Homenagem de Mauricio Dias David a Marcio Moreira Alves
05/03/2009
Márcio Moreira Alves, o Marcito dos familiares e amigos, está de partida... Após anos de sofrimentos que levaram a quase impossibilidade do convívio com a legião de amigos queridos que havia sabido construir ao longo da sua existencia, e dos dolorosos meses finais de silêncio imposto pelas sequelas do seu AVC, o nosso querido e inestimável Marcito já está tendo desligadas as sondas, os aparelhos, a vida artificial... Só nos resta fazer uma grande cadeia de orações e de pensamento positivo para que tenha um desenlace doce e tranquilo...
Seu nome está inscrito ma história brasileira. Mas êle foi, acima de tudo, um jornalista. Um dos melhores que o Brasil já teve. Prêmio Esso de Jornalismo aos 22 anos, pela cobertura para o Correio da Manhã do fato político de repercussão nacional do tiroteio na Assembléia de Alagoas durante a votação do impeachment do governador Munhoz Falcão - no qual resultou ferido por uma bala perdida em pleno recinto da Assembléia - Marcito se rencontrou com o jornalismo já na década final da sua vida, como colunista político respeitado, primeiro do Estado de São Paulo, depois do jornal O Globo.
Vindo de uma família quatrocentona, de fazendeiros ex-donos de escravos e da qual saíram dois presidentes da República, foi no campo da política o traidor par excellence da sua classe de origem. A piada sempre correu no meio político e entre seus amigos mais chegados : por ocasião do golpe militar de 64 - que apoiou nos seus primórdios - teria sido visto falando com aquele seu jeito incorrigível de menino mimado : " titio me disse que..." , Bem, o "titio" era o velho líder da chamada banda de música da velha UDN, Afonso Arinos, o homem dos discursos mais virulentos em contra do presidente Vargas, na crise de 64, o mais ínsigne dos líderes históricos da rançosa UDN... (diga-se de passagem que, ao final da sua vida, Afonso Arinos foi um homem de uma correção extraordinária, relator da Comisão de Notáveis que redigiu o anteprojeto da Constituição. em 1987, um dos fundadores do PSDB ainda social-democrata).
Marcito foi uma das primeiras vozes que, após a consolidação do golpe militar, se levantou para combater as violencias e ilegalidades do novo regime. Escreveu os primeiros livros com as denúncias das torturas que se cometiam nos calabouços e nos quartéis. E também, com a sua sensibilidade de formação católica (sua mãe, a Dona Branca, era conselheira do Papa no Vaticano) foi um dos primeiros a perceber a importancia da renovação da Igreja pós-concílio Vaticano II e a descrever a Igreja dos pobres que surgia e se consolidava por todo o Brasil e América Latina.
Eleito deputado em 1966, esteve na raiz do pretexto militar para o "golpe dentro do golpe" : os seus discursos na Câmara conclamando às namoradas dos jovens cadetes a boicotar os desfiles militares do Sete de Setembro foi o estopim para a ira da linha dura militar que culminou com a quase deposição de Costa e Silva e a decretação do AI-5, Pretextos, pretextos, pretextos...
Refugiado no Chile (onde pude com êle estreitar a amizade e a convivencia, depois que , juntamente com a minha companheira Beatriz, pudemos sair do Brasil clandestinamente em 1969 com a ajuda, entre outros, de um outro homem notável que foi o seu pai, Dr. Márcio Alves), em 1970 transferiu-se para a França. Marie, sua companheira de então, era uma aristocrata fancesa nobre de sangue mas acima de tudo nobre de carácter e dignidade. O casamento deles, nos anos 50, parecia um conto de fadas : realizado em um castelo da família de Marie, no sul da França, foi um acontecimento das mil e uma noites...
Pois este homem foi sempre um "traidor" da sua classe. No combate às torturas e à repressão dos regimes militares na América Latina e no Brasil torrnou-se homem de esquerda e de convicções que jamais abandonou posteriormente.
Mudou-se para Paris para Lisboa atraído pela movimentação política e social após a Revolução dos Cravos e somente pode retornar ao Brasil (era um dos homens mais odiados pelos setores duros do regime militar) com a Anistia de 1979. Eu havia retornado ao Brasil alguns meses antes e tive a oportunidade de recebê-lo no aeroporto e de participar, junto com a sua família, da alegria das festas em sua recepção no retorno à Pátria.
Nunca fomos próximos politicamente. Mas nunca deixamos que as divergencias políticas contaminassem o nosso respeito e amizade recíprocos.
Quando for escrever as minhas memórias, muitos e muitos episódios curiosos e interessantes da convivencia com o Marcito vão ocupar bastante espaço, Que figuraça !
Montamos juntos no Chile e França um comitê para a divulgação das torturas e crimes políticos que se cometiam no Brasil, juntamente com o José Serra, a Tetê Morais, o Sérgio então companheiro da Tetê que tão tragicamente desapareceu na angústia dos desminhos do Brasil, e tantos companheiros mais. Publicávamos um boletim de nome infeliz - FBI, Frente Brasileño de Informaciones, em sua versão em espanhol, e Front Brésilien d'Information, em francês, que por muito tempo era a única fonte externa de divulgação sobre o que se passava nos subterraneos do "milagre brasileiro". Muitos de nós pagam até hoje um duro preço por esta atividade que se fazia na clandestinidade, cercada do maior sigilo. Durante muito tempo as reuniões semanais se faziam na minha casa, no centro de Santiago, em frente ao prédio central da Universidad Católica - onde eu e Beatriz estudávanos - em reuniões comandadas pelo José Serra... Que figura também o Serra, outro que proporcionará algumas histórias muito divertidas em minhas memórias...
Mas Marcito tinha, acima de tudo, uma vocação de jornalista. Creio que foi no espaço das suas colunas no Estadão e posteriormente no Globo que terminou por ser, nos últimos anos, o substituto do grande Castelinho dos bons temços do JB. Voltou a ser a voz escutada e reconhecida, cortejado pelo mundo político, observador implacável dos grandes fatos da vida política nacional. O papel que exerceu vem sendo desempenhado agora por outro grande jornalista - Merval Pereira-, outro homem, outro estilo, mas o mesmo compromisso com o jornalismo independente.
Um amigo comum me disse no dia de ontem, quando lhe dei a notícia do estado terminal do nosso Marcito : "a história do Brasil teria sido diferente se, justamente no momento em que o Marcito teve o seu primeiro AVC - quando começava a desvendar-se a história do mensalão - sua coluna política no Globo continuasse de pé...".
É possível que sim. Mas vou mais além : por uma destas circustancias do Destino que marcam as vidas dos grandes homens, a História do Brasil teria sido distinta sem a presença marcante do Marcito...
Quem o conheceu, saberá as razões de porquê não estou exagerando ao fazer este comentário...
Que Marcito parta em paz para esta nova travessia.. E nestes momentos de dor, o sofrimento por nós compartilhado com Marie - a mãe dos seus filhos, Madalena - sua companheira dedicada, Maria Helena e Branquinha, as irmãs queridas, Leonor, Isabel e Pedro, os filhos que adorava... Que grande homem o Brasil vai perder ! Tenhamo-lo em nossas memórias, para benefício desta e das gerações futuras.
Addendum Paulo Roberto de Almeida:
Comovente testemunho, este do Mauricio.
Conheci o Marcio nos tempos do exílio, anos 1970: encontrei-o primeiro na Bélgica, depois na Itália, outra vez em Colonia e em Paris, sempre nas reunioes do Front Brésilien d'Information, do qual eu participava junto com outros colegas.
A primeira vez foi na casa do Padre Jan Talpe, quando faziamos uma reuniao do FBI, em Louvain.
Sua tese de doutorado sobre a CNBB é um dos melhores estudos que já li sobre esse partido politico da Igreja Catolica.
Vale a homenagem...
-------------
Paulo Roberto de Almeida
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 5 de março de 2009
quarta-feira, 4 de março de 2009
1030) Metade trabalha, a outra metade recebe...
Algumas verdades muito simples:
Tudo que uma pessoa recebe, sem que tenha trabalhado, virá necessariamente do trabalho de alguém que não receberá por isso.
Um governo não pode dar algo a quem quer que seja, que este mesmo governo não tenha tirado antes de outra pessoa.
Quando metade da população de um país entende que não precisa trabalhar, porque a outra metade da população cuidará e proverá por ela, a metade que se vê obrigada a prover a outra entenderá que não adianta trabalhar, porque o fruto de seu labor não será seu.
E esse, meu amigo, é o fim de qualquer nação.
Não há como multiplicar a riqueza pela subtração.
Não é possível legislar em prol da liberdade dos pobres, legislando de forma a cortar a liberdade dos ricos.
Dr. Adrian Rogers, 1931 - 2005
Tudo que uma pessoa recebe, sem que tenha trabalhado, virá necessariamente do trabalho de alguém que não receberá por isso.
Um governo não pode dar algo a quem quer que seja, que este mesmo governo não tenha tirado antes de outra pessoa.
Quando metade da população de um país entende que não precisa trabalhar, porque a outra metade da população cuidará e proverá por ela, a metade que se vê obrigada a prover a outra entenderá que não adianta trabalhar, porque o fruto de seu labor não será seu.
E esse, meu amigo, é o fim de qualquer nação.
Não há como multiplicar a riqueza pela subtração.
Não é possível legislar em prol da liberdade dos pobres, legislando de forma a cortar a liberdade dos ricos.
Dr. Adrian Rogers, 1931 - 2005
sábado, 28 de fevereiro de 2009
1029) Aviso aos navegantes: fraude com cartao de credito
Interrompo, por uma vez, minha postagem de temas substantivos sobre relações internacionais ou política externa, para postar um aviso de utilidade pública, que recebi de uma lista.
Considero este tipo de informação suficientemente séria para repassá-la como alerta aos distraídos ou incautos, pois eu mesmo já fui contatado pela minha administradora de cartão de crédito, para confirmar alguma compra mais elevada que eu tinha efetivamente feito anteriormente. Supondo-se que algum balconista mal-intencionado possa atuar para alguma gangue do setor, é plausivel que se possa receber um telefonema do tipo descrito abaixo, ao que obviamente a reação normal será confirmar a compra. Mas, ao fazê-lo, ATENÇÃO para não repassar os dados do cartão...
CRIATIVIDADE EXCEPCIONAL. LEIA, POIS É MUITO BEM FEITO E DIFÍCIL DE PEGAR.
Os ladrões estão cada dia mais criativos!
Você recebe uma chamada e a pessoa diz:
- Estamos ligando do Departamento de Segurança da VISA (por exemplo).
Meu nome é 'Fulano' e meu número de identificação funcional é 'tal'...
- O Sr. comprou 'tal coisa' ( qualquer coisa bem estranha, como um 'dispositivo anti-Telemarketing') no valor de R$ 497,99, de uma empresa em Porto Alegre?
É óbvio que você responde que não, ao que se segue:
- 'Provavelmente, seu cartão foi clonado e estamos telefonando para verificar. Se isto for confirmado, estaremos emitindo um crédito ao seu favor.. Antes de processar o crédito , gostaríamos de confirmar alguns dados: o seu endereço é tal?' (Isto pode ser encontrado facilmente das listas telefônicas via Internet).
Ao você responder que sim, o golpista continua:
- 'Qualquer pergunta que o Sr. tenha, deverá chamar o número 0-800 que se encontra na parte traseira de seu cartão e falar com nosso Departamento de Segurança.
- Por favor, anote o seguinte número de protocolo '...
O bandido lhe dá então um número de 6 dígitos e pede:
- 'O Sr. poderia lê-lo para confirmar?'
Aqui vem a parte mais importante da fraude.
Ele diz então:
- 'Desculpe, mas temos que nos certificar de que o Sr.. está de posse de seu cartão. Por favor, pegue seu cartão e leia para mim o seu número'.
Feito isto, ele continua:
- 'Correto. Agora vire o seu cartão e leia, por favor, os 3 últimos números (ou 4 dependendo do cartão)'.
Estes são os seus 'Números de Segurança' (Pin Number), que você usa para fazer compras via Internet, para provar que está com o cartão!
Depois que você informa os referidos números, ele diz:
- 'Correto! Entenda que era necessário verificar que o seu cartão não estava perdido nem tinha sido roubado, e que o Sr. estava com ele em seu poder. Isso confirma que o seu cartão foi mesmo clonado, infelizmente.
- O Sr. teria alguma outra pergunta?'
Depois que você diz que não, o ladrão agradece e desliga.
Provavelmente, em menos de 10 minutos, uma compra via internet será lançada no seu cartão, e muitas outras, caso você não perceba a fraude até a chegada do extrato..
Como se proteger desta ação criminal?
É quase inútil fazer denuncias à polícia.
Até nos USA é difícil o rastreamento destas ligações.. Caso receba
este tipo de ligação, você pode falar para o bandido desligar que você mesmo fará a ligação para o 0800 da sua operadora.
Mas, mesmo que você desligue, fica claro que a melhor maneira é estar alerta e comunicar a todo o mundo sobre a existência de mais este golpe.
Assim sendo, por favor, passe isto a todos seus amigos ...com Cópia Oculta(CCO).
A informação é a nossa proteção!
Considero este tipo de informação suficientemente séria para repassá-la como alerta aos distraídos ou incautos, pois eu mesmo já fui contatado pela minha administradora de cartão de crédito, para confirmar alguma compra mais elevada que eu tinha efetivamente feito anteriormente. Supondo-se que algum balconista mal-intencionado possa atuar para alguma gangue do setor, é plausivel que se possa receber um telefonema do tipo descrito abaixo, ao que obviamente a reação normal será confirmar a compra. Mas, ao fazê-lo, ATENÇÃO para não repassar os dados do cartão...
CRIATIVIDADE EXCEPCIONAL. LEIA, POIS É MUITO BEM FEITO E DIFÍCIL DE PEGAR.
Os ladrões estão cada dia mais criativos!
Você recebe uma chamada e a pessoa diz:
- Estamos ligando do Departamento de Segurança da VISA (por exemplo).
Meu nome é 'Fulano' e meu número de identificação funcional é 'tal'...
- O Sr. comprou 'tal coisa' ( qualquer coisa bem estranha, como um 'dispositivo anti-Telemarketing') no valor de R$ 497,99, de uma empresa em Porto Alegre?
É óbvio que você responde que não, ao que se segue:
- 'Provavelmente, seu cartão foi clonado e estamos telefonando para verificar. Se isto for confirmado, estaremos emitindo um crédito ao seu favor.. Antes de processar o crédito , gostaríamos de confirmar alguns dados: o seu endereço é tal?' (Isto pode ser encontrado facilmente das listas telefônicas via Internet).
Ao você responder que sim, o golpista continua:
- 'Qualquer pergunta que o Sr. tenha, deverá chamar o número 0-800 que se encontra na parte traseira de seu cartão e falar com nosso Departamento de Segurança.
- Por favor, anote o seguinte número de protocolo '...
O bandido lhe dá então um número de 6 dígitos e pede:
- 'O Sr. poderia lê-lo para confirmar?'
Aqui vem a parte mais importante da fraude.
Ele diz então:
- 'Desculpe, mas temos que nos certificar de que o Sr.. está de posse de seu cartão. Por favor, pegue seu cartão e leia para mim o seu número'.
Feito isto, ele continua:
- 'Correto. Agora vire o seu cartão e leia, por favor, os 3 últimos números (ou 4 dependendo do cartão)'.
Estes são os seus 'Números de Segurança' (Pin Number), que você usa para fazer compras via Internet, para provar que está com o cartão!
Depois que você informa os referidos números, ele diz:
- 'Correto! Entenda que era necessário verificar que o seu cartão não estava perdido nem tinha sido roubado, e que o Sr. estava com ele em seu poder. Isso confirma que o seu cartão foi mesmo clonado, infelizmente.
- O Sr. teria alguma outra pergunta?'
Depois que você diz que não, o ladrão agradece e desliga.
Provavelmente, em menos de 10 minutos, uma compra via internet será lançada no seu cartão, e muitas outras, caso você não perceba a fraude até a chegada do extrato..
Como se proteger desta ação criminal?
É quase inútil fazer denuncias à polícia.
Até nos USA é difícil o rastreamento destas ligações.. Caso receba
este tipo de ligação, você pode falar para o bandido desligar que você mesmo fará a ligação para o 0800 da sua operadora.
Mas, mesmo que você desligue, fica claro que a melhor maneira é estar alerta e comunicar a todo o mundo sobre a existência de mais este golpe.
Assim sendo, por favor, passe isto a todos seus amigos ...com Cópia Oculta(CCO).
A informação é a nossa proteção!
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
1028) Tamas Szmrecsányi: uma homenagem a um Scholar
Conheci Tamas e com ele interagi em diversas ocasiões. Sou inclusive devedor: lembro-me de ter feito uma aposta com ele a propósito de um resultado eleitoral. Ele ganhou. Eu lhe havia prometido pagar um jantar. Não tivemos a oportunidade de liquidar essa conta, mas pretendo render-lhe minha homenagem no devido momento.
Abaixo, o preito feito por um colega acadêmico.
PRA
Homenagem
Amílcar Baiardi
Desde o dia 16 de fevereiro de 2009 a comunidade científica brasileira se vê desfalcada de um de seus membros mais ativos, o professor da Unicamp Tamás József Márton Károly Szmrecsányi.
Tamás foi um intelectual completo e também um "institutional builder" de porte, além de uma figura humana extraordinária. Gerações de estudantes de graduação e de pós-graduação foram seus alunos. Teve dezenas de orientandos de mestrado e doutorado e também foi confrade de milhares de afiliados de associações científicas que ele criou ou ajudou a criar.
Nas atividades de pesquisa, do mesmo modo, conviveu com centenas de pares, destacando-se pela liderança espontânea, pela capacidade de contribuir e de criticar de forma sempre construtiva.
Húngaro de nascimento e brasileiro por opção, Tamás acompanhou seus pais que imigraram para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial, indo viver na cidade de SP. Concluiu nesta cidade seus estudos secundários e muito cedo se familiarizou com o idioma português, a ponto de ser redator de jornais e revistas de grande circulação.
Graduou-se em Filosofia pela Universidade de SP em 1961, concluiu o mestrado em Economia pela New School for Social Research, de Nova Iorque, em 1969, o doutorado em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, em 1976, e, finalizando sua titulação acadêmica, realizou a tese de livre docência, também pela Unicamp, em 1985.
Tamás foi professor da USP, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), e na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), e da Unicamp, no Instituto de Economia (IE) e no Instituto de Geociências (IG).
Sua última função de docência foi a de professor titular de História Social da Ciência e da Tecnologia no IG-Unicamp, onde se aposentou em 2001, mas ali permaneceu como professor e pesquisador voluntário, colaborando igualmente na editora dessa Universidade. No exterior, Tamás foi professor associado, visiting fellow, no Latin American Centre do St. Antony's College da University of Oxford, ocupando a cátedra Sergio Buarque de Holanda, em 1990, professor visitante da Universidade de Toulouse 1, em 1991/92, e da Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, Flacso, Equador, em 1995.
Atuou como pesquisador da Fapesp e do CNPq e na USP colaborou com o Instituto de Estudos Avançados, como membro da Comissão de Assuntos Internacionais e do Conselho Editorial da revista do IEA.
Tamás foi autor de inúmeros livros e capítulos de livros e de centenas de artigos e "papers" publicados no Brasil, Estados Unidos, França, Inglaterra, México, Argentina, Colômbia e Equador. No campo editorial sua contribuição foi extraordinária, tendo sido fundador de periódicos científicos, membro de conselhos editoriais de revistas científicas nacionais e internacionais, membro de conselhos de editoras, diretor e organizador de coleções de História do Brasil e de História Econômica Brasileira em vários períodos, além de coautor, tradutor, prefaciador e apresentador de numerosos trabalhos científicos e de divulgação científica.
Na área de associativismo científico, Tamás foi protagonista da criação da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE), sendo seu primeiro presidente e conselheiro vitalício. Também foi membro, especialmente ativo no âmbito da América Latina, do Comitê Executivo da International Economic History Association.
Em alguns casos foi coadjuvante de criação e reestruturação de associações como a SBHC, Abra, Abep, Sober, SBPC, Ordem dos Economistas de SP etc, bem como membro de várias associações internacionais, entre elas a Associação Mexicana de História Econômica.
Tamás deu aos que lhe conheceram os melhores exemplos na esfera do fazer ciência e no âmbito das relações humanas. Deixa no mundo acadêmico uma lacuna difícil de ser preenchida.
Abaixo, o preito feito por um colega acadêmico.
PRA
Homenagem
Amílcar Baiardi
Desde o dia 16 de fevereiro de 2009 a comunidade científica brasileira se vê desfalcada de um de seus membros mais ativos, o professor da Unicamp Tamás József Márton Károly Szmrecsányi.
Tamás foi um intelectual completo e também um "institutional builder" de porte, além de uma figura humana extraordinária. Gerações de estudantes de graduação e de pós-graduação foram seus alunos. Teve dezenas de orientandos de mestrado e doutorado e também foi confrade de milhares de afiliados de associações científicas que ele criou ou ajudou a criar.
Nas atividades de pesquisa, do mesmo modo, conviveu com centenas de pares, destacando-se pela liderança espontânea, pela capacidade de contribuir e de criticar de forma sempre construtiva.
Húngaro de nascimento e brasileiro por opção, Tamás acompanhou seus pais que imigraram para o Brasil após a Segunda Guerra Mundial, indo viver na cidade de SP. Concluiu nesta cidade seus estudos secundários e muito cedo se familiarizou com o idioma português, a ponto de ser redator de jornais e revistas de grande circulação.
Graduou-se em Filosofia pela Universidade de SP em 1961, concluiu o mestrado em Economia pela New School for Social Research, de Nova Iorque, em 1969, o doutorado em Economia pela Universidade Estadual de Campinas, em 1976, e, finalizando sua titulação acadêmica, realizou a tese de livre docência, também pela Unicamp, em 1985.
Tamás foi professor da USP, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), e na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), e da Unicamp, no Instituto de Economia (IE) e no Instituto de Geociências (IG).
Sua última função de docência foi a de professor titular de História Social da Ciência e da Tecnologia no IG-Unicamp, onde se aposentou em 2001, mas ali permaneceu como professor e pesquisador voluntário, colaborando igualmente na editora dessa Universidade. No exterior, Tamás foi professor associado, visiting fellow, no Latin American Centre do St. Antony's College da University of Oxford, ocupando a cátedra Sergio Buarque de Holanda, em 1990, professor visitante da Universidade de Toulouse 1, em 1991/92, e da Facultad Latinoamericana de Ciencias Sociales, Flacso, Equador, em 1995.
Atuou como pesquisador da Fapesp e do CNPq e na USP colaborou com o Instituto de Estudos Avançados, como membro da Comissão de Assuntos Internacionais e do Conselho Editorial da revista do IEA.
Tamás foi autor de inúmeros livros e capítulos de livros e de centenas de artigos e "papers" publicados no Brasil, Estados Unidos, França, Inglaterra, México, Argentina, Colômbia e Equador. No campo editorial sua contribuição foi extraordinária, tendo sido fundador de periódicos científicos, membro de conselhos editoriais de revistas científicas nacionais e internacionais, membro de conselhos de editoras, diretor e organizador de coleções de História do Brasil e de História Econômica Brasileira em vários períodos, além de coautor, tradutor, prefaciador e apresentador de numerosos trabalhos científicos e de divulgação científica.
Na área de associativismo científico, Tamás foi protagonista da criação da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE), sendo seu primeiro presidente e conselheiro vitalício. Também foi membro, especialmente ativo no âmbito da América Latina, do Comitê Executivo da International Economic History Association.
Em alguns casos foi coadjuvante de criação e reestruturação de associações como a SBHC, Abra, Abep, Sober, SBPC, Ordem dos Economistas de SP etc, bem como membro de várias associações internacionais, entre elas a Associação Mexicana de História Econômica.
Tamás deu aos que lhe conheceram os melhores exemplos na esfera do fazer ciência e no âmbito das relações humanas. Deixa no mundo acadêmico uma lacuna difícil de ser preenchida.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
1027) A velha fábula de Noé, atualizada
Não sou responsável pela atualização maldosa desta velha parábola bíblica, que recebi, como acontece com todos hoje em dia, pela internet, de conhecidos e colegas de lista.
Acho que se comete um abuso com nossas autoridades tão responsáveis e precavidas, sobretudo com nossos representantes politicos, sempre preocupados com o bem comum.
Em todo caso, não recebi autorização para mudar a história, nem tenho inspiração para fazê-lo, portanto segue tal qual recebida...
PRA
Arca de Noé (versão adaptada)
Um dia, o Senhor chamou Noé que morava no Brasil e ordenou-lhe: "Dentro de 6 meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que todo o Brasil seja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal. Vai e constrói uma arca de madeira."
No tempo certo, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu. Noé chorava, ajoelhado no quintal de sua casa, quando ouviu a voz do Senhor soar furiosa, entre as nuvens: "Onde está a arca, Noé?"
"Perdoe-me, Senhor, suplicou o homem. Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas: Primeiro tentei obter uma licença da Prefeitura, mas para isto, além das altas taxas para obter o alvará, me pediram ainda uma contribuição para a campanha do PT para eleição do prefeito. Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui empréstimo, mesmo aceitando aquelas taxas de juros. O corpo de bombeiros exigiu um sistema de prevenção de incêndio, mas consegui contornar, subornando um funcionário."
E Noé prosseguiu: "Começaram então os problemas com o IBAMA para a extração da madeira. Eu disse que eram ordens Suas, mas eles só queriam saber se eu tinha um Projeto de Reflorestamento e um tal de Plano de Manejo. Neste meio tempo eles descobriram também uns casais de animais guardados em meu quintal. Além da pesada multa, o fiscal falou em "Prisão Inafiançável" e eu acabei tendo que mata-lo, porque, para este crime a lei é mais branda."
"Quando resolvi começar a obra, na raça, apareceu o CREA e me multou porque eu não tinha um engenheiro naval responsável pela construção. Depois apareceu o Sindicato exigindo que eu contratasse seus marceneiros com garantia de emprego por um ano.Veio em seguida a Receita Federal, falando em "sinais exteriores de riqueza" e também me multou."
"Finalmente, quando a Secretaria do Meio Ambiente pediu o Relatório de Impacto Ambiental sobre a zona a ser inundada,mostrei o mapa do Brasil. Aí, quiseram me internar num hospital psiquiátrico!- Sorte que o INSS estava de greve".
Noé terminou o relato chorando, mas notou que o céu clareava e perguntou: "Senhor, então não irás mais destruir o Brasil? "Não! - respondeu a Voz entre as nuvens - pelo que ouvi de ti, Noé, cheguei tarde! O PT já se encarregou de fazer isso por mim!
Acho que se comete um abuso com nossas autoridades tão responsáveis e precavidas, sobretudo com nossos representantes politicos, sempre preocupados com o bem comum.
Em todo caso, não recebi autorização para mudar a história, nem tenho inspiração para fazê-lo, portanto segue tal qual recebida...
PRA
Arca de Noé (versão adaptada)
Um dia, o Senhor chamou Noé que morava no Brasil e ordenou-lhe: "Dentro de 6 meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que todo o Brasil seja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal. Vai e constrói uma arca de madeira."
No tempo certo, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu. Noé chorava, ajoelhado no quintal de sua casa, quando ouviu a voz do Senhor soar furiosa, entre as nuvens: "Onde está a arca, Noé?"
"Perdoe-me, Senhor, suplicou o homem. Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas: Primeiro tentei obter uma licença da Prefeitura, mas para isto, além das altas taxas para obter o alvará, me pediram ainda uma contribuição para a campanha do PT para eleição do prefeito. Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui empréstimo, mesmo aceitando aquelas taxas de juros. O corpo de bombeiros exigiu um sistema de prevenção de incêndio, mas consegui contornar, subornando um funcionário."
E Noé prosseguiu: "Começaram então os problemas com o IBAMA para a extração da madeira. Eu disse que eram ordens Suas, mas eles só queriam saber se eu tinha um Projeto de Reflorestamento e um tal de Plano de Manejo. Neste meio tempo eles descobriram também uns casais de animais guardados em meu quintal. Além da pesada multa, o fiscal falou em "Prisão Inafiançável" e eu acabei tendo que mata-lo, porque, para este crime a lei é mais branda."
"Quando resolvi começar a obra, na raça, apareceu o CREA e me multou porque eu não tinha um engenheiro naval responsável pela construção. Depois apareceu o Sindicato exigindo que eu contratasse seus marceneiros com garantia de emprego por um ano.Veio em seguida a Receita Federal, falando em "sinais exteriores de riqueza" e também me multou."
"Finalmente, quando a Secretaria do Meio Ambiente pediu o Relatório de Impacto Ambiental sobre a zona a ser inundada,mostrei o mapa do Brasil. Aí, quiseram me internar num hospital psiquiátrico!- Sorte que o INSS estava de greve".
Noé terminou o relato chorando, mas notou que o céu clareava e perguntou: "Senhor, então não irás mais destruir o Brasil? "Não! - respondeu a Voz entre as nuvens - pelo que ouvi de ti, Noé, cheguei tarde! O PT já se encarregou de fazer isso por mim!
sábado, 14 de fevereiro de 2009
1026) Educacao: direito, dever, ou o quê?
Educação ao contrário
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 27 de janeiro de 2009
Clicando no Google a palavra “Educação” seguida da expressão “direito de todos”, encontrei 671 mil referências. Só de artigos acadêmicos a respeito, 5.120. “Educação inclusiva” dá 262 mil respostas. Experimente clicar agora “Educar-se é dever de cada um”: nenhum resultado. “Educar-se é dever de todos”: nenhum resultado. “Educar-se é dever do cidadão”: nenhum resultado.
Isso basta para explicar por que os estudantes brasileiros tiram sempre os últimos lugares nos testes internacionais. A idéia de que educar-se seja um dever jamais parece ter ocorrido às mentes iluminadas que orientam (ou desorientam) a formação (ou deformação) das mentes das nossas crianças.
Eis também a razão pela qual, quando meus filhos me perguntavam por que tinham de ir para a escola, eu só conseguia lhes responder que se não fizessem isso eu iria para a cadeia; que, portanto, deveriam submeter-se àquele ritual absurdo por amor ao seu velho pai. Jamais consegui encontrar outra justificativa. Também lhes recomendei que só se esforçassem o bastante para tirar as notas mínimas, sem perder mais tempo com aquela bobagem. Se quisessem adquirir cultura, que estudassem em casa, sob a minha orientação. Tenho oito filhos. Nenhum deles é inculto. Mas o mais erudito de todos, não por coincidência, é aquele que freqüentou escola por menos tempo.
A idéia de que a educação é um direito é uma das mais esquisitas que já passaram pela mente humana. É só a repetição obsessiva que lhe dá alguma credibilidade. Que é um direito, afinal? É uma obrigação que alguém tem para com você. Amputado da obrigação que impõe a um terceiro, o direito não tem substância nenhuma. É como dizer que as crianças têm direito à alimentação sem que ninguém tenha a obrigação de alimentá-las. A palavra “direito” é apenas um modo eufemístico de designar a obrigação dos outros.
Os outros, no caso, são as pessoas e instituições nominalmente incumbidas de “dar” educação aos brasileiros: professores, pedagogos, ministros, intelectuais e uma multidão de burocratas. Quando essas criaturas dizem que você tem direito à educação, estão apenas enunciando uma obrigação que incumbe a elas próprias. Por que, então, fazem disso uma campanha publicitária? Por que publicam anúncios que logicamente só devem ser lidos por elas mesmas? Será que até para se convencer das suas próprias obrigações elas têm de gastar dinheiro do governo? Ou são tão preguiçosas que precisam incitar a população para que as pressione a cumprir seu dever? Cada tostão gasto em campanhas desse tipo é um absurdo e um crime.
Mais ainda, a experiência universal dos educadores genuínos prova que o sujeito ativo do processo educacional é o estudante, não o professor, o diretor da escola ou toda a burocracia estatal reunida. Ninguém pode “dar” educação a ninguém. Educação é uma conquista pessoal, e só se obtém quando o impulso para ela é sincero, vem do fundo da alma e não de uma obrigação imposta de fora. Ninguém se educa contra a sua própria vontade, no mínimo porque estudar requer concentração, e pressão de fora é o contrário da concentração. O máximo que um estudante pode receber de fora são os meios e a oportunidade de educar-se. Mas isso não servirá para nada se ele não estiver motivado a buscar conhecimento. Gritar no ouvido dele que a educação é um direito seu só o impele a cobrar tudo dos outros – do Estado, da sociedade – e nada de si mesmo.
Se há uma coisa óbvia na cultura brasileira, é o desprezo pelo conhecimento e a concomitante veneração pelos títulos e diplomas que dão acesso aos bons empregos. Isso é uma constante que vem do tempo do Império e já foi abundantemente documentada na nossa literatura. Nessas condições, campanhas publicitárias que enfatizem a educação como um direito a ser cobrado e não como uma obrigação a ser cumprida pelo próprio destinatário da campanha têm um efeito corruptor quase tão grave quanto o do tráfico de drogas. Elas incitam as pessoas a esperar que o governo lhes dê a ferramenta mágica para subir na vida sem que isto implique, da parte delas, nenhum amor aos estudos, e sim apenas o desejo do diploma.
Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 27 de janeiro de 2009
Clicando no Google a palavra “Educação” seguida da expressão “direito de todos”, encontrei 671 mil referências. Só de artigos acadêmicos a respeito, 5.120. “Educação inclusiva” dá 262 mil respostas. Experimente clicar agora “Educar-se é dever de cada um”: nenhum resultado. “Educar-se é dever de todos”: nenhum resultado. “Educar-se é dever do cidadão”: nenhum resultado.
Isso basta para explicar por que os estudantes brasileiros tiram sempre os últimos lugares nos testes internacionais. A idéia de que educar-se seja um dever jamais parece ter ocorrido às mentes iluminadas que orientam (ou desorientam) a formação (ou deformação) das mentes das nossas crianças.
Eis também a razão pela qual, quando meus filhos me perguntavam por que tinham de ir para a escola, eu só conseguia lhes responder que se não fizessem isso eu iria para a cadeia; que, portanto, deveriam submeter-se àquele ritual absurdo por amor ao seu velho pai. Jamais consegui encontrar outra justificativa. Também lhes recomendei que só se esforçassem o bastante para tirar as notas mínimas, sem perder mais tempo com aquela bobagem. Se quisessem adquirir cultura, que estudassem em casa, sob a minha orientação. Tenho oito filhos. Nenhum deles é inculto. Mas o mais erudito de todos, não por coincidência, é aquele que freqüentou escola por menos tempo.
A idéia de que a educação é um direito é uma das mais esquisitas que já passaram pela mente humana. É só a repetição obsessiva que lhe dá alguma credibilidade. Que é um direito, afinal? É uma obrigação que alguém tem para com você. Amputado da obrigação que impõe a um terceiro, o direito não tem substância nenhuma. É como dizer que as crianças têm direito à alimentação sem que ninguém tenha a obrigação de alimentá-las. A palavra “direito” é apenas um modo eufemístico de designar a obrigação dos outros.
Os outros, no caso, são as pessoas e instituições nominalmente incumbidas de “dar” educação aos brasileiros: professores, pedagogos, ministros, intelectuais e uma multidão de burocratas. Quando essas criaturas dizem que você tem direito à educação, estão apenas enunciando uma obrigação que incumbe a elas próprias. Por que, então, fazem disso uma campanha publicitária? Por que publicam anúncios que logicamente só devem ser lidos por elas mesmas? Será que até para se convencer das suas próprias obrigações elas têm de gastar dinheiro do governo? Ou são tão preguiçosas que precisam incitar a população para que as pressione a cumprir seu dever? Cada tostão gasto em campanhas desse tipo é um absurdo e um crime.
Mais ainda, a experiência universal dos educadores genuínos prova que o sujeito ativo do processo educacional é o estudante, não o professor, o diretor da escola ou toda a burocracia estatal reunida. Ninguém pode “dar” educação a ninguém. Educação é uma conquista pessoal, e só se obtém quando o impulso para ela é sincero, vem do fundo da alma e não de uma obrigação imposta de fora. Ninguém se educa contra a sua própria vontade, no mínimo porque estudar requer concentração, e pressão de fora é o contrário da concentração. O máximo que um estudante pode receber de fora são os meios e a oportunidade de educar-se. Mas isso não servirá para nada se ele não estiver motivado a buscar conhecimento. Gritar no ouvido dele que a educação é um direito seu só o impele a cobrar tudo dos outros – do Estado, da sociedade – e nada de si mesmo.
Se há uma coisa óbvia na cultura brasileira, é o desprezo pelo conhecimento e a concomitante veneração pelos títulos e diplomas que dão acesso aos bons empregos. Isso é uma constante que vem do tempo do Império e já foi abundantemente documentada na nossa literatura. Nessas condições, campanhas publicitárias que enfatizem a educação como um direito a ser cobrado e não como uma obrigação a ser cumprida pelo próprio destinatário da campanha têm um efeito corruptor quase tão grave quanto o do tráfico de drogas. Elas incitam as pessoas a esperar que o governo lhes dê a ferramenta mágica para subir na vida sem que isto implique, da parte delas, nenhum amor aos estudos, e sim apenas o desejo do diploma.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
1025) Mais uma falacia academica comentada
Tenho uma lista preliminar de 20 ou 30 'falácias' para comentar, que vou elaborar progressivamente. Mais recentemente foi publicada a quinta da série:
O mito do complô dos países ricos contra o desenvolvimento dos países pobres
“Falácias acadêmicas, 5" (Brasília, 20 janeiro 2009, 11 p., 1976)
Continuação da série, tratando desta vez das teses do economista Ha-Joon Chang. Publicado em Espaço Acadêmico (ano 8, n. 93, fevereiro 2009; link). Relação de Publicados n. 889.
O mito do complô dos países ricos contra o desenvolvimento dos países pobres
“Falácias acadêmicas, 5" (Brasília, 20 janeiro 2009, 11 p., 1976)
Continuação da série, tratando desta vez das teses do economista Ha-Joon Chang. Publicado em Espaço Acadêmico (ano 8, n. 93, fevereiro 2009; link). Relação de Publicados n. 889.
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