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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Diplomacia lulopetista: a imagem do desastre - Editorial Gazeta do Povo

editorial Gazeta do Povo, 27/09/2017

A imagem do desastre

A diplomacia do PT destruiu uma tradição de equilíbrio, bom senso e excelência, perseguiu diplomatas não alinhados, abandonou interesses nacionais e apoiou regimes ditatoriais

http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/a-imagem-do-desastre-8y9imwbxdmy5jup8isxg59ea1

 
O embaixador Rubens Ricupero, um dos mais destacados diplomatas brasileiros, que ademais já foi ministro do Meio Ambiente e da Fazenda nos anos 1990, está lançando um novo livro, que se soma a seu prolífico legado como historiador e ensaísta. Na obra A diplomacia na construção do Brasil – 1750-2016, Ricupero analisa o papel da diplomacia brasileira na consolidação das fronteiras nacionais e na identidade da nação. Em entrevista à Folha de São Paulo, nesta terça-feira (26), o diplomata deu um diagnóstico certeiro sobre a atual imagem do país lá fora: “Ninguém quer sair na foto com o Brasil”. Esse derretimento da imagem brasileira no exterior, à semelhança da mais grave crise econômica da nossa história, é outra das heranças malditas do governo do Partido dos Trabalhadores.

O embaixador Ricupero até tenta contemporizar, bem no tom do diplomata experiente que é, elogiando algumas iniciativas do ex-presidente Lula e do ex-chanceler Celso Amorim, que esteve à frente do Itamaraty entre 2003 e 2010. Mas a verdade é que a diplomacia petista obliterou o Ministério das Relações Exteriores e fez terra arrasada de uma tradição de dois séculos de equilíbrio, bom senso e excelência, perseguindo diplomatas não alinhados, aparelhando descaradamente a máquina ministerial, abandonando interesses nacionais óbvios e apoiando financeiramente regimes ditatoriais. O Itamaraty, que sempre se orgulhara de fazer política de Estado, e não de governo, foi praticamente posto de joelhos pela sanha ideológica de uma diplomacia rasteira e nitidamente enviesada, estranha à vocação universalista do Brasil.
O Itamaraty foi posto de joelhos pela sanha ideológica de uma diplomacia rasteira e nitidamente enviesada
Ainda mais, o avanço da operação Lava Jato e de suas ramificações nos Judiciários estrangeiros está revelando que muito desse processo se deveu não só à cegueira ideológica e ao autoritarismo tacanho, mas deu-se às custas da mais desbragada corrupção. Aqui como lá os companheiros só faziam lambuzar-se nos recursos sofridos do contribuinte brasileiro, notadamente pelo financiamento do BNDES a obras de interesse duvidoso no exterior. Isso só foi possível por uma operação de marketing pedestre, que contou com a vista grossa de muitos formadores de opinião e observadores desaviados: “Esse é o cara!”, declarava o ex-presidente Barack Obama sobre Lula em 2009, para a jactância dos petistas que, à época, convenientemente se esqueceram do seu antiamericanismo atávico.
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Para ficar só no exemplo mais notável do completo naufrágio da diplomacia petista, a criação de 44 novas embaixadas entre 2003 e 2010 e a expansão dos quadros do Itamaraty sempre foram justificados pela necessidade de fazer comércio e estreitar laços com parceiros de grande potencial econômico, bem como para fortalecer a campanha pelo assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Ilusão de ótica: o país continua alijado do centro do poder geopolítico e com a pauta comercial concentrada nos poucos parceiros tradicionais (China, Estados Unidos, Europa, Mercosul e Japão).
Leia também: Diplomacia que se apequena (editorial de 27 de julho de 2014)
Que grande campanha publicitária foi essa, que não deixa nada a dever às maquinações do marqueteiro João Santana? Da mesma forma que o desempenho econômico brasileiro nos anos 2000 era vendido como mérito exclusivo do PT, enquanto se menosprezavam a bonança internacional do período e o legado positivo da estabilização econômica dos anos 1990, o protagonismo externo era creditado exclusivamente ao messianismo do “lulo-amorismo”, desconsiderando a inserção delicada e bem-sucedida do Brasil na ordem internacional, com a adesão a uma série de regimes, como o de não proliferação nuclear e os de direitos humanos, além do início de uma integração responsável com a América do Sul. Plantou-se a mentira estratégica, colheu-se a desmoralização quase completa.
Ricupero cita a importância do Brasil em matéria agrícola e ambiental. Mas nenhuma das posições em que a diplomacia brasileira ainda tem relevo é mérito dos delírios de grandeza da diplomacia “altiva e ativa” de Amorim. A imprescindibilidade do Brasil nas negociações comerciais agrícolas, por exemplo, é fruto do dinamismo e da eficiência do setor agrário, que remonta pelo menos à criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Embrapa, em 1973. A centralidade nas discussões ambientais, por outro lado, deve-se ao fato de o país possuir a maior biodiversidade do mundo e uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, escolha política que antecede em muito o petismo. Mesmo as conquistas na proteção ao patrimônio natural da floresta Amazônica, que tanto se alardeia estarem em risco sob o governo de Michel Temer, começaram a degringolar ainda na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.
O alto custo dessa trama macabra dos petistas no Itamaraty ainda será contabilizado por muito tempo. As dimensões do desastre são muitas e o próprio Ricupero reconheceu que “ninguém pode imaginar que o Itamaraty alavancará o Brasil se o país não acaba com a corrupção, não volta a crescer [e] não combate a miséria”. Mas não é só. Além de reformas de que o país precisa para retomar a estrada do crescimento sustentável e de punição exemplar, na forma da lei, para todos os corruptos que estenderam seus tentáculos sobre o Brasil desde 2003, será necessário garantir que nossa diplomacia seja resgatada – e ainda há diplomatas capacitados para tanto – e permaneça sempre como uma diplomacia de Estado. Não de governo, e muito menos dos companheiros.

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