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quinta-feira, 17 de maio de 2018

O juro “neutro” e a trajetoria da taxa de cambio no Brasil - Paulo Gala

O juro “neutro” e a trajetória da taxa de câmbio no Brasil

Os choques de juros na economia brasileira desde a implantação do Real decorreram de depreciações cambiais no período de câmbio flutuante ou de reversões de fluxos de capital na época do câmbio fixo. Os juros altos dos últimos 20 anos foram fruto da fragilidade de nossas contas externas e de grandes desvalorizações de nossa moeda. O primeiro choque de juros sofrido no Plano Real veio com a crise do Méxicodecorrente da explosão da ancora cambial implantada no final dos anos de 1980 para controlar a inflação mexicana. Já o segundo choque relevante veio com o contágio da crise asiática. O terceiro choque acompanhou o contágio da crise russa, resultado do estouro da ancoragem cambial para controle da inflação por lá em 1998. A crise cambial brasileira que rompeu com o regime quase rígido da década de 1990 aconteceu em janeiro de 1999, quando um novo choque de juros foi aplicado para tentar segurar o padrão monetário brasileiro na presença de enorme desvalorização cambial na transição para o regime de câmbio flutuante administrado. Em 2001, outro choque de juros foi aplicado como resposta aos atentados de 11 de setembro. Na epoca o Brasil atravessava o apagão energético interno e a crise na Argentina. Já em 2003, um novo choque foi administrado por conta da enorme desvalorização cambial decorrente dos temores na transição eleitoral. Finalmente, em 2008, a crise americana provocou nova desvalorização cambial, somada a uma parada brusca da atividade econômica no mundo e no Brasil. O Banco Central respondeu com alta inicial de juros e, logo na sequência, queda das taxas.
Em todos esses episódios de choque de juros, a forte apreciação cambial observada no período subsequente foi primordial para derrubar o preço dos bens transacionáveis, ajudar na convergência da inflação e estimular o corte da Selic para seu ponto “neutro”. Em 2013, a decisão do Federal Reserve de reduzir os estímulos monetários forçou o BC a construir enorme estoque de swaps em posições vendidas em dólar e iniciar novas altas da Selic para tentar evitar uma desvalorização cambial mais brusca. A trajetória da Selic em todos esses anos, talvez com a exceção do ciclo de alta de 2005, sempre dependeu da dinâmica das contas externas, do sentido dos fluxos de capital e da taxa de câmbio. Os cortes foram feitos em momentos de apreciação cambial que reduziram a inflação, quase que independentemente do nível de atividade. A exceção foi o movimento de corte de juros feito em 2011, que acabou inflando nossa bolha de crédito e pressionando o preço dos bens não tradables em uma economia em pleno emprego, expansão fiscal e câmbio em rota de desvalorização.
Na década de 1990, os choques de juros tinham o objetivo explícito de segurar a âncora cambial. Depois da implantação do regime de metas de inflação, em 1999, os juros passaram a responder aos movimentos da inflação. Mas as grandes oscilações da taxa de câmbio acabaram ditando os movimentos de juros pela via do aumento dos preços de tradables e das tentativas do BC de segurar os efeitos de segunda ordem da desvalorização cambial nos preços. A grande acumulação de reservas cambiais entre 2004 e 2012 acabou aumentando a potência de intervenção do BC no mercado de câmbio via swaps ou leilões reversos para domar a trajetória do Real. Essa posição robusta de reservas e a utilização de um regime de câmbio flutuante administrado provou-se muito mais eficiente para reduzir os juros nos anos 2000. Ao fim e ao cabo, os juros altos no Brasil sempre foram uma tentativa do BC de manter nosso padrão monetário em um contexto de contas externas deficitárias, inércia nos preços domésticos e fortes oscilações da conta capital, com a exceção dos superávits em conta corrente registrados entre 2003 e 2007. A história recente mostra que não faz sentido discutir juro “neutro” no Brasil sem olhar nossa frágil dinâmica externa, muito dependente de bonanças de commodities e fluxos de capitais.
No momento, a trajetória do câmbio contribui para a queda da inflação. Seguimos com apreciações da moeda brasileira graças à nova onda de capitais que parece vir por aí. Nosso déficit em conta corrente caiu de 4% do PIB para 1,5%, as reservas continuam robustas e os swaps foram praticamente eliminados. A inflação está cedendo graças à queda de preços de alimentos, do alto desemprego, mas, também, por conta da forte apreciação cambial dos últimos meses. O BC seguirá reduzindo juros e argumentará que o “juro neutro”, aquele capaz de equilibrar a economia sem pressões inflacionárias, voltou a cair. Com política fiscal contracionista, investimentos públicos em mínimas históricas, enorme desemprego e ociosidade na indústria, o juro real capaz de estimular a economia vai mesmo lá para baixo. Durante as ondas de apreciação do câmbio nominal nunca houve pressão inflacionária no Brasil. No final das contas o “juro neutro” depende mesmo é da trajetória do câmbio.


Historia diplomatica em fontes francesas: Quai d'Orsay

Histoire diplomatique


En France, l’histoire diplomatique a pour fondateurs Albert Sorel (1842-1906) et Albert Vandal (1853-1910), professeurs à l’École libre des sciences politiques. S’ils ne la réduisent pas à l’histoire des diplomates et des ambassades, ils limitent les relations internationales à des relations entre gouvernements. L’intérêt national est une réalité et une norme, défendu par chaque État dans la durée, quelle que soit l’idéologie des régimes politiques en place. L’histoire privilégie alors l’histoire événementielle, celle des grands hommes et des négociations entre chancelleries. A partir des années 1930, ce type d’histoire diplomatique est remis en cause. Lucien Febvre (1878-1956), Marc Bloch (1886-1944), Fernand Braudel (1902-1985), Pierre Renouvin (1893-1974) ou Jean-Baptiste Duroselle (1917-1994) élargissent le champ d’étude aux questions économiques et sociales. L’histoire des relations internationales n’est plus alors seulement l’histoire des rapports interétatiques mais aussi celle des rapports entre les peuples.
Le nombre considérable de documents dématérialisés relatifs à l’histoire diplomatique impose que cet ensemble documentaire soit subdivisé par période historique. Compte tenu du fait qu’ils concernent principalement la France, les tranches chronologiques ont été déterminées en fonction de ses régimes politiques successifs :  
La nature des informations très disparates contenues dans les manuscrits numérisés de correspondances diplomatiques a conduit à choisir cet ensemble documentaire pour les regrouper. Publiées, les lettres et instructions figurent dans l’accès « Documents diplomatiques ».

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Dialogos Estrategicos: revista da SAE/PR

Revista Diálogos Estratégicos

Publicação: O Comércio Internacional na Agenda de Produtividade e Modernização Econômica Brasileira

 Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República
Resumo: “No dia 7 novembro de 2017, a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos, em parceria com o Ministério da Fazenda e o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, promoveu a primeira edição de Diálogos Estratégicos, uma série de debates em torno de temas estruturantes para o futuro do Brasil. O tema deste primeiro evento da série foi “Abertura Econômica para o Desenvolvimento e Bem-Estar”. O objetivo foi discutir o papel da abertura econômico-comercial como vetor de desenvolvimento econômico. Esta publicação apresenta as visões dos painelistas convidados sobre os temas abordados nos painéis: estratégias de acesso ao mercado internacional, facilitação de comércio, infraestrutura e regulação do comércio exterior brasileiro. Reflete, portanto, o compromisso da SAE/PR de fomentar a reflexão estratégica acerca das alternativas para o desenvolvimento do Brasil.” (...)
Palavras-chave: abertura comercial, inserção internacional, trabalho, produtividade
Data da Publicação: abril de 2018
Volume: 01
Número: 01
Ano: 2018
Corpo Editorial:  Carlos Pio e Ana Paula Repezza
ISSN:Idioma: Português

DiálogosEstrategicosNr1

SUMÁRIO 
Carlos Pio e Ana Paula Repezza 10

INSERÇÃO INTERNACIONAL COMO FUNDAMENTO10 DE UMA ECONOMIA PRODUTIVA E INCLUDENTE 
Carlos Pio e Ana Paula Repezza 
BRAZIL’S PRODUCTIVITY AND TRADE CONUNDRUM 12Margareta Drzeniek-Hanouz 
ABERTURA ECONÔMICA COMO FATOR-CHAVE 16 PARA O CRESCIMENTO 
Mansueto de Almeida 
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A AGENDA 19 DE POLÍTICA COMERCIAL DO BRASIL 
Martin Raiser 
ABERTURA COMERCIAL E O AGRO 25 André Nassar 
CRESCER MAIS E MELHOR: UM MAPA DO CAMINHO 29 PARA A ABERTURA ECONÔMICA DO BRASIL 
Daniel Feffer 
UMA AGENDA PARA ALAVANCAR 31 O COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 
Carlos Pio e Ana Paula Repezza 
EM DIREÇÃO A UM NOVO CICLO PARA 33 O COMÉRCIO EXTERIOR DO BRASIL 
Abrão Árabe Neto e Lorena Giuberti Coutinho 


A globalizacao e seus descontentes: um roteiro dos equívocos - Paulo Roberto de Almeida (2006)

A globalização e seus descontentes:
um roteiro sintético dos equívocos

Paulo Roberto de Almeida

I. Une petite maladie française...
Mesmo sabendo que é particularmente difícil dialogar com os antiglobalizadores (sejam eles profissionais ou amadores), venho, desde muitos anos, tentando manter aberto um canal de debate sobre algumas das questões mais relevantes da agenda internacional. 
De fato, no que se refere aos problemas de desenvolvimento e de distribuição mundial de riqueza, que estão no centro de grande parte dos conflitos remanescentes no cenário internacional, parece ser virtualmente impossível chegar a um terreno comum de entendimento com os antiglobalizadores, em geral em função de uma tendência latente, chez eux, àquela virtude que os franceses chamariam de repli-sur-soi(e que nós chamaríamos, simplesmente, de “política do avestruz”). 
Sei que eles, adotando um vocábulo de origem francesa, preferem chamar a si mesmos de “altermundialistas”, mas como eles nunca apresentaram a arquitetura exata desse “alter” mundo, vou continuar chamando-os de “antiglobalizadores”, até que eles apareçam com a receita do novo mundo.
Os franceses, justamente, que detêem o “copyright” mundial do altermundialismo, são especialistas no esforço, geralmente inútil, de lutar contra “moinhos de vento”, a começar pelo exercício intelectualmente patético de recusar o conceito anglo-saxão de globalization, preferindo em seu lugar o equivalente doméstico mondialisation.
Eles também vêem se especializando, nos últimos tempos, em lutar contra eles mesmos, ao mesmo tempo que contra o seu próprio país, como revelado nas maciças manifestações contra a flexibilização tentativa das relações contratuais de trabalho, empreendida pela gestão Dominique de Villepin (até quando ele vai resistir?). A maior parte dos franceses parece preferir uma taxa maior de desemprego e uma menor de crescimento econômico, numa demonstração canhestra, ou tosca, de que não existem piores males sociais do que aqueles auto-infligidos, conscientemente ou não. Assistiremos, provavelmente, a maiores e mais pesados embates políticos, até que o cansaço social e o aprofundamento inelutável da decadência nacional consigam realizar uma convergência dos franceses em direção da lógica cartesiana e da razão econômica. 
Ou será que não? Ah, mais ça importe à qui, finalement?

II. Et le Brésil, comment va-t-il?
O Brasil não está imune ao mesmo tipo de reação “ludita” contra as tendências atuais e futuras da globalização, uma vez que, aqui também, ostentamos as rigidezes sociais da França no que se refere à legislação laboral e um mesmo espírito “gaulês” de “solução de controvérsias”, que faz do “enfrentamento de classes” não apenas um método de luta mas, sobretudo, uma ação finalística que sempre visa algum grande projeto de “reordenamento social” no sentido da redenção dos males do passado e da construção utópica de um futuro imaginado.
Tampouco escapamos dessa espécie bizarra de “pacto social perverso”, que faz com que a sociedade prefira sempre exigir “direitos máximos”, em lugar de pensar em primeiro lugar em “obrigações mínimas”, ou daquela outra inclinação surrealista que consiste em pedir sempre maiores serviços ao “Estado”, olvidando que a fonte de todos os recursos do Estado nada mais é do que a riqueza gerada na própria sociedade, que aliás deixa, no meio do caminho, uma parte dessa renda aos burocratas e outros intermediadores estatais.
Mas, estes são os nossos “males de origem”, difíceis a extirpar, sobretudo quando tantos intelectuais de gabinete e muitos dos seus companheiros acadêmicos, em lugar de se dedicarem a uma análise objetiva da realidade contemporânea, tal como “realmente existente”, se comprazem mutuamente nesses encontros de protesto contra a globalização “assimétrica”, contra o capitalismo “selvagem” e a arrogância “unilateral” do império. 
A auto-ilusão é uma virtude muito bem compartilhada por todos esses representantes típicos do niilismo contemporâneo, em especial quando o que menos importa nessas ruidosas reuniões é a lógica do pensamento e sua conexão com os fatos objetivos. Daí a minha sensação de mais perfeita inutilidade ao rabiscunhar tantos e tão variados textos sobre a globalização, já que o que faz sucesso, retumbante, é a antiglobalização militante, a luta contra o “pensamento único” das regras do consenso de Washington e contra a ditadura do neoliberalismo. 
Sim, cabe a pergunta: alguém já assistiu, em qualquer lugar da terra e, sobretudo, no Brasil, a alguma manifestação “em favor” da globalização? (r.s.v.p: meu e-mail).

III. A água é mole, mas a pedra é duríssima (e as cabeças ainda mais...)
Como eu sou um pouco persistente nesse emprendimento inglório, continuo a tecer meus comentários iconoclastas, mas confesso que o exercício me parece bem mais próximo daquilo que se chama de “tarefa de Sísifo”. Vou persistir, assim, nesse encargo, ainda que eu seja o primeiro a reconhecer que a minha vontade de debater é, no mais das vezes, absolutamente unilateral, já que nunca vejo vir alguma coisa, qualquer coisa, do “outro lado”. Deve ser por autismo e introversão, certamente. 
Ainda assim, pretendo continuar na arena das idéias, armado, como sempre estou, unicamente de meus instrumentos habituais de “combate”, que são a lógica como método irrecusável de argumentação, a sustentação empírica e a exibição de evidências históricas e fáticas em apoio a minhas afirmações e propostas. 

IV. O meu roteiro dos equívos dos antiglobalizadores...
Dito isto, passemos aos argumentos de trabalho. Quais seriam, numa visão sintética, os elementos essenciais de qualquer discurso empiricamente embasado sobre a agenda internacional da globalização e seus principais problemas? 
Eles parecem se resumir a estas questões maiores:  
A globalização e seus possíveis pontos de contestação:
1. A globalização e o desenvolvimento: convergências ou divergências? 
2. A globalização e as políticas neoliberais: elas produzem recessão e desemprego?
3. O “consenso de Washington” fracassou na América Latina? E o caso do Chile? 
4. Liberalização comercial e produtividade: quais as evidências nesse campo? 
5. Liberalização financeira e capitais voláteis: e o problema da estabilidade? 
6. Relações de trabalho e desemprego: quais as lições dos países mais flexíveis? 
7. Inserção internacional e interdependência econômica: quais são os problemas?
8. Patentes e países pobres: como avançar em ciência e tecnologia? 
9. Investimentos externos e autonomia tecnológica: eles são opostos? 
10. Segurança alimentar e protecionismo agrícola: e a situação dos países mais pobres? 
11. Taxas sobre fluxos de capitais: elas são positivas ou mesmo necessárias? 
12. Livre-comércio ou mercantilismo: o que é bom para o crescimento? 

Vejamos agora, ainda que resumidamente, cada um desses pontos de controvérsia. Eu o farei sob a forma de quadros sintéticos, sem me preocupar, no momento, em desenvolver cada um dos pontos. Disponho, em todo caso, para ajudar os curiosos e insaciáveis de conhecimento empírico, de tabelas, relatórios, estatísticas, estudos setoriais e globais, publicações especializadas dos organismos internacionais, enfim, tudo o que possa servir para embasar, quantitativa e qualitativamente, cada uma das minhas afirmações nas celulas “orientais” de cada uma das tabelas (eu poderia dizer “células da direita”, reservando o privilégio da “esquerda” para os antiglobalizadores, como de fato ocorre, mas esse tipo de derivação ideológica-terminológica me parece por demais infantil).
Aceito contestações e polêmicas, mas os candidatos ao debate deverão comparecer, por favor, armados dos dados estatísticos, relatórios e outros informes que permitam comprovar as acusações também genéricas que aparecem nas “células da esquerda”.
Voilà, allons-nous...

1. A globalização e o processo de desenvolvimento: convergência ou divergência?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
Globalização aprofunda a miséria, cria mais desemprego e acarreta mais desigualdades no mundo, tanto dentro dos países, como entre os países
Dados estatísticos não corroboram essas afirmações; ela diminuiu a pobreza e a miséria (China e Índia); evidências são ainda insuficientes no que toca a desigualdade interna


2.A globalização e as políticas econômicas neoliberais: recessão e desemprego?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
As políticas liberais produzem recessão e desemprego, privilegiando unicamente os setores financeiros e as elites
Os países que mais crescem e que ostentam as menores taxas de desemprego são, justamente, os chamados “neoliberais”


3. O “consenso de Washington” fracassou na América Latina? E o caso do Chile?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
O “consenso de Washington” fracassou na América Latina e  os países deveriam se opor às suas regras para retomar o crescimento, o dinamismo e se inserirem de forma soberana na economia internacional
Os países que mais se identificaram com as políticas “neoliberais”, como o Chile, ostentam taxas sustentadas de crescimento e progressos na redução das desigualdades distributivas e na qualificação competitiva de suas economias


4. Liberalização comercial e ganhos de produtividade: quais as evidências?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
Processos de abertura econômica e de liberalização comercial representam o sucateamento da indústria e desmantelamento de setores inteiros da economia nacional
Países que adotaram essas medidas, como o Brasil do início dos anos 1990, registraram, as maiores taxas de crescimento da produtividade e ganhos significativos  de competitividade internacional


5. Liberalização financeira e capitais voláteis: quais requisitos para a estabilidade?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
As regras liberais impõem total liberdade aos movimentos de capitais e a plena abertura cambial, o que facilita as atividades especulativas nos mercados de divisas e eventual instabilidade financeira
Maior competição nos mercados de capitais e liberalização cambial reduzem o custo do dinheiro e estimulam o investimento produtivo, mas regras ditas de Basiléia devem existir para prevenir crises financeiras


6. Relações de trabalho e desemprego: quais são as lições dos países mais flexíveis?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
A flexibilização neoliberal do mercado de trabalho produz desemprego e perda de direitos consagrados, resultando em precarização das relações de trabalho e terceirização das atividades
Países que mais adotaram essa postura são os que exibem as menores taxas de desemprego e o maior crescimento da produtividade do trabalho; taxas de desemprego dos EUA e da Grã-Bretanha são a metade das prevalecentes na França


7. Inserção comercial internacional e interdependência econômica: problemas?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
Livre-comércio internacional acarreta desigualdades e dependência dos países das empresas multinacionais, o que compromete possíveis políticas públicas
Economias que se inserem nos fluxos internacionais de intercâmbio comercial melhoram o padrão produtivo e tecnológico, criam suas multinacionais e diminuem a dependência das matérias-primas


8. Patentes e países em desenvolvimento: como avançar em ciência e tecnologia?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
Os direitos de propriedade intelectual, sobretudo na área farmacêutica, são inerentemente injustos, transferindo renda dos países pobres para os mais ricos, condenando os primeiros a uma “eterna dependência tecnológica” dos segundos
É preciso uma compensação pela inovação tecnológica; países como China e Índia, que são ainda relativamente pobres segundo os padrões internacionais, estão aderindo de forma crescente a normas mais elevadas de proteção patentária


9. Investimentos diretos estrangeiros e autonomia tecnológica: incompatibilidades?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
Investimentos diretos estrangeiros criam maior dependência econômica e oneram o balanço de pagamentos pela remessa ampliada de divisas e de royalties para o exterior
Países pobres vêm aumentando o volume e a qualidade da proteção dada ao IDE (acordos de garantia de investimentos) e assegurando livre transferência dos resultados produzidos


10. Segurança alimentar e protecionismo agrícola: isso é bom para os países pobres?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
É preciso garantir a segurança alimentar e reduzir a dependência externa, daí a legitimidade de políticas subvencionistas e protecionistas, como aquelas em vigor nos países desenvolvidos, como os EUA, a União Européia e o Japão
Políticas subvencionistas não são apenas irracionais do ponto de vista econômico, elas também trazem enorme prejuízo aos países mais pobres, inviabilizam sua participação no comércio internacional e os condena a uma eterna dependência econômica


11. Taxas sobre movimentos de capitais: são positivas ou até mesmo necessárias? 

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
“Colocar areia nas engrengagens do capital”; (a adoção de uma taxa internacional sobre movimentos de capitais foi, depois, condenada pelo próprio criador da medida, James Tobin)
Os países em desenvolvimento são importadores necessários de capitais e o novo imposto irá aumentar o custo dos empréstimos e de captação de recursos financeiros nos mercados


12. Livre-comércio e mercantilismo: o que é melhor para o crescimento econômico?

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
O livre-comércio sempre beneficia os mais poderosos, daí a necessidade de administrar politicamente os mercados e estabelecer políticas industriais
Mercados livres são funcionais para a modernização tecnológica, ganhos de oportunidade e distribuição de renda (via especialização produtiva), permitindo a livre circulação de fatores


Conclusões: os mitos e equívocos sobre a globalização

Antiglobalizadores:
Realidades da globalização
Um “outro mundo é possível”, não mais baseado no lucro e nos ganhos materiais, mas na solidariedade e na partilha; as empresas multinacionais impõem sua ditadura econômica aos povos do mundo, esgotam os recursos naturais e comprometem o meio ambiente
O “outro mundo possível” nunca foi formalizado no papel ou  apresentado em detalhes, na prática; os agentes econômicos diretos e os consumidores sabem melhor do que quaisquer governos como alocar recursos, poupança e investimentos produtivos


Nota final: espero não cansar muito meus opositores, que poderão responder aos poucos, se desejarem. (Duvido, porém, que apareçam candidatos; vale um livro, gratuíto, como oferta da casa...)

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7 de abril de 2006

1573. “A globalização e seus descontentes: um roteiro sintético dos equívocos”, Brasília, 7 abril, 2006, 6 p. Texto suporte para palestra no Uniceub, em ciclo de integração entre graduação e pós-graduação, que seria proferida no dia 19 de abril de 2006, com versão em PowerPoint. Palestra suspensa, alguns dias antes. Transformado em artigo, sob versão revista, e publicado no Espaço Acadêmico(ano VI, nº 61, junho 2006). Relação de Publicados n. 655.

A obsessao brasileira com o desenvolvimento - Paulo Roberto de Almeida

Um antigo projeto de trabalho, conduzido de forma dispersa, errática,  em diversos textos meus ao longo dos últimos anos, mas jamais de maneira sistemática, como ele mereceria.
Talvez cabe retomar o projeto agora.
Paulo Roberto de Almeida

A noção de desenvolvimento no discurso diplomático brasileiro

Paulo Roberto de Almeida

Parte I:
Desenvolvimento: biografia de um conceito
1. A economia natural e a economia dos clássicos
            (ausência da noção e da prática na economia do laissez-faire)
2. A emergência do desenvolvimento enquanto idéia
            (a noção iluminista de progresso; livro: The Idea of Progress)
3. O desenvolvimento se materializa na prática: o Estado como ator
            (Primeira Guerra e conseqüências práticas)
4. O triunfo do desenvolvimento: a idéia central de nossa época
            (sua consagração na retórica onusiana e na teoria econômica)
5. A tragédia do desenvolvimento: meio século de frustrações
            (a despeito de todo esse talking e dos estudos, a realidade...)

Parte II:
O desenvolvimento no discurso diplomático brasileiro
6. O desenvolvimento como idéia e como retórica
            (Furtado e outros desenvolvimentistas e seus reflexos no Itamaraty)
7. O discurso diplomático: recorrências e reverências
            (rendemos tributo, praticamente de modo mecânico, ONU, etc.)
8. Trajetória prática e arranjos mecânicos: a dinâmica dos grupos
            (a organização dos trabalhos nos foros desenvolvimentistas)
9. A eficiência marginal de um conceito: os rendimentos decrescentes
            (como tudo isso foi perdendo a força, mas continuamos insistindo)
10. O renascimento do desenvolvimento [enquanto discurso]
            (o papel apresentado na OMPI é um bom test in case...)

Parte III:
Conseqüências econômicas de um conceito
11. Brasil: país subdesenvolvido ou pais injusto?
            (o que somos afinal?: provavelmente ambas as coisas)
12. Do discurso à prática: correlações causais?
            (a retórica provocou mudanças reais?)
13. O fim do desenvolvimento?
            (conclusões pouco conclusivas?)

Biblio, etc

Brasília, 1ª versão: 5 outubro 2004