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sábado, 6 de janeiro de 2018

Contra a anti-globalizacao: meu paper mais acessado - Paulo Roberto de Almeida

Desde pelo menos três anos venho sendo surpreendido por acessos em série a um dos meus textos de síntese sobre o movimento antiglobalizador, hoje praticamente desaparecido, esmagado pelo seu objeto de vãs pancadarias.
A razão é simples: esse texto foi indicado por um professor que desconheço quem seja -- mas possivelmente conhecido pessoalmente -- num curso online sobre relações internacionais do Instituto Legislativo Brasileiro.
Originalmente o texto havia sido colocado em meu site pessoal, mas o link foi descontinuado, devido a problemas com o provedor, e tive de recomeçar a postar tudo de novo, tarefa ainda não acabada.
No intervalo, entre um provedor e outro, carreguei a maior parte dos textos mais interessantes na plataforma Academia.edu, onde ele pode ser descarregado mediante simples tarefa de acesso. Ele também foi postado no blog Diplomatizzando (em 11/07/2016; link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2016/07/contra-antiglobalizacao-um-texto-de.html).
Como aparentemente vou ter de começar a desmantelar outro mito de nossa época -- o tal de globalismo -- aproveito para postar novamente meu trabalho original sobre os antiglobalizadores, pois talvez algumas de minhas críticas sejam igualmente válidas para este segundo grupo, pelo menos no plano metodológico.

Eis a ficha original do trabalho:


1297. “Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador”, Brasília, 5 de julho de 2004, 23 p. Ensaio, de caráter contestador, das principais ideias e princípios do movimento antiglobalizador, discutindo seus fundamentos, demonstrando suas contradições teóricas e insuficiências intrínsecas e expondo sua falta de racionalidade econômica e a ausência de fundamentação histórica. Publicado de forma parcial e sucessiva na revista eletrônica Meridiano 47, números  49 (julho 2004) a 58 (maio de 2005). 
Ensaio incorporado ao livro: Paralelos com o Meridiano 47: Ensaios Longitudinais e de Ampla Latitude (Hartford, 2015).  
Disponível nas plataformas Academia.edu (http://www.academia.edu/5873102/1297_Contra_a_antiglobaliza%C3%A7%C3%A3o_Contradi%C3%A7%C3%B5es_insufici%C3%AAncias_e_impasses_do_movimento_antiglobalizador_2004_) e Research Gate (https://www.researchgate.net/publication/322297090_Contra_a_anti-globalizacao_Contradicoes_insuficiencias_e_impasses_do_movimento_anti-globalizador?_iepl%5BviewId%5D=0dXymgFZT730Vh50qP6fE6BK&_iepl%5Bcontexts%5D%5B0%5D=projectUpdatesLog&_iepl%5BtargetEntityId%5D=PB%3A322297090&_iepl%5BinteractionType%5D=publicationTitle).
O mesmo texto acabou incorporado ao meu livro  Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (Rio de Janeiro: Lumen Juris Editora, 2011, xx+272 p.; ISBN: 978-85-375-0875-6).  

Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento

Paulo Roberto de Almeida
(texto original: Brasília, 5 de julho de 2004)


1. Uma longa (mas necessária) introdução metodológica e de princípios
Se posicionar contra ou a favor de coisas em geral, sejam elas ideias, processos, movimentos, pessoas ou princípios, dá um pouco mais de trabalho do que simplesmente ser acomodado, passivo ou mesmo indiferente. Decidindo ser contra ou a favor de algo, o dono da posição tem, em geral, de se justificar perante outros, explicar os motivos de sua postura, defendê-la de ataques ou contestações que possa julgar equivocados, enfim, fazer qualquer coisa que torne suas ideias não apenas “melhores” do que outras, que são concorrentes ou alternativas, mas também compatíveis com os princípios pelos quais ele afirma pautar sua vida, sob risco, em não o fazendo, de ser acusado de inconsequente ou, simplesmente, de contraditório.
Ser contra ou a favor de um conjunto de ideias dá, portanto, um certo trabalho, pois que em geral se é obrigado a deixar a acomodação monótona dos slogans rápidos ou o simplismo redutor das idées reçues – isto é, as velhas crenças, sem fundamentação empírica ou validade prática – para pesquisar sobre os fundamentos das posições que se está defendendo, investigar suas causas e consequências, examinar a validade dos argumentos em favor de posições opostas – do contrário como seria possível recusá-las, tão simplesmente? –, bem como destrinchar as “fortalezas” de suas próprias posições e tornar evidentes as “fragilidades” das ideias alternativas.
Isso parece complicado e trabalhoso demais? Seria preferível, talvez, a placidez de algum consenso geral? Isso não existe: concordância de opiniões não é uma realidade muito presente nas sociedades democráticas, sobretudo em relação a fenômenos ou processos que são inerentes à própria dinâmica social na qual se vive, como é o caso da globalização. É assim inevitável que sobre ela persistam tantos debates e tanta polêmica.
Não tenho, portanto, a mínima intenção de interromper esse fluxo enriquecedor, preferindo, ao contrário, alimentar o debate com meus próprios argumentos, que como indica o título deste ensaio, tende a colocar-me em oposição aos partidários da antiglobalização, cobrando-lhes consistência na ideias e racionalidade de propósitos. Sinto muito por trazer algumas angústias aos que têm suas causas a defender no partido da anti, mas este é o preço da coerência que deve existir entre as ideias gerais e as ações na vida prática: é preciso ter um mínimo de racionalidade e de consistência intrínseca, se se pretende fazer com que as ideias próprias, ou as do movimento a que se pertence, tenham aceitação geral, sejam triunfantes na vida social e sejam, não apenas adotadas pelos que nos governam, como implementadas na prática. Não é isso afinal o que pretendem todos os que têm ideias a defender?: que elas sejam disseminadas, o mais amplamente possível, e convertidas em realidade?
Creio que sim, e é isso também que me anima a escrever, em primeiro lugar para mim mesmo – afinal, trata-se de excelente método para afinar as próprias ideias –, em segundo lugar para alunos, leitores ocasionais ou os simples curiosos que frequentam eventualmente as páginas de meu site, ou que podem ler o que escrevo em boletins eletrônicos. Como sabem alguns desses leitores, não sou de fazer concessões políticas, não costumo ceder a argumentos ilógicos, nem sou levado por modismos ideológicos. Apenas cultivo a modesta racionalidade dos argumentos que fazem sentido, que não ofendem os dados da realidade e que se conformam a testes de validação empírica. Meu único partido é a falta de partido, justamente.
Com o perdão dos leitores por esta longa digressão introdutória, eu escrevi tudo isto como forma de abrir um debate – que, sei, não terá seguimento – sobre um dos mais curiosos e surpreendentes fenômenos destes tempos de globalização e que conforma, ao mesmo tempo, um paradoxo: o fato de pessoas medianamente inteligentes – todas da classe média para cima –, ou mesmo de indivíduos tidos como de inteligência superior –ostentando títulos universitários, livros publicados, espaços na imprensa, homenagens recebidas, enfim, credenciais reconhecidas pela mídia – se posicionarem de forma veementemente contrária ao processo de globalização (refiro-me, obviamente a “esta” globalização, que eles costumam chamar de “capitalista”). A curiosidade está em que, contra tantos argumentos contrários às suas posições, eles façam sucesso, e o paradoxo (ou a ironia) é que esse sucesso se deve inteiramente ao processo de globalização, que eles condenam com tanta veemência.
Com efeito, não há fenômeno mais disseminado, mediatizado e de maior sucesso público nos últimos anos do que o chamado altermundialismo, também chamado de antiglobalização, termo que prefiro e já explico por quê. O altermundialismo, como ele mesmo se proclama, é um movimento que defende que um outro mundo é possível, ou seja, um mundo diferente do atual, talvez oposto, ou em todo caso melhor do que o que agora temos: injusto, desigual, contraditório, cheio de misérias e tragédias, feito de exploração do homem pelo homem, de dominação política, de guerras imperialistas, mas também de guerras civis, guerras tribais, limpezas étnicas, degradação da natureza, esgotamento de recursos, bref, um mundo horrível, capitalista e desigual, que caberia eliminar, ou pelo menos substituir por outro melhor. Mas é um fato, também, que o mundo está sempre mudando: já não temos tantas guerras como antigamente, menos pessoas morrem de fome ou doenças, hoje temos penicilina, saneamento básico, um pouco mais de direito e, certamente, mais justiça e democracia também. Enfim, o mundo mudou, embora talvez não no ritmo e na extensão que seriam desejáveis, mas ele mudou, e para melhor, nos últimos dois ou três séculos de revolução industrial e de globalização capitalista (usemos este adjetivo que incomoda muita gente, mas que expressa a realidade que os altermundialistas querem recusar).
Se o mundo mudou, e continua mudando a cada dia, a caracterização usada pelos altermundialistas é, no mínimo, tautológica, ou redundante, motivo pelo qual devemos recusar esse conceito. Mas, há um motivo a mais pelo qual esse conceito é inoperante, pouco prático e no mínimo carente de significado. É porque ele promete coisas que é incapaz de entregar, ou seja, a própria definição prometida em sua caracterização enquanto grupo. Se esse movimento é a favor de um outro mundo, que já indica ser possível sem qualquer tipo de demonstração positiva, ele deveria dizer, de imediato, qual é, como se organiza, quais são os fundamentos materiais, espirituais, arquitetônicos e conceituais desse outro mundo que seus proponentes proclamam de modo contínuo na internet e nos encontros ruidosos nos quais eles martelam um pouco mais a ideia, sem desenvolvê-la de fato. Portanto, o conceito não nos serve, até que ele venha recheado de algo mais e, por isso, estou jogando-o na lata de lixo da história.
Fiquemos, portanto, na antiglobalização, que ela, sim, é um movimento de sucesso, aliás, muito mais ruidoso e organizado do que o dos altermundialistas (que são apenas um pequeno bando de irredutíveis gauleses); o movimento antiglobalizador foi constituído para se opor a algo de concreto, a globalização que “está aí, aos nossos olhos”, contra a qual se mobilizam todos aqueles que têm algumas ideias na cabeça (partimos da presunção de que todas são consistentes até prova em contrário). Também partimos do pressuposto de que os antiglobalizadores têm algumas soluções alternativas que eles gostariam de propor aos demais, esperando, em algum momento, que elas sejam aceitas pelos que decidem e que possam, assim, converter-se algum dia em realidade. Como vêem, parto do pressuposto de que os antiglobalizadores têm algo a dizer, que esse algo faz sentido, que seus argumentos merecem ser considerados e que vale a pena, a despeito do seu caráter heteróclito, debater com esse movimento ruidoso, ainda que ela me pareça marcado por uma certa cacofonia conceitual. Confesso, também, que tenho tido certa dificuldade em identificar precisamente as “ideias” dos anti, na medida em que eles parecem mais propensos a fazer manifestações do que em colocar no papel, de forma ordenada, seus argumentos anti, ou mesmo a favor de alguma coisa, qualquer coisa que permita substituir “esta” globalização por outra.
Rendendo modesta homenagem à minha tribo de origem, os sociólogos, considero, de minha parte, que o movimento antiglobalizador é uma ideologia, e que, como todas as ideologias, parte de uma certa concepção do mundo e da realidade, concepção que recusa o mundo como ele é e que pretende mudar-lhe os fundamentos ou o seu modo de funcionamento, de modo a torná-lo mais conforme aos princípios e ideias defendidos por esse movimento. Chamemos a esse movimento “ideologia da antiglobalização”, se me permitem o empréstimo de sabor levemente marxista. Não há nenhum preconceito nesta caracterização, pois eu aceito que chamem à minha própria concepção do mundo “ideologia da globalização”, com todas as consequências que isto implica, isto é, o desejo de fazer com o que o mundo também se conforme àquilo que eu julgo ser bom e desejável para seus habitantes, isto é, um pouco mais, ou bem mais, na verdade doses maciças de globalização, com todos os seus efeitos “devastadores” (no bom e no mau sentido).
Admitamos, portanto, que somos ambos “ideólogos”, eu e os adeptos da antiglobalização, e nisto não vai nenhum julgamento preliminar negativo; trata-se apenas de uma constatação. Há uma diferença, porém, entre eu e os antiglobalizadores: eu não pertenço a nenhum movimento, grupo, partido, seita, igreja, confraria, clã ou tribo; não costumo frequentar fóruns pró- ou antiglobalização e não admito nenhum argumento de autoridade que se interponha entre a informação que busco e recebo – de todas as fontes possíveis – e minhas próprias reflexões independentes. Sou um ser livre, tanto quanto me permite a minha condição de assalariado do Estado e atividades acadêmicas à margem da jornada na burocracia pública. Sou eu e meu computador, apenas, no qual escrevo e no qual recolho as informações que me chegam de todas as partes sobre a globalização e o seu contrário, isto é, o quixotesco movimento antiglobalizador.
Faço aqui um último parágrafo introdutório para me desculpar pelo adjetivo usado acima, isto é, “quixotesco”, em relação aos adeptos da anti, mas é que considero, de verdade, esse movimento como sendo quixotesco, isto é, uma figura (neste caso coletiva) levantada de lança em riste contra alguns moinhos de vento que só existem na cabeça dos que esgrimem argumentos antiglobalização, como agora passo a discutir.

2. Contradições da antiglobalização: carência de fatos, de método, de análises
Não é fácil, como disse acima, debater com o pessoal da anti, a começar pelo fato de que não se consegue saber direito o que pensam sobre os temas da globalização e o quê, exatamente, pretendem colocar no “lugar” desse processo. Por mais que eu tenha me esforçado na busca, navegando de site em site, de documento em documento, encontrei poucas propostas concretas desse movimento, alguma sistematização que contivesse as principais ideias, se alguma, sobre a “globalização realmente existente” e esse “outro mundo possível”. Slogans à parte, a consistência analítica esses “escritos” é deficiente, para dizer o mínimo, e sua adequação aos dados da realidade é inexistente.
Para dizer a verdade, existem inúmeros documentos, geralmente de caráter retórico, conclamando a manifestações antes e durante as datas e locais dos encontros oficiais da assim chamada globalização capitalista: o Fórum Econômico Mundial de Davos, em primeiro lugar, obviamente, considerado a bête noire do processo (mas agora que eles têm o seu próprio foro, Davos foi relegado a uma posição secundária), mas também as reuniões do FMI e do Banco Mundial, da OMC, da Alca, e até da UE e da UNCTAD. O tom geral é de indignação, de revolta, mas um exame ponderado dos fatos, que é o mínimo que se requer de qualquer trabalho universitário digno de nota (no sentido de pontuação, mesmo), é algo raro, senão inexistente nos textos da anti. Como, nessas circunstâncias, debater com o movimento?: seria preciso antes dispor da matéria-prima essencial a qualquer debate: ideias sistematizadas, claramente expostas, método.
Não só não é fácil, como na verdade não é permitido debater com esse pessoal, na medida em que, pelas próprias regras estatutárias dos anti, só participam dos encontros do Fórum Social Mundial – o arauto le plus en vue da antiglobalização (junto com a ATTAC e outros foros menores) – aqueles movimentos e entidades da sociedade civil que se declaram de acordo com sua Carta de Princípios. Ou seja, não é permitido ser a favor da globalização, ainda que eles o sejam, na prática, ao usarem e abusarem de todas as facilidades permitidas pela globalização para se informar, se reunir e debater. Qualquer outra pessoa física ou movimento, todavia, só pode participar se declarar-se a favor de um documento extremamente vago em seu conteúdo e definições.
Alguém que seja um anti da anti, como eu mesmo, não apenas está sumariamente excluído, ab initio, como jamais será cogitado para comparecer em algum foro. Registro aqui, ipsis litteris, o que figura nos procedimentos do FSM: “Poderão ser convidados a participar, em caráter pessoal, governantes e parlamentares que assumam os compromissos da Carta de Princípios.” Para participar, portanto, é preciso primeiro comprometer-se com posições dos próprios organizadores, o que não apenas configura um reducionismo absurdo, um verdadeiro cerceamento à liberdade de expressão, como também uma manifestação brutal de “pensamento único”, que eles dizem condenar.
Essa cláusula de participação restrita contradiz, portanto, o primeiro princípio do FSM, que afirma ser ele “um espaço aberto de encontro para o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de ideias, a formulação de propostas, a troca livre de experiências…”, já que só se pode participar sendo a favor das ideias do movimento. E quais são essas ideias? Na verdade, muito poucas, e que já vem consignadas no seguimento desse primeiro princípio acima transcrito: o FSM visa “…a articulação para ações eficazes, de entidades e movimentos da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo…”; isto pelo lado negativo. Pelo lado positivo, continua o texto: as entidades participantes “estão empenhadas na construção de uma sociedade planetária orientada a uma relação fecunda entre os seres humanos e destes com a Terra”.
Se eu fosse impaciente, eu diria: so what?, só isso? De fato é muito pouco para definir um vasto movimento que mobiliza centenas de milhares de pessoas, talvez milhões, em todo o planeta, e que se propõe a grandiosa tarefa de mudar esse mesmo planeta (não esqueçamos a “sociedade planetária”). Mas o 4º princípio – numa carta que alterna, de forma algo anárquica, procedimentos, regras e definições – vai um pouco mais adiante: “As alternativas propostas no Fórum Social Mundial contrapõem-se a um processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais e pelos governos e instituições internacionais a serviço de seus interesses, com a cumplicidade de governos nacionais. Elas visam fazer prevalecer, como uma nova etapa da história do mundo, uma globalização solidária que respeite os direitos humanos universais, bem como os de tod@s @s cidadãos e cidadãs em todas as nações e o meio ambiente, apoiada em sistemas e instituições internacionais democráticos a serviço da justiça social, da igualdade e da soberania dos povos.”
Aqui chegamos um pouco mais perto do que seriam as propostas propositivas – com perdão pela redundância – do movimento. Para minha frustração, no entanto, não encontrei alternativas dignas desse nome, ou pelo menos não de forma sistemática e organizada, de maneira a permitir um diálogo racional com essas “alternativas”. Existem dezenas, provavelmente centenas, de documentos, na “Biblioteca das Alternativas”, mas, à diferença das bibliotecas normais, a dos anti não está classificada, não possui seções, nem “fichas catalográficas” que nos habilitem conhecer as ideias, as propostas e as alternativas apresentadas pelo movimento. Figuram nela tão somente os títulos e a indicação da língua em que se encontram os documentos: percorri vários, muitos deles e, com pesar, recolhi apenas uma sensação de déjà vu again.
De 2001 até os dias que correm, esses documentos são monotamente repetitivos: eles condenam sempre, em termos ásperos, a globalização capitalista, conclamam à mobilização ativa contra as reuniões das organizações internacionais que supostamente pretendem facilitá-la – aquelas mesmas já mencionadas – e terminam pelas promessas de sempre: os antiglobalizadores, por ocasião dos seus próprios encontros, “não vêm manifestar, nem protestar, mas sugerir correções e propor soluções para que, finalmente, de fato, um outro mundo seja possível” (“Antiglobalização”, Ignacio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, da ATTAC francesa e um dos “papas” do movimento, em texto de 4.09.2002). Busquei, em vários outros documentos, essas soluções, essas “correções” prometidas, mas confesso minha frustração: não encontrei nada digno desse nome.
Não que não existam propostas ou “ideias” a respeito da globalização, ou sobre como ela poderia ser mais humana, solidária, economicamente equitativa, socialmente justa e ecologicamente responsável. Mas é que, em minha análise, as propostas ou alternativas à globalização apresentadas pelos anti me parecem desumanas, muito pouco solidárias, economicamente desastrosas, socialmente catastróficas e ecologicamente poéticas, mas insustentáveis no plano prático. Talvez eu esteja sendo apressado demais, ao condenar as alternativas antiglobalizadoras, mas esta é a sensação que me deixou a leitura de praticamente todos os documentos do site www.forumsocialmundial.org.br.
Para ser honesto, comigo mesmo e com os representantes da anti, existe sim uma condição geral para que essa globalização deixe de ser tudo aquilo que ela aparenta ser, aos olhos dos anti: que ela deixe de ser capitalista. Isto, pelo menos, é o que eu deduzo do 11º princípio da Carta de Princípios, que define o fórum como sendo “um movimento de ideias que estimula a reflexão, e a disseminação transparente dos resultados dessa reflexão, sobre os mecanismos e instrumentos da dominação do capital, sobre os meios e ações de resistência e superação dessa dominação, sobre as alternativas propostas para resolver os problemas de exclusão e desigualdade social que o processo de globalização capitalista, com suas dimensões racistas, sexistas e destruidoras do meio ambiente está criando, internacionalmente e no interior dos países”. Em outros termos, se a dominação do capital fosse eliminada, metade (ou pelo menos grande parte) dos problemas da humanidade estaria resolvida.
Ou muito me engano, ou a reflexão não vem sendo muito estimulada nesses encontros, já que não consigo atinar como se pretende eliminar um dos mais poderosos fatores de produção criados com o processo civilizatório, desde a revolução agrícola: o capital (ou talvez mesmo desde o paleolítico inferior, uma vez que armas de pedra ou de madeira são uma forma de “capital”). Seriam os antiglobalizadores astronautas? São eles de outro planeta, ainda não tocado pelo modo de produção capitalista? Acredito que não, o que nos deixaria uma única conclusão: eles são simplesmente anticapitalistas, o que tampouco é consenso entre eles. Com efeito, muitos proclamam não ser contra o modo de produção capitalista, apenas pretendendo melhorar o seu funcionamento.
De fato, ao ler os documentos da “Biblioteca das Alternativas”, constatei que alguns ostentam um anti-capitalismo visceral, ao passo que outros são apenas levemente anticapitalistas. Seriam os antiglobalizadores marxistas, socialistas ou de alguma forma pessoas de esquerda? Dificilmente, pois nada existe de mais antimarxista e de antissocialista do que o pensamento nacionalista, chauvinista ou contrário ao saudável internacionalismo proclamado pelo autor do Manifesto Comunista e d’O Capital. Marx proclamava, antes de mais nada, as virtudes do capital enquanto redutor das diferenças entre sociedades, em suas diversas etapas de desenvolvimento: ele pretendia que o capital unificasse rapidamente as forças produtivas e as relações de produção nos cantos mais recuados do planeta para que o exército dos proletários pudesse, finalmente, não recusar o capitalismo, mas sim superá-lo a partir de seu acabamento enquanto modo de produção, cedendo lugar a uma etapa superior de organização social da produção. Mas isto eu não preciso relembrar, pois que constitui o “beabá” de qualquer marxista digno desse nome.
O que me surpreende, apenas e tão somente, é que, ao constatar a presença de vários “marmanjos” marxistas no movimento – com isso eu quero me referir aos mais velhos, que ainda leram Marx, já que os mais novos parecem simplesmente ignorar as obras do velho barbudo –, eles não tenham atinado para a existência dessa “contradição insuperável” em seu seio: um marxista consequente deveria estar lutando em favor de mais, não de menos, globalização, pois apenas ela é capaz de trazer para mais perto de nós o dia da derrocada final do capitalismo e sua superação pelo socialismo.
A posição da antiglobalização não é, portanto, marxista ou sequer socialista. O que de fato transparece nos muitos documentos compilados, como indicado no já citado 4º princípio, é um posicionamento dos anti contra o “processo de globalização comandado pelas grandes corporações multinacionais e pelos governos e instituições internacionais a serviço de seus interesses, com a cumplicidade de governos nacionais”. Ou seja, o mal absoluto são as grandes empresas multinacionais, e quem não se posicionar contra elas fica proibido, portanto, de frequentar os encontros do movimento.
No longo prazo, esse posicionamento pode representar uma contradição nos termos, na medida em que o movimento antiglobalizador já se transformou, de fato, em uma grande corporação multinacional, com representação em quase todos os países e com várias “instituições internacionais a serviço de seus interesses”. Assim, se ele, por acaso, numa hipótese não de todo irrealizável, conquistar governos – como parece que já conseguiu convencer alguns e dispõe de muitos aliados em outros, inclusive perto de nós –, ele se tornará uma força irresistível, capaz de mudar de verdade a face do planeta. Apenas não sei se para melhor, como uma análise de algumas de suas propostas alternativas pode demonstrar.

3. Pensando o impensado: existem ideias concretas sobre temas concretos?
Para facilitar o debate e a confrontação de ideias, entre as minhas próprias e as que parecem defender os anti, resolvi organizar o restante deste texto em torno de algumas questões práticas que costumam concentrar o interesse do movimento. Escrevi “parecem” pois que o movimento não ostenta ideias oficiais, o que é compreensível, pois que não pretende ser ou parecer “autoritário”, e não consolidou suas propostas em um conjunto de alternativas que mereçam ter esse nome. O fato é que eles não apresentam os meios e modos pelos quais suas “ideias” poderiam ser testadas na prática, ou pelo menos ser objeto de simulações econométricas ou de elegantes equações de equilíbrio ao estilo de Keynes (um profeta frequentemente invocado nesses meios).
Como os anti não apresentam esse corpus conceitual, fica muito difícil, o que já é pouco compreensível, considerá-los pelo que eles pretendem ser, um movimento, e não apenas um ajuntamento heteróclito de individualidades, ostentando um conjunto heterogêneo de ideias dispersas. Apresento minhas desculpas antecipadas aos autores de trabalhos dotados de ideias sensatas, mas a reunião de todos esses textos num mesmo barril de baixa coerência intrínseca dá uma horrível impressão de sopa de letras.
Arriscando-me, portanto, a ser injusto com os detentores de ideias menos estapafúrdias (mas, humildemente, eu os convido a me contradizer), aqui estão algumas “ideias” defendidas pelos antiglobalizadores e meus próprios comentários a respeito.

3.1. Protecionismo agrícola e vantagens comparativas dos mais pobres
Vários documentos dos anti insistem numa pouco definida segurança alimentar: segundo esses textos, se deve dar prioridade à alimentação do povo a partir da própria região ou país, e não às exportações ou importações. Para eles, a segurança alimentar e a sustentabilidade rural só podem existir quando um país é capaz de satisfazer uma parte significativa de suas próprias necessidades alimentares. Esta posição transparece em vários documentos franceses, por exemplo, e eu mesmo assisti, pessoalmente, ao representante mais eloquente desse tipo de proposta, Bernard Cassen, da ATTAC, defender esse absurdo na Câmara dos Deputados, em Brasília, sem que nenhum dos parlamentares brasileiros presentes ousasse responder a tamanha sandice econômica e a tão evidente atentado aos interesses exportadores do Brasil.
Parece evidente, aos observadores isentos, que não há qualquer “insegurança alimentar” no mundo como um todo. Desde os tempos de Malthus, a produção agrícola cresceu muito mais rápido do que a “produção” de indivíduos, e ainda que possa haver, ocasionalmente, carências produtivas numa região localizada – geralmente por motivo de guerra civil ou desastre natural –, elas podem ser rapidamente supridas via comércio internacional ou assistência alimentar de emergência. A tese da “segurança alimentar” e a da “multifuncionalidade agrícola” constituem disfarces canhestros do mais egoísta protecionismo agrícola, que tanto mal faz aos povos mais pobres da Terra. Estes não podem utilizar-se de suas vantagens comparativas, que estão todas localizadas no setor primário, para alçar-se da miséria mais vergonhosa, mantida em grande medida graças à concorrência desleal de um punhado de ricos agricultores subsidiados dos países mais avançados. De resto, a indústria e ainda mais os serviços são muito mais “multifuncionais” do que a agricultura, já que estão presentes em todas e cada uma das nossas atividades diárias, não se podendo argumentar sobre sua localização espacial ou eventual isolamento do mercado externo, como se faz em relação à agricultura, sem cometer novos atentados pueris à mais simples racionalidade econômica.
Não tenho nada contra a existência da agricultura familiar, assim como nada tenho a opor a que os países ricos subsidiem suas populações da forma como desejarem, mas eles não podem fazê-lo opondo-se ao livre comércio de produtos agrícolas como vem fazendo e sabotando a comercialização externa da produção agrícola dos países mais pobres por meio de subvenções às suas próprias exportações não competitivas. O protecionismo hipócrita dos países mais ricos está assim roubando, literalmente, os mais pobres de oportunidades de desenvolvimento. A hipocrisia nesse terreno é inaceitável e o movimento antiglobalizador não poderia se fazer cúmplice desse vil atentado aos direitos humanos de milhões de pobres ao redor do mundo. Espero que pelo menos os antiglobalizadores brasileiros saibam desvencilhar-se dessa armadilha que os torna coniventes com um dos piores atentados aos direitos econômicos dos mais pobres.

3.2. Dívida externa, movimentos de capitais e globalização financeira
Um traço que unifica as mais diversas correntes do movimento antiglobalizador é, sem dúvida alguma, sua oposição ao pagamento da dívida externa dos países mais pobres e, de modo geral, à livre movimentação de capitais financeiros. Outra medida, de caráter propositivo e não simplesmente negativo como a do cancelamento das dívidas – traduzidas na prática por “plebiscitos” tão canhestros quanto viciados em sua indução automática ao não-pagamento, sustentado de forma piegas na “miséria do povo” –, é a que apresenta uma taxação sobre a movimentação de capitais, dita Tobin Tax, como sendo o remédio milagre tanto à volatilidade financeira quanto ao problema do não desenvolvimento dos países mais pobres. Rejeitada pelo próprio economista, James Tobin, que sugeriu um modesto controle sobre as aplicações cambiais no momento da derrocada do sistema de Bretton Woods, essa taxa, patrocinada especialmente pela vertente gaulesa do movimento anti – de onde retira o acrônimo ATTAC –, não apenas não resolveria o problema da volatilidade e da especulação, como se colocaria frontalmente contrária aos interesses de países emergentes tomadores de recursos, como o próprio Brasil. Neste terreno das finanças internacionais, as simplificações dos anti são tantas e tão risíveis que resulta difícil sequer “dialogar” com representantes desse movimento, que parecem não ter ideias mínimas sobre como funcionam os mercados financeiros e que partes de responsabilidade compartilhada devem ser atribuídas em momentos como os das graves turbulências financeiras dos anos noventa do século 20.
Já escrevi o suficiente sobre as crises financeiras – em especial em meu livro Os Primeiros Anos do Século XXI, em especial cap. 10, “O Brasil e as crises financeiras internacionais, 1929-2001” – para voltar agora em detalhe sobre seus determinantes, as consequências econômicas de curto prazo e as possíveis lições do ponto de vista da globalização financeira (inclusive quanto aos necessários cuidados que se há de ter em relação a esse aspecto da globalização, necessariamente diferente da liberalização comercial, que sempre provoca efeitos positivos). Não pretendo, em todo caso, contestar argumentos infantis e desprovidos de qualquer fundamentação histórica ou fatual, como os alinhados por organizações como o “Jubileu 2000”, que promove uma sistemática campanha em prol da eliminação da dívida externa dos países mais pobres. Registro aqui apenas um exemplo desse tipo de argumento:
“Resolver os problemas da dívida externa implica buscar saldar uma dívida histórica que os países do norte têm com os povos do sul como consequência do saque e da devastação que neles realizaram durante mais de 500 anos”. Como se diz: contra esse tipo de afirmação não há argumento. Sem dúvida que a dívida externa dos países mais pobres pode e deve ser diminuída ou mesmo eliminada, em certos casos, mas uma ação generalizada de cancelamento dessas dívidas faria mais mal do que bem ao conjunto dos países em desenvolvimento e emergentes, já que os retiraria dos mercados voluntários de capital por um tempo considerável, acumulando mais prejuízos do que benefícios.
Em relação aos movimentos de capitais puramente especulativos, vilipendiados tanto pelos antiglobalizadores como por alguns “globalizadores” – como por exemplo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – pode-se simplesmente relembrar que eles estão em todas as partes, em especial nos países mais avançados, mas são capazes de provocar prejuízos apenas naquelas economias que já enfrentam desequilíbrios, nas quais a volatilidade é um dado intrínseco, não extrínseco, ao sistema. Controles podem ser utilizados, mas não são certamente a panaceia que alguns apregoam, sobretudo na forma permanente de restrições às entradas e saídas, de suposta paternidade keynesiana. Movimentos mais livres de capitais, assim como maior grau de competição no sistema financeiro contribuem para o bom funcionamento de qualquer sistema econômico, mas níveis adequados de liquidez podem ser regulados por instrumentos tributários ao alcance de qualquer país. Apenas a ojeriza atávica em relação aos mercados financeiros ostentada em certos círculos esquerdistas pode justificar algumas das medidas propostas pelos grupos antiglobalizadores: elas pertencem mais ao reino da paixão política do que ao terreno da administração sensata das relações econômicas internacionais.

3.3. Competição aberta contra mercados regulados e fechados
Outro dos objetos mais frequentes da demonologia dos antiglobalizadores é o livre-comércio, invariavelmente acusado de provocar perdas para os países mais pobres e de concentrar ainda mais as riquezas em escala planetária. Nada poderia estar mais distante da verdade. Se existe algum tipo de consenso entre os economistas, há mais de dois séculos, é justamente o que defende os efeitos benéficos do livre-comércio para todos os participantes da relação. Os argumentos são tão convincentes a esse respeito que não caberia insistir na argumentação em favor da liberdade de comércio, e sim aguardar provas mais evidentes, dos anti, de que ela provoca miséria e desigualdade.
Bastaria considerar os dados mais elementares da história e das estatísticas atuais confrontando níveis de renda e coeficiente de abertura externa (isto é, a participação do comércio no produto bruto) para constatar o óbvio: há uma nítida correlação entre renda per capita e abertura ao comércio. Como ocorre nesses casos, apenas dirigentes sindicais e agricultores dos países do norte, de um lado, e “intelectuais” do sul, de outro, atacam o livre-comércio: os primeiros estão, é claro, interessados nos empregos industriais ou nos mercados agrícolas protegidos em seus países, ao passo que os segundos defendem teses abstratas, em total contradição com os interesses de seus próprios trabalhadores.
Os argumentos em favor do livre-comércio são tão poderosos que mesmo o PT, no Brasil, aderiu à tese, como se deduz desta afirmação, do seu candidato presidencial em plena campanha de 2002: “Somos a favor do livre-comércio, desde que os países possam competir em igualdade de condições” (carta-compromisso de 23.07.02), Na verdade, a frase deveria receber um ponto final na primeira vírgula, já que a condicionalidade proclamada não tem nenhuma razão de ser: competição em igualdade de condições nunca existirá. Os países exibem assimetrias naturais ou criadas que se manifestam de forma recorrente e que sustentam justamente o comércio, sendo ilusório acreditar que elas serão eliminadas. Aliás, elas não podem ser eliminadas pois que constituem o que se chama de base estrutural das vantagens comparativas relativas, que é o fundamento do próprio ato de comerciar. O livre-comércio, de verdade, é sempre unilateral, nunca condicional e restrito ao princípio de reciprocidade.

3.4. Instituições de solução de controvérsias em face do arbítrio comercial
Não contentes em despejar sua fúria contra o FMI e o Banco Mundial, acusando-os de serem sustentáculos do neoliberalismo – quando as instituições de Bretton Woods são, na verdade, instrumentos que corrigem imperfeições dos mercados –, os antiglobalizadores ingênuos também pretendem eliminar ou paralisar a OMC, vista como mais uma defensora das grandes multinacionais e da liberalização selvagem, o que constitui, obviamente, outra grande bobagem. Longe de fazer pressão em favor de uma completa liberalização comercial – o que, aliás, seria um grande benefício para os países mais pobres – a organização de Genebra contribui, antes de mais nada, para administrar de modo relativamente imparcial as formas modernas de mercantilismo, que os países insistem em promover em lugar de aderir resolutamente aos princípios de Adam Smith.
Na verdade, se a OMC não existisse, seria preciso inventá-la, na medida em que ela constitui uma das poucas defesas, por meio do sistema de solução de controvérsias, de que dispõem os países menos poderosos para lutar contra o arbítrio dos mais fortes. A oposição consistente dos antiglobalizadores contra as rodadas multilaterais de negociação comercial da OMC – como de resto contra a Alca e outros processos em curso de escala mais restrita – afastam as possibilidades de que países mais pobres possam se integrar mais rapidamente à economia mundial e daí extrair crescimento e riqueza. Desse ponto de vista, os antiglobalizadores são altamente irresponsáveis.


3.5. Crescimento e pobreza, ou o que a globalização pode fazer por eles
A acusação, sempre freqüente nos manifestos do movimento anti, de que a globalização reduz o crescimento nos países mais pobres e aprofunda neles a pobreza, não é apenas rizível e desprovida de fundamentação empírica: ela é totalmente ridícula, em face dos exemplos mais conspícuos em sentido contrário. China e Índia, dois países pobres e dotados de instituições econômicas socialistas e dirigistas, foram os que mais cresceram quando, justamente, se inseriram no processo de globalização, explorando suas vantagens naturais (mão-de-obra barata) ou adquiridas (educação de qualidade, em certas categorias de trabalhadores, e facilidades logísticas e de comunicações). Nos dois, milhões de pessoas se alçaram de uma miséria ancestral e puderam desfrutar de uma primeira sensação de progresso social desde gerações imemoráveis.
Na outra ponta, os dois países mais abertos ao processo de globalização, de fato os promotores históricos desse processo desde a era da primeira revolução industrial, o Reino Unido e os Estados Unidos, são também aqueles que apresentaram as maiores taxas de crescimento de todos os desenvolvidos durante a terceira onda da globalização, nos anos noventa, ostentando igualmente as menores taxas de desemprego entre os países da OCDE. Por acaso são também os mais globalizados financeiramente e os que mantêm o menor número de restrições aos investimentos ou em termos regulatórios.
No que se refere aos investimentos diretos, justamente, observa-se uma virtual contradição entre, de um lado, a oposição retórica e o soberanismo vazio proclamado pelos anti e, de outro, os ativos esforços de atração de capitais de risco que vêm sendo feitos pelos países em desenvolvimento, que se mostram indiferentes ao discurso contra as multinacionais dos primeiros. Pode parecer razoável proclamar-se a intenção de reservar “espaços nacionais” para políticas de desenvolvimento, mas a menos de se dispor de políticas setoriais definidas e concretas, o alerta pode parecer inócuo  ou simples manifestação de prevenção contra o investidor estrangeiro, que ele vem em busca de objetivos muito objetivos: liberdade de ação e o maior lucro possível, nessa ordem.

3.6. Concentração da renda e desigualdades
A concentração e a desigualdade na distribuição da renda podem ocorrer mesmo na ausência do processo de globalização, como prova o Brasil na era do protecionismo industrial e de fechamento comercial. A globalização, ao contrário, ao provocar uma maior taxa de crescimento da economia em países menos avançados, tende a favorecer o crescimento e, portanto, a criação de riquezas. A distribuição da renda adicional assim criada pode não ser a mais equitativa possível, mas isso depende de um conjunto de fatores políticos e sociais que ultrapassam a capacidade operacional da globalização.
Esta questão, de toda forma, está ligada ao papel que o Estado desempenha no sistema econômico. Os antiglobalizadores costumam afirmar que não existe nenhuma experiência histórica que demonstre que o mercado, por si só, logre alcançar níveis satisfatórios de repartição de benefícios e muito menos justiça social, o que é no mínimo uma generalização indevida. Ainda que o Estado tenha sido importante ao administrar mecanismos tributários, compensatórios e de benefícios indiretos – escolas, hospitais e saneamento básico, por exemplo – em favor dos mais desfavorecidos, em praticamente todos os países, as evidências mais eloquentes em termos de crescimento da renda e de repartição equitativa das riquezas geradas no setor privado estão justamente naqueles países onde os mercados funcionaram de forma mais desimpedida e livre, não nos mais estatizados ou controlados pelo setor público. Privatizações podem tanto concentrar como desconcentrar a renda, dependendo da forma como são conduzidas, sem esquecer que uma das formas mais iníquas de concentração da renda em países pobres é aquela operada em favor de certas categorias de privilegiados estatais – funcionários da ativa ou pensionistas – que logram transferir para si uma parte substancial da riqueza social sob a forma de investimentos em empresas estatais ou pensões abusivas.

3.7. Tecnologia proprietária e dependência tecnológica
Da mesma forma como os capitais financeiros, patentes e direitos proprietários em geral têm o dom de despertar paixões exacerbadas nas hostes do movimento. Talvez seja porque aqui estão concentrados alguns dos símbolos considerados nefastos para os antiglobalizadores: grandes multinacionais lidando com segredos industriais, extração de lucros abusivos sobre determinadas categorias de produtos, a começar pelo remédios, enfim, monopólio tecnológico dos ricos e dependência dos mais pobres. As demandas, em conseqüência, vão da proibição de patentes em certas áreas (ligadas à vida e saúde), ao licenciamento compulsório de patentes devidamente registradas de remédios de larga utilização pública, passando pelo controle extensivo do setor pelo Estado.
De fato, o regime de patentes consagra o monopólio do detentor dos direitos durante um certo tempo, que vem sendo paulatinamente aumentado (atualmente de 20 anos para patentes e bem mais para direitos do autor) e estendido a novas áreas, até aqui inéditas, do conhecimento e da engenhosidade humanas. Pode-se, efetivamente, constatar um certo exagero na proteção patentária, atualmente, mas como disse uma vez Churchill em relação à democracia, trata-se do pior regime, à exceção de todos os demais. Sem a promessa de ganhos trazidos pelo regime “monopólico” das patentes, seria difícil assegurar os investimentos necessários à introdução de novos remédios nos mercados. A existência de um regime abrangente de proteção tornou-se, assim, uma condição do próprio desenvolvimento tecnológico nessas áreas de ponta, razão pela qual países dotados de “baixa cultura patentária” têm sido notoriamente deficientes no registro e na exploração de inovações, a despeito mesmo de seus progressos científicos, como parece ser o caso do Brasil.
A dependência tecnológica é um fato, mas ela não será sequer arranhada se os países em desenvolvimento seguirem os conselhos dos antiglobalizadores na condução de suas políticas tecnológicas e de propriedade intelectual. Ao contrário, é provável que a dependência se aprofunde caso suas “prescrições” sejam seguidas, uma vez que elas não correspondem ao itinerário real dos países capitalistas desenvolvidos, e sim são meras teses agitadas no mundo abstrato em que vivem os antiglobalizadores.

3. Meio ambiente e mercado: um instável equilíbrio
A degradação ambiental e a diminuição da diversidade biológica são fatos que acompanham a civilização humana desde tempos imemoriais: as sociedades devastaram a natureza e substituíram-na por paisagens humanas, assim como domesticaram animais e agora tentam interferir no próprio ato de criação de novos seres vivos, desta vez ao nível molecular, quando já o vinham fazendo há milhares de anos ao nível da seleção das espécies. Acreditar que tais fenômenos se reduzem a um problema de mercado ou que está ligado exclusivamente ao modo de produção capitalista é de um reducionismo atroz e, no entanto, é isso que vêm fazendo os antiglobalizadores ecológicos.
O que eles pedem, em essência, é o afastamento dos critérios de mercado das questões vinculadas ao meio ambiente – na OMC, por exemplo –, quando os sinais de mercado são os únicos capazes de, ao precificarem os custos relativos de utilização e de conservação, estabelecer um justo meio termo, por certo sempre instável, entre a preservação ambiental e o uso sensato dos recursos naturais. A experiência das últimas décadas, em especial nos ex-países socialistas, indica que a ausência de sinais de mercado e a presença avassaladora do Estado na regulação do uso de recursos comuns pode andar de par com os piores atentados ao meio ambiente de que se tem notícia. Parece claro que a livre disposição desses recursos também pode conduzir a abusos por parte das empresas privadas – sempre tentadas a atuarem segundo um comportamento free-rider –, mas justamente a combinação de mecanismos regulatórios com adequados estímulos de mercado parece mais condizente com as necessidades sociais do que um preservacionismo radical que parece impedir, atualmente, os povos dos países mais pobres de fazerem uso adequado de seus ainda vastos recursos naturais. Como também indicado pela experiência histórica, as piores degradações ambientais tendem a ocorrer nas regiões mais pobres dos países em desenvolvimento. Desse ponto de vista, as posições assumidas pelos antiglobalizadores tendem, na prática, a perpetuar miséria e degradação ambiental nesses países.

4. Diagnóstico de duas enfermidades precoces: autismo e esquizofrenia
Ao percorrer os inúmeros escritos – caóticos, desiguais, geralmente carentes de método e ainda menos apoiados em estudos empíricos – dos antiglobalizadores, a sensação que se retira é a de uma estéril e inócua anarquia mental. Aliás, uma única conclusão parece possível a partir da leitura (penosa) dos textos dos anti: o que os anima, na verdade, não é a criação de um “novo mundo”, ou a indicação de alternativas reais e credíveis aos problemas deste velho mundo em que vivemos, por certo desigual e iníquo, sob muitos aspectos, mas ainda assim infinitamente melhor do que aquele no qual viveram nossos avós e bisavós, e assim sucessivamente até tempos recuados, e bem mais sombrios, da história da humanidade. O que os mobiliza, de fato, são duas tomadas de posição que cabe aqui considerar: um anti-capitalismo visceral e, o que é mais grave, sua derivação sociológica, um anti-mercadismo filosófico.
Não tenho nenhum tipo de mandato para colocar-me na defesa do capitalismo, um sistema que me parece dispensar defensores pagos ou voluntários, já que vem, ao longo dos séculos, resistindo razoavelmente bem aos assaltos continuados de uma horda de bárbaros anticapitalistas, desde os mercantilistas adeptos das reservas de mercado, aos monopolistas das companhias reais de comércio, a socialistas utópicos e soi-disant “científicos”, a coletivistas fascistas e planejadores comunistas, a estatistas disfarçados e outros dispensadores do “bem-estar social”. Pesa em seu favor o fato de não ter sido inventado por nenhum cérebro genial, à diferença de certas soluções “inovadoras” para minorar as misérias e sofrimentos humanos, emergindo de forma imperfeita e sempre incompleta de um processo impessoal, não administrado centralmente, não controlado e não controlável por nenhuma força social particular, mas resultando da combinação de milhares de ações e reações ao longo de uma cadeia de interações sociais que deita raízes em várias correntes constitutivas da civilização ocidental (pois é um fato histórico, não absoluto ou excludente, que o capitalismo emergiu primeiro nas formações sociais criadas a partir do substrato civilizatório comum do Ocidente medieval). Tal como ele existe, o capitalismo é certamente imperfeito e desigual, concentrador e indiferente às especificidades humanas, mas é também o sistema mais dinâmico de criação de riqueza e de disseminação de progresso técnico que já existiu na face da Terra. Não é eterno, certamente, mas vai evoluir gradualmente para formas diferentes – talvez não “superiores”, num sentido moral – de organização social da produção, sem que se possa predizer com alguma certeza como e em que condições ele vai continuar a moldar as sociedades modernas como o fez nos últimos cinco ou oito séculos.
É a esse sistema de remuneração pelo mérito, de prêmio pela astúcia individual, de retorno pela dedicação ao trabalho honesto, mas também de acumulação crua (e não raro violenta) de capitais, de genial inventividade e de brutal concentração de riquezas, que os antiglobalizadores pretendem substituir por algum sistema de organização social da produção e de distribuição de renda ainda indefinido, mas idealmente mais justo e menos desigual, feito de solidariedade e de respeito aos direitos humanos, assim como ao meio ambiente e à diversidade natural dos povos. Nada mais singelo e mais irrealista, pois que eles não conseguem sequer entender a lógica de funcionamento do capitalismo, quanto mais fazê-lo ser deslocado por um outro sistema inerentemente mais justo e mais eficiente (por fiat natural?).
A principal dificuldade para esse tipo de empreendimento benemérito – e aqui passo à segunda característica dos antiglobalizadores – é que no meio do caminho tinha um mercado. Ainda que eles não queiram ou não possam admitir tal realidade, o fato é que o mercado é muito maior do que o capitalismo, pois que perpassa todas as sociedades, em todas as épocas e lugares. Não há sociedade sem mercados, salvo talvez em povos muito primitivos, mas estes também conhecem formas de divisão social (e sexual) do trabalho, que já são, pelo simples fato de existirem, um embrião dos mercados potenciais. A economia de mercado sobreviverá ao capitalismo, quando este já não mais fizer parte do estoque de modos de produção à disposição dos “engenheiros sociais”, pela simples razão que ela funciona como uma espécie de sistema circulatório, sustentando o conjunto de funções numa sociedade complexa.
Que o mercado seja contraditório, incerto, caótico e inerentemente injusto, como parecia interpretar um espírito idealista como Marx, não implica em que possamos nos desvencilhar dele facilmente (ou impunemente). Todas as tentativas realizadas até aqui, a mais notória durante setenta anos, entre as planícies europeias e as estepes asiáticas, redundaram em notórios fracassos, quando não em tragédias humanas incomensuráveis. A recusa filosófica, digamos idealista, do principio do mercado pela maior parte dos antiglobalizadores, sempre prontos a acusar a “mercantilização da vida” em qualquer relação envolvendo intercâmbio de renda ou ativos patrimoniais, é algo preocupante e, eu diria, sintomático de uma doença bem mais grave, que em psiquiatria recebe o nome de “esquizofrenia”.
A esquizofrenia, segundo os dicionários médicos, é uma psicose caracterizada pela desagregação da personalidade e por uma perda de contato vital com a realidade. Antigamente conhecida por “demência precoce”, ela afeta mais particularmente os adolescentes ou adultos até os 40 anos. Segundo o psiquiatra suíço que a estudou, Eugen Bleuler (1857-1939), essa doença apresenta-se como uma dissociação mental, ou “discordância”, acompanhada por uma invasão caótica do imaginário, podendo se traduzir por distúrbios afetivos, intelectuais e psicomotores, sentimentos contraditórios em relação ao mesmo objeto (amor e ódio, por exemplo), ou então por incapacidade de agir, por autismo, delírio e até recusa de falar. O autismo, por sua vez, é uma ruptura entre a atividade mental e o mundo exterior e uma introversão mais ou menos total no mundo do imaginário e dos fantasmas (Larousse Médical, 1995).
Eu estaria sendo muito cruel e exagerado se acusasse os antiglobalizadores dessas duas enfermidades: esquizofrenia e autismo? Os sintomas e as reações, em todo caso, são muito parecidos. Como os esquizofrênicos, eles recusam ver o mundo como ele é, preferindo descrevê-lo em tintas sombrias e catastróficas, cujos componentes têm um único problema: o de não corresponderem à realidade dos fatos. Como os autistas, eles se reúnem entre eles e recusam dialogar com o exterior, ou com quem não aceitar sua Carta de “Princípios”, tão confusa formalmente quanto desconexa substantivamente.
Acredito, pessoalmente, que – à parte um “núcleo duro” de anticapitalistas profissionais, isto é, aqueles sobreviventes do grande desastre do movimento comunista do século 20 e que ainda continuam a se perpetuar como uma seita religiosa, através de velhos ritos litúrgicos que só desaparecerão com o passamento do último representante da espécie – a maior parte dos integrantes do movimento antiglobalizador é composta de jovens idealistas que desejam sinceramente a correção da piores desigualdades que ainda dividem a humanidade em um punhado de países ricos e uma imensa periferia de pobres e miseráveis. Eles são devotados à causa e acreditam, por indução daqueles profissionais acima referidos ou por leituras apressadas ou enviesadas, que o velho capitalismo, o neoliberalismo (que muitos confundem com o chamado “Consenso de Washington”) e o sistema de mercado são efetivamente responsáveis pelas misérias do mundo, tal como o vemos de nossas janelas, nas ruas do Terceiro Mundo ou que aprendemos a conhecer em informações disseminadas pela internet. Esse mundo real é realmente inaceitável e algo deve ser feito para paliar suas carências mais gritantes e suas iniquidades mais brutais.
Apenas considero que essas misérias, injustiças e iniquidades não se devem, em absoluto, à globalização: elas preexistem, inclusive, ao capitalismo e podem talvez continuar a existir se, por acaso, em uma bela manhã de sol, o mundo decidisse deixar de ser “capitalista” para ser qualquer outra coisa, proposta ou não pelos antiglobalizadores. Os anti se enganam singularmente de inimigo, provavelmente por falta de leituras honestas, de um estudo mais atento da realidade histórica, de um conhecimento mínimo sobre como funcionam os sistemas econômicos e, também, porque se deixam levar por um discurso simplista e simplificador, por parte daqueles já mencionados acima.
Não tenho nenhuma restrição mental em acusar os “defensores do culto”, tanto porque eu também já fui um deles, embora de uma vertente não religiosa, muito dada a leituras de todo tipo, onde Marx era combinado a Raymond Aron, Engels a Fernand Braudel e Lênin a Tocqueville. Derivei minha reavaliação dos capitalismos realmente existentes por meio de um conhecimento não apenas teórico, mas sobretudo prático de todos os socialismos realmente existentes (e suas pequenas e grandes tragédias sociais). Aprendi, em especial, a reconsiderar minha análise do sistema de mercado – tal como absorvida precocemente n’O Capital, de Marx – pelo estudo das tribos mais primitivas do planeta, numa antropologia comparada das sociedades que em muito contribuiu para relativizar as críticas mais candentes que os modernos socialistas faziam às iniquidades percebidas e reais desse sistema na moderna economia capitalista.
Quero crer, com base nesses estudos e na reavaliação pessoal conduzida ao longo dos anos, que os assim chamados “marxistas” contemporâneos – e que ainda continuam a perpetuar ritos e instrumentos de um culto tão ultrapassado quanto inócuo, do ponto de vista da moderna sociedade globalizada – não merecem na verdade esse epíteto, e sim o de reacionários, pois querem fazer girar para trás a roda da história, segundo a fórmula consagrada de Marx. Aliás, eu me considero marxista e nem por isso deixo de ser “globalizador”, como aliás Marx o seria, se por acaso vivesse atualmente. Por isso acredito, com base em todas as considerações que efetuei neste ensaio, que não só os marxistas, mas também os socialistas de todas as espécies, os humanistas, os ecologistas, as pessoas de esquerda e os progressistas em geral deveriam adotar, sincera e devotamente, uma postura em favor da globalização – atualmente inseparável, mas não para sempre, do capitalismo –, da qual um balanço honesto saberia nela reconhecer o único sistema progressista realmente existente. Por progressista eu entendo, está claro, um sistema capaz de incorporar, progressivamente, contingentes sempre crescentes de pessoas em patamares mais elevados de produtividade, de renda e de bem estar social, não um sistema que atenda a todas as necessidades culturais, educacionais ou de justiça social de todas as sociedades por ele tocadas. Isto a globalização é capaz de fazer, mas ela não poderá, obviamente, dispensar o igualitarismo social com que sonham alguns de seus arautos ou de que a acusam vários, ou maior parte, de seus críticos.
Quero crer, também, que a maior parte dos participantes do movimento antiglobalizador seja composta de indivíduos idealistas, que se esforçam sinceramente por encontrar respostas aos problemas do mundo atual, por definir, como proclamado no seu 4º princípio, as chamadas propostas alternativas para uma “nova etapa da história do mundo, uma globalização solidária que respeite os direitos humanos universais, bem como os de tod@s @s cidadãos e cidadãs em todas as nações e o meio ambiente, apoiada em sistemas e instituições internacionais democráticos a serviço da justiça social, da igualdade e da soberania dos povos.”
Concordo basicamente com esse objetivo geral, idealista, contentando-me talvez, tão simplesmente, em retirar o adjetivo “solidária” do conceito de globalização, não por discordar da intenção, mas por considerá-la inócua e absolutamente irrelevante do ponto de vista do processo histórico. A globalização seguirá sua marcha impessoal, indiferente às vontades e intenções daqueles que pretenderiam atribuir-lhe qualquer caracterização particular ou específica.
Atores sociais e líderes políticos intentarão, obviamente, moldar o processo de globalização, tentando adaptá-lo às suas necessidades nacionais, às suas concepções filosóficas ou a seus projetos políticos. Todas essas ações poderão, ou não, desviar, ainda que de forma moderada, o traçado impessoal e aparentemente indomável do processo de globalização, mas não conseguirão determinar seu curso básico, que é o da unificação progressiva do planeta numa sociedade singular, não totalmente integrada ou dotada de padrões uniformes (como pretendem os defensores do nacionalismo cultural), mas tampouco fechada em arquipélagos nacionais como ocorreu até os nossos dias. As ameaças de eliminação das diferenças culturais entre os povos, devido à importação de bens e serviços de “cultura de massas” do atual centro imperial, são carentes de maior substância efetiva e não deveriam ser consideradas por todos aqueles que trabalham com a identidade nacional desses povos, como a própria experiência brasileira já o demonstrou amplamente.
Uma leitura realista das possibilidades e limites da globalização nos permitiria visualizar, sem paixões ou esperanças não razoáveis, o potencial de realizações que esse processo contraditório e indomável contém no sentido de uma transformação positiva, e progressista, da maior parte das formações sociais integradas, de uma ou outra forma, ao grande caudal da economia mundial. Sempre haverá aqueles que preferirão combater moinhos de vento, em lugar de se lançar, modesta e pragmaticamente, nas pequenas e grandes tarefas vinculadas necessariamente ao processo de globalização: a educação das massas, a qualificação técnica e profissional dos trabalhadores, a melhoria contínua dos padrões culturais e científicos da população, de maneira a prepará-la para usufruir plenamente dos benefícios desse processo irreversível, bem como para fazê-la participar com seus próprios instrumentos dessa grande dinâmica multiforme.
Os antiglobalizadores da atualidade me parecem ter adotado, por enquanto, a atitude do avestruz, o que é próprio daqueles que se sentem fragilizados frente a uma realidade que não dominam e que parece dominá-los por sua vez. As manifestações ruidosas que conduzem nos locais e eventos típicos da atual globalização constituem um típico combate de retaguarda, e suas teses estão condenadas a se esvair na vacuidade das ideias mal pensadas, mal conduzidas e mal direcionadas. É de toda forma reconfortante saber, de acordo com Marx, que a humanidade nunca deixa de oferecer soluções aos problemas que ela mesma se coloca. Daí a razão de meu otimismo.

Brasília, 5 de julho de 2004

Olavo de Carvalho: o estilo faz o homem - Paulo Roberto de Almeida

Com desculpas a meus poucos leitores por transcrever neste espaço material que de ordinário eu descartaria por completo, por não se enquadrar em nenhum dos critérios que normalmente sigo para selecionar textos merecedores de atenção, inclusive porque a linguagem chula pouco recomendaria tal transcrição (e não exatamente porque se trata de algo ofensivo à minha pessoa).
Mas, eu o faço justamente para revelar, se preciso fosse, métodos e táticas de um polemista muito mais conhecido do que este blogueiro, e que arremete com uma fúria raramente vista em todos os "debates" de que participei anteriormente.
Como diria Buffon, ao ingressar na Academia francesa, "o estilo faz o homem".
Aos que desconhecem a origem do "entrevero", creio que vale remeter a duas postagens minhas que esclarecem sobre o que está em jogo, sendo que a motivação original foi dada por um convite que recebi, em caráter INDIVIDUAL, do pessoal do Brasil Paralelo para uma ENTREVISTA, sobre os temas do globalismo e globalização.
Como é meu costume, preparei-me para a entrevista articulando um texto previamente, que em NENHUM MOMENTO menciona o Sr. Olavo de Carvalho, por eu simplesmente desconhecer que: 1) ele estaria presente nessa "entrevista", que acabou virando um estranho "diálogo";
2) ele faz parte desse grupo de pessoas que acredita haver uma conspiração entre poderosos para instaurar um governo mundial, ideia que eu remeto à categoria das teorias conspiratorias, que neste caso é defendida, sob o conceito de globalismo, por paranoicos da direita conservadora.
Meu texto original está aqui: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/globalizacao-e-globalismo-como.html
O que se seguiu, na confusão criada, eu resumi nesta postagem: 
http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/12/um-debate-involuntario-com-olavo-de.html

Transcrevo, finalmente, o texto do sr. Olavo de Carvalho, que me parece, digamos assim, um Buffon dotado do seu próprio estilo. 
Não tenho outros comentários a fazer.
Os leitores tirarão as suas próprias conclusões.
Paulo Roberto de Almeida 
Blumenau, 6 de janeiro de 2018

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Globalismo: Paulo Roberto de Almeida desconhece o assunto no todo e nos detalhes
2 de janeiro de 2018 - 22:30:30

A resposta ao mesmo tempo ofensiva, sentimentalóide e mentirosa do Paulo Roberto de Almeida só prova uma coisa: o antipetismo é o primeiro e mais fácil refúgio dos incapazes.
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Paulo Roberto de Almeida vende geladeiras mediante o argumento de que geladeiras não existem.
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Se o globalismo não existe, a defesa das soberanias nacionais não pode lhe fazer mal nenhum, não é mesmo?
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O mais safado artifício verbal do Paulo Roberto de Almeida é usar a palavra “globalismo” no sentido de “resistência ao globalismo”. A quem ele espera enganar com esse truque pueril?
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O Paulo Roberto de Almeida carimba de mero falatório ideológico todos os livros que ele não leu.
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Garanto para vocês: o Paulo Roberto de Almeida não tem nem a mais mínima informação indispensável para discutir o assunto. A ignorância dele nessa área aproxima-se da perfeição.
*
Esse sujeito acha que meio século de influências e pressões da ONU sobre os programas educacionais de dezenas de países são “invencionices da direita”.
Ele fala do “politicamente correto” como se fosse uma mera esquisitice de esquerdistas, não um código imposto ostensivamente por toda a mídia, todo o sistema educacional e toda uma constelação de empresas e fundações bilionárias.
Não posso discutir com um primário que não sabe nem o quer quer dizer a palavra “fato”.
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Ele até se faz de coitadinho porque a entrevista virou um debate sem aviso prévio. Uai, eu também não fui avisado e não estou choramingando.
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Nunca vi tamanho esforço para limpar um cu de elefante com cotonete.
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Lee Penn, no livro “False Dawn”, reproduz meticulosamente todos os documentos, relatórios e atas de assembléias que atestam pelo menos meio século de esforços da ONU e de vários grupos bilionários para criar uma religião biônica mundial, “humanista”, da qual o cristianismo se reduziria a uma etapa preparatória já superada.
Paulo Roberto de Almeida NEGA OS FATOS com cinismo exemplar, ao mesmo tempo que revela ser, ele próprio, um adepto ou agente do projeto “humanista” alegadamente inexistente, falando de Cristo como Ele se fosse um mero precursor… do Paulo Roberto de Almeida:
“Cristo representou avanços no humanismo, mas alguns cristãos transformaram certos valores em dogmas.”
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Ele já começou o debate no Brasil Paralelo me chamando de paranóico, e agora, no seu arremedo de resposta, acrescenta novos insultos. Vejo-me, portanto, no direito de declarar em público que considero esse sujeito, que antes, por engano, eu tinha em alta conta, uma das mentes mais mesquinhas e desprezíveis que tenho encontrado.
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Quem apela a carimbos ideológicos infamantes e, gabando-se de detentor dos fatos, não cita UM ÚNICO que fundamente as suas opiniões, não é um interlocutor qualificado, é apenas um ridículo “poster boy” fazendo jus ao seu salário.
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O globalismo, como o PCC, o Foro de São Paulo e o Mensalão, é mais um exemplo da certeza apodíctica do Teorema de Picágoras: Toda piroca, tão logo entra, se torna invisível.
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Jesus deu sua modesta contribuição e foi superado. Caminhou sobre as águas, mas Paulo Roberto de Almeida, como todo mundo deve ter observado, já caminha sobre os ares.
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“Humanismo” e “dogma” são duas palavras de cujo significado o Paulo Roberto de Almeida não tem A MENOR IDÉIA.
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Há pessoas que tentam dizer merda, mas não conseguem. Só sai peido.
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O “modus arguendi” do Paulo Roberto Almeida é o mesmo do Maestro Bagos: em vez de contestar o que eu digo, fala mal de partidos e grupos ideológicos que me são totalmente alheios, e acredita que assim refutou os meus argumentos. O Imbecil Coletivo só discute com o Imbecil Coletivo, não com pessoas de carne e osso.
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Afinal, para que conhecer as idéias do Olavo de Carvalho, se para discutir com ele basta ter ouvido algum zunzum contra o tradicionalismo católico, o Partido Republicano, a Maçonaria, o Brexit ou os malditos judeus?
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Reduzir tudo a uma disputa entre escolhas ideológicas, negando formal ou informalmente a possibilidade de um simples confronto do verdadeiro e do falso, é a quintessência da estupidez moderna. Rotular o esquerdista de esquerdista ou o direitista de direitista é não dizer absolutamente nada.
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Desafio os Paulos Robertos de Almeida e similares a me mostrar um livro, um artigo, uma página onde eu tenha proposto ou defendido algum modelo de sociedade, alguma fórmula ideológica pronta, algum projeto de governo.
Ideólogo é a puta que os pariu.
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Todo aquele que usa os termos do debate político no sentido atual que têm na mídia, sem levar em conta a história da formação do seu significado, nem portanto as ambiguidades camufladas que ainda carregam, é um charlatão.
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Paulo Roberto de Almeida se pavoneia de cultor dos “fatos”, mas, quando lhe apontamos os títulos de um ou dois livros que expõem e documentam os fatos que ele precisaria conhecer para poder julgar o que estamos dizendo, ele se recusa a lê-los e, do alto do seu poder divinatório supostamente infalível, os deprecia antecipadamente como “Bullshit”. Ele tem, portanto, toda a razão ao declarar: “Minhas palavras se sustentam por si mesmas.” Para quê os fatos, se o mero apelo teatral à palavra “fatos” os substitui com vantagem?
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Nunca, na minha vida, tive a infeliz ocasião de debater com alguém que ignorasse tão completamente o assunto em debate quanto o Paulo Roberto de Almeida. Ainda estou chocado com a cara de pau com que esse cidadão opina sobre o que desconhece no todo e nos detalhes. Nem o Emir Sader chegou a tanto.
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Não li nem muito menos citei o livro do tal Walter Veith, nem muito menos falei em Illuminatti (já tendo, inclusive, contestado o valor descritivo desse termo). Só citei dois livros, INTEIRAMENTE COMPOSTOS DE DOCUMENTOS DE FONTE PRIMÁRIA: “The Deliberate Dumbing Down of America”, de Charlotte Yserbit, e “False Dawn” de Lee Penn. O Paulo Roberto de Almeida diz que não quer discutir com fundamentalistas e teóricos da conspiração, mas, na verdade, é só com eles que ele discute, porque, misturando fatos com especulações, eles dão a cara a tapa e são fáceis de desmoralizar. O que é supremamenta calhorda é, ao contestá-los, fingir que está contestando a mim e às minhas fontes, quando na verdade tudo o que fez foi fugir covardemente de nós mediante o recurso chocho do “boneco de palha”. Definitivamente, o Paulo Roberto de Almeida NÃO É SÉRIO.
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Não há canalhice maior, numa discussão, do que fugir ao confronto com o interlocutor mediante o expediente de contestar argumentos vagamente e aliás falsamente parecidos com os dele e, com isso, fingir que o derrotou. O Almeida usa e abusa desse truque sujo. Bate num fracote qualquer que encontrou pelas ruas e jura que o infeliz era eu.
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Estudar no Exterior não significa NADA. Mudar um burro de lugar não o torna inteligente.
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A única coisa que o Paulo Roberto de Almeida provou, de maneira cabal e definitiva, foi que só conhece o esquema de poder global pelas versões “pop” que encontrou no Youtube ou em blogs de ocultistas. É como o sujeito achar que demoliu o marxismo porque se saiu bem numa discussão com o Gregório Duvivier.
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Um dos objetivos mais claros e constantes do poder global em formação é diluir o cristianismo numa vaga e oca religião mundial “humanista”. É a religião do Paulo Roberto de Almeida, que ele ao mesmo tempo professa e diz não existir.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Crimes econômicos do lulopetismo: BNDES sofre calote previsível

Classifico de crime econômico pelo simples motivo que esses empréstimos foram enfiados goela abaixo do BNDES, prevendo superfaturamento da Odebrecht — portanto um crime contra o povo moçambicano, e os demais — e já contando com propinas milionárias para o chefão mafioso, sendo que as garantias eram frágeis — portanto um crime contra o povo brasileiro.
Quando esses crimes serão objeto do devido processo legal contra seus responsáveis? O BNDES e o Tesouro, ou os órgãos de controle e o MPF não pretendem fazer nada?
Paulo Roberto de Almeida
A herança maldita do lulopetismo no BNDES
Com a Organização Criminosa petista no poder, os cofres públicos foram abertos a ditaduras latino-americanas e africanas, gerando sérios prejuízos ao país. O uso político e irresponsável de Lula et caterva no BNDES obrigará o contribuinte a cobrir os calotes de pelo menos três países. Herança maldita de um maldita ideologia. A propósito, segue editorial da Gazeta do Povo:


Em época de aperto fiscal urgente, o Tesouro Nacional – ou, em outras palavras, o contribuinte brasileiro – está sendo chamado a pagar pela irresponsabilidade de governos anteriores no manejo de empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O primeiro aporte já foi feito, ainda em dezembro de 2017: foram R$ 124 milhões, para compensar um calote de US$ 22,4 milhões do governo de Moçambique. E, segundo o jornal Folha de S.Paulo, o rombo não deve parar por aí no caso do país africano, e o Tesouro pode acabar obrigado a repassar cerca de R$ 1,5 bilhão, já que as dívidas moçambicanas com fornecedores brasileiros chega a meio bilhão de dólares.

O Tesouro entra na equação graças ao Fundo de Garantia à Exportação, que é obrigado a cobrir os calotes de governos estrangeiros quando não honram compromissos com empresas brasileiras que assinam os contratos para atuar no exterior. Segundo o BNDES, esse tipo de garantia é oferecido por praticamente todos os países industrializados, como maneira de proteger suas empresas de riscos políticos nos países com os quais essas companhias fazem negócios. O problema não é, portanto, a existência em si da garantia, mas as avaliações feitas antes de se conceder os empréstimos.

Outros dois países caloteiros são Venezuela e Angola – e, em ambos os casos, o estrago será ainda maior que o causado pelo default moçambicano, pois as dívidas a pagar são, respectivamente, de US$ 1,5 bilhão e US$ 1,9 bilhão. O que esses três países têm em comum ajuda a entender como se construiu o panorama atual: são todos regimes de democracia vacilante ou inexistente, comandados por partidos ou ditadores de esquerda, camaradas ideológicos do Partido dos Trabalhadores, responsável pelo uso ideológico do BNDES entre 2003 e 2016. Moçambique é governada pela Frelimo, que começou como guerrilha armada marxista na época colonial e fez todos os presidentes do país desde a independência. A Economist Intelligente Unit (EIU) chama Moçambique de “regime híbrido”, que mistura elementos democráticos, como o multipartidarismo, com outras características, como falta de independência no Judiciário e algum tipo de perseguição ou pressão política ou contra a imprensa. Angola tem um perfil semelhante; José Eduardo dos Santos presidiu o país entre 1979 e 2017, e a EIU classifica o país como “autoritário”. Da Venezuela do ditador Nicolás Maduro nem é preciso dizer nada.

Para completar a tragédia, se numa ponta estão governos alinhados ideologicamente com o petismo, na outra estão as empreiteiras encrencadas na Operação Lava Jato: foi a Odebrecht, por exemplo, que construiu um aeroporto de centenas de milhões de reais que não recebe voos internacionais e tem movimentação de 20 mil passageiros por ano, apesar de ter capacidade para 500 mil, segundo a BBC – o empréstimo do BNDES para o governo moçambicano, aliás, só foi possível porque o governo Lula perdoou, em 2004, US$ 315 milhões em dívidas que não vinham sendo pagas, ou seja, o risco de calote era evidente, o que não impediu o governo petista de fazer camaradagem com o dinheiro do contribuinte brasileiro.

Os calotes que o Tesouro Nacional será chamado a cobrir são mais uma consequência do método petista de governar, colocando as instituições de Estado a serviço do partido e de suas prioridades. O desastre da política de “campeões nacionais”, as facilidades para os “amigos do rei” e dinheiro farto para bancar obras em países cujos governos eram (ou ainda são) alinhados com o petismo – além de Venezuela, Angola e Moçambique, o BNDES despejou recursos para obras em Cuba, na Argentina dos Kirchner e na República Dominicana, governada por um partido membro do Foro de São Paulo – mostram o estrago feito pelo partido ao desvirtuar totalmente a finalidade de um banco de fomento.

Venezuela, no desastre completo; invasao militar? - Ricardo Hausmann


Vou ser muito claro quanto ao que pretende Ricardo Hausmann, um venezuelano que se desespera de ver o seu povo morrer de fome: a Assembleia Nacional não tem poderes para destituir Maduro, e mesmo que tivesse, não aconteceria absolutamente nada, pois as rédeas do poder continuariam com quem estão atualmente: com os chavistas no poder, apoiados em maciças forças repressivas, a começar pelo Exército (mas não só ele). E mesmo se esse milagre da destituição por acaso ocorresse, não haveria um governo com legitimidade suficiente para chamar uma "invasão" estrangeira, que seria contra quem? Contra o Exército venezuelano? Haveria sérios problemas nos planos militar, social, político, logístico, humanitário, e a situação passaria de uim para pior. Mas imaginemos que tudo isso ocorra, que viria para essa "invasão armada estrangeira"? Não vejo NENHUM vizinho em condições políticas, militares, diplomáticas de fazê-lo, e não creio que os EUA de Trump poderiam montar um exército à la Rangers de Theodore Roosevelt, ou mesmo de marines, para "libertar" a Venezuela do governo narcotraficante (essa seria a rationale, não seria?). Esqueçam a ONU, que não serve para essas coisas, não por culpa da ONU, mas dos membros do CSNU.
Infelizmente, a Venezuela e os venezuelanos estão dramaticamente sós, para enfrentar a fome, a repressão, a desesperança, a morte...
Paulo Roberto de Almeida  
 
D-Day Venezuela

Project Syndicate, Jan 2, 2018 


As conditions in Venezuela worsen, the solutions that must now be considered include what was once inconceivable. A negotiated political transition remains the preferred option, but military intervention by a coalition of regional forces may be the only way to end a man-made famine threatening millions of lives.
CAMBRIDGE – The Venezuelan crisis is moving relentlessly from catastrophic to unimaginable. The level of misery, human suffering, and destruction has reached a point where the international community must rethink how it can help.
Two years ago, I warned of a coming famine in Venezuela, akin to Ukraine’s 1932-1933 Holomodor. On December 17, The New York Timespublished front-page photographs of this man-made disaster.
In July, I described the unprecedented nature of Venezuela’s economic calamity, documenting the collapse in output, incomes, and living and health standards. Probably the single most telling statistic I cited was that the minimum wage (the wage earned by the median worker) measured in the cheapest available calorie, had declined from 52,854 calories per day in May 2012 to just 7,005 by May 2017 – not enough to feed a family of five.
Since then, conditions have deteriorated dramatically. By last month, the minimum wage had fallen to just 2,740 calories a day. And proteins are in even shorter supply. Meat of any kind is so scarce that the market price of a kilogram is equivalent to more than a week of minimum-wage work.
Health conditions have worsened as well, owing to nutritional deficiencies and the government’s decision not to supply infant formula, standard vaccines against infectious diseases, medicines for AIDS, transplant, cancer, and dialysis patients, and general hospital supplies. Since August 1, the price of a US dollar has added an extra zero, and inflation has exceeded 50% per monthsince September.
According to OPEC, oil production has declined by 16% since May, down more than 350,000 barrels a day. To arrest the decline, President Nicolás Maduro’s government has had no better idea than to arrest some 60 senior managers of the state-owned oil company PDVSA and appoint a National Guard general with no industry experience to run it.
Rather than taking steps to end the humanitarian crisis, the government is using it to entrench its political control. Rejecting offers of assistance, it is spending its resources on Chinese-made military-grade crowd-control systems to thwart public protests.
Many outside observers believe that as the economy worsens, the government will lose power. But the organized political opposition is weaker now than it was in July, despite massive international diplomatic support. Since then, the government has installed an unconstitutional Constituent Assembly with full powers, deregistered the three main opposition parties, sacked elected mayors and deputies, and stolen three elections.
With all solutions either impractical, deemed infeasible, or unacceptable, most Venezuelans are wishing for some deus ex machinato save them from this tragedy. The best scenario would be free and fair elections to choose a new government. This is Plan A for the Venezuelan opposition organized around the Mesa de la Unidad Democratica, and is being sought in talks taking place in the Dominican Republic.
But it defies credulity to think that a regime that is willing to starve millions to remain in power would yield that power in free elections. In Eastern Europe in the 1940s, Stalinist regimes consolidated power despite losing elections. The fact that the Maduro government has stolen three elections in 2017 alone and has blocked the electoral participation of the parties with which it is negotiating, again despite massive international attention, suggests that success is unlikely.
A domestic military coup to restore constitutional rule is less palatable to many democratic politicians, because they fear that the soldiers may not return to their barracks afterwards. More important, Maduro’s regime already is a military dictatorship, with officers in charge of many government agencies. The senior officers of the Armed Forces are corrupt to the core, having been involved for years in smuggling, currency and procurement crimes, narco-trafficking and extra-judicial killings that, in per capita terms are three times more prevalent than in Rodrigo Duterte’s Philippines. Decent senior officers have been quitting in large numbers.
Targeted sanctions, managed by the US Office of Foreign Assets Control (OFAC), are hurting many of the thugs ruling Venezuela. But, measured in the tens of thousands of avoidable deaths and millions of additional Venezuelan refugees that will occur until the sanctions yield their intended effect, these measures are too slow at best. At worst, they will never work. After all, such sanctions have not led to regime change in Russia, North Korea, or Iran.
This leaves us with an international military intervention, a solution that scares most Latin American governments because of a history of aggressive actions against their sovereign interests, especially in Mexico and Central America. But these may be the wrong historical analogies. After all, Simón Bolívar gained the title of Liberator of Venezuela thanks to an 1814 invasion organized and financed by neighboring Nueva Granada (today’s Colombia). France, Belgium, and the Netherlands could not free themselves of an oppressive regime between 1940 and 1944 without international military action.
The implication is clear. As the Venezuelan situation becomes unimaginable, the solutions to be considered move closer to the inconceivable. The duly elected National Assembly, where the opposition holds a two-thirds majority, has been unconstitutionally stripped of power by an unconstitutionally appointed Supreme Court. And the military has used its power to suppress protests and force into exile many leaders including the Supreme Court justices elected by the National Assembly in July.
As solutions go, why not consider the following one: the National Assembly could impeach Maduro and the OFAC-sanctioned, narco-trafficking vice president, Tareck El Aissami, who has had more than $500 million in assets seized by the United States government. The Assembly could constitutionally appoint a new government, which in turn could request military assistance from a coalition of the willing, including Latin American, North American, and European countries. This force would free Venezuela, in the same way Canadians, Australians, Brits, and Americans liberated Europe in 1944-1945. Closer to home, it would be akin to the US liberating Panama from the oppression of Manuel Noriega, ushering in democracy and the fastest economic growth in Latin America.
According to international law, none of this would require approval by the United Nations Security Council (which Russia and China might veto), because the military force would be invited by a legitimate government seeking support to uphold the country’s constitution. The existence of such an option might even boost the prospects of the ongoing negotiations in the Dominican Republic.
An imploding Venezuela is not in most countries’ national interest. And conditions there constitute a crime against humanity that must be stopped on moral grounds. The failure of Operation Market Garden in September 1944, immortalized in the book and film A Bridge Too Far, led to famine in the Netherlands in the winter of 1944-1945. Today’s Venezuelan famine is already worse. How many lives must be shattered before salvation comes?
Writing for PS since 2001 
58 Commentaries
Ricardo Hausmann, a former minister of planning of Venezuela and former Chief Economist of the Inter-American Development Bank, is Director of the Center for International Development at Harvard University and a professor of economics at the Harvard Kennedy School.

Globalismo e globobagens: um debate que nunca houve - Paulo Roberto de Almeida

Recebi, de um leitor atento, Marconi S. Olguinsem 2/01/2018, a seguinte mensagem, a propósito deste suposto debate:


Com toda a minha humildade e simplicidade, o ferrenho debate entre Olavo de Carvalho e Paulo Roberto de Almeida tende ao vazio, de um lado um tenta provar a existência de uma conspiração global camuflada, escondida e em atividade, de outro lado é negada veementemente está existência, ou mesmo a possibilidade de planos dela. 
Os dois intelectuais, feridos em seus brios, se digladiam, não pelo mérito da questão que é realmente difícil de se debater no momento, digo no momento pois o passar do tempo provará a verdade, mas para provar ao seu público quem é o melhor, procurando satisfazerem seus egos pessoais e usando o tema como cortina de fumaça para a verdadeira questão. 
Minha opinião pessoal é de que ambos tem seus méritos e capacidades como formadores de opinião e deveriam está lutando lado a lado nesta batalha pelo resgate de uma Nação. Infelizmente vemos nestes ícones imperar a mesma mediocridade existente na maioria da nossa população que impede a união do povo de bem para defenderem causas nobres que só podem ser defendidas por pessoas altruístas, livres de ĺinteresses mesquinhos e baixos, pois os do lado de lá tem como cimento de suas parcerias o interesse escuso, o lucro fácil e o imediatismo, com isso levando vantagem na batalha.
É uma pena ver que o posicionamento destes lideres não é diferente, mas que não percamos as esperanças pois na simplicidade de pensar e agir estarão se revelando os verdadeiros líderes a serem seguidos como farol em tempo de tempestade.



Ele complementou, em 3/01/2018, com estas poucas palavras:



Prof. Paulo Roberto de Almeida, seus posicionamentos às minhas críticas tem sido de um verdadeiro diplomata, parabéns pela conduta, sempre que a resposta à uma crítica é dada em bom tom o alvo desta se torna digno e coerente, Forte abraço! Um parêntese, cabe salientar que seu oponente, além de não provar seu ponto de vista com materialidade não aceita crítica ou tão pouco às responde com dignidade ou inteligência, quando as responde.



Minha resposta a ele (PRA):

Agradeço suas boas palavras Marconi S. Olguins, e fico sensibilizado pela sua compreensão do problema, mas não sei se você atentou para o mais importante.

Fui convidado a dar uma entrevista, sobre os temas do globalismo e da globalização, e me preparei em consequência, para uma exposição individual sobre essas problemáticas. 
Na hora me deparei, não com um monólogo, e certamente não um diálogo, mas uma entrevista dupla, com direito a réplica e tréplicas do "contendor". Tudo bem, não tenho medo de debate ou confrontações, mas é certo que o OC foi bastante agressivo comigo pessoalmente, ao passo que eu apenas recusei a idéia que me parece completamente maluca, de uma conspiração mundial em favor de uma coisa que considero totalmente fantasmagórica, inventada pela direita conservadora, chamada globalismo, o que não reconheço existir ou ter existência material. A despeito dos ataques, o OC concordou, ao final, que não existia um governo mundial, mas que não deixava de existir um projeto para fazer um, sem apresentar qualquer prova, apenas citando autores, e apontando para conhecidas teorias conspiratórias sobre reuniões secretas de poderosos bilionários tramando contra países soberanos e cada um de nós, o que acho absolutamente maluquice desvairada.

O que temos agora é um bando de olavetes desvairados que insistem em dizer que eu não provei o meu caso, como se eu precisava provar a NÃO existência de algo que eles insistem em dizer que existe, sem dar qualquer prova concreta disso. Portanto, os malucos continuam a repetir -- sem esquecer de mencionar que sou diplomata, como se isso tivesse qualquer relação com ideias ou posições --que fui "derrotado" ao negar o globalismo. Ou seja, os malucos querem que eu rejeite palavras, ideias, conceitos que qualquer maluco pode repetir à vontade. Como já escrevi: não é cansativo debater com fundamentalistas, é apenas inútil. Os malucos sempre insistirão que estão com a razão. O mundo está cheio de Napoleões de hospício...

A maior parte dos Olavetes são ignorantes fundamentais. Como são incapazes de articular alguma ideia coerente, ficam repetindo o que escreve ou fala o seu guru, sem se cansar. Eu dispenso os fundamentalistas e posso dialogar com o mestre.

O Olavo de Carvalho prestou imensos serviços ao Brasil, ao alertar, desde o início, para o Foro de São Paulo, que não tem importância enquanto tal, mas que representa um imenso perigo para nossos países ao arregimentar, controlar, guiar e orientar partidos de esquerda a serviço da ditadura cubana, que já nem está mais interessada em construir o socialismo, que os próprios reconhecem que foi um fracasso completo, mas querem apenas manter o poder, e os partidos afiliados no poder de seus respectivos países, para se manterem enquanto ditadura personalista, enquanto tirania absoluta, e para se enriquecer também, pois são bandidos da pior espécie. Os companheiros corruptos do Brasil foram os melhores aliados que conseguiram, num país relativamente rico e corrupto como o Brasil, tirando daqui bilhões de dólares, direta e indiretamente. O OC tem esse mérito, além de outro ainda mais importante, o de ter denunciado, se oposto e demonstrado a fraude que é a comunidade gramscista da academia brasileira, em seus diversos livros, desde o Imbecil Coletivo, até o Jardim das Aflições e todos os demais escritos acadêmicos e jornalísticos que produziu. Esse mérito eu não nego ao OC. Mas ele enveredou por uma paranoia maluca, com a extrema direita americana, que só posso lamentar, pois isso revela o lado insano dessa mente brilhante. Lamento que um lutador por certos valores se descaracterize na aliança com conspiradores de direita, o que torna simplesmente risível seus argumentos quanto a esse suposto governo global. Fora isso não pretendo atacá-lo, apenas lamento que ele não corrija seus olavetes mais desvairados, que não possuem, obviamente, sua preparação intelectual. Eis tudo o que eu poderia dizer sobre esse suposto "debate" que não houve.

Paulo Roberto de Almeida
Bento Gonçalves, 3 de janeiro de 2018


Addendum, a propósito desta matéria, publicada no "Boletim da Liberdade", link: 

https://www.boletimdaliberdade.com.br/2018/01/02/colunista-do-il-diz-que-globalismo-e-apenas-teoria-conspiratoria/
(a ilustração da matéria, abaixo, tenderia a comprovar que seu autor também acredita nessa bobagem sem tamanho).


Formulei o seguinte comentário nessa página, e remeti a esta minha postagem ao final:

Como fui apontado como um dos "debatedores" de um debate que nunca ocorreu – pois eu tinha sido convidado para dar uma entrevista, individual portanto, sobre os temas do globalismo e da globalizacão – permito-me formular os seguintes comentários. 
O artigo deste Boletim da Liberdade é singularmente desequilibrado, enviesado, pois vê um debate onde jamais existiu um, apenas declarações unilaterais de uns e outros. Não sei se o autor deste texto – não identificado – consegue se dar conta de que ele reproduz o mesmo tipo de "exposição" desequilibrada, sem qualquer lógica, que consiste em confrontar palavras a palavras, como se estas tivessem o mesmo peso e significado. 
Seu autor não conseguiu extrair o argumento principal do colunista do Instituto Liberal, João Luiz Mauad, que consiste em relembrar a qualquer neófito (não precisa ser um praticante de lógica aristotélica) que coisas que não existem NÃO precisam de provas de que não existem, e ele citou expressamente unicórnio, sereias e não sei mais o quê. 
Os "defensores" dessa coisa que não existe nos acusam, a mim e ao Mauad,  recusar reconhecer algo que eles mesmos NUNCA conseguiram provar a existência, apenas remetendo a autores, a reuniões de conspiradores, a projetos secretos, sem QUALQUER EVIDÊNCIA concreta, apenas na base dos boatos típicos desse gênero de empreendimento paranoico. Lamento que um articulista liberal-conservador acredite que exista uma conspiração entre comunistas e ricaços para implantar o tal de governo mundial, o que já me parece resvalar na loucura.
Quanto a mim, não reconheço jamais ter feito um "debate", ou "diálogo", com Olavo de Carvalho, pois nunca fui avisado de que essa entrevista dupla existiria. 

Quem quiser considerar que houve um debate, sinta-se à vontade, mas não foi o que ocorreu, eu apenas dei o meu recado e ele ficou me atacando, e os olavetes mencionando minha condição de diplomata, como eu não "tendo conseguido demonstrar o meu caso". 
Ora isso é ridículo: eu não tinha de conseguir provar nada, apenas disso que o globalismo se apoiava sobre uma fantasmagoria, na linha do que disse João Luiz Mauad. Cabe aos seus defensores provar que essa coisa existe, mas para isso não bastam palavras vazias, citações de supostos autores, argumentos sem qualquer fundamentação empírica, alucinações.

Se ouso resumir minhas conclusões sobre esse lamentável caso, que o Boletim da Liberdade consegue alimentar no pior sentido desejável, eis aqui o que tenho a dizer (está acima, justamente).
O que mais eu tenho a dizer, coloquei nesta postagem do meu blog Diplomatizzando, neste link: http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/01/globalismo-e-globobagens-um-debate-que.html
Paulo Roberto de Almeida
Bento Gonçalves,  3 de janeiro de 2018
 

Heranca maldita da corrupcao lulopetista: Petrobras paga US$ 2,95 bilhoes de indenizacao nos EUA

Esta vai custar caro, e deveria ser cobrado da organização criminosa que organizou o assalto à Petrobras:

PETROBRAS ASSINA ACORDO PARA ENCERRAR CLASS ACTION EM CURSO NOS ESTADOS UNIDOS


Rio de Janeiro, 3 de janeiro de 2018 – Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras informa que assinou acordo para encerrar a Class Action em curso perante a Corte Federal de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América.
O acordo, que será submetido à apreciação do Juiz, objetiva encerrar todas as demandas atualmente em curso e que poderiam vir a ser propostas por adquirentes de valores mobiliários da Petrobras nos Estados Unidos ou listados naquele país. O acordo elimina o risco de um julgamento desfavorável, que, conforme anteriormente reportado ao mercado, poderia causar efeitos materiais adversos à Companhia e a sua situação financeira.
Além disso, põe fim a incertezas, ônus e custos associados à continuidade dessa ação coletiva. No acordo proposto para o encerramento da ação, a Petrobras pagará US$ 2,95 bilhões, em 2 (duas) parcelas de US$ 983 milhões e uma última parcela de US$ 984 milhões. A primeira parcela será paga em até 10 (dez) dias após a aprovação preliminar do Juiz. A segunda parcela será paga em até 10 (dez) dias após a aprovação judicial final. A terceira parcela será paga em (i) até 6 (seis) meses após a aprovação final, ou (ii) 15 de janeiro de 2019, o que acontecer por último. O valor total do acordo impactará o resultado do quarto trimestre de 2017.
O acordo não constitui reconhecimento de culpa ou de prática de atos irregulares pela Petrobras. No acordo, a Companhia expressamente nega qualquer responsabilidade. Isso reflete a sua condição de vítima dos atos revelados pela Operação Lava Jato, conforme reconhecido por autoridades brasileiras, inclusive o Supremo Tribunal Federal. Na condição de vítima do esquema, a Petrobras já recuperou R$ 1,475 bilhão no Brasil e continuará buscando todas as medidas legais contra as empresas e indivíduos responsáveis.
O acordo atende aos melhores interesses da Companhia e de seus acionistas, tendo em vista o risco de um julgamento influenciado por um júri popular, as peculiaridades da legislação processual e de mercado de capitais norte-americana, bem como o estágio processual e as características desse tipo de ação nos Estados Unidos, onde apenas aproximadamente 0,3% das class actions relacionadas a valores mobiliários chegam à fase de julgamento.
O acordo será submetido à apreciação do Juiz, que, após aprovação preliminar, notificará os membros da Classe. Após avaliar eventuais objeções e realizar audiência para decidir quanto à razoabilidade do acordo, o Juiz decidirá sobre a sua aprovação definitiva.
As partes pedirão à Suprema Corte norte-americana que adie, até a aprovação final do acordo proposto, a decisão quanto à admissibilidade de recurso apresentado pela Petrobras, o que estava previsto para o dia 05/01/2018.