Editorial
Cenários de política externa e comercial do segundo governo Lula: haverá espaço para o pragmatismo?
Pedro da Motta Veiga
Editor
Revista Brasileira de Comércio Exterior, nr. 89 (Rio de Janeiro, Funcex, janeiro de 2007, p. 2-3)
O cenário mais provável, para a política externa e comercial, é a continuidade. Afinal, ela é parte importante da estratégia de legitimação do governo junto ao eleitorado de esquerda.
A reeleição de Lula suscita, na imprensa e entre especialistas, especulações acerca dos rumos da política externa e comercial durante o segundo mandato. Três cenários apresentam algum grau de plausibilidade.
O primeiro – e claramente o mais provável – é o de continuidade. A política externa e comercial é parte da estratégia de legitimação do governo junto ao eleitorado de esquerda, órfão de políticas macroeconômicas “ousadas”. Desse ponto de vista – que não considera resultados econômicos e ignora objetivos comerciais – ela é um sucesso. Há pois fortes incentivos (políticos) para a continuidade da política e poucos constrangimentos econômicos impelindo à mudança. O cenário externo continua muito favorável e o desempenho espetacular das exportações nos últimos anos reduz a margem de ação dos críticos da estratégia brasileira, embora esse desempenho nada deva à política externa e comercial. Vale observar que esse cenário não exclui a assinatura de um acordo de livre comércio com a União Européia, motivada menos por razões econômicas do que pelo objetivo político de demonstrar que o governo brasileiro é capaz de concluir alguma negociação com um parceiro relevante.
Em um segundo cenário, a política externa e comercial refletiria opções domésticas de corte populista, na área de política econômica e de política tout court. Uma política dos pobres contra os ricos no plano doméstico teria sua contrapartida externa, acentuando o viés terceiro-mundista da atual política e aproximando ainda mais o Brasil dos países sul-americanos campeões do nacionalismo econômico e do populismo político. Em termos de iniciativas externas, o Brasil acentuaria sua preferência por acordos Sul-Sul e apoiaria a consolidação de um Mercosul tripartite (com Argentina e Venezuela) com um acentuado viés defensivo. Negociações com países desenvolvidos, só na OMC e olhe lá.
No terceiro cenário, o governo reconheceria implicitamente a escassez de resultados econômicos de sua política externa e comercial e imprimiria a esta doses significativas de pragmatismo, especialmente no que se refere às relações do Brasil
com os países desenvolvidos. Algumas matérias publicadas na imprensa nas últimas semanas sugeriram haver disposição governamental para imprimir esse tipo de ajuste na política, o que se faria sentir sobretudo na postura brasileira frente às relações bilaterais com os Estados Unidos.
Essa orientação responderia a demandas e pressões originárias do setor empresarial, que criticam a politização ou a “ideologização” da estratégia comercial do Brasil. Há sólidas razões para por em dúvida a existência de tal disposição em um segundo governo Lula: o anti-americanismo é uma das molas mestras da “visão de esquerda” das relações internacionais e componente da estratégia de legitimação doméstica da política externa do governo atual.
Mas a solidez do anti-americanismo brasileiro não decorre desse seu vínculo com uma visão de esquerda. Ao contrário, ele se ancora no fato de que o “olhar anti-americano” flertou durante um longo período da história com a visão dominante em política externa, inclusive nos períodos em que a esquerda era perseguida e presa pelos governos militares.
À exceção de alguns curtos períodos, o Brasil adotou, a partir de meados do século XX, modelo de política externa profundamente influenciado pela percepção de que as relações bilaterais com o “vizinho do Norte” são essencialmente assimétricas. Nesse sentido, a estratégia externa do Brasil buscou alianças regionais e extra-regionais como mecanismos “reequilibradores” de poder ou capazes de reduzir os efeitos da assimetria entre Brasil e Estados Unidos.
O exercício desta opção produz “naturalmente” um distanciamento brasileiro em relação aos Estados Unidos e aos regimes internacionais patrocinados por este país, percebidos como fontes de desigualdades entre países ricos e pobres e como fatores que reforçam as assimetrias nas relações bilaterais do Brasil com os Estados Unidos.
Nesta visão, o fato do Brasil se situar, em termos geopolíticos e econômicos, na esfera de influência internacional dos Estados Unidos, é um sério problema. A localização do Brasil é uma incômoda proximidade com elevado potencial para restringir as margens de liberdade do País na implementação de seu projeto nacional de desenvolvimento e de projeção regional na América do Sul.
Dito de outra forma, as percepções dominantes no Brasil acerca das relações bilaterais com os Estados Unidos pautam-se por visão em que esta relação é percebida como restrição à realização das aspirações do Brasil, nos planos doméstico, regional e mundial.
Em seu primeiro mandato, a política externa do governo Lula sentiu-se muito confortável dentro desse modelo de relacionamento, que pouco exige do Brasil e gera dividendos políticos internos não desprezíveis. Apesar das reiteradas declara-
ções de altos funcionários brasileiros, saudando a excelência das relações bilaterais e a fluidez de contatos com autoridades dos Estados Unidos, esse “clima” não parece suficiente para gerar iniciativas que efetivamente contribuam para colocar
a interlocução entre os dois países no patamar requerido pela complexidade e pelo potencial das relações econômicas e políticas bilaterais.
Pedro da Motta Veiga
Editor
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007
terça-feira, 30 de janeiro de 2007
692) Inscrições para o concurso de ingresso na carreira diplomática: recorde
CONCURSO DE ADMISSÃO À CARREIRA DE DIPLOMATA DE 2007
Nota do MRE:
Encerradas as inscrições para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2007, foram cadastrados 13.137 candidatos, dos quais 8.657 efetuaram o pagamento da taxa de inscrição, confirmando, assim, sua participação no Concurso. O número de inscritos é o maior já registrado em concurso do Instituto Rio Branco: representa um aumento de 37,2% em relação ao ano passado (6.308 candidatos).
E um debate entre uma candidata...
"O aumento das inscrições no Concurso Admissional para o Rio Branco comprova a relevância que as relações internacionais vêm ganhando internamente no Brasil. Além disso, pode indicar que a população brasileira está compreendendo que manter relações com demais países do globo é algo muito mais profundo do que importações e exportações. Eu que sou graduada em Relações Internacionais fico feliz e ao mesmo tempo preocupada com a concorrência que terei de enfrentar daqui alguns anos, quando tentarei meu ingresso no Rio Branco."
E um professor:
"Acredito ainda que não possamos menosprezar elementos como: i) a ausência de um mercado delimitado alternativo para os profissionais de RI em outras atividades; ii) ou mesmo a ausência completa de um mercado de trabalho para os profissionais no Brasil; iii) busca de um emprego público, vendido, falaciosamente, como bem remunerado, estável e pouco ‘complicado’; iv) leitura romântica da profissão de diplomata; v) vulgarização dos cursos de RI pela repetição de conteúdos formatados e pela incapacidade de impactar na modificação da qualidade do perfil dos internacionalistas brasileiros."
Nota do MRE:
Encerradas as inscrições para o Concurso de Admissão à Carreira de Diplomata de 2007, foram cadastrados 13.137 candidatos, dos quais 8.657 efetuaram o pagamento da taxa de inscrição, confirmando, assim, sua participação no Concurso. O número de inscritos é o maior já registrado em concurso do Instituto Rio Branco: representa um aumento de 37,2% em relação ao ano passado (6.308 candidatos).
E um debate entre uma candidata...
"O aumento das inscrições no Concurso Admissional para o Rio Branco comprova a relevância que as relações internacionais vêm ganhando internamente no Brasil. Além disso, pode indicar que a população brasileira está compreendendo que manter relações com demais países do globo é algo muito mais profundo do que importações e exportações. Eu que sou graduada em Relações Internacionais fico feliz e ao mesmo tempo preocupada com a concorrência que terei de enfrentar daqui alguns anos, quando tentarei meu ingresso no Rio Branco."
E um professor:
"Acredito ainda que não possamos menosprezar elementos como: i) a ausência de um mercado delimitado alternativo para os profissionais de RI em outras atividades; ii) ou mesmo a ausência completa de um mercado de trabalho para os profissionais no Brasil; iii) busca de um emprego público, vendido, falaciosamente, como bem remunerado, estável e pouco ‘complicado’; iv) leitura romântica da profissão de diplomata; v) vulgarização dos cursos de RI pela repetição de conteúdos formatados e pela incapacidade de impactar na modificação da qualidade do perfil dos internacionalistas brasileiros."
domingo, 28 de janeiro de 2007
691) Teoria da jabuticaba: estudos afrobrasileiros nas escolas brasileiras
O ensino de temas afrobrasileiros, assim como a obrigatoriedade do aprendizado do espanhol como língua estrangeira nos currículos das escolas brasileiras, de ciclo fundamental e médio, constituem dois notáveis exemplos do que eu chamo "teoria da jabuticaba", ou seja peculiaridades brasileiras que em nada ajudam na resolução dos grandes problemas nacionais, acabam criando outros e ainda induzem a despesas adicionais que contribuem para o agravamento do quadro fiscal, já por si precário, do Estado brasileiro.
A matéria abaixo pretende lamentar o fato de que a cultura afro ainda está fora do alcance das nossas crianças.
Não vou me pronunciar sobre os aspectos substantivos dessa obrigatoriedade -- algo chocante, num país que comporta imigrantes de variadas origens -- mas deixo apenas o registro de mais uma "jabuticaba" agregada à nossa frondosa árvores de sandices...
Cultura afro ainda fora de aula
Lei obriga escolas a ensinarem raízes culturais do País, mas falta preparo
Embora a lei nº 10.639, aprovada em 2003, inclua a história da África e a cultura afro-brasileira como estudo obrigatório nas escolas de ensino fundamental e médio, públicas e particulares do País, pouco – ou quase nada – tem mudado na maioria das salas de aulas. De acordo com a lei, o conteúdo deve ser ministrado no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História, mas a falta de preparo dos professores tem emperrado a aplicação do tema.
Para especialistas, falta capacitação dos docentes, investimento do governo federal e interesse das secretarias dos estados para que a lei realmente emplaque. Segundo o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, a entidade tem acompanhado e contribuído para a aplicação da lei da forma que pode, mas a dificuldade de qualificar os professores é muito grande. “O número de docentes em todo o Brasil é enorme”, ressalta Zulu. A fundação promove debates e palestras sobre o tema, além de lançar publicações que servem de referência ao professor, e ressalta que falta empenho da sociedade para fazer a lei “pegar”. “Se houver empenho de todos, a
sociedade brasileira é quem vai ganhar”, completa.
O coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), professor Nelson Inocêncio, também comunga da dificuldade enxergada por Zulu. Segundo ele, o País é muito extenso, o número de escolas é enorme e o governo, embora tenha aprovado a lei, não disponibilzou recursos para treinar os docentes. “Precisaremos de uma qualificação em massa, porque não dá para aplicar esse conteúdo a partir do senso comum”, explica. Para Inocêncio, é necessário que o governo defina
orçamento para capacitar os professores e que as secretarias estaduais definam políticas locais. “Muitas vezes os professores não têm nem como sair da escola para fazer um curso; a secretaria precisa facilitar isso”, critica.
Para tentar suprir a carência de informações e formação nesse sentido, o Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinares (Ceam) da UnB vai oferecer o curso de extensão Estudos Afro-Brasileiros para professores das redes pública e privada e alunos de licenciatura egressos do sistema de cotas da universidade. O curso é gratuito e as inscrições estão abertas até o próximo dia 2 de fevereiro, no Ceam (Edifício Multiuso I, bloco A, 1º andar). A seleção será realizada por meio do currículo e uma entrevista. São 45 vagas e as aulas começam no dia 10 de fevereiro.
Preconceito atrapalha
Se, por um lado, faltam investimentos para capacitar professores por outro, há profissionais que, mesmo com oportunidade, preferem se manter alheios, mesmo que a lei obrigue que o conteúdo seja aplicado nas escolas. “As dificuldades são muitas e o preconceito ainda é muito grande. Tem havido resistência de professores, principalmente os evangélicos, que enxergam a cultura afro e afro-brasileira como coisa do ‘demônio’”, alega Zulu. Para ele, o racismo no Brasil ainda é grande. “Em breve, teremos avanços para que o tema seja tratado naturalmente na Educação, mas, por enquanto, a coisa ainda é difícil, mesmo tendo a lei”, completa.
Segundo Inocêncio, além do preconceito, é necessário mostrar para a sociedade que a história do negro no Brasil está intimamente ligada à história do País. “A presença do negro na nossa história é muito maior do que se pensa e esse é um dos objetivos da disciplina que ministramos aqui na UnB, para mostrar que a África não deve estar ligada à fome, pobreza, Aids, nem que o negro no Brasil se resume a culinária. Temos que tirar isso do senso comum”, avalia o professor.
“É preciso criar estratégias de inserção, vincular todo esse ensino a uma coisa maior”, alerta Inocêncio. “Temos duas dificuldades básicas uma é a própria resistência cultural de muitos diretores e professores em colocar os estudos afro-brasileiros em sala de aula; a outra é que alguns docentes nem sabem da obrigatoriedade e nem por onde começar”, conta o professor.
Conteúdo já é visto em sala
Entre as escolas particulares do DF, a defesa: todas trabalham o conteúdo em sala de aula, mas não como disciplina. “É o que chamamos de tema transversal. Eles são abordados nas outras disciplinas”, explica a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-DF), Amabile Pacios.
Segundo Amabile, o tema é inserido em todas as matérias convencionais e os professores recebem treinamento no sindicato para passar o conteúdo ao aluno. Porém, ela reclama da quantidade de temas extra-curriculares impostos às escolas. “É preciso sobrar tempo para ensinar a ler e escrever.
Cabe à escola ensinar cidadania, educação sexual, educação no trânsito, história afro-brasileira, entre outra.” Em nome das escolas particulares, ela explica que a lei não obriga que o conteúdo seja passado como matéria curricular. (L.A.)
Fonte : Tribuna do Brasil
A matéria abaixo pretende lamentar o fato de que a cultura afro ainda está fora do alcance das nossas crianças.
Não vou me pronunciar sobre os aspectos substantivos dessa obrigatoriedade -- algo chocante, num país que comporta imigrantes de variadas origens -- mas deixo apenas o registro de mais uma "jabuticaba" agregada à nossa frondosa árvores de sandices...
Cultura afro ainda fora de aula
Lei obriga escolas a ensinarem raízes culturais do País, mas falta preparo
Embora a lei nº 10.639, aprovada em 2003, inclua a história da África e a cultura afro-brasileira como estudo obrigatório nas escolas de ensino fundamental e médio, públicas e particulares do País, pouco – ou quase nada – tem mudado na maioria das salas de aulas. De acordo com a lei, o conteúdo deve ser ministrado no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História, mas a falta de preparo dos professores tem emperrado a aplicação do tema.
Para especialistas, falta capacitação dos docentes, investimento do governo federal e interesse das secretarias dos estados para que a lei realmente emplaque. Segundo o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, a entidade tem acompanhado e contribuído para a aplicação da lei da forma que pode, mas a dificuldade de qualificar os professores é muito grande. “O número de docentes em todo o Brasil é enorme”, ressalta Zulu. A fundação promove debates e palestras sobre o tema, além de lançar publicações que servem de referência ao professor, e ressalta que falta empenho da sociedade para fazer a lei “pegar”. “Se houver empenho de todos, a
sociedade brasileira é quem vai ganhar”, completa.
O coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília (UnB), professor Nelson Inocêncio, também comunga da dificuldade enxergada por Zulu. Segundo ele, o País é muito extenso, o número de escolas é enorme e o governo, embora tenha aprovado a lei, não disponibilzou recursos para treinar os docentes. “Precisaremos de uma qualificação em massa, porque não dá para aplicar esse conteúdo a partir do senso comum”, explica. Para Inocêncio, é necessário que o governo defina
orçamento para capacitar os professores e que as secretarias estaduais definam políticas locais. “Muitas vezes os professores não têm nem como sair da escola para fazer um curso; a secretaria precisa facilitar isso”, critica.
Para tentar suprir a carência de informações e formação nesse sentido, o Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinares (Ceam) da UnB vai oferecer o curso de extensão Estudos Afro-Brasileiros para professores das redes pública e privada e alunos de licenciatura egressos do sistema de cotas da universidade. O curso é gratuito e as inscrições estão abertas até o próximo dia 2 de fevereiro, no Ceam (Edifício Multiuso I, bloco A, 1º andar). A seleção será realizada por meio do currículo e uma entrevista. São 45 vagas e as aulas começam no dia 10 de fevereiro.
Preconceito atrapalha
Se, por um lado, faltam investimentos para capacitar professores por outro, há profissionais que, mesmo com oportunidade, preferem se manter alheios, mesmo que a lei obrigue que o conteúdo seja aplicado nas escolas. “As dificuldades são muitas e o preconceito ainda é muito grande. Tem havido resistência de professores, principalmente os evangélicos, que enxergam a cultura afro e afro-brasileira como coisa do ‘demônio’”, alega Zulu. Para ele, o racismo no Brasil ainda é grande. “Em breve, teremos avanços para que o tema seja tratado naturalmente na Educação, mas, por enquanto, a coisa ainda é difícil, mesmo tendo a lei”, completa.
Segundo Inocêncio, além do preconceito, é necessário mostrar para a sociedade que a história do negro no Brasil está intimamente ligada à história do País. “A presença do negro na nossa história é muito maior do que se pensa e esse é um dos objetivos da disciplina que ministramos aqui na UnB, para mostrar que a África não deve estar ligada à fome, pobreza, Aids, nem que o negro no Brasil se resume a culinária. Temos que tirar isso do senso comum”, avalia o professor.
“É preciso criar estratégias de inserção, vincular todo esse ensino a uma coisa maior”, alerta Inocêncio. “Temos duas dificuldades básicas uma é a própria resistência cultural de muitos diretores e professores em colocar os estudos afro-brasileiros em sala de aula; a outra é que alguns docentes nem sabem da obrigatoriedade e nem por onde começar”, conta o professor.
Conteúdo já é visto em sala
Entre as escolas particulares do DF, a defesa: todas trabalham o conteúdo em sala de aula, mas não como disciplina. “É o que chamamos de tema transversal. Eles são abordados nas outras disciplinas”, explica a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe-DF), Amabile Pacios.
Segundo Amabile, o tema é inserido em todas as matérias convencionais e os professores recebem treinamento no sindicato para passar o conteúdo ao aluno. Porém, ela reclama da quantidade de temas extra-curriculares impostos às escolas. “É preciso sobrar tempo para ensinar a ler e escrever.
Cabe à escola ensinar cidadania, educação sexual, educação no trânsito, história afro-brasileira, entre outra.” Em nome das escolas particulares, ela explica que a lei não obriga que o conteúdo seja passado como matéria curricular. (L.A.)
Fonte : Tribuna do Brasil
quinta-feira, 18 de janeiro de 2007
690) Brasil, potência mundial?
Brasil, potência mundial?
O Brasil vem sendo apontado, em diversos estudos prospectivos, como uma das potências mundiais dentro de mais alguns anos. Esses estudos, que tomam por base projeções quanto à população, produção de bens e serviços, participação no comércio mundial e contribuição para os fluxos mais dinâmicos dos intercâmbios internacionais (produtos culturais, finanças, conhecimento gerado pela pesquisa científica), apontam o Brasil, junto com outros grandes países em desenvolvimento, como Índia e Indonésia, como um dos países mais importantes em âmbito planetário, dando contribuições positivas para a paz e o progresso da humanidade.
De fato, o Brasil já é, hoje, uma grande economia, sendo o primeiro fornecedor mundial de uma série de produtos alimentícios e de recursos naturais, o que tende naturalmente a se ampliar nos anos à frente. Por outro lado, nossa exclusiva mistura racial e a excepcional convivência, em nosso país, dos mais diversos povos do mundo, sem distinções de qualquer espécie, convertem o Brasil em exemplo único de sociedade multirracial.
Podemos igualmente contribuir cada vez mais, e de fato já estamos contribuindo para a paz mundial, participando de operações de paz da Organização da Nações Unidas e ajudando no desenvolvimento de diversas nações africanas, que aliás nos deram a base de parte substancial de nossa atual população. Nossos cientistas, por outro lado, são plenamente capazes de não apenas acompanhar de perto os mais diferentes progressos das pesquisas de ponta no plano mundial, como também de contribuir para a inovação e de realizar descobertas científicas capazes de beneficiar a humanidade.
Tudo depende, é claro, de nós mesmos, de nossa própria capacidade de reforçar essas características positivas de nossa nação. A julgar, entretanto, pelas estatísitcas relativas a crescimento econômico, o Brasil tem ainda um grande esforço a fazer para se posicionar no pelotão de vanguarda da economia mundial. Nosso desempenho nos últimos anos, e provavelmente nas duas últimas décadas, tem sido próximo de pífio, e isso não se deve essencialmente a crises externas ou fatores internacionais adversos, e sim a nossa própria incapacidade de retomar o ritmo de crescimento sustentado.
Volto a mencionar os elementos principais das reformas que me parecem absolutamente indispensáveis para colocar o Brasil numa posição de maior destaque no cenário internacional. Observo, en passant, que todos os requisitos, mesmo o último, relativo à abertura internacional, são de ordem exclusivamente interna. Ou seja, todos os nossos problemas, obstáculos e limitações são "made in Brazil".
Lista de reformas para algum corajoso estadista:
1. Reforma política, a começar pela Constituição: seria útil uma “limpeza” nas excrescências indevidas da CF, deixando-a apenas com os princípios gerais, remetendo todo o resto para legislação complementar e regulatória. Operar diminuição drástica de todo o corpo legislativo em todos os níveis (federal, estadual e municipal), retirando um custo enorme que é pago pelos cidadãos; Proporcionalidade mista, com voto distrital em nível local e alguma representação por lista no plano nacional, preservando o caráter nacional dos partidos.
2. Reforma administrativa com diminuição radical do número de ministérios, e atribuições de diversas funções a agências reguladoras. Privatização dos grandes monstrengos públicos que ainda existem e são fontes de ineficiências e corrupção, no setor financeiro, energético, e outros; fim da estabilidade no serviço público.
3. Reforma econômica ampla, com diminuição da carga tributária e redução das despesas do Estado; aperto fiscal nos “criadores de despesas” irresponsáveis que são os legislativos e o judiciário; reforma microeconômica para criar um ambiente favorável ao investimento produtivo, ao lucro e para diminuir a sonegação e a evasão fiscal.
4. Reforma trabalhista radical, no sentido da flexibilização da legislação laboral, dando maior espaço às negociações diretas entre as partes; extinção da Justiça do Trabalho, que é uma fonte de criação e sustentação de conflitos; Retirada do imposto sindical, que alimenta sindicalistas profissionais, em geral corruptos.
5. Reforma educacional completa, com retirada do terceiro ciclo da responsabilidade do Estado e concessão de completa autonomia às universidades “públicas” (com transferência de recursos para pesquisa e projetos específicos, e os salários do pessoal remanescente, mas de outro modo fim do regime de dedicação exclusiva, que nada mais é do que um mito); concentração de recursos públicos nos dois primeiros níveis e no ensino técnico-profissional.
6. Abertura econômica e liberalização comercial, acolhimento do investimento estrangeiro e adesão a regimes proprietários mais avançados.
Paulo Roberto de Almeida
O Brasil vem sendo apontado, em diversos estudos prospectivos, como uma das potências mundiais dentro de mais alguns anos. Esses estudos, que tomam por base projeções quanto à população, produção de bens e serviços, participação no comércio mundial e contribuição para os fluxos mais dinâmicos dos intercâmbios internacionais (produtos culturais, finanças, conhecimento gerado pela pesquisa científica), apontam o Brasil, junto com outros grandes países em desenvolvimento, como Índia e Indonésia, como um dos países mais importantes em âmbito planetário, dando contribuições positivas para a paz e o progresso da humanidade.
De fato, o Brasil já é, hoje, uma grande economia, sendo o primeiro fornecedor mundial de uma série de produtos alimentícios e de recursos naturais, o que tende naturalmente a se ampliar nos anos à frente. Por outro lado, nossa exclusiva mistura racial e a excepcional convivência, em nosso país, dos mais diversos povos do mundo, sem distinções de qualquer espécie, convertem o Brasil em exemplo único de sociedade multirracial.
Podemos igualmente contribuir cada vez mais, e de fato já estamos contribuindo para a paz mundial, participando de operações de paz da Organização da Nações Unidas e ajudando no desenvolvimento de diversas nações africanas, que aliás nos deram a base de parte substancial de nossa atual população. Nossos cientistas, por outro lado, são plenamente capazes de não apenas acompanhar de perto os mais diferentes progressos das pesquisas de ponta no plano mundial, como também de contribuir para a inovação e de realizar descobertas científicas capazes de beneficiar a humanidade.
Tudo depende, é claro, de nós mesmos, de nossa própria capacidade de reforçar essas características positivas de nossa nação. A julgar, entretanto, pelas estatísitcas relativas a crescimento econômico, o Brasil tem ainda um grande esforço a fazer para se posicionar no pelotão de vanguarda da economia mundial. Nosso desempenho nos últimos anos, e provavelmente nas duas últimas décadas, tem sido próximo de pífio, e isso não se deve essencialmente a crises externas ou fatores internacionais adversos, e sim a nossa própria incapacidade de retomar o ritmo de crescimento sustentado.
Volto a mencionar os elementos principais das reformas que me parecem absolutamente indispensáveis para colocar o Brasil numa posição de maior destaque no cenário internacional. Observo, en passant, que todos os requisitos, mesmo o último, relativo à abertura internacional, são de ordem exclusivamente interna. Ou seja, todos os nossos problemas, obstáculos e limitações são "made in Brazil".
Lista de reformas para algum corajoso estadista:
1. Reforma política, a começar pela Constituição: seria útil uma “limpeza” nas excrescências indevidas da CF, deixando-a apenas com os princípios gerais, remetendo todo o resto para legislação complementar e regulatória. Operar diminuição drástica de todo o corpo legislativo em todos os níveis (federal, estadual e municipal), retirando um custo enorme que é pago pelos cidadãos; Proporcionalidade mista, com voto distrital em nível local e alguma representação por lista no plano nacional, preservando o caráter nacional dos partidos.
2. Reforma administrativa com diminuição radical do número de ministérios, e atribuições de diversas funções a agências reguladoras. Privatização dos grandes monstrengos públicos que ainda existem e são fontes de ineficiências e corrupção, no setor financeiro, energético, e outros; fim da estabilidade no serviço público.
3. Reforma econômica ampla, com diminuição da carga tributária e redução das despesas do Estado; aperto fiscal nos “criadores de despesas” irresponsáveis que são os legislativos e o judiciário; reforma microeconômica para criar um ambiente favorável ao investimento produtivo, ao lucro e para diminuir a sonegação e a evasão fiscal.
4. Reforma trabalhista radical, no sentido da flexibilização da legislação laboral, dando maior espaço às negociações diretas entre as partes; extinção da Justiça do Trabalho, que é uma fonte de criação e sustentação de conflitos; Retirada do imposto sindical, que alimenta sindicalistas profissionais, em geral corruptos.
5. Reforma educacional completa, com retirada do terceiro ciclo da responsabilidade do Estado e concessão de completa autonomia às universidades “públicas” (com transferência de recursos para pesquisa e projetos específicos, e os salários do pessoal remanescente, mas de outro modo fim do regime de dedicação exclusiva, que nada mais é do que um mito); concentração de recursos públicos nos dois primeiros níveis e no ensino técnico-profissional.
6. Abertura econômica e liberalização comercial, acolhimento do investimento estrangeiro e adesão a regimes proprietários mais avançados.
Paulo Roberto de Almeida
689) O terrorismo islâmico-fundamentalista: uma quarta guerra mundial?
Gostaria, nesta breve nota, de fazer minhas observações pessoais e de deixar constância acerca de uma terrível realidade contemporânea da qual talvez não tenhamos (mas deveríamos ter) a exata dimensão e a consciência exata do que ela significa na história da humanidade.
Está se constituindo uma modalidade de terrorismo político-religioso sem qualquer precedente na história da humanidade, que promete ficar conosco durante muito tempo ainda: o terrorismo islâmico-fundamentalista, uma nova espécie de barbárie, que precisa ser chamada pelo que ela é, efetivamente.
Essa modalidade de terrorismo está sendo identificado, por alguns analistas, como sendo a Quarta Guerra Mundial (a terceira sendo constituída pela Guerra Fria, que terminou com a implosão do comunismo, que não foi obviamente destruído pelo capitalismo, mas foi eliminado por sua própria incompetência econômica e tecnológica).
Esse novo terrorismo, de base inegavelmente e inquestionavelmente (é preciso que se o diga) islâmico-fundamentalista, visa simplesmente a causar o maior número de mortos, de forma indiscriminada (mesmo entre os próprios seguidores da religião islâmica), em nome de objetivos muito difusos, mas que todos tem a ver com a recusa da modenidade ocidental, com a rejeição das conquistas do iluminismo (que foi ocidental, mas é propriamente universal).
Esse terrorismo islâmico-fundamentalista é profundamente reacionário e obscurantitsta, e alguns observadores o acusaram de fascista, mas não creio que esse conceito apreenda suas características peculiares. O fascismo tem a ver com uma determinada noção de um regime político, com a conquista do Estado e a obtenção de objetivos políticos, econômicos e sociais. O terrorismo islâmico-fundamentalista é mais uma negação do existe do que a construção de uma nova sociedade.
Esse terrorismo se baseia num estoque infindável de pessoas-bomba, de todos os gêneros e idades. Não é incomum assistir-se na TV, reportagens que mostram alguma mãe de um pequeno candidato a menino-bomba (existem garotos de dez anos sendo treinados para isso) dizendo se sentir orgulhosa de ver seu filho sendo treinado para ser um combatente contra o inimigo sionista e americano. Pode ser patético, mas é revelador de um certo estado de espírito.
Qual é a sociedade que produz uma mãe que pede, literalmente, que o seu filho se exploda com o maior número possível de inimigos? Não creio que seja uma sociedade “normal”, mas esse tipo de predisposição para o martírio corresponde a um movimento determinado, o do fundamentalismo islâmico, que aparentemente conquistou muita gente. Existem, como se sabe, muitos “meninos-bomba” em preparação, da Palestina ao Paquistão, e talvez mais além.
Não nos enganemos: todos esses candidatos voluntários ao martírio pertence a um arco civilizatório específico: o do islamismo decadente e fracassado, não enquanto religião, mas enquanto enquanto sociedades “normais”. Por várias razões – entre elas a autocracia política e a falta de modernização econômica e social, pelo próprio fracasso dessas sociedades e desses Estados autoritários em prover meios de vida descentes a uma massa considerável de jovens desesperançados (e alimentados no ódio ao Ocidente como se ele fosse responsável pelos fracassos) –, o movimento do terrorismo fundamentalista-islâmico dispõe hoje de um estoque infinito de candidatos a pessoas-bomba.
O que o Hezbollah, o Jihad, o Hamas e outros movimento assemelhados fazem hoje, da Palestina à Índia, passando pelo Iraque e pelo Afeganistão, é exatamente isso: uma nova modalidade de terrorismo inaceitável na perspectiva de qualquer nação civilizada na face da terra.
Sim, existe uma diferença entre esses bárbaros e os antigos terroristas, da fase anarquista, quase romântica. Os antigos anarquistas, geralmente de extração operária, faziam atentados isolados, visando diretamente os soberanos (presidentes, reis, autoridades em geral), pois queriam combater o Estado, que viam como mal absoluto. Se expunham pessoalmente e conseguiam em alguns casos o seu intento. Era uma tática terrorista numa estratégia mais ampla de luta política, mas algo desorganizada, geralmente condenada pelos demais grupos de esquerda.
Os bárbaros da atualidade explodem tudo e a todos, matando inocentes sem contar, sem qualquer objetivo militar aparente, numa estratégia de terror pelo terror. Eles também se expõem pessoalmente – e como: na promessa mirífica do paraíso dado automaticamente aos mártires – mas seus objetivos são indiscriminados, atingindo inocentes e alguns “correligionários”.
Acho que a realidade terrível está exposta, claramente. A nova barbárie bateu à nossa porta e ela promete perdurar por longos anos à frente. As pessoas que se julgam conscientes e responsáveis deveriam tomar partido. A linha divisória está posta.
Eu fico assustando de ver como a esquerda brasileira, e talvez a esquerda mundial, ainda se permite aplaudir esse tipo de gesto, apenas porque ele se dirige, supostamente, contra o inimigo imperialista ou sionista. Não gostaria de constatar que a esquerda se colocou do lado dos bárbaros, absolutos, inaceitáveis a qualquer pretexto.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1709: 18 janeiro 2007
Está se constituindo uma modalidade de terrorismo político-religioso sem qualquer precedente na história da humanidade, que promete ficar conosco durante muito tempo ainda: o terrorismo islâmico-fundamentalista, uma nova espécie de barbárie, que precisa ser chamada pelo que ela é, efetivamente.
Essa modalidade de terrorismo está sendo identificado, por alguns analistas, como sendo a Quarta Guerra Mundial (a terceira sendo constituída pela Guerra Fria, que terminou com a implosão do comunismo, que não foi obviamente destruído pelo capitalismo, mas foi eliminado por sua própria incompetência econômica e tecnológica).
Esse novo terrorismo, de base inegavelmente e inquestionavelmente (é preciso que se o diga) islâmico-fundamentalista, visa simplesmente a causar o maior número de mortos, de forma indiscriminada (mesmo entre os próprios seguidores da religião islâmica), em nome de objetivos muito difusos, mas que todos tem a ver com a recusa da modenidade ocidental, com a rejeição das conquistas do iluminismo (que foi ocidental, mas é propriamente universal).
Esse terrorismo islâmico-fundamentalista é profundamente reacionário e obscurantitsta, e alguns observadores o acusaram de fascista, mas não creio que esse conceito apreenda suas características peculiares. O fascismo tem a ver com uma determinada noção de um regime político, com a conquista do Estado e a obtenção de objetivos políticos, econômicos e sociais. O terrorismo islâmico-fundamentalista é mais uma negação do existe do que a construção de uma nova sociedade.
Esse terrorismo se baseia num estoque infindável de pessoas-bomba, de todos os gêneros e idades. Não é incomum assistir-se na TV, reportagens que mostram alguma mãe de um pequeno candidato a menino-bomba (existem garotos de dez anos sendo treinados para isso) dizendo se sentir orgulhosa de ver seu filho sendo treinado para ser um combatente contra o inimigo sionista e americano. Pode ser patético, mas é revelador de um certo estado de espírito.
Qual é a sociedade que produz uma mãe que pede, literalmente, que o seu filho se exploda com o maior número possível de inimigos? Não creio que seja uma sociedade “normal”, mas esse tipo de predisposição para o martírio corresponde a um movimento determinado, o do fundamentalismo islâmico, que aparentemente conquistou muita gente. Existem, como se sabe, muitos “meninos-bomba” em preparação, da Palestina ao Paquistão, e talvez mais além.
Não nos enganemos: todos esses candidatos voluntários ao martírio pertence a um arco civilizatório específico: o do islamismo decadente e fracassado, não enquanto religião, mas enquanto enquanto sociedades “normais”. Por várias razões – entre elas a autocracia política e a falta de modernização econômica e social, pelo próprio fracasso dessas sociedades e desses Estados autoritários em prover meios de vida descentes a uma massa considerável de jovens desesperançados (e alimentados no ódio ao Ocidente como se ele fosse responsável pelos fracassos) –, o movimento do terrorismo fundamentalista-islâmico dispõe hoje de um estoque infinito de candidatos a pessoas-bomba.
O que o Hezbollah, o Jihad, o Hamas e outros movimento assemelhados fazem hoje, da Palestina à Índia, passando pelo Iraque e pelo Afeganistão, é exatamente isso: uma nova modalidade de terrorismo inaceitável na perspectiva de qualquer nação civilizada na face da terra.
Sim, existe uma diferença entre esses bárbaros e os antigos terroristas, da fase anarquista, quase romântica. Os antigos anarquistas, geralmente de extração operária, faziam atentados isolados, visando diretamente os soberanos (presidentes, reis, autoridades em geral), pois queriam combater o Estado, que viam como mal absoluto. Se expunham pessoalmente e conseguiam em alguns casos o seu intento. Era uma tática terrorista numa estratégia mais ampla de luta política, mas algo desorganizada, geralmente condenada pelos demais grupos de esquerda.
Os bárbaros da atualidade explodem tudo e a todos, matando inocentes sem contar, sem qualquer objetivo militar aparente, numa estratégia de terror pelo terror. Eles também se expõem pessoalmente – e como: na promessa mirífica do paraíso dado automaticamente aos mártires – mas seus objetivos são indiscriminados, atingindo inocentes e alguns “correligionários”.
Acho que a realidade terrível está exposta, claramente. A nova barbárie bateu à nossa porta e ela promete perdurar por longos anos à frente. As pessoas que se julgam conscientes e responsáveis deveriam tomar partido. A linha divisória está posta.
Eu fico assustando de ver como a esquerda brasileira, e talvez a esquerda mundial, ainda se permite aplaudir esse tipo de gesto, apenas porque ele se dirige, supostamente, contra o inimigo imperialista ou sionista. Não gostaria de constatar que a esquerda se colocou do lado dos bárbaros, absolutos, inaceitáveis a qualquer pretexto.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1709: 18 janeiro 2007
688) Já não se fazem mais marxistas como antigamente...
Percorrendo o mundo dos blogs (e que mundo...), fui levado a um que transcrevia uma frase do inesquecível Nelson Rodrigues, o que me levou ao meu tempo de juventude (e da primeira maturidade também), relativo ao marxismo no Brasil. Reproduzo-a aqui:
“No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.” Nelson Rodrigues (não havia menção de data ou fonte originais).
Pois bem, o que de interessante revela essa frase do jornalista policial, dramaturgo, cronista regular (sobretudo futebolístico) da imprensa escrita e provocador profissional (nessa ordem) Nelson Rodrigues? Provavelmente a ascensão irresistível da ignorância no Brasil, mesmo em assuntos de marxismo, o que talvez não deva surpreender, tendo em vista a deterioração progressiva do ensino público de modo geral, de todos os níveis e em todas as vertentes.
Não sei exatamente quando Nelson Rodrigues pronunciou essa frase (estou assuntando), mas de fato esta é uma constatação que posso fazer por experiência própria.
Ela deve ter sido elaborada em meados dos anos 1960, quando a crème de la crème de la soi-disante intelligentzia tupiniquim era toda marxista. Ou se pretendia tal. Era em todo caso formada por pessoas qe liam e debatiam, o tempo todo.
Stalinistas, trotsquistas e independentes liam e se informavam, ao contário do que vemos hoje. Naqueles tempos da brilhantina, jovens interessados em marxismo liam furiosamente tudo o que podiam encontrar do velho barbudo e toda a literatura disponível no mercado (não era muita, infelizmente). Mas eu me lembro de, muito jovem, ter lido uma análise honesta (por um cônego, Heraldo Barbuy) sobre o marxismo (publicada pela Agir) e vários livros editados pela Calvino, pela Vitória e outras editoras de afiliação comunista. Uma tradução, a partir do francês, de uma edição abreviada do Capital, se não me engano por J. Duret, me consumiu várias semanas de leitura paciente e anotada, tentando entender os segredos da mais valia e da tendência à baixa da taxa do lucro.
Já uma ou duas décadas depois – em torno dos anos 1970 e 80, portanto –, as únicas coisas que eu via os jovens “esquerdistas” lerem eram a vulgata ordinária de Marta Harnecker, que nem merece o nome de literatura marxista, e o arremedo de “explicação histórica” sobre a “exploração” da América Latina pelo mais perfeito idiota latino-americano que jamais existiu, Eduardo Galeano, o tal de “Veias Abertas”, que ainda passa por livro sério em certos setores, apenas porque coloca todas as razões do nosso atraso no imperialismo americano.
Mas isso era ainda nos anos 1980, quando ainda se lia alguma coisa no Brasil. Hoje, pelo que posso constatar pelos cursos universitários que conheço – e freqüento – pouco se lê, em geral, e quase nada se lê de marxismo, em particular. E no entanto, a chamada esquerda – que aparentemente ainda se considera marxista – nunca foi tão dominante nas universidades e nos aparelhos dos ditos “movimentos sociais”. As pessoas se consideram de esquerda, talvez socialistas, mas do marxismo mesmo, elas entendem pouco, muito pouco.
Acho que seria preciso corrigir Nelson Rodrigues, hoje: não se é mais marxista, apenas se pensa que se é marxista. Mas não consigo encontrar alguém que tenha, de verdade, lido Marx. Ou seja, não há sequer condições para um debate em torno da idéia marxista, o que inviabiliza, ipso facto, qualquer debate inteligente sobre o que significa ser de esquerda, no Brasil de hoje.
A deterioração do marxismo culto no Brasil é de fato irremediável, e já não se consegue mais encontrar alguém que tenha lido alguma coisa do filósofo de Trier. Tenho a impressão de que a revolução vai ter de esperar mais um pouco. Enquanto isso, as pessoas simplesmente se acomodam à nova situação, quando se é de esquerda de maneira totalmente inconsciente...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1708: 18 janeiro 2007
“No Brasil, o marxismo adquiriu uma forma difusa, volatizada, atmosférica. É-se marxista sem estudar, sem pensar, sem ler, sem escrever, apenas respirando.” Nelson Rodrigues (não havia menção de data ou fonte originais).
Pois bem, o que de interessante revela essa frase do jornalista policial, dramaturgo, cronista regular (sobretudo futebolístico) da imprensa escrita e provocador profissional (nessa ordem) Nelson Rodrigues? Provavelmente a ascensão irresistível da ignorância no Brasil, mesmo em assuntos de marxismo, o que talvez não deva surpreender, tendo em vista a deterioração progressiva do ensino público de modo geral, de todos os níveis e em todas as vertentes.
Não sei exatamente quando Nelson Rodrigues pronunciou essa frase (estou assuntando), mas de fato esta é uma constatação que posso fazer por experiência própria.
Ela deve ter sido elaborada em meados dos anos 1960, quando a crème de la crème de la soi-disante intelligentzia tupiniquim era toda marxista. Ou se pretendia tal. Era em todo caso formada por pessoas qe liam e debatiam, o tempo todo.
Stalinistas, trotsquistas e independentes liam e se informavam, ao contário do que vemos hoje. Naqueles tempos da brilhantina, jovens interessados em marxismo liam furiosamente tudo o que podiam encontrar do velho barbudo e toda a literatura disponível no mercado (não era muita, infelizmente). Mas eu me lembro de, muito jovem, ter lido uma análise honesta (por um cônego, Heraldo Barbuy) sobre o marxismo (publicada pela Agir) e vários livros editados pela Calvino, pela Vitória e outras editoras de afiliação comunista. Uma tradução, a partir do francês, de uma edição abreviada do Capital, se não me engano por J. Duret, me consumiu várias semanas de leitura paciente e anotada, tentando entender os segredos da mais valia e da tendência à baixa da taxa do lucro.
Já uma ou duas décadas depois – em torno dos anos 1970 e 80, portanto –, as únicas coisas que eu via os jovens “esquerdistas” lerem eram a vulgata ordinária de Marta Harnecker, que nem merece o nome de literatura marxista, e o arremedo de “explicação histórica” sobre a “exploração” da América Latina pelo mais perfeito idiota latino-americano que jamais existiu, Eduardo Galeano, o tal de “Veias Abertas”, que ainda passa por livro sério em certos setores, apenas porque coloca todas as razões do nosso atraso no imperialismo americano.
Mas isso era ainda nos anos 1980, quando ainda se lia alguma coisa no Brasil. Hoje, pelo que posso constatar pelos cursos universitários que conheço – e freqüento – pouco se lê, em geral, e quase nada se lê de marxismo, em particular. E no entanto, a chamada esquerda – que aparentemente ainda se considera marxista – nunca foi tão dominante nas universidades e nos aparelhos dos ditos “movimentos sociais”. As pessoas se consideram de esquerda, talvez socialistas, mas do marxismo mesmo, elas entendem pouco, muito pouco.
Acho que seria preciso corrigir Nelson Rodrigues, hoje: não se é mais marxista, apenas se pensa que se é marxista. Mas não consigo encontrar alguém que tenha, de verdade, lido Marx. Ou seja, não há sequer condições para um debate em torno da idéia marxista, o que inviabiliza, ipso facto, qualquer debate inteligente sobre o que significa ser de esquerda, no Brasil de hoje.
A deterioração do marxismo culto no Brasil é de fato irremediável, e já não se consegue mais encontrar alguém que tenha lido alguma coisa do filósofo de Trier. Tenho a impressão de que a revolução vai ter de esperar mais um pouco. Enquanto isso, as pessoas simplesmente se acomodam à nova situação, quando se é de esquerda de maneira totalmente inconsciente...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 1708: 18 janeiro 2007
terça-feira, 16 de janeiro de 2007
687) Liberdade econômica no mundo
Num contexto de nacionalizações, (re)estatizações, intervencionismo e dirigismo econômico renascentes, sobretudo na América Latina, não seria de todo inútil relembrar que os países de mais alto nível de vida do mundo -- e portanto de maior renda per capita e de prosperidade geral para os seus povos -- são aqueles que também ostentam um maior grau de liberdade econômica.
Quando se observa, em especial na América Latina, uma campanha ruidosa contra o neoliberalismo, que teria sido responsável, segundo os promotores dessa campanha, por tudo de errado que aconteceu no continente nas últimas décadas, talvez seja útil recomendar a leitura de alguns relatórios sobre o grau de liberdade econômica no mundo.
Pode-se até argumentar contra o caráter "ideológico" dessas avaliações -- elas certamente comportam algum grau de subjetividade, embora muitos dos critérios utilizados sejam estatisticamente aferíveis, isto é, se baseiam em dados econômicos objetivos, com toda a quantificação requerida a partir de fontes oficiais --, mas elas comportam algumas considerações de fato que não seria recomendável descartar.
Por exemplo, na América Latina o único país que tem crescido sistematicamente nos últimos quinze anos é o Chile, cujas políticas caminham, justamente, no sentido oposto ao que aparece recomendado atualmente por líderes carismáticos ou salvacionistas (quando não populistas).
Por isso eu recomendaria a leitura desses dois relatórios que apresento a seguir:
1) Index of Economic Freedom 2007
Heritage Foundation/The Wall Street Journal
Disponível neste link: www.heritage.org/Index
Veja o artigo de Mary Anastasia O"Grady no The Wall Street Journal, neste link.
Para um "audio presentation", clique aqui.
2) Economic Freedom of the World 2006
Cato Institute, Washington
Link: http://www.cato.org/pubs/efw/index.html
A seguir algumas informações sobre cada uma das publicações:
1) Index of Economic Freedom 2007
co-editors: Mary Anastasia O"Grady, Tim Kane and Kim R. Holmes
Ver, em especial, o capítulo 1, de autoria do economista catalão da Columbia University e especialista reconhecido em crescimento econômico, Xavier Sala-i-Martin: "Global Inequality Fades as the Global Economy Grows".
A renowned expert on economic growth challenges the confusion about growing global inequality among individuals. Comparing countries and comparing individuals within those countries is akin to the classic problem of mixing apples and oranges. World data showing a surge of prosperity is a powerful and impeccable lesson for all of us.
O capítulo 2 também é importante pelo aspecto da luta contra o desemprego:
The Urgent Need for Labor Freedom in Europe—and the World
Johnny Munkhammar
After centuries of economic leadership, Europe must now face the truth that its governing institutions—especially its labor markets—are deeply flawed. Those who finally took to the streets, native and immigrant citizens alike, were severely affected by unemployment.
We Europeans are clearly at a crossroads. Either we look to the future and learn from successful market-oriented reforms, or we look back to the past and continue trying to shield old occupations from international economics. It is a choice between openness and protectionism, between modernization and nostalgia—indeed, between government intervention and freedom itself. The problems of Europe are not born overseas, but are innate to the process of internal economic development and change. That is why a tighter adherence to a failing model will only exacerbate current problems and lead to more unrest in European cities.
2) Economic Freedom of the World 2006
By James Gwartney and Robert Lawson with William Easterly
The foundations of economic freedom are personal choice, voluntary exchange, and open markets. As Adam Smith, Milton Friedman, and Friedrich Hayek have stressed, freedom of exchange and market coordination provide the fuel for economic progress. Without exchange and entrepreneurial activity coordinated through markets, modern living standards would be impossible.
Potentially advantageous exchanges do not always occur. Their realization is dependent on the presence of sound money, rule of law, and security of property rights, among other factors. Economic Freedom of the World seeks to measure the consistency of the institutions and policies of various countries with voluntary exchange and the other dimensions of economic freedom. The report is copublished by the Cato Institute, the Fraser Institute in Canada and more than 70 think tanks around the world.
Quem desejar ter acesso a dossiês compilados por mim em torno desses dois relatórios, basta pedir diretamente.
Quando se observa, em especial na América Latina, uma campanha ruidosa contra o neoliberalismo, que teria sido responsável, segundo os promotores dessa campanha, por tudo de errado que aconteceu no continente nas últimas décadas, talvez seja útil recomendar a leitura de alguns relatórios sobre o grau de liberdade econômica no mundo.
Pode-se até argumentar contra o caráter "ideológico" dessas avaliações -- elas certamente comportam algum grau de subjetividade, embora muitos dos critérios utilizados sejam estatisticamente aferíveis, isto é, se baseiam em dados econômicos objetivos, com toda a quantificação requerida a partir de fontes oficiais --, mas elas comportam algumas considerações de fato que não seria recomendável descartar.
Por exemplo, na América Latina o único país que tem crescido sistematicamente nos últimos quinze anos é o Chile, cujas políticas caminham, justamente, no sentido oposto ao que aparece recomendado atualmente por líderes carismáticos ou salvacionistas (quando não populistas).
Por isso eu recomendaria a leitura desses dois relatórios que apresento a seguir:
1) Index of Economic Freedom 2007
Heritage Foundation/The Wall Street Journal
Disponível neste link: www.heritage.org/Index
Veja o artigo de Mary Anastasia O"Grady no The Wall Street Journal, neste link.
Para um "audio presentation", clique aqui.
2) Economic Freedom of the World 2006
Cato Institute, Washington
Link: http://www.cato.org/pubs/efw/index.html
A seguir algumas informações sobre cada uma das publicações:
1) Index of Economic Freedom 2007
co-editors: Mary Anastasia O"Grady, Tim Kane and Kim R. Holmes
Ver, em especial, o capítulo 1, de autoria do economista catalão da Columbia University e especialista reconhecido em crescimento econômico, Xavier Sala-i-Martin: "Global Inequality Fades as the Global Economy Grows".
A renowned expert on economic growth challenges the confusion about growing global inequality among individuals. Comparing countries and comparing individuals within those countries is akin to the classic problem of mixing apples and oranges. World data showing a surge of prosperity is a powerful and impeccable lesson for all of us.
O capítulo 2 também é importante pelo aspecto da luta contra o desemprego:
The Urgent Need for Labor Freedom in Europe—and the World
Johnny Munkhammar
After centuries of economic leadership, Europe must now face the truth that its governing institutions—especially its labor markets—are deeply flawed. Those who finally took to the streets, native and immigrant citizens alike, were severely affected by unemployment.
We Europeans are clearly at a crossroads. Either we look to the future and learn from successful market-oriented reforms, or we look back to the past and continue trying to shield old occupations from international economics. It is a choice between openness and protectionism, between modernization and nostalgia—indeed, between government intervention and freedom itself. The problems of Europe are not born overseas, but are innate to the process of internal economic development and change. That is why a tighter adherence to a failing model will only exacerbate current problems and lead to more unrest in European cities.
2) Economic Freedom of the World 2006
By James Gwartney and Robert Lawson with William Easterly
The foundations of economic freedom are personal choice, voluntary exchange, and open markets. As Adam Smith, Milton Friedman, and Friedrich Hayek have stressed, freedom of exchange and market coordination provide the fuel for economic progress. Without exchange and entrepreneurial activity coordinated through markets, modern living standards would be impossible.
Potentially advantageous exchanges do not always occur. Their realization is dependent on the presence of sound money, rule of law, and security of property rights, among other factors. Economic Freedom of the World seeks to measure the consistency of the institutions and policies of various countries with voluntary exchange and the other dimensions of economic freedom. The report is copublished by the Cato Institute, the Fraser Institute in Canada and more than 70 think tanks around the world.
Quem desejar ter acesso a dossiês compilados por mim em torno desses dois relatórios, basta pedir diretamente.
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