marcaram a construção da nação pela ação do seu corpo de diplomatas e dos estadistas que serviram ao Estado nessa vertente da mais importante política pública cujo itinerário – à diferença das políticas econômicas ou das educacionais – pode ser considerado como plenamente exitoso.
A diplomacia brasileira começou por ser portuguesa, mas se metamorfoseou em brasileira pouco depois, e a ruptura entre uma e outra deu-se na superação da aliança inglesa, que era a base da política defensiva de Portugal no grande concerto europeu. Já na Regência existe uma “busca da afirmação da autonomia” (p. 703), conceito que veio a ser retomado numa fase recente da política externa, mas que Ricupero demonstra existir embebido na boa política exterior do Império. A construção dos valores da diplomacia do Brasil se dá nessa época, seguido pela confiança no Direito como construtor da paz, o princípio maior seguido pelo Barão do Rio Branco em sua diplomacia de equilíbrio entre as grandes potências da sua época. Vem também do Barão a noção de que uma chancelaria de qualidade superior devia estar focada na “produção de conhecimento, a ser extraído dos arquivos, das bibliotecas, do estudo dos mapas” (p. 710). Esse contato persistente, constante, apaixonante pela história, constitui, aliás, um traço que Ricupero partilha com o Barão, o seu modelo de diplomata exemplar, objeto de uma fotobiografia que ele compôs com seu antigo chefe, o embaixador João Hermes Pereira de Araujo, com quem ele construiu o Pacto Amazônico, completando assim o arco da cooperação regional sul-americana iniciada por Rio Branco setenta anos antes.
O livro não é, como já se disse, uma simples história diplomática, mas sim um grande panorama de mais de três séculos da história brasileira, uma vez que nele, como diz Ricupero, “tentou-se jamais separar a narrativa da evolução da política externa da História com maiúscula, envolvente e global, política, social, econômica. A diplomacia em geral fez sua parte e até não se saiu mal em comparação a alguns outros setores. Chegou-se, porém, ao ponto extremo em que não mais é possível que um setor possa continuar a construir, se outros elementos mais poderosos, como o sistema político, comprazem-se em demolir. A partir de agora, mais ainda que no passado, a construção do Brasil terá de ser integral, e a contribuição da diplomacia na edificação dependerá da regeneração do todo” (p. 738-9). O paradigma diplomático já foi oferecido nesta obra; falta construir o da nação.

[Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de setembro de 2017]


Don't panikiert, os que desejam comprar o livro. Podem fazê-lo nas boas livrarias ou encomendá-lo diretamente à editora, como abaixo: 
 http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/09/ricupero-livro-diplomacia-na-construcao.html

Bem, por enquanto, ficamos assim: 

Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram:
Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Netuno e Marte obedeceram!
Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta!


Luis de Camões, Os Lusíadas, Canto I, estrofe 3

Pela transcrição: 
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27 de setembro de 2017
 
 


 

Diplomacia lulopetista: a imagem do desastre - Editorial Gazeta do Povo

editorial Gazeta do Povo, 27/09/2017

A imagem do desastre

A diplomacia do PT destruiu uma tradição de equilíbrio, bom senso e excelência, perseguiu diplomatas não alinhados, abandonou interesses nacionais e apoiou regimes ditatoriais

http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/a-imagem-do-desastre-8y9imwbxdmy5jup8isxg59ea1

 
O embaixador Rubens Ricupero, um dos mais destacados diplomatas brasileiros, que ademais já foi ministro do Meio Ambiente e da Fazenda nos anos 1990, está lançando um novo livro, que se soma a seu prolífico legado como historiador e ensaísta. Na obra A diplomacia na construção do Brasil – 1750-2016, Ricupero analisa o papel da diplomacia brasileira na consolidação das fronteiras nacionais e na identidade da nação. Em entrevista à Folha de São Paulo, nesta terça-feira (26), o diplomata deu um diagnóstico certeiro sobre a atual imagem do país lá fora: “Ninguém quer sair na foto com o Brasil”. Esse derretimento da imagem brasileira no exterior, à semelhança da mais grave crise econômica da nossa história, é outra das heranças malditas do governo do Partido dos Trabalhadores.

O embaixador Ricupero até tenta contemporizar, bem no tom do diplomata experiente que é, elogiando algumas iniciativas do ex-presidente Lula e do ex-chanceler Celso Amorim, que esteve à frente do Itamaraty entre 2003 e 2010. Mas a verdade é que a diplomacia petista obliterou o Ministério das Relações Exteriores e fez terra arrasada de uma tradição de dois séculos de equilíbrio, bom senso e excelência, perseguindo diplomatas não alinhados, aparelhando descaradamente a máquina ministerial, abandonando interesses nacionais óbvios e apoiando financeiramente regimes ditatoriais. O Itamaraty, que sempre se orgulhara de fazer política de Estado, e não de governo, foi praticamente posto de joelhos pela sanha ideológica de uma diplomacia rasteira e nitidamente enviesada, estranha à vocação universalista do Brasil.
O Itamaraty foi posto de joelhos pela sanha ideológica de uma diplomacia rasteira e nitidamente enviesada
Ainda mais, o avanço da operação Lava Jato e de suas ramificações nos Judiciários estrangeiros está revelando que muito desse processo se deveu não só à cegueira ideológica e ao autoritarismo tacanho, mas deu-se às custas da mais desbragada corrupção. Aqui como lá os companheiros só faziam lambuzar-se nos recursos sofridos do contribuinte brasileiro, notadamente pelo financiamento do BNDES a obras de interesse duvidoso no exterior. Isso só foi possível por uma operação de marketing pedestre, que contou com a vista grossa de muitos formadores de opinião e observadores desaviados: “Esse é o cara!”, declarava o ex-presidente Barack Obama sobre Lula em 2009, para a jactância dos petistas que, à época, convenientemente se esqueceram do seu antiamericanismo atávico.
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Para ficar só no exemplo mais notável do completo naufrágio da diplomacia petista, a criação de 44 novas embaixadas entre 2003 e 2010 e a expansão dos quadros do Itamaraty sempre foram justificados pela necessidade de fazer comércio e estreitar laços com parceiros de grande potencial econômico, bem como para fortalecer a campanha pelo assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Ilusão de ótica: o país continua alijado do centro do poder geopolítico e com a pauta comercial concentrada nos poucos parceiros tradicionais (China, Estados Unidos, Europa, Mercosul e Japão).
Leia também: Diplomacia que se apequena (editorial de 27 de julho de 2014)
Que grande campanha publicitária foi essa, que não deixa nada a dever às maquinações do marqueteiro João Santana? Da mesma forma que o desempenho econômico brasileiro nos anos 2000 era vendido como mérito exclusivo do PT, enquanto se menosprezavam a bonança internacional do período e o legado positivo da estabilização econômica dos anos 1990, o protagonismo externo era creditado exclusivamente ao messianismo do “lulo-amorismo”, desconsiderando a inserção delicada e bem-sucedida do Brasil na ordem internacional, com a adesão a uma série de regimes, como o de não proliferação nuclear e os de direitos humanos, além do início de uma integração responsável com a América do Sul. Plantou-se a mentira estratégica, colheu-se a desmoralização quase completa.
Ricupero cita a importância do Brasil em matéria agrícola e ambiental. Mas nenhuma das posições em que a diplomacia brasileira ainda tem relevo é mérito dos delírios de grandeza da diplomacia “altiva e ativa” de Amorim. A imprescindibilidade do Brasil nas negociações comerciais agrícolas, por exemplo, é fruto do dinamismo e da eficiência do setor agrário, que remonta pelo menos à criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, em 1973. A centralidade nas discussões ambientais, por outro lado, deve-se ao fato de o país possuir a maior biodiversidade do mundo e uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, escolha política que antecede em muito o petismo. Mesmo as conquistas na proteção ao patrimônio natural da floresta Amazônica, que tanto se alardeia estarem em risco sob o governo de Michel Temer, começaram a degringolar ainda na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.
O alto custo dessa trama macabra dos petistas no Itamaraty ainda será contabilizado por muito tempo. As dimensões do desastre são muitas e o próprio Ricupero reconheceu que “ninguém pode imaginar que o Itamaraty alavancará o Brasil se o país não acaba com a corrupção, não volta a crescer [e] não combate a miséria”. Mas não é só. Além de reformas de que o país precisa para retomar a estrada do crescimento sustentável e de punição exemplar, na forma da lei, para todos os corruptos que estenderam seus tentáculos sobre o Brasil desde 2003, será necessário garantir que nossa diplomacia seja resgatada – e ainda há diplomatas capacitados para tanto – e permaneça sempre como uma diplomacia de Estado. Não de governo, e muito menos dos companheiros.

http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/a-imagem-do-desastre-8y9imwbxdmy5jup8isxg59ea1?utm_source=gazeta-do-povo&utm_medium=box-lista&utm_campaign=mais-quente-dia

 

 

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Conselho de Relacoes Internacionais, em Sao Paulo - Rubens Antonio Barbosa (OESP, 26/09/2017)


CONSELHO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 26/09/2017

As relações internacionais e a politica externa são domínios pouco frequentados pelos políticos brasileiros, com as exceções de praxe.  A percepção é a de que trabalhar nessa área não dá voto e tem pouca repercussão interna. Mesmo no comercio exterior, são poucos os congressistas que estão acompanhando as politicas internas e a evolução das negociações internacionais.
Poucos se dão conta de que, com as transformações profundas por que passa o cenário global, praticamente desapareceu o limite que sempre existiu entre a agenda do que ocorre no mundo e a formulação e a execução da politica econômica e de comércio exterior doméstica.
Se o presidente Trump adotar medidas internas para proteger a indústria norte americana, as empresas industriais brasileiras que mantém comércio com aquele pais terão de se ajustar. As negociações de acordos de livre comércio podem demandar a alteração de normas legais internas, como estamos acompanhando com os mega acordos regionais, que estão criando regras e padrões que vão forçar os países a se ajustarem, se quiserem manter suas exportações. Decisão da Organização Mundial de Comércio questiona a política industrial brasileira nos setores automotriz e de informática e, caso o órgão de apelação em Genebra decida contra o Brasil, o governo vai ter de compatibilizar os subsídios, os incentivos e o apoio a pedidos de conteúdo nacional às regras multilaterais não discriminatórias. Tudo isso tem de ver com politica econômicas e industriais internas e com a geração ou a perda de empregos.
            São Paulo é a 19ª maior economia do mundo, a 2ª maior economia da América do Sul (atrás do Brasil) e a 3ª da América Latina, depois de Brasil e México. É o maior polo de atração de investimentos na América Latina e conta com a maior concentração de corporações multinacionais em todo o continente. Dentro desse contexto é difícil explicar a inexistência  de um forum representativo para discutir essas questões.
            Sua economia é a mais internacionalizada do Brasil. O Estado exportou US$ 52,6 bilhões em 2016, respondendo por 28,4% das exportações brasileiras e recebeu em 2015 cerca de 30% do fluxo de investimentos diretos no Brasil. São Paulo está inserido na economia global e é reconhecido por sua liderança econômica e por sua atuação internacional.
            A marginalização do Brasil no cenário internacional representa hoje um problema para as empresas que deve ser melhor examinado para encontrar formas de superá-la. Recuperar a projeção externa e reinserir-se nos fluxos dinâmicos do comércio exterior são alguns dos maiores desafios que a sociedade brasileira enfrenta. A presença brasileira nos fóruns internacionais, inclusive na área de comércio e meio ambiente, cria uma demanda interna para empresas e diferentes setores da sociedade que poderia ser atendida pela criação de um forum desse tipo.         
            Faltava no governo de São Paulo um forum consultivo que pudesse mobilizar diferentes setores – oficiais, empresariais, da sociedade civil – para discutir, do ponto de vista do interesse paulista, políticas na área externa e de comércio exterior.
Com uma visão atualizada das relações do Brasil com o mundo e até certo ponto com uma percepção que vai na contramão da ação dos políticos em nosso pais, o governador Geraldo Alckmin decidiu instituir o Conselho Consultivo de Relações Internacionais do governo do Estado de São Paulo, que hoje se instala e se reúne pela primeira vez. De maneira pioneira e com visão de futuro, a criação do Conselho é um reconhecimento da importância das relações internacionais para o desenvolvimento social e econômico do Estado.
Dentre suas atribuições, o Conselho deverá informar sobre as principais tendências nas relações internacionais; formular recomendações sobre o posicionamento do Estado de São Paulo no exterior visando a conciliar suas ações com os objetivos da Politica Externa Brasileira; propor uma estratégia para o Estado na área internacional na próxima década. O novo Conselho está integrado por representantes do governo estadual, empresários, especialista em relações internacionais e do meio acadêmico, sob a presidência do governador do Estado.
            Essa plataforma terá uma visão da inserção internacional do Brasil levando em conta a posição relativa preponderante do Estado, onde diversos subsistemas financeiro, manufatureiro, tecnológico, intelectual e migratório, que compõem o sistema econômico nacional, possuem centros nevrálgicos. Será importante agregar ao debate das relações internacionais e comércio externo do Brasil, propostas de ação próprias de São Paulo.
            O Conselho deverá firmar-se como um "locus" dentro do governo paulista para a discussão de temas relevantes para a comunidade empresarial e de todas os setores que tenham atividades na área externa.
Como no próximo ano São Paulo vai sediar o World Economic Forum latino-americano, o Conselho poderá dar uma contribuição importante assessorando o governo paulista na elaboração do programa e na escolha de personalidades para participar desse relevante evento. Esse é um dos exemplos em que o Conselho poderá dar subsídios para a sucesso de atividades internacionais organizadas pelo governo estadual.
A discussão de estratégias na área internacional para o Estado de São Paulo vai permitir um exame sobre a politica econômica, a politica industrial e a politica de comércio exterior para os próximos anos. Espera-se que o Governador Alckmin possa aproveitar a oportunidade da instalação do Conselho para se posicionar sobre os desafios internos e externos que terão influência na definição de políticas nas áreas prioritárias de atuação do novo colegiado.

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE).




Em nota, Planalto ataca Ricupero e o chama de 'desantenado' - Nota do Planalto


Em nota, Planalto ataca Ricupero e o chama de 'desantenado'

Marlene Bergamo/Folhapress



O ex-ministro Rubens Ricupero concede entrevista à Folha em seu apartamento em São Paulo
DE BRASÍLIA, 26/09/2017 15h50
O governo do presidente Michel Temer atacou nesta terça-feira (26) o embaixador Rubens Ricupero e disse que ele está "desantenado" e fazendo "autopropaganda".
Em nota, o Palácio do Planalto criticou declaração feita pelo diplomata, em entrevista à Folha, de que deve ter pouca gente que queira atualmente sair ao lado do presidente em fotografias.
Segundo o embaixador, o oposto ocorria com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que durante seus dois mandatos era um "vitorioso".
"Ricupero parece saudoso de uma atuação espalhafatosa, que chamava muita atenção e não rendia frutos concretos. Ricupero se mostra desantenado, escondendo fatos e propagandeando falsidades para justificar suas afinidades eletivas", criticou o governo.
No documento, o Palácio do Planalto afirma que autoridades internacionais pediram audiências ao presidente em viagem aos Estados Unidos e que o diplomata "esconde o que é ruim e mostra o que é bom à sua autopropaganda".
*
Leia a íntegra da nota:
O ex-embaixador Rubens Ricupero continua fiel à própria lei: esconde o que é ruim e mostra o que é bom à sua autopropaganda. Ele espalha que ninguém quer aparecer na fotografia com o presidente Michel Temer.
Aos fatos: em recente viagem a Nova Iorque, foram várias as audiências pedidas por chefes de Estado, inclusive o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a quem Ricupero afirma não ter procurado o chefe de governo do Brasil.
Consulta ao site da Presidência da República mostrará reunião entre o israelense e o presidente Temer na semana passada. E mais imagens com Narendra Modi (Índia), Donald Trump (EUA), Xi Jinping (China), Shinzo Abe (Japão), Angela Merkel (Alemanha), Wladimir Putin (Rússia) entre outros.
Foram várias as visitas de Estado a convite ou pedidos de reunião bilateral ao presidente Temer. O Brasil hoje exerce a liderança do processo de negociação do Mercosul com a União Européia e com a Aliança do Pacífico. É integrante ativo e relevante do Brics, preside a CPLP.
A diplomacia do governo brasileiro prevaleceu em relação a situação da Venezuela, seguindo a tradição do diálogo e do respeito aos fundamentos da Declaração dos Direitos Humanos.
Ricupero parece saudoso de uma atuação espalhafatosa, que chamava muita atenção e não rendia frutos concretos. Ricupero se mostra desantenado, escondendo fatos e propagandeando falsidades para justificar suas afinidades eletivas.

Ricupero: "Ninguem quer sair na foto com o Brasil" - FSP entrevista

"Ninguém quer sair na foto com o Brasil"

Entrevista / Rubens Ricupero

PATRÍCIA CAMPOS MELLO
DE SÃO PAULO

Folha de S. Paulo, 26 de setembro 2017


Diplomacia não faz milagre. Hoje em dia, a imagem que o Brasil tem no exterior corresponde à realidade: um país com uma corrupção terrível, um presidente com uma segunda denúncia e a crise mais grave da história.
"Ninguém quer sair na foto com o Brasil", diz o embaixador Rubens Ricupero, 80, ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente, que lança na semana que vem "A diplomacia na construção do Brasil - 1750-2016", uma abrangente história da política externa brasileira.


Na obra, Ricupero, que foi secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD), retrata como a diplomacia, e não o poder militar ou econômico, asseguraram ao Brasil suas fronteiras atuais.
Ele analisa a influência dos EUA na política externa brasileira —"Eles não executaram (o golpe militar), mas foram os mandantes". Reserva críticas para a política externa "ideologizada" do PT, mas também faz elogios.
"Por que todo mundo queria estar com o Lula? O Lula era um vitorioso. Além do sucesso econômico e político, ele tinha o êxito moral, o combate à miséria e à injustiça. Hoje, deve ter muito pouca gente querendo sair na foto com o Temer. Ninguém pode imaginar que o Itamaraty vai alavancar o Brasil se o país não acabar com a corrupção, voltar a crescer e combater a miséria."
Abaixo, trechos da entrevista que ele concedeu à Folha.
*
Folha - O senhor testemunhou vários momentos importantes da história brasileira, relatados no seu livro. Pode contar algum?
Rubens Ricupero - Tem o encontro do Robert Kennedy com o ex-presidente João Goulart, em 1962. Era 17 de dezembro e eu era terceiro-secretário, um cargo bem baixo no Itamaraty. Brasília estava vazia e eu era o único diplomata respondendo pelo Itamaraty. O Robert Kennedy ia chegar e pediram para recebê-lo, em nome do governo brasileiro.
Podia parecer até uma ofensa, o terceiro secretário recebendo, e eu expliquei ao Lincoln Gordon (embaixador dos EUA na época) que eu era o único ali. Eu apertei a mão do Robert Kennedy.
No dia seguinte, às 11h, ele foi recebido pelo Goulart, no Alvorada. Eu fui, mas não entrei. Na sala estavam apenas Goulart, um intérprete do departamento de Estado, Kennedy e Lincoln Gordon.
Goulart não quis testemunhas porque provavelmente antecipava que ia ser uma conversa muito forte e não queria que ninguém ouvisse o que ele ia dizer.
Em 2014, foi revelado um memorando sobre o encontro, escrito por Gordon. Kennedy teria dito a Goulart: "Não temos problemas com independência na política brasileira, mas de fato objetamos a que essa independência se torne sistematicamente antiamericana, opondo-se a políticas e interesses americanos de modo regular".
Mais assombroso ainda, na primeira conversa que John Kennedy gravou no Salão Oval da Casa Branca, em julho de 1962, Goulart só estava no poder há 9 meses e os americanos já estavam convencidos de que era preciso levar os militares a dar um golpe no Brasil.
Eles reconheciam que os militares não queriam fazer isso, tanto que Gordon diz ser preciso "reforçar a espinha dorsal dos militares". Ainda falta escrever o livro sobre o papel dos americanos no golpe.
Não acho que eles deram o golpe, mas não tenho dúvida de que eles induziram e foram os primeiros a organizar. É como num homicídio, que tem o mandante e o executante. Os americanos não executaram (o golpe), mas foram os mandantes. Mesmo assim, estou convencido de que o Goulart caiu por culpa dele, quando ele recuperou os poderes e apostou na radicalização. Não havia ambiente para isso.

Por que?
Ele radicalizou em um momento de aguda Guerra Fria em que isso era inconcebível. Do Jacobo Arbenz em 54, na Guatemala, até o Salvador Allende em 73, no Chile, nenhum governo de esquerda na América Latina sobreviveu. O Lula só chegou ao poder porque a Guerra Fria tinha terminado.

Hoje em dia qual é o tom do relacionamento entre Brasil e EUA?
Os EUA, depois do fim da Guerra Fria e após os ataques de 11 de setembro de 2001, passaram a ter uma agenda internacional em que não há mais espaço para América Latina.
A pauta americana é dominada hoje por grandes temas de superpotência, como problemas no mar do sul da China e rivalidade estratégica com a Rússia, ou pela islamização da agenda internacional, por conflitos vinculados à radicalização de um de islamismo extremista.
Uma vez que desapareceu a ameaça comunista, para os americanos, o que se passa aqui pode incomodar um pouco, mas não muito. Até mesmo a Venezuela —eles prefeririam que fosse um país a favor dos EUA, mas podem conviver com isso perfeitamente.
Hoje em dia, na grande estratégia americana, não há espaço para o Brasil. O Trump até hoje não fez um tuíte especificamente sobre o Brasil —essa é a maior prova da insignificância do Brasil para o governo americano. Aliás, ainda bem, porque em geral, quando Trump põe alguém no Twitter, é para dar uma porrada.

Hoje nossa política externa para os EUA está mais para política externa independente, dos anos Jânio-João Goulart, ou alinhamento automático?
Hoje temos uma política independente. No discurso do Temer na ONU, que é o do Itamaraty, há defesa do Acordo de Paris e do multilateralismo, dois temas a que Trump se opõe. O Brasil tem o que dizer nessas duas questões.
O Brasil não é potência nuclear, nem militar convencional, nem econômico-comercial. A única área em que o país é potência é no meio ambiente, porque tem a maior floresta tropical do mundo, se o Temer e a bancada ruralista não destruírem.
Também na área de negociação agrícola comercial não se pode chegar a um acordo sem o Brasil. A última vez em que quase se chegou a um acordo, em 2008, foi um grande trabalho do (então chanceler) Celso Amorim, com apoio do Lula, um entendimento entre Brasil e UE para resolver um impasse. Mas aí os americanos e indianos torpedearam o acordo.

O Brasil nessas áreas é incontornável, mas com o Trump, como você pode ter um diálogo sobre o acordo de Paris, sobre a retomada da negociação multilateral de comércio agrícola, que é o que interessa ao Brasil?
Um dos momentos em que a política externa brasileira esteve mais em evidência foi em 2010, quando o Brasil, ao lado da Turquia, propôs um acordo resolver a questão nuclear do Irã...
Eu nunca fui um crítico do esforço que o Lula e o Celso (Amorim) fizeram. Há derrotas que honram mais que certas vitórias, essa é uma delas. Foi uma iniciativa inédita para um país latino-americano tentar chegar a um acordo numa área em que normalmente é privativa das grandes potências.
Quando se falava em multipolarismo, acreditava-se que as grandes potências nucleares e militares tinham finalmente aceitado que havia espaço para países intermediários como o Brasil, a Turquia, o México, a Índia.
Que esses países poderiam tentar solucionar um caso como o do Irã. Equivaleria hoje em dia ao caso da Coreia do Norte, se nós tivéssemos alguma influência sobre o governo de lá. O próprio Obama chegou a encorajar o esforço brasileiro por cartas.
Mas a Hillary (então secretária de Estado Hillary Clinton) era contrária e tanto o Brasil como a Turquia sobrestimaram sua influência sobre os iranianos. Conseguiram que os iranianos mostrassem alguma flexibilidade, mas não o bastante para permitir acordo naquele momento. E os Brics decepcionaram.
Se é verdade que os Brics constituem um agrupamento importante, como é que se explica que a Rússia e a China tenham se aliado aos americanos votando sanções adicionais ao Irã e arrancando o tapete debaixo dos pés do Brasil e da Turquia.
Meu livro mostra bem que era prematura essa percepção de que havia espaço para o multipolarismo. Na hora em que houve a prova de fogo, viu-se que as grandes potências não delegavam para ninguém.
Foi uma tentativa meritória, audaciosa, que longe de desonrar, deu prestígio para o país, que foi aplaudido no mundo inteiro. Perceba que eu não sou sectário. Discordo da política externa dessa época para América Latina, a política paralela do PT, feita por inspiração da ideologia, não pelos interesses do Brasil.

O senhor critica a ideologização do Itamaraty durante o comando de Celso Amorim, e o fato de ele e o então secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães terem se filiado ao PT...
Sim, eu sou uma espécie em extinção, da época em que o diplomata era um servidor que deveria servir imparcialmente o Estado. Fui treinado dessa maneira, hoje o pessoal novo não concorda.

Será que agora não está em curso uma ideologização, só que do lado oposto, contra a ideologia do PT?
Eu espero que não, me dizem que não houve expurgos. O embaixador do Brasil em Paris, Paulo Cesar de Oliveira Campos, foi indicado pelo Lula e não mexeram nele.
Eles, ao contrário, perseguiram muita gente, embaixadores de grande valor como o Marcos Caramuru, maior expert que tínhamos na China, o Gelson Fonseca Jr, intelectual mais brilhante do Itamaraty, foi embaixador na ONU e terminou a carreira como cônsul-geral no Porto. Como se explica isso, a não ser como perseguição ideológica?

O Brasil deveria romper com a tradição diplomática brasileira e impor sanções econômicas contra a Venezuela?
Eu não sou favorável às sanções, porque elas normalmente atingem o povo mais sofredor. O que o Brasil deveria fazer, e não está, é ser modelar no acolhimento dos refugiados venezuelanos. Deveria ser um exemplo para o mundo, e está sendo o contrário, os venezuelanos estão aí abandonados, e tem gente propondo que não deem refúgio. A melhor forma de o Brasil atuar seria dar acolhimento a esses refugiados.

O Brasil pode ser uma potência com relevância internacional?
A política externa é indissociável daquilo que nós somos em política interna e em economia. Tivemos nosso momento mais alto de prestígio na época do Lula, 2009, quando o Brasil conquistou o grau de investimento, a Copa do Mundo e os Jogos Ol
No entanto, houve uma percepção externa de que aquilo era irreversível. O próprio Lula semeou a destruição de suas conquistas, ao começar a arruinar as contas públicas, ao aceitar a corrupção —ele não a inventou, mas aceitou e levou a extremos. Ele e a Dilma, no fundo, foram autores de suas próprias ruínas e carregaram o Brasil junto.

Qual é a imagem do Brasil no exterior hoje?
Hoje a imagem do Brasil não é nem pessimista, nem otimista, corresponde à realidade: trata-se de um país com uma corrupção terrível, um presidente com uma segunda denúncia, ministros sendo investigados, uma crise que é a mais grave da história.
As pessoas dizem —por que a diplomacia brasileira não faz isso ou aquilo? Mas como, ninguém quer sair na foto com o Brasil. (Binyamin) Netanyahu veio para região e não se encontrou com o Temer, o vice-presidente americano, Mike Pence, também.
Por que todo mundo queria estar com o Lula? O Lula era um vitorioso. Além do sucesso econômico e político, ele tinha o êxito moral, o combate à miséria e à injustiça. Quem não queria ficar ao lado do Mandela? Hoje, deve ter muito pouca gente querendo sair na foto com o Temer. Ninguém pode imaginar que o Itamaraty vai alavancar o Brasil se o país não acabar com a corrupção, não voltar a crescer, não combater a miséria.

A certa altura do livro, o senhor diz que a "Dilma escondia debaixo da autossuficiência e da aspereza no trato com os diplomatas, insegurança nascida da falta de sensibilidade para relacionamento interpessoal."
Ela não tinha autoconfiança. Eu fiquei 10 anos na ONU. Em 2012, na reunião do G8 em Evian, o (então secretário-geral da ONU) Kofi Annan me levou como seu principal auxiliar. Nessa reunião, o (então presidente francês Jacques) Chirac tinha convidado o Lula, o líder chinês e o indiano, mas para uma reunião à parte.
Eu estava lá quando o Lula chegou, e pensei comigo: acho que o Lula vai ficar muito intimidado. Estavam presentes o Chirac, o (ex-presidente americano) George W. Bush, primeiro-ministro inglês Tony Blair, o (ex-chanceler alemão) Gerhard Schroder, (o ex-primeiro ministro italiano Silvio) Berlusconi e (o presidente russo Vladimir) Putin. Todos os grandes do mundo.
Houve uma sessão em que estavam falando sobre o problema da fome, e o Bush, que é evangélico, fez uma intervenção dizendo que tinha muito a ver com a Bíblia. O Chirac, com aquela arrogância francesa, disse: não tem nada a ver com religião ou a Bíblia.
Aí o Lula assumiu a defesa do Bush, disse —não senhor, tem tudo a ver, porque a Bíblia isso e aquilo. Ele estava com aquela cara de bravo, falando alto, e todo mundo afinou. Aí eu percebi: para o Lula, aquele pessoal eram os patrões da Fiesp, o líder metalúrgico não pode se intimidar com os patrões da Fiesp. A Dilma não é assim.

O senhor diz no livro que Dilma foi uma das piores presidentes em termos de vocação para política externa.
Eu não conheço nenhum outro que tenha deixado 40 embaixadores esperando, sem apresentar credenciais. São coisas elementares. Ela não tinha interesse, não valorizava, não se sentia bem. E tinha uma mentalidade de tecnocrata no sentido limitado, a ideia de que as únicas coisas que fazem diferença são as concretas.
Então tudo o que o Itamaraty fazia, ela mandava rasgar aqueles papéis. O Itamaraty, a não ser que você esteja negociando o fim de uma guerra ou uma fronteira, só lida com o longuíssimo prazo. Por que que o (ex-chanceler José) Serra saiu? Ele é engenheiro, gosta de fazer coisas.
No Itamaraty, você lida com conceitos. O Lula, que é muito inteligente, percebeu que a política externa era uma tremenda alavanca, inclusive interna, e usou muito. Ela não soube usar. Diplomacia e política são a mesma coisa, Lula era um grande diplomata.

Como o senhor avalia a política externa hoje?
Estamos em um momento de gradual recuperação, tanto da política e da economia, quanto a política externa. Só vamos ter algo mais determinado depois das eleições. Isto é, se a eleição não "der ruim". Se tivermos um Bolsonaro da vida, é hora de fechar a butique mesmo.

Há muita tensão entre o ditador norte-coreano Kim Jong Un e o presidente americano, Donald Trump. O mundo pode estar próximo de uma guerra nuclear?
Não. Nós estamos há 72 anos sem uma guerra nuclear, em parte por conta do poder destrutivo das armas nucleares, que atua como deterrence, mas em parte porque a ONU, com todos os defeitos, mostrou que era maleável o bastante para acomodar grandes mudanças.
O norte-coreano não é louco. Ele conduz uma política muito lógica e racional, pois viu o que aconteceu com o (ex-ditador iraquiano) Saddam Hussein e o (ex-presidente líbio) Muammar Gaddafi, que não tinham armas nucleares. E ele não vai acreditar nos americanos, no que ele tem absoluta razão.

Mas mesmo se considerarmos que o Kim Jong-un não é maluco, está desenvolvendo instrumento de dissuasão, do outro lado há um ator não necessariamente racional, o Donald Trump...
Trump é autor de "The Art of the Deal", diz que é preciso desestabilizar o adversário e nunca deixar o oponente saber o que a pessoa vai fazer. Os dois são negociadores se ameaçando mutuamente. Não vai acontecer nada.
O planeta não vai acabar com um apocalipse nuclear, mas pode acabar como diz o verso do TS Eliot "not with a bang, with a whimper" (não com um estrondo, com um suspiro). O maior perigo que nós enfrentamos hoje é o aquecimento global. Mas as pessoas não percebem, porque a explosão nuclear é um perigo imediato, enquanto o aquecimento leva 30, 40 anos. Mas já está chegando.

O senhor conta no livro que, ao ser convidado para o ministério, disse ao presidente Itamar Franco não ser a pessoa mais adequada...
Eu disse a ele: não sou economista profissional, conheço muito pouco do plano, apenas o que a imprensa publicou. Disse que ele deveria convidar alguém que conhecesse profundamente o plano, até sugeri dois nomes, Edmar Bacha e Pedro Malan.
Ele me respondeu: nós já examinamos todas as opções e o senhor é a única alternativa. Embora a frase fosse um pouco críptica, uma frase em mineirês, eu entendi. Eu trabalhei a vida toda com mineiros, com Afonso Arinos, San Tiago Dantas, Tancredo Neves. O Tancredo dizia que eu era o mais mineiro dos paulistas. Percebi que o Itamar queria dizer que ele queria alguém fora da equipe, que devesse o cargo a ele, e não ao FHC.
O Itamar costumava dizer muito que eu era o sacerdote do real, em parte porque eu cumpria a função de pregar, na televisão, em parte era para chatear o Fernando Henrique, que ficou mais glorificado pelo real. Não deram muito crédito para o Itamar e ele deveria ter recebido, sem ele, o real não teria existido. Eu disse que era funcionário público, e aceitava.

 Livro é testemunho vívido do 'consigliere' diplomático do Brasil

CRÍTICA / MATIAS SPEKTOR
COLUNISTA DA FOLHA

Folha de S. Paulo, 26 de setembro de 2017




"Quem é o Rubens Ricupero da nova geração?", perguntou-me outro dia um brasilianista. Resposta satisfatória não há, pois Ricupero talhou para si um lugar na vida pública brasileira que continua sendo único.
Ele é o consigliere diplomático por excelência. Quando Bobby Kennedy pousou em Brasília para dar um ultimato a João Goulart, antes do golpe, Ricupero estava lá. Quando Tancredo Neves montou um périplo internacional para legitimar a presidência indireta, Ricupero estava lá. Quando José Sarney avisou aos argentinos (antes do mundo) que o Brasil enriquecia urânio, foi ele o portador do recado presidencial. Quando Fernando Collor precisou de um elo com a Casa Branca, lá foi o embaixador.
Foi Ricupero quem assumiu a Fazenda para FHC poder sair candidato no governo Itamar. Foi com ele que a candidatura de Marina Silva definiu parte de seu tom. E foi nele que o comando do Itamaraty encontrou sua principal referência no governo Temer. A classe política pede seu conselho uma e outra vez.
Só que este consigliere tem um estilo todo pessoal. Impaciente com o conforto dos gabinetes, Ricupero gosta de embate. Escreveu uma dúzia de livros, assinou por décadas uma coluna nesta Folha, e abraçou a causa do ambientalismo com a energia do mais aguerrido ativista.
Muitas vezes exercitou o ofício de historiador. Leitor voraz e dono de uma memória implausível, tem um domínio do passado que assombra qualquer interlocutor.
Seus inimigos disputaram-lhe as ideias, mas nunca lhe questionaram a integridade e honra pessoal. Discutir com ele foi, e continua sendo, um grande prazer da boa batalha intelectual. Não há no Brasil de hoje personagem igual.
Este livro é seu mais completo testamento. Na superfície, é uma história ambiciosa da diplomacia brasileira — com começo em 1640 e fim em 2016 — contada a partir das tradições do Itamaraty, com todas as vantagens e problemas que isso acarreta.
Trata-se, no entanto, de algo bem mais complexo e fascinante porque, na prática, há dois livros em um.
O primeiro sintetiza os dramas nacionais e internacionais de cada governo brasileiro. Dos imbróglios da Regência aos dilemas de Ernesto Geisel, há detalhes curiosos, passagens deliciosas e humor mordaz. Como em trabalhos anteriores, a idolatria por Rio Branco e San Tiago Dantas dá o tom.
O segundo livro embutido nesta obra é mais ambicioso e agressivo. Ricupero volta à história das batalhas diplomáticas do Brasil no Prata para desfechar seu golpe contra a política externa do PT, em pleno século 21.
Em sua narrativa, o grande acervo diplomático do Brasil está na prudência, na rejeição aos voluntarismos, na temperança e na desconfiança profunda da busca de prestígio de chefes de governo e chanceleres. Há nisso uma certa idealização do passado, haja vista os avanços da historiografia sobre o período.

ParlaSul: turismo parlamentar, ferias de luxo (Ultima Hora, Paraguay)


El Parlasur se convierte en consuelo para los que no ingresaron en listas

Ultima Hora (Paraguai), 25/09/2017


Varios nombres se están decantando para integrar la lista de parlamentarios al Mercosur. Un cargo en el Parlamento del bloque se convierte en un lujoso caramelito. Cobran mucho dinero y casi no trabajan.
Sede. Los parlasurianos sesionan en Montevideo, donde está la sede del bloque regional.

En estos días se definirán las listas de candidatos para los distintos cargos que están en disputa para las internas de diciembre y la nómina de candidatos a parlamentarios del Mercosur es una de ellas.
Varios políticos que no encontraron lugar para ser candidatos a diputados o senadores estarán integrando las nóminas para el Parlasur.
Es el caso de Arnoldo Wiens, quien ya no halló sitio en la lista de senadores de Colorado Añetete porque el vicepresidente Juan Afara y el gobernador Rodolfo Friedmann arribaron al movimiento y ocuparán los primeros lugares. Wiens estaría liderando una de las listas, y el diputado Dany Durand será el segundo candidato.
Hace varios meses se viene mencionando que Durand sería candidato a miembro del Parlasur, sin embargo, hace una semana habló de su interés de ser diputado nuevamente, sacando una encuesta que mandó a hacer y que le beneficia. Luego de crear tumulto en el interior de Añetete, finalmente, se quedó con lo pautado inicialmente.
Tras la decisión del oficialismo de que Marcelo Soto sea el candidato a gobernador de Caaguazú, el dirigente Jorge Torales optó por la diputación departamental. No obstante, el actual diputado Miguel Del Puerto le ganó la pulseada. Torales de esta forma será candidado a parlasuriano.
Asimismo, se menciona que la directora del Parque Tecnológico de Itaipú (PTI) será una de las candidatas para el Parlasur. La misma acompaña la campaña de Arnaldo Samaniego en Asunción.
La disidencia tendría otra lista paralela que liderará Wiens. El ex senador Nelson Argaña, quien se integró al movimiento Colorado Añetete, también es candidato al legislativo regional.
El actual diputado Jorge Baruja es el candidato número 2 de la lista de Argaña. El legislador es hermano del ministro de Agricultura y Ganadería, quien se candidata a gobernador de Paraguarí, pero no encontró lugar en la lista, por lo que arribó a la disidencia. El dirigente de Atyrá Alfonzo Romero es el candidato para el Parlasur del movimiento Progresista Colorado, de Nicanor Duarte Frutos. En el oficialismo, los nombres podrían variar con las negociaciones.
Beneficios. Los parlamentarios del Mercosur, de acuerdo a su ley constitutiva, deben reunirse de manera ordinaria una vez al mes; sin embargo, en lo que va del año apenas se reunieron una sola vez.
Perciben G. 32.744.840 mensualmente en concepto de salario más G. 4 millones en combustibles. El presupuesto total con que cuentan es de G. 27.054.198.048 poco más de USD 5 millones anuales.
El Parlasur es una asamblea parlamentaria que funciona como órgano deliberativo del bloque regional, pero sus decisiones todavía no son vinculantes.
Paraguay tiene 18 representantes que pasan absolutamente desapercibidos. Ellos son Alberto Aquino, Amanda Núñez, Emanuel Friedmann, Juan Antonio Denis, Miguel González Erico y Mirtha Palacios, del PLRA; Alfonso González Núñez, Antonio Attis, Calixto Bernal, Herminio Cáceres, José Torres, Luis Sarubbi, Miguel Sosa, Tomás Bittar, Zacarías Vera y Concepción Cubas, de la ANR; Ramón Domínguez del Unace y Ricardo Canese del Frente Guasu.

O euro pode ser salvo? Livro de um heterodoxo pessimista - Malcolm Sawyer

Este economista europeu, que define a si mesmo como um "economista heterodoxo" -- ou seja, do time da anti-austeridade -- afirma que o euro vem falhando desde a sua concepção, e que essas falhas de desenho intensificam a crise da Eurozona, condenando-a a uma "austeridade auto-derrotada".
Talvez ele prefira uma "self-sustaining expediture", como parecem preferir quase todos os economistas desse clube, esquecendo-se de examinar quem vai pagar a festa. Para ele, o euro não vai se salvar porque existem obstáculos políticos e ideológicos enormes, que certamente ele atribui à tal de austeridade. Ele só não diz como é que conseguiram restabelecer o equilíbrio fiscal Espanha e Portugal, e como a Grécia se safou do abismo (talvez ele prefira que os alemães continuem sustentando os anti-austeridade.
Não pretendo comprar o livro, nem com desconto, assim que quem preferir examinar o dito cujo pode aproveitar o meu código de desconto abaixo indicado.
Paulo Roberto de Almeida


 Social Europe Ltd.
Dear reader
we would like to draw your attention to a new publication by our partners from Polity Press.

The economies of the Eurozone countries are plagued by multiple crises, which cast major doubts over the future of the Euro. In this engaging new book, leading heterodox economist Malcolm Sawyer argues that the entire policy framework of the Eurozone was fundamentally flawed from its foundation. He shows how these ‘design faults’ intensified the effects of the crisis, made an effective response to the crash almost impossible, and are now locking in perpetual self-defeating austerity.
Sawyer proposes a bold alternative agenda for reviving the continent’s economic prosperity and saving the Euro, centred on a Federal fiscal policy and deep reform of the European Central Bank. He argues, however, that these solutions would require a fundamental transformation that is almost certain to encounter huge ideological and political obstacles. He therefore concludes that Europe faces a bleak economic future, blighted by low growth, high unemployment and social division.
This major contribution to one of the key economic and political issues of our time will be essential reading for everyone interested in Europe’s future.
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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

CNI convida para o lancamento do livro de Ricupero: A Diplomacia na Construcao da Nacao, 10/10, 17h30

OMC condena Brasil por politica automotiva discriminatoria - Jamil Chade (OESP)

O Brasil poderia se passar dessa vergonha de ser condenado na OMC. A culpa não está com o Itamaraty, que hoje precisa suportar -- e essa palavra deve ser carregada ao extremo -- os equívocos tremendos realizados pelos companheiros, que -- eu acuso -- atuaram corruptamente, cometendo crimes econômicos para beneficiar seus aliados do cartel das montadoras (que por acaso financiavam o partido legal e ilegalmente) ao implementar políticas declaradamente e deliberadamente inconsistentes com, e contrárias às regras da OMC.
Lamentável tudo isso.
Paulo Roberto de Almeida


Brasil tenta evitar retaliação na OMC

Com impasse sobre novo regime automotivo, País deve recorrer nesta semana da condenação no órgão e jogar decisão final para 2018
Jamil Chade, correspondente
O Estado de S. Paulo, 25 de setembro de 2017
GENEBRA - Vivendo um impasse que ameaça atrasar o anúncio do novo regime automotivo, o governo deve recorrer nesta semana da decisão da Organização Mundial do Comércio (OMC) que condenou o programas de incentivos fiscais do País, entre eles o Inovar-Auto.
Europa e Japão, que saíram vitoriosos da disputa legal na OMC, colocaram a condenação dos árbitros na agenda de reuniões da entidade da próxima sexta-feira em Genebra. Se aprovada, a decisão passa a valer, dando ao Brasil três meses para retirar todos subsídios e incentivos considerados ilegais.
O governo, porém, já indicou que vai recorrer nos próximos dias, o que jogaria decisão sobre a retirada dos subsídios para 2018. No órgão de apelação da OMC, julgamentos estão levando de 6 a 12 meses para serem considerados.
Na prática, o Brasil ganha tempo para evitar ser retaliado, já que especialistas, e mesmo diplomatas, consideram que seria uma “surpresa” se a instância máxima da OMC anulasse a condenação. O Itamaraty foi derrotado em todos os pontos da queixa dos europeus e japoneses. Se não agir, o Brasil ficaria vulnerável a uma retaliação de dois dos seus principais destinos de exportações.
A decisão de recorrer vem num momento-chave. O Estado revelou em sua edição de domingo que um impasse entre a equipe econômica e o Ministério da Indústria (Mdic) travou as discussões sobre o novo regime automotivo e ameaça atrasar o lançamento do Rota 2030, programa que substituirá o Inovar-Auto. As novas regras precisam estar prontas até 3 de outubro ou não haverá tempo hábil para que a nova política entre em vigor no dia 1.º de janeiro.
Um dos problemas é a resistência da Fazenda e do Planejamento em manter, em meio ao ajuste fiscal, incentivos tributários de R$ 1,5 bilhão ao ano para montadoras. Os técnicos do Mdic acreditam que eles ajudarão a acelerar investimentos.
Também não há consenso sobre quais devem ser as exigências para dar descontos no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Integrantes da equipe econômica afirmam que, da forma como está o programa hoje, o País pode ter problemas novamente na OMC.
Com o novo programa implementado, o governo poderia alegar na OMC que o Inovar-Auto foi reformado e que o caso, portanto, estaria encerrado. A meta seria evitar que europeus e japoneses entrassem com pedido para retaliar o Brasil, o que custaria milhões de dólares à balança comercial do País.
Estratégia. Ao recorrer, o Brasil joga uma decisão final para 2018, na esperança que até lá um novo regime automotivo já esteja em vigor. Ainda na primeira instância, na tentativa de se defender, o Brasil justificou que as medidas de apoio tinham um cunho social, ambiental, de saúde e foram implementadas até mesmo para proteger a “moral pública”.
Entre os programas condenados estão os incentivos fiscais e redução do IPI. Iniciativas que terão de mudar incluem não só o Inovar-Auto, mas também a Lei de Informática, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores e Displays (Padi), o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para a TV digital (PATVD), além do Regime Especial de Aquisição de Bens de Capital para Empresas Exportadoras (Recap), que suspende a cobrança de PIS e Cofins para quem exporta.
No total, centenas de empresas nacionais foram beneficiadas por esses programas, entre elas Samarco e Embraer.