Brasil y su Política Exterior: una entrevista periodística
Paulo Roberto de Almeida
Respuestas a cuestiones de periodista de país vecino...
(En complemento a entrevista telefónica)
1) No son pocos los países que le exigen a Brasil que tome, de una vez por todas, el liderazgo que le corresponde en Latinoamérica. ¿Es el mejor tiempo para hacerlo, teniendo en cuenta que se acercan las elecciones y Lula debe dejar el poder?
PRA: Uno no se presenta como líder con base en su propia voluntad. Hay que ser reconocido como líder por los demás países sobre la base de ciertos elementos objectivos y otro conjunto de percepciones externas. La primera condición es tener suficiente peso económico, ser abierto comercialmente para atraer otros países a sus mercados, prestar ayuda y cooperación unilateralmente, sin que sea necesario a otros pedir que se lo haga, y también asumir ciertos encargos multilaterales o regionales (incluso en materia de seguridad). O sea, hay que tener dos cosas muy sencillas: plata y soldados. Brasil tiene muy poco de los dos.
Pero las percepciones son muy importantes, en varios sentidos. Es necesario que los otros lo perciban como líder para que un país sea así reconocido. En la región, Argentina dificilmente acceptaría a Brasil como líder, igual que Colombia o Venezuela, o sea, los mas grandes, pero sobretodo Argentina (que ha sido por gran parte del siglo 20 mucho mas desarrollada que Brasil). Un líder también tiene que ser neutral, objectivo frente a los problemas de los otros países: Brasil actual ha tenido una política externa muy marcadamente partidaria, hecha de simpatias por los gobiernos progresistas o izquierdistas, con base a su partido (PT) de carácter socialista y antiimperialista. La actitud dura con respecto al gobierno de Colombia y el interino de Honduras es un ejemplo, frente a la actitud complaciente con respecto a Chávez, que representa una seria menaza a la democracia y a la estabilidad en la región.
Por ultimo, el Itamaraty, o sea, el cuerpo profesional de diplomáticos, no ha jamás proclamado una actitud de liderazgo, pues tiene consciencia que nuestros vecinos hispanos lo aceptarían. La voluntad de ser líder emana no mas que del presidente y de su partido y consejeros, no de los diplomáticos.
2) ¿Por qué el Presidente Lula habría decidido involucrarse en el conflicto de Medio Oriente y qué ha llevado a Israel a pedir su participación, independientemente de que el Mandatario iraní viaje próximamente a Brasil? ¿Se trata de mero formalismo o en verdad Lula tiene algo que podría ayudar a calmar la situación, aún cuando líderes internacionales con más renombre y poder no han podido?
PRA: No creo, personalmente, que Brasil tenga atributos capaces de influenciar decisivamente la resolución de los conflictos en Oriente Medio, basicamente la cuestión palestina, y la del Irán. Falta conocimiento preciso de las condiciones locales -- que se adquiere con extensa presencia diplomática, think tanks, centros universitarios dedicados a la región, etc., que Brasil no tiene -- y faltan los elementos "brutos" del poder: recursos financieros, presencia militar, capacidad real de influencia o presión. Brasil tiene al máximo la retórica del entendimiento, su ejemplo de sociedad integrada con base en muchos pueblos diferentes, sin conflictos internos de naturaleza étnica o religiosa. Todo esto puede ser motivo de orgullo nacional, pero no resuelve los problemas concretos del Medio Oriente.
Así, su tentativa representan esta voluntad protagónica del presidente de se presentar como un gran líder mundial, de una manera mas bien voluntarista.
3) ¿Qué continuidad hay en la política exterior del Presidente Lula con los anteriores gobiernos brasileño?
La continuidad esta en el multilateralismo, la integración regional, el énfasis en el Mercosur, y varias otras tradiciones de nuestra diplomacia profesional. Las rupturas están en el excesivo tercer-mundismo, la partidarización de la política externa.
También es continuidad afirmar la voluntad de integrar el Consejo de Seguridad de las NU, pero ahora con verdadero ardor militante en esta causa. La conformación de un espacio económico integrado en America del Sur representa una otra continuidad, pero antes esto era visto como medio para alcanzar otros objetivos relevantes -- como el desarrollo material y la influencia regional e internacional -- ahora quizás sea un objectivo en si mismo.
Brasilia, 12.11.2009
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sábado, 14 de novembro de 2009
1506) Big Brother contra pequena blogueira: um exercício de contextualizacao
Para o caso de alguém não estar suficientemente informado sobre o que houve, em relação a minha carta pessoal, objeto do post precedente...
A polícia de Fidel espanca blogueira
"Eu achei que não sairia viva"
Quem vê a cubana Yoani Sánchez, blogueira conhecida por driblar a censura, automaticamente se contrai só de pensar no sofrimento a que seu corpo frágil, de apenas 49 quilos, foi submetido enquanto era surrada por três brutamontes dentro de um carro. Na tarde da sexta-feira 6, Yoani estava a caminho de uma quase impossível manifestação de protesto em Havana quando foi atacada por agentes da polícia política. Sofreu ameaças e espancamentos antes de ser jogada na calçada de um bairro longínquo. Yoani escreve há dois anos sobre as dificuldades de viver na ilha no blog Generación Y e é autora do livro De Cuba, com Carinho (Contexto). Vive sob vigilância, mas nunca havia sido fisicamente atacada. Aqui, ela descreve o ocorrido com exclusividade para VEJA e, com a habitual coragem, manda um recado ao "general" – Raúl Castro. De muletas, sequela do espancamento que a imobilizou em casa, pediu a uma amiga que levasse o relato em um pen drive até um ponto de acesso à internet para enviá-lo por e-mail.
Yoani Sánchez, em casa, de muletas, depois de ser agredida:
"Durante vinte minutos, nos espancaram sem parar"
"Não era uma sexta-feira qualquer. As comemorações do vigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim se aproximavam e um grupo de jovens artistas cubanos planejava uma passeata contra a violência naquele dia. A tarde era cinza em uma cidade onde quase sempre brilha um sol inclemente, que nos faz caminhar colados às paredes para nos beneficiarmos da sombra. Estavam comigo Claudia Cadelo e Orlando Luís Pardo, dois autores de blogs que recebem milhares de visitas a cada semana. Enquanto andávamos, contei a eles sobre uma desconhecida que, dias antes, havia se aproximado e me perguntado: "Você não tem medo?", em referência, claro, ao fato de que digo livremente minhas opiniões em um país onde o governo detém o monopólio da verdade. Meus amigos sorriram quando narrei a eles a resposta que dei à transeunte angustiada: "Meu maior temor é ter de viver com medo". Não imaginava que em poucos minutos eu viveria o terror de um sequestro e enxergaria o rosto da impunidade policial em sua forma mais dura.
Eu caminhava pela Avenida dos Presidentes, em Havana, com a intenção de participar da demonstração pacifista convocada pelos jovens. À altura da Rua 29, a uns 300 metros de onde estavam os manifestantes, um carro da marca Geely, de fabricação chinesa, cor preta e placa amarela, de uso privado, parou diante de nós. Três homens em trajes civis nos mandaram entrar no automóvel. Não se identificaram nem mostraram um mandado de prisão. Eu me recusei a obedecer. Disse que, como não tinham ordem judicial, seria um sequestro. Depois de uma breve discussão, um deles chamou alguém pelo celular, pedindo orientações. Imediatamente, os três começaram a nos tratar com violência para que entrássemos no carro. Enquanto nos empurravam, os homens do automóvel negro usaram o celular outra vez e uma viatura da polícia se aproximou. Pensei que os policiais nos salvariam. Pedi ajuda a eles, explicando que estávamos sendo atacados por supostos sequestradores. Os homens que estavam à paisana então deram ordens aos policiais para levar Claudia Cadelo e outra amiga que estava conosco. Eles obedeceram e ignoraram o pedido de ajuda que eu e Orlando fazíamos. As pessoas que observavam a cena foram impedidas de prestar ajuda, com uma frase que resumia todo o pano de fundo ideológico da cena: "Não se metam. Eles são contrarrevolucionários". Fazendo uso de toda a força física e de um evidente conhecimento de artes marciais para nos dominar, obrigaram-nos a entrar no carro. Comigo empregaram especial violência, enfiando-me de cabeça para baixo e me mantendo imobilizada com um joelho sobre o peito.
Dentro do veículo e durante cerca vinte minutos, os sequestradores nos espancararam sem parar. Frases de mau presságio saíam da boca daqueles três profissionais da intimidação: "Yoani, isso é o seu fim", "Você não vai mais fazer palhaçadas", ou "Acabou a brincadeira". Achei que não sairia viva. Tentei escapar pela porta, mas não havia maçaneta para acionar. A certa altura, o carro parou. Eu já tinha perdido a noção do tempo. Do lado de fora, caía a noite. Finalmente, ambos fomos jogados em plena via pública, longe do lugar onde se realizava a passeata contra a violência.
Por causa dos golpes desferidos por esses profissionais da repressão, estou com a face esquerda inflamada. Tenho contusões na cabeça, nas pernas, nos glúteos e nos braços, além de uma forte dor na coluna, que me obriga a caminhar com muletas. Na noite de 7 de novembro, um sábado, fiz uma consulta médica, mas não quiseram redigir um exame de corpo de delito sobre os maus-tratos físicos. A médica teve de me atender na presença de um funcionário que estava ali apenas para me vigiar. Uma radiografia mostrou que não havia traumas internos, apesar dos sinais exteriores das pancadas. Recebi apenas algumas recomendações para minha recuperação.
Eu já me sinto fisicamente melhor e desde sexta-feira tenho uma ideia constante. As autoridades cubanas acabam de compreender que, para silenciar uma blogueira, não podem usar os mesmos métodos com os quais conseguiram calar tantos jornalistas. Ninguém pode despedir os impertinentes da web nem lhes prometer umas semanas na Praia de Varadero ou presenteá-los com um Lada. Muito menos podem ser cooptados com uma viagem para o Leste Europeu. Para calar um blogueiro, é preciso eliminá-lo ou intimidá-lo. Essa equação já começou a ser entendida pelo estado, pelo partido e pelo general."
=====
Agora minha carta ao general está no contexto...
A polícia de Fidel espanca blogueira
"Eu achei que não sairia viva"
Quem vê a cubana Yoani Sánchez, blogueira conhecida por driblar a censura, automaticamente se contrai só de pensar no sofrimento a que seu corpo frágil, de apenas 49 quilos, foi submetido enquanto era surrada por três brutamontes dentro de um carro. Na tarde da sexta-feira 6, Yoani estava a caminho de uma quase impossível manifestação de protesto em Havana quando foi atacada por agentes da polícia política. Sofreu ameaças e espancamentos antes de ser jogada na calçada de um bairro longínquo. Yoani escreve há dois anos sobre as dificuldades de viver na ilha no blog Generación Y e é autora do livro De Cuba, com Carinho (Contexto). Vive sob vigilância, mas nunca havia sido fisicamente atacada. Aqui, ela descreve o ocorrido com exclusividade para VEJA e, com a habitual coragem, manda um recado ao "general" – Raúl Castro. De muletas, sequela do espancamento que a imobilizou em casa, pediu a uma amiga que levasse o relato em um pen drive até um ponto de acesso à internet para enviá-lo por e-mail.
Yoani Sánchez, em casa, de muletas, depois de ser agredida:
"Durante vinte minutos, nos espancaram sem parar"
"Não era uma sexta-feira qualquer. As comemorações do vigésimo aniversário da queda do Muro de Berlim se aproximavam e um grupo de jovens artistas cubanos planejava uma passeata contra a violência naquele dia. A tarde era cinza em uma cidade onde quase sempre brilha um sol inclemente, que nos faz caminhar colados às paredes para nos beneficiarmos da sombra. Estavam comigo Claudia Cadelo e Orlando Luís Pardo, dois autores de blogs que recebem milhares de visitas a cada semana. Enquanto andávamos, contei a eles sobre uma desconhecida que, dias antes, havia se aproximado e me perguntado: "Você não tem medo?", em referência, claro, ao fato de que digo livremente minhas opiniões em um país onde o governo detém o monopólio da verdade. Meus amigos sorriram quando narrei a eles a resposta que dei à transeunte angustiada: "Meu maior temor é ter de viver com medo". Não imaginava que em poucos minutos eu viveria o terror de um sequestro e enxergaria o rosto da impunidade policial em sua forma mais dura.
Eu caminhava pela Avenida dos Presidentes, em Havana, com a intenção de participar da demonstração pacifista convocada pelos jovens. À altura da Rua 29, a uns 300 metros de onde estavam os manifestantes, um carro da marca Geely, de fabricação chinesa, cor preta e placa amarela, de uso privado, parou diante de nós. Três homens em trajes civis nos mandaram entrar no automóvel. Não se identificaram nem mostraram um mandado de prisão. Eu me recusei a obedecer. Disse que, como não tinham ordem judicial, seria um sequestro. Depois de uma breve discussão, um deles chamou alguém pelo celular, pedindo orientações. Imediatamente, os três começaram a nos tratar com violência para que entrássemos no carro. Enquanto nos empurravam, os homens do automóvel negro usaram o celular outra vez e uma viatura da polícia se aproximou. Pensei que os policiais nos salvariam. Pedi ajuda a eles, explicando que estávamos sendo atacados por supostos sequestradores. Os homens que estavam à paisana então deram ordens aos policiais para levar Claudia Cadelo e outra amiga que estava conosco. Eles obedeceram e ignoraram o pedido de ajuda que eu e Orlando fazíamos. As pessoas que observavam a cena foram impedidas de prestar ajuda, com uma frase que resumia todo o pano de fundo ideológico da cena: "Não se metam. Eles são contrarrevolucionários". Fazendo uso de toda a força física e de um evidente conhecimento de artes marciais para nos dominar, obrigaram-nos a entrar no carro. Comigo empregaram especial violência, enfiando-me de cabeça para baixo e me mantendo imobilizada com um joelho sobre o peito.
Dentro do veículo e durante cerca vinte minutos, os sequestradores nos espancararam sem parar. Frases de mau presságio saíam da boca daqueles três profissionais da intimidação: "Yoani, isso é o seu fim", "Você não vai mais fazer palhaçadas", ou "Acabou a brincadeira". Achei que não sairia viva. Tentei escapar pela porta, mas não havia maçaneta para acionar. A certa altura, o carro parou. Eu já tinha perdido a noção do tempo. Do lado de fora, caía a noite. Finalmente, ambos fomos jogados em plena via pública, longe do lugar onde se realizava a passeata contra a violência.
Por causa dos golpes desferidos por esses profissionais da repressão, estou com a face esquerda inflamada. Tenho contusões na cabeça, nas pernas, nos glúteos e nos braços, além de uma forte dor na coluna, que me obriga a caminhar com muletas. Na noite de 7 de novembro, um sábado, fiz uma consulta médica, mas não quiseram redigir um exame de corpo de delito sobre os maus-tratos físicos. A médica teve de me atender na presença de um funcionário que estava ali apenas para me vigiar. Uma radiografia mostrou que não havia traumas internos, apesar dos sinais exteriores das pancadas. Recebi apenas algumas recomendações para minha recuperação.
Eu já me sinto fisicamente melhor e desde sexta-feira tenho uma ideia constante. As autoridades cubanas acabam de compreender que, para silenciar uma blogueira, não podem usar os mesmos métodos com os quais conseguiram calar tantos jornalistas. Ninguém pode despedir os impertinentes da web nem lhes prometer umas semanas na Praia de Varadero ou presenteá-los com um Lada. Muito menos podem ser cooptados com uma viagem para o Leste Europeu. Para calar um blogueiro, é preciso eliminá-lo ou intimidá-lo. Essa equação já começou a ser entendida pelo estado, pelo partido e pelo general."
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Agora minha carta ao general está no contexto...
1505) Nova carta a Raul Castro
Seja um pouco mais Gorby e menos Ceausescu
Paulo Roberto de Almeida
Caro senhor general Raul Castro,
À diferença de minha carta anterior, que lhe dirigi em 2 de agosto de 2009 – leia a “Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo”, postada em meu blog Diplomatizzando, e reproduzida em Via Política (17.08.2009), mas que o senhor não deve ter lido – quando escrevi mais ao homem do que ao atual (e, suponho, passageiro) presidente de Cuba, fazendo algumas sugestões para uma volta ordenada de Cuba ao velho capitalismo e a uma democracia de mercado, desta vez escrevo ao general e (suponho) chefe, igualmente, dos serviços de segurança nessa ilha caribenha. Digo general porque suspeito que os serviços de inteligência, de segurança, de ordem pública e, last but not the least, de repressão aos assim chamados dissidentes estejam todos militarizados e sob seu estrito controle. Cabe-lhe, portanto, junto com seu irmão, que ainda merece a alcunha de comandante, a responsabilidade última por tudo o que acontece em seu país, para o bem e para o mal.
Pois bem, senhor general presidente de Cuba, as coisas vão muito mal em seu domínio, posto que agentes dos seus serviços de segurança se permitiram, ainda bem recentemente, espancar uma pequena blogueira caracterizada como dissidente, cujo nome eu não preciso lhe dizer qual é. Digo dissidente, mas esse termo é equivocado, pois se trata apenas de uma pessoa comum, que desejaria viver normalmente num país normal, o que Cuba reconhecidamente não é, posto que os próprios dirigentes vivem dizendo que a ilha vive em condições excepcionais (primeiro pela implosão e morte do socialismo real – que terminou com a mesada que vocês recebiam dos generosos russos – e depois pelos furacões e intempéries que assolaram a ilha, o que faz com que ela viva em uma “situação especial” que é permanente ).
Essas agressões sofridas por uma blogueira indefesa e pacífica, que apenas fala sobre as condições reais de vida em Cuba – não aquelas apregoadas pelo seu governo e apoiadores, muitos deles, infelizmente, intelectuais de renome, que não merecem esse nome – revelam, na verdade, que os verdadeiros dissidentes em Cuba são os membros do Partido Comunista Cubano. A violência cometida contra uma colega blogueira me parece representar o medo, um medo não confessado, mas evidente, que todos vocês, poderosos senhores da policia e da inteligência, exibem em relação a todos aqueles que ousam pensar fora do padrão do PCC e dos cânones do governo. É o medo do fim do regime que se aproxima, o temor de que os seus dias estejam contados, e quando se multiplicam os atos abusivos contra os que não pensam como vocês e não pertencem à nomenklatura do regime. É isso que amplia o arbítrio, a repressão, a simples violência cega daqueles que não têm mais nenhum argumento racional, nenhuma resposta aos reclamos da sociedade, nada a oferecer de promissor nos tempos de decadência absoluta e inevitável do sistema criado por vocês.
Pois bem, senhor general Raul Castro, creio que está na hora de fazer um segundo alerta para os dissidentes do mundo moderno que são vocês, dirigentes de um partido esclerosado, que já deixou passar várias oportunidades de transição a um regime simplesmente normal, de democracia de mercado (ainda que, por um certo tempo, com predominância estatal, para abrigar todos esses desempregados do socialismo senil). Vocês são os dissidentes da História, o que nos remete, justamente, aos ensinamentos que essa velha musa pode dar em circunstâncias como esta.
O ex-secretário geral do PCUS, Mikhail Gorbachev, soube colocar-se no compasso da História, quando também recomendou aos esclerosados dirigentes do SED – o Partido Comunista da finada RDA – que não reprimissem a imensa população do país que simplesmente desejava ter liberdade para viajar ao exterior e comprar bananas. Quando a repressão se armava, talvez em estilo chinês – Praça da Paz Celestial, o senhor deve saber o que foi – ele disse aos alemães orientais que não fizessem nada, e ainda alertou: “Quem se atrasa, é punido pela História”.
Creio que é isso que vai acontecer com vocês, general: serão punidos pela História, ao se revelarem incapazes de atender aos mínimos requisitos da população por uma vida decente e pela simples liberdade de viajar ao exterior (o que aliás ainda ocorreu recentemente com a referida blogueira). Vocês, é claro, não precisam de muro, pois já têm um natural: o mar e os tubarões, além, obviamente, da destruição da frota pesqueira cubana ao longo dos anos (o que explica, por exemplo, que a produção de peixes e frutos do mar em Cuba tenha decaído de 192 mil toneladas por ano, para apenas 55 mil, uma redução de 71% entre 1986 e 2006).
Senhor general Raul Castro,
Vou lhe fazer um pequeno alerta pessoal, mas que vale como uma advertência para todos a sua equipe de aparatchiks e encarregados da repressão: seja mais Gorbachev e menos Nicolau Ceausescu, não tente prolongar a agonia do seu regime reprimindo com violência aqueles que apenas desejam se expressar livremente e viver normalmente; sobretudo, não tente atrasar a roda da História. Do contrário, seu regime e o seu destino pessoal poderão acabar sendo como o do casal Ceausescu, que eu não preciso lhe lembrar qual foi, no Natal de 1989.
No próximo Natal, aproveite a oportunidade dos vinte anos de funerais coletivos do socialismo real para proclamar uma mudança decisiva da situação em Cuba. Se desejar, aproveite algumas das sugestões que eu lhe fiz em minha primeira carta. Eu gostaria, sinceramente, de escrever um obituário do socialismo cubano que não tenha de mencionar sangue, feridos, mortos e outros sofrimentos inúteis. Seja mais Gorby, general, e a História lhe absolverá...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 novembro 2009.
Paulo Roberto de Almeida
Caro senhor general Raul Castro,
À diferença de minha carta anterior, que lhe dirigi em 2 de agosto de 2009 – leia a “Carta aberta a Raul Castro sobre Cuba e o socialismo”, postada em meu blog Diplomatizzando, e reproduzida em Via Política (17.08.2009), mas que o senhor não deve ter lido – quando escrevi mais ao homem do que ao atual (e, suponho, passageiro) presidente de Cuba, fazendo algumas sugestões para uma volta ordenada de Cuba ao velho capitalismo e a uma democracia de mercado, desta vez escrevo ao general e (suponho) chefe, igualmente, dos serviços de segurança nessa ilha caribenha. Digo general porque suspeito que os serviços de inteligência, de segurança, de ordem pública e, last but not the least, de repressão aos assim chamados dissidentes estejam todos militarizados e sob seu estrito controle. Cabe-lhe, portanto, junto com seu irmão, que ainda merece a alcunha de comandante, a responsabilidade última por tudo o que acontece em seu país, para o bem e para o mal.
Pois bem, senhor general presidente de Cuba, as coisas vão muito mal em seu domínio, posto que agentes dos seus serviços de segurança se permitiram, ainda bem recentemente, espancar uma pequena blogueira caracterizada como dissidente, cujo nome eu não preciso lhe dizer qual é. Digo dissidente, mas esse termo é equivocado, pois se trata apenas de uma pessoa comum, que desejaria viver normalmente num país normal, o que Cuba reconhecidamente não é, posto que os próprios dirigentes vivem dizendo que a ilha vive em condições excepcionais (primeiro pela implosão e morte do socialismo real – que terminou com a mesada que vocês recebiam dos generosos russos – e depois pelos furacões e intempéries que assolaram a ilha, o que faz com que ela viva em uma “situação especial” que é permanente ).
Essas agressões sofridas por uma blogueira indefesa e pacífica, que apenas fala sobre as condições reais de vida em Cuba – não aquelas apregoadas pelo seu governo e apoiadores, muitos deles, infelizmente, intelectuais de renome, que não merecem esse nome – revelam, na verdade, que os verdadeiros dissidentes em Cuba são os membros do Partido Comunista Cubano. A violência cometida contra uma colega blogueira me parece representar o medo, um medo não confessado, mas evidente, que todos vocês, poderosos senhores da policia e da inteligência, exibem em relação a todos aqueles que ousam pensar fora do padrão do PCC e dos cânones do governo. É o medo do fim do regime que se aproxima, o temor de que os seus dias estejam contados, e quando se multiplicam os atos abusivos contra os que não pensam como vocês e não pertencem à nomenklatura do regime. É isso que amplia o arbítrio, a repressão, a simples violência cega daqueles que não têm mais nenhum argumento racional, nenhuma resposta aos reclamos da sociedade, nada a oferecer de promissor nos tempos de decadência absoluta e inevitável do sistema criado por vocês.
Pois bem, senhor general Raul Castro, creio que está na hora de fazer um segundo alerta para os dissidentes do mundo moderno que são vocês, dirigentes de um partido esclerosado, que já deixou passar várias oportunidades de transição a um regime simplesmente normal, de democracia de mercado (ainda que, por um certo tempo, com predominância estatal, para abrigar todos esses desempregados do socialismo senil). Vocês são os dissidentes da História, o que nos remete, justamente, aos ensinamentos que essa velha musa pode dar em circunstâncias como esta.
O ex-secretário geral do PCUS, Mikhail Gorbachev, soube colocar-se no compasso da História, quando também recomendou aos esclerosados dirigentes do SED – o Partido Comunista da finada RDA – que não reprimissem a imensa população do país que simplesmente desejava ter liberdade para viajar ao exterior e comprar bananas. Quando a repressão se armava, talvez em estilo chinês – Praça da Paz Celestial, o senhor deve saber o que foi – ele disse aos alemães orientais que não fizessem nada, e ainda alertou: “Quem se atrasa, é punido pela História”.
Creio que é isso que vai acontecer com vocês, general: serão punidos pela História, ao se revelarem incapazes de atender aos mínimos requisitos da população por uma vida decente e pela simples liberdade de viajar ao exterior (o que aliás ainda ocorreu recentemente com a referida blogueira). Vocês, é claro, não precisam de muro, pois já têm um natural: o mar e os tubarões, além, obviamente, da destruição da frota pesqueira cubana ao longo dos anos (o que explica, por exemplo, que a produção de peixes e frutos do mar em Cuba tenha decaído de 192 mil toneladas por ano, para apenas 55 mil, uma redução de 71% entre 1986 e 2006).
Senhor general Raul Castro,
Vou lhe fazer um pequeno alerta pessoal, mas que vale como uma advertência para todos a sua equipe de aparatchiks e encarregados da repressão: seja mais Gorbachev e menos Nicolau Ceausescu, não tente prolongar a agonia do seu regime reprimindo com violência aqueles que apenas desejam se expressar livremente e viver normalmente; sobretudo, não tente atrasar a roda da História. Do contrário, seu regime e o seu destino pessoal poderão acabar sendo como o do casal Ceausescu, que eu não preciso lhe lembrar qual foi, no Natal de 1989.
No próximo Natal, aproveite a oportunidade dos vinte anos de funerais coletivos do socialismo real para proclamar uma mudança decisiva da situação em Cuba. Se desejar, aproveite algumas das sugestões que eu lhe fiz em minha primeira carta. Eu gostaria, sinceramente, de escrever um obituário do socialismo cubano que não tenha de mencionar sangue, feridos, mortos e outros sofrimentos inúteis. Seja mais Gorby, general, e a História lhe absolverá...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14 novembro 2009.
1504) Genetica, selecao natural e cotas universitarias: continuacao de debate
A propósito deste meu post anterior:
1502) O maior show da Terra: a seleção natural
(sexta-feira, 13 de novembro de 2009),
que transcrevia um artigo de divulgação -- os franceses diriam de haute vulgarisation -- do geneticista Sergio Pena sobre as teses do "bulldog" darwinista Richard Dawkins, uma leitora, sempre atenta e comentarista habitual neste espaço , enviou-me uma referência importante de outro artigo científico do mesmo cientista brasileira, cujo teor, para que mais uma vez não se perca como nota de rodapé, vai aqui reproduzido:
1 comentários:
Glaucia disse...
Ótima a discussão. Gosto bastante do Sérgio Pena, é de coordenação dele um dos (até onde sei) poucos estudos sérios disponíveis publicamente sobre composição genética da população brasileira.
Não sei porque o movimento antirracialista "humanista" nunca usa, é bem bom. Segue aí de novo o link, já deixei uma vez aqui.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100004
(meu único reparo é que a conclusão é um non sequitur monumental; uma opinião pessoal do(s) pesquisador(es) atravessa toda a camada de ciência anterior e bizarramente se instaura ali, como num desses trabalhos de graduação que verificam que X é Y mas concluem não que X seja Y, mas que X deveria ser Z e devemos evitar dizer que X é Y porque é muito errado e feio. Você dá aula, deve saber como é, não?)
Sábado, Novembro 14, 2009 3:29:00 PM
Esse artigo é o seguinte:
Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas?
Sérgio D.J. Pena; Maria Cátira Bortolini
Estudos Avançados
Print version ISSN 0103-4014
Estud. av. vol.18 no.50 São Paulo Jan./Apr. 2004
doi: 10.1590/S0103-40142004000100004
(existe um link para a versão em pdf)
RESUMO
NESTE TRABALHO nós usamos o instrumental da genética molecular e da genética de populações para estimar quantitativamente a contribuição africana para a formação do povo brasileiro. Examinamos dois compartimentos genômicos: o DNA mitocondrial, de herança matrilínea, e o DNA nuclear, de herança bi-parental. Os estudos mitocondriais revelaram que aproximadamente 30% dos brasileiros autoclassificados como brancos e 80% dos negros apresentam linhagens maternas características da áfrica subsaariana. A partir destes dados, estimamos que pelo menos 89 milhões de brasileiros são afro-descendentes, um número bem superior aos 76 milhões de pessoas que se declararam negros (pretos e pardos) no censo de 2000 do IBGE. As análises de polimorfismos nucleares com marcadores "informativos de ancestralidade" mostraram resultados mais expressivos ainda. Usando estudos de brasileiros autoclassificados como brancos de várias regiões do Brasil, estimamos que aproximadamente 146 milhões de brasileiros (86% da população) apresentam mais de 10% de contribuição africana em seu genoma. Estes números devem ser levados em conta nas discussões sobre ações afirmativas no Brasil, mas em um sentido descritivo e não prescritivo.
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Pois bem, volto para comentar. É óbvio que o Brasil não comporta raças no sentido corriqueiro do termo, mas uma imensa mistura humana que vem se consolidando ao longo do tempo e que diluirá os genomas ancestrais dos habitantes originários e, sobretudo, dos imigrantes (forçados) africanos e (semi-voluntários) europeus e asiáticos num povo absolutamente único e original, moldado no cadinho multirracial que constitui, legitimamente e com orgulho, a população brasileira.
A despeito disso, os militantes da causa racialista vem insistindo em apregoar políticas de corte racial, notoriamente difíceis de serem aplicadas em face dessa realidade.
Independentemente das injustiças cometidas contra a população negra, de origem africana, ou seja, afrodescendente (mas nem por isso afrobrasileira, e sim exclusivamente brasileira, ainda que negra, parda, mulata, seja lá o que for), o caminho a seguir, obviamente, é o da integração cada vez maior dessas "raças" e a ativa promoção educacional daqueles que ficaram para trás em nossa República oligárquica e aristocrática (e até hoje, mas isso ocorre com todos os pobres), em lugar desse Apartheid racial que pretendem criar.
Como se deduz da última PNAD, a MAIORIA da população brasileira é afrodescendente, negra (pequena parte) ou mulata (imensa maioria dos que assim se classificam).
Esse aumento significativo na autoclassificação dos afrodescendentes obviamente tem a ver com a oportunidade criada de benefícios advindos dessa política racialista (cotas, reservas, preferências, ajuda oficial, etc).
Considero isso uma descida ao inferno do Apartheid, uma destruição da sociedade multirracial que vinha sendo criada naturalmente ao longo dos séculos.
Os novos racistas pretendem fazer recuar a propensão natural da humanidade a se misturar.
São descendentes, no sentido inverso, do equivocado Gobineau e suas propostas de separação estrita das raças.
Recomendo a leitura do arigo científico de Sergio Pena e Maria C. Bortolini...
Paulo Roberto de Almeida
14.11.2009
1502) O maior show da Terra: a seleção natural
(sexta-feira, 13 de novembro de 2009),
que transcrevia um artigo de divulgação -- os franceses diriam de haute vulgarisation -- do geneticista Sergio Pena sobre as teses do "bulldog" darwinista Richard Dawkins, uma leitora, sempre atenta e comentarista habitual neste espaço , enviou-me uma referência importante de outro artigo científico do mesmo cientista brasileira, cujo teor, para que mais uma vez não se perca como nota de rodapé, vai aqui reproduzido:
1 comentários:
Glaucia disse...
Ótima a discussão. Gosto bastante do Sérgio Pena, é de coordenação dele um dos (até onde sei) poucos estudos sérios disponíveis publicamente sobre composição genética da população brasileira.
Não sei porque o movimento antirracialista "humanista" nunca usa, é bem bom. Segue aí de novo o link, já deixei uma vez aqui.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000100004
(meu único reparo é que a conclusão é um non sequitur monumental; uma opinião pessoal do(s) pesquisador(es) atravessa toda a camada de ciência anterior e bizarramente se instaura ali, como num desses trabalhos de graduação que verificam que X é Y mas concluem não que X seja Y, mas que X deveria ser Z e devemos evitar dizer que X é Y porque é muito errado e feio. Você dá aula, deve saber como é, não?)
Sábado, Novembro 14, 2009 3:29:00 PM
Esse artigo é o seguinte:
Pode a genética definir quem deve se beneficiar das cotas universitárias e demais ações afirmativas?
Sérgio D.J. Pena; Maria Cátira Bortolini
Estudos Avançados
Print version ISSN 0103-4014
Estud. av. vol.18 no.50 São Paulo Jan./Apr. 2004
doi: 10.1590/S0103-40142004000100004
(existe um link para a versão em pdf)
RESUMO
NESTE TRABALHO nós usamos o instrumental da genética molecular e da genética de populações para estimar quantitativamente a contribuição africana para a formação do povo brasileiro. Examinamos dois compartimentos genômicos: o DNA mitocondrial, de herança matrilínea, e o DNA nuclear, de herança bi-parental. Os estudos mitocondriais revelaram que aproximadamente 30% dos brasileiros autoclassificados como brancos e 80% dos negros apresentam linhagens maternas características da áfrica subsaariana. A partir destes dados, estimamos que pelo menos 89 milhões de brasileiros são afro-descendentes, um número bem superior aos 76 milhões de pessoas que se declararam negros (pretos e pardos) no censo de 2000 do IBGE. As análises de polimorfismos nucleares com marcadores "informativos de ancestralidade" mostraram resultados mais expressivos ainda. Usando estudos de brasileiros autoclassificados como brancos de várias regiões do Brasil, estimamos que aproximadamente 146 milhões de brasileiros (86% da população) apresentam mais de 10% de contribuição africana em seu genoma. Estes números devem ser levados em conta nas discussões sobre ações afirmativas no Brasil, mas em um sentido descritivo e não prescritivo.
==========
Pois bem, volto para comentar. É óbvio que o Brasil não comporta raças no sentido corriqueiro do termo, mas uma imensa mistura humana que vem se consolidando ao longo do tempo e que diluirá os genomas ancestrais dos habitantes originários e, sobretudo, dos imigrantes (forçados) africanos e (semi-voluntários) europeus e asiáticos num povo absolutamente único e original, moldado no cadinho multirracial que constitui, legitimamente e com orgulho, a população brasileira.
A despeito disso, os militantes da causa racialista vem insistindo em apregoar políticas de corte racial, notoriamente difíceis de serem aplicadas em face dessa realidade.
Independentemente das injustiças cometidas contra a população negra, de origem africana, ou seja, afrodescendente (mas nem por isso afrobrasileira, e sim exclusivamente brasileira, ainda que negra, parda, mulata, seja lá o que for), o caminho a seguir, obviamente, é o da integração cada vez maior dessas "raças" e a ativa promoção educacional daqueles que ficaram para trás em nossa República oligárquica e aristocrática (e até hoje, mas isso ocorre com todos os pobres), em lugar desse Apartheid racial que pretendem criar.
Como se deduz da última PNAD, a MAIORIA da população brasileira é afrodescendente, negra (pequena parte) ou mulata (imensa maioria dos que assim se classificam).
Esse aumento significativo na autoclassificação dos afrodescendentes obviamente tem a ver com a oportunidade criada de benefícios advindos dessa política racialista (cotas, reservas, preferências, ajuda oficial, etc).
Considero isso uma descida ao inferno do Apartheid, uma destruição da sociedade multirracial que vinha sendo criada naturalmente ao longo dos séculos.
Os novos racistas pretendem fazer recuar a propensão natural da humanidade a se misturar.
São descendentes, no sentido inverso, do equivocado Gobineau e suas propostas de separação estrita das raças.
Recomendo a leitura do arigo científico de Sergio Pena e Maria C. Bortolini...
Paulo Roberto de Almeida
14.11.2009
1503) O samba da mais-valia: para saudosistas e gozadores
Recomendo vivamente, um grupo engajado na luta pela liberação da inteligência, uma crítica ao capitalismo selvagem, a essa globalização perversa, enfim, todos esses reacionários que impedem o mundo de marchar rapidamente para o socialismo.
Não tenho certeza de que essa música apressará o ritmo, mas a sinfonia é bem adequada a nossos tempos. Em todo caso, se pode marchar em direção ao comunismo, cantando e sambando:
[Sergio Silva] O samba da mais-valia
http://www.youtube.com/watch?v=l5Il0h5scIY
Não tenho certeza de que essa música apressará o ritmo, mas a sinfonia é bem adequada a nossos tempos. Em todo caso, se pode marchar em direção ao comunismo, cantando e sambando:
[Sergio Silva] O samba da mais-valia
http://www.youtube.com/watch?v=l5Il0h5scIY
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
1502) O maior show da Terra: a seleção natural

Capa - The greatest show on Earth
O novo livro de Richard Dawkins, “O maior espetáculo da Terra”, lançado há menos de um mês, já ocupa o 17º lugar na lista de best-sellers não-ficção do jornal 'The New York Times'. Ele é rigorosamente científico, informativo, convincente e muito bem escrito
Em sua coluna de novembro, Sergio Pena comenta o último livro do biólogo e divulgador britânico Richard Dawkins e elogia sua defesa da evolução como fato, e não como teoria.
Nota PRA: Não sou necessariamente darwinista, pois eu me bato por idéias, não por pessoas. Mas certamente sou adepto da teoria da seleção natural, até aqui a melhor explicação disponível para a evolução da vida na Terra (e em outros planetas também). Por isso reconheço como importante esta coluna de Sergio Pena sobre o grande evolucionista (e ultra-darwinista) contemporâneo Richard Dawkins, ainda que eu reconheço que o seu zelo militante, quase "fundamentalista", contra as religiões (que são explicações ingênuas ou equivocadas do mundo), pode fazer mais mal do que bem à causa do evolucionismo e do darwinismo. Em todo caso, esta coluna deve ser lida com atenção.
O evangelista evolucionário
Sergio Danilo Pena
13/11/2009
Richard Dawkins, evangelista evolucionário, grande defensor e divulgador do fato da evolução (foto).
Neste ano que em que se comemoram 200 anos do nascimento de Charles Darwin (1809-1882) e 150 anos da publicação da Origem das espécies, é muito fácil cair na tentação de fazer um culto à personalidade. De fato, já discuti em uma coluna anterior o fato de que a narrativa da vida de Darwin que se tornou padrão na imprensa e na literatura popular é suspeitosamente similar à descrição da “trajetória do herói” popularizada pelo mitologista americano Joseph Campbell.
Sob esse prisma é interessante examinar a relação que há entre os escritos de Charles Darwin, na Origem e em seus livros posteriores, e a evolução tal como ela é concebida pela genética moderna. Nos últimos 150 anos, a seleção natural foi primeiro extensivamente modificada (e fortalecida) pela compatibilização com a genética mendeliana, na chamada Nova Síntese. Mais recentemente, foi enriquecida pelos avanços da genômica, passando a incluir a evolução neutralista por deriva genética como parte fundamental de seu cânone.
Metaforicamente, podemos comparar a evolução por seleção natural apresentada por Darwin a um avião equivalente ao 14-Bis de Santos Dumont (1873-1932), enquanto a evolução como conceituada hoje, lastreada em estudos diretos do DNA, seria um supersônico Concorde ou, melhor ainda, um bombardeiro Stealth.
A visão moderna da evolução descende de Darwin, mas com considerável modificação
É possível dizer que a visão moderna do processo evolucionário descende de Darwin, mas com considerável modificação. Ele não pode de forma alguma ser visto como a personificação da evolução, como ocasionalmente é retratado na imprensa.
Não chamamos a teoria da relatividade de “einsteinianismo”. Da mesma maneira, sugiro que a expressão “darwinismo”, muito usada e abusada por evolucionistas e especialmente por criacionistas, seja empregada exclusivamente para se referir ao que ele escreveu e abandonada de uma vez por todas como representação do todo da evolução.
Richard Dawkins
A evolução por seleção natural teve vários defensores e divulgadores nos últimos 150 anos. O primeiro foi Thomas Huxley (1825-1895), fundamental na propagação das idéias de Darwin, incapacitado de viajar e apregoar sua própria teoria por causa da doença que o aprisionava em sua residência rural em Kent, na Inglaterra. Por isso, Huxley recebeu o apelido de “Buldogue de Darwin”. Outro grande paladino da seleção natural no continente europeu foi o controverso Ernst Haeckel (1834-1919), ocasionalmente chamado, por analogia e origem natal, de “Dobermann de Darwin”.
Pois bem, a atual grande face pública da evolução natural é certamente o britânico Richard Dawkins (1941-). Tenho algumas restrições a Dawkins, principalmente pela sua posição ultrasselecionista. Mas é mister reconhecer o valor e a importância dessa grande figura humana. De fato, Dawkins e eu temos muito em comum: somos ambos racionalistas militantes e evolucionistas “roxos” (independentemente, nós dois sempre falamos sobre “o fato” da evolução).
No mês passado, em Nova Iorque, assisti a uma palestra de Dawkins, como parte da campanha de lançamento de seu novo livro The Greatest Show on Earth (“O maior espetáculo da Terra” – ver abaixo). Foi uma surpresa observar que o local – a Associação Hebraica (92Y), na esquina da rua 92 com a avenida Lexington – estava superprotegido pela polícia, presumivelmente para evitar qualquer tentativa de terrorismo. O quarteirão havia sido fechado ao tráfego e havia detectores de metal na entrada do auditório.
Dawkins tem uma aparência patrícia, com traços finos, personalidade suave (mas podendo em segundos se tornar duro como aço) e um sotaque inglês muito bonito, exalando cultura. Sem dúvida uma bela estampa. Com o auditório totalmente lotado, assistimos a um verdadeiro show de retórica, com explicações cristalinas e exemplos cativantes sobre a evolução.
No dia seguinte, Dawkins deu outra palestra, na Academia de Ciências de Nova York, que inclusive está disponível em um podcast, no qual ele é apresentado como “evangelista da evolução” e chamado de “Rottweiler de Darwin”. Na fala – que recomendo –, ele descreve, capítulo a capítulo, as ideias centrais do seu novo livro.
O maior espetáculo da Terra
A nova obra de Dawkins hoje ocupa o 17º lugar na lista de best-sellers não-ficção do New York Times (uma lista que raramente contém livros científicos). Em um golpe de marketing, escolheu o título “O maior espetáculo da Terra”, o mesmo usado para descrever o famoso circo de P.T. Barnum (1810-1891). Mais tarde, o título foi também usado no filme de 1952 dirigido por Cecil B. DeMille.
Entretanto, não é tudo papel machê: o texto é rigorosamente científico, informativo, convincente e muito bem escrito. Em outras palavras, motivo de admiração e inveja “positiva” deste colunista. Não vou descrever o seu conteúdo, que tem recebido dezenas de resenhas apreciativas, incluindo uma, em português, do jornalista Claudio Angelo na Folha de S. Paulo.
Entre as resenhas que vi, a mais peculiar foi a de Nicholas Wade, editor de ciências do New York Times. Wade decidiu implicar com o autor, embarcando em uma discussão epistemológica estéril sobre exatamente o ponto que eu mais concordo com Dawkins: a visão de que a evolução é um fato e não uma mera teoria.
A resenha de Wade catalisou uma carta ao editor que transcrevo aqui, pois é brilhante e resume pontos de grande importância.
A carta é do conhecido filósofo americano Philip Kitcher (1947-) , Professor da Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque. Ele escreve (minha tradução):
Na resenha do livro The Greatest Show on Earth, Nicholas Wade acusa Richard Dawkins de um erro filosófico. De acordo com Wade, os filósofos da ciência dividem proposições científicas em três tipos — fatos, leis e teorias — e, de forma contrária às afirmativas de Dawkins, a evolução, que é simplesmente uma teoria, não pode ser considerada um fato. Entretanto, a filosofia da ciência contemporânea oferece um vocabulário muito mais vasto e detalhado para o pensamento das ciências do que é pressuposto na taxonomia supersimplificada de Wade e seus confusos palpites sobre “verdade absoluta”. Embora filósofos possam discordar de aspectos dos argumentos de Dawkins em outros tópicos, ele tem uma compreensão mais firme e sutil do que sugere a resenha de Wade.
O ponto crucial é que, como Dawkins corretamente percebe, a distinção entre teoria e fato, em discussões filosóficas assim como coloquialmente, pode ser estabelecida de duas maneiras diferentes. Por um lado, teorias são concebidas como sistemas gerais de explicação e predição, enquanto fatos são relatos específicos sobre processos e eventos. Por outro lado, “teoria” é usada para sugerir que há espaço para dúvidas racionais, enquanto “fato” sugere algo que é tão amplamente confirmado pela evidência que pode ser aceito sem debate.
Os oponentes da evolução se deslocam da ideia de que a evolução é uma teoria, no primeiro sentido, para concluir que é (apenas) uma teoria, no segundo. Qualquer inferência desse tipo é falaciosa, pois muitos enfoques sistemáticos de fenômenos naturais – como a compreensão de reações químicas em termos de átomos e moléculas e o estudo da hereditariedade em termos de ácidos nucleicos – são tão bem alicerçados que contam como fatos (no segundo sentido). Muitos cientistas e filósofos que já escreveram sobre evolução têm indicado que a teoria contemporânea, que descende de Darwin, tem o mesmo status – ela também deve ser considerada um “fato”. Dawkins está plenamente justificado em segui-los.”
Assim, com palavras sábias e cristalinas, Kitcher, a meu ver, sacramenta irreversivelmente a evolução como fato.
E o New York Times dá uma demonstração de integridade jornalística ao publicar uma carta de crítica a um de seus editores, em contraste com algumas publicações brasileiras que só divulgam cartas elogiosas.
Sergio Danilo Pena
Departamento de Bioquímica e Imunologia
Universidade Federal de Minas Gerais
Evolução Darwin Genética Deriva genética
1501) Frases memoráveis: o mundo gira...
Da série, "frases para entrar para a história":
Do presidente Lula, às vésperas da reunião de Copenhague sobre o meio-ambiente:
Então, essa questão do clima é delicada por quê? Porque o mundo é redondo. Se o mundo fosse quadrado ou retangular, e a gente soubesse que o nosso território está a 14 mil quilômetros de distância dos centros mais poluidores, ótimo, vai ficar só lá. Mas, como o mundo gira, e a gente também passa lá embaixo onde está mais poluído, a responsabilidade é de todos.
PS.: Eu, na verdade, não estou esperando nenhum comentário a esta frase memorável sob todos os aspectos... (PRA)
PS2: Para que não digam que estou inventando algo, eis o link para a declaracão ao vivo: http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL1377432-16021,00-DESMATAMENTO+NA+AMAZONIA+E+O+MENOR+EM+ANOS.html
PS3: Me pergunto se não é a famosa cangebrina, aquela sugestão do jornalista americano...
PS4: E tem mais uma:
"Eu já disse várias vezes: Freud dizia que tinha algumas coisas que a humanidade não controlaria. Uma delas eram as intempéries".
Desisto...
Do presidente Lula, às vésperas da reunião de Copenhague sobre o meio-ambiente:
Então, essa questão do clima é delicada por quê? Porque o mundo é redondo. Se o mundo fosse quadrado ou retangular, e a gente soubesse que o nosso território está a 14 mil quilômetros de distância dos centros mais poluidores, ótimo, vai ficar só lá. Mas, como o mundo gira, e a gente também passa lá embaixo onde está mais poluído, a responsabilidade é de todos.
PS.: Eu, na verdade, não estou esperando nenhum comentário a esta frase memorável sob todos os aspectos... (PRA)
PS2: Para que não digam que estou inventando algo, eis o link para a declaracão ao vivo: http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL1377432-16021,00-DESMATAMENTO+NA+AMAZONIA+E+O+MENOR+EM+ANOS.html
PS3: Me pergunto se não é a famosa cangebrina, aquela sugestão do jornalista americano...
PS4: E tem mais uma:
"Eu já disse várias vezes: Freud dizia que tinha algumas coisas que a humanidade não controlaria. Uma delas eram as intempéries".
Desisto...
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