sábado, 27 de março de 2010

1910) Rififi no FMI (3): Brasil corre o risco de perder a cadeira...

...por incompetência e incontinência ideológica do atual representante e diretor pelo Brasil...

Demissão no FMI abre crise Brasil-Colômbia
Gustavo Chacra
O Estado de S.Paulo, 27 de março de 2010

Decisão do representante brasileiro de demitir colombiana provoca irritação no país vizinho; Lula diz que não vai se envolver no caso

A decisão do representante brasileiro no Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Jr., de demitir a representante colombiana, provocou irritação em Bogotá, com o governo da Colômbia exigindo explicações do Brasil. Não está claro se a atitude foi individual ou se teve o aval da administração brasileira.

Para complicar, Nogueira Batista, que ocupa o cargo de diretor executivo ao liderar um grupo de nove países que inclui o Brasil e a Colômbia, exigiu que a colombiana Maria Inés Agudelo esvaziasse a sala em um prazo de 24 a 48 horas. Ex-vice-ministra da Fazenda na Colômbia e diretora-substituta no fundo, Agudelo tem o apoio do presidente Álvaro Uribe, que teria feito uma queixa formal ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A Colômbia, segundo apurou o Estado, estaria disposta a deixar o grupo do Brasil, pondo em risco a capacidade de o representante brasileiro ter 2% dos votos necessários para uma cadeira no diretório executivo da entidade. Sozinhos, os brasileiros têm 1,42% e devem ter 1,7% depois da reforma do FMI. Para alcançar o nível mínimo, o Brasil se juntou a outros países. Deste grupo, a Colômbia é o segundo com maior porcentual de votos.

Nogueira Batista teria enviado cartas ao governo colombiano, antes de tomar a atitude. Os colombianos não confirmam a informação. O Estado telefonou três vezes ao celular do representante brasileiro e deixou recado. Também o procurou no telefone fixo do escritório, falando com a secretária, que disse que ele passaria o dia em reuniões. Até o fechamento desta edição, Nogueira Batista não retornou os telefonemas nem os e-mails em que foi pedida uma entrevista para que ele esclarecesse o ocorrido. Procurada, a representante colombiana também não se manifestou.

A imprensa colombiana repercutiu com dureza o episódio. O Portafolio, principal jornal de economia de Bogotá, classificou como "intempestiva" e "grosseira" a decisão do representante brasileiro. Nogueira Batista é descrito como "um controvertido economista brasileiro".

Lula. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não quer se envolver diretamente no problema criado pelo diretor do FMI. Apesar de ter ficado preocupado e considerar que Nogueira Batista tem um comportamento muitas vezes destemperado, Lula, segundo fontes do Planalto, não tem intenção de substituí-lo por temer que ele possa criar ainda mais problemas ao governo em ano de eleições.

Por isso, Lula está acompanhando o assunto à distância e atribuiu ao Ministério da Fazenda, responsável pela indicação de Batista ao cargo, a missão de resolver o problema. O Ministério da Fazenda, no entanto, apoiou a decisão de Batista.

Segundo uma fonte da área econômica, o ministro Guido Mantega conversou por telefone com seu equivalente colombiano para tratar do assunto e também mandou carta explicando os motivos da demissão, dando respaldo à decisão do representante brasileiro.

Para essa fonte, o episódio está longe de configurar um conflito diplomático entre Brasil e Colômbia, mesmo porque a vaga continua pertencendo àquele país, que vai indicar o substituto de Maria Inés. "O novo nome sairá da Colômbia", disse a fonte.

A demissão foi justificada pela incompatibilidade de trabalho e de projetos entre Batista e Maria Inés. Segundo a fonte da Fazenda, Nogueira Batista várias vezes tentou encaminhar à Colômbia o pedido de substituição de Maria Inés, mas não foi atendido. "Ele não é nenhum troglodita." Um ministro próximo a Lula disse ter conversado com Nogueira Batista sobre o episódio. Da conversa, saiu convencido que a colombiana era "incompetente".

1909) Diplomacia dos holofotes - Rubens Ricupero

"Busca incessante dos holofotes" marca política externa do Brasil, diz Ricupero
Rafael Spuldar
Do UOL Notícias, 22.03.2010

Entrevista com Rubens Ricupero

São Paulo - Os esforços do governo brasileiro em mediar o conflito entre Israel e os palestinos, além da sua aproximação com o Irã, são exemplos de uma política externa marcada pela "busca incessante dos holofotes", afirma o diplomata e ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Rubens Ricupero. Em entrevista exclusiva ao UOL Notícias, ele também lamentou a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Cuba no momento em que o dissidente Orlando Zapata morreu, após dois meses e meio de greve de fome, e criticou o silêncio do Brasil às violações aos direitos humanos na Venezuela.

Na opinião de Ricupero, a iniciativa do Brasil de tentar se tornar um ator nas negociações entre israelenses e palestinos é louvável, mas pouco realista, pela falta de poder de barganha e de pressão do governo. "Em diplomacia, bons ofícios não se oferecem: é alguma coisa que se aceita quando as partes pedem", diz o ex-ministro. "É a mesma coisa que se diz, 'em briga de marido e mulher, quem tem juízo não se mete', e em brigas como essa, você só pode entrar se tiver realmente alguma coisa", afirma. O diplomata acredita que a intenção do governo brasileiro tem um viés mais doméstico, sem pretensões de atingir resultados concretos.

Ricupero vê a mesma lógica de "protagonismo" da política externa do governo brasileiro na recente aproximação com o governo iraniano, na qual ele não vê nenhuma vantagem. O ex-ministro acredita que esta relação só prejudica o Brasil, por demonstrar uma posição "errática" e "incoerente" do País, que condenou o golpe de Estado em Honduras, mas que, segundo ele, se cala quanto às violações dos direitos humanos pelo regime de Teerã, o qual classifica de "ditadura teocrática". Na opinião de Ricupero, a relação com o Irã deve dificultar a candidatura do Brasil a uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU.

O ex-ministro também critica a postura do governo brasileiro quanto a Cuba, além de lamentar a declaração do presidente Lula, que fez uma analogia da situação dos dissidentes cubanos com uma eventual greve de fome dos detentos de São Paulo. A declaração foi "despropositada e absurda", na opinião de Ricupero. "Eu tenho pena, porque acho que o presidente Lula havia atingido um nível importante de reconhecimento e admiração internacional, que ele está dilapidando por declarações e gestos irrefletidos" , afirma.

Quanto à relação com o governo da Venezuela, o diplomata vê um lado positivo em termos de comércio exterior, mas acredita que é papel do Brasil denunciar casos como violações à liberdade de imprensa por parte do regime de Hugo Chávez. "Se os direitos humanos são tão importantes para nós, como que nós estamos nos abstendo?", afirma Ricupero, relembrando o fato do governo do Brasil ter lançado o projeto do Programa Nacional de Direitos Humanos.

Ricupero lançou na última terça-feira (16) seu livro Diário de Bordo – A Viagem Presidencial de Tancredo Neves, no qual relata o giro internacional feito em 1985 pelo então presidente eleito, do qual era assessor para assuntos internacionais.

1908) Nunca antes neste pais: o preconceito idiota contra o dolar...

Nunca antes, em nenhum lugar do mundo, em qualquer época da era moderna, bancos centrais serviram ao propósito equivocado de garantir o intercâmbio e os riscos cambiais do comércio privado entre agentes idem. Só um preconceito idiota contra o dólar pode explicar uma idéia idem...

Comércio sem dólar no Mercosul patina

EDUARDO CUCOLO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Folha de S. Paulo - 22/03/2010

Um ano e meio após lançamento de sistema que permite transações entre Brasil e Argentina em moeda local, adesão ainda é baixa

Entre os entraves apontados por especialistas, está a taxa utilizada pelos bancos para fazer a conversão do real para o peso

Um ano e meio depois de ser lançado pelos governos do Brasil e da Argentina, o sistema que permite operações comerciais entre os dois países sem a utilização do dólar enfrenta um momento de estagnação.
Além da baixa adesão por parte de exportadores e importadores, a iniciativa só tem funcionado em uma das pontas do comércio entre os dois países. De acordo com o Banco Central, 99% das operações realizadas até agora são de exportações do Brasil para a Argentina. No sentido contrário, praticamente não há negócios.
O SML (Sistema de Pagamentos em Moeda Local), que começou a vigorar em outubro de 2008, permite a importadores e exportadores brasileiros e argentinos realizar pagamentos e recebimentos em suas respectivas moedas por meio de uma instituição bancária.
A expectativa do governo brasileiro era que entre 10% e 20% das operações de comércio entre os dois países pudessem ser feitas em moeda local por meio do SML. No primeiro ano de funcionamento, o sistema alcançou participação de 3% no segmento e, desde setembro passado, esse percentual se estagnou.
Para especialistas do setor, essa situação não deve mudar no curto prazo. Entre os entraves apontados, está a taxa utilizada pelos bancos para fazer a conversão do real para o peso. Entre as montadoras, líderes da balança comercial entre os dois países, por exemplo, não foi registrado nenhum negócio sem o uso do dólar.
A maioria dos exportadores prefere fazer negócios em dólar porque umas das principais fontes de financiamento do setor, o ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio), exige um contrato de câmbio. Além disso, o SML não se aplica a operações com prazo de pagamento acima de um ano.
O SML também tira do exportador a opção de manter seus dólares depositados fora do país para fazer pagamentos externos de matéria-prima ou empréstimo, por exemplo. As empresas também perdem a possibilidade de trazer esse dinheiro para o país no momento em que julguem mais vantajoso fazer a conversão, o que pode acrescentar receitas cambiais aos seus negócios.
"São restrições que excluem as grandes empresas. Com isso, esse mercado fica restrito aos pequenos e médios exportadores", diz o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro.
Uma das vantagens do comércio em moeda local, em tese, é a redução de custos com a conversão de moedas e com a dispensa do contrato de câmbio, algo estimado em 4% do total. Como não há uma relação direta entre o real e o peso, no entanto, as cotações são calculadas com base na paridade de cada moeda com o dólar e os bancos que fazem essas operações embutem os custos e riscos cambiais nessa taxa. "No final, o exportador acaba recebendo menos do que se utilizasse o dólar", diz o diretor-executivo da corretora NGO, Sidnei Nehme.
Outro obstáculo ao sistema, diz o consultor Angelo Luiz Lunardi, da associação Aduaneiras, é a falta de confiança no peso argentino. Segundo Lunardi, o risco da operação está sempre relacionado à moeda do exportador. "O importador no Brasil, quando vai comprar pelo SML, vai correr o risco dessa moeda [o peso]. É mais confortável correr o risco entre o dólar e o real", afirma.

sexta-feira, 26 de março de 2010

1907) O anao e o gigante: briga sobre o G20 financeiro

A Suiça é um país anão, pelo tamanho, mas um gigante financeiro. O Brasil talvez seja um gigante, como país, mas em termos financeiros, ainda é um anão...

Suíça critica Brasil por querer só poder no G-20
Assis Moreira, de Berna
Valor Econômico, 26/03/2010

A presidente suíça: 'Não dá para colocar o Brasil no mesmo nível de Burkina Faso'
A presidente da Suíça, Doris Leuthard, atacou ontem a legitimidade do G-20, o grupo das maiores economias do mundo, acusou emergentes como o Brasil de só querer ter poder na cena internacional, sem assumir responsabilidades, e cobrou uma negociação para definir quem senta na mesa das decisões globais.

Coletivamente, as economias do G-20, reunindo desde EUA, Alemanha e Japão até Brasil, China, Índia, Argentina e Nigéria, respondem por 85% da produção mundial, 80% do comércio e dois terços da população mundial. O grupo se afirma como o novo diretório econômico e político do planeta.

Leuthard admite que a crise global precipitou a mudança no poder internacional, com os países emergentes reclamando mais espaço por causa de seu tamanho e de seu crescimento. São os motores da recuperação mundial, enquanto a Europa "ficará enroscada no seu endividamento e em seu desemprego".

Mas a Suíça se queixa de falta de "democracia" na formação do grupo e diz que não pode ser "negligenciada", já que estima ser a sétima maior praça financeira do planeta e o sétimo maior investidor mundial, com US$ 600 bilhões.

"É correto que só vinte [países] detenham o poder econômico e político, que coloca a agenda internacional e toma as decisões?", questionou. "É preciso discutir essa mudança no poder e pensar uma estrutura que integre mais. Defendemos o multilateralismo, que está em recuo."

Indagada pelo Valor por que a Suíça não criticara antes o G-8, então grupo formado só pelos ricos e que era o diretório do planeta, Leuthard retrucou que a questão é que os emergentes querem direitos sem obrigações.

"Não dá para colocar o Brasil no mesmo nível de Burkina Faso", criticou a representante helvética, ao acusar os emergentes de buscarem mais poder nos organismos financeiros internacionais ao mesmo tempo em que exigem "tratamento especial" que deveria ser limitado aos países mais pobres.

Ela insinuou que, nas negociações comerciais na OMC, o Brasil e outros se dizem defensores das nações mais pobres, mas querem proteger suas próprias indústrias e não abrir suas economias à concorrência estrangeira.

Ela alvejou também uma das prioridades do Brasil, que é o equilíbrio de poder nas instituições de Bretton Woods, como o FMI. "Querem mais poder, mas continuam pedindo linhas especiais de crédito", disse, mas sem especificar o Brasil.

A presidente suíça admitiu que os países europeus estão excessivamente representados no controle do FMI e que o ajuste de quotas precisava ocorrer, mas logo engatou que "é preciso aceitar que as principais economias (do mundo) são europeias", ou seja, têm direito de estar no comando

Para a Suíça, a noção mesmo de país em desenvolvimento deveria ser renegociado, para refletir a diferença entre paises que não têm hoje realidades bem diferentes.

Cada vez mais isolada, a Suíça não faz parte da União Europeia, mas faz 70% de seus negócios com o bloco europeu. O país segue na prática as regras da UE e sofre com a queda do euro, sem poder influenciar de dentro.

Na entrevista à imprensa internacional, num luxuoso hotel de Berna, a presidente suíça não usou firula diplomáticas para refletir o estado de desassossego em que se encontra a elite do país diante da ordem internacional que se desenha. Uma das prioridades do G-20 é desmantelar os paraísos fiscais, que acolhem trilhões de dólares de evasão fiscal e sangram finanças públicas em torno do mundo.

A presidente admitiu a impotência helvética diante da falta de proteção e de solidariedade quando quer defender seu sigilo bancário, uma das bases de sua prosperidade.

"As regras do jogo devem ser respeitadas para todos", disse ela, indicando que a Suíça aceitará novas regras na área fiscal, mas não como querem alguns concorrentes que, segundo os suíços, tampouco são exemplos para tentar dar lições à comunidade internacional.

"Dentro do G-20 há 9 que não assinaram as convenções-padrão da Organização Internacional do Trabalho." Os EUA são um deles.

1906) Aniversario do Mercosul: alguem se lembrou?

Parece que nao teve bolo, ou comemoração, sequer alguem se lembrou do dia da assinatura do Tratado de Assunção.
Nunca é demais lembrar seu preambulo.
Mas, o mais importante, é seu artigo primeiro, que permanece inconcluso e incompleto...

“TRATADO DE ASUNCION

La República Argentina, la República Federativa del Brasil, la República del Paraguay y la República Oriental del Uruguay, en adelante denominados "Estados Partes";

CONSIDERANDO que la ampliación de las actuales dimensiones de sus mercados nacionales, a través de la integración, constituye condición fundamental para acelerar sus procesos de desarrollo económico con justicia social;

Entendiendo que ese objetivo debe ser alcanzado mediante el más eficaz aprovechamiento de los recursos disponibles, la preservación del medio ambiente, el mejoramiento de las interconexiones físicas, la coordinación de las políticas macroeconómicas y la complementación de los diferentes sectores de la economía, con base en los principios de gradualidad, flexibilidad y equilibrio;

TENIENDO en cuenta la evolución de los acontecimientos internacionales, en especial la consolidación de grandes espacios económicos y la importancia de lograr una adecuada inserción internacional para sus países;

EXPRESANDO que este proceso de integración constituye una respuesta adecuada a tales acontecimientos;

CONCIENTES de que el presente Tratado debe ser considerado como un nuevo avance en el esfuerzo tendiente al desarrollo en forma progresiva de la integración de América Latina, conforme al objetivo del Tratado de Montevideo de 1980;

CONVENCIDOS de la necesidad de promover el desarrollo científico y tecnológico de los Estados Partes y de modernizar sus economías para ampliar la oferta y la calidad de los bienes y servicios disponibles a fin de mejorar las condiciones de vida de sus habitantes;

REAFIRMANDO su voluntad política de dejar establecidas las bases para una unión cada vez más estrecha entre sus pueblos, con la finalidad de alcanzar los objetivos arriba mencionados,...


Bem, o resto é história, ou passado...

1905) Agricultura socialista = fome (pelo menos em Cuba)

Fome: Continua faltando comida em Cuba
Opinião e Noticia, 26/03/2010

Há dois anos, Raúl Castro tomou posse como ditador de Cuba no lugar de seu irmão Fidel. No início, existia grande expectativa de reformas, especialmente na agricultura. No entanto, a mudança foi pouco expressiva. Números oficiais mostram que nos primeiros dois meses deste ano as entregas para o mercado de alimentos da capital eram um terço menores do que o previsto.

A Economist acredita que um dos problemas pode estar nas fazendas de propriedade do estado cubano que são ineficientes e raramente fornecem mais de 20% dos alimentos que o país necessita. Os três furacões em 2008 também contribuíram para piorar a situação. Raúl Castro reconheceu o problema e introduziu algumas mudanças, como permitir que os agricultores comprem legalmente o seu próprio equipamento de base sem ter que esperar a ajuda do governo.

Agricultores afirmam que as reformas têm sido poucas e ineficazes. Eles querem comprar os seus próprios fertilizantes e pesticidas e controlar a distribuição. O governo ainda fornece quase tudo, porém de forma inadequada. Para piorar, depois da crise as importações caíram quase 40% no ano passado. Boa parte da safra recorde de tomates do ano passado apodreceu porque não foi coletada pelos caminhões do governo.

1904) Rififi no FMI (2): existe rompimento de relacoes financeiras?

Este post deve ser lido na sequencia do post 1901, de mesmo título, e continua a surpreender pelo ineditismo da situação: jamais, nunca antes neste país, e provavelmente fora dele, se tinha assistindo a episódio tão rocambolesco, com um personagem tão bizarro.

Incidente nada diplomático
Eliane Oliveira e Regina Alvarez
O GLOBO, sexta-feira, 26 de março de 2010

Demissão de funcionária do FMI leva governo colombiano a cobrar explicações de Brasília

BRASÍLIA - O governo brasileiro optou pelo silêncio em relação ao episódio envolvendo a demissão, pelo diretor-executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Junior, da representante da Colômbia, María Inés Agudelo, do cargo de diretora substituta. Irritado com a exoneração, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, tentou, sem sucesso, conversar com seu colega Luiz Inácio Lula da Silva para fazer uma queixa formal. Mas Lula preferiu deixar o caso para o Ministério da Fazenda, pois quer evitar que esse incidente seja amplificado, prejudicando a posição do Brasil em outras demandas junto aos demais países emergentes.

A ideia é não deixar que a decisão polêmica tenha repercussões capazes de ofuscar as ambições do Brasil junto aos organismos multilaterais de crédito.

Por exemplo, ser um dos protagonistas das reuniões do Banco Mundial e do G-20 financeiro (grupo das 20 maiores economias do mundo), que acontecerão simultaneamente em Washington, de 21 a 26 de abril.

Sem Colômbia, grupo do Brasil perde peso
Fontes próximas ao Palácio do Planalto disseram que houve algumas tentativas de contato entre as assessorias (dos presidentes). Ao mesmo tempo, revelaram, o governo brasileiro recebeu e aceitou as justificativas de Paulo Nogueira sobre a demissão.

Segundo as explicações de Paulo Nogueira repassadas ao governo brasileiro, a decisão de afastar a representante colombiana, anunciada há pouco mais de um mês, foi tomada devido à incompatibilidade de María Inés com o trabalho que desenvolve no FMI e os projetos futuros para o organismo.

Paulo Nogueira teria, ainda, enviado vários comunicados ao governo colombiano relatando os problemas com a funcionária e pedindo a sua substituição, sem resposta.

Mas o governo colombiano ficou muito incomodado com a atitude de Paulo Nogueira e ameaça abandonar o grupo de nove países liderado pelo Brasil no Fundo. Isso reduziria, na prática, a influência e o poder de voto desse grupo junto ao organismo. O governo de Uribe protestou contra a decisão de Paulo Nogueira, enviando cartas para todos os diretores do FMI.

Para eleger um diretor no FMI, cada país precisa reunir, no mínimo, 2% dos votos do organismo. Sozinho, o Brasil tem 1,42% de representação e, por isso, precisa de aliados para ver aprovado qualquer nome que indique. Com a reforma do Fundo, o Brasil terá 1,7% dos votos, mas a mudança ainda está em tramitação no organismo.

A decisão de demitir María Inés desagradou não apenas à Colômbia como a outros representantes de governos no FMI. Primeiro, pelo ineditismo, já que decisões desse tipo sempre são precedidas de entendimentos políticos. Em segundo lugar, pela forma como aconteceu. Paulo Nogueira deu prazo de dois dias para a diretora substituta desocupar a sala e retirar seus pertences, o que foi visto como uma atitude drástica e antipática.

Uma fonte com acesso ao FMI disse que Nogueira é visto com certa reserva por alguns diretores do Fundo. E uma das razões seriam os artigos publicados pelo economista brasileiro, que relatariam discussões no âmbito do Fundo e sua postura independente.

Outro analista considera que o episódio com a representante colombiana é resultado da falta de experiência como gestor do representante do Brasil, que até então concentrava na vida acadêmica boa parte de sua biografia.

Para um analista, também com acesso ao FMI, Paulo Nogueira cometeu um erro estratégico ao demitir a representante colombiana, a partir de uma avaliação também errada sobre qual seria a reação de Bogotá.

Diretora demitida é muito ligada a Uribe
Quando chegou ao Fundo, Paulo Nogueira dispensou o representante da República Dominicana, sem que houvesse repercussão negativa. Mas esse representante fora indicado por um governo que não estava mais no poder.

Assim, o novo governo apenas providenciou a troca, sem protestar. O caso da Colômbia é diferente, já que a diretora demitida é bastante ligada ao presidente Álvaro Uribe e já foi vice ministra das Finanças daquele país.

Paulo Nogueira foi procurado pelo GLOBO mas não respondeu ao pedido para esclarecer o episódio. O Ministério da Fazenda afirmou que não vai se pronunciar sobre o tema.

A determinação do presidente Lula, porém, é de sua equipe reforçar a posição já adotada pelas nações emergentes de brigar por uma participação maior nas decisões tomadas pelos organismos multilaterais de crédito.

Os países em desenvolvimento querem que o Banco Mundial (Bird) anuncie a conclusão das reformas ainda no encontro de Washington. Também esperam a revisão do sistema de cotas do FMI em janeiro de 2011.

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Repercussões na imprensa colombiana:

La demissión de Agudelo es descripta como “sin precedentes” y como una “injerencia no prevista por parte el representante de Brasil en el Fondo”, algo decidido “sin aviso previo y además de forma grosera”, situación “que ha tomado por sorpresa las autoridades colombianas”. Nogueira Batista Jr. es presentado como uno “controvertido economista”.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...