Reunião de representantes de brasileiros no exterior, em Nova York
Vale a participação, não apenas pelo café Starbucks...
(Convite recebido de Domicio Coutinho, de NY)
Temos os prazer de convidar nossos membros, associados, demais brasileiros e brasilianistas residentes em Nova York a virem participar, no dia 18 de setembro às 7:00 pm da conferência dos três membros do Conselho Provisório, Álvaro Lins (Boston), Silair Almeida (Miami) e Thais Bell (São Francisco). Escolhidos na I Conferência de “Brasileiros no Mundo” que teve lugar no ano passado no Palácio do Itamaraty, como representantes de todas as comunidades brasileiras dos Estados Unidos para ouvir, anotar, coordenar as sugestões, demandas, emergências e sobreavisos vários, relativos às necessidades, interesses e benesses inerentes e privilégio indispensável à cidadania, neste seu estado de diáspora.
Cônscios de que Nova York constitui relevante concentração e vivência de brasileiros em todas as categorias, de simples obreiros manuais e prendas domésticas, aos altos executivos, acadêmicos e representantes da cultura artística e popular, a voz dos brasileiros de Nova York não pode deixar de ser ouvida e anotada. Os três membros do Conselho supracitados sabem disso e por isso nos querem ouvir. Teremos entre nós a presença do nosso Embaixador, S. Ex.a Osmar Chohfi, ou seu representante. Solicitamos encarecidamente o valor de sua presença neste encontro e qualquer sugestão que nos possa oferecer será bem-vinda. Favor nos enviar um RSVP o mais cedo possível. O evento terá lugar na BEA – Brasilian Endowment for the Arts, no número 240 East, 52nd Street, (entre a Segunda e Terceira Avenidas) às 7:00 pm
NB. Durante todo o evento, terão à sua disposição água e café Starbucks.
Brazilian Endowment for the Arts
www.brazilianendowment.org
(212) 371-1556
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
1345) A via "chinesa" de volta ao capitalismo tentada por Cuba
O único problema, ao que parece, é que cubanos não são chineses. Minha impressão pessoal é que não vai dar certo, e que a perestroika cubana vai ser um desastre, econômico e político:
Cuba planeja privatização dos serviços do setor de alimentação
Folha de S.Paulo, 2.09.2009
O governo de Cuba planeja descentralizar a venda de alimentos e fechar refeitórios de empresa administrados pelo Estado, como forma de dinamizar a economia e cortar gastos, informaram ontem fontes do governo. Essas são as mais recentes de uma série de medidas descentralizadoras feitas pelo governo de Raúl Castro.
Como compensação pelo fechamento dos comedores, trabalhadores cubanos passarão a ter uma remuneração adicional referente à alimentação.
Em condição de anonimato, uma fonte do governo relatou que a ordem já está pronta para fechar os refeitórios dos ministérios em Havana e para pagar aos empregados mais 15 pesos por dia. Ele disse ainda que, se a medida der certo, outras cantinas poderão ser fechadas na cidade e em todo o país.
Assim como outros países do Caribe, Cuba foi bastante atingida pela crise econômica mundial, que reduziu os recursos das exportações e do turismo.
O governo cubano cortou as importações em 30%, assim como 10% do Orçamento, e implantou medidas de economia de energia. A estimativa oficial de crescimento do PIB neste ano caiu de 6% para 1,7%.
A decisão de fechar os refeitórios acontece no momento em que o governo estuda passar para o controle de trabalhadores -por meio de cooperativas- alguns estabelecimentos que vendem alimentos no varejo e aumentar a concessão de licenças para comerciantes privados de alimentos, o que estava congelado nos últimos anos.
Essa é a segunda grande reforma econômica desde a descentralização da agricultura e o empréstimos de terras improdutivas do Estado, anunciados em março.
Segundo um comunicado do Partido Comunista, o líder máximo de Cuba, Raúl Castro, considera a descentralização e a busca de novas fórmulas para liberar o potencial produtivo do país ações fundamentais para a política econômica até o fim do ano e para 2010.
Em um recente encontro de contadores a portas fechadas, o ministro do Planejamento e da Economia pareceu ter defendido o sistema cooperativista ou até o de pequenos negócios privados. O ministério se tornou o centro dos esforços para melhorar a economia desde que Raúl substituiu em março todo o gabinete econômico herdado de seu irmão Fidel Castro.
Com agências internacionais
Cuba planeja privatização dos serviços do setor de alimentação
Folha de S.Paulo, 2.09.2009
O governo de Cuba planeja descentralizar a venda de alimentos e fechar refeitórios de empresa administrados pelo Estado, como forma de dinamizar a economia e cortar gastos, informaram ontem fontes do governo. Essas são as mais recentes de uma série de medidas descentralizadoras feitas pelo governo de Raúl Castro.
Como compensação pelo fechamento dos comedores, trabalhadores cubanos passarão a ter uma remuneração adicional referente à alimentação.
Em condição de anonimato, uma fonte do governo relatou que a ordem já está pronta para fechar os refeitórios dos ministérios em Havana e para pagar aos empregados mais 15 pesos por dia. Ele disse ainda que, se a medida der certo, outras cantinas poderão ser fechadas na cidade e em todo o país.
Assim como outros países do Caribe, Cuba foi bastante atingida pela crise econômica mundial, que reduziu os recursos das exportações e do turismo.
O governo cubano cortou as importações em 30%, assim como 10% do Orçamento, e implantou medidas de economia de energia. A estimativa oficial de crescimento do PIB neste ano caiu de 6% para 1,7%.
A decisão de fechar os refeitórios acontece no momento em que o governo estuda passar para o controle de trabalhadores -por meio de cooperativas- alguns estabelecimentos que vendem alimentos no varejo e aumentar a concessão de licenças para comerciantes privados de alimentos, o que estava congelado nos últimos anos.
Essa é a segunda grande reforma econômica desde a descentralização da agricultura e o empréstimos de terras improdutivas do Estado, anunciados em março.
Segundo um comunicado do Partido Comunista, o líder máximo de Cuba, Raúl Castro, considera a descentralização e a busca de novas fórmulas para liberar o potencial produtivo do país ações fundamentais para a política econômica até o fim do ano e para 2010.
Em um recente encontro de contadores a portas fechadas, o ministro do Planejamento e da Economia pareceu ter defendido o sistema cooperativista ou até o de pequenos negócios privados. O ministério se tornou o centro dos esforços para melhorar a economia desde que Raúl substituiu em março todo o gabinete econômico herdado de seu irmão Fidel Castro.
Com agências internacionais
1344) Russia reconhece que o pacto nazi-sovietico de 1939 foi "imoral"
Demorou, para chegarem a esta conclusão...
PUTIN DIZ QUE PACTO URSS E ALEMANHA NAZI FOI IMORAL!
H. Pmeraniec - Clarin - Polônia, 01.09.2009
Aos 70 anos do início da segunda guerra mundial, o primeiro-ministro russo condenou o pacto Hitler-Stalin, firmado em 1939, dias antes da invasão da Polônia, chamando-o de "imoral". "O pacto Molotov-Ribbentrop, firmado em agosto de 1939, pode ser condenado sem nenhuma dúvida e com toda a razão", escreveu Putin em artigo no jornal polonês Gazeta Wyborcza. Mas explicou que as razões estariam nas boas relações dos governos europeus com a Alemanha nazi. Putin reconheceu o papel dos poloneses, pois a agressão nazi provocou a morte de 20% da população do país. Veja imagens russas de época em 50 segundos. Clique abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=UkLP4gG-Ob0
PUTIN DIZ QUE PACTO URSS E ALEMANHA NAZI FOI IMORAL!
H. Pmeraniec - Clarin - Polônia, 01.09.2009
Aos 70 anos do início da segunda guerra mundial, o primeiro-ministro russo condenou o pacto Hitler-Stalin, firmado em 1939, dias antes da invasão da Polônia, chamando-o de "imoral". "O pacto Molotov-Ribbentrop, firmado em agosto de 1939, pode ser condenado sem nenhuma dúvida e com toda a razão", escreveu Putin em artigo no jornal polonês Gazeta Wyborcza. Mas explicou que as razões estariam nas boas relações dos governos europeus com a Alemanha nazi. Putin reconheceu o papel dos poloneses, pois a agressão nazi provocou a morte de 20% da população do país. Veja imagens russas de época em 50 segundos. Clique abaixo:
http://www.youtube.com/watch?v=UkLP4gG-Ob0
1343) As 50 melhores universidades do mundo
As vinte primeiras são todas americanas. A primeira "estrangeira" é a Cambridge, em 22o. lugar. Bem, já sei onde vou dar aulas, depois que cansar das universidades brasileiras...
Top 6000 Universities
POSITION
WORLD RANK UNIVERSITY COUNTRY SIZE VISIBILITY RICH FILES SCHOLAR
1 Massachusetts Institute of Technology us 2 1 1 7
2 Harvard University ** us 7 2 12 1
3 Stanford University us 4 4 2 24
4 University of California Berkeley us 8 3 5 32
5 Cornell University us 1 5 9 37
6 University of Wisconsin Madison us 3 10 6 71
7 University of Minnesota us 6 15 7 22
8 California Institute of Technology ** us 18 6 20 30
9 University of Illinois Urbana Champaign * us 17 7 13 51
10 University of Michigan us 10 8 18 55
11 University of Texas Austin us 12 11 8 44
12 University of Washington us 22 9 4 94
13 University of Chicago us 42 16 44 2
14 Carnegie Mellon University us 5 24 3 93
15 University of Pennsylvania us 16 14 33 26
16 Columbia University New York us 19 12 21 95
17 Texas A&M University us 31 31 11 17
18 University of Maryland * us 37 22 17 52
19 University of California Los Angeles us 13 17 26 110
20 Purdue University us 14 34 14 46
21 Johns Hopkins University ** us 59 27 49 3
22 University of Cambridge uk 26 13 70 86
23 Pennsylvania State University ** us 27 29 16 102
24 University of Tokyo jp 32 26 65 31
25 University of Arizona us 20 36 19 134
26 National Taiwan University tw 34 33 79 18
27 University of Florida us 28 40 10 130
28 University of Toronto ca 51 32 42 40
29 Virginia Polytechnic Institute and State University us 11 45 48 38
30 University of North Carolina Chapel Hill us 65 23 22 192
31 Michigan State University us 52 28 23 147
32 New York University us 30 21 40 181
33 North Carolina State University us 9 73 35 42
34 Rutgers University us 23 42 15 176
35 University of California San Diego us 53 30 24 142
36 Yale University us 55 18 61 242
37 University of Pittsburgh us 98 44 34 33
38 Universidade de São Paulo br 76 54 53 20
39 Princeton University us 97 25 36 158
40 University of Virginia us 73 20 37 299
41 University of British Columbia ca 118 37 31 83
42 University of Oxford uk 122 19 51 157
43 Duke University us 75 35 29 163
44 Universidad Nacional Autónoma de México ** mx 61 69 56 21
45 Georgia Institute of Technology us 119 79 25 16
46 Swiss Federal Institute of Technology ETH Zurich ch 84 49 76 43
47 University of Southern California us 49 41 62 135
48 University of Colorado Boulder us 89 43 27 189
49 Kyoto University jp 56 52 157 34
50 University of California Davis us 47 56 32 204
Fonte: Ranking Web of World Universities
Top 6000 Universities
POSITION
WORLD RANK UNIVERSITY COUNTRY SIZE VISIBILITY RICH FILES SCHOLAR
1 Massachusetts Institute of Technology us 2 1 1 7
2 Harvard University ** us 7 2 12 1
3 Stanford University us 4 4 2 24
4 University of California Berkeley us 8 3 5 32
5 Cornell University us 1 5 9 37
6 University of Wisconsin Madison us 3 10 6 71
7 University of Minnesota us 6 15 7 22
8 California Institute of Technology ** us 18 6 20 30
9 University of Illinois Urbana Champaign * us 17 7 13 51
10 University of Michigan us 10 8 18 55
11 University of Texas Austin us 12 11 8 44
12 University of Washington us 22 9 4 94
13 University of Chicago us 42 16 44 2
14 Carnegie Mellon University us 5 24 3 93
15 University of Pennsylvania us 16 14 33 26
16 Columbia University New York us 19 12 21 95
17 Texas A&M University us 31 31 11 17
18 University of Maryland * us 37 22 17 52
19 University of California Los Angeles us 13 17 26 110
20 Purdue University us 14 34 14 46
21 Johns Hopkins University ** us 59 27 49 3
22 University of Cambridge uk 26 13 70 86
23 Pennsylvania State University ** us 27 29 16 102
24 University of Tokyo jp 32 26 65 31
25 University of Arizona us 20 36 19 134
26 National Taiwan University tw 34 33 79 18
27 University of Florida us 28 40 10 130
28 University of Toronto ca 51 32 42 40
29 Virginia Polytechnic Institute and State University us 11 45 48 38
30 University of North Carolina Chapel Hill us 65 23 22 192
31 Michigan State University us 52 28 23 147
32 New York University us 30 21 40 181
33 North Carolina State University us 9 73 35 42
34 Rutgers University us 23 42 15 176
35 University of California San Diego us 53 30 24 142
36 Yale University us 55 18 61 242
37 University of Pittsburgh us 98 44 34 33
38 Universidade de São Paulo br 76 54 53 20
39 Princeton University us 97 25 36 158
40 University of Virginia us 73 20 37 299
41 University of British Columbia ca 118 37 31 83
42 University of Oxford uk 122 19 51 157
43 Duke University us 75 35 29 163
44 Universidad Nacional Autónoma de México ** mx 61 69 56 21
45 Georgia Institute of Technology us 119 79 25 16
46 Swiss Federal Institute of Technology ETH Zurich ch 84 49 76 43
47 University of Southern California us 49 41 62 135
48 University of Colorado Boulder us 89 43 27 189
49 Kyoto University jp 56 52 157 34
50 University of California Davis us 47 56 32 204
Fonte: Ranking Web of World Universities
1342) Petroleo do Pre-Sal: Mais um alerta precaucionario
Petróleo na urna
Editorial da Folha de S. Paulo, 2.09.2009
Governo tenta atropelar Congresso com proposta inconvincente de marco regulatório, repleta de armadilhas estatistas
CONSUMOU-SE , na explicitação dos projetos do Planalto para o pré-sal, a revanche contra a abertura do mercado e contra a quebra do monopólio da Petrobras, efetivadas na década passada. A antecipação do calendário eleitoral, motivada pela iniciativa do presidente Lula de viabilizar a candidatura Dilma Rousseff, atropelou o interesse público.
Propor a tramitação em 90 dias, no regime de urgência constitucional, de um programa que subverte todo o modelo de exploração, tributação, concorrência e partilha de recursos fiscais em curso -e que, além disso, exige emissão de mais R$ 100 bilhões em dívida pública, o equivalente a dois meses de arrecadação federal- é um acinte.
O governo federal e a Petrobras, que passaram 14 meses confabulando para chegar à sua proposta, não são os únicos interessados na discussão. A mudança afeta toda a sociedade, detentora das riquezas do subsolo. A tramitação dos quatro projetos de lei pelo Congresso é a oportunidade de dar a Estados, municípios, trabalhadores, consumidores, empresários, ambientalistas e técnicos o tempo que for necessário para que se façam ouvir.
A precipitação de Lula chega a ser ridícula diante do fato de que não se sabe, com o mínimo de segurança, qual a dimensão da renda petrolífera que se quer, desde já, dividir. A que ponto a província do pré-sal vai elevar as reservas recuperáveis de petróleo do Brasil, hoje em 14 bilhões de barris? A que custo de extração?
Na falta de mapeamento da região de 149 mil km2 (equivalente à área do Ceará), campeia uma incrível dispersão de palpites. De 30 bilhões de barris a 300 bilhões de barris, vai uma diferença oceânica. No primeiro caso, o Brasil apenas administraria pelas próximas décadas a autossuficiência energética já obtida; no outro, seria alçado à condição de potência exportadora.
Em vez de mapear as riquezas antes -até para convencer o público de que seria preciso mudar o modelo-, o governo passou diretamente à fase seguinte. A urgência eleitoral prevaleceu e deu passagem a propostas estatistas de fazer inveja aos "desenvolvimentistas" da ditadura militar.
Na partilha de produção, o governo divide o lucro da empreitada, na forma de óleo, com o consórcio empresarial contratado para explorar os campos. Mas, para chegar ao lucro, é preciso definir antes os custos de cada empreendimento específico, o que não é trivial numa atividade complexa e intensiva em capital como a petrolífera.
O governo cria, então, a Petro-Sal para controlar os custos de cada campo, entre outras funções -como cuidar dos trâmites de comercialização do óleo estatal- que deveriam ser eminentemente técnicas. Capaz de influir em decisões empresariais básicas, caso da contratação de fornecedores, e sujeita a controle político do governo de turno e de sua sempre notória "base aliada", a Petro-Sal seria uma porta escancarada para corrupção, negociatas e privilégios.
Outro ponto vulnerável à politização e à má alocação de recursos, bem como à acomodação típica dos monopólios, é a regra que torna a Petrobras parceira obrigatória da União em todos os campos do pré-sal, com participação mínima de 30%. Dispensada da concorrência, terá no entanto de participar mesmo das empreitadas as quais o cálculo frio recomendaria recusar.
O poder discricionário do Executivo amplia-se também por outros meios. Mesmo fora do pré-sal, onde continuam valendo as regras da concessão -empresas disputam livremente o direito de exploração num processo licitatório, e vence a que oferecer o maior lance-, o governo poderá intervir. Basta que considere, num simples decreto, a região como de "interesse para o desenvolvimento nacional" e ela será retirada da competição.
Além disso, o privilégio já oferecido à Petrobras poderá ser ampliado. A fim de preservar o "interesse nacional", sem definir bem o que isso significa, o governo poderá contratar apenas a Petrobras, sem licitação, para operar determinados campos.
Até aqui o governo Lula não demonstrou que a sua proposta será capaz de assegurar os investimentos necessários para a exploração das novas jazidas petrolíferas. Tomando-se os "chutes" mais conservadores acerca do potencial do pré-sal, não é difícil que essa cifra ultrapasse meio trilhão de dólares -ou 30% do PIB-, diluído ao longo dos anos. O modelo de concessões oferece uma resposta satisfatória a esse problema, pois amplia as fontes de investimento, por meio de uma competição de escala global, e propicia antecipação de receitas ao governo.
A experiência mundial, decerto, mostra que modelos não são decisivos para o sucesso de um país na exploração do petróleo; por vários caminhos e ajustes se chega a um bom arranjo. O fundamental é o governo ampliar, por meio de tributação ou dispositivos análogos, a sua participação na renda gerada pela atividade -e ser proibido, por lei, de torrar os recursos em despesas de custeio. Dadas a rarefação de parâmetros técnicos e a falta de definições que prevalecem na proposta do Planalto sobre o pré-sal, nem isso está garantido.
Por ora, o "passaporte para o futuro" anunciado pelo presidente Lula pouco se distingue de um panfleto eleitoral que já chega embolorado -tal o grau de dirigismo, privilégios e distorções nele estampados.
Editorial da Folha de S. Paulo, 2.09.2009
Governo tenta atropelar Congresso com proposta inconvincente de marco regulatório, repleta de armadilhas estatistas
CONSUMOU-SE , na explicitação dos projetos do Planalto para o pré-sal, a revanche contra a abertura do mercado e contra a quebra do monopólio da Petrobras, efetivadas na década passada. A antecipação do calendário eleitoral, motivada pela iniciativa do presidente Lula de viabilizar a candidatura Dilma Rousseff, atropelou o interesse público.
Propor a tramitação em 90 dias, no regime de urgência constitucional, de um programa que subverte todo o modelo de exploração, tributação, concorrência e partilha de recursos fiscais em curso -e que, além disso, exige emissão de mais R$ 100 bilhões em dívida pública, o equivalente a dois meses de arrecadação federal- é um acinte.
O governo federal e a Petrobras, que passaram 14 meses confabulando para chegar à sua proposta, não são os únicos interessados na discussão. A mudança afeta toda a sociedade, detentora das riquezas do subsolo. A tramitação dos quatro projetos de lei pelo Congresso é a oportunidade de dar a Estados, municípios, trabalhadores, consumidores, empresários, ambientalistas e técnicos o tempo que for necessário para que se façam ouvir.
A precipitação de Lula chega a ser ridícula diante do fato de que não se sabe, com o mínimo de segurança, qual a dimensão da renda petrolífera que se quer, desde já, dividir. A que ponto a província do pré-sal vai elevar as reservas recuperáveis de petróleo do Brasil, hoje em 14 bilhões de barris? A que custo de extração?
Na falta de mapeamento da região de 149 mil km2 (equivalente à área do Ceará), campeia uma incrível dispersão de palpites. De 30 bilhões de barris a 300 bilhões de barris, vai uma diferença oceânica. No primeiro caso, o Brasil apenas administraria pelas próximas décadas a autossuficiência energética já obtida; no outro, seria alçado à condição de potência exportadora.
Em vez de mapear as riquezas antes -até para convencer o público de que seria preciso mudar o modelo-, o governo passou diretamente à fase seguinte. A urgência eleitoral prevaleceu e deu passagem a propostas estatistas de fazer inveja aos "desenvolvimentistas" da ditadura militar.
Na partilha de produção, o governo divide o lucro da empreitada, na forma de óleo, com o consórcio empresarial contratado para explorar os campos. Mas, para chegar ao lucro, é preciso definir antes os custos de cada empreendimento específico, o que não é trivial numa atividade complexa e intensiva em capital como a petrolífera.
O governo cria, então, a Petro-Sal para controlar os custos de cada campo, entre outras funções -como cuidar dos trâmites de comercialização do óleo estatal- que deveriam ser eminentemente técnicas. Capaz de influir em decisões empresariais básicas, caso da contratação de fornecedores, e sujeita a controle político do governo de turno e de sua sempre notória "base aliada", a Petro-Sal seria uma porta escancarada para corrupção, negociatas e privilégios.
Outro ponto vulnerável à politização e à má alocação de recursos, bem como à acomodação típica dos monopólios, é a regra que torna a Petrobras parceira obrigatória da União em todos os campos do pré-sal, com participação mínima de 30%. Dispensada da concorrência, terá no entanto de participar mesmo das empreitadas as quais o cálculo frio recomendaria recusar.
O poder discricionário do Executivo amplia-se também por outros meios. Mesmo fora do pré-sal, onde continuam valendo as regras da concessão -empresas disputam livremente o direito de exploração num processo licitatório, e vence a que oferecer o maior lance-, o governo poderá intervir. Basta que considere, num simples decreto, a região como de "interesse para o desenvolvimento nacional" e ela será retirada da competição.
Além disso, o privilégio já oferecido à Petrobras poderá ser ampliado. A fim de preservar o "interesse nacional", sem definir bem o que isso significa, o governo poderá contratar apenas a Petrobras, sem licitação, para operar determinados campos.
Até aqui o governo Lula não demonstrou que a sua proposta será capaz de assegurar os investimentos necessários para a exploração das novas jazidas petrolíferas. Tomando-se os "chutes" mais conservadores acerca do potencial do pré-sal, não é difícil que essa cifra ultrapasse meio trilhão de dólares -ou 30% do PIB-, diluído ao longo dos anos. O modelo de concessões oferece uma resposta satisfatória a esse problema, pois amplia as fontes de investimento, por meio de uma competição de escala global, e propicia antecipação de receitas ao governo.
A experiência mundial, decerto, mostra que modelos não são decisivos para o sucesso de um país na exploração do petróleo; por vários caminhos e ajustes se chega a um bom arranjo. O fundamental é o governo ampliar, por meio de tributação ou dispositivos análogos, a sua participação na renda gerada pela atividade -e ser proibido, por lei, de torrar os recursos em despesas de custeio. Dadas a rarefação de parâmetros técnicos e a falta de definições que prevalecem na proposta do Planalto sobre o pré-sal, nem isso está garantido.
Por ora, o "passaporte para o futuro" anunciado pelo presidente Lula pouco se distingue de um panfleto eleitoral que já chega embolorado -tal o grau de dirigismo, privilégios e distorções nele estampados.
1341) O petroleo do pre-sal comeca cheirando mal
E, na verdade, ninguém sabe quanto vai custar. Aliás, é típico desse governo tomar decisões sem qualquer processo decisório, isto é, sem saber, ou pelo menos sem apresentar, os custos, os empregos alternativos de capital, os prços de entrada e de saída, enfim, uma base técnica mínima para que se possa fazer conjeturas sobre o acertado da decisão.
Foi assim com o oba-oba em volta do biodiesel de mamona -- eu jamais vi um cálculo sequer quanto ao custo da produção, e como seriam cobertos os acréscimos obrigatórios de 3 e 5% do biodiesel no diesel de petróleo --, foi assim com a bolha do etanol -- que está dando prejuizo a muita gente do setor, pois é, e era, evidente que o mundo não estava preparado para nos nossos zilhões de hectolitros de etanol -- e parece que vai ser assim com o petróleo do pré-sal.
Este governo é especialista em vender a pelo do urso antes de tê-lo matado.
Abaixo uma entrevista com quem entende um pouco mais do que os bárbaros do PCdoB atualmente no comando da ANP.
PRA, 3.09.2009
'A Petro-Sal se torna uma ANP do B'
Entrevista com David Zylbersztajn
O Globo, 02/09/2009
Ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo critica falta de argumentos para mudar regime de concessão
A criação da Petro-Sal e sua influência no controle das atividades ligadas às áreas do pré-sal no regime de partilha lança dúvidas sobre o papel da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no novo modelo, diz o especialista em energia e ex-diretor-geral da ANP David Zylbersztajn. Para ele, a nova estatal será uma espécie de "ANP do B" e essa alteração deverá reduzir o poder da ANP no novo modelo, o que poderá torná-la apenas um braço de auxílio nas futuras licitações. Zylbersztajn também critica a falta de argumentos concretos para que o atual regime de concessão seja substituído pelo de partilha. Para ele, o atual modelo é bem-sucedido, ainda oferece condições de aumento da arrecadação por parte do governo e tornou viável que se chegasse ao pré-sal.
Erica Ribeiro
O GLOBO: Como o senhor vê a atuação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) com as novas regras para o pré-sal?
ZYLBERSZTAJN: A ANP continua atuando, gerindo, dentro do que já está licitado pelo regime de concessão, inclusive as áreas de pré-sal que já passaram pelo processo de licitação, como Tupi e Iara (ambas na Bacia de Santos). Porém, nas futuras áreas, se aprovadas no Congresso as regras previstas no projeto, há novas situações onde a ANP pode se tornar um braço de auxílio. A dúvida é sobre o papel da agência reguladora com a PetroSal. Quando se tem uma estatal como a Petro-Sal controlando as atividades do présal e o ritmo como tudo será feito, ela, a Petro-Sal, se torna uma ANP do B e o poder da ANP fica reduzido nesse caso.
Como o senhor avalia a mudança do atual modelo de concessão para o de partilha?
ZYLBERSZTAJN: Ficou faltando o governo apresentar com cálculos, com alguma planilha, algo que mostrasse o real motivo de substituir o modelo de concessão pelo de partilha. Essa conta não foi feita e até agora ninguém perguntou sobre ela. O modelo de concessão se mostrou eficaz todos esses anos e a arrecadação é significativa. Foi com esse modelo, inclusive, que se chegou ao pré-sal.
O que, por exemplo, deveria ser melhor explicado?
ZYLBERSZTAJN: Se alguém falasse, concretamente, por exemplo, que se chegou ao limite de arrecadação pelo modelo de concessão e que o ideal é mudar o modelo, tudo bem. Mas sabemos que o modelo atual ainda não chegou no limite. Ainda é possível aumento de arrecadação com as participações especiais.
Faltou mostrar as vantagens e desvantagens de cada modelo para que fosse aberta uma discussão sobre o projeto.
Como é em outros países?
ZYLBERSZTAJN: Em geral, o que se vê em países onde há modelo de partilha em vigor é uma relação promíscua entre empresas e governo. São países com regimes autoritários, com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O novo modelo oferece riscos à competição?
ZYLBERSZTAJN:Nessa nova circunstância, há uma empresa do governo, a Petrobras já tem no mínimo 30% de participação nas áreas e pode disputar os outros 70%. O que quer dizer que o parceiro da Petrobras pode não ser uma empresa de petróleo. Pode ser um banco ou investidores. Pode haver uma ameaça à entrada de mais empresas. É preciso ver que empresas vão se sujeitar aos novos controles. O modelo pode ser um risco.
Antes, pelo modelo gerido pela ANP, todos eram concessionários, inclusive a Petrobras.
E quanto à capitalização da Petrobras? Como o senhor vê a medida?
ZYLBERSZTAJN:Acho que estamos nadando em incertezas, dando um cheque pré-datado sem saber ainda quanto vamos ter de fato lá na frente, no futuro. Estamos falando de algo para acontecer daqui a 15, 20 anos. Será preciso, antes de mais nada, confirmar as expectativas de reservas. Acredito que isso deverá se confirmar.
Mas faltou novamente alguém explicar quanto vai custar extrair o petróleo da área de pré-sal a 300 quilômetros da costa e qual é o ganho real ao se calcular este custo no negócio. Se o governo licitasse pelo regime atual as áreas, ao contrário de emprestar US$ 50 bilhões, embolsaria US$ 50 bilhões.
O governo cita a criação de um Fundo Social com recursos do pré-sal para que a União possa investir em educação, saúde, meio ambiente, cultura, ciência e tecnologia...
ZYLBERSZTAJN: Mais uma vez, ninguém mostrou de quanto será o ganho pelo modelo de partilha. Os mesmos US$ 50 bilhões poderiam ser usados em projetos de educação e saúde hoje. A necessidade existe hoje. Só daqui a uma década esse fundo começa a arrecadar dinheiro. Na minha opinião, o governo deveria guardar uma distância sanitária de vender petróleo.
Mas é bom para o país ter um bom sistema de arrecadação.
Foi assim com o oba-oba em volta do biodiesel de mamona -- eu jamais vi um cálculo sequer quanto ao custo da produção, e como seriam cobertos os acréscimos obrigatórios de 3 e 5% do biodiesel no diesel de petróleo --, foi assim com a bolha do etanol -- que está dando prejuizo a muita gente do setor, pois é, e era, evidente que o mundo não estava preparado para nos nossos zilhões de hectolitros de etanol -- e parece que vai ser assim com o petróleo do pré-sal.
Este governo é especialista em vender a pelo do urso antes de tê-lo matado.
Abaixo uma entrevista com quem entende um pouco mais do que os bárbaros do PCdoB atualmente no comando da ANP.
PRA, 3.09.2009
'A Petro-Sal se torna uma ANP do B'
Entrevista com David Zylbersztajn
O Globo, 02/09/2009
Ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo critica falta de argumentos para mudar regime de concessão
A criação da Petro-Sal e sua influência no controle das atividades ligadas às áreas do pré-sal no regime de partilha lança dúvidas sobre o papel da Agência Nacional do Petróleo (ANP) no novo modelo, diz o especialista em energia e ex-diretor-geral da ANP David Zylbersztajn. Para ele, a nova estatal será uma espécie de "ANP do B" e essa alteração deverá reduzir o poder da ANP no novo modelo, o que poderá torná-la apenas um braço de auxílio nas futuras licitações. Zylbersztajn também critica a falta de argumentos concretos para que o atual regime de concessão seja substituído pelo de partilha. Para ele, o atual modelo é bem-sucedido, ainda oferece condições de aumento da arrecadação por parte do governo e tornou viável que se chegasse ao pré-sal.
Erica Ribeiro
O GLOBO: Como o senhor vê a atuação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) com as novas regras para o pré-sal?
ZYLBERSZTAJN: A ANP continua atuando, gerindo, dentro do que já está licitado pelo regime de concessão, inclusive as áreas de pré-sal que já passaram pelo processo de licitação, como Tupi e Iara (ambas na Bacia de Santos). Porém, nas futuras áreas, se aprovadas no Congresso as regras previstas no projeto, há novas situações onde a ANP pode se tornar um braço de auxílio. A dúvida é sobre o papel da agência reguladora com a PetroSal. Quando se tem uma estatal como a Petro-Sal controlando as atividades do présal e o ritmo como tudo será feito, ela, a Petro-Sal, se torna uma ANP do B e o poder da ANP fica reduzido nesse caso.
Como o senhor avalia a mudança do atual modelo de concessão para o de partilha?
ZYLBERSZTAJN: Ficou faltando o governo apresentar com cálculos, com alguma planilha, algo que mostrasse o real motivo de substituir o modelo de concessão pelo de partilha. Essa conta não foi feita e até agora ninguém perguntou sobre ela. O modelo de concessão se mostrou eficaz todos esses anos e a arrecadação é significativa. Foi com esse modelo, inclusive, que se chegou ao pré-sal.
O que, por exemplo, deveria ser melhor explicado?
ZYLBERSZTAJN: Se alguém falasse, concretamente, por exemplo, que se chegou ao limite de arrecadação pelo modelo de concessão e que o ideal é mudar o modelo, tudo bem. Mas sabemos que o modelo atual ainda não chegou no limite. Ainda é possível aumento de arrecadação com as participações especiais.
Faltou mostrar as vantagens e desvantagens de cada modelo para que fosse aberta uma discussão sobre o projeto.
Como é em outros países?
ZYLBERSZTAJN: Em geral, o que se vê em países onde há modelo de partilha em vigor é uma relação promíscua entre empresas e governo. São países com regimes autoritários, com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
O novo modelo oferece riscos à competição?
ZYLBERSZTAJN:Nessa nova circunstância, há uma empresa do governo, a Petrobras já tem no mínimo 30% de participação nas áreas e pode disputar os outros 70%. O que quer dizer que o parceiro da Petrobras pode não ser uma empresa de petróleo. Pode ser um banco ou investidores. Pode haver uma ameaça à entrada de mais empresas. É preciso ver que empresas vão se sujeitar aos novos controles. O modelo pode ser um risco.
Antes, pelo modelo gerido pela ANP, todos eram concessionários, inclusive a Petrobras.
E quanto à capitalização da Petrobras? Como o senhor vê a medida?
ZYLBERSZTAJN:Acho que estamos nadando em incertezas, dando um cheque pré-datado sem saber ainda quanto vamos ter de fato lá na frente, no futuro. Estamos falando de algo para acontecer daqui a 15, 20 anos. Será preciso, antes de mais nada, confirmar as expectativas de reservas. Acredito que isso deverá se confirmar.
Mas faltou novamente alguém explicar quanto vai custar extrair o petróleo da área de pré-sal a 300 quilômetros da costa e qual é o ganho real ao se calcular este custo no negócio. Se o governo licitasse pelo regime atual as áreas, ao contrário de emprestar US$ 50 bilhões, embolsaria US$ 50 bilhões.
O governo cita a criação de um Fundo Social com recursos do pré-sal para que a União possa investir em educação, saúde, meio ambiente, cultura, ciência e tecnologia...
ZYLBERSZTAJN: Mais uma vez, ninguém mostrou de quanto será o ganho pelo modelo de partilha. Os mesmos US$ 50 bilhões poderiam ser usados em projetos de educação e saúde hoje. A necessidade existe hoje. Só daqui a uma década esse fundo começa a arrecadar dinheiro. Na minha opinião, o governo deveria guardar uma distância sanitária de vender petróleo.
Mas é bom para o país ter um bom sistema de arrecadação.
1340) Integracao energetica: um longo caminho a percorrer na America do Sul
Integração energética - uma visão brasileira
Mário Augusto Santos *
Monitor Mercantil, 26 de agosto de 2009
Já estamos acostumados a ouvir falar de integração energética. Políticos e diplomatas recheiam pronunciamentos com o tema e hoje quase todos os documentos diplomáticos sul-americanos o mencionam. De tanto ouvir falar, convencemo-nos de que deve ser coisa boa. No entanto, não se tem notícia de ninguém, nem de documento oficial, que explique direito o que vem a ser integração energética.
Como o debate é a melhor maneira de esclarecer assuntos complexos, dou aqui minha opinião sobre o que poderia ser integração energética - do ponto de vista brasileiro. Sim, pois me parece que integração, qualquer que seja seu conteúdo, só pode fazer sentido se espelhar os interesses do país que a deseja.
Para facilitar, limitemos o debate à energia elétrica, pois sua natureza difere substancialmente de petróleo e gás.
Se olharmos o mapa da América do Sul, salta aos olhos que a integração elétrica do continente só poderá ser realizada com a participação central do Brasil. O mapa mostra que o Brasil ocupa o centro do continente, com 12 vizinhos, dos quais 10 são limítrofes. Portanto, sem o Brasil, qualquer esquema de intercâmbio elétrico na América do Sul só poderá ser realizado lateralmente, de um vizinho para outro, mas não muito além. Dificilmente se pode conceber, nas atuais condições políticas, econômicas e sociais, uma ligação, digamos, da Venezuela ao Chile atravessando a Colômbia, Equador e Peru. Com a participação o Brasil, tal integração poderia viabilizar-se, desde que formulemos claramente uma política que reflita nossos interesses e que deixe claro para nossos vizinhos as condições de nossa participação.
Na ausência de tal política, é muito provável que estaremos a reboque de iniciativas vicinais que atritarão com nossos interesses, o que acarretará desgaste político para rechaçá-las ou a necessidade de renegociá-las, a fim de adaptá-las ao nosso planejamento energético.
Como o Brasil detém a maior economia da região, é natural que nossos vizinhos queiram vender-nos energia, para viabilizar sua participação até em empreendimentos praticamente financiados só por nós, ou comprar energia brasileira para não realizar pesados investimentos.
Propostas como essas podem ser interessantes, desde que diminuam custos para ambas as partes e ajudem a consolidar o arcabouço das relações bilaterais.
Poder-se-ia, portanto, deduzir que interessaria ao Brasil desenvolver uma política de integração elétrica em bases bilaterais, de negociar com cada vizinho um programa em longo prazo de intercâmbio elétrico, mantendo assim sólido controle sobre o processo.
Que condições deveriam governar a negociação de tais programas?
Seriam várias, mas aqui me deterei em uma que considero crucial. Trata-se da quantidade de energia elétrica que deveríamos importar de cada parceiro. Quando se traz eletricidade de outro país, uma parte da economia do país importador fica refém daquela energia e, portanto, sujeita às instabilidades políticas e econômicas do país exportador, sobre a qual o importador não possui nenhum controle, o que evidencia que o intercâmbio de eletricidade é um relacionamento estratégico, que implica uma grande confiança mutua entre os parceiros. Qual o grau de confiança que o Brasil poderá ter em vizinhos, a ponto de lhes entregar o poder de decidir sobre quinhões de nossa economia à eletricidade importada deles?
A história recente da América do Sul na área energética não é animadora. Num exemplo recente, a Argentina cortou sem aviso prévio o fluxo de gás natural que alimentava termelétricas chilenas, produzindo séria crise naquele país.
Como resultado, o Chile está procurando diversificar suas fontes de gás, trazendo-o inclusive da Ásia. Vê-se logo que, se formos importar eletricidade, tem de ser em quantidades que posam ser imediatamente substituídas por produção nacional e utilizando nosso sistema interligado. Só assim poderemos evitar crises induzidas e chantagens políticas.
Como resultado de acordos mal negociados, o Brasil está sujeito a dificuldades nos seu relacionamento energético com a Bolívia e o Paraguai.
No caso específico do Paraguai, estamos vendo que um tratado internacional não nos exime de permanente cobrança com respeito a Itaipu, com a perspectiva de que o acordo recentemente negociado e ainda sujeito à aprovação do Congresso não satisfará o apetite paraguaio por mais dinheiro.
Um aspecto do acordo, inclusive, suscita preocupação à luz do que foi dito acima sobre confiabilidade entre parceiros energéticos. Diz o acordo que o Paraguai poderá vender quotas crescentes de sua parte da energia da binacional no mercado livre brasileiro. Essa energia vem sendo, de acordo com o Tratado, comercializada pela Eletrobrás, mas pelo esquema negociado, caberá agora à Ande (Administracion Nacional de Eletricidad) essa tarefa. Em outras palavras, o acordo tira da Eletrobrás, empresa em que a economia brasileira deposita total confiança, e colocará sob controle da Ande, que jamais gozará do mesmo grau de confiabilidade, 10% (a parte que cabe ao Paraguai na binacional) das necessidades de eletricidade da economia brasileira. Até prova em contrario, esse item do novo acordo dará ao Paraguai maior alavancagem ainda a exigir de nos mais concessões.
_____________
* Mário Augusto Santos é diplomata. Participou das negociações que deram origem ao Tratado de Itaipu
Mário Augusto Santos *
Monitor Mercantil, 26 de agosto de 2009
Já estamos acostumados a ouvir falar de integração energética. Políticos e diplomatas recheiam pronunciamentos com o tema e hoje quase todos os documentos diplomáticos sul-americanos o mencionam. De tanto ouvir falar, convencemo-nos de que deve ser coisa boa. No entanto, não se tem notícia de ninguém, nem de documento oficial, que explique direito o que vem a ser integração energética.
Como o debate é a melhor maneira de esclarecer assuntos complexos, dou aqui minha opinião sobre o que poderia ser integração energética - do ponto de vista brasileiro. Sim, pois me parece que integração, qualquer que seja seu conteúdo, só pode fazer sentido se espelhar os interesses do país que a deseja.
Para facilitar, limitemos o debate à energia elétrica, pois sua natureza difere substancialmente de petróleo e gás.
Se olharmos o mapa da América do Sul, salta aos olhos que a integração elétrica do continente só poderá ser realizada com a participação central do Brasil. O mapa mostra que o Brasil ocupa o centro do continente, com 12 vizinhos, dos quais 10 são limítrofes. Portanto, sem o Brasil, qualquer esquema de intercâmbio elétrico na América do Sul só poderá ser realizado lateralmente, de um vizinho para outro, mas não muito além. Dificilmente se pode conceber, nas atuais condições políticas, econômicas e sociais, uma ligação, digamos, da Venezuela ao Chile atravessando a Colômbia, Equador e Peru. Com a participação o Brasil, tal integração poderia viabilizar-se, desde que formulemos claramente uma política que reflita nossos interesses e que deixe claro para nossos vizinhos as condições de nossa participação.
Na ausência de tal política, é muito provável que estaremos a reboque de iniciativas vicinais que atritarão com nossos interesses, o que acarretará desgaste político para rechaçá-las ou a necessidade de renegociá-las, a fim de adaptá-las ao nosso planejamento energético.
Como o Brasil detém a maior economia da região, é natural que nossos vizinhos queiram vender-nos energia, para viabilizar sua participação até em empreendimentos praticamente financiados só por nós, ou comprar energia brasileira para não realizar pesados investimentos.
Propostas como essas podem ser interessantes, desde que diminuam custos para ambas as partes e ajudem a consolidar o arcabouço das relações bilaterais.
Poder-se-ia, portanto, deduzir que interessaria ao Brasil desenvolver uma política de integração elétrica em bases bilaterais, de negociar com cada vizinho um programa em longo prazo de intercâmbio elétrico, mantendo assim sólido controle sobre o processo.
Que condições deveriam governar a negociação de tais programas?
Seriam várias, mas aqui me deterei em uma que considero crucial. Trata-se da quantidade de energia elétrica que deveríamos importar de cada parceiro. Quando se traz eletricidade de outro país, uma parte da economia do país importador fica refém daquela energia e, portanto, sujeita às instabilidades políticas e econômicas do país exportador, sobre a qual o importador não possui nenhum controle, o que evidencia que o intercâmbio de eletricidade é um relacionamento estratégico, que implica uma grande confiança mutua entre os parceiros. Qual o grau de confiança que o Brasil poderá ter em vizinhos, a ponto de lhes entregar o poder de decidir sobre quinhões de nossa economia à eletricidade importada deles?
A história recente da América do Sul na área energética não é animadora. Num exemplo recente, a Argentina cortou sem aviso prévio o fluxo de gás natural que alimentava termelétricas chilenas, produzindo séria crise naquele país.
Como resultado, o Chile está procurando diversificar suas fontes de gás, trazendo-o inclusive da Ásia. Vê-se logo que, se formos importar eletricidade, tem de ser em quantidades que posam ser imediatamente substituídas por produção nacional e utilizando nosso sistema interligado. Só assim poderemos evitar crises induzidas e chantagens políticas.
Como resultado de acordos mal negociados, o Brasil está sujeito a dificuldades nos seu relacionamento energético com a Bolívia e o Paraguai.
No caso específico do Paraguai, estamos vendo que um tratado internacional não nos exime de permanente cobrança com respeito a Itaipu, com a perspectiva de que o acordo recentemente negociado e ainda sujeito à aprovação do Congresso não satisfará o apetite paraguaio por mais dinheiro.
Um aspecto do acordo, inclusive, suscita preocupação à luz do que foi dito acima sobre confiabilidade entre parceiros energéticos. Diz o acordo que o Paraguai poderá vender quotas crescentes de sua parte da energia da binacional no mercado livre brasileiro. Essa energia vem sendo, de acordo com o Tratado, comercializada pela Eletrobrás, mas pelo esquema negociado, caberá agora à Ande (Administracion Nacional de Eletricidad) essa tarefa. Em outras palavras, o acordo tira da Eletrobrás, empresa em que a economia brasileira deposita total confiança, e colocará sob controle da Ande, que jamais gozará do mesmo grau de confiabilidade, 10% (a parte que cabe ao Paraguai na binacional) das necessidades de eletricidade da economia brasileira. Até prova em contrario, esse item do novo acordo dará ao Paraguai maior alavancagem ainda a exigir de nos mais concessões.
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* Mário Augusto Santos é diplomata. Participou das negociações que deram origem ao Tratado de Itaipu
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