Bem, volto ao tema já exposto em dois post precedentes, 1750 e 1751, que caberia recuperar para ler também os comentários:
sábado, 23 de janeiro de 2010
1750) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (1)
[a propósito da matéria: "A obsessão totalitária" - Fábio Portela, Revista Veja, edição 2149 - 27 de janeiro de 2010]
domingo, 24 de janeiro de 2010
1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileira (2)
[na qual eu transcrevia e fazia minhas observações de caráter metodológico a um comentário do leitor que figura abaixo]
O comentarista em questão, um jovem acadêmico baiano -- que eu não chamaria de historiador, pois lhe faltam importantes requisitos metodológicos para tanto; ele é apenas formado em história, com 'h' minúsculo... -- retorna à carga para retrucar ou responder ao que eu disse.
Ele se esquiva, porém, de fazer a única coisa que eu havia pedido a ele, que era comentar o teor da matéria da Veja, em lugar de lançar invectivas contra a revista.
Não contente em continuar a vituperar contra a revista, ele assume a defensiva de suas posições, mas como sempre cheio de adjetivos e colocações impressionistas, sem jamais entrar no coração da matéria, que era, relembro, tecer considerações inteligentes, ou pelo menos interessantes, sobre a liberdade de expressão e a tentativa canhestra -- eu até diria liberticida -- de cercear essa liberdade por uma tribo de órfãos do leninismo encastelados no poder.
Eu havia solicitado tão somente que ele se pronunciasse sobre as frases respectivas de Jefferson e de Lênin, transcritas nessa matéria.
Em lugar de fazê-lo (o que é seu direito), ele prefere continuar atacando o veículo, e silenciar sobre o cerne da matéria.
Ele diz, por exemplo:
"O ataque a revista Veja é justo."
PRA: Acho que isso é uma opinião pessoal, mas como eu disse, isso é o que menos interessa. A matéria poderia ter sido publicada pela Caros Amigos, pela Carta Capital, pela revista do Comitê Central do PSOL (se ele existir e tiver uma), pelo Gramna, o único jornal existente em Cuba (e que serve mais de papel higiênico do que propriamente para informação, uma palavra que passa por piada na ilha), não importa. A única coisa relevante seria comentar se a liberdade de imprensa estaria melhor defendida com a realidade que temos, que se aproxima (mas não muito) da situação descrita por Jefferson, ou se ela estaria melhor com as posições de Lênin, que combinam bastante com o que pretendem os inimigos da liberdade encastelados no poder.
Nosso jovem aprendiz de historiador também diz que "A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica." Mas ele tergiversa sobre o leninismo enrustido no governo Lula, quando o meu pedido a ele era outro. Não pretendo uma discussão ideológica sobre essas viúvas do socialismo, que existem e ficam muito desconfortáveis com um governo que aplica uma política econômica neoliberal. Eu apenas queria os comentários do rapaz sobre a liberdade de expressão.
Não tive nada disso, mas apenas diatribes, adjetivos, impressionismos.
Era minha escolha (e meu direito) não publicar esse tipo de material, para não cansar o leitor, mas como eu abri a discussão, permito-me conceder-lhe uma vez mais espaço para suas manifestações, inclusive por uma questão de justiça: no meio de tantos afazeres, de tantos estudos, ele se deu ao trabalho de interromper suas atividades para me responder, o que é um sinal de consideração.
Vai, portanto, transcrito abaixo, o que ele tem a dizer. Depois eu volto com duas sugestões.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.2010)
Equiano Santos deixou um novo comentário sobre a sua postagem "1751) A obsessao totalitaria da esquerda brasileir...":
" Caro PRA,
Permita-me chamá-lo de professor, pois devo ao senhor o meu amor pelas discussões sobre política externa e relações internacionais, além de considerar seus escritos parte da minha permanente formação. Permita-me também uma tréplica, pois minhas poucas palavras e seu desconhecimento a meu respeito acabou sendo objeto de confusão. Isto é perfeitamente normal e me dá grande vantagem sobre o senhor, pois conheço mais de ti do que ao contrário.
Certamente esta tréplica demorou um pouco. Os estudos voltados ao concurso para carreira diplomática, a prática docente e as atividades de pesquisa tomam uma imensa parte do meu tempo. Isso explica a paralisia do meu blog e me deixa bastante impressionado com tamanha versatilidade que o senhor possui.
Vejamos...
Poderia iniciar esta tréplica de variadas formas... Melhor, no entanto, iniciar identificando o seu discurso. Podemos caracterizá-lo como uma conhecida forma de Argumentum ad Hominen, do qual se exclui uma proposição pelo fato da mesma ser objeto de defesa de indivíduos, no mínimo, contestáveis (pelo menos ao seu ver). Se pretende rejeitar minha opinião “batendo em cachorro morto”, tentando me colocar no rol dos saudosistas do socialismo real, houve um erro na pontaria. Lembro-te que o movimento pelo qual tradicionalmente chamamos de esquerda corresponde a um amplo leque de correntes onde, desde os tempos das primeiras manifestações operárias no velho continente, foi caracterizado por seu amplo pluralismo. Esse pluralismo marcou também o próprio marxismo, fazendo de Lênin tão diferente de um Bernstein (não estou aqui para discutir sobre revisionismo, pois todos são revisionistas, vez que não existe uma ortodoxia marxista). Enfim, no que diz respeito ao socialismo real, à apologia a Lenin, Stálin, Fidel e outros personagens que fizeram da revolução um caminho para transformação, sinto o mesmo arrepio que o senhor. Digo mais, na minha prateleira de livros, as “Obras Escolhidas” de Lênin são permanentemente vigiadas pelo “Arquipélago Gulag”, de Soljenítsin. Dito isto, o que falar sobre meu comentário que desencadeou nosso debate?
O ataque a revista Veja é justo. A matéria assinada por Fábio Portela é anacrônica, ao fazer uso de termos sem nenhuma correspondência com o presente. Que soviets, que leninismo? Aponte-me Lênin no programa do PT, no que diz respeito à tática e a estratégia do partido que me calo. Aponte-me alguma apologia de Lula e do governo ao socialismo real que me calo. Aponte-me alguma relação entre o leninismo e o governo Lula que me calo! Não há leninismo, bolcheviques tão pouco. Tudo que se tem são correntes pouco expressivas que, ou são minorias dentro do partido ou que, como minorias, representam a base aliada. Ou o senhor acha que um ministério do esporte representa uma bolchevização do governo? Inclusive, nem nos tempos iniciais, em que o partido era marcado pelo radicalismo, houve um programa que visasse uma revolução.
É dentro deste contexto que caracterizei e ainda caracterizo Veja de saudosista, pois suas análises são caducas e ainda enxergam o mundo de maneira bipolar, comunistas onde não existem. São indivíduos que sonham com as bombas da guerra fria e que passam horas se deliciando com Rambo. Por isso chamei de revista panfletária... E ela é! Panfletária e preguiçosa, pois ao invés de apostar em argumentos inteligentes, apostar em investigações e análises fundamentadas, preferem ocultar e “abrir a boca” com chavões militantes...
Lula governa tendo uma base heterogênea que vai desde os movimentos populares a setores do empresariado brasileiro, escreveu a famosa “Carta ao Povo Brasileiro” se comprometendo com uma agenda econômica do qual não poderia ser modificada e assim o fez. Não estou aqui para defender o governo, apenas para que parem com essa paranóia de que “os comunistas estão chegando” ou de que por trás da bandeira do PT há uma foice e um martelo. O debate é outro...
É necessário dizer ainda, que meu posicionamento perante essa revista não deve ser confundido com a postura de um historiador perante as fontes. Como fonte, as revistas representam um importante meio de informação e todas elas devem ser utilizadas para que, a partir de uma análise apurada, possa construir o conhecimento histórico. Mas lembro ao senhor que existem muitas perguntas que um historiador faz às fontes, entre elas estão “quem escreveu isso?”, “qual sua intencionalidade?”. Ainda não li o seu “Formação da diplomacia econômica no Brasil: Império” . Comprei mas ainda não o li, entretanto tenho certeza que durante suas pesquisas fez estas perguntas às fontes consultadas (Ficarei honrado de ter uma dedicatória do senhor no meu livro se algum dia desses passar por Salvador). Não sou ainda um bom historiador, mas, no projeto de mestrado que estou construindo, procuro analisar as fontes da melhor maneira possível.
Bem, professor...não vou entrar no tema do Programa Nacional de Direitos Humanos, pois minha crítica, como o senhor pôde constatar, foi direcionada a outra questão. Além disso, ainda estou formando uma opinião a respeito e conto com a ajuda do senhor e do seu blog para sempre me fornecer o “outro lado da moeda”.
Obrigado pela atenção... Estaria faltando com a verdade se dissesse que não estou ansioso por uma resposta. Diferente da primeira, porém, esta não haverá um retorno. Voltarei ao posto de leitor do seu blog, posição que, frente ao senhor, confesso, sinto-me muito mais a vontade do que a de um debatedor. "
(Fim de transcriçao)
---------
Permito-me um único comentário final:
PRA: O Equiano, como tantos jovens brasileiros, é vítima do festival de idiotices que uma manada inteira de energúnemos -- alguns idiotas completos, outros apenas ignorantes, outros ainda atuando de má-fé -- dissemina impunemente nas universidades brasileiras. Digo impunemente não porque eles devessem ser cerceados, mas porque eles se aproveitam da total irresponsabilidade das universidades públicas para falar bobagens sem jamais se responsabilizar pelo total surrealismo de seus argumentos, que não guardam a mínima conexão com a realidade.
Se eu pudesse fazer apenas duas recomendações a esses jovens, seriam estas aqui:
1) Esqueçam os seus professores, desliguem dessas aulas ridículas, coloquem seus iPods nos ouvidos e abram um bom livro em sala de aula; se puderem faltar, melhor, se não puderem, leiam, apenas, sejam autodidatas intensivos; vocês aprenderão mais, com gente mais inteligente do que os quadrupedes que costumam dar aulas nas faculdades de humanidades;
2) Viajem, muito: mas, tendo em vista o estado mental da maioria de vocês, não viajem ao capitalismo, a Paris, Miami, essas coisas. Tudo isso é déjà vu, já sabemos como funciona o capitalismo e o que se pode comprar nele: iPods, iPhones, computadores Apple (três vezes mais baratos do que neste país protecionista), enfim, tudo aquilo que um jovem cubano gostaria de comprar e não consegue, ou que o brasileiro precisa pagar pelo menos o dobro para obter. Viajem a países magníficos, que combinam com as idéias desses professores aloprados que fingem dar aulas a vocês: visitem Cuba, Coréia do Norte (não creio que consigam, mas cabe tentar), a Venezuela do coronel fascistão, as maravilhas bolivarianas, enfim, tudo aquilo que passa por progressista e libertador. Seria tão mais interessante do que percorrer esses lugares cheios de multinacionais, de especuladores financeiros, de exploração do homem...
Enfim, são apenas sugestões...
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
1758) O velho papo da mao invisivel e os novos profetas
Em artigo intitulado
A Mão Invisível do Mercado
escrito para o Project Syndicate e reproduzido pela Folha de São Paulo (27/12/2009), o economista e professor da Columbia University, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, diz que a lição da crise "é a de que os mercados não são capazes de autocorreção. De fato, na ausência de regulamentação adequada, tendem ao excesso. Em 2009, vemos uma vez mais o motivo. A mão invisível de Adam Smith muitas vezes pareceu realmente invisível, porque não estava lá. A defesa de seus interesses próprios pelos banqueiros (ou seja, a cobiça) não conduziu ao bem estar da sociedade, não serviu nem mesmo aos interesses dos acionistas e dos detentores de títulos dos bancos".
Trata-se de notável equívoco quanto ao que disse realmente Adam Smith e quanto ao significado dos mercados livres. Em primeiro lugar, Smith nunca defendeu, realmente, nenhuma política, ou "teoria" como querem alguns, relativamente aos méritos, mais supostos do que reais, dessa famosa construção intelectual identificada como "mão invisível". O que ele disse, concretamente, é que os agentes econômicos, deixados livres para realizarem seus interesses individuais -- ou seja, ao perseguirem unicamente sua própria cobiça -- acabam satisfazendo melhor aos desejos da sociedade do que se estivessem unidos, num suposto acordo coletivo para realizar o bem comum. Adam Smith diz que, ao agirem de forma absolutamente descoordenada e cada qual perseguindo seu próprio interesse, eles acabam atuando em benefício da sociedade, como se uma mão invisível pairasse acima da sociedade a guiar as ações dos indivíduos.
Ou seja, trata-se de uma figura de estilo, não de uma prescrição de política. Justamente em função da ausência de coiordenação, agentes individuais não determinam uma política, mas são simplesmente guiados pelo comportamento dos mercados: se eles encontram clientes para seus produtos e serviços, excelente: terão lucros e ficarão mais ricos. Se, ao contrário, os clientes deles se afastarem, por preços altos ou má qualidade, eles perderão dinheiro e serão expulsos do mercado, a menos que se corrijam rapidamente ou mudem seu modo de atuação (por vezes inclusive mudando de ramo, por incapacidade de competir em mercados livres).
Contráriamente ao que diz Stiglitz, mesmo quando cometem excessos -- e os mercados só cometem excessos porque os clientes sustentam a demanda, mesmo em condições adversas, ou seja, preços das ações em ascensão ou otimismo exagerado quanto aos retornos esperados -- os mercados SEMPRE se corrigem a si próprios, inevitavelmente, pois esta é a função dos mercados.
Isso é tão evidente, que não seria preciso repetir: quando há uma defasagem qualquer no mercado, alguém perderá dinheiro, ou o ofertante do bem ou serviço, ou o cliente suposto, o que provocará quase automaticamente uma resposta no sentido contrário: a retirada do ofertante ou do cliente-consumidor do mercado, ambos por perdas realizadas. Isso pode até demorar um pouco para ocorrer, na ausência de informações fiáveis ou adequadas, mas ocorrerá inevitavelmente.
Ocorre, porém, que, orientados por aprendizes de feiticeiro, como Stigltiz, os governos acham que podem melhor regular os mercados do que os agentes primários, os tais da "mão invisível", e passam a determinar como, quando e a que preço podem ser realizadas tais e tais transações.
Isso é tão evidente, que eu não precisaria tampouco recordar o que ocorre de fato nos mercados.
Quem determina a taxa de juros básica não é o mercado, mas o governo. Quem diz para quem, por quanto e por quanto tempo devem ser oferecidos empréstimos imobiliários é em grande medida o governo, que pretende "estimular" o mercado imobiliário e ser generoso com o seu corpo eleitoral, oferecendo casas baratas e financiadas a perder de vista.
Ou seja, quem cria as condições para as bolhas financeiras ou imobiliárias é o governo, não os mercados.
Mercados deixados livres NUNCA fixariam os juros a 2% durante três anos como o fez o Federal Reserve americano, em TOTAL DESCOMPASSO com o mercado real de oferta e demanda de dinheiro. Taxas artificialmente baixas, em descompasso com a inflação e a remuneração dos poupadores é um tremendo estímulo à formação de bolhas, jamais seriam fixadas ao sabor dos mercados, que teriam CORRIGIDO automaticamente esse descompasso.
Portanto, contrariamente ao que diz Stiglitz, os mercados são, sim são capazes de autocorreção, e o fariam se não fosse a MÃO VISÍVEL do governo que atua em descompasso com os dados fundamentais do mercado. Quem disse ao professor Stiglitz que juros de 2% são juros de mercado?
Como os banqueiros teriam induzido clientes potencialmente inadimplentes se não fosse pelo atrativo dos juros baixos?
Como esses agentes imobiliários oficiais teriam oferecido tanto crédito se não fosse pela garantia de que o governo cobriria eventuais perdas?
Sinto muito, professor Stiglitz, seu raciocínio simplesmente não faz sentido.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.201)
A Mão Invisível do Mercado
escrito para o Project Syndicate e reproduzido pela Folha de São Paulo (27/12/2009), o economista e professor da Columbia University, Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia, diz que a lição da crise "é a de que os mercados não são capazes de autocorreção. De fato, na ausência de regulamentação adequada, tendem ao excesso. Em 2009, vemos uma vez mais o motivo. A mão invisível de Adam Smith muitas vezes pareceu realmente invisível, porque não estava lá. A defesa de seus interesses próprios pelos banqueiros (ou seja, a cobiça) não conduziu ao bem estar da sociedade, não serviu nem mesmo aos interesses dos acionistas e dos detentores de títulos dos bancos".
Trata-se de notável equívoco quanto ao que disse realmente Adam Smith e quanto ao significado dos mercados livres. Em primeiro lugar, Smith nunca defendeu, realmente, nenhuma política, ou "teoria" como querem alguns, relativamente aos méritos, mais supostos do que reais, dessa famosa construção intelectual identificada como "mão invisível". O que ele disse, concretamente, é que os agentes econômicos, deixados livres para realizarem seus interesses individuais -- ou seja, ao perseguirem unicamente sua própria cobiça -- acabam satisfazendo melhor aos desejos da sociedade do que se estivessem unidos, num suposto acordo coletivo para realizar o bem comum. Adam Smith diz que, ao agirem de forma absolutamente descoordenada e cada qual perseguindo seu próprio interesse, eles acabam atuando em benefício da sociedade, como se uma mão invisível pairasse acima da sociedade a guiar as ações dos indivíduos.
Ou seja, trata-se de uma figura de estilo, não de uma prescrição de política. Justamente em função da ausência de coiordenação, agentes individuais não determinam uma política, mas são simplesmente guiados pelo comportamento dos mercados: se eles encontram clientes para seus produtos e serviços, excelente: terão lucros e ficarão mais ricos. Se, ao contrário, os clientes deles se afastarem, por preços altos ou má qualidade, eles perderão dinheiro e serão expulsos do mercado, a menos que se corrijam rapidamente ou mudem seu modo de atuação (por vezes inclusive mudando de ramo, por incapacidade de competir em mercados livres).
Contráriamente ao que diz Stiglitz, mesmo quando cometem excessos -- e os mercados só cometem excessos porque os clientes sustentam a demanda, mesmo em condições adversas, ou seja, preços das ações em ascensão ou otimismo exagerado quanto aos retornos esperados -- os mercados SEMPRE se corrigem a si próprios, inevitavelmente, pois esta é a função dos mercados.
Isso é tão evidente, que não seria preciso repetir: quando há uma defasagem qualquer no mercado, alguém perderá dinheiro, ou o ofertante do bem ou serviço, ou o cliente suposto, o que provocará quase automaticamente uma resposta no sentido contrário: a retirada do ofertante ou do cliente-consumidor do mercado, ambos por perdas realizadas. Isso pode até demorar um pouco para ocorrer, na ausência de informações fiáveis ou adequadas, mas ocorrerá inevitavelmente.
Ocorre, porém, que, orientados por aprendizes de feiticeiro, como Stigltiz, os governos acham que podem melhor regular os mercados do que os agentes primários, os tais da "mão invisível", e passam a determinar como, quando e a que preço podem ser realizadas tais e tais transações.
Isso é tão evidente, que eu não precisaria tampouco recordar o que ocorre de fato nos mercados.
Quem determina a taxa de juros básica não é o mercado, mas o governo. Quem diz para quem, por quanto e por quanto tempo devem ser oferecidos empréstimos imobiliários é em grande medida o governo, que pretende "estimular" o mercado imobiliário e ser generoso com o seu corpo eleitoral, oferecendo casas baratas e financiadas a perder de vista.
Ou seja, quem cria as condições para as bolhas financeiras ou imobiliárias é o governo, não os mercados.
Mercados deixados livres NUNCA fixariam os juros a 2% durante três anos como o fez o Federal Reserve americano, em TOTAL DESCOMPASSO com o mercado real de oferta e demanda de dinheiro. Taxas artificialmente baixas, em descompasso com a inflação e a remuneração dos poupadores é um tremendo estímulo à formação de bolhas, jamais seriam fixadas ao sabor dos mercados, que teriam CORRIGIDO automaticamente esse descompasso.
Portanto, contrariamente ao que diz Stiglitz, os mercados são, sim são capazes de autocorreção, e o fariam se não fosse a MÃO VISÍVEL do governo que atua em descompasso com os dados fundamentais do mercado. Quem disse ao professor Stiglitz que juros de 2% são juros de mercado?
Como os banqueiros teriam induzido clientes potencialmente inadimplentes se não fosse pelo atrativo dos juros baixos?
Como esses agentes imobiliários oficiais teriam oferecido tanto crédito se não fosse pela garantia de que o governo cobriria eventuais perdas?
Sinto muito, professor Stiglitz, seu raciocínio simplesmente não faz sentido.
Paulo Roberto de Almeida (25.01.201)
1757) Divida publica: deterioracao no Brasil, comparacao com os Brics
A concessão de empréstimos do Tesouro Nacional a bancos estatais foi o principal fator de deterioração dos números da dívida pública em 2009, indicam dados do Banco Central.
A dívida pública bruta total (ou seja, incluindo a União, estados e municípios) alcançou 64,1% do PIB até novembro de 2009, registrando um aumento de 7,8% em relação a 2008, a maior elevação de um ano a outro desde o ano 2000 (Cristiano Romero,"Crédito do Tesouro a banco estatal deteriora dívida pública em 2009", Valor Econômico, 25.01.2010, p. C10).
O valor é similar ao deixado pelo governo FHC a Lula em 2002, sendo que logo em 2003, a dívida total passou a 70,4% do PIB, tendo diminuído depois. "O aumento poderia ter sido maior, se o governo não tivesso mudado, em 2008, a metodologia de cáclculo, que passou a considerar apenas a dívida efetivamente no mercado, retirando os títulos encarteirados, mas sem negociação."
Ou seja, o BC carrega títulos que o governo não consegue colocar no mercado, o que é no mínimo preocupante. Mais preocupante ainda é o fato de que o governo emite títulos à taxa Selic e depois empresta a bancos estatais, que cobram menos, encaixando um custo fiscal considerável nesse tipo de operação (estimado em algo próximo de 150 bilhões de reais).
Segundo o economista Samuel Pessoa, da FGV-Rio, "Isso pode ter as características de uma bomba relógio se a política fiscal ficar muito desorganizada e a Selic tiver de subir muito lá na frente".
A distância entre a dívida líquida e a dívida bruta vem crescendo recentemente: passou de 18% do PIB para mais de 25% do PIB. O problema é que os créditos concedidos a bancos estatais, apeasr de abatidos da dívida bruta, não são líquidos como as reservas internacionais (corretamente abatidas da dívida bruta), pois não podem ser exigíveis no curto prazo. Esses créditos devem ser tratados como uma expansão fiscal, segundo economistas. Retirando-se esses crésitos da contabilidade, a dívida líquida passaria de 43% a 52% do PIB.
Mas, o crescimento da dívida líquida também foi significativo, passando de 37,3% para 43% do PIB, ou seja, um crescimento de 5,7% do PIB.
Comparativamente a outros países, e numa escala crescente, temos o seguinte quadro da dívida pública em 2009, como proporção do PIB (segundo dados do FMI):
Rússia: 7,2
China: 20,2
Argentina: 60,5
Brasil: 68,5
Reino Unido: 68,7
França: 78,0
Alemanha: 78,7
Índia: 84,7
Estados Unidos: 84,8
Itália: 115,8
Japão: 218,6
A dívida pública bruta total (ou seja, incluindo a União, estados e municípios) alcançou 64,1% do PIB até novembro de 2009, registrando um aumento de 7,8% em relação a 2008, a maior elevação de um ano a outro desde o ano 2000 (Cristiano Romero,"Crédito do Tesouro a banco estatal deteriora dívida pública em 2009", Valor Econômico, 25.01.2010, p. C10).
O valor é similar ao deixado pelo governo FHC a Lula em 2002, sendo que logo em 2003, a dívida total passou a 70,4% do PIB, tendo diminuído depois. "O aumento poderia ter sido maior, se o governo não tivesso mudado, em 2008, a metodologia de cáclculo, que passou a considerar apenas a dívida efetivamente no mercado, retirando os títulos encarteirados, mas sem negociação."
Ou seja, o BC carrega títulos que o governo não consegue colocar no mercado, o que é no mínimo preocupante. Mais preocupante ainda é o fato de que o governo emite títulos à taxa Selic e depois empresta a bancos estatais, que cobram menos, encaixando um custo fiscal considerável nesse tipo de operação (estimado em algo próximo de 150 bilhões de reais).
Segundo o economista Samuel Pessoa, da FGV-Rio, "Isso pode ter as características de uma bomba relógio se a política fiscal ficar muito desorganizada e a Selic tiver de subir muito lá na frente".
A distância entre a dívida líquida e a dívida bruta vem crescendo recentemente: passou de 18% do PIB para mais de 25% do PIB. O problema é que os créditos concedidos a bancos estatais, apeasr de abatidos da dívida bruta, não são líquidos como as reservas internacionais (corretamente abatidas da dívida bruta), pois não podem ser exigíveis no curto prazo. Esses créditos devem ser tratados como uma expansão fiscal, segundo economistas. Retirando-se esses crésitos da contabilidade, a dívida líquida passaria de 43% a 52% do PIB.
Mas, o crescimento da dívida líquida também foi significativo, passando de 37,3% para 43% do PIB, ou seja, um crescimento de 5,7% do PIB.
Comparativamente a outros países, e numa escala crescente, temos o seguinte quadro da dívida pública em 2009, como proporção do PIB (segundo dados do FMI):
Rússia: 7,2
China: 20,2
Argentina: 60,5
Brasil: 68,5
Reino Unido: 68,7
França: 78,0
Alemanha: 78,7
Índia: 84,7
Estados Unidos: 84,8
Itália: 115,8
Japão: 218,6
1756) O que define um heroi?
O Brasil vem prestando homenagem aos militares brasileiros do contingente destacado para servir no Haiti, que faleceram vítimas do terremoto que abalou aquele país duas semanas atrás.
Todos, o governo naturalmente, e os meios de comunicação com grande ênfase, vem classificando esses militares mortos como "herois", e como tais eles foram tratados nas homenagens póstumas (medalha de bravura, promoção post mortem, indenização à família, bolsas oferecidas aos dependentes, etc.).
Confesso que, mesmo sob risco de parecer insensível ou destoante da unanimidade, eu fico me perguntando por que, em que medida e com qual legitimidade eles seriam herois de verdade.
Se vou aos dicionários, as definições que me são dadas do termo são estas:
HEROI: substantivo masculino
1 Rubrica: mitologia. Filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano; semideus.
2 Rubrica: mitologia. Mortal divinizado após sua morte; semideus.
3 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc.
4 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p.ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem.
5 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por suas realizações; Ex.: os h. das ciências.
6 Derivação: por extensão de sentido. Figura central de um acontecimento ou de um período; Ex.: os h. da Revolução Francesa.
7 Derivação: por extensão de sentido. Pessoa que, por ser homenageada ou por qualquer motivo (nobre ou pouco digno), se distingue ou é centro de atenções. Ex.: .
8 Derivação: por extensão de sentido. Principal personagem de uma obra de literatura, dramaturgia, cinema etc.
9 Uso: informal. Indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo.
(Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa; versão eletrônica)
Eu me pergunto, sinceramente, em quais das categorias poderíamos encaixar os militares brasileiros mortos, geralmente esmagados em decorrência do forte tremor que abalou o Haiti.
Se alguém tiver uma sugestão, agradeço comunicar-me...
(25.01.2010)
Todos, o governo naturalmente, e os meios de comunicação com grande ênfase, vem classificando esses militares mortos como "herois", e como tais eles foram tratados nas homenagens póstumas (medalha de bravura, promoção post mortem, indenização à família, bolsas oferecidas aos dependentes, etc.).
Confesso que, mesmo sob risco de parecer insensível ou destoante da unanimidade, eu fico me perguntando por que, em que medida e com qual legitimidade eles seriam herois de verdade.
Se vou aos dicionários, as definições que me são dadas do termo são estas:
HEROI: substantivo masculino
1 Rubrica: mitologia. Filho da união de um deus ou uma deusa com um ser humano; semideus.
2 Rubrica: mitologia. Mortal divinizado após sua morte; semideus.
3 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade, abnegação, magnanimidade etc.
4 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo capaz de suportar exemplarmente uma sorte incomum (p.ex., infortúnios, sofrimentos) ou que arrisca a vida pelo dever ou em benefício de outrem.
5 Derivação: por extensão de sentido. Indivíduo notabilizado por suas realizações; Ex.: os h. das ciências.
6 Derivação: por extensão de sentido. Figura central de um acontecimento ou de um período; Ex.: os h. da Revolução Francesa.
7 Derivação: por extensão de sentido. Pessoa que, por ser homenageada ou por qualquer motivo (nobre ou pouco digno), se distingue ou é centro de atenções. Ex.:
8 Derivação: por extensão de sentido. Principal personagem de uma obra de literatura, dramaturgia, cinema etc.
9 Uso: informal. Indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo.
(Cf. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa; versão eletrônica)
Eu me pergunto, sinceramente, em quais das categorias poderíamos encaixar os militares brasileiros mortos, geralmente esmagados em decorrência do forte tremor que abalou o Haiti.
Se alguém tiver uma sugestão, agradeço comunicar-me...
(25.01.2010)
domingo, 24 de janeiro de 2010
1755) Lancamento virtual (chat) de O Moderno Principe (e novos cássicos revisitados)
Participei ontem do lançamento virtual (por meio de chat) de meu livro mais recente:
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
(Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8); R$ 12,00; disponível online neste link: http://freitasbas.lojatemporaria.com/o-moderno-principe.html
Ver sumário completo neste link.
Não o fiz voluntariamente, mas apenas por sugestão da editora, sutilmente constrangido a fazê-lo, claro, para movimentar os negócios, produzir lucros, enfim, essas coisas do mundo capitalista, que devemos todos aceitar (se é que pretendemos viver num mundo capitalista). Confesso que nunca lancei livros, ou se o fiz foi por iniciativa de editoras ou por indução de alguma entidade (universidades, ou associações de cunho acadêmico). Não sou comercialista, não me interessa quanto vão "render" os meus livros, interessa-me apenas que eles sejam lidos, pois a implicação lógica de quem escreve e publica é que seja conhecido, lido, comentado. Tudo bem se não fosse minha proverbial timidez mercadológica, digamos assim: eu espero que meus livros seja "descobertos" e lidos apenas pela sua importância intrínseca, não pelo suporte publicitário que se possa fazer em torno deles. Concedo que um pouco de informação é útil, até mesmo necessária, mas não me sinto bem fazendo isso eu mesmo, posto que já coloco a informação no meu site...
Tampouco aprecio a forma escolhida, por um chat pré-formatado. Talvez se possa melhorar a ferramenta no futuro, mas a que existe atualmente me parece muito canhestra e pouco prática.
Não gosto do meio -- aquela coisa de ficar no "tec, tec, tum" -- e não gosto do ambiente: você não consegue raciocinar direito, tem de ficar respondendo apressadamente a um e a outro, e com isso o que se tem é uma "conversa" fragmentada, entrecortada por pensamentos 'profundos' e comentários ligeiros, como é de hábito numa conversa de roda... Sinceramente, não me sinto bem com o instrumento e com a natureza da comunicação. Pode que no futuro tenhamos chats inteligentes, sofisticados, que permitam um diálogo amplo, tranquilo, transparente e agradável, por enquanto, ficou apenas incômodo.
De toda forma, gostaria de agradecer a todos os que compareceram (poucos "gatos pingados", como diria alguém), e que me prestigiaram nesta oportunidade de interação.
Foi uma chance de conversar um pouco, e também de assumir novas "obrigações", como a de continuar a série dos "clássicos revisitados" que gostaria de fazer. Talvez textos curtos, entre 20 e 50 páginas, e quem sabe um por mês em 2011 (sinto, mas 2010 já está ocupado).
Ontem, num intervalo de restaurante, anotei rapidamente em minha caderneta, quais poderiam ser eventualmente considerados. Fiz a lista out of the mind, sem me preocupar com datas, nomes, representatividade, ou sequer (neste momento) com o tema principal, que é o elemento central de minha série de clássicos revisitados, ou seja, capturar a mensagem central de cada obra, e transplantá-la para a nossa época, como se o autor tivesse renascido, ou como se eu falasse por ele, num diálogo à distância.
Aqui vai a minha lista de:
Cássicos Revisitados
1) Animal Farm - George Orwell
2) Utopia - Thomas Morus
3) Elogio da Loucura - Erasmo de Rotterdam
4) Paz Perpétua - Immanuel Kant
5) Paraíso Perdido - Milton
6) O Capital - Karl Marx
7) O Estado e a Revolução - Lênin
8) O Caminho da Servidão - Alfred Hayek
9) O Antigo Regime e a Revolução - Alexis de Tocqueville
10) Novelas Exemplares - Miguel de Cervantes
11) História da província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil - Pero Magalhães de Gândavo
12) História do Futuro - Antonio Vieira
Existem dezenas de sugestões, eu sei, mas me contenho, no momento, apenas nestas, out of the mind, como disse. Nem todas são para trazer o conteúdo ou o espírito original para os tempos atuais, apenas para aproveitar o seu título atrativo e daí compor uma obra totalmente original.
Vejamos o que aparece no decurso deste ano (já tenho programação que vai me manter ocupado por pelo menos trezes meses, se eu conseguir esticar o ano).
Paulo Roberto de Almeida (24.01.2010)
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
(Rio de Janeiro: Freitas Bastos, edição eletrônica, 2009, 191 p.; ISBN: 978-85-99960-99-8); R$ 12,00; disponível online neste link: http://freitasbas.lojatemporaria.com/o-moderno-principe.html
Ver sumário completo neste link.
Não o fiz voluntariamente, mas apenas por sugestão da editora, sutilmente constrangido a fazê-lo, claro, para movimentar os negócios, produzir lucros, enfim, essas coisas do mundo capitalista, que devemos todos aceitar (se é que pretendemos viver num mundo capitalista). Confesso que nunca lancei livros, ou se o fiz foi por iniciativa de editoras ou por indução de alguma entidade (universidades, ou associações de cunho acadêmico). Não sou comercialista, não me interessa quanto vão "render" os meus livros, interessa-me apenas que eles sejam lidos, pois a implicação lógica de quem escreve e publica é que seja conhecido, lido, comentado. Tudo bem se não fosse minha proverbial timidez mercadológica, digamos assim: eu espero que meus livros seja "descobertos" e lidos apenas pela sua importância intrínseca, não pelo suporte publicitário que se possa fazer em torno deles. Concedo que um pouco de informação é útil, até mesmo necessária, mas não me sinto bem fazendo isso eu mesmo, posto que já coloco a informação no meu site...
Tampouco aprecio a forma escolhida, por um chat pré-formatado. Talvez se possa melhorar a ferramenta no futuro, mas a que existe atualmente me parece muito canhestra e pouco prática.
Não gosto do meio -- aquela coisa de ficar no "tec, tec, tum" -- e não gosto do ambiente: você não consegue raciocinar direito, tem de ficar respondendo apressadamente a um e a outro, e com isso o que se tem é uma "conversa" fragmentada, entrecortada por pensamentos 'profundos' e comentários ligeiros, como é de hábito numa conversa de roda... Sinceramente, não me sinto bem com o instrumento e com a natureza da comunicação. Pode que no futuro tenhamos chats inteligentes, sofisticados, que permitam um diálogo amplo, tranquilo, transparente e agradável, por enquanto, ficou apenas incômodo.
De toda forma, gostaria de agradecer a todos os que compareceram (poucos "gatos pingados", como diria alguém), e que me prestigiaram nesta oportunidade de interação.
Foi uma chance de conversar um pouco, e também de assumir novas "obrigações", como a de continuar a série dos "clássicos revisitados" que gostaria de fazer. Talvez textos curtos, entre 20 e 50 páginas, e quem sabe um por mês em 2011 (sinto, mas 2010 já está ocupado).
Ontem, num intervalo de restaurante, anotei rapidamente em minha caderneta, quais poderiam ser eventualmente considerados. Fiz a lista out of the mind, sem me preocupar com datas, nomes, representatividade, ou sequer (neste momento) com o tema principal, que é o elemento central de minha série de clássicos revisitados, ou seja, capturar a mensagem central de cada obra, e transplantá-la para a nossa época, como se o autor tivesse renascido, ou como se eu falasse por ele, num diálogo à distância.
Aqui vai a minha lista de:
Cássicos Revisitados
1) Animal Farm - George Orwell
2) Utopia - Thomas Morus
3) Elogio da Loucura - Erasmo de Rotterdam
4) Paz Perpétua - Immanuel Kant
5) Paraíso Perdido - Milton
6) O Capital - Karl Marx
7) O Estado e a Revolução - Lênin
8) O Caminho da Servidão - Alfred Hayek
9) O Antigo Regime e a Revolução - Alexis de Tocqueville
10) Novelas Exemplares - Miguel de Cervantes
11) História da província Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil - Pero Magalhães de Gândavo
12) História do Futuro - Antonio Vieira
Existem dezenas de sugestões, eu sei, mas me contenho, no momento, apenas nestas, out of the mind, como disse. Nem todas são para trazer o conteúdo ou o espírito original para os tempos atuais, apenas para aproveitar o seu título atrativo e daí compor uma obra totalmente original.
Vejamos o que aparece no decurso deste ano (já tenho programação que vai me manter ocupado por pelo menos trezes meses, se eu conseguir esticar o ano).
Paulo Roberto de Almeida (24.01.2010)
1754) Hugo Boss, aplaudido e ovacionado no FSM
Bem, se ele aparecer, está claro. Não tenho certeza de que o grande boss desse tipo de surrealismo recorrente apareça no FSM desde ano em Porto Alegre; afinal de contas, ele está enfrentando um bocado de problemas no seu país natal (e sua fazenda pessoal).
Nenhum dos problemas que ele tem, diga-se de passagem, foi criado pelo seu inimigo imaginário (ou real, dirão seus amigos), o imperialismo americano. Todos, sublinho TODOS os problemas são e foram criados pela sua incúria administrativa, pela sua inépcia econômica, pela indigência mental daqueles que o assistem e seguem de maneira completamente idiota (ou submissa, a troco de vantagens, dinheiro, prestígio, whatever...).
Mas, eu tenho absoluta certeza disto: se ele aparecer em Porto Alegre será ovacionado, saudado delirantemente por um bando de pessoas que eu só posso classificar de idiotas completos (sinto muito, meus críticos, mas não consigo achar um termo melhor), pessoas que não se dão ao trabalho de simplesmente constatar o que está acontecendo no vizinho país e que apenas se deixam enganar pela conversa fiada de um candidato a Mussolini (sim, tem gente que acha que, apenas por causa de sua conversa mole anti-imperialista, o caudilho em questão deva ser considerado um líder de esquerda, quando ele é apenas um candidato a condottieri fascista).
Para que se perceba um pouco desses problemas, que podem impedi-lo de aparecer (cercado de gorilas, como convem) no FSM, vejamos o editorial do Globo deste domingo, um jornal perfeitamente burguês e capitalista (mas que também tem idiotas que escrevem artigos nele, como convem a nossa nossa imprensa plural).
Chavismo em crise
Editorial de O GLOBO, 24/01/2010
As últimas ações do coronel Hugo Chávez confirmam que seu histrionismo cresce quando ele precisa desviar a atenção de problemas domésticos. Daí a declaração cômica de que testes de armas secretas da Marinha americana estariam por trás do terremoto no Haiti. Ou a afirmação de que "o império americano está tomando o Haiti sobre os cadáveres e as lágrimas de seu povo".
Quanto ao seu povo, os venezuelanos sofrem com a elevada inflação, o desabastecimento, os apagões (a energia elétrica escasseia por falta de investimentos em infraestrutura), a violência (Caracas é a cidade mais perigosa da América do Sul) e a ineficiência generalizada, uma vez que a ação preferida do governo é a estatização de empresas, sob qualquer pretexto. Há um ambiente propício também à corrupção.
Chávez derrubou a democracia "das elites" venezuelanas para supostamente acabar com a corrupção e refundar o país em nome de um vago "socialismo bolivariano do século XXI", que se revela um regime autoritário e capaz de arruinar um país rico como a Venezuela.
Enquanto o preço do petróleo esteve nas alturas, Chávez, de cofre cheio, patrocinou aliados — Cuba, Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua, Honduras, Paraguai. Hoje, com a crise mundial e o preço do petróleo mais baixo, o chavismo faz água e seus aliados, idem. Cuba ainda espera o fim do embargo americano para melhorar de vida, mas os irmãos Castro não largam o osso. Evo Morales tomou posse para o segundo mandato na sextafeira, tentando costurar a colcha de retalhos que é a Bolívia, situação agravada por ele mesmo com a criação das autonomias indígenas.
A Argentina, importante aliado do chavismo, atravessa grave crise econômica, política e institucional.
Em Honduras, Chávez amargou uma derrota com a destituição do aliado Manuel Zelaya — numa crise que se arrasta há meses e que levou junto o Brasil.
Nesse panorama, enquanto o Chile confirma a maturidade de sua democracia com a vitória de Sebastián Piñera, o presidente Lula, em que pesem recaídas terceiromundistas, consolida a liderança no continente. A Venezuela, mesmo que consiga a adesão plena ao Mercosul (falta apenas a concordância do Senado paraguaio), não terá nele a solução de seus problemas, e ainda criará outros para o bloco. A instabilidade na Venezuela e em aliados de peso, como a Argentina, permite antecipar que 2010 deverá ser um ano tenso na América do Sul, no bloco sob a influência do chavismo.
=========
PS PRA: Essa coisa de "consolidar a liderança no continente" é uma perfeita bobagem do editorialista do Globo, que não deve conhecer a realidade dos outros países, nem (aparentemente) ler os jornais desses países.
Nenhum dos problemas que ele tem, diga-se de passagem, foi criado pelo seu inimigo imaginário (ou real, dirão seus amigos), o imperialismo americano. Todos, sublinho TODOS os problemas são e foram criados pela sua incúria administrativa, pela sua inépcia econômica, pela indigência mental daqueles que o assistem e seguem de maneira completamente idiota (ou submissa, a troco de vantagens, dinheiro, prestígio, whatever...).
Mas, eu tenho absoluta certeza disto: se ele aparecer em Porto Alegre será ovacionado, saudado delirantemente por um bando de pessoas que eu só posso classificar de idiotas completos (sinto muito, meus críticos, mas não consigo achar um termo melhor), pessoas que não se dão ao trabalho de simplesmente constatar o que está acontecendo no vizinho país e que apenas se deixam enganar pela conversa fiada de um candidato a Mussolini (sim, tem gente que acha que, apenas por causa de sua conversa mole anti-imperialista, o caudilho em questão deva ser considerado um líder de esquerda, quando ele é apenas um candidato a condottieri fascista).
Para que se perceba um pouco desses problemas, que podem impedi-lo de aparecer (cercado de gorilas, como convem) no FSM, vejamos o editorial do Globo deste domingo, um jornal perfeitamente burguês e capitalista (mas que também tem idiotas que escrevem artigos nele, como convem a nossa nossa imprensa plural).
Chavismo em crise
Editorial de O GLOBO, 24/01/2010
As últimas ações do coronel Hugo Chávez confirmam que seu histrionismo cresce quando ele precisa desviar a atenção de problemas domésticos. Daí a declaração cômica de que testes de armas secretas da Marinha americana estariam por trás do terremoto no Haiti. Ou a afirmação de que "o império americano está tomando o Haiti sobre os cadáveres e as lágrimas de seu povo".
Quanto ao seu povo, os venezuelanos sofrem com a elevada inflação, o desabastecimento, os apagões (a energia elétrica escasseia por falta de investimentos em infraestrutura), a violência (Caracas é a cidade mais perigosa da América do Sul) e a ineficiência generalizada, uma vez que a ação preferida do governo é a estatização de empresas, sob qualquer pretexto. Há um ambiente propício também à corrupção.
Chávez derrubou a democracia "das elites" venezuelanas para supostamente acabar com a corrupção e refundar o país em nome de um vago "socialismo bolivariano do século XXI", que se revela um regime autoritário e capaz de arruinar um país rico como a Venezuela.
Enquanto o preço do petróleo esteve nas alturas, Chávez, de cofre cheio, patrocinou aliados — Cuba, Bolívia, Equador, Argentina, Nicarágua, Honduras, Paraguai. Hoje, com a crise mundial e o preço do petróleo mais baixo, o chavismo faz água e seus aliados, idem. Cuba ainda espera o fim do embargo americano para melhorar de vida, mas os irmãos Castro não largam o osso. Evo Morales tomou posse para o segundo mandato na sextafeira, tentando costurar a colcha de retalhos que é a Bolívia, situação agravada por ele mesmo com a criação das autonomias indígenas.
A Argentina, importante aliado do chavismo, atravessa grave crise econômica, política e institucional.
Em Honduras, Chávez amargou uma derrota com a destituição do aliado Manuel Zelaya — numa crise que se arrasta há meses e que levou junto o Brasil.
Nesse panorama, enquanto o Chile confirma a maturidade de sua democracia com a vitória de Sebastián Piñera, o presidente Lula, em que pesem recaídas terceiromundistas, consolida a liderança no continente. A Venezuela, mesmo que consiga a adesão plena ao Mercosul (falta apenas a concordância do Senado paraguaio), não terá nele a solução de seus problemas, e ainda criará outros para o bloco. A instabilidade na Venezuela e em aliados de peso, como a Argentina, permite antecipar que 2010 deverá ser um ano tenso na América do Sul, no bloco sob a influência do chavismo.
=========
PS PRA: Essa coisa de "consolidar a liderança no continente" é uma perfeita bobagem do editorialista do Globo, que não deve conhecer a realidade dos outros países, nem (aparentemente) ler os jornais desses países.
1753) Forum Surreal Mundial: começa amanhã...
Bem, acho que está tudo mundo avisado, inclusive pelos meios de informação da globalização contemporânea, meios que em sua quase totalidade são capitalistas, ou seja, aspirando ao lucro, a ganhos monopolísticos, à acumulação desenfreada, enfim, tudo aquilo que será objeto de condenação, de opróbrio, de rejeicão no FSM de Porto Alegre, aliás perfeitamente globalizado pela internet, pelas redes de computadores, pelos blogs gratuitos (enfim, um free lunch do capitalismo), pelos celulares de última geração, em resumo, tudo o que não existe nos regimes e países que eles vão exaltar (Cuba, Venezuela, etc...).
Contraditório, não é mesmo?
O que se há de fazer?
Os antiglobalizadores são mesmo assim: aproveitam-se das benesses da globalização capitalista para condenar e protestar contra essa mesma globalização capitalista.
Bem, eu espero, pelo menos, que alguns deles, uma ínfima minoria que seja, aproveite esta tarde de domingo para ler as "conclusões antecipadas" que eu fiz a propósito do show que começa nesta segunda e vai até sexta-feira.
Minha contribuição para a boa compreensão do que eu chamei de Forum Surreal Mundial está aqui:
Fórum Social Mundial 2010, uma década de embromação: antecipando as conclusões e desvendando os equívocos
Paulo Roberto de Almeida
Publicado em Mundorama (http://mundorama.net/2010/01/20/forum-social-mundial-2010-uma-decada-de-embromacao-antecipando-as-conclusoes-e-desvendando-os-equivocos-por-paulo-roberto-de-almeida/).
Transcrevo apenas o comecinho:
1. A novela está de volta (com o mesmo enredo...)
Como acontece todo ano, os alternativos da antiglobalização estarão reunidos neste final do mês de janeiro de 2010 para protestar contra a globalização assimétrica e proclamar que um “outro mundo é possível”. Eu também acho, mas a verdade é que eles nunca apresentam o roteiro detalhado desse outro mundo esperado, se contentando com slogans redutores contra a globalização, essa mesma força indomável que torna mais eficiente a interação entre essas tribos e permite que suas mensagens – equivocadas, como sempre – alcancem, em questão de minutos, todos os cantos do planeta. Em todo caso, eles já se consideram tão importantes que já nem mais se dão ao trabalho de protestar contra o outro Fórum Mundial, o capitalista de Davos, como ocorria todo ano naquela estação suíça de esqui: os capitalistas agradecem serem deixados em paz e prometem refletir sobre as propostas do fórum alternativo, se é que alguma será feita.
Como também acontece todo ano, eu fico esperando para ver se alguma ideia nova e interessante – Ok, ok, também podem ser ideias velhas e desinteressantes, mas que sejam pelo menos racionais e exequíveis – vai emergir desse jamboree anual de antiglobalizadores e iluminar as nossas políticas públicas tão carentes de racionalidade e sentido de justiça. Como não confio, porém, que algo de novo vá surgir de onde nunca veio nada de inteligente, resolvi não esperar pela conclusão do encontro de 2010, e me proponho, sem cobrar copyright dos antiglobalizadores, antecipar suas conclusões conclusivas (se é verdade que algo do gênero pode ocorrer; isso corre o risco de nos surpreender).
para ler o texto completo (e vários comentários a respeito) clicar aqui.
Pois bem, retomo agora para tratar de um problema para o qual já fui chamado à atenção por alguns leitores benevolentes, que acham que eu ofendo muita gente, gratuitamente, ao chamar os que participam desse tipo de evento embromador de idiotas, ou até mesmo de perfeitos idiotas.
Acho que tenho de me desculpar e ao mesmo tempo de me explicar, explicitando exatamente o que eu quero e pretendo dizer. Vamos por parte e dividir em categorias toda a tropa, a tribo heteróclita, que participa desse tipo de show mediático e contraditório.
Nos diversos FSMs existem:
1) Ingênuos: são os jovens idealistas, estudantes primeiro-anistas das faculdades de humanidades, geralmente instruidos no anticapitalismo e no anti-americanismo desde o primário e o secundário, por professores perfeitamente mal-instruídos, desejosos de contribuir para o bem-estar da humanidade, que estaria ameaçado por poderosas empresas multinacionais, que exploram os trabalhadores, poluem o meio ambiente (em todos os países, os seus e especialmente aqueles ditos periféricos), sequiosos por participar da campanha de libertação dos mesmos países periféricos da exploração e dominação ignóbil do imperialismo americano; esses jovens são apenas meio idiotas, pois caem na conversa mole desses professores idiotas completas e não conseguem distinguir a fantasia que lhes é servida da realidade que eles tem ao alcance do computador, bastando navegar um pouco para se informar como é feito o mundo. Vamos chamá-los, portanto, apenas de ingênuos, pois suas motivações são nobres, eles são desprendidos, apenas não tendo informação suficiente (mas também são idiotas por não procurá-la, pois ela está disponível livremente nos meios perfeitamente capitalistas e globalizados que eles usam).
2) Idiotas em tempo integral: são os mestres desses jovens ingênuos, que aprenderam meia dúzia de slogans de outros mestres idiotas antes deles, nunca leram Marx (mas apenas contrafações) nem quaisquer livros mais sérios de história ou de economia, e saem por aí, impunemente, ensinando bonagens aos jovens passivos que são seus alunos. Acho que eles não tem conserto, por isso não merecem de mim mais do que estas poucas linhas, pois, à diferença dos jovens idealistas, eles vão continuar assim idiotas durante toda a sua carreira.
3) Perfeitos idiotas profissionais: São alguns expoentes da academia, que passam por "intelequitais", mas que são apenas profissionais da embromação e do oportunismo, pois que são mais conhecidos (já publicaram meia dúzia de obras perfeitamente inúteis) e são sempre convidados para falar nesses convescotes animados, onde as pessoas sensatas (como eu e você) já sabem perfeitamente o que eles vão dizer, de tão óbvio. Eles não são calhordas profissionais, pois não ganham a vida nessas masturbações militantes, são apenas os interventores úteis a convite, já que em geral são professores das universidades públicas e perpetram suas bobagens gratuitamente, apenas se contentando com os aplausos da galera embevecida. Exemplos típicos: Noam Chomsky e Boaventura de Souza Santos.
4) Empulhadores profissionais: São aqueles que têm perfeita consciência de que participam de uma mistificação, pois são pessoas viajadas, conhecem o capitalismo (onde vivem, obviamente) E o socialimo (já foram váraias vezes a Cuba, a convite, obviamente), e fazem isso com um zelo profissional que beira a calhordice. São militantes da causa, e vivem disso. Não creio que acreditem seriamente nas bobagens que propagam, dizem, escrevem, pois se isso ocorre, além de calhordas profissionais seriam idiotas mais que perfeitos. Eles sabem perfeitamente que Cuba é uma miséria material, humana e espiritual, e ainda assim se dão ao trabalho de defender um regime assassino e liberticida. É que os compromissos do passado e certas vantagens do presente os "obrigam" a fazer isso, do contrário cairiam no completo ostracismo e não teriam mais o que fazer, por falta completa de credibilidade. São dos seres mais abjetos que possam viver nas academias atualmente. Eu poderia dar vários exemplos, mas só vou uma abreviatura, pois quem conhece esses meios sabe de quem estou falando: ES.
5) Assassinos em potencial, fazendo de conta que são democratas: São aqueles que animam movimentos ditos sociais, por exemplo, em favor da reforma agrária, que nada mais é do que um pretexto. Dirigem grupos paramilitares, de cunho leninista ou neobolchevique, e acreditam (talvez por também serem idiotas terminais) que estão em Petrogrado em 1917, e esperam a sua oportunidade de "fazer a Revolução". São tipos perigosos, pois vivem do dinheiro da burguesia, das contribuições de todos esses movimentos ingênuos de europeus arrependidos (com a exploração passada), e do seu, do meu, do nosso dinheiro, que são os recursos públicos que eles "roubam" (sim ROUBAM) do Estado a pretexto de fazer obras no campo, educação de camponeses e coisas do gênero). Acho que não preciso citar nenhum nome de tão óbvio.
6) Oportunistas políticos: São todos aqueles políticos profissionais, ou militantes guindados em cargos públicos, que frequentem esses foros (que deveriam ser apenas da sociedade civil, mas que vão neles "a convite", de organizações que são as suas) para divulgar suas ações governamentais, para dizer que o governo está sim, preocupado com a "justiça social" e com a "equidade", que o governo quer sim "democratizar os meios de comunicação", que o governo quer sim tornar a globalização mais humana e fraterna, enfim, um monte de bobagens que eles fingem acreditar (e se acreditam são também idiotas), mas que servem para desculpá-los pelo fato do governo não ter ainda enterrado o capitalismo (imagina se eles vão matar a galinha dos ovos de ouro) e ter começado a construir aquele "outro mundo possível" que vários idiotas franceses antes deles se encarregaram de propagandear. São eles que financiam esse bando de surrealistas, idiotas, calhordas e outros representantes da espécie que se reunem com o seu, com o meu, com o nosso dinheiro para decidir absolutamente nada, apenas continuar o festival de ilusões.
OK, acho que já me expliquei e não chamei a todos de idiotas. Bem apenas quase todos...
Como sempre, vou ser condenado por dizer o que penso.
Sinto muito, folks, eu tenho um problema grave: não consigo deixar de dizer o que penso, quando vejo uma idiotice manifesta.
Sinto muito, tenho esse grave defeito.
Ainda bem que vivemos em democracia, pois num regime como os que vão ser homenageados pelos surrealista do FSM eu nunca conseguiria manter um blog como este...
Paulo Roberto de Almeida (24/01/2010)
PS.: Vejam o post seguinte...
Contraditório, não é mesmo?
O que se há de fazer?
Os antiglobalizadores são mesmo assim: aproveitam-se das benesses da globalização capitalista para condenar e protestar contra essa mesma globalização capitalista.
Bem, eu espero, pelo menos, que alguns deles, uma ínfima minoria que seja, aproveite esta tarde de domingo para ler as "conclusões antecipadas" que eu fiz a propósito do show que começa nesta segunda e vai até sexta-feira.
Minha contribuição para a boa compreensão do que eu chamei de Forum Surreal Mundial está aqui:
Fórum Social Mundial 2010, uma década de embromação: antecipando as conclusões e desvendando os equívocos
Paulo Roberto de Almeida
Publicado em Mundorama (http://mundorama.net/2010/01/20/forum-social-mundial-2010-uma-decada-de-embromacao-antecipando-as-conclusoes-e-desvendando-os-equivocos-por-paulo-roberto-de-almeida/).
Transcrevo apenas o comecinho:
1. A novela está de volta (com o mesmo enredo...)
Como acontece todo ano, os alternativos da antiglobalização estarão reunidos neste final do mês de janeiro de 2010 para protestar contra a globalização assimétrica e proclamar que um “outro mundo é possível”. Eu também acho, mas a verdade é que eles nunca apresentam o roteiro detalhado desse outro mundo esperado, se contentando com slogans redutores contra a globalização, essa mesma força indomável que torna mais eficiente a interação entre essas tribos e permite que suas mensagens – equivocadas, como sempre – alcancem, em questão de minutos, todos os cantos do planeta. Em todo caso, eles já se consideram tão importantes que já nem mais se dão ao trabalho de protestar contra o outro Fórum Mundial, o capitalista de Davos, como ocorria todo ano naquela estação suíça de esqui: os capitalistas agradecem serem deixados em paz e prometem refletir sobre as propostas do fórum alternativo, se é que alguma será feita.
Como também acontece todo ano, eu fico esperando para ver se alguma ideia nova e interessante – Ok, ok, também podem ser ideias velhas e desinteressantes, mas que sejam pelo menos racionais e exequíveis – vai emergir desse jamboree anual de antiglobalizadores e iluminar as nossas políticas públicas tão carentes de racionalidade e sentido de justiça. Como não confio, porém, que algo de novo vá surgir de onde nunca veio nada de inteligente, resolvi não esperar pela conclusão do encontro de 2010, e me proponho, sem cobrar copyright dos antiglobalizadores, antecipar suas conclusões conclusivas (se é verdade que algo do gênero pode ocorrer; isso corre o risco de nos surpreender).
para ler o texto completo (e vários comentários a respeito) clicar aqui.
Pois bem, retomo agora para tratar de um problema para o qual já fui chamado à atenção por alguns leitores benevolentes, que acham que eu ofendo muita gente, gratuitamente, ao chamar os que participam desse tipo de evento embromador de idiotas, ou até mesmo de perfeitos idiotas.
Acho que tenho de me desculpar e ao mesmo tempo de me explicar, explicitando exatamente o que eu quero e pretendo dizer. Vamos por parte e dividir em categorias toda a tropa, a tribo heteróclita, que participa desse tipo de show mediático e contraditório.
Nos diversos FSMs existem:
1) Ingênuos: são os jovens idealistas, estudantes primeiro-anistas das faculdades de humanidades, geralmente instruidos no anticapitalismo e no anti-americanismo desde o primário e o secundário, por professores perfeitamente mal-instruídos, desejosos de contribuir para o bem-estar da humanidade, que estaria ameaçado por poderosas empresas multinacionais, que exploram os trabalhadores, poluem o meio ambiente (em todos os países, os seus e especialmente aqueles ditos periféricos), sequiosos por participar da campanha de libertação dos mesmos países periféricos da exploração e dominação ignóbil do imperialismo americano; esses jovens são apenas meio idiotas, pois caem na conversa mole desses professores idiotas completas e não conseguem distinguir a fantasia que lhes é servida da realidade que eles tem ao alcance do computador, bastando navegar um pouco para se informar como é feito o mundo. Vamos chamá-los, portanto, apenas de ingênuos, pois suas motivações são nobres, eles são desprendidos, apenas não tendo informação suficiente (mas também são idiotas por não procurá-la, pois ela está disponível livremente nos meios perfeitamente capitalistas e globalizados que eles usam).
2) Idiotas em tempo integral: são os mestres desses jovens ingênuos, que aprenderam meia dúzia de slogans de outros mestres idiotas antes deles, nunca leram Marx (mas apenas contrafações) nem quaisquer livros mais sérios de história ou de economia, e saem por aí, impunemente, ensinando bonagens aos jovens passivos que são seus alunos. Acho que eles não tem conserto, por isso não merecem de mim mais do que estas poucas linhas, pois, à diferença dos jovens idealistas, eles vão continuar assim idiotas durante toda a sua carreira.
3) Perfeitos idiotas profissionais: São alguns expoentes da academia, que passam por "intelequitais", mas que são apenas profissionais da embromação e do oportunismo, pois que são mais conhecidos (já publicaram meia dúzia de obras perfeitamente inúteis) e são sempre convidados para falar nesses convescotes animados, onde as pessoas sensatas (como eu e você) já sabem perfeitamente o que eles vão dizer, de tão óbvio. Eles não são calhordas profissionais, pois não ganham a vida nessas masturbações militantes, são apenas os interventores úteis a convite, já que em geral são professores das universidades públicas e perpetram suas bobagens gratuitamente, apenas se contentando com os aplausos da galera embevecida. Exemplos típicos: Noam Chomsky e Boaventura de Souza Santos.
4) Empulhadores profissionais: São aqueles que têm perfeita consciência de que participam de uma mistificação, pois são pessoas viajadas, conhecem o capitalismo (onde vivem, obviamente) E o socialimo (já foram váraias vezes a Cuba, a convite, obviamente), e fazem isso com um zelo profissional que beira a calhordice. São militantes da causa, e vivem disso. Não creio que acreditem seriamente nas bobagens que propagam, dizem, escrevem, pois se isso ocorre, além de calhordas profissionais seriam idiotas mais que perfeitos. Eles sabem perfeitamente que Cuba é uma miséria material, humana e espiritual, e ainda assim se dão ao trabalho de defender um regime assassino e liberticida. É que os compromissos do passado e certas vantagens do presente os "obrigam" a fazer isso, do contrário cairiam no completo ostracismo e não teriam mais o que fazer, por falta completa de credibilidade. São dos seres mais abjetos que possam viver nas academias atualmente. Eu poderia dar vários exemplos, mas só vou uma abreviatura, pois quem conhece esses meios sabe de quem estou falando: ES.
5) Assassinos em potencial, fazendo de conta que são democratas: São aqueles que animam movimentos ditos sociais, por exemplo, em favor da reforma agrária, que nada mais é do que um pretexto. Dirigem grupos paramilitares, de cunho leninista ou neobolchevique, e acreditam (talvez por também serem idiotas terminais) que estão em Petrogrado em 1917, e esperam a sua oportunidade de "fazer a Revolução". São tipos perigosos, pois vivem do dinheiro da burguesia, das contribuições de todos esses movimentos ingênuos de europeus arrependidos (com a exploração passada), e do seu, do meu, do nosso dinheiro, que são os recursos públicos que eles "roubam" (sim ROUBAM) do Estado a pretexto de fazer obras no campo, educação de camponeses e coisas do gênero). Acho que não preciso citar nenhum nome de tão óbvio.
6) Oportunistas políticos: São todos aqueles políticos profissionais, ou militantes guindados em cargos públicos, que frequentem esses foros (que deveriam ser apenas da sociedade civil, mas que vão neles "a convite", de organizações que são as suas) para divulgar suas ações governamentais, para dizer que o governo está sim, preocupado com a "justiça social" e com a "equidade", que o governo quer sim "democratizar os meios de comunicação", que o governo quer sim tornar a globalização mais humana e fraterna, enfim, um monte de bobagens que eles fingem acreditar (e se acreditam são também idiotas), mas que servem para desculpá-los pelo fato do governo não ter ainda enterrado o capitalismo (imagina se eles vão matar a galinha dos ovos de ouro) e ter começado a construir aquele "outro mundo possível" que vários idiotas franceses antes deles se encarregaram de propagandear. São eles que financiam esse bando de surrealistas, idiotas, calhordas e outros representantes da espécie que se reunem com o seu, com o meu, com o nosso dinheiro para decidir absolutamente nada, apenas continuar o festival de ilusões.
OK, acho que já me expliquei e não chamei a todos de idiotas. Bem apenas quase todos...
Como sempre, vou ser condenado por dizer o que penso.
Sinto muito, folks, eu tenho um problema grave: não consigo deixar de dizer o que penso, quando vejo uma idiotice manifesta.
Sinto muito, tenho esse grave defeito.
Ainda bem que vivemos em democracia, pois num regime como os que vão ser homenageados pelos surrealista do FSM eu nunca conseguiria manter um blog como este...
Paulo Roberto de Almeida (24/01/2010)
PS.: Vejam o post seguinte...
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