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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Itamaraty: um orcamento ridiculo - João Paulo Peixoto (Diario do Poder)




DE MAJESTADE A PATINHO FEIO – O ITAMARATY EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO
JOÃO PAULO PEIXOTO
 Diário do Poder, 1/07/2015

Houve uma época em que o belo Palácio Itamaraty ostentava em seu espelho d’água vistosas garças, e uma majestosa escultura de Bruno Giorgi – o meteoro. Este ainda está presente, as outras não. Ao menos não as mais vistosas, que voaram para longe levando consigo os bons tempos de outrora. Ambos projetavam elegância, a majestade e beleza estética do Palácio. Não é por acaso, também, que o prédio que abriga as relações exteriores se diferencia, em muito, dos demais ministérios. Sinalizando que a ele é reservado um papel diferenciado no conjunto do governo.
A penúria financeira do Itamaraty no Brasil e no exterior, portanto, espelhando uma realidade que difere muito da aparência, não condiz com sua importância para um país que ostenta a sétima economia do mundo em um mundo globalizado. Ademais, o que chama mais atenção atualmente é o contraste com outros tempos, não necessariamente longínquos. Embora não seja novidade cortes de despesas corriqueiras das embaixadas e dos diplomatas no exterior. A título de exemplo vale lembrar que, certa vez, o chanceler Azeredo da Silveira teve que recorrer diretamente ao presidente Geisel (1974-1979) para reclamar do corte dos telefones do Itamaraty feito pela então Telebrasília. Obviamente, o problema foi resolvido imediatamente.
Por outro lado, desnecessário ressaltar o impacto negativo dos cortes de despesa, os quais resultam em geral em inadimplência junto a organismos internacionais, sobre a atuação do ministério perante seus pares e fornecedores de toda espécie mundo afora, bem como na moral e na autoestima dos membros do Serviço Exterior. Os servidores, por outro lado, encontram-se em situação de fragilidade, convivendo com a incerteza dos pagamentos do auxílio-moradia, que por vezes é maior que o próprio salário, dadas as peculiaridades do mercado imobiliário local. A falta de verba fez com que o último plano de remoções fosse adiado em meses, trazendo toda sorte de inconvenientes para os servidores do Serviço Exterior e suas famílias.
A credibilidade de uma política – qualquer uma – reside em grande parte na respeitabilidade de quem a implementa. Tal credibilidade, por sua vez, se assenta no cumprimento das obrigações e deveres para que se possa fazer valer a vontade política dos seus responsáveis.
No caso do Itamaraty a escassez de recursos é mais grave se considerarmos alguns dos seus dados em relação ao conjunto do governo. Sem levar em conta que se trata, em última análise, da própria imagem do país.
A Casa de Rio Branco administra o terceiro menor orçamento entre os ministérios, excetuando-se as secretarias especiais; a menor média salarial dentre as carreiras típicas de Estado e o menor número de servidores comparando dez principais ministérios da Esplanada. As causas para tal tratamento diferenciado por parte do governo ao seu serviço exterior têm várias causas internas e externas. Não cabendo aqui analisa-las e sim procurar despertar a reflexão, por quem de direito, sobre elas.
Não obstante, torna-se redundante pontuar a importância das relações exteriores neste mundo globalizado. O que por si só, seria justificativa para que o MRE fosse tratado com mais atenção. Para não mencionar a costumeira retórica de necessidade de ampliar a participação do Brasil nas relações comerciais globais. Principalmente nestes dias de escassez e crise econômica doméstica.
Outro dado que espelha o crescimento da importância das relações internacionais é o acréscimo exponencial dos cursos universitários de Relações Internacionais. Hoje são mais de 100. Um número bem distante do pioneirismo da Universidade de Brasília, que por muitos anos atuou sozinha nesse campo, desde que inaugurou o primeiro programa do gênero no Brasil nos anos de 1970.
Da mesma forma os ministérios expandiram em larga medida sua atuação internacional, nem sempre de maneira coordenada com o MRE.
Como se não bastasse, vale lembrar ainda que o Brasil tem hoje na África mais embaixadas do que a Grã-Bretanha. Tendo sido aquela uma outrora potência colonial naquele continente.
Diante desses fatos, a pergunta que se faz é porque a Casa de Rio Branco suporta quietamente, ao menos publicamente, tal situação. Razões lhe sobram para reagir e exigir o devido tratamento, como ocorria em governos passados, desde as décadas de 1970/80 onde o profissionalismo e o respeito pelos seus quadros e suas tradições eram motivo de prestígio, respeito e reconhecimento pelos donos do poder. É tempo de ir em busca dos tempos grandiosos.

Grecia e Brasil: nada a ver? Follow the money (para pegar bandidos) ou a trajetoria dos gastos publicos (para pegar politicos)


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A verdadeira tragédia grega foi o seu gasto público
A conclusão é fragorosa e deve servir de lição: sim, um país pode quebrar por gastar excessivamente com políticas sociais.  Não é questão de ideologia, mas sim de c...

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A verdadeira tragédia grega foi o seu gasto público
por Juan Ramón Rallo, domingo, 14 de junho de 2015



greece_democracy_referendum_papandreou.jpgA Grécia foi à bancarrota não porque, como dizem os entusiastas do novo governo eleito, pagou taxas de juros "usurárias" sobre sua dívida, mas sim porque se endividou despreocupadamente para que seus políticos pudessem gastar como se não houvesse amanhã.
Vamos aos números.
Se levarmos em conta o valor total de juros pago pelo governo grego em relação ao estoque total de sua dívida, temos que, desde 2006, não houve nenhum ano em que a Grécia tenha pagado mais do que 4,5% de juros sobre sua dívida total. 
Isso dificilmente pode ser classificado como "usura", principalmente quando se leva em conta que a inflação de preços média na Grécia desde 2006 foi de 2%, o que significa que o estado grego jamais pagou juros reais superiores a 2,5% ao ano.  [Nota do IMB: a título de comparação, o governo brasileiro pagar taxas superiores a 10% sobre sua dívida total, e as taxas reais sempre estiveram acima de 4,5%].
Com efeito, no ano de 2013, a Grécia pagou sobre sua dívida pública total taxas de juros nominais inferiores até mesmo às da Alemanha: em concreto, os gregos pagaram 2,28%, sendo que os alemães pagaram 2,62%.
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Gráfico 1: taxa de juros média sobre a dívida pública, 2006-2013   Fonte: Eurostat
E não é só: em 2013, a Grécia foi o quarto país da zona do euro a pagar as menores taxas de juros sobre sua dívida pública:
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Gráfico 2: taxa de juros média sobre a dívida pública em 2013   Fonte: Eurostat
Em que pese todo o bombardeio propagandístico sobre juros usurários contra a Grécia, ninguém deveria se surpreender com os resultados acima, pois foi em 2012 que a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) aprovou um segundo plano de resgate para a Grécia, pelo qual o governo grego obteve condições de financiamento extremamente benéficas.
O principal culpado: o descontrole do gasto público
Antes da crise, o volume total da dívida pública grega era de 250% das receitas do governo (2,5 vezes maior).  Na Alemanha, a título de comparação, esse valor era de 150%. (1,5 vez maior).
No entanto, após a crise, o valor grego pula para 350%, chegando a superar 400% (4 vezes maior) no ano de 2011.  Vale notar que tanto o resgate quanto as medidas de "austeridade" começaram a ser implantados na Grécia apenas no ano de 2010, só que em 2009 o governo já tinha um volume de dívida pública totalmente descontrolado.
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Gráfico 3: relação entre dívida pública e receitas do governo, 2006-2013  Fonte: Eurostat
E o que fez aumentar essa dívida pública?
Enquanto a Alemanha conseguiu manter constante, em termos reais, seu gasto público por habitante entre 1996 e 2008, a Grécia o aumentou em nada menos que 80%. 
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Gráfico 4: gasto público real por habitante, 1996-2013     Fonte: Eurostat
A hipertrofia do estado grego simplesmente não possui similares na Europa, especialmente se levarmos em conta como ele se financiou: a Grécia não apenas foi um dos países que mais aumentou seu gasto público, como também foi o que recorreu com mais obsessão ao endividamento para financiá-lo.
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Gráfico 5: aumento da dívida pública entre 1996 e 2008   Fonte: Eurostat
Como consequência desse enorme crescimento do endividamento (e não como consequência de altas taxas de juros), o gasto anual com os juros sobre todo esse estoque de dívida superou, até o segundo pacote de resgate, o valor de 12% das receitas do governo (em 2011, antes do resgate, o total de juros pago por ano era 17% maior do que as receitas).  Compare isso à Alemanha, cujos gastos com juros se mantiveram estáveis em 6% de todas as receitas.
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Gráfico 6: total de juros pagos em relação às receitas do governo, 2006-2013    Fonte: Eurostat
Vale enfatizar: o problema não foi a taxa de juros que a Grécia pagou sobre sua dívida pública, mas sim o enorme volume de sua dívida pública, o que elevou sobremaneira o valor absoluto dos juros pagos. 
Matemática básica: 50% de 10 euros são 5 euros, 1% de 1 bilhão de euros são 10 milhões de euros.  Uma taxa de juros baixa não fará com que seus gastos totais com juros sejam baixos se você deve muito dinheiro.
Sendo assim, a responsabilidade pela situação financeira grega deve ser atribuída a quem gerou esse elevado volume de endividamento: os políticos gregos e todos aqueles que aplaudiam e que foram beneficiados pelas políticas de endividamento do governo (antes e depois da crise). 
O fato é que o grosso da dívida pública grega foi emitido antes que a Grécia fosse socorrida pela Troika: 90% da dívida pública grega do ano de 2010 já havia sido emitida antes de 2010. 
Nem sequer é possível culpar as políticas de suposta austeridade ("suposta" porque um governo sob austeridade genuína não pode aumentar impostos; é como dizer que um trabalhador que está praticando austeridade pode aumentar seu salário): mesmo que o governo grego tivesse sido capaz de manter o mesmo volume de receitas de 2007 (algo muito difícil em meio a uma forte recessão), o tamanho de sua dívida pública em 2011 em relação às suas receitas seria de 391% (comparado aos 403% que realmente foram, e aos 180% da Alemanha), e o peso dos juros em relação às receitas totais teria sido de 15,8% (em relação aos 17,1% que realmente foram, e aos 5,8% da Alemanha).
Portanto, é necessário honestidade: o governo da Grécia não quebrou por causa da Troika e o governo da Grécia não está financeiramente na lona por causa da Troika.  O governo grego está quebrado como consequência das políticas ilustradas nos gráficos 4 e 5.
Enquanto a Alemanha estabilizou seu gasto real por habitante (isto é, descontando a inflação de preços) entre 1996 e 2007, a Grécia o aumentou em mais de 80%, e recorreu ao mero endividamento para financiar a maior parte dessa brutal expansão do seu gasto público.  O governo chegou a um ponto em que simplesmente não mais consegue pagar nem mesmo as prestações dessa dívida.
A composição do gasto público grego
À luz dessa hipertrofia estatal, era óbvio que ao governo grego não restava outra solução senão cortar muito intensamente seus gastos caso quisesse sobreviver financeiramente.  Mas será que mesmo isso foi feito?
O gráfico abaixo mostra a composição do gasto público grego.  O gasto com educação, políticas sociais e saúde disparou de 24,6% do PIB em 2004 para 31,1% do PIB em 2012.  Ou seja, não só os gastos do governo grego se concentram nos "gastos sociais", como também esta foi a rubrica que mais aumentou em termos relativos desde 1996.
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Gráfico 7: composição do gasto público da Grécia, 1996-2012   Fonte: Eurostat
Sim, é verdade que, desde 2009, com as seguidas quedas do PIB, o fato de os gastos sociais terem subido em relação ao PIB não significa que eles aumentaram em termos absolutos, uma vez que o PIB vem se contraindo desde 2009.  No entanto, o que isso realmente significa é que os gastos que menos foram reduzidos proporcionalmente foram justamente aqueles que mais cresceram até 2009: os gastos sociais.
Conclusão
A conclusão é fragorosa e deve servir de lição: sim, um país pode quebrar por gastar excessivamente com "políticas sociais". 
Não é questão de ideologia, mas sim de contabilidade. 
Mais ainda: para evitar essa quebra, é imprescindível que ele tenha de cortar de maneira intensa todos os gastos voltados às políticas sociais.
No entanto, longe de ter aprendido a lição e de assumir a culpa pelo próprio desastre, o novo governo grego não apenas aponta o dedo para terceiros, como ainda promete voltar a aumentar maciçamente o gasto público (estão prometendo mais benefícios sociais, energia gratuita para 300 mil gregos, e mais moradias populares).
É óbvio, portanto, que não entenderam nada.
A questão é simples: quem não pode pagar indefinidamente, não pode gastar indefinidamente. 



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O sonho do governo grego: espoliar permanentemente os p...
A economia grega, que já estava mal, paralisou-se completamente desde a chegada do novo governo ao poder no início de 2015. O principal objetivo desse novo govern...

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O sonho do governo grego: espoliar permanentemente os pagadores de impostos da União Europeia

por Juan Ramón Rallo, segunda-feira, 22 de junho de 2015



yunanistanda-syriza-ruzgri-57812.jpgA economia grega, que já estava mal, paralisou-se completamente desde a chegada do novo governo ao poder no início de 2015. 
O principal objetivo desse novo governo, sob o comando do partido Syriza — que é um acrônimo para "Coligação da Esquerda Radical" —, era "reestruturar" o insuportável fardo da dívida pública grega, que atualmente é de 177% do PIB do país.
Só que o Syriza chegou ao poder prometendo a quadratura do círculo: haveria mais gastos públicos e menos impostos, e ainda continuariam recebendo todos os benefícios repassados pela União Europeia.
Obviamente, sob este arranjo, alguém teria de arcar com a fatura e este "alguém" escolhido foram os demais pagadores de impostos europeus: estes não apenas não receberiam de volta o dinheiro que, por meio de seus governos, emprestaram para a Grécia, como também, além deste calote (chamado eufemisticamente de "reestruturação da dívida"), deveriam continuar emprestando indefinidamente para o governo grego, para que o país pudesse se manter na zona do euro.
Segundo os integrantes do Syriza, a Grécia não tem como pagar suas dívidas, o que faz com seja imprescindível uma profunda reestruturação da mesma.  Mais especificamente, o governo queria alargar os prazos de vencimento, reduzir as taxas de juros que incidem sobre a dívida total, e até mesmo simplesmente reduzir o valor total da dívida, o que significa um calote parcial da mesma.
A realidade, no entanto, é que boa parte do discurso sobre a insustentabilidade da dívida total da Grécia é infundada.  Nas economias modernas, caracterizadas por governos expansivos e moedas inflacionárias, o principal da dívida pública nunca é quitado; tudo é refinanciado.  A dívida não se paga; ela é rolada. 
Sendo assim, o custo de o governo estar endividado depende exclusivamente das taxas de juros que o estado paga sobre o conjunto de sua dívida pública.
Em 2011, a Grécia tinha de pagar juros equivalentes a 7,3% do seu PIB.  Esta era, de fato, a carga mais alta da Europa e dificilmente era sustentável.  No entanto, houve uma reestruturação da dívida grega — orquestrada pela Troika — em 2012, o que fez com que o país conseguisse reduzir o fardo dos juros para 4% do PIB.
Embora tal valor não seja baixo, ele tampouco é insustentável.  Com efeito, países como Irlanda, Itália e Portugal — que até o momento ainda não pediram reestruturações de suas dívidas — estão enfrentando custos financeiros muito maiores que os da Grécia.
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Gráfico 1: total de juros que incidem sobre a dívida pública em relação ao PIB, 2013  Fonte: Eurostat 
E, se levarmos em conta que o PIB da Grécia está no subsolo (já caiu 30% desde seu pico), e que certamente está muito abaixo do que poderia ser caso houvesse uma liberalização e uma estabilização econômica, é difícil concluir que a reestruturação de sua dívida seja uma absoluta e inexorável necessidade.
Para completar, o prazo de vencimento da dívida grega é, disparado, o mais elevado de toda a zona do euro, e também de toda a União Europeia.
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Gráfico 2: vencimento médio da dívida pública em 2013 (anos)  Fonte: OCDE
O mesmo ocorre com a taxa média de juros sobre a dívida, que é a quarta mais baixa da zona do euro.  É, inclusive, mais baixa do que a da Alemanha.
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Gráfico 3: taxa média de juros sobre a dívida pública em 2013 Fonte: Eurostat
Em outras palavras, os cidadãos europeus estão, por meio de seus impostos, subsidiando o governo grego.  Seus impostos estão sendo utilizados para estender crédito ao governo grego, por meio da Troika, a condições bem mais vantajosas do que a que eles próprios usufruem.  É como se você se endividasse a 10%, me emprestasse e me cobrasse 5%: você, obviamente, está perdendo dinheiro com essa operação.
E o governo grego ainda quer mais privilégios.
Então, se não há muita margem nem para aumentar os prazos do vencimento da dívida grega (que já são os maiores da União Europeia) e nem para reduzir as taxas médias de juros, o que mais pode ser feito em termos de reestruturação da dívida?  A única hipótese que resta é um calote da dívida.
Quanto a isso, convém lembrar que a dívida do governo grego em mãos de credores privados já foi submetida, em 2012, a uma redução de 53,5% do seu valor nominal.  E, se a isso somarmos o alargamento do prazo de vencimento e a redução dos juros incidentes sobre a dívida total, a dívida grega já sofreu uma redução de nada menos que 75% do seu valor nominal
Sendo assim, por que os pagadores de impostos da União Europeia devem conceder ao governo grego mais uma rodada de privilégios?
Para completar o ultraje, vale lembrar que o governo grego é um dos mais perdulários da União Europeia.  Seus gastos totalizam nada menos que 58,5% do PIB.  Esse valor é maior até que o da Dinamarca (57,2% do PIB), da França (57,1%) e da Suécia (52,8%).  Será que é realmente impossível o governo grego cortar gastos?  Reduzir um gasto público que chega a soviéticos 58,5% do PIB é impor "austeridade draconiana"?
No entanto, convém não dramatizar a questão do calote.  Toda e qualquer pessoa que investe nos títulos da dívida pública de um país tem de estar ciente de que, em algum momento, esta pode ser caloteada pelo estado emissor, sem que o investidor possa forçar o estado e lhe pagar (uma vez que a soberania estatal impede que ele seja forçado a executar seus próprios contratos).  Sendo assim, a amortização da dívida pública no prazo acordado se torna uma mera questão de boa fé.  Nada mais do que isso.
Portanto, os investidores — privados e estatais (80% da dívida grega está em posse de organismos oficiais) — que aplicaram nos títulos do governo grego têm de aceitar as consequências e assumir os riscos que voluntariamente correram ao emprestar para o governo grego.
Por outro lado, do mesmo modo que os investidores devem arcar com a responsabilidade de ter concedido crédito a um governo que a qualquer momento pode calotear impunemente sua dívida, o governo grego também terá de aceitar as consequências de decretar um calote unilateral em sua dívida: no caso, será impossível continuar financiando seu déficit público.
A plataforma do Syriza não é simplesmente a de não pagar as dívidas do governo grego; além de dar o calote, o novo governo grego também quer continuar recebendo empréstimos para aumentar de maneira substantiva seus gastos (prometeram mais benefícios sociais, energia gratuita para 300 mil gregos e mais moradias populares) sem ter de aumentar impostos. 
Ou seja, ele não quer pagar sua dívida, mas quer continuar emitindo dívida e sendo livremente financiado.
Essa quadratura do círculo é impossível, obviamente.  Se o Syriza de fato optar pelo calote, aí sim é que ele terá de enfrentar uma verdadeira austeridade.  Sem acesso ao financiamento de credores externos, o governo grego não mais poderá incorrer em déficits; ele só poderá gastar exclusivamente aquilo que arrecadar por meio de impostos.  Logo, e ironicamente, a "asfixiante ultra-austeridade" contra a qual o Syriza diz lutar irá realmente ocorrer caso o partido dê o calote.  E a Grécia terá de vivenciar essa austeridade por vários anos, até que o governo eventualmente recupere sua credibilidade perante os investidores estrangeiros.
Em suma, se o Syriza não quer pagar a dívida do governo grego, não pague.  Mas que sofram as consequências.  Assim como os gregos têm o direito de votar em quem quiserem, os demais pagadores de impostos da União Europeia também têm o direito de não mais financiar o perdulário e caloteiro governo grego.




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E se a Grécia sair do euro?
Sempre que um país passa por problemas econômicos, surge um grupo de economistas dizendo que tudo pode ser corrigido caso o governo simplesmente desvalorize ...

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E se a Grécia sair do euro?
por Diversos Autores, segunda-feira, 29 de junho de 2015



Greece_2347277b.jpgSempre que um país passa por problemas econômicos, surge um grupo de economistas dizendo que tudo pode ser corrigido caso o governo simplesmente desvalorize a moeda — isto é, deprecie sua taxa de câmbio.

Não obstante não seja possível encontrar um só exemplo de país que tenha saído da pobreza e se tornado próspero depreciando sua moeda em relação às outras, tal "solução" segue impavidamente em voga. A desvalorização da moeda é uma panacéia que ainda atrai muitos "pensadores" e continua sendo uma ideia extremamente popular entre alguns círculos de economistas.
Aproveitando o momento, façamos um exercício mental para analisar as prováveis consequências da desvalorização.  Vamos utilizar a Grécia como exemplo.
Suponhamos que a Grécia, que hoje faz parte da zona do euro, conseguisse de alguma forma voltar a emitir um Novo Dracma, e que essa nova moeda se desvalorizasse rapidamente, passando de um dracma por euro para dois dracmas por euro em um curto período de tempo (um mês, talvez), o que representaria uma desvalorização de 50%.  
Vamos também supor que o governo utilize seus poderes coercivos para estipular que todas as obrigações existentes em euro, tais como títulos e contratos trabalhistas, para todas as pessoas e entidades na Grécia, sejam unilateralmente convertidas em dracmas na relação de 1 dracma para 1 euro.
O dracma agora é uma moeda independente e com câmbio flutuante, e sua taxa de câmbio está relativamente estável perto de 2 dracmas por euro (uma taxa até bastante otimista).
Sendo assim, o valor total da dívida do governo da Grécia, em termos de euro, cai 50% (repetindo: a moeda se desvalorizou 50% em relação ao euro, mas todos os passivos foram convertidos de euro para dracma à taxa de 1 para 1).
Consequentemente, as dívidas de todos os outros devedores na Grécia, tais como empresas, bancos e pessoas físicas, também são reduzidas em 50% em termos de euro.  (Se uma empresa devia 100 milhões de euros, agora ela deve 100 milhões de dracmas.  Mas como 1 dracma vale 0,50 euro, 100 milhões de dracmas são 50 milhões de euros.)
A princípio, isso não é um grande benefício para os endividados gregos, dentre eles o governo, pois a renda deles, denominada em dracmas desvalorizados, também caiu 50% em valores de euro.  Tanto a dívida quanto a receita tributária do governo foram simultaneamente desvalorizadas, e o mesmo ocorre com os salários das pessoas e suas dívidas. 
No entanto, não vai demorar muito para que as receitas tributárias, as receitas das empresas e os salários das pessoas comecem a subir (em termos nominais) em decorrência tanto da inflação monetária que agora o governo grego poderá causar (ao sair do euro e adotar uma moeda própria, o governo está mais livre para inflacionar a moeda) quanto da grande inflação de preços que será causada pela desvalorização da moeda.
Como consequência de tudo, os calotes nas dívidas diminuirão.  O declínio nos calotes irá permitir que os bancos gregos, até então descapitalizados por causa de empréstimos ruins, readquiram alguma saúde financeira.  Para completar, os ativos estrangeiros dos bancos gregos (como títulos do governo alemão ou empréstimos feitos a empresas italianas e espanholas) irão dobrar de valor em termos de dracma, o que irá melhor seus balancetes consideravelmente.
Com a redução dos calotes, as falências corporativas também irão diminuir, o que significa menos desemprego.  Trabalhadores gregos, cujos salários foram reduzidos à metade em termos de euro, agora estão mais "competitivos" (isto é, recebem menos) que os de Portugal, Espanha e Itália. 
Por outro lado, as empresas gregas voltadas exclusivamente para o mercado interno não usufruirão grandes benefícios, pois os trabalhadores gregos não serão capazes de comprar muita coisa com seus salários desvalorizados.  Por causa da súbita desvalorização cambial, o poder de compra dos gregos despencou. O custo dos bens e serviços importados dobrou, o que reduz ainda mais a renda disponível dos trabalhadores. Tudo o que foi produzido no país e que não foi consumido (pois a renda real da população caiu), será transformado em excedente exportável.
Aqueles assalariados mais bem pagos da Alemanha e da Inglaterra, que querem escapar de seus respectivos invernos e estão à procura de uma praia (ou mesmo de um local barato para viver quando se aposentarem), trocarão a Espanha pela Grécia e aproveitarão todas as ofertas sendo oferecidas em dracmas desvalorizados.
Sendo assim, a Grécia vivenciará um forte aumento nos negócios e nas contratações relacionadas ao turismo e, talvez, ao setor de exportação.  Por causa disso, a economia parecerá estar melhorando, e as receitas tributárias do governo estarão aumentando, ao menos em termos nominais de dracmas.  Os preços ao consumidor subirão aproximadamente 20% no primeiro ano da desvalorização, e os economistas aplaudirão efusivamente, pois a deflação de preços "foi superada".
Principalmente por ter começado com valores pequenos em decorrência da crise, a bolsa de valores da Grécia irá disparar.  Mas ela teria de subir pelo menos 100% apenas para se manter com o mesmo valor em termos de euros.
Esse cenário parece palatável, não?
Mas há outros fenômenos ocorrendo.  O que acontecerá com todos os bancos alemães e franceses que fizeram empréstimos para empresas gregas?  O que acontecerá com todos aqueles títulos do governo grego em posse dos bancos alemães?  Os títulos e os empréstimos agora valem apenas 50% de seu valor de face em termos de euro.  Os bancos alemães e franceses terão de ser socorridos, e milhões de correntistas alemães e franceses darão esse socorro compulsório por meio de uma redução em suas contas bancárias (exatamente como ocorreu no Chipre).
Os destinos turísticos na Espanha e no sul da Itália perderão clientes e, como consequência dessa súbita perda de receitas, começarão a dar calotes em suas dívidas.  As indústrias de cimento e naval de outros países europeus não conseguirão concorrer contra as importações baratas da Grécia, e também começarão a dar calotes em suas dívidas.  O desemprego nestes países irá subir.
O trabalhador grego agora tem um novo emprego, mas seu salário, reduzido à metade em termos de euro, não mais compra tudo aquilo que antes ele conseguia comprar.  Os preços internos aumentam continuamente, e, embora seu salário também aumente em termos nominais, ele não acompanha a subida dos preços.  Os pensionistas gregos são os mais afetados, principalmente aqueles cuja poupança estava nos bancos gregos (e não em outros países da zona do euro).  Ao passo que seus semelhantes na França e na Alemanha tiveram uma perda de 20% em suas contas bancárias (20% é o total de títulos gregos em posse dos bancos europeus), os poupadores gregos descobrirão que agora compram aproximadamente 50% menos com sua poupança (por causa da desvalorização cambial e da inflação de preços crescente na Grécia).
O sistema tributário grego certamente não será ajustado de acordo com a desvalorização.  A consequência será a de que, com rendas nominais maiores, uma maior fatia dos ganhos será tributada.  E o resultado final é que pessoas com renda real mais baixa — e até então isentas — também terão de pagar imposto de renda.  Isso gerará um grande fardo sobre toda a economia, o qual poucos serão capazes de identificar.  Tradicionalmente, a culpa será atribuída aos altos preços da energia importada.
Após algum tempo — talvez alguns anos —, os salários dos trabalhadores gregos já terão subido, em termos nominais, o bastante para acabar com aquela "vantagem comparativa" inicial.  Os impostos reais mais altos começarão a introduzir uma persistente obstrução na economia grega.
Adicionalmente, o sistema financeiro grego já se tornou deficiente e inconfiável.  Após a desvalorização, ninguém mais está disposto a conceder mais empréstimos em dracmas.  Afinal, quem vai querer correr o risco de ter seus ativos subitamente desvalorizados novamente?  As taxas de juros domésticas já subiram e estão altas, e o volume de empréstimos está baixo. 
Grandes empresas ainda conseguem tomar empréstimos em euros, mas isso não estará disponível para famílias e pequenas empresas.  As famílias, que já foram prejudicadas uma vez, não irão manter sua poupança nos bancos gregos.  O mais provável é que elas descubram maneiras informais de poupar e investir sem recorrer ao sistema financeiro.  Já as famílias mais sofisticadas irão simplesmente utilizar os bancos alemães (mesmo porque os mais ricos já retiraram quase todo o seu dinheiro dos bancos gregos), e sua poupança e seu capital jamais retornarão à Grécia.
Por tudo isso, a economia grega apresentará uma baixa criação de capital, um ambiente de investimentos totalmente distorcido, no qual apenas as grandes corporações conseguem financiamento, e uma baixa criação de empregos.  A economia volta a se estagnar.  Consequentemente, o governo volta a incorrer em déficits orçamentários, uma vez que as receitas tributárias começam a cair e as demandas por serviços assistencialistas cresceram.  Como o governo não mais consegue se endividar em dracmas — só a taxas de juros proibitivas —, ele terá de se endividar em euros.  Mas isso também será difícil, pois o governo já se mostrou inconfiável.  A única opção restante será aumentar ainda mais os impostos. 
À medida que essas dificuldades vão se acumulando, alguns economistas acreditarão ter encontrado a solução: desvalorizar novamente! Essa ideia ganhará o imediato apoio dos grandes exportadores e do setor de turismo, os quais adorariam voltar a ter uma "vantagem competitiva" em termos de mão-de-obra barata. 
Como esses setores já haviam se beneficiado economicamente antes, eles se tornaram mais politicamente influentes.  Por outro lado, os setores que foram prejudicados pela desvalorização, como as empresas que dependem de importações e as voltadas exclusivamente para o mercado doméstico, já perderam toda a sua influência política.  Sendo assim, o sistema político passa a ser guiado apenas pela ideia de mais desvalorizações.
Com a imposição de novas desvalorizações, todo o ciclo se reinicia: o setor exportador e o setor turístico ganham um impulso temporário, mas todo o restante dos trabalhadores gregos perde poder de compra, e seu custo de vida sobe.  A inflação de preços dá outro salto.  O imposto de renda continuará não sendo corrigido pela inflação — pois o governo precisa de todas as receitas possíveis —, o que gerará um confisco cada vez maior da renda real das pessoas e empresas, o que, por sua vez, prejudicará ainda mais os investimentos.
Já os outros países da zona do euro muito provavelmente não ficarão passivos perante os setores exportador e turístico gregos.  É provável que imponham pesadas tarifas sobre as importações e também sobre a conversão de euros em dracmas.
A conclusão é que a desvalorização funciona apenas por algum tempo, e é benéfica apenas para poucos setores muito específicos — e ainda assim apenas no curto prazo.
Em termos gerais, a desvalorização da moeda prejudica toda a população, pois esta é roubada do seu poder de compra, é submetida a uma grande inflação de preços, e acaba ficando sem acesso a bens importados de maior qualidade. 
Um governo que desvaloriza sua moeda está, na prática, fechando suas fronteiras aos bens estrangeiros, isolando sua população (e prejudicando principalmente a fatia mais pobre, agora proibida de comprar produtos estrangeiros mais baratos), reduzindo sua renda, e destruindo enormemente seu padrão de vida.
Economista que realmente acredita que desvalorizar a moeda é o caminho para a prosperidade está, na prática, dizendo que uma sociedade formada por uma minoria exportadora e rica e por uma maioria que não tem nenhum poder de compra é o arranjo ideal. Está dizendo que uma redução compulsória da renda total da população representa prosperidade e enriquecimento. Não faz absolutamente nenhum sentido.
O que aconteceu com a Argentina em 2002, quando a súbita desvalorização do peso fez com que fosse quase impossível para muitas mães comprarem leite para seus filhos, pode perfeitamente acontecer com a Grécia em 2015.  É muito difícil uma desvalorização da moeda passar impune.

terça-feira, 30 de junho de 2015

EUA tinham mente brilhante; Brasil tem a sua mente confusa, que aliás so mente - Merval Pereira

 

"Não há Tiradentes nessa história que a presidente Dilma tenta recontar, e nem ela foi uma lutadora pela democracia, como pretende hoje"

 
Merval Pereira 
O Globo, 30.6.2015 
 
 

 

A presidente Dilma, infelizmente para nós brasileiros e para o país, não tem o dom de organizar seu pensamento. Se fosse apenas uma dificuldade de se expressar, como quando resolveu louvar a mandioca e chamou-a de “grande conquista brasileira”, já seria difícil para uma autoridade que tem obrigação de explicar seus atos a cada instante de seu governo.
Mas quando o pensamento equivocado é também embaralhado, aí já se torna um problema político-institucional. Se a presidente diz que não respeita delatores, ela está partindo do princípio de que o presidente da UTC Ricardo Pessoa, e outros executivos que fizeram suas delações premiadas, estão revelando fatos verdadeiros que deveriam ser escondidos.
Sim, por que só pessoas que estão por dentro das conspirações ou das bandidagens podem delatar seus companheiros em troca de algum benefício da Justiça. Foi, aliás, para evitar que as revelações sobre crimes fossem desqualificadas pelos interessados que o que chamamos popularmente de “delação premiada” tem o nome oficial de “colaboração premiada”.
Mas, de qualquer maneira, a presidente Dilma tratou de jogar sobre Ricardo Pessoa a pecha de traidor, comparando-o a Joaquim Silvério dos Reis, o que a deixa mal e a todos os denunciados pelo empreiteiro. E ela não percebe essa incongruência, o que faz com que prossiga em linha reta para o abismo sem que ninguém possa ajudá-la, já que, sabe-se, ela não admite contestações. 
“Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente. Até, em alguns momentos, fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem que resistir, porque se não você entrega seus presos.”
Nessa frase, temos de tudo: uma confusão entre seu papel como guerrilheira, e o dos petistas que se meteram no mensalão e no petrolão; uma ignorância assombrosa da diferença entre democracia e ditadura e, sobretudo, a insensatez de comparar os inconfidentes mineiros com os mensaleiros e petroleiros, que podem ser tudo, menos patriotas heróicos em luta contra uma opressão estrangeira.
Não há Tiradentes nessa história que a presidente Dilma tenta recontar, e nem ela foi uma lutadora pela democracia, como pretende hoje. A tortura de que ela e muitos outros foram vítimas é uma página terrível de nossa história, mas não pode servir de desculpa para justificar meros roubos de uma quadrilha que tomou de assalto o país nos últimos 12 anos, nem para isentar os eventuais desvios cometidos pela presidente.
Ao contrário, aliás, muitos fazem hoje a comparação da sanha arrecadatória do governo federal com os “quintos do inferno” que a colônia portuguesa tirava do Brasil. Quanto à insinuação de que os presos hoje pela Operação Lava-Jato sofrem torturas como no tempo da ditadura, só mesmo a politização da roubalheira justifica tamanho despautério.
A propósito, o jurista Fabio Medina Osório, especialista em questões de combate à corrupção e improbidade administrativa, Doutor em Direito Administrativo pela Universidade Complutense de Madri e Presidente do Instituto Internacional de Estudos de Direito do Estado (IIEDE), “olhando o direito comparado e o que ocorre hoje no mundo em termos de combate à corrupção”, discorda dos que consideram abusivas as prisões preventivas decretadas pelo juiz Sérgio Moro.
“Não apenas nos EUA, mas na Europa, as prisões cautelares têm sido utilizadas no início de processos ou quando investigações assinalam elementos robustos de provas”, ressalta, lembrando os casos do ex premier de Portugal, José Sócrates, e os dirigentes da FIFA, presos cautelarmente por corrupção - e alguns em avançada idade - seguem encarcerados.
“A ideia não é humilhar ninguém, mas, diante do poder econômico ou político das pessoas atingidas, estancar o curso de ações delitivas de alto impacto nos direitos humanos, tal como ocorre no combate à corrupção.
Medina Osório lembra que “nos termos da Lei Anticorrupção, as empresas deveriam ter aberto robustas investigações para punir culpados e cooperar com autoridades, talvez até mesmo afastando os executivos citados nas operações, se constatadas provas concretas ou indiciárias de suas participações em atos ilícitos”.
Ao não cooperar nem apurar os atos ilícitos noticiados, “as empresas sinalizam que estão ainda instrumentalizadas por personagens apontados pela Operação Lava Jato como os possíveis responsáveis”.
Para Medina Osório, vale indagar: o que é realmente novo aqui no Brasil? “Prisões democráticas, onde cabem ricos e pobres, convenhamos”.

Barao do Rio Branco e sua estratégia naval - livro de João Paulo Alsina

O livro derivado da tese de doutorado de João Paulo Alsina - que reinterpreta o significado do legado do Barão do Rio-Branco à luz do programa de reaparelhamento naval brasileiro da primeira década do século XX - acaba de ser publicado pela FGV:


  • ISBN: 978-85-225-1682-7
  • Ano: 2015
  • Número de páginas: 404

Rio-Branco, grande estratégia e o poder naval

Autor(es): João Paulo Soares Alsina Júnio
R$ 45,00

 http://editora.fgv.br/rio-branco-grande-estrategia-e-o-poder-naval

"O Brasil atravessa crise profunda, cuja solução, ainda que parcial, demandará uma verdadeira reinvenção do País. Um novo olhar sobre a história representaria passo importante nessa direção: Rio-Branco, Grande Estratégia e o Poder Naval nos ajuda a refletir sobre o que fizemos de errado ao longo do nosso percurso histórico e os mitos do passado que nos aprisionam ainda hoje.
    
     Ao reinterpretar o legado de um dos emblemas do nacionalismo brasileiro, João Paulo Soares Alsina Jr. nos apresenta um barão do Rio-Branco muito distinto daquele difundido pelas narrativas oficialistas. O programa de reorganização da Marinha na primeira década do século XX - a mais importante iniciativa de incorporação de armamento naval da nossa história - serve de pano de fundo para a inquirição sobre a visão de mundo do Patrono do Itamaraty.
            O brilhante estudo desenvolvido pelo autor nos revela um estadista pragmático, realista, profundamente consciente de que, sem poder militar respeitável, o país estaria condenado à dependência e a uma posição subalterna no concerto das nações. Rio-Branco defendia a estreita simbiose entre diplomacia e defesa, voltada a permitir que o Brasil atuasse no plano internacional a partir de posição de força, jamais de fraqueza.
            Como decisiva contribuição à historiografia sobre um dos raros heróis nacionais brasileiros, este livro está destinado a se tornar marco incontornável sobre a obra do nosso diplomata-mor e o papel desempenhado pelas Forças Armadas na história do País."


DEPOIMENTOS SOBRE RIO-BRANCO, GRANDE ESTRATÉGIA E O PODER NAVAL

Ao mostrar, com precisão analítica e factual, os equívocos do oficialismo historiográfico acerca do barão – que o vê como um pacifista que só esgrimia argumentos históricos e geográficos -, o trabalho de Alsina Júnior está destinado a ser um ponto de inflexão nos estudos sobre a vida e a obra do nosso maior diplomata.
Carlos Ivan Simonsen Leal, Presidente da Fundação Getúlio Vargas
João Paulo Alsina Jr. alerta para um tema que continua válido hoje, como ao tempo de Rio Branco: o desenvolvimento em paz e tranqüilidade precisa do respaldo de poder militar que o garanta. Rio Branco entendia assim, para o bem de nossa história.
Mario Cesar Flores, Almirante-de-Esquadra
João Paulo Alsina Jr., o mais destacado diplomata-acadêmico de sua geração, lustra o legado de Rio Branco. Diplomatas sim são importantes para um país. E sobretudo para o Brasil, pois foi sob a égide do maior de todos que se construíram as nossas fronteiras. Por sinal, o Brasil deve ser o único país no mundo que tem um diplomata como Herói da Pátria. O novo e instigante trabalho de Alsina Jr. honra as tradições semeadas pelo nosso patrono.
Hélio Vitor Ramos Filho, Embaixador
(...) um estudo impressionante (...) Baseado em pesquisa exaustiva João Paulo Alsina Jr. demonstra que o Barão do Rio-Branco (...) apoiou o rearmamento naval (...) para atingir, a um só tempo, os objetivos diplomáticos que proporcionaram a atual conformação geográfica do país e a posição proeminente obtida no equilíbrio regional de poder no início do século XX. No Brasil contemporâneo, o mantra oficial de que "o Brasil não tem inimigos" tanto interpetra equivocadamente a realidade da diplomacia esposada pelo Barão do Rio-Branco quanto demonstra que o Brasil ainda não está pronto a assumir a liderança regional, sem falar na global, que se esperaria de um país com tamanho, população e riqueza equivalentes.
Thomas BruneauProfessor Emérito, Naval Postgraduate School, Monterey, California.
O Brasil sempre foi um país pacífico que resolveu os seus conflitos pela via diplomática. (...) Ou não? Com profundidade erudita e fervor nacional,  Alsina Jr. demonstra que o Barão não agia por principismo nem juridicismo abstrato. (...) Foi esse pragmatismo que o levou a desenvolver instrumentos de hard power, entre os quais o estratégico poder naval. Combinando a análise histórica das políticas externa e de defesa do Brasil, este livro é fundamental para perceber a brecha que separa o discurso oficial da realidade dos fatos.
Andrés Malamud, Professor de Ciência Política,  Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa

Plano nacional de Comercio exterior: tu quoque, Itamaraty, ou fofoca maldosa?

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Críticas de Lula a Dilma causam mal estar no governo (Fonte: Reprodução/Agência Brasil)
Coluna Esplanada

Dilma mais abandonada

A presidente Dilma Rousseff se vê abandonada pelo corpo diplomático -- mais ‘lulista’

por Leandro Mazzini
Não bastasse a bola nas costas dada pelo ex-presidente Lula, que assume publicamente o papel de maior opositor na tentativa de dela se descolar, a presidente Dilma Rousseff se vê abandonada pelo corpo diplomático — mais ‘lulista’. A maior prova se deu na última quarta-feira (24), quando os convidados notaram a ausência da cúpula do Itamaraty — e até de embaixadores e diplomatas de segundo escalão — no lançamento do Plano Nacional de Exportações. Metade das cadeiras vazias foi retirada do salão.

Uma pequena tragedia pessoal: relembrando Lupiscinio Rodrigues - arquivos de trabalhos PRAlmeida

Aconteceu uma tragédia, pelo menos para mim. Dezenas de trabalhos originais, muitos dos quais eu não havia feito back-up, e não tinha feito cópia em lugar nenhum, simplesmente desaparecem de meu computador.
Toda uma seção de meus arquivos originais, contidos na pasta de trabalhos de 2015, se volatilizou no ar, e não encontro em nenhuma parte de meus dois computadores, o laptop e o de mesa. Fini, kaput, disappeared, lost, scomparsi, perdus, obliterados, se fueran...
Tragédia...
Como eu não acredito em bruxas ou em teorias conspiratórias -- a ponto de acreditar que algum agente do da CIA, do FSB, do Mossad, da SDECE, da ABIN, da DGI e do PT -- entraram subrepticiamente no meu computador, expressamente com o desejo de apagar, deletar, incinerar 75 arquivos correspondendo a trabalhos originais, só posso atribuir o desaparecimento à minha própria inépcia, uma dessas noites em que fico dormindo em cima do teclado, tentando trabalhar, ao mesmo tempo em que leio jornais e revistas, vejo o noticiário na TV e tento prestar atenção ao que minha querida Carmen Lícia comenta, alerta, pede, conversa comigo, e por inadvertência, sonolência ou loucura induzida acabei simplesmente apagando da pasta.
Maldição: eu ainda não havia feito back-up, e não tenho uma pasta de reserva.
A gente sempre promete fazer back-up algum dia, e vai se arrastando até encontrar tempo útil, até que uma tragédia como esta se abate sobre nossas cabeças, como as chuvas que Deus mandou (mas ele pelo menos avisou o Noé antes, a mim, necas de pitibiribas, pois deve ter ficado com raiva de que sou um irreligioso, e não temente a seus poderes universais).
 Não sei porque me lembrei agora daquela velha canção do Lupiscínio Rodrigues que segue naquela toada do amor perdido para outro alguém: "Você sabe o que ter um amor, meu senhor?..."
Pois é, eu preciso ter nervos de aço para aguentar.
Da relação dos trabalhos de 2015, foram preservados o primeiro, de n. 2.741 até o n. 2760. 
Daí para a frente, até o último, feito ainda dois dias atrás, simplesmente não existem traços. Ele era o de n. 2.836, ou seja, são 76 trabalhos que se volatilizaram, sem que eu saiba explicar como, por que, quando, e por onde isso foi acontecer.
Agora estou tendo de reconstruir penosamente esses arquivos, com base nos materiais que foram publicados, e que podem ser recuperados a partir dos veículos de divulgação (inclusive o meu blog), mas existem vários que já estavam prontos, esperando revisão, e que simplesmente não tenho onde buscar. 
Idiota...
 Vamos em frente...
Lupiscínio, deixa tua harpa de lado, OK?
Você sabe o que é ter um amor, meu senhor?

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 30 de junho de 2015

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Congresso em Foco ou Corrupcao em Foco - um boletim realista

O boletim se chama "Congresso em Foco", mas a edição desta segunda-feira 29 de junho de 2015 tem 80% de suas matérias concentradas em questões de corrupção, mais exatamente 77%.
O Congresso e os políticos são isso mesmo?
Paulo Roberto de Almeida

Oposição discute pedido de impeachment
Lideranças oposicionistas se reúnem, nesta segunda-feira, para discutir que estratégia adotar em relação às revelações da delação premiada do empresário Ricardo Pessoa. Petistas pretendem traçar defesa em encontro com Lula Leia mais

‘Sérgio Moro tem traços de paranoia’, diz deputado do PT
Ex-presidente da OAB-RJ, Wadih Damous afirma que a Operação Lava Jato deveria ser anulada pelo STF devido às “arbitrariedades” do juiz responsável pelas investigações, Sérgio Moro. “Ele usa a prisão para chantagear”, acusa. Para deputado, delação é “farsa” Leia mais

PT cobra Cardozo por atuação da PF na Lava Jato e na Acrônimo
Executiva do partido aprova convite para ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, dar explicações sobre operações da Polícia Federal, subordinada a ele. Petistas responsabilizam colega de partido por ações contra Vaccari e Fernando Pimentel Leia mais

Lista da UTC reúne políticos do PT ao PSDB
De acordo com a revista Veja, Ricardo Pessoa citou 18 políticos que receberam como doação eleitoral dinheiro desviado do esquema de corrupção na Petrobras. Campanha de Dilma foi beneficiada com R$ 7,5 milhões, segundo delator Leia mais

Campanha de Dilma teve ‘caixa dois’, diz delator
Denúncia é do ex-presidente da UTC, Ricardo Pessoa. Segundo ele, R$ 3,6 milhões foram repassados sem que os recursos fossem declarados durante a disputa presidencial de 2010 Leia mais

CPI da Petrobras quer ouvir Ricardo Pessoa na próxima semana
Convocação de ex-presidente da UTC Engenharia foi aprovada em abril, mas deputados aguardavam pela homologação da delação premiada. Delator citou repasses de recursos obtidos de maneira ilícita a 18 políticos, inclusive para a campanha de Dilma Leia mais

Oposição quer convocar Edinho Silva, Filippi e Mercadante na CPI da Petrobras
Deputada Eliziane Gama vai apresentar requerimento nesta segunda-feira para ouvir ex-tesoureiros da campanha de Dilma e Lula e ministro da Casa Civil sobre informações prestadas pelo empresário Ricardo Pessoa, da UTC, em sua delação premiada Leia mais

Mercadante vê ‘ênfase’ no ataque ao PT em delações
Em entrevista coletiva, ministro da Casa Civil diz que, embora reconheça que ‘problemas graves’ ocorreram, há também luta política por trás de denúncias contra o governo e o seu partido Leia mais

Edinho se diz indignado com ‘vazamento seletivo’ de delação
Coordenador financeiro da campanha de Dilma, ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência afirma que há ‘criminalização seletiva’ das doações para o PT. Segundo ele, toda a arrecadação foi feita com base em princípios éticos e legais Leia mais

Empresário afirma que pagou R$ 1 milhão por liberação de obra no TCU
Ricardo Pessoa disse que quantia foi pedida pelo advogado Tiago Cedraz, filho do atual presidente do tribunal de contas, para liberar licitação de obra da usina nuclear Angra 3. Segundo ele, Tiago lhe repassava informações privilegiadas em troca de repasses mensais de R$ 50 mil Leia mais

Delator diz que pagou R$ 20 milhões a grupo de Collor
Em sua delação premiada, dono da UTC afirma que repassou a um amigo do ex-presidente, que dizia falar em seu nome, comissão equivalente a 3% por um contrato de R$ 650 milhões fechado pela empreiteira com subsidiária da Petrobras, afirma revista Veja Leia mais

Pimentel é apontado como ‘chefe da organização’ de lavagem de dinheiro, diz revista
Governador de Minas e sua esposa são suspeitos de ter praticado os crimes de corrupção passiva, participação em organização criminosa e lavagem de dinheiro, de acordo com reportagem. Eles negam envolvimento com irregularidades Leia mais

Ex-ministro Guido Mantega é hostilizado pela terceira vez
Ex-ministro da Fazenda é chamado de “ladrão”, “sem vergonha” e “palhaço” em restaurante em São Paulo enquanto almoçava com a família. Ele já havia sido insultado em outro restaurante e no Hospital Albert Einstein, também na capital paulista Leia mais

Itamaraty: diminui o auxilio residencia

Cortes atingem aluguéis de diplomatas 
João Valadares
Correio Braziliense, 29/06/2015

O ajuste fiscal da presidente Dilma Rousseff (PT), que prevê corte de gastos do governo e elevação de impostos para aumentar a receita, atingiu os servidores do Itamaraty, incluindo diplomatas, que trabalham em postos no exterior classificados como A e B. A tesoura ocorre no subsídio da chamada Residência Funcional (RF). O Itamaraty gasta por ano US$ 64,54 milhões com auxílio-moradia e paga uma média de US$ 2,9 mil por contrato. Pela nova regra, dependendo do valor do aluguel, os servidores do Itamaraty que cumprem missão em cidades com melhor qualidade de vida vão ter de desembolsar até 30% do valor total.
A decisão, publicada em 8 de junho, já atinge aqueles que vão renovar os contratos agora. A chiadeira é grande, principalmente daqueles que têm filhos e desempenham papel de representação. Nesses casos, alegam que o imóvel precisa ter um bom padrão. Pela regra antiga, a pasta cobria 90% até o limite para cada posto. Era um incentivo escolher uma residência com um preço perto do teto estabelecido, uma vez que o funcionário arcaria com 10% do salário de qualquer maneira. Agora, os cálculos mudam em razão do valor global da locação. O Itamaraty só se compromete em reembolsar integralmente a quantia paga se o servidor escolher morar numa residência cujo valor corresponda a até 70% do limite estabelecido por categoria funcional em cada posto.
O aluguel que se situar numa faixa acima de 70% e até 80% do teto, o funcionário terá que arcar com 10% do valor. Quando o contrato estiver acima de 80% e até 90% do limite, o desembolso do funcionário será de 20%. Aqueles que escolherem morar em locais com cifras acima de 90% do teto, o Itamaraty só se compromete com o pagamento de 70% do aluguel. “Não queremos luxo. O fato é que estamos em missão diplomática. Eu tenho filho e não posso alugar um quarto e sala. Os preços aqui são exorbitantes. Fiz uma programação e já vou ser atingido agora”, afirmou um diplomata brasileiro que mora em Nova York.
Outro diplomata, com residência em Miami, concordou com a nova regra. “Há uma chiadeira. Mas era uma medida que deveria ter sido tomada faz tempo. A chiadeira maior não é nem pela medida em si. Mas pelo item que acaba fazendo com que as renovações dos contratos vigentes também sejam atingidas”, argumentou. O Ministério das Relações Exteriores informou, por meio da assessoria de imprensa, que deu início a medidas administrativas para melhorar a qualidade do gasto e também adequar-se às realidades orçamentário-financeiras. “As novas regras buscam gerar economia para o ministério e também para os servidores de todas as categorias funcionais lotados no exterior, que poderão optar por valores contratuais mais baixos a fim de diminuírem a parte que lhes cabe no pagamento de seus aluguéis”, informou. A pasta não afirmou quanto será a economia com a nova medida.