segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Joaquim Nabuco jornalista - Angela Alonso

O jornalista acidental

O que Joaquim Nabuco aprendeu como correspondente internacional

ANGELA ALONSO

Folha de S.Paulo, 16.02.2014


RESUMO Nova coletânea mostra como a atividade de Joaquim Nabuco como repórter internacional, com base em Londres, moldou sua escrita. Os artigos publicados em meios como o "Jornal do Comércio", onde começou essa carreira, após derrota nas urnas, permitem acompanhar o trajeto ideológico do autor de "O Abolicionismo".

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NO MOMENTO em que você lê este artigo, ele já envelheceu. No hiato entre eu o ter escrito e sua publicação, você foi bombardeado por milhares de informações que pululam na internet. Mas não é de agora que o jornalismo impresso perde para novas tecnologias. Joaquim Nabuco (1849-1910), conhecido como figura-chave do movimento pela abolição da escravidão no Brasil, quando se viu jornalista, em 1882, penou da mesma agrura.

Correspondente em Londres, responsável também por Viena e Berlim, Nabuco reclamava de que o telégrafo, inaugurado no Brasil na década de 1870, sabotava o repórter com notícias frescas, enquanto seus artigos mofavam cerca de três semanas no navio até atingirem o leitor.

De modo que notícia velha não é coisa nova. Nos seus 300 artigos como correspondente estrangeiro, coligidos por Leslie Bethell, José Murilo de Carvalho e Cícero Sandroni na recém-lançada edição "Joaquim Nabuco Correspondente Internacional 1882-1891" [ed. Global/Academia Brasileira de Letras; vol. 1, R$ 79, 672 págs.; vol. 2, R$ 65, 512 págs.], Nabuco se houve com a perenidade da informação optando por ser mais analítico que noticioso. Dava mais a visada geral que o fato a fato.

O jornalismo não estava nos seus planos. Filho de político, estreou no Parlamento em 1879 e se destacou chamando para si a causa da abolição. Correu a Europa em busca de apoio e fundou a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Essa estrela política ascendente, contudo, desafiou a liderança de seu Partido Liberal, ao se decidir por abolicionista. E assim, em 1882, não se reelegeu deputado geral pela Província de Pernambuco. Tornou-se, então, correspondente em Londres do "Jornal do Comércio", enquanto esperava as próximas eleições.

A atuação como jornalista nas baixas políticas se configuraria como padrão. O ofício provisório virou ocupação duradoura.

EDITOR Nos tempos em que são comuns os ataques à norma culta em textos que vão direto do computador do autor para o do leitor, a figura do editor perdeu a aura que teve no passado. Editores pautadores, corretores, eruditos. Joaquim Nabuco teve um desses: Francisco Picot, que viveu no Rio, mas, nos anos 1880, editava da capital francesa o maior e melhor dos periódicos brasileiros do século 19, o "Jornal do Comércio". E lia com lupa em Paris o que Nabuco escrevia à pena em Londres.

Quem ligou um homem ao outro foi o barão de Penedo, que era quase um pai substituto de Nabuco e chefe da diplomacia brasileira em Londres. A morte do correspondente do jornal, um experiente analista econômico, abriu o emprego, com o qual Nabuco garantiria sua sobrevivência física e política nos próximos dois anos, independente do Estado escravista que vinha combatendo.

Assim, Picot não escolheu Nabuco, Nabuco não escolheu Picot. O editor esclareceu logo que, em sua escala de valores, o sobrenome Nabuco, seu livro de poemas em francês ("L'Amour et Dieu") e seu brilho político valiam pouco. Diferentemente da maioria das pessoas que Nabuco conheceu, Picot não se rendeu ao seu charme. Ao contrário. Implicava, contrariado por ter o moço inexperiente no lugar de seu velho amigo Clark.

Picot exigia muito, sempre. Além de pautar os artigos, depois os comentava, catando deslizes, ausências, excessos. A relação com Nabuco foi tensa por conta desse olho de águia, atento à menor das faltas. Reclamava da substância e de tudo que a envolvia, até do fecho dos envelopes em que iam os artigos, como nesta carta de 2 de abril de 1882 (que se encontra no acervo da Fundação Joaquim Nabuco): "Teria sido bom dizer na carta de Londres, sem comentário, que o Financier' publicou o artigo sobre garantias de juros [...]. Também teria sido bom dar o resultado do empréstimo do Baring para Buenos Aires.[...] Por último, vou recomendar-lhe que molhe bem molhada a goma que fecha a capa das suas cartas".

Nabuco nunca antes trabalhara e cedo se cansou. Mas, cheio de dívidas, sem alternativas, permaneceu sob ordens de Picot. O editor o disciplinou, incutiu-lhe a ética do trabalho. Cobrava concentração em assuntos áridos para quem antes aspirava a poeta, exigia precisão de um habituado ao diletantismo e sobriedade de um pendente ao derramamento. Pedia acurácia no trato de temas que Nabuco antes não dominava --a economia-- e objetividade naqueles sobre os quais antes divagava --a geopolítica. Quem lê o drama "L'Option", sobre a guerra da Alsácia-Lorena, que Joaquim Nabuco rascunhou nos anos 1870, e vai depois aos artigos sobre a expansão do imperialismo inglês, reunidos nesse volume, enxerga uma metamorfose.

Francisco Picot foi para Joaquim Nabuco o que um bom editor é para um iniciante: uma escola. Obrigou-o a dois aprendizados.

O substantivo diz respeito à profundidade analítica e teve consequências para tudo aquilo que Nabuco escreveria depois, em particular para seu livro londrino, "O Abolicionismo", que saiu às carreiras, em 1884, para ajudar a campanha abolicionista no Brasil e impedir que Nabuco desaparecesse dela, estando do outro lado do Atlântico, enquanto seus companheiros a radicalizavam. O livro é de uma argúcia que seu autor não evidenciara antes.

Outro ganho dos tempos sob Picot foi o apuro do estilo. Basta fazer o "antes e depois". Os discursos parlamentares e os artigos para o jornal "O Globo" (que não estão na coletânea), nos anos 1870, são de sentenças compridas, muitos apostos, afrancesados. Já "O Abolicionismo" [Ed. UnB, R$ 32, 252 págs.] é livro de contundências, de frases que são como tiros.

TEMAS Os artigos reunidos na coletânea não são todos de mesmo tipo. O primeiro volume traz os para o "Jornal do Comércio" e os produzidos quase simultaneamente para o "La Rázon", de Montevidéu. São artigos de jornalista.

A correspondência de Londres para o "Jornal do Comércio" aborda a geopolítica inglesa, sua política doméstica e a candente questão irlandesa. A economia é pauta obrigatória, sobretudo no que tocava os negócios brasileiros. Já os artigos de Viena e Berlim visavam "resumir os acontecimentos" da política local e eram escritos a partir de Londres.

Em conjunto, as três correspondências traçam cenários geopolíticos e perfis e estratégias dos grandes líderes políticos do período, William Gladstone, na Inglaterra, e Otto von Bismarck, na Alemanha. O foco se abre para abarcar Rússia, Prússia, França, políticas dinástica e eclesiástica, reformas modernizadoras, como o voto secreto e a ampliação do sufrágio --Joaquim Nabuco, aliás, não se mostra entusiasta do voto feminino--, e a disputa por territórios na África e mesmo da Europa --caso da Bósnia e da Sérvia.

Os artigos reconstroem as relações de força, o campo de poder internacional cujos desdobramentos alcançariam o século 20. Registram atentados e assassinatos políticos orquestrados pelos "niilistas" (anarquistas); avanços do socialismo, com suas "paredes" (greves); conflitos entre as grandes potências e o Congresso Antissemítico Internacional, de 1882, que, narra Nabuco, tomava os judeus por "animais daninhos".

O fecho dos artigos abriga as variedades: a passagem de um cometa, um banquete com Wagner e Lizst, um naufrágio, um livro, um baile, um obituário --o de Darwin, Garibaldi, Marx. Aí o autor externava mais personalidade, mas, se opinasse muito, Picot cortava suas asas --e o trecho do artigo.

Só ao final de seu período de correspondente, quando o editor amansou, os textos adquiriram tom pessoal. Nabuco inseria referências oblíquas à questão escravista que ardia no Brasil, por exemplo, ao comentar a escravidão no Egito e o livro do norte-americano Henry George, "Progress and Property" (1879), que defendia a socialização da propriedade da terra. Nabuco criticou seu socialismo, que resultaria em Estado "colossal" e ineficiente, colonizado por "classes parasíticas", mas aproveitou para propalar seu próprio ideal liberal, a taxação moderada e progressiva, com vistas a generalizar a pequena propriedade.

No "La Razón", Nabuco escreveu pouco, entre 1883 e 1884, mas opinava mais, em artigos quase normativos sobre liberalismo, democracia, socialismo, nos quais sobressai sua admiração incontida pelo reformismo político inglês.

Aqui e ali, algo de política americana, como o tratado de paz entre Chile e Peru, em 1883, mas o grosso dos textos cozinhava o antes enviado para o "Jornal do Comércio" --a situação desgostou Picot e foi um motivo para interromper sua correspondência em Londres. Outro foram as eleições parlamentares brasileiras de 1884. Nabuco voltou para se jogar de cabeça na campanha abolicionista.

PALANQUE O segundo volume da coletânea traz textos desse tempo, quando enviou do Rio alguns artigos para o "La Razón", e escreveu para "O País". Quintino Bocaiuva, abolicionista e editor do jornal carioca, convidou Nabuco para uma coluna que seria seu palanque abolicionista, com críticas furibundas à política escravista do governo do Partido Conservador.

Entre 1886 e 1888, escreveu cerca de uma centena de artigos. A coletânea, para manter sua unidade como "correspondência internacional", incluiu só os escritos da Europa, para onde foi, como enviado especial, a fim de cobrir tratamento de saúde de dom Pedro 2º.

Como o imperador se restabeleceu, os artigos se concentraram na linha dos anteriores para o "Jornal do Comércio", com foco na política inglesa. Mas, nos textos de 1888, a política brasileira sobressai, como quando narra suas visitas aGladstone e ao papa, em busca de apoio para a abolição da escravidão.

Foi justo a política que tirou Nabuco de "O País", quando o republicanismo tornou-se preponderante na linha editorial. Ao contrário de Picot, Bocaiuva não logrou enquadrar Nabuco, que recorreu ao dono do jornal e assim manteve coluna autônoma, "Campo Neutro". Mas o arranjo durou pouco.

Pós-13 de Maio, os abolicionistas se dividiram. Boa parte, como Bocaiuva, foi para a campanha republicana. Nabuco ficou entre os poucos esperançosos de que o Terceiro Reinado, o de Isabel, faria reformas complementares à abolição. Essa divergência encerrou sua participação em "O País" em 1889.

Nesse ano, a monarquia, assoreada por várias frentes de descontentamento, caiu, e Nabuco, recém-reeleito deputado, ficou sem emprego. Voltou à imprensa, em 1891, no "Jornal do Brasil", criado por monarquistas como polo de crítica ao novo regime.

Esses artigos, escritos de Londres e Buenos Aires, como aqueles para o "Jornal do Comércio", produzidos no retorno ao Brasil (por isso excluídos da seleção), são salpicados de antirrepublicanismo e acusam o militarismo não apenas nacional como noutras partes da América Latina --expressão que usa aí por primeira vez.

Na coletânea, o leitor vai encontrar então três Nabucos: o jornalista, o abolicionista e o monarquista.

LIVROS "O Abolicionismo" deve ao jornal, embora não tenha sido escrito nele, mas outros quatro livros de Nabuco surgiram na imprensa e conformam dois pares.

"Balmaceda" [Cosac Naify, R$ 59, 272 págs.], sobre a guerra civil no Chile, e "A Intervenção Estrangeira durante a Revolta de 1893" [Senado Federal, R$ 10, 150 págs.], a respeito da Revolta da Armada, saíram seriados no "Jornal do Comércio", entre 1895 e 1896, anos de florianismo feroz e de reação monarquista à República, com a Armada.

Tempo de militância, para Nabuco, como um dos fundadores do Partido Monarquista. E tempo de governo militar. Por isso, a análise da política interna chilena, em "Balmaceda", serve para criticar o republicanismo do Brasil de esguelha. "A Intervenção Estrangeira", publicado já no governo Prudente de Morais, é explícito em acusar o apoio dos EUA a Floriano como decisivo na vitória dos republicanos sobre os monarquistas.

O outro par de livros é da virada do século. "Escritos e Discursos Literários" (1901) traz artigos publicados aqui e ali, que destilam a adesão cultural ao antigo regime. Nabuco já não propagandeava a monarquia, a República estava consolidada, mas sua fidelidade ao modo de vida aristocrático persistia e está patente na reconstrução precoce da própria trajetória (tinha 40 anos), escrita em outro jornal monarquista,"O Comércio de São Paulo".

A série era explicitamente política, com o cabeçalho "Minha Formação Monárquica". Ao coligi-la em livro, em 1900, Nabuco encurtou o nome para "Minha Formação" [Editora 34, R$ 49, 288 págs.] --ele aceitara cargo diplomático do governo republicano. Mas o livro guardou certa nostalgia doImpério, até ao falar da escravidão que tanto combatera. Prosa evocativa e de um lirismo evidente no trecho que Caetano Veloso musicou como "Noites do Norte".

TRAÇA Li por primeira vez o que vai nesta coletânea em cópias nas quais às vezes o filé mignon do artigo tinha sido refeição de uma traça. A edição em livro recupera a íntegra e ajunta o que era preciso caçar em diferentes arquivos. Assim, presta inestimável serviço ao pesquisador. Contudo, o leitor de jornais velhos espera que o livro traga refrigério gráfico. Este não traz. Como o volume de artigos é grande, optou-se pelas letras miúdas --com que o martírio para os olhos não se altera.

Também seria bom um sumário detalhado, que orientasse o leitor entre jornais e datas, e uma advertência sobre a autoria de alguns artigos --os do "Jornal do Comércio" não eram assinados, vinham apenas como "correspondência".

O que se lê é variado em assuntos, épocas e finalidades. Notas de rodapé mais abundantes ajudariam o leitor menos informado sobre Nabuco e seu tempo.

A edição o compensa, porém, com quatro textos introdutórios. O primeiro é o erudito, do historiador Leslie Bethell, professor emérito das universidades de Londres e Oxford, sobre a geopolítica e a política inglesa do século 19.

O também historiador José Murilo de Carvalho, professor emérito da UFRJ, assina o segundo, apresentando a conjuntura política doméstica em que Nabuco se movia. Bethell e Carvalho são especialistas consagrados no período e antes coligiram a correspondência de Joaquim Nabuco com os abolicionistas ingleses. A apresentação do jornalista Cícero Sandroni dá o panorama da imprensa brasileira no período, e a de Adriana Mirel Clavijo, especialista em relações internacionais, informa sobre o jornal uruguaio "La Razón".

Para quem nunca leu Nabuco, a coletânea é oportunidade de adentrar o universo de um de nossos melhores analistas e flagrá-lo em formação e burilamento. Quem o conhece vai dar com novo ângulo da figura e aquilatar o que significava ser jornalista no estrangeiro no século 19.

Boa companhia na leitura deste livro são textos oitocentistas correlatos. O "Times" de Londres enviou William Howard Russel para cobrir os conflitos na Crimeia, em 1854, fazendo dele um pioneiro da correspondência de guerra. JoséMartí acompanhou a Primeira Internacional socialista para o "La Nación", em 1888. E Eça de Queiroz, de quem Nabuco foi amigo na velhice, escreveu para um jornal suas "Cartas da Inglaterra", mais ácidas que as de Nabuco, mas igualmente saborosas.

A idade dos textos não deve espantar o leitor. Eles nos são mais próximos do que se imagina.

Um tema de Nabuco foram os ataques terroristas perpetrados na Europa por radicais irlandeses e socialistas russos. Em 1884, por exemplo, houve a "conspiração da dinamite". Malas cheias de explosivos foram postas em quatro grandes estações de metrô em Londres, programadas para explodir no mesmo horário. Três falharam, mas uma arrebentou Victoria Station, no coração da cidade. Como se vê, problemas do tempo de Nabuco que persistem no nosso.

Eleicoes 2014: comeca a mistificacao dos fatos pelos companheiros...

Petistas querem fusão com governo Lula para melhorar índices

João Domingo

O Estado de S. Paulo, 16 de fevereiro de 2014


Desde que chegou ao poder, em 2002, o PT não havia começado um ano eleitoral com um quadro tão adverso na economia. A inflação está perto dos 6%, o crescimento previsto para 2014 é de 2% e produção industrial na casa de 2,2%.Todos índices inferiores aos das eleições de 2010 e de 2006. Na eleição de Dilma, em 2010, por exemplo, o crescimento foi mais que o triplo (7,53%).

Para lidar com a questão, o comando da campanha petista pretende "fundir" os governos Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva na hora de apresentar dados econômicos na eleição. Dilma tem bons resultados no emprego e na renda, mas amargou problemas de inflação, crescimento, balança comercial e superávit primário. Com a ajuda dos números do antecessor, o cenário melhora.

O discurso eleitoral também prevê resposta a críticas sobre os sucessivos apagões da atual gestão. Dilma lembrará que, no governo tucano, houve racionamento de energia. Se a oposição disser que a inflação nunca esteve no centro da meta, a tática é dizer que ela nunca estourou o teto. Se a crítica for de baixo crescimento, Dilma dirá que o objetivo é crescer com "responsabilidade".

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Fraudes e mentiras do lulo-petismo - Mary Zaidan

É cara de pau, por Mary Zaidan

por 

Trem-bala, seis mil creches, 500 UPAs, Brasil rico, sem miséria. Fome Zero, transposição do Rio São Francisco, presídios federais de segurança máxima. Promessas de um futuro espetacular que nunca chega. Especialidade da geração de marqueteiros que alcançou o ápice no período Lula, a venda do paraíso - que tem sido repetida com sucesso - pode não ter tanta valia em 2014.

Os sinais são muitos. Nas ruas e fora delas. No bolso do cidadão que paga cada vez mais impostos sem a recíproca de serviços mínimos, no cotidiano de quem depende da esfera pública para ter educação, saúde e transporte.

Daí ser quase incompreensível a insistência dos arquitetos eleitorais da presidente Dilma Rousseff em apostar nos fogos de artifício do PAC 3, previsto para abril.

Apresentado por Lula em 2007, o primeiro PAC era arrebatador, com obras que pretendiam revolucionar o País. Ganhou forte apoio do empresariado, chegou a causar inveja até em gente da oposição. Mas empacou.

Para turbinar a campanha de 2010, o PAC ganhou uma segunda edição, e uma mãe, a então ministra Dilma Rousseff, a quem Lula atribuía o sucesso da versão anterior que mal saíra do papel: 54% das obras nem projeto tinham. Na época, anunciou-se com estardalhaço que o PAC 2 significaria investimentos em torno de R$ 1,6 trilhão. Os últimos dados apontam a execução de R$ 665 bilhões, a maior parte em financiamento habitacional. O 9º balanço, aguardado para a semana que passou, nem mesmo foi divulgado.

 

Foto: Ed Ferreira / AE

 

Pouco importa se os demais PACs empacaram. O ano de 2014 tem eleição e vem aí o PAC 3. Apelidado como PAC da mobilidade, o mesmo termo que sustentou a ilusão do upgrade das cidades que sediarão a Copa do Mundo da Fifa.

Na mesma toada que deu certo na eleição anterior, no site do PAC, o futuro é hoje. Em destaque estão investimentos de R$ 2,5 bilhões em Belo Horizonte, capital do estado-base do candidato tucano à presidência, Aécio Neves. Antes de tudo, reforça a campanha do mais querido dos auxiliares de Dilma, o ex-ministro Fernando Pimentel, que disputará do governo de Minas.

O PAC oficial festeja ainda o legado dos Jogos Olímpicos de 2016, com quase R$ 1 trilhão de investimentos. Comete-se o mesmo erro dos sonhos dourados da Copa.

Difícil imaginar que os marqueteiros de Dilma, com todo o instrumental de que dispõem, incluindo pesquisas de opinião pagas com o dinheiro do contribuinte, errariam o tom. Deve ser por isso que decidiram misturar o requentado discurso do “quem não está conosco está contra o País” à promessa do Brasil Xangri-La.

Pode até dar certo de novo. Mas é muita cara de pau.

 

Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. Twitter:@maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com

Brasilia, capital da... sujeira e violencia - Veja

Fou-se o tempo em que era a capital da esperança, como a chamou André Malraux. Hoje é tudo menos isso.
Paulo Roberto de Almeida 

Copa do Mundo

A 4 meses da Copa, capital do país está abandonada

Brasília não está preparada para receber os turistas que chegarão com o evento esportivo. Falta de zelo com prédios públicos é uma das faces da crise gerencial de Agnelo Queiroz

Marcela Mattos e Gabriel Castro, de Brasília

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Mato cresce em plena Praça dos Três Poderes

Mato cresce em plena Praça dos Três Poderes - Cristiano Mariz

A quatro meses da Copa do Mundo, a capital do país-sede de um dos mais importantes eventos do mundo amarga o abandono. Ao contrário do esperado para a cidade que ergueu o estádio de futebol mais caro do país, quem visita hoje Brasília se depara com monumentos sujos, danificados e mal iluminados – o que, somado à dificuldade de utilizar o transporte público e à crescente onda de violência, acaba por decepcionar e afastar o turista.  

Não é necessário ir longe para se constatar a falta de cuidado com os principais atrativos de Brasília, que abrigará sete partidas do Mundial de futebol e deverá receber 600.000 visitantes, segundo o Ministério do Turismo. Apenas nas proximidades da Esplanada dos Ministérios, a reportagem do site de VEJA enumerou sete pontos que integram o roteiro turístico, mas estão em situação deplorável – por falta de limpeza e manutenção inadequada – ou com as portas fechadas.

Roteiro certo de quem visita a capital, a Praça dos Três Poderes, que interliga o Supremo Tribunal Federal (STF), o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, tem mato crescendo entre as pedras que apoiam obras de Bruno Giorgi, Oscar Niemeyer e Marianne Peretti. Além disso, os bancos estão sujos, e o Espaço Lúcio Costa, um dos poucos atrativos da praça, está fechado desde outubro de 2012 – e com prazo de reabertura vencido há mais de um ano. Em nota, o governo do Distrito Federal prometeu que o museu voltará a funcionar em abril.

“Esperava algo mais ajeitado. Aqui é lindo, claro. Mas estamos na capital do país e era para ser a menina dos olhos”, disse a advogada Juliana Aragão após conhecer a Praça dos Três Poderes. “As coisas estão sujas e bagunçadas”, continuou o administrador de empresas Flávio Ramos. Os dois são moradores de Olinda (PE) e visitaram a cidade nesta semana. No relato, os pernambucanos criticaram ainda a falta de policiamento e as obras inacabadas do aeroporto.  

Também não passa despercebida a condição de outros cartões-postais de Brasília. A cúpula do Museu Nacional da República está suja, a rampa de acesso ao local apresenta rachaduras e a pintura descascando. Em situação similar, a Ponte Juscelino Kubitschek ainda está mal iluminada.

“Em Brasília, constroem-se coisas lindas, mas não há manutenção. Há lixo pela cidade toda. O turista vai ver isso e, junto com o retrato dos monumentos, vai levar essa paisagem”, diz a arquiteta Ana Helena Fragomeni, autora do livro Não vivemos em cartões postais. “Faltam lugares em que o turista saiba que vai ser recebido como pessoa. Esses lugares deveriam estar perto dos hotéis, com centro de turismo que forneça água, refrigerante e banheiros.”

Por ser de responsabilidade de diversas secretarias, o GDF afirma não ter como apresentar um valor total de quanto será investido para melhorar os pontos turísticos até a Copa do Mundo. Mas promete concluir a revitalização do Museu da República, da Torre de Televisão e da sua fonte luminosa antes do torneio de futebol. Além disso, o GDF afirma que estão em fase de instalação novas placas de sinalização para turistas.

Crise - O desleixo com os pontos turístios de Brasília é mais um sintoma da crise permanente no governo de Agnelo Queiroz (PT). O governador do Distrito Federal tem o segundo menor índice de popularidade do país, atrás apenas de Rosalba Ciarnlini (DEM), do Rio Grande do Norte. Por isso, ao contrário de outros chefes do Executivo, ele ainda não definiu os planos de reeleição. Há partidários que defendem o lançamento de outro nome do PT ao governo neste ano.

Agnelo passou o primeiro ano de mandato tentando explicar os sucessivos casos de corrupção – novos e antigos –, que vieram à tona quando ele assumiu o Palácio do Buriti. Mesmo depois de passada a fase mais aguda dos escândalos, não mostrou serviço: as principais obras haviam sido planejadas pela gestão de José Roberto Arruda, que perdeu o cargo após a Operação Caixa de Pandora. A falta de eficiência na gestão gerou problemas na saúde e na segurança pública.

Recentemente, uma onda de violência atingiu a capital federal, em parte porque policiais militares insatisfeitos resolveram dar início a uma "Operação Tartaruga" para pressionar o governo a aumentar os salários. Foram mais de 70 assassinatos em janeiro, um aumento de 40% na comparação com o mesmo mês de 2013. Era uma rara oportunidade em que a população, refém dos policiais e dos criminosos, poderia dar um voto de confiança a Agnelo caso o governador reagisse com firmeza. Mas ele preferiu se omitir.

Brasília  abandonada

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Museu Nacional

Localizado entre a Catedral e o Congresso Nacional, o Museu Nacional da República é um dos monumentos mais recentes de Oscar Niemeyer e destaca-se como um dos pontos imprescindíveis no roteiro de turistas interessados nas obras do arquiteto. Ao chegar ao local, porém, os turistas vão se deparar com um ambiente inóspito: a cúpula do museu está imunda e a famosa rampa de acesso, além da sujeira, apresenta rachaduras. Pior: os arredores de uma das principais referências da capital do país virou ponto de tráfico de drogas e atrai usuários à luz do dia. “Às 15h já podemos ver os consumidores”, conta um dos seguranças, que preferiu não se identificar. Ele reclamou ainda da falta de segurança e da ausência de policiamento no local. 

Alianca do Pacifico, ciumes no Atlantico - Moises Naim

EL OBSERVADOR GLOBAL

Experimento en Latinoamérica

La Alianza del Pacífico puede cambiar el mapa económico en la región

En Venezuela están matando estudiantes y el Gobierno cierra un canal de televisión que se atrevió a transmitir las protestas callejeras. Argentina sigue su desenfrenada carrera hacia el precipicio económico. Los presidentes de toda América Latina se reunieron en una cumbre democrática… en La Habana. La economía brasileña entró en recesión y 2014 será su cuarto año seguido de anémico crecimiento económico. Últimamente, los brasileños salen a las calles no a bailar, sino a protestar. En 2013 Brasil sufrió la mayor fuga de capitales en más de una década.
¿Es fin de fiesta en América Latina? No.
Mientras las malas noticias que nos llegan de esa región proliferan, esta semana cuatro presidentes latinoamericanos se reunieron en Cartagena (Colombia) para concretar un pacto económico. Lo llaman Alianza del Pacífico y lo integran México, Colombia, Perú y Chile. Es tentador ignorar la noticia y pasar la página. ¿Qué puede ser más aburrido que una cumbre de jefes de Estado? ¿Y quién es el ingenuo que va a creer las promesas de unos presidentes que tratan de mostrar que su reunión fue importante cuando, en realidad, lo normal es que esos eventos solo benefician a las empresas de banquetes? Es, por lo tanto, muy lógico que pocos se hayan enterado de que exista esta Alianza del Pacífico o que, quienes la conozcan, la ignoren.
Pero esta vez puede que sea un error no tomar en serio este intento de integrar las cuatro economías más exitosas de Latinoamérica. Son los países de mayor crecimiento económico y menor inflación de la región. En conjunto, representan el 36% de la economía de América Latina, el 50% de todo su comercio internacional y el 41% de toda la inversión extranjera. Si esta Alianza fuese un país, sería la octava economía más grande del mundo y la séptima potencia exportadora. Sus cuatro integrantes lideran las listas de las economías más competitivas de América Latina. Dado que el comercio entre estos cuatro países es tan solo el 4 % de su comercio total, el potencial para que crezca mucho y rápido es enorme.
En esto, la Alianza del Pacífico no tiene nada de nuevo: América Latina tiene una larga historia de proyectos de integración económica animados por un gran potencial pero que, en la práctica, han fracasado. Mercosur, es un buen ejemplo. Cuando, en 1991, Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay anunciaron la unión de sus economías hubo un gran entusiasmo. El potencial de integrar a dos gigantes como Brasil y Argentina era obvio. Lamentablemente, los resultados han sido muy pobres. Después de más de una década, el comercio entre los miembros de Mercosur es un magro 15% de su comercio total (mientras que con Europa es el 20% y con China, el 14%).
La Alianza del Pacífico no fue bien recibida por los líderes de Mercosur y otros bloques regionales. El boliviano Evo Morales, por ejemplo, afirmó que la Alianza era una conspiración urdida en Washington para dividir a la región. Rafael Correa, el presidente de Ecuador, la describió despreciativamente como “más neoliberalismo, más libre comercio”. En Brasil, Lula da Silva, declaró que la Alianza era un intento de revivir el aborrecido Consenso de Washington, mientras que el entonces ministro de Exteriores de Brasil, Antonio Patriota, dijo que la Alianza del Pacífico es “solo marketing, un nuevo empaque para un viejo producto”. Marco Aurelio García, el principal asesor internacional de Dilma Rousseff, calificó la iniciativa de “irrelevante”.
¿Qué responden los cuatro presidentes de la Alianza? “No estamos contra nadie. Esta es una alianza económica y no una iniciativa política”. Juan Manuel Santos, el presidente de Colombia, ha dicho: “Tenemos una visión común del manejo de nuestras economías, actitudes comunes hacia la inversión extranjera y respeto por la propiedad privada”.
Pero quizás la respuesta más contundente han sido las decisiones de los cuatro países. Ya han eliminado aranceles al 92% de los productos, así como la necesidad de visados para quienes viajan entre sus países promoviendo comercio e inversiones. Han sentado las bases para la integración de sus bolsas de valores, y en varios países una sede diplomática común representa a las cuatro naciones de la Alianza.
La lista de las razones por las cuales la Alianza del Pacífico tampoco va a llegar a nada es fácil de hacer. Pero la lista de los incentivos que tienen estos países para lograr que tenga éxito es igualmente larga. Y esto cambiaría el mapa económico de América Latina.
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Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...