O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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sábado, 7 de março de 2015

Academia.edu: minha pequena ONU de visitantes desconhecidos...

Abrindo o Analytics do Academia.edu, selecionei ver as visitas por país de origem, e resulta que tenho visitantes, curiosos, bisbilhoteiros e estudiosos  (devem ser a maioria) de 122 países diferentes, mas acontece que o primeiro lugar, assim como as posições 78 e 110 estão representados por uma legião de apátridas desconhecidos, que eu identifico mais bem com instrumentos de busca ou serviços secretos, à procura de sabe-se lá quais segredos relevantes eu teria a informar sobre a segurança nacional do Brasil ou a minha própria.
Se quiserem saber o que eu  penso do governo, não precisa fazer toda essa ginástica, minha gente: basta dar uma zoiada no que eu ando postando no meu blog.
Quando ao Academia.edu, se trata unicamente de estudos sérios, da mais alta reponsabilidade intelectual: não precisa, tampouco, fazer segredinho da sua identidade...
Paulo Roberto de Almeida


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36) Ukraine
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38) Philippines
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39) China
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40) Slovakia
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41) Chile
11
42) Pakistan
11
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45) Sweden
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7
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7
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6
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6
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6
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6
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65) Tunisia
5
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4
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3
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3
80)  Venezuela
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81)  Kazakhstan
3
82)  Burundi
3
83) Slovenia
3
84) Congo, The Democratic Republic Of The
3
85)  Oman
3
86) Belize
3
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2
88)  Cuba
2
89) Mongolia
2
90) Martinique
2
91) Malta
2
92) Kuwait
2
93) New Zealand
2
94) Bulgaria
2
95) Kyrgyzstan
2
96) Macedonia, the Former Yugoslav Republic Of
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97) Zambia
2
98) Singapore
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101)                 Sao Tome and Principe
2
102)                 Taiwan
2
103)                Tanzania
2
104)                Costa Rica
2
105)                 Yemen
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106)                Mali
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109)                Sudan
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118)                 Qatar
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119)                Trinidad and Tobago
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120)                 Namibia
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121)                 French Guiana
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122)                 Bosnia and Herzegovina
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1
124)                Réunion
1
125)                 Albania
1

Impeachment: a palavra que nao quer calar; ao contrario, insiste em berrar - Sergio Ferraz

Impeachment, oportunidade de resgate
Sergio Ferraz
Folha de S. Paulo, sexta-feira, 6 de março de 2015 

 Partindo apenas das declarações à imprensa da presidente, teríamos que ela atentou contra a probidade administrativa por omissão

Antes do enfrentamento do tema, duas desmitificações:

1) impeachment não é golpe, e jurista que pede sua aplicação não é plantonista de soluções antidemocráticas. O impeachment é instrumento expressamente previsto na Constituição (art. 52, I e II), cabível quando certas autoridades --entre elas o Presidente da República-- cometem crime de responsabilidade;

2) mídia não é sinônimo de oposição; quem as iguala não faz mais do que expressar a convicção de que se deva adotar o controle da imprensa (e o amordaçamento da liberdade).

Há, sim, condições jurídicas amplas para deflagrar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

A denúncia de um presidente por crime de responsabilidade é iniciativa do cidadão (lei nº 1.079/50). Deve a denúncia ser acompanhada de documentos que constituam início de prova ou indício de prática criminosa. A denúncia não tem de carrear prova definitiva; há, no processo, fase probatória para esse fim.

No plano material, a configuração dos crimes de responsabilidade repousa no artigo 85 da Constituição. Mas se complementa com a tipificação consagrada na lei nº 8.492/92 --a qual diz claramente que se comete ato de improbidade administrativa não só por ação mas também por omissão (art. 10, dentre outros)-- e na Lei Anticorrupção.

Se tomássemos como elemento de prova apenas as declarações à imprensa da presidente, teríamos que, ao menos por omissão --grave e repetitiva--, atentou ela contra a probidade administrativa e a integridade do patrimônio público.

A presidente já ocupou cargo na administração superior da Petrobras (votou, por exemplo, em favor da ruinosa aquisição da refinaria de Pasadena), foi ministra de Estado em áreas afetadas pela petrolífera (e por seu sistema empresarial), designou executivos hoje comprovadamente larápios da grande empresa; nomeou uma presidente para a empresa que não coibiu o desastre.

E, enquanto o erário sangrava e a Petrobras perdia valor, nada se fez, até que, afinal, tudo explodiu nos noticiários e no Congresso.

Em suma, conquanto tenha talvez faltado ao Ministério Público vontade política para apontar o dedo à presidente, saem seu partido e ela seriamente atingidos do mero relato das falcatruas apuradas.

O que temos em mãos não são artifícios oposicionistas: as denúncias apresentadas confirmam que dinheiro público foi sistematicamente utilizado para subornos milionários. A isso não se pode responder com o silêncio ou com a evasiva.

Não temos dúvida em afirmar que jamais houve na história do presidencialismo brasileiro, nem mesmo na época do mensalão, tanta imoralidade e deterioração. E de nada adianta a presidente dizer que a corrupção da Petrobras começou ao tempo do presidente Fernando Henrique Cardoso --assim fosse, era dever ainda maior dos posteriores presidentes, ela incluída, bloquear desmandos, corrigir, punir e mostrar decisão. Nada disso se fez até aqui.

Note-se: o que se condena é a omissão repetida por anos a fio, permitindo o advento da catástrofe.

Vive o Brasil um momento crítico, em que a credibilidade nas instituições públicas baixou a patamares jamais entrevistos. A falta de decoro desgasta instituições e alimenta sementes do autoritarismo. A isso soma-se o fantasma da impunidade. Perdeu o país a compostura?

A recuperação da compostura é o que nos deve animar. Daí a rejeição da inviabilidade da iniciativa de impeachment. A nosso ver, o Brasil merece essa oportunidade de resgate.
-----------------------
Sergio Ferraz, 78, advogado, é membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas

Seria o Brics ou o Brasil, o objeto de tanta curiosidade?: Brasil no Brics tem avalanche de consultas

Pouco antes das 4hs da tarde, eu postava no Academia.edu este meu trabalho abaixo referido:
  “Brasil no Brics”, In: Jorge Tavares da Silva (coord.), Brics e a Nova Ordem Internacional (Casal de Cambra: Caleidoscópio; Aveiro: Mare Liberum, 2015, 320 p.; ISBN: 978-989-658-279-1; p. 71-115). Disponível no Academia.edu (links: https://www.academia.edu/10200076/108_Brasil_no_Brics_2015_ e https://www.academia.edu/attachments/36883658/download_file?s=work_strip).

Logo em seguinda, mais exatamente às 15:56hs, eu postava a informação neste blog, e depois anunciava no Facebook, embora não saiba dizer o efeito desta última ação. Pelo relatório, alguns acessos foram feitos pelo Facebook e outros por este blog, mas muitos diretamente no Academia.edu.
Consultando agora à noite (22:00hs) os acessos ao Academia.edu, pela ferramenta Analytics, constato agora que esse arquivo foi objeto de algumas dezenas de visitas, mais exatamente 113 no momento em que escrevo.
Parece que existe uma febre pelos Brics, ou talvez pelo Brasil, embora os dois termos podem despertar interesse.
Apenas para registrar a pequena febre, não curável por nenhum analgésico, transcrevo mais abaixo o Analytics por "Overview", apenas até as 21h49
No "Document View", esse arquivo já estava em segundo lugar, com as mesmas 113 visitas e 32 downloads, embora algumas visitas se referissem a uma versão anterior do texto, quando eu ainda não havia recebido o livro de Portugal.
Agradeço o interesse por este meu texto.
Paulo Roberto de Almeida

Time / DatePageReferring SiteKeywordCityCountry

21:49 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)


21:48 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)


21:41 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)


21:40 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)


21:40 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)


21:40 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)



21:18 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)


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20:50 Mar 622) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor, 2014)


20:39 Mar 62469) Vision 2050: A New Political and Economic Map of the World (2013)

Brasília

20:39 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)
Brasília

20:37 Mar 622) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor, 2014)


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19:53 Mar 616) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (2010)

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19:17 Mar 6103) A Constituição brasileira contra o Brasil: dispositivos constitucionais que dificultam o seu crescimento econômico (2013)

Tucuruí

19:16 Mar 6103) A Constituição brasileira contra o Brasil: dispositivos constitucionais que dificultam o seu crescimento econômico (2013)
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Fernando De La Mora

18:50 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)
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16:31 Mar 6108) Brasil no Brics (2015)






sexta-feira, 6 de março de 2015

Formacao do Diplomata Brasileiro - Rogerio S. Farias, Gessica Carmo


Filhos da democracia: a descarioquização da diplomacia brasileira, por Rogério de Souza Farias e Géssica Carmo

Dictionary Series - Politics: democracy
 
 
 
 
 
 
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Em 1934, após uma longa viagem de trem, o médico João Guimarães Rosa chegou ao Rio de Janeiro. Sentiu-se “estonteado com o ambiente barulhento” e, depois, “com o luxo magnificente do [Palácio] Itamaraty.” Ele estava no grande salão da biblioteca para prestar um concurso para o cargo de cônsul com outros 58 candidatos. Na prova de francês, a primeira etapa, pediu-se para traduzir trecho do livro Nouvelle Anthropologie, de Henri de Lanteuil, e fazer uma versão do livro de João Ribeiro, História do Brasil. Um candidato levantou e abandonou a prova. Parecia impossível. Guimarães Rosa conseguiu chegar ao final, mas tinha certeza que não passara. Saiu da prova e pegou uma barca no cais Pharoux. Ficou indo e vindo de Niterói ao Rio de Janeiro, imerso em um profundo sentimento de insegurança. O resultado saiu e 30 foram reprovados — mas não ele. O mineiro passou nas sucessivas etapas, até as provas orais. Presenciada por numerosa plateia, o médico demonstrou uma segurança e um porte incomuns para evento de tal natureza. A reação de todos era de pasmo. Era um desconhecido. Não frequentara os saraus literários do Rio de Janeiro ou de São Paulo; tampouco, as redações de jornal ou as rodas intelectuais da capital. Era, talvez, o único dos dez concorrentes habilitados sem ter colocado os pés na Europa. Um amigo da família, que esteve na plateia, relatou a reação dos examinadores: estavam comovidos, atônitos e surpresos [1]. De onde saíra aquele talento?
O espanto com o fato de um médico que vivia no interior de Minas Gerais ter desempenho tão expressivo no concurso fazia sentido. A diplomacia era uma profissão predominantemente de cariocas e de uma minoria das elites das capitais regionais. Essa característica não foi monopólio brasileiro. A concentração social e regional foi algo que afetou todos os serviços exteriores até pelo menos o final da primeira metade do século XX. Nos Estados Unidos, entre 1898 e 1914, dois terços provinha da Costa Leste, tendo estudado em escolas particulares, como Groton, ou/e em Harvard, Yale e Princeton. Em Portugal, no serviço exterior salazarista (1926-1974), a maioria provinha de Lisboa, com formação em direito em Coimbra; na Alemanha, após a unificação, os diplomatas, em sua maioria, provinham de três das 211 fraternidades estudantis; na França, predominava a elite parisiense, particularmente os mais ricos ou com parentes na cúpula do aparelho de Estado. No Império austro-húngaro, havia um pouco mais de dispersão geográfica, mas somente 6% não era aristocrata em 1914[2].
A maioria dos serviços exteriores mudou substantivamente o padrão de seu recrutamento no século XX. O Brasil não foi diferente. Dando continuidade à série “Filhos da Democracia”, examinaremos o grupo de diplomatas que acedeu ao IRBr de 1985 a 2010 no aspecto específico do local de nascimento. Antes de iniciar, no entanto, deve-se levar em conta que, no período examinado, o país passou por várias mudanças do ponto de vista federativo. Optou-se por utilizar a distribuição existente em 2010, data final do marco temporal do estudo.
A primeira informação relevante é que o serviço exterior brasileiro foi caracterizado por uma elevada proporção de cariocas em suas fileiras no início do período republicano. No período Vargas (1930-1945), eles eram mais de 40%. Do governo Sarney para o Governo Lula, contudo, a participação de diplomatas nascidos no Rio de Janeiro passou por uma radical diminuição — caindo de 51% para 22%. Outra queda importante foi o número de servidores que nasceram no exterior. Se utilizarmos tal categoria como uma proxy, ainda que imperfeita, de filhos de diplomatas, pode-se dizer que o período posterior ao quadriênio Collor/Itamar levou a uma carreira menos endógena. As unidades da federação que mais avançaram, no mesmo período, foram Minas Gerais e São Paulo, sendo a segunda um caso especialmente relevante (ver tabela abaixo).
1
Tabela 1: Distribuição de diplomatas por estado de nascimento [3].
Outra forma de analisar essa mudança é examinar pela categoria de cidade de nascimento (Mapa 1 e Tabela 2) [4]. Entre 1930-1945, há uma concentração tanto na região sudeste como na fronteira sul do Rio Grande do Sul. Já nos governos Sarney e Collor/Itamar, há uma concentração em poucas cidades. Seria só no governo FHC que diminuiria o peso das capitais, tendência essa avançada pelo governo Lula.
2
3
Tabela 2 e Mapa 1: Distribuição de diplomatas por cidade de nascimento.
Essa mudança no status relativo do serviço exterior brasileiro, no entanto, não pode ser celebrada como uma nova era de abertura do método de recrutamento. Uma forma de analisar os dados é pelo filtro da distribuição regional. A desagregação dos dados por esse critério (Tabela 3) demonstra que a participação da região sudeste permaneceu praticamente a mesma. Há, certamente, uma tendência de queda se compararmos com o período Sarney (de 62,96% para 59,85%), mas ainda está acima do período 1930-1945 (58,68%). Essa situação vai de encontro com as tendências demográficas do país (Tabela 4), onde o sudeste ocupa somente 21,58% do contingente populacional – em uma tendência levemente declinante. Enquanto demograficamente as regiões norte e nordeste representam mais de 50% da população, há menos de 15% de diplomatas oriundos dessas áreas, apesar do leve crescimento no governo Lula.
4
Tabela 3: Distribuição de diplomatas por região de nascimento.
5
Tabela 4: Distribuição populacional do Brasil. Fonte: IBGE.
Examinar só por estado e cidade de nascimento é uma análise incompleta. Há, no Brasil, relativa mobilidade populacional. Pode haver casos, portanto, de pessoas nascidas em determinadas cidades que tiveram toda sua vida estudantil e profissional em outras localidades. Qual seria o impacto dessa situação na concentração regional e estadual de diplomatas? A questão, aqui, é saber identificar esse fluxo. Para formatar esses dados, foi criada uma categoria compreendendo as cinco unidades da federação com maior participação na carreira (Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo) mais o exterior. Com base nela, foi feita uma tabela com a proporção, por período, de todos os diplomatas que não nasceram e nem fizeram graduação nessas localidades (Tabela 5). Antes de apresentá-la, é necessário considerar, primeiro, que quase metade dos diplomatas do período 1930-1945 não tinham ensino superior completo (ou a informação não foi reproduzida nos anuários). Isso limita a comparabilidade deste período com os demais. Segundo, não foram computadas atividades de pós-graduação e empregos anteriores da posse — foi utilizada somente a graduação. Os resultados são chocantes. Mesmo com a expansão do governo Lula, menos de 12% dos diplomatas recrutados não nasceram e tampouco estudaram nessas seis localidades. Isso quer dizer que um indivíduo nascido nas 22 unidades federativas remanescentes que não fizesse pelo menos sua graduação em uma das instituições de ensino superior dos cinco estados ou no exterior estaria em grande desvantagem.
6
Tabela 5: proporção de diplomatas que não nasceram e não cursaram o ensino superior em Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e exterior.
Isso é um problema. Enquanto, demograficamente, ocupam 52% do contingente populacional brasileiro, os oriundos desses estados enfrentam sérias dificuldades quando não se dirigem para os centros de ensino nas grandes metrópoles do país. Pode-se dizer, dessa maneira, que hoje a diplomacia brasileira representa melhor a composição regional do país se comparado com aquele momento em que Guimarães Rosa entrara no Itamaraty. Mas a concentração ainda permanece em pessoas que nasceram ou estudaram em Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e/ou no exterior. Transpor essa barreira é um grande desafio porque está associada à própria desigualdade da infraestrutura educacional do país. Não há dados padronizados do ensino superior, mas utilizando os da área de humanas do Exame Nacional de Ensino Médio de 2013, nas variáveis média por escola e percentual de alunos que tiraram notas mais altas, percebemos que, das mais de 14.700 escolas de ensino médio do país, poucas de fora do grupo selecionado (DF, MG, RJ, SP e RS) tem alto padrão de desempenho.
7
Gráfico 1: médias das notas em humanas e percentual de todos os alunos no Nível 5 do ENEM. Dados do sítio eletrônico do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. O tamanho de cada referência refere-se ao número de alunos participantes por instituição de ensino médio.
No ensino superior, a situação é quase a mesma. Utilizando os 192 primeiros colocados do Ranking Universitário da Folha de São Paulo de 2014, observamos que 51% das instituições de ensino superior estão concentradas no grupo de cinco estados selecionados acima. Se utilizarmos o critério das vinte primeiras colocadas, no entanto, a proporção chega a 75% [5]. O recrutamento do Itamaraty, dessa forma, só reflete (e reforça) um problema mais amplo da sociedade.
Mas o que fazer para dirimir esse problema? Pensou-se, no final da década de 1950, que a realização das provas para o Instituto Rio Branco em outros estados fosse ser um passo importante na melhor distribuição regional dos diplomatas brasileiros. Isso começou em 1961, com a realização da prova em sete cidades. Em 1995 foram dez, e em 2011, pela primeira vez, todas as fases do concurso foram aplicadas em todas as capitais da federação. Infelizmente, a realização das provas em um estado só teve impacto no recrutamento quando a infraestrutura educacional dessa localidade permitiu a apresentação de candidatos competitivos. Quando esse elemento não estava disponível, não há evolução significativa – como a introdução das provas em Cuiabá, Campo Grande e Manaus em 2005.
No final do governo Lula e no primeiro mandato do governo Dilma Rousseff, há relatos sobre viagens de alguns alunos do Instituto Rio Branco para acompanhar a execução das provas e realizar palestras em instituições de ensino em capitais mais afastadas. Não se tem notícia, contudo, se essa atividade continua sendo executada e se teve algum impacto sobre o interesse de estudantes dessas localidades pela carreira. Ademais, a iniciativa trabalha um aspecto meritório, a divulgação, a qual infelizmente tem impactos limitados sobre o tipo de problema apresentado acima – a carência de infraestrutura educacional.
Nessa dimensão, cabe apresentar o papel positivo que a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) desempenhou, no período examinado, na tarefa de vulgarizar o conhecimento de matérias cruciais para o bom desempenho no concurso. Essa pode ser uma via a ser explorada no futuro. Pode-se cogitar, por exemplo, o uso de aulas virtuais sobre aspectos relacionados ao concurso promovidas pela Fundação, usando o canal já existente no Youtube. Pode-se questionar tal iniciativa indicando que tal tarefa caberia ao setor privado. Infelizmente, nas franjas dos grandes centros urbanos do país, há escassa capacidade de o setor privado fazer oferta equivalente de material de estudo. A inação, aqui, serviria somente para reforçar a desigualdade. Mas isso não significa que o sistema atual seja ideal. Há a necessidade de maior diálogo entre a diretoria do IRBr e a FUNAG, além de estudos quantitativos mais adequados para identificar, com base nos candidatos ao concurso, qual material pode ser melhorado e quais foram julgados mais importantes.
Utilizar o modelo do atual Programa de Ação Afirmativa de Bolsa-Prêmio de Vocação para as áreas geográficas assinaladas acima seria uma proposta mais efetiva. Assim, a concessão de bolsas para alunos promissores de regiões sem a capacidade institucional de formar bons candidatos poderia dirimir o problema. Ainda que os desafios analisados acima sejam consequência de uma desigualdade geral da sociedade brasileira em termos regionais, uma política de bolsas seria um mecanismo para o Itamaraty ser novamente surpreendido pelos Guimarães Rosas de todos os rincões do país.

Referências:

  • Bruley, Yves e Soutou, Georges-Henri. Le Quai d’Orsay impérial: histoire du Ministère des Affaires étrangères sous Napoléon III. Paris: Editions A. Pedone, 2012.
  • Cecil, Lamar. The German diplomatic service, 1871-1914. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1976.
  • Godsey Jr., William D. The culture of diplomacy and reform in the Austro-Hungarian foreign office, 1867-1914. In: Mosslang, Markus e Riotte, Torsten. The diplomat’s world: a cultural history of diplomacy, 1815-1914. Oxford: Oxford University Press, 2008. p. 59-81.
  • Heinrichs, Waldo H. American ambassador: Joseph C. Grew and the development of the United States diplomatic tradition. New York: Oxford University Press, 1986.
  • Moskin, J. Robert. American statecraft: the story of the U.S. foreign service. New York: St. Martin’s Press, 2013.
  • Oliveira, Pedro Aires. O corpo diplomático e o regime autoritário (1926-1974). Análise social, n. 178, p. 145-66. 2006.
  • Rosa, Vilma Guimarães. João Guimarães Rosa, meu pai. 2ª edição: Nova Fronteira, 1999.
[1] Rosa: 1999, 311; Atas do concurso para terceiro oficial (1934). Concursos, relatórios, resultados finais. Lata 580. Maço 1. AHI-RJ. Maço 13.120. AHI-RJ.
[2] Moskin: 2013, 342; Heinrichs: 1986, 97; Oliveira: 2006; Bruley e Soutou: 2012, 338-48; Godsey Jr.: 2008, 17; Cecil: 1976, 64 e 79
[3] No período 1930-1945, estão na categoria diplomatas os servidores das carreiras consular e de Secretaria de Estado e não se diferenciou o Rio de Janeiro do Distrito Federal.
[4] Na Tabela 2 foram selecionadas as cidades que em qualquer dos cinco casos tivesse pelo menos 1,5% dos diplomatas no respectivo período.
[5]  http://ruf.folha.uol.com.br/2014/. Acesso em: 2 de março de 2015.
Todos os dados quantitativos foram retirados da base de dados referida no primeiro artigo da série “Filhos da Democracia”.
Rogério de Souza Farias is visiting scholar do Lemann Institute for Brazilian Studies e associate do Center for Latin American Studies da Universidade de Chicago, Estados Unidos (rofarias@gmail.com)
Géssica Carmo é  Bacharelanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU (gessicafdcarmo@gmail.com)

O Brasil no Brics: capítulo em novo livro - Paulo Roberto de Almeida

Acabo de receber este livro:

Participei com um capítulo sobre o Brasil, de acordo com a ficha abaixo:

Brasil
Hartford, 16 Abril 2014, 33 p. Contribuição à obra: Jorge Tavares da Silva (coord.), Brics e a Nova Ordem Internacional, a ser publicada em Portugal. Revisão em 21/07/2014, para acomodar informação sobre a cúpula dos Brics em Fortaleza, com a criação de um banco do grupo, bem como de um mecanismo de reservas contingentes; atualização geral das tabelas, total: 44 p.; revisão formal, atualização de dados: 16/01/2015. 
Publicado In: 
Jorge Tavares da Silva (coord.):
 Brics e a Nova Ordem Internacional  
(Casal de Cambra: Caleidoscópio; Aveiro: Mare Liberum, 2015, 320 p.; ISBN: 978-989-658-279-1; p. 71-115). 
Relação de Originais n. 2600; Relação de Publicados n. 1162.

Disponível no Academia.edu (links: https://www.academia.edu/10200076/108_Brasil_no_Brics_2015_
https://www.academia.edu/attachments/36883658/download_file?s=work_strip).  



quinta-feira, 5 de março de 2015

Renuncia voluntaria em lugar de impeachment? Ou tera' de ser "renunciada"? Oh duvida cruel...

Entrando por acaso nas estatísticas de visita deste meu modesto blog, deparo com estas estatísticas do período recente:

EntryPageviews
390
110
99
97
88

Ou seja, o interesse pelo tema da renúncia da soberana, em lugar de ser apeada do poder por um processo de impeachment, parece ter despertado a curiosidade desse pessoalzinho que anda por aí, em busca de alguma novidade.
Pois é, novidades existem muitas, pois o Brasil anda de crise em crise, sem que se saiba exatamente para onde ele vai. Provavelmente para lugar nenhum, pois ninguém se entende sobre o que deve ser feito, e não existem estadistas neste país.
Mas, eu entendo que muita gente que anda por aí, que gostaria de continuar mandando, não está nada satisfeito com a situação atual. Daí ter surgido essa história de renúncia, na própria fonte do mal, isto é, do mesmo pessoalzinho sedento de poder que não pretende renunciar ao próprio.
Daí que eles estejam talvez pensando em apear a incompetente fazendo-a renunciar.
Como aquele pobre procurador argentino, que foi suicidado, no nossa caso, ela seria renunciada.
Será que cola?
A ver...
Paulo Roberto de Almeida

Historia Global em debate: métodos, historiografia e estudos de casos - Simposio Nacional da Anpuh (Flops, 29-31/07/2015)


Simpósio Nacional de História 
a realizar-se de 27 a 31 de julho de 2015, em Florianópolis, SC.
Veja aqui a página inicial do evento: www.snh2015.anpuh.org
 
 Uma das palestras, a cargo de uma brasilianista dubitativa, no dia 29, coloca em dúvida, justamente, a própria realidade, hoje, desse conceito: 
 
Sou ainda uma Brazilianist?
Barbara Weinstein (New York University)
Mediador: Alexandre Fortes (UFRRJ)
 Tomando como ponto de partida o tema do simpósio – Lugares do historiador: novos e velhos desafios – proponho revisitar e repensar a categoria de “Brazilianist.” A palavra significa não apenas o historiador que estuda o Brasil, mas também um pesquisador cujo “lugar” é situado fora do Brasil (na grande maioria dos casos, nos Estados Unidos). Seguindo a chamada “standpoint theory,” knowledge is “socially situated” – a posição do intelectual não só cria certa “ótica”, mas também empresta a certos saberes um maior prestígio e autoridade. Deixando ao lado as várias críticas desta teoria, podemos notar que, começando nos anos setenta, a noção do Brazilianist correspondia a esta  proposta teórica. O “Brazilianist” não era simplesmente um historiador do Brasil radicado nos Estados Unidos, mas alguém cuja abordagem refletia a sua localização e alguém que podia aproveitar do seu lugar relativamente privilegiado no mundo do saber (independente da qualidade da obra produzida). Na palestra pretendo questionar a validez do conceito do “Brazilianist” entre historiadores no momento atual, levando em conta as mudanças no mundo acadêmico brasileiro, a formação de redes de colaboração e intercambio que trasbordam as fronteiras nacionais, e o surgimento do viés transnacional na profissão de história, entre outros fatores.

Mas, o simpósio temático que me chamou a atenção foi este aqui:


007. A História Global em debate: métodos, historiografia e estudos de casos

Coordenadores: JOÃO JÚLIO GOMES DOS SANTOS JÚNIOR (Doutor(a) - Universidade Federal de Pelotas), MONIQUE SOCHACZEWSKI GOLDFELD (Doutor(a) - CPDOC-FGV)
Resumo: A proposta deste Simpósio Temático é discutir a Global History enquanto uma tendência histográfica que se apresenta como uma alternativa metodológica ao historiador. Entre as principais características dessa corrente estão o alargamento da unidade de análise, superando o tradicional uso do Estado-Nação, e pesquisas que privilegiam perspectivas não eurocêntricas. Nosso intuito é discutir tanto questões teóricas e metodológicas (diferenças entre histórias conectadas, cruzadas, transnacionais, mundiais, globais, etc.) como também estudos de casos. Nesse sentido, incentivamos a apresentação de pesquisas históricas das mais variadas temáticas que discutam os séculos XIX e XX enfatizando as articulações entre os espaços globais, desde as Américas, Oriente Médio, Subcontinente Asiático e África com suas distintas relações com a Europa, e eventualmente entre si. Papers written in English are particularly welcome. Justificativa: As tradições historiográficas baseadas na perspectiva eurocêntrica e centradas no Estado-Nação passaram a ser problematizadas a partir de questões históricas tais como os movimentos de descolonização, a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria e o desmantelamento da União Soviética. Todos esses processos foram acompanhados por uma percepção de aceleração do tempo histórico em uma ascendente globalização. De acordo com Georg Iggers (2010), é necessário uma nova forma de escrita da história que compreenda as atuais condições de vida, que se diferenciam daquelas pré-1989.
Há diversas respostas historiográficas a essa questão. Cada uma delas está inserida em uma lógica de disputa de campo acadêmico (BARROS, 2014). Há aqueles que defendem a chamada Connected Histories (SUBRAHMANYAM, 1997; GRUZINSKI, 2001; 2012; HARTOG, 2013); outros consideram que a melhor alternativa é a Histoire Cruzée (WERNER; ZIMMERMANN, 2006). A discussão só aumenta quando se procura diferenciar a Global History, World History e a Transnational History (VENGOA, 2009; FICKER, 2014); ou ainda quando se procura articular a micro-história com a macro-história através das variações de escala (REVEL, 2010).
Por mais que todas essas tendências possuam distinções entre si, seja narrativas, metodológicas ou temáticas, todas compartilham da necessidade de ampliar os objetos de análise para além do Estado-Nação e escapar do eurocentrismo. Dessa forma, concordamos com Jürgen Kocka (2012), que considera que a Global History oferece uma alternativa historiográfica ao buscar objetos de pesquisa capazes de estabelecer relações além fronteiras, assim como conexões transnacionais nos seus mais variados conteúdos temáticos, tais como história da globalização, migrações, ambiental, saúde, leis, etc.
Nos últimos vinte e cinco anos acompanhamos o surgimento de uma série de estudos que priorizaram um enfoque global e mundial, com ênfase em objetos transnacionais, cruzados, conectados e relacionais. Por mais que essas correntes historiográficas apresentem diferenciações entre si, de uma maneira geral todas estão preocupadas com a ampliação dos objetos de análise. Esse alargamento tem por finalidade romper com a tradicional unidade do Estado-Nação e oferecer uma interpretação alternativa ao eurocentrismo.
Assim, a proposta deste Simpósio Temático é congregar tanto trabalhos capazes de refletir teórica e metodologicamente essas mudanças, como também estudos de casos que consigam articular diferentes espaços e temáticas históricas. Acreditamos que essa proposta é salutar e pode se tornar um interessante espaço de discussão não apenas neste encontro nacional de História em Florianópolis, mas também em muitos outros e, quem sabe, tornar-se uma referência para reflexão desses temas.
É fato ainda que a revolução corrente no acesso a fontes digitais de pesquisa em todo o globo, levanta ainda questões quanto a natureza das fontes e formas de pesquisa, relevantes no âmbito do debate sobre o fazer da chamada Global History (ARMITAGE; GULDI, 2014; MAZLISH; IRIYE, 2004). Bibliografia: ARMITAGE, David; GULDI, Jo. The History Manifesto. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.
BARROS, José D’Assunção. História Comparada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
FICKER, Sandra Kuntz. “Mundial, trasnacional, global: Un ejercicio de clarificación conceptual de los estudios globales”. IN: Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 27 mars 2014.
GRUZINSKI, Serge. “Os mundos misturados da monarquia católica e outras connected histories”. IN: Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2001, p. 175-195.
GRUZINSKI, Serge. Que horas são...lá, no outro lado? América e Islã no limiar da época moderna. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
HARTOG, François. "Experiência do tempo: da história universal à história global?". IN: história, histórias. Brasília, vol. 1, n. 1, 2013. p. 164-179.
IGGERS, Georg. "Desafios do século XXI à historiografia". IN: História da Historiografia. Ouro Preto, n. 4, mar/10, p. 105-124.
KOCKA, Jürgen. "Global History: Opportunities, Dangers, Recent Trends". IN: CULTURE & HISTORY DIGITAL JOURNAL 1(1) June 2012. p. 1-6.
MAZLISH, Bruce; IRIYE, Akira. The Global History Reader. New York: Routledge, 2004.
REVEL, Jacques. "Micro-história, macro-história: o que as variações de escala ajudam a pensar em um mundo globalizado". IN: Revista Brasileira de Educação, v. 15 n. 45 set./dez. 2010. p. 434-444.
SUBRAHMANYAM, Sanjay. “Connected Histories: Notes towards a Reconiguration of Ear& Modern Eurasia”. IN: Modern Asian Studies 31, 3 (1997), pp. 735-762.
VENGOA, Hugo Fazio. "La historia global y su conveniencia para el estudio del pasado y del presente". IN: HISTORIA CRITICA EDICIÓN ESPECIAL, BOGOTÁ, NOVIEMBRE 2009, p. 300-319.
Werner, M., Zimmermann, B. “Beyond comparison: Histoire croisée and the challenge of reflexivity”. IN: History and Theory, 45: 30–50. (2006). 
 
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Se eu tivesse tempo, prepararia um trabalho sobre as interações recíprocas entre história global e a escola acadêmica multidisplinar da "economia-mundo", muito influenciada por braudelianos, arrighianos e wallersteinianos...
Tenho algo a dizer em torno desses conceitos e dos trabalhos conduzidos sob suas ferramentas, métidos e abordagens.
Mas vai provavelmente ficar para uma outra ocasião.
Paulo Roberto de Almeida
 

Russia/Leviatan (filme): a parabola (mas que nao tem fim) do Estado opressor e corrupto

 "Leviatã" - a longa tragédia da sociedade russa
O Observador, 4/03/2015

Mais do que um mero libelo “anti-Putin”, o filme “Leviatã”, de Andrei Zyvagintsev, é uma história feia e bruta sobre os atavismos políticos, culturais e sociais da Rússia, da corrupção ao fatalismo,

A mídia, com a televisão à cabeça, têm o mau hábito de reduzir uma obra de arte a um estereótipo, simplificando-a numa frase ou numa etiqueta para consumo coletivo e retirando-lhe assim a riqueza, os significados e a complexidade. A mais recente vítima desta tendência é “Leviatã”, a quarta longa-metragem do cineasta russo Andrei Zyvagintsev, rotulado como “o filme anti-Putin”.
Nada mais confrangedor e reducionista do que limitar a um libelo contra o atual ocupante do Kremlin o que é na realidade um filme sobre os trágicos atavismos culturais, políticos e sociais da Rússia – a corrupção de alto a baixo e do centro às periferias, a tirania tentacular do Estado, a promiscuidade da Igreja Ortodoxa com o poder, os vasos comunicantes deste com o mundo do crime, o peso da burocracia e a força dos tiranetes locais, a impotência do cidadão comum perante a arbitrariedade pública, o embrutecimento da sociedade pela bebida, o fatalismo da sociedade civil –, que Zyvagintsev ilustra através de história sobre a eterna impotência do cidadão russo perante a arbitrariedade estatal, perante o peso e a força de um monstro.  Um leviatã que já se chamou czarismo e depois comunismo, e que se mantém com as roupagens de um novo regime, com novas caras e a mesma velha indiferença e prepotência para com as pessoas comuns.

Putin é apenas mais um, aquele que controla o monstro nesta altura, como o realizador mostra na sequência em que o protagonista e a sua família e amigos vão fazer um piquenique de aniversário na natureza, que consiste essencialmente em beber vodka e fazer tiro ao alvo. Primeiro, a garrafas da bebida nacional, depois às fotografias dos homens que lideraram o país quando ainda se chamava União Soviética, e a seguir no pós-comunismo. O leviatã do sistema sobrevive aos seus líderes, e resta aos governados disparar contra os seus retratos, para cevar toda a raiva, revolta e  impotência que os amarfanha por dentro

Este filme de Andrei Zyvagintsev é, no entanto, mais explicitamente “contra” o regime do que a sua obra de estreia, o magnífico e enigmaticamente alegórico “O Regresso”, que revelou o cineasta ao mundo vencendo o Festival de Veneza em 2003. Bem como a sua realização anterior, “Elena” (2011), que, pela subtileza na descrição das desigualdades e injustiças da atual sociedade russa, alguns poderão com toda a legitimidade preferir a este mais óbvio e demonstrativo “Leviatã” (são claros os paralelos feitos por Zyvagintsev com a narrativa bíblica de Job, só que no final do filme, o seu herói, Kolia, em vez de ser recompensado pelo sofrimento que lhe foi infligido, é ainda mais implacavelmente martirizado).

Ironicamente, o realizador foi inspirar-se num fato real ocorrido em 2004 nos EUA (revoltado contra a Câmara Municipal da cidade onde vivia na sequência de um contencioso sobre terrenos, um homem meteu-se num tanque, destruiu vários edifícios públicos e depois suicidou-se) para escrever, com Oleg Negin, “Leviatã”, que ganhou o Prémio de Melhor Argumento no Festival de Cannes, o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro e esteve candidato ao Óscar na mesma categoria

Kolia ( Aleksei Serebryako, em estupenda atuação), um mecânico, vive e trabalha numa casa com vista para o Mar de Barents, que pertence à sua família há várias gerações. O mafioso presidente da câmara local cobiça o terreno e procura expropriar Kolia e a família manipulando a polícia e os tribunais e obrigando-o a aceitar uma indenização ridícula, para, suspeita este, construir uma mansão luxuosa para si ou especular no mercado imobiliário com os seus capangas do meio da construção civil. Kolia recorre a um velho amigo e camarada da tropa, Dimitri, advogado em Moscou. Este recorre aos seus conhecimentos na capital, compila um dossier com todos os podres do autarca, e confronta-o com ele. Só que nem este se deixa intimidar, como também Dimitri se envolve de forma imprudente com a mulher de Kolia. E tudo o que pode acontecer de mau, acontece.


A Rússia que Andrei Zyvagintsev aqui filma é uma terra de homens e mulheres corruptos, desesperados, comprados ou resignados, onde a revolta é um gesto inútil que a máquina da burocracia, o peso do dinheiro ou a violência dos poderosos se encarregam de neutralizar, e onde toda a gente bebe vodka até ao entorpecimento.

Mais do que um filme pessimista, “Leviatã” é um filme fatalista. E é um fatalismo pesado, ancestral, enraizado, profundamente russo, sem solução nem redenção, muito embora o realizador tenha dito que queria que “Leviatã” fosse também entendido como “uma parábola universal” sobre a batalha do indivíduo contra a omnipotência do Estado. Só que na Rússia essa batalha continua, século atrás de século, regime após regime, a ser trágica e repetidamente inglória.

(O Observador)

CPI da Petralhabras: o roteiro de perguntas de O Antagonista

Êta site intrometido. Mas de uma coisa tenho certeza: os bandidos vão ficar calados, querem apostar?
Paulo Roberto de Almeida

Para agilizar o trabalho da CPI

A CPI da Petrobras aprovou a convocação de Graça Foster, Nestor Cerveró, José Sergio Gabrielli, Renato Duque, Pedro Barusco e Alberto Youssef. Para agilizar o trabalho dos parlamentares, sugerimos que:
a) Pergunte-se a Graça Foster sobre as circunstâncias da sua saída da Petrobras, tendo como base a reportagem da Bloomberg que conta como Dilma Rousseff mandou desobedecer a lei e esconder as perdas da Petrobras; como a então presidente da empresa não conseguiu demitir o subordinado Sergio Machado, homem de Renan Calheiros, da presidência da Transpetro; e como Dilma Rousseff ficou contrariada quando ela, Graça Foster, quis colocar as empreiteiras do petrolão na geladeira
b) Indague-se Nestor Cerveró sobre se o Conselho de Administração da Petrobras, na ocasião presidido por Dilma Rousseff, realmente não tinha dados suficientes para brecar a compra da refinaria de Pasadena, um dos piores negócios da história do capitalismo mundial
c) Repita-se, no caso de José Sergio Gabrielli, o mesmo questionamento feito a Nestor Cerveró e se pergunte ao antecessor de Graça Foster sobre as empresas de fachada usadas para construir boa parte do gasoduto Gasene
d) Inquira-se Renato Duque sobre cada uma das propinas por ele recebidas, de acordo com os depoimentos da delação premiada de Pedro Barusco, seu ex-subordinado na Petrobras, e como ele repassava parte delas a petistas graúdos, incluindo José Dirceu. Duque poderá dar ainda informações preciosas sobre João Vaccari Neto, o Moch, tesoureiro do PT
e) Solicite-se a Pedro Barusco que faça um resumo da sua delação premiada, com a contabilidade das propinas que recebeu para ele próprio, Renato Duque e demais corruptos
f) Peça-se a Alberto Youssef que, além de enumerar o quanto pagou a cada político, nomeando-os, conte a negociata entre o banqueiro André Esteves e a BR Distribuidora. Além disso, que ele pormenorize o que disse na sua delação premiada sobre Lula e Dilma saberem do esquema de corrupção na Petrobras