Ministros do governo atual, e o próprio presidente, como se sabe, pensam, e agem, como se a história tivesse começado em 2003, e que antes -- antes da História, claro, numa espécie de A.L. e D.L. -- tudo era um desastre, um horror, e que fomos "salvos" por um governo providencial, que tudo fez e tudo providenciou: a estabilização, as políticas sociais, a defesa da soberania nacional, enfim, que se não fosse por este governo, ainda estaríamos num país de botocudos, submissos ao FMI, comendo o pão que o diabo amassou.
Esse tipo de discurso mistificador pode até passar aqui, pois a imprensa raramente contesta, em matérias analíticas ou de opinião, o festival de bobagens que ela mesmo serve, em suas páginas, como matérias informativas, ou descritivas, a partir das declarações desses personagens que nunca antes neste país abusaram tanto da capacidade de enganar os incautos.
Mas essas coisas colam menos em ambientes mais bem informados e menos sujeitos à propaganda governamental, como revela este despacho de Davos...
Brasil falha na defesa da democracia, diz economista
Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo, 30/01/2010
Maior economia da América Latina, o Brasil tem falhado em usar seu peso para defender a democracia na região, segundo o economista Ricardo Hausmann, professor de Harvard, ex-economista-chefe do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e ex-ministro do Planejamento da Venezuela (99-93). Moderador dos debates num almoço organizado para discussão das perspectivas brasileiras, Hausmann proporcionou com sua cobrança a grande surpresa do encontro. O Brasil está na moda e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o primeiro premiado pelo Fórum Econômico Mundial com o título de Estadista Global.
O almoço, marcado para depois da premiação, poderia ter sido um perfeito evento promocional, se o mestre de cerimônias se limitasse a levantar a bola para as autoridades brasileiras chutarem. Ele cumpriu esse papel no começo da reunião. Deu as deixas para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, falarem sobre o desempenho brasileiro durante a crise internacional e sobre as mudanças ocorridas no País nos últimos sete anos. Nem tudo saiu barato: pressionado por uma pergunta de Hausmann, o ministro da Fazenda elogiou o trabalho do governo anterior no controle da inflação e na elaboração da Lei de Responsabilidade Fiscal.
"O Brasil", disse Mantega, "teve um bom presidente antes de Lula." Mas acrescentou, como era previsível, uma lista de realizações a partir de 2003, como a elevação do superávit primário, a expansão econômica mais veloz e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Não faltou o confronto: a economia cresceu em média 2,5% no período de Fernando Henrique Cardoso e 4,2% na era Lula.
O almoço poderia ter continuado nesse ritmo se Hausmann não resolvesse enveredar pela política. Quando a Venezuela fechou a fronteira com a Colômbia, disse Hausmann, o Brasil mandou uma missão empresarial para ocupar o mercado antes suprido pelos colombianos. Quando a Colômbia anunciou um acordo militar com os EUA, Lula convocou uma reunião da Unasul.
É uma questão de pragmatismo, respondeu o empresário Luiz Furlan, ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do governo Lula. Elogiou o presidente por seu apoio à exportação - "agiu como um homem de negócios" - e acabou chegando ao ponto mais delicado: "A Venezuela compra do Brasil US$ 5 bilhões por ano. Que fazer?"
"O Brasil é signatário de uma Carta que o obriga a defender a democracia", observou Hausmann. O Brasil, disse ele depois ao Estado, poderia ter feito um trabalho mais importante em defesa da democracia, na região, se a sua ação internacional fosse baseada em princípios e não no pragmatismo descrito pelo ex-ministro Furlan. O governo Lula, segundo o economista, deu à Colômbia um motivo para considerar o Brasil não confiável e uma razão a mais para se aproximar dos EUA.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sábado, 30 de janeiro de 2010
1888) Irã: a "revolução" devora seus filhos...
Um outro caso triste de prepotência no poder, com a particularidade de que, em ambos os casos, Venezuela e Irã, o Brasil, ou melhor, o governo brasileiro mantém excelentes relações com os dois regimes, ocorrendo visitas, palavras de apoio, de compreensão, enfim, de entendimento diplomático...
Clérigo do Irã pede execução de mais opositores
Agência Estado e Associated Press
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010, 11:04
Governo sentenciou nove pessoas à morte por protestar contra o governo após as eleições de junho
TEERÃ - Um importante clérigo linha-dura do Irã, aiatolá Ahmad Jannati, pediu nesta sexta-feira, 29, que mais ativistas sejam sentenciados à morte para que se evitem protestos contra o governo. Um dia antes, dois homens foram enforcados no país, acusados de participar de distúrbios em manifestações contra o regime.
Jannati disse em seu sermão que os opositores da liderança clerical devem ser mortos "pelo amor de Deus". Segundo ele, o Islã permite que os governantes executem os "hipócritas".
O religioso elogiou o enforcamento, ontem, de dois homens acusados de pertencer a grupos armados, cujo objetivo seria derrubar o regime.
Nove pessoas foram presas em uma forte ofensiva contra os protestos da oposição e condenadas à morte, segundo autoridades. Os protestos começaram após eleições presidenciais de 12 de junho, que, segundo os manifestantes, foi fraudada para que o atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad, conseguisse a reeleição.
Clérigo do Irã pede execução de mais opositores
Agência Estado e Associated Press
sexta-feira, 29 de janeiro de 2010, 11:04
Governo sentenciou nove pessoas à morte por protestar contra o governo após as eleições de junho
TEERÃ - Um importante clérigo linha-dura do Irã, aiatolá Ahmad Jannati, pediu nesta sexta-feira, 29, que mais ativistas sejam sentenciados à morte para que se evitem protestos contra o governo. Um dia antes, dois homens foram enforcados no país, acusados de participar de distúrbios em manifestações contra o regime.
Jannati disse em seu sermão que os opositores da liderança clerical devem ser mortos "pelo amor de Deus". Segundo ele, o Islã permite que os governantes executem os "hipócritas".
O religioso elogiou o enforcamento, ontem, de dois homens acusados de pertencer a grupos armados, cujo objetivo seria derrubar o regime.
Nove pessoas foram presas em uma forte ofensiva contra os protestos da oposição e condenadas à morte, segundo autoridades. Os protestos começaram após eleições presidenciais de 12 de junho, que, segundo os manifestantes, foi fraudada para que o atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad, conseguisse a reeleição.
1887) Venezuela: a "revolucao" engole seus filhos
Clássica essa frase, e no entanto verdadeira: processos revolucionários são de certa forma incontroláveis, pois que a vontade de poder de um, o caudilho, digamos assim, se choca com a vontade de poder de outros, ou com a simples realidade ambiente (nem todo mundo está a favor da "revolução", por exemplo). Começam então os choques e controvérsias, e logo o caudilho, eventualmente convertido em tirano, está sozinho. Pode até ter sucesso em consolidar seu poder, como Stalin, à base do terror. Mas, também pode ser derrocado, no bojo de uma guerra -- como Mussolini, em 1943 -- ou de uma revolução democrática, como Ceausescu, na Romênia, em 1989.
Enfim, tudo pode acontecer na Venezuela.
Este é o retrato do momento, triste, por certo...
Com expurgo da velha-guarda, Chávez busca reafirmar liderança
Roberto Lameirinhas
O Estado de S.Paulo, Sexta-Feira, 29 de Janeiro de 2010
Nova geração de chavistas nomeados para o governo é menos resistente às decisões do presidente, dizem analistas
Especialista em metalinguagem, o presidente Hugo Chávez enviou seu recado no discurso que fez, no sábado, encerrando a marcha de seus partidários em Caracas. "A disciplina é fundamental para o avanço da revolução e essa revolução tem um líder", afirmou. "Não admitirei que minha liderança seja contestada, porque eu sou o povo, caramba!"
Ao mesmo tempo, no Palácio de Miraflores, a sede da presidência, assessores trabalhavam num plano de contenção de danos para o anúncio oficial, na segunda-feira, da renúncia do vice-presidente e ministro da Defesa, general Ramón Carrizález - camarada de Chávez na fracassada tentativa de golpe contra Carlos Andrés Pérez, em fevereiro de 1992. Figura discreta da velha-guarda do chamado "chavismo duro", Carrizález teria divergido de Chávez em algumas decisões das últimas semanas, como a desvalorização do bolívar forte, no dia 8, a expropriação da cadeia franco-colombiana de supermercados Êxito e o excessivo protagonismo do presidente em seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
No fim da semana passada, a direção do partido decidiu que não haveria primárias para a escolha dos candidatos para a eleição legislativa de 26 de setembro. Os aspirantes a deputado serão indicados por Chávez. Além disso, a mulher de Carrizález, Yubiri Ortega, ministra do Meio Ambiente, também vinha recebendo críticas veladas por parte da chamada "nova geração" da revolução, que lhe responsabilizava em parte pela falta de ação em prevenir a crise energética - que obriga o governo a impor um rodízio de apagões programados no interior do país e corrói a popularidade de Chávez. Na última pesquisa do Datanálisis, no fim de 2009, a aprovação do presidente não passava de 46,5%.
Oficialmente, Carrizález e Yurubi renunciaram por "estrita razão pessoal". Mas a saída de cena repentina de mais um "histórico" do chavismo deu margem a uma série de interpretações. Incluindo a de que Carrizález teria se rebelado contra a intenção de Chávez de promover cinco coronéis cubanos para o nível de comando das Forças Armadas venezuelanas.
"O processo de expurgo de figuras da primeira geração do chavismo começou com a saída de José Vicente Rangel (então vice-presidente desde 2002) em 2007, quando Chávez decidiu aprofundar o caráter socialista da revolução bolivariana", diz ao Estado Anibal Rodríguez, analista da Universidade Central. "Ao contrário da velha-guarda, os líderes da chamada nova geração são muito menos resistentes às decisões do presidente e restringem-se a cumprir as ordens. A mensagem é a de que Chávez não abre mão de avançar com sua revolução à sua imagem e semelhança."
As mudanças obedeceriam a um plano de Chávez para reafirmar sua liderança, reforçar o fervor revolucionário do governo e promover o que os analistas venezuelanos chamam de "renovação generacional".
Os novos escolhidos fazem questão de tornar pública sua lealdade a Chávez e à sua revolução. Nomeado ministro da Defesa, o general Carlos Mata Figueroa deve manter, por enquanto, seu cargo de comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, o mais alto da cúpula militar. Foi o responsável por quebrar a resistência dos militares ao lema imposto por Chávez: "Pátria, Socialismo ou Morte! Venceremos!"
"Hoje podemos falar com firmeza que o homem das Forças Armadas está comprometido com a revolução. Aqui não há outro caminho que não seja o da revolução", disse o general ao ser nomeado.
Elías Jaua, o novo vice-presidente, era líder estudantil em 1992 e liderou os piquetes na Universidade Central, em apoio a Chávez. Durante o anúncio de sua nomeação, ele se deixou ser visto anotando atentamente as recomendações do presidente. Vai acumular o cargo com o anterior, de ministro de Agricultura e Terras.
O presidente da Hidraven - órgão também responsabilizado pela crise de energia -, Alejandro Hitch, outro representante da segunda geração de chavistas, ocupará o lugar de Yubirí na pasta do Meio Ambiente.
Outra teoria para as mudanças é que os líderes chavistas mais conhecidos não resistiram ao desgaste de quase 11 anos de poder e estariam sendo vistos pela população como as principais figuras do que a oposição qualifica de "boliburguesia" - os novos burgueses bolivarianos que estariam se aproveitando do poder para enriquecer ilicitamente. Em dezembro, Jesse Chacón, jovem tenente que tomou os estúdios da emissora Venezuelana de Televisão (VTV) durante a tentativa golpista de 1992, renunciou ao Ministério de Ciência e Tecnologia após a Justiça abrir um inquérito contra seu irmão, Arné Chacón, acusado de fraude bancária.
MUDANÇAS
A demissão do ministro de Energia Elétrica, Ángel Rodríguez, há três semanas - após anunciar que Caracas estaria incluída no rodízio de cortes de energia -, abriu a possibilidade de mudança que tirou parte significativa do poder de outro chavista histórico, Ali Rodríguez. Outro veterano da intentona de 1992, Ali Rodríguez perdeu o poderoso Ministério da Economia para assumir a pasta de Energia Elétrica. As pastas de Economia e Planejamento foram unificadas, sob o comando de Jorge Giordani, nomeado para tentar fazer o PIB do país crescer de novo (em 2009, a economia venezuelana encolheu pela primeira vez em seis anos) e debelar a inflação, oficialmente estimada em 25,1% no ano passado.
ALIADOS
VELHA-GUARDA CHAVISTA
José Vicente Rangel: Advogado e jornalista, foi chanceler, ministro da Defesa e vice-presidente. Foi o primeiro chavista de peso afastado do governo, em 2007
Ramón Carrizález: Foi camarada de Chávez na tentativa de golpe de 1992. Além da vice-presidência, chefiava a pasta de Defesa. Era responsável pela supervisão das nacionalizações e programas sociais do governo. Caiu esta semana
Yubiri Ortega: Mulher de Carrizález, ocupava desde 2007 a pasta de Meio Ambiente. Também renunciou junto com o marido
Jesse Chacón: Esteve à frente dos Ministérios de Comunicação e do Interior e Justiça. Renunciou em 2009 após seu irmão ser preso por acusações de fraude bancária
Alí Rodríguez: especializado em petróleo, foi presidente da PDVSA, chanceler e secretário-geral da Opep. Continua no governo, mas perdeu o poderoso Ministério de Economia e assumiu a pasta de Energia Elétrica
OS NOVOS NOMES
Elías Jaua: O novo vice acompanha Chávez desde que ele chegou ao poder, em 1999. Encabeçou as principais desapropriações de terras improdutivas nos últimos anos
Carlos Mata Figueroa: Chefe do Comando Estratégico Operacional do Exército, ficou conhecido por conter rebeliões internas
Alejandro Hitcher: Presidente da estatal responsável pelo saneamento e pelo racionamento de água causado pela seca, que afetou a produção de eletricidade
Tarik al-Aissami: Ministro do Interior e Justiça, vem de família síria, mantém laços com o Oriente Médio e a comunidade de 1,5 milhão de origem árabe que vive na Venezuela
Enfim, tudo pode acontecer na Venezuela.
Este é o retrato do momento, triste, por certo...
Com expurgo da velha-guarda, Chávez busca reafirmar liderança
Roberto Lameirinhas
O Estado de S.Paulo, Sexta-Feira, 29 de Janeiro de 2010
Nova geração de chavistas nomeados para o governo é menos resistente às decisões do presidente, dizem analistas
Especialista em metalinguagem, o presidente Hugo Chávez enviou seu recado no discurso que fez, no sábado, encerrando a marcha de seus partidários em Caracas. "A disciplina é fundamental para o avanço da revolução e essa revolução tem um líder", afirmou. "Não admitirei que minha liderança seja contestada, porque eu sou o povo, caramba!"
Ao mesmo tempo, no Palácio de Miraflores, a sede da presidência, assessores trabalhavam num plano de contenção de danos para o anúncio oficial, na segunda-feira, da renúncia do vice-presidente e ministro da Defesa, general Ramón Carrizález - camarada de Chávez na fracassada tentativa de golpe contra Carlos Andrés Pérez, em fevereiro de 1992. Figura discreta da velha-guarda do chamado "chavismo duro", Carrizález teria divergido de Chávez em algumas decisões das últimas semanas, como a desvalorização do bolívar forte, no dia 8, a expropriação da cadeia franco-colombiana de supermercados Êxito e o excessivo protagonismo do presidente em seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
No fim da semana passada, a direção do partido decidiu que não haveria primárias para a escolha dos candidatos para a eleição legislativa de 26 de setembro. Os aspirantes a deputado serão indicados por Chávez. Além disso, a mulher de Carrizález, Yubiri Ortega, ministra do Meio Ambiente, também vinha recebendo críticas veladas por parte da chamada "nova geração" da revolução, que lhe responsabilizava em parte pela falta de ação em prevenir a crise energética - que obriga o governo a impor um rodízio de apagões programados no interior do país e corrói a popularidade de Chávez. Na última pesquisa do Datanálisis, no fim de 2009, a aprovação do presidente não passava de 46,5%.
Oficialmente, Carrizález e Yurubi renunciaram por "estrita razão pessoal". Mas a saída de cena repentina de mais um "histórico" do chavismo deu margem a uma série de interpretações. Incluindo a de que Carrizález teria se rebelado contra a intenção de Chávez de promover cinco coronéis cubanos para o nível de comando das Forças Armadas venezuelanas.
"O processo de expurgo de figuras da primeira geração do chavismo começou com a saída de José Vicente Rangel (então vice-presidente desde 2002) em 2007, quando Chávez decidiu aprofundar o caráter socialista da revolução bolivariana", diz ao Estado Anibal Rodríguez, analista da Universidade Central. "Ao contrário da velha-guarda, os líderes da chamada nova geração são muito menos resistentes às decisões do presidente e restringem-se a cumprir as ordens. A mensagem é a de que Chávez não abre mão de avançar com sua revolução à sua imagem e semelhança."
As mudanças obedeceriam a um plano de Chávez para reafirmar sua liderança, reforçar o fervor revolucionário do governo e promover o que os analistas venezuelanos chamam de "renovação generacional".
Os novos escolhidos fazem questão de tornar pública sua lealdade a Chávez e à sua revolução. Nomeado ministro da Defesa, o general Carlos Mata Figueroa deve manter, por enquanto, seu cargo de comandante do Estado-Maior das Forças Armadas, o mais alto da cúpula militar. Foi o responsável por quebrar a resistência dos militares ao lema imposto por Chávez: "Pátria, Socialismo ou Morte! Venceremos!"
"Hoje podemos falar com firmeza que o homem das Forças Armadas está comprometido com a revolução. Aqui não há outro caminho que não seja o da revolução", disse o general ao ser nomeado.
Elías Jaua, o novo vice-presidente, era líder estudantil em 1992 e liderou os piquetes na Universidade Central, em apoio a Chávez. Durante o anúncio de sua nomeação, ele se deixou ser visto anotando atentamente as recomendações do presidente. Vai acumular o cargo com o anterior, de ministro de Agricultura e Terras.
O presidente da Hidraven - órgão também responsabilizado pela crise de energia -, Alejandro Hitch, outro representante da segunda geração de chavistas, ocupará o lugar de Yubirí na pasta do Meio Ambiente.
Outra teoria para as mudanças é que os líderes chavistas mais conhecidos não resistiram ao desgaste de quase 11 anos de poder e estariam sendo vistos pela população como as principais figuras do que a oposição qualifica de "boliburguesia" - os novos burgueses bolivarianos que estariam se aproveitando do poder para enriquecer ilicitamente. Em dezembro, Jesse Chacón, jovem tenente que tomou os estúdios da emissora Venezuelana de Televisão (VTV) durante a tentativa golpista de 1992, renunciou ao Ministério de Ciência e Tecnologia após a Justiça abrir um inquérito contra seu irmão, Arné Chacón, acusado de fraude bancária.
MUDANÇAS
A demissão do ministro de Energia Elétrica, Ángel Rodríguez, há três semanas - após anunciar que Caracas estaria incluída no rodízio de cortes de energia -, abriu a possibilidade de mudança que tirou parte significativa do poder de outro chavista histórico, Ali Rodríguez. Outro veterano da intentona de 1992, Ali Rodríguez perdeu o poderoso Ministério da Economia para assumir a pasta de Energia Elétrica. As pastas de Economia e Planejamento foram unificadas, sob o comando de Jorge Giordani, nomeado para tentar fazer o PIB do país crescer de novo (em 2009, a economia venezuelana encolheu pela primeira vez em seis anos) e debelar a inflação, oficialmente estimada em 25,1% no ano passado.
ALIADOS
VELHA-GUARDA CHAVISTA
José Vicente Rangel: Advogado e jornalista, foi chanceler, ministro da Defesa e vice-presidente. Foi o primeiro chavista de peso afastado do governo, em 2007
Ramón Carrizález: Foi camarada de Chávez na tentativa de golpe de 1992. Além da vice-presidência, chefiava a pasta de Defesa. Era responsável pela supervisão das nacionalizações e programas sociais do governo. Caiu esta semana
Yubiri Ortega: Mulher de Carrizález, ocupava desde 2007 a pasta de Meio Ambiente. Também renunciou junto com o marido
Jesse Chacón: Esteve à frente dos Ministérios de Comunicação e do Interior e Justiça. Renunciou em 2009 após seu irmão ser preso por acusações de fraude bancária
Alí Rodríguez: especializado em petróleo, foi presidente da PDVSA, chanceler e secretário-geral da Opep. Continua no governo, mas perdeu o poderoso Ministério de Economia e assumiu a pasta de Energia Elétrica
OS NOVOS NOMES
Elías Jaua: O novo vice acompanha Chávez desde que ele chegou ao poder, em 1999. Encabeçou as principais desapropriações de terras improdutivas nos últimos anos
Carlos Mata Figueroa: Chefe do Comando Estratégico Operacional do Exército, ficou conhecido por conter rebeliões internas
Alejandro Hitcher: Presidente da estatal responsável pelo saneamento e pelo racionamento de água causado pela seca, que afetou a produção de eletricidade
Tarik al-Aissami: Ministro do Interior e Justiça, vem de família síria, mantém laços com o Oriente Médio e a comunidade de 1,5 milhão de origem árabe que vive na Venezuela
1886) Sobre comendas e títulos honoríficos
A propósito da atribuição de ordens, medalhas, títulos de honra e outras comendas e homenagens a personalidades que se tenham distinguido a serviço do país, de uma corporação qualquer -- que se julga detentora de nobres tradições -- ou que tenham prestado relevantes contribuições para o bem-estar do país, a felicidade da nação, ou até mesmo da humanidade, leio, num post do blog de meu amigo Francisco Seixas da Costa, embaixador português em França, como ele mesmo se denomina (o que é absolutamente fiel), esta nota acauteladora:
"Cada vez acho mais importante que este tipo de reconhecimento do Estado português seja feito com grande rigor e com fortes critérios seletivos, a fim de ficar garantido, na memória comum, que o gesto tem significado e não constitui um mero sinal de natureza protocolar. As condecoração são, de certo modo, a forma contemporânea de nobilitação. Devem, por essa razão, corresponder a uma leitura muito ponderada das qualidades daqueles a quem são atribuídas e, muito em especial, da contribuição por eles dada ao prestígio da comunidade que os distingue."
Por acaso me recordei agora que, quando da atribuição, pelo presidente da República do Brasil, sob a recomendação do Ministério das Relações Exteriores, da insígnia da Ordem do Rio Branco ao então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, que logo depois renunciaria do cargo, e do mandato, para não ser eventualmente cassado por corrupção, eu escrevi uma carta ao Chefe do Cerimonial do Itamaraty para devolver a minha medalha e diploma de membro da Ordem (ainda que na categoria de membro da carreira, e não personalidade externa, como o inacreditável presidente da CD, aliás acerbamente defendido pelo presidente e seu partido).
Só não o fiz, na ocasião, porque fui dissuadido do gesto por amigos e colegas, que ponderaram ser exagerada a minha reação, que não se situava no mesmo plano de uma comenda entregue por razões puramente políticas ao chefe de um outro poder.
Justamente, tive vontade de argumentar: se uma Ordem como a de Rio Branco, grande servidor da República em seu tempo, é entregue a qualquer um, mesmo um cidadão pessoalmente ordinário, e notoriamente corrupto, apenas porque ele exerce um cargo público, então estou em má companhia, pois a Ordem já se rebaixou às conveniências políticas do momento, e não me sinto confortável com determinadas companhias.
Em ocasião oportuna, revelarei a carta que escrevi na ocasião, ainda guardada em meus arquivos, para ser usada quando a oportunidade se apresentar.
"Cada vez acho mais importante que este tipo de reconhecimento do Estado português seja feito com grande rigor e com fortes critérios seletivos, a fim de ficar garantido, na memória comum, que o gesto tem significado e não constitui um mero sinal de natureza protocolar. As condecoração são, de certo modo, a forma contemporânea de nobilitação. Devem, por essa razão, corresponder a uma leitura muito ponderada das qualidades daqueles a quem são atribuídas e, muito em especial, da contribuição por eles dada ao prestígio da comunidade que os distingue."
Por acaso me recordei agora que, quando da atribuição, pelo presidente da República do Brasil, sob a recomendação do Ministério das Relações Exteriores, da insígnia da Ordem do Rio Branco ao então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, que logo depois renunciaria do cargo, e do mandato, para não ser eventualmente cassado por corrupção, eu escrevi uma carta ao Chefe do Cerimonial do Itamaraty para devolver a minha medalha e diploma de membro da Ordem (ainda que na categoria de membro da carreira, e não personalidade externa, como o inacreditável presidente da CD, aliás acerbamente defendido pelo presidente e seu partido).
Só não o fiz, na ocasião, porque fui dissuadido do gesto por amigos e colegas, que ponderaram ser exagerada a minha reação, que não se situava no mesmo plano de uma comenda entregue por razões puramente políticas ao chefe de um outro poder.
Justamente, tive vontade de argumentar: se uma Ordem como a de Rio Branco, grande servidor da República em seu tempo, é entregue a qualquer um, mesmo um cidadão pessoalmente ordinário, e notoriamente corrupto, apenas porque ele exerce um cargo público, então estou em má companhia, pois a Ordem já se rebaixou às conveniências políticas do momento, e não me sinto confortável com determinadas companhias.
Em ocasião oportuna, revelarei a carta que escrevi na ocasião, ainda guardada em meus arquivos, para ser usada quando a oportunidade se apresentar.
1885) Um debate sobre comércio, câmbio e a China...
Um leitor, E. Baldi, deste meu blog fez, a propósito de um post anterior,
1878) O debate sobre a "primarizacao" da economia ...:
este comentário-pergunta:
"PRA,
Caso possa responder, com base no texto apresentado, quais as limitações de um país vinculado ao atual esquema institucional do comércio mundial para mexer em seu câmbio? Pode-se desvalorizar à vontade, como faz a China? A pressão é unicamente política? Não há nada de direito internacional sobre isso?
Grato.
Ah, e tudo se resumiria ao câmbio? Não haveriam outras medidas tão ou mais importantes?"
Não disponho, sinceramente, de tempo para elaborar a respeito, mas diria simplesmente o seguinte"
1) Não existe NENHUMA vinculação "institucional" de qualquer país pertencence ao sistema multilateral de comércio com qualquer tipo de perfil exportador ou importador. Cada um faz o que quer ou o que pode, com base na sua dotação de recursos, suas competências intrínsecas, seu dinamismo competitivo e o tino produtivo de seus empresários, de acordo com algumas regras simples desse sistema de comércio -- cláusulas de nação-mais-favorecida, reciprocidade, tratamento nacional, não-discriminação, etc. -- e com a teoria e a prática do comércio internacional, cujas bases foram lançadas duas décadas atrás por Adam Smith e David Ricardo.
2) Todo e qualquer país pode fazer o que desejar com o seu câmbio, pois nem o FMI, nem a OMC tem mandato para determinar o valor da moeda ou o regime cambial desse país, que lhe cabe decidir soberanamente.
3) O GATT-OMC pode apenas exigir respeito às suas regras COMERCIAIS, que não alcançam o câmbio, todavia. Pode haver alguma acusação de "dumping" por razões cambiais, mas isso não se sustenta numa análise stricto sensu das disposições em vigor, pois o dumping é sempre uma prática microeconômica, ao passo que câmbio é uma disposição soberana de caráter macroeconômico.
4) Não existe nenhuma "maldição" em exportar produtos primários, pois EUA, Austrália, Canadá e outros países desenvolvidos também o fazem, mas o ideal, obviamente, é acrescentar valor aos produtos, e sempre introduzir tecnologia, via pesquisa de sementes, processos de extração mais elaborados e competitivos, etc. Ser dependente de um único produto primário -- como certos países com o petróleo -- representa, de todo modo, um perigo a ser evitado, sobretudo no caso do rentismo improdutivo que tende a se estabelecer nesses casos. Não por acaso vários desses países são petro-ditaduras, totalmente corruptas e ineficientes, mas o Brasil não corre mais esse risco com o pré-sal. O único risco é o uso político dos benefícios da exploração.
5) Sobre o caso da China, remeto ao post abaixo da correspondente do Estadão em Beijing, Cláudia Trevisan, que mantém um excelente blog no site do jornal.
A China e o câmbio
por Cláudia Trevisan
Seção: Economia, 09.11.09 - 07:51:31.
Por mais que o ministro Guido Mantega queira, a adoção do câmbio flutuante não faz parte dos planos de médio prazo da China, o que na noção de tempo do antigo Império do Meio pode significar muitos anos. O país é pressionado desde o início desta década por norte-americanos e europeus a valorizar sua moeda e adotar uma política cambial mais flexível e resiste bravamente.
A estabilidade do yuan e seu baixo valor em relação ao dólar são um dos principais ingredientes da receita de sucesso do modelo de desenvolvimento da China, que em 30 anos conseguiu sair de uma posição irrelevante no comércio internacional para o posto de segundo maior exportador do mundo _a liderança deverá ser obtida até 2010.
Como disse o Nobel de Economia Michel Spence em entrevista concedida a Fernando Dantas e publicada hoje no Estadão, “todos os países em desenvolvimento que tiveram alto crescimento, sustentado por um longo período, administraram suas moedas em alguma medida”. E nenhum deles seguiu a receita de maneira mais estrita que a China. Oficialmente, Pequim possui um câmbio “flutuante administrado”, mas na prática o modelo é muito mais “administrado” do que “flutuante” e está totalmente sujeito aos interesses econômicos do país.
Desde que a crise mundial começou a se insinuar, em meados do ano passado, a cotação da moeda chinesa se mantém inalterada em relação à norte-americana, na casa dos 6,80 yuans por US$ 1,00. Como o dólar se desvalorizou no mercado internacional, isso significa que o yuan também perdeu valor em termos reais em relação às demais moedas, incluindo o real brasileiro, o que ampliou ainda mais a competividade das exportações chinesas.
A maioria dos analistas acredita que o Banco do Povo da China deverá retomar a política de apreciação do yuan em algum momento do próximo ano, depois que as exportações se recuperarem um pouco em relação à profunda queda de 2009. Mas como tudo que diz respeito à moeda, o movimento será extremamente gradual e estará longe de qualquer coisa que lembre o câmbio flutuante. O banco UBS, por exemplo, prevê que no fim de 2010 a relação entre yuan/dólar está entre 6,50 e 6,40.
Depois de 11 anos de câmbio fixo, nos quais o yuan foi cotado em torno de 8,30 por US$ 1,00, a China anunciou no dia 21 de julho de 2005 a reforma de seu sistema cambial. A mudança previa a flutuação administrada do yuan em relação a uma cesta de moedas, dentro de uma banda fixada diariamente pelo Banco do Povo da China (o banco central local).
Desde o início, as autoridades de Pequim deixaram claro que o gradualismo daria o tom de sua reforma cambial. Em mais de quatro anos de reforma, o yuan ganhou cerca de 20% em relação ao dólar. Diante da persistente apreciação do real em relação ao dólar, o ministro Mantega defendeu que todos os países do G20 adotem o câmbio flutuante. Mas nada indica que os chineses tenham intenção de mudar sua estratégia agora.
1878) O debate sobre a "primarizacao" da economia ...:
este comentário-pergunta:
"PRA,
Caso possa responder, com base no texto apresentado, quais as limitações de um país vinculado ao atual esquema institucional do comércio mundial para mexer em seu câmbio? Pode-se desvalorizar à vontade, como faz a China? A pressão é unicamente política? Não há nada de direito internacional sobre isso?
Grato.
Ah, e tudo se resumiria ao câmbio? Não haveriam outras medidas tão ou mais importantes?"
Não disponho, sinceramente, de tempo para elaborar a respeito, mas diria simplesmente o seguinte"
1) Não existe NENHUMA vinculação "institucional" de qualquer país pertencence ao sistema multilateral de comércio com qualquer tipo de perfil exportador ou importador. Cada um faz o que quer ou o que pode, com base na sua dotação de recursos, suas competências intrínsecas, seu dinamismo competitivo e o tino produtivo de seus empresários, de acordo com algumas regras simples desse sistema de comércio -- cláusulas de nação-mais-favorecida, reciprocidade, tratamento nacional, não-discriminação, etc. -- e com a teoria e a prática do comércio internacional, cujas bases foram lançadas duas décadas atrás por Adam Smith e David Ricardo.
2) Todo e qualquer país pode fazer o que desejar com o seu câmbio, pois nem o FMI, nem a OMC tem mandato para determinar o valor da moeda ou o regime cambial desse país, que lhe cabe decidir soberanamente.
3) O GATT-OMC pode apenas exigir respeito às suas regras COMERCIAIS, que não alcançam o câmbio, todavia. Pode haver alguma acusação de "dumping" por razões cambiais, mas isso não se sustenta numa análise stricto sensu das disposições em vigor, pois o dumping é sempre uma prática microeconômica, ao passo que câmbio é uma disposição soberana de caráter macroeconômico.
4) Não existe nenhuma "maldição" em exportar produtos primários, pois EUA, Austrália, Canadá e outros países desenvolvidos também o fazem, mas o ideal, obviamente, é acrescentar valor aos produtos, e sempre introduzir tecnologia, via pesquisa de sementes, processos de extração mais elaborados e competitivos, etc. Ser dependente de um único produto primário -- como certos países com o petróleo -- representa, de todo modo, um perigo a ser evitado, sobretudo no caso do rentismo improdutivo que tende a se estabelecer nesses casos. Não por acaso vários desses países são petro-ditaduras, totalmente corruptas e ineficientes, mas o Brasil não corre mais esse risco com o pré-sal. O único risco é o uso político dos benefícios da exploração.
5) Sobre o caso da China, remeto ao post abaixo da correspondente do Estadão em Beijing, Cláudia Trevisan, que mantém um excelente blog no site do jornal.
A China e o câmbio
por Cláudia Trevisan
Seção: Economia, 09.11.09 - 07:51:31.
Por mais que o ministro Guido Mantega queira, a adoção do câmbio flutuante não faz parte dos planos de médio prazo da China, o que na noção de tempo do antigo Império do Meio pode significar muitos anos. O país é pressionado desde o início desta década por norte-americanos e europeus a valorizar sua moeda e adotar uma política cambial mais flexível e resiste bravamente.
A estabilidade do yuan e seu baixo valor em relação ao dólar são um dos principais ingredientes da receita de sucesso do modelo de desenvolvimento da China, que em 30 anos conseguiu sair de uma posição irrelevante no comércio internacional para o posto de segundo maior exportador do mundo _a liderança deverá ser obtida até 2010.
Como disse o Nobel de Economia Michel Spence em entrevista concedida a Fernando Dantas e publicada hoje no Estadão, “todos os países em desenvolvimento que tiveram alto crescimento, sustentado por um longo período, administraram suas moedas em alguma medida”. E nenhum deles seguiu a receita de maneira mais estrita que a China. Oficialmente, Pequim possui um câmbio “flutuante administrado”, mas na prática o modelo é muito mais “administrado” do que “flutuante” e está totalmente sujeito aos interesses econômicos do país.
Desde que a crise mundial começou a se insinuar, em meados do ano passado, a cotação da moeda chinesa se mantém inalterada em relação à norte-americana, na casa dos 6,80 yuans por US$ 1,00. Como o dólar se desvalorizou no mercado internacional, isso significa que o yuan também perdeu valor em termos reais em relação às demais moedas, incluindo o real brasileiro, o que ampliou ainda mais a competividade das exportações chinesas.
A maioria dos analistas acredita que o Banco do Povo da China deverá retomar a política de apreciação do yuan em algum momento do próximo ano, depois que as exportações se recuperarem um pouco em relação à profunda queda de 2009. Mas como tudo que diz respeito à moeda, o movimento será extremamente gradual e estará longe de qualquer coisa que lembre o câmbio flutuante. O banco UBS, por exemplo, prevê que no fim de 2010 a relação entre yuan/dólar está entre 6,50 e 6,40.
Depois de 11 anos de câmbio fixo, nos quais o yuan foi cotado em torno de 8,30 por US$ 1,00, a China anunciou no dia 21 de julho de 2005 a reforma de seu sistema cambial. A mudança previa a flutuação administrada do yuan em relação a uma cesta de moedas, dentro de uma banda fixada diariamente pelo Banco do Povo da China (o banco central local).
Desde o início, as autoridades de Pequim deixaram claro que o gradualismo daria o tom de sua reforma cambial. Em mais de quatro anos de reforma, o yuan ganhou cerca de 20% em relação ao dólar. Diante da persistente apreciação do real em relação ao dólar, o ministro Mantega defendeu que todos os países do G20 adotem o câmbio flutuante. Mas nada indica que os chineses tenham intenção de mudar sua estratégia agora.
1884) Uma frase, um gesto, um vínculo em torno do Maquiavel...
Ter amigos atentos e inteligentes é um privilégio como poucos na vida, mesmo se a distância não nos permite um contato tão frequente quanto desejável. Amigos assim sempre nos fazem, e trazem, surpresas agradáveis, ainda que inesperadas, mas sempre generosas, pela espontaneidade do gesto e a imensa cortesia que eles encerram.
Pois fui confortado com duas surpresas assim, a propósito do recente lançamento eletrônico (ou digital, como queiram), de meu livro:
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
O Embaixador de Portugal em Paris, Francisco Seixas da Costa, que mantém um blog, Duas ou Três Coisas (notas pouco diárias do embaixador português em Fança), que eu classificaria de propriamente indispensável -- por prazeiroso, intelectual, leve e ao mesmo tempo denso -- , fez-me o favor de anunciar esse lançamento virtual em um post especial, do sábado, 23 de janeiro de 2010, simplesmente intitulado e-book.
Nele, escreveu o seguinte:
Um amigo brasileiro, diplomata e prolífico escritor da área das relações internacionais, mandou-me um convite para o "lançamento virtual", hoje, de um seu e-book, isto é, um livro em edição eletrónica, que pode ser adquirido aqui. A sessão tem como ponto alto um "chat" com o autor, a ter lugar aqui [PRA: link para o chat eletrônico, já inexistente]. Para o convite ser completo, só não fica clara a forma como poderemos ter acessos aos salgadinhos que estas ocasiões sempre proporcionam.
O mundo muda muito...
Bem, só posso ficar lisonjeado com o anúncio gratuito, ou propaganda voluntária, e dizer que representou mais uma oportunidade para percorrer esse blog altamente simpático e cativante, no qual também pesquei uma frase que se aplica, mutatis mutandis, ao meu caso.
Com efeito, meus amigos e leitores -- assim como vários editores preocupados -- sempre reclamam que eu escrevo demais, me alongo em determinados assuntos, vou buscar seus precedentes no pleistoceno superior -- às vezes no pré-cambriano da história --, faço todas as conexões com o cenário mundial, bref, que sou prolixo e demasiado "completo" (como se isso fosse um defeito, o que em vários casos o é, efetivamente).
Pois recupero, no blog do Embaixador Seixas da Costa, uma frase, num post sobre uma nova passagem de Portugal pelo CSNU, que diz o seguinte:
"Este é um post longo. Como diria alguém, não tenho tempo para ser sintético."
Com permissão do Embaixador, e sua magnanimidade pelo não recolhimento de direitos autorais, mas atribuindo-lhe o devido copyright, ou pelo menos os direitos morais pela frase (que ele talvez já emprestou de alguém), cada vez que um editor ou responsável de publicação reclamar do tamanho de meus textos, vou passar a dizer:
"Mil perdões pela extensão do texto, mas não tive tempo de ser breve..."
Finalizando, desejo também agradecer a Glauciane Carvalho a gentileza de ter colocado, em seu excelente blog, uma chamada para o lançamento desse meu livro sobre Maquiavel e em torno do Príncipe.
Essa seção especial sobre o "meu" Maquiavel foi feita com tanta graça, competência e refinamento técnico -- habilidades que eu nunca conseguiria ter -- que eu só posso ficar agradecido a ela pela imensa gentileza do gesto.
Veja este anúncio de indicação de leitura aqui.
(e ainda temos direito a uma excelente sessão musical)
Pois fui confortado com duas surpresas assim, a propósito do recente lançamento eletrônico (ou digital, como queiram), de meu livro:
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
O Embaixador de Portugal em Paris, Francisco Seixas da Costa, que mantém um blog, Duas ou Três Coisas (notas pouco diárias do embaixador português em Fança), que eu classificaria de propriamente indispensável -- por prazeiroso, intelectual, leve e ao mesmo tempo denso -- , fez-me o favor de anunciar esse lançamento virtual em um post especial, do sábado, 23 de janeiro de 2010, simplesmente intitulado e-book.
Nele, escreveu o seguinte:
Um amigo brasileiro, diplomata e prolífico escritor da área das relações internacionais, mandou-me um convite para o "lançamento virtual", hoje, de um seu e-book, isto é, um livro em edição eletrónica, que pode ser adquirido aqui. A sessão tem como ponto alto um "chat" com o autor, a ter lugar aqui [PRA: link para o chat eletrônico, já inexistente]. Para o convite ser completo, só não fica clara a forma como poderemos ter acessos aos salgadinhos que estas ocasiões sempre proporcionam.
O mundo muda muito...
Bem, só posso ficar lisonjeado com o anúncio gratuito, ou propaganda voluntária, e dizer que representou mais uma oportunidade para percorrer esse blog altamente simpático e cativante, no qual também pesquei uma frase que se aplica, mutatis mutandis, ao meu caso.
Com efeito, meus amigos e leitores -- assim como vários editores preocupados -- sempre reclamam que eu escrevo demais, me alongo em determinados assuntos, vou buscar seus precedentes no pleistoceno superior -- às vezes no pré-cambriano da história --, faço todas as conexões com o cenário mundial, bref, que sou prolixo e demasiado "completo" (como se isso fosse um defeito, o que em vários casos o é, efetivamente).
Pois recupero, no blog do Embaixador Seixas da Costa, uma frase, num post sobre uma nova passagem de Portugal pelo CSNU, que diz o seguinte:
"Este é um post longo. Como diria alguém, não tenho tempo para ser sintético."
Com permissão do Embaixador, e sua magnanimidade pelo não recolhimento de direitos autorais, mas atribuindo-lhe o devido copyright, ou pelo menos os direitos morais pela frase (que ele talvez já emprestou de alguém), cada vez que um editor ou responsável de publicação reclamar do tamanho de meus textos, vou passar a dizer:
"Mil perdões pela extensão do texto, mas não tive tempo de ser breve..."
Finalizando, desejo também agradecer a Glauciane Carvalho a gentileza de ter colocado, em seu excelente blog, uma chamada para o lançamento desse meu livro sobre Maquiavel e em torno do Príncipe.
Essa seção especial sobre o "meu" Maquiavel foi feita com tanta graça, competência e refinamento técnico -- habilidades que eu nunca conseguiria ter -- que eu só posso ficar agradecido a ela pela imensa gentileza do gesto.
Veja este anúncio de indicação de leitura aqui.
(e ainda temos direito a uma excelente sessão musical)
1883) Ainda os avioes da FAB; estendendo o debate
Meu leitor e comentarista habitual Vinicius Portella acrescentou mais um comentário a este post anterior:
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
1871) Ainda os aviões da FAB: uma opinião bem informada
Recomendo aos que ainda não o leram, que o façam, pois traz uma "opinião" extremamente bem informada, e sensata, sobre o assunto.
Pois, em função disso, meu amigo Vinicius Portella perguntou-me o que segue:
"Paulo,
Creio que, neste texto, o brigadeiro Teomar Fonseca Quírico nos fornece elementos importantes para o debate sobre esse tema; ressalvando-se, todavia, seu tom de devoção em determinadas passagens. Um dos pontos de maior importância nessa discussão diz respeito à transferência de tecnologia. Que considerações fazes sobre isso? Penso que tenhas coisas importantes a dizer sobre isso.
Um grande abraço, espero tua resposta."
Acabo de responder-lhe o que segue"
Vinicius Portella,
Agradeço a generosidade do comentário e sua benevolência com os meus posts, assim como com meus parcos argumentos em torno dessa questão, mas eu não tenho capacidade, ou simplesmente competência, para estender-me num debate técnico em torno da escolha correta dos aviões da FAB.
Minha única competência relativa consiste em, sendo um cidadão consciente e bem informado, perceber alguns aspectos do processo decisório que deve presidir a toda e qualquer escolha governamental de certa importância. E esta, envolvendo bilhões de reais, e aviões que vão servir por pelo menos duas décadas, certamente é muito importante para ser deixadaa apenas ao argumento canhestro do "eu decido", a "relação é estratégica", ou ainda "a decisão é política".
Essa variante do "l'Etat c'est moi" eu simplesmente não aceito.
Sobretudo porque ela implicaria desprezar o trabalho de meses e meses de dezenas, talvez centenas de servidores abnegados da FAB, que fizeram um trabalho técnico dos mais sérios, para chegar a uma conclusão, qualquer que seja ela, importante no plano operacional da Força Aérea.
Ora, desprezar isso, com o gesto absolutista do "eu decido", representa não apenas descartar o trabalho sério da FAB, mas desprezar a opinião pública do Brasil de modo tão arrogante a ponto de ser inaceitável.
Paulo Roberto de Almeida
(30.01.2010)
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
1871) Ainda os aviões da FAB: uma opinião bem informada
Recomendo aos que ainda não o leram, que o façam, pois traz uma "opinião" extremamente bem informada, e sensata, sobre o assunto.
Pois, em função disso, meu amigo Vinicius Portella perguntou-me o que segue:
"Paulo,
Creio que, neste texto, o brigadeiro Teomar Fonseca Quírico nos fornece elementos importantes para o debate sobre esse tema; ressalvando-se, todavia, seu tom de devoção em determinadas passagens. Um dos pontos de maior importância nessa discussão diz respeito à transferência de tecnologia. Que considerações fazes sobre isso? Penso que tenhas coisas importantes a dizer sobre isso.
Um grande abraço, espero tua resposta."
Acabo de responder-lhe o que segue"
Vinicius Portella,
Agradeço a generosidade do comentário e sua benevolência com os meus posts, assim como com meus parcos argumentos em torno dessa questão, mas eu não tenho capacidade, ou simplesmente competência, para estender-me num debate técnico em torno da escolha correta dos aviões da FAB.
Minha única competência relativa consiste em, sendo um cidadão consciente e bem informado, perceber alguns aspectos do processo decisório que deve presidir a toda e qualquer escolha governamental de certa importância. E esta, envolvendo bilhões de reais, e aviões que vão servir por pelo menos duas décadas, certamente é muito importante para ser deixadaa apenas ao argumento canhestro do "eu decido", a "relação é estratégica", ou ainda "a decisão é política".
Essa variante do "l'Etat c'est moi" eu simplesmente não aceito.
Sobretudo porque ela implicaria desprezar o trabalho de meses e meses de dezenas, talvez centenas de servidores abnegados da FAB, que fizeram um trabalho técnico dos mais sérios, para chegar a uma conclusão, qualquer que seja ela, importante no plano operacional da Força Aérea.
Ora, desprezar isso, com o gesto absolutista do "eu decido", representa não apenas descartar o trabalho sério da FAB, mas desprezar a opinião pública do Brasil de modo tão arrogante a ponto de ser inaceitável.
Paulo Roberto de Almeida
(30.01.2010)
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