sexta-feira, 27 de novembro de 2009

1551) Eleicoes e politica na America Latina: Financial Times


Latin America sets course for the centre
By Oliver Balch in Buenos Aires
Financial Times, November 27 2009 00:07

As Latin America gears up for a spate of elections over the next few weeks, voters in Uruguay will be watched closely this weekend for confirmation that the region’s leftward drift of recent years is on the wane.

“My model is Lula – not Chávez,” José Mujica, Uruguay’s ruling leftwing party candidate, has said often during his campaign.

Placing himself in the mould of Luiz Inácio Lula da Silva, Brazil’s moderate leftist president, rather than of Hugo Chávez, Venezuela’s fiery, radical anti-US leader, should help him to win Sunday’s presidential run-off, polls suggest.

Such a move towards the political centre in countries such as Chile, Uruguay, Colombia and Brazil has led some analysts to rethink traditional party divisions.

“The big debate going on in Latin America is not so much between right and left, but between institutions and populism,” said Felipe Noguera, a Buenos Aires-based political analyst.

“Institutions will win in the long run. But how long that will take and how the battle is going, we don’t know.”

Mr Mujica, a former guerrilla during the 1960s, has sought to rebut opposition claims that his government would see a shift towards the radical socialism of President Chávez’s so-called Bolivarian revolution in Venezuela.

Latin-America-mapSuch an electoral ploy makes sense. Association with Mr Chávez has increasingly become a liability for Latin America’s presidential candidates.

The economies of Brazil and Venezuela provide starkly contrasting examples to the rest of the region. Brazil has raced out of recession and is expected to grow 3.5 per cent next year, according to the International Monetary Fund, while Venezuela’s economy has just slipped into recession and is plagued by power and water shortages.

Leading leftwing candidates in the last presidential elections in Peru and Mexico both saw popular support ebb away after allegations of overt Venezuelan support, notes Peter Hakim, president of the Washington-based Inter-American Dialogue think-tank.

“It’s very rare that a candidate associates himself with Chávez. Even Rafael Correa [president of Ecuador] did not associate himself explicitly,” he said.

In Chile, the campaign leading to the December 13 election is largely free of ideological politics.

“There seems to be an agreement that some things should be off the table when it comes to discussing policy issues,” said Patricio Novia, a Latin American specialist at New York University.

The list of sacrosanct subjects includes a range of orthodox economic and social policies, such as the need for a strong central bank, counter-cyclical fiscal policies and increased investment in education.

As such, a victory for the rightwing National Renewal party – as the majority of polls predict – would not usher in a marked change in policy direction.

“Chileans seem to be saying they want to keep the same policies, but have new people lead those policies,” said Mr Novia.

Just as the political left in Chile has favoured a move towards the centre since coming to power almost two decades ago, so the revitalised right is adopting a moderate course.

“Our objective is to maintain the network of social protection that has been constructed by the last governments, especially during the government of Michelle Bachelet,” Sebastián Piñera, the presidential frontrunner, told the Financial Times.

Chile’s political convergence is resulting in a blurring of lines between traditional right and leftwing issues. Mr Piñera’s campaign, for example, has surprised voters by featuring a television advertisement openly endorsing homosexual couples.

“This shows a level of tolerance that was unthinkable for the right a few years ago, but now it seems to be a non-issue for the right,” said Mr Novia.

One exception in the region is Bolivia. Evo Morales, the leftwing president, looks likely to secure another term in presidential elections on December 6.

Mr Morales has nationalised the country’s gas fields, rewritten the constitution and is a strong critic of the US. Opposition figures claim that his campaign has been part-funded by Mr Chávez, his close ally.

His vocal support for Mr Chávez’s policies has not dented his approval ratings, however. This stands at 52 per cent – well ahead of his nearest opponent, Manfred Reyes Villa, with 21 per cent.

The Bolivian president – a polarising figure domestically who is accused by the opposition of authoritarianism – has been aided by a resilient economy, which has drawn praise for his administration from the IMF.

Additional reporting by Naomi Mapstone in Lima
Copyright The Financial Times Limited 2009.

1550) A Amazonia na Academia Brasileira de Ciencias

Conjunto de materiais sobre a Amazônia disponibilizados no site da ABC

Desafios e perspectivas para a Amazônia
A Acadêmica Bertha Becker, para quem o desenvolvimento da região passa por pesquisas e investimentos na integração voltada para a economia da floresta, abriu evento da ABC e Memorial da América Latina, em São Paulo.
Leia mais no site da ABC

Amazônia: diversidade sócio-cultural e integração sul-americana
Representantes da UFRGS, Greenpeace, Imazon, Instituto Socioambiental e ONG peruana participaram de mesa-redonda coordenada pela Acadêmica Maria Manuela Carneiro da Cunha, no evento da ABC sobre a Amazônia, em São Paulo.
Leia mais no site da ABC

Ciência, tecnologia e inovação na Amazônia
Mais competências científicas e tecnológicas na região amazônica: esse foi o foco da mesa redonda que reuniu BNDES, ABC, INPA, INPE, Capes, Natura e ONG colombiana, no evento Amazônia: Desafios e Perspectivas de Integração Regional.
Leia mais no site da ABC

C,T&I como motores de um novo modelo de desenvolvimento para a Amazônia
Mesa-redonda contou com representantes do Governo do Pará, da Conservação Internacional e da Amata S.A., coordenados pelo Acadêmico Roberto Dall'Agnol e pela Doutora em Ecologia Ima Vieira, durante o evento Amazônia: Desafios e perspectivas de Integração Regional.
Leia mais no site da ABC

Arranjos multilaterais e dimensões estratégicas da integração sul-americana
Representantes da USP, da UFRJ e do BID, coordenados por diretora da Embrapa e pela Acadêmica Bertha Becker, participaram da última mesa-redonda do evento Amazônia: Desafios e Perspectivas de Integração Regional.
Leia mais no site da ABC

1549) Brasileiros gostam do Estado, querem mais Estado

Bem, podemos até dizer que os brasileiros amam o Estado e estão dispostos a fazer de tudo para estar no Estado, visto como uma mãe generosa (certamente para os seus funcionários).
Com base na nota abaixo, só posso prever que o Brasil vai se atrasar, relativamente a outros países, por uma razão muito simples: alguém pode me dizer quais são e quais os volumes representam as riquezas criadas pelo Estado?
Se o Estado, como acredito, não cria nenhuma riqueza, mas apenas retira da sociedade uma parte da riqueza criada por empresários e trabalhadores, então o que vai acontecer é frações maiores dessas riquezas estarão sendo transferidas da sociedade para as mãos do Estado (e para os bolsos de alguns dos seus funcionários). Sendo assim, não haverá investimento suficiente para sustentar o crescimento da economia, e o Brasil, portanto, vai crescer pouco.
A renda per capita dos brasileiros vai diminuir, relativamente à de outros nacionais de outros países,que não possuem um Estado tão grande e tão caro quanto o nosso. Os brasileiros vão ficar mais pobres, mas continuarão a amar o Estado, e pedir que o Estado corrija essas "desigualdades". O Estado vai corrigir, supostamente, mas como ele sempre cobra um pedágio, no caminho da "redistribuição", o que vai ocorrer é o exato oposto do pretendido...
Como vêem, sou pessimista...
Paulo Roberto de Almeida

Pesquisa mostra que 64% dos brasileiros querem maior controle do governo na economia
Informativo digital da Liderança do PT, Câmara dos Deputados
27.11.2009

Uma pesquisa feita a pedido da BBC em 27 países e divulgada nesta semana revelou que 64% dos brasileiros entrevistados defendem mais controle do governo sobre as principais indústrias do País. Não apenas isso: 87% dos entrevistados defenderam que o governo tenha um maior papel regulando os negócios no País, enquanto 89% defenderam que o Estado seja mais ativo promovendo a distribuição de riquezas.
O levantamento é divulgado em um momento em que o País discute a questão da presença estatal na economia. Definir para que caixa vai a receita levantada com a exploração de recursos naturais importantes, como o petróleo da camada pré-sal, divide opiniões entre os que defendem mais e menos presença do governo no setor econômico.
A insatisfação dos brasileiros com o capitalismo de livre mercado chamou a atenção dos pesquisadores, que qualificaram de “impressionante” os resultados do país. “Não é que as pessoas digam, sem pensar, 'sim, queremos que o governo regulamente mais a atividade das empresas'. No Brasil existe um clamor particular em relação a isso”, disse Steven Kull, o diretor do Programa sobre Atitudes em Políticas Internacionais (Pipa, na sigla em inglês), com sede em Washington.
O percentual de brasileiros que disseram que o capitalismo “tem muitos problemas e precisamos de um novo sistema econômico” (35%) foi maior que a média mundial (23%). Enquanto isso, apenas 8% dos brasileiros opinaram que o sistema “funciona bem e mais regulação o tornaria menos eficiente”, contra 11% na média mundial.
Para outros 43% dos entrevistados brasileiros, o livre mercado “tem alguns problemas, que podem ser resolvidos através de mais regulação ou controle”. A média mundial foi de 51%. “É uma expressão de grande insatisfação com o sistema e uma falta de confiança de que possa ser corrigido”, disse Kull.
Socialismo - “Ao mesmo tempo, não devemos entender que 35% dos brasileiros querem algum tipo de socialismo, esta pergunta não foi incluída. Mas os brasileiros estão tão insatisfeitos com o capitalismo que estão interessados em procurar alternativas.”
A pesquisa ouviu 835 entrevistados entre os dias 2 e 4 de julho, nas ruas de Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Steven Kull avaliou que esta discussão não é apenas brasileira, mas latino-americana. Para ele, o continente está “mais à esquerda” em relação a outras regiões do mundo. A pesquisa reflete o “giro para a esquerda” que o continente experimentou no fim da década de 1990, quando o modelo de abertura de mercado que se seguiu à queda do muro de Berlim e à dissolução da antiga União Soviética dava sinais de esgotamento.
Começando com a eleição de líderes como Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, o continente viu outros presidentes de esquerda chegarem ao poder, como o próprio Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador).

1548) Relacoes especiais Brasil-França (muito além das armas)

Com base nesta nota, abaixo transcrita, do jornalista Carlos Brickmann, ouso afirmar que o assunto da compra de aviões de caça já está resolvido, a favor da França, obviamente, que já colocou submarinos e vários outros brinquedos nas cestas de compras dos militares brasileiros.
Ainda bem que somos um país rico, que pode sair por aí gastando dinheiro com armas, sobretudo com armas que nunca serão usadas e que nos colocam um pouco mais distantes de um acordo de cooperação tecnológica e militar com o único parceiro que poderia integrar o Brasil nos esquemas de segurança em nível internacional.

Dinheiro na água

O Ministério da Defesa pediu empréstimo de R$ 11,2 bilhões a bancos franceses para o Programa de Desenvolvimento de Submarinos. O programa prevê a construção de uma base e de um estaleiro, e a produção de um submarino atômico e quatro convencionais. Os franceses ganham vendendo tecnologia, equipamento e cobrando juros, a Odebrecht ganha por construir base e estaleiros sem concorrência, a Marinha ganha seus submarinos. Você, caro leitor, paga.

1547) Estado da Populacao Mundial - Relatorio do UNPFA

The State of World Population 2009
Facing a changing world: women, population and climate

United Nations Population Fund - November 2009

Available online as PDF [104p.] at: http://www.unfpa.org/swp/2009/en/pdf/EN_SOWP09.pdf

Website: http://www.unfpa.org/swp/2009/en/overview.shtml
French: http://www.unfpa.org/swp/2009/fr/index.shtml

“…..Climate—the average of weather over time—is always changing, but never in known human experience more dramatically than it is likely to change in the coming century. For millennia, since civilizations arose from ancient farming societies, the earth's climate as a whole was relatively stable, with temperatures and patterns of rainfall that have supported human life and its expansion around the globe.
A growing body of evidence shows that recent climate change is primarily the result of human activity. The influence of human activity on climate change is complex. It is about what we consume, the types of energy we produce and use, whether we live in a city or on a farm, whether we live in a rich or poor country, whether we are young or old, what we eat, and even the extent to which women and men enjoy equal rights and opportunities. It is also about our growing numbers—approaching 7 billion.
As the growth of population, economies and consumption outpaces the earth's capacity to adjust, climate change could become much more extreme—and conceivably catastrophic. Population dynamics tell one part of a larger, more intricate story about the way some countries and people have pursued development and defined progress and about how others have had little say in the decisions that affect their lives.
Climate change's influence on people is also complex, spurring migration, destroying livelihoods, disrupting economies, undermining development and exacerbating inequities between the sexes…..”

Contents:

Foreword
Overview
As greenhouse gases accumulate in the atmosphere, droughts, severe storms and rising seas threaten to take an especially heavy toll on women, who make up a large share of the world’s poor.
1 Elements of climate change
The warming of the earth’s atmosphere is triggering extreme weather, melting polar ice caps and acidifying the oceans at a much faster pace than scientists had previously expected. What will happen when the Arctic ice is gone and coral reefs are dead?

2 At the brink
Climate is already changing. Is it too late to do anything about it? Is humanity on an irreversible trajectory toward disaster
3 On the move
Environmental degradation and climate-related disasters will drive people from their homes. But how many people will relocate? Where will they go? Are men or women more likely to migrate?

4 Building resilience
Millions of people will have to adapt to the impacts of climate change. But will women bear a disproportionate share of the burden?

5 Mobilizing for change
Governments and individuals alike must take action now to slow greenhouse gas emissions and prevent catastrophe. Who is taking the lead? What influence does gender have on the outcome?

6 Five steps back from the brink
What can be done to rein in the runaway greenhouse effect and stabilize the planet’s climate?

Notes
Indicators

1546) Politica externa do Brasil - editorial do Washington Post

Muito raramente os jornais americanos fazem editoriais sobre a América Latina, mais raramente ainda sobre países em particular. Apenas quando estão preocupados com algum desenvolvimento insatisfatório aos olhos de Washington, ou que pretendem, justamente, transmitir o que pensa o establishment de Washington -- National Security Council, Department of State, White House -- sobre algum governo em especial. Um editorial nem sempre é feito para distinguir...

A hug from Lula
Why Brazil's president offered a red carpet to Mahmoud Ahmadinejad
Editorial Washington Post, Friday, November 27, 2009

FOR SEVERAL years, U.S. policy in Latin America has aimed at forging a partnership with Brazil. Like the Bush administration before it, the Obama administration sees Latin America's largest country as an emerging superpower whose economic dynamism and relatively stable democracy make it a natural ally. But Brazil's potential has been frequently overestimated in the past; an old saw says it will always be the country of the future. And this week its popular but erratic president, Luiz Inácio Lula da Silva, is doing his best to prove the cynics right.

On Monday Mr. Lula literally gave a bear hug to Iranian President Mahmoud Ahmadinejad, who thereby recorded a major advance in his effort to prop up his shaky domestic and international standing. Heading an extremist regime that is rejected by the majority of Iranians -- and that has just spurned a compromise on its outlaw nuclear program -- the Iranian president headed abroad in search of friends. He found few: Gambia and Senegal in Africa; and Hugo Chávez's Venezuela, along with two of its satellites, Bolivia and Nicaragua.

Mr. Ahmadinejad's world tour would have looked pathetic and served to underline the growing isolation of his hard-line clique, if not for the warm welcome from Mr. Lula. When even Russia is publicly discussing new sanctions against Tehran, the Brazilian government signed 13 cooperation agreements with the regime, prompting Mr. Ahmadinejad to predict that bilateral trade would grow fifteenfold.

Mr. Lula had nothing to say about the bloody suppression of Iran's pro-democracy reform movement, or Mr. Ahmadinejad's denial of the Holocaust and Israel's right to exist. Instead he declared that Iran has a right to its nuclear program. Mr. Ahmadinejad, in turn, endorsed Brazil's bid for a permanent seat on the U.N. Security Council.

Mr. Lula showed why the West would be wise to keep that chair on hold. His advocates say he invited the Iranian president because he aspires to broker peace in the Middle East. If so, the Brazilian president merely demonstrated his ignorance of the region. The Revolutionary Guard faction that Mr. Ahmadinejad represents is the force most implacably opposed to an Israeli-Arab settlement; that's why it backs the terrorism of Hamas and Hezbollah. Mr. Lula's embrace of Mr. Ahmadinejad will not change his fanaticism, but it may make him stronger. It will also ensure that any attempt by Brazil to intervene in the Middle East will be dismissed by Israel and mainstream Arab governments.

Brazil may yet become a regional power; Mr. Lula's mostly sensible domestic policies have made it stronger. But if it is to acquire global influence, Brazil will have to reform the anachronistic Third Worldism that informs its foreign policy. By embracing pariahs such as Mr. Ahmadinejad or attempting to position itself between the democratic West and the world's rogue states, Brazil will merely ensure that it remains the country of the future.

1545) Politica Externa Brasileira na Campanha Presidencial

Comentário inicial PRA: Independente de um julgamento ponderado que se faça sobre a política externa do atual governo, o certo é que intelectuais de academia continuam tão alienados quanto antes, quando se achava que havia uma alternativa o capitalismo perverso. Vejam o que disse Roberto Scharwz numa reunião recente em SP:
"O que me parece errado é adotar uma visão rósea do capitalismo porque o Brasil está com um vento a favor ou porque temos amigos no governo. A irracionalidade e a destrutividade do capitalismo estão aí, visibilíssimos na crise e no despropósito da mercantilização total. E é nessas discussões que o marxismo finca sua crítica, mesmo que, no momento, não faça muitos adeptos."

Ou seja, enquanto o mundo gira, e a Lusitana roda (desculpem a piada antiga), os intelectuais continuam raciocinando em termos de capitalismo e marxismo. Que cabeça esses acadêmicos...


A política externa sob escrutínio popular
Maria Cristina Fernandes
Valor Econômico, 27.11.2009

As "perdas internacionais" de Leonel Brizola e o "fora FMI" de Luiz Inácio Lula da Silva marcaram os limites que, há apenas 20 anos, circunscreveram o tema da Política externa nas eleições presidenciais.

É outro o Brasil que, nesse curto espaço de tempo, vê o eixo do discurso político passar das injustiças da ordem internacional contra o país às pretensões nacionais de maior protagonismo na mediação do conflito do Oriente Médio.

A crítica de próprio punho do governador de São Paulo, José Serra (Folha de S.Paulo, 23/11/2009) à visita do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, marca a estreia do debate da Política externa na campanha presidencial e é, de antemão, um reconhecimento de que o Brasil mudou.

Pela crítica do pré-candidato tucano, depreende-se que o objeto de discórdia é o mérito da visita do governante de um país ditatorial e repressivo e não a pretensão brasileira à mediação.

No dia seguinte o noticiário registraria que nem mesmo o presidente americano questiona as pretensões da diplomacia brasileira. Em carta a Lula, na qual explicitaria suas insatisfações com a visita sem questionar o direito do Brasil de promovê-la, Barack Obama acabaria por aceitar a legitimidade da atuação brasileira ao pedir que a pauta do encontro incluísse direitos humanos e cooperação nuclear.

O historiador brasileiro Luiz Felipe de Alencastro, cuja sede em Paris não o impede de acompanhar detidamente a conjuntura nacional, assistiu à largada do tema na campanha presidencial com incontido interesse.

Custa-lhe entender por que a indignação que cerca a visita de Ahmadinejad não se estende à relação do Brasil com outros países ditatoriais como, por exemplo, a China. O vice-presidente Xi Jinping veio ao Brasil em fevereiro. A visita do representante do país cuja crescente pauta comercial amparou o Brasil na crise não recebeu nenhuma moção de repúdio ou desagrado da oposição.

Alencastro compara a reação contra o presidente iraniano àquela que antecedeu a visita de Lula à Líbia de Khadafi, que precederia sinais de distensão entre as relações do ditador com outros países.

Apesar de Honduras, não vê abandono do princípio da soberania como norteador da Política externa brasileira - O mundo mudou. A não ingerência era uma maneira de se acomodar atrás da liderança americana, diz.

O historiador só vê dois momentos comparáveis ao momento de maior protagonismo das relações exteriores no debate político interno do país, ambos do século XIX - o fim do tráfico negreiro e a Guerra do Paraguai.

E atribui o viés hoje dominante no Itamaraty à retomada da linha que norteou a instituição sob os auspícios de San Thiago Dantas, chanceler do governo João Goulart e paraninfo da turma do ministro Celso Amorim no Rio Branco.

Era o mesmo lado ao qual se perfilava o então presidente da União Nacional dos Estudantes (Une), José Serra. Isso talvez explique por que no seu primeiro libelo de Política externa nessa campanha não haja uma única linha de repúdio ao maior protagonismo adotado pelo Itamaraty.

Tão proveitoso quanto observar a linha de confronto que Serra traçará com seus antigos aliados será acompanhar os atritos dentro de sua própria aliança partidária. Herdeiro das forças que derrotaram San Thiago Dantas e sua turma, o DEM, principal aliado serrista, é hoje o partido mais ativo, nos debates parlamentares, à conduta do Itamaraty.

Sem diferenças gritantes em sua Política econômica e com quaisquer tentativas de limitar as políticas sociais inviabilizadas pelas urnas, o DEM tem usado a Política externa para exercitar um anticomunismo embolorado.

O país das perdas internacionais agora tem poder de veto no FMI, mas o que certamente estará fora do debate é que o ingresso do Brasil não muda o jogo.

Na noite da última terça-feira feira, quando caiu um aguaceiro em São Paulo, tucanos e petistas se misturaram aos intelectuais do Cebrap para comemorar os 40 anos da instituição, da qual Alencastro também foi ativo colaborador. Lá Roberto Schwarz deixaria registrado o depoimento mais contundente sobre os novos tempos do Brasil na ordem mundial.

Dizendo não se arrepender de ter votado em Lula todas as vezes em que este se candidatou e de avaliar positivamente tanto o seu governo quanto o de Fernando Henrique Cardoso, Scharwz assume os riscos de afirmar que, no futuro, ambos os governos, além do de Collor, serão vistos como um único bloco que melhorou a posição relativa do Brasil na globalização.

Fiel às convicções que um dia inspiraram aquele centro de estudos, Scharwz concluiu: O que me parece errado é adotar uma visão rósea do capitalismo porque o Brasil está com um vento a favor ou porque temos amigos no governo. A irracionalidade e a destrutividade do capitalismo estão aí, visibilíssimos na crise e no despropósito da mercantilização total. E é nessas discussões que o marxismo finca sua crítica, mesmo que, no momento, não faça muitos adeptos.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

E-mail mcristina.fernandes@valor.com.br

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