O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 6 de novembro de 2018

Diplomacia bolsonarista: ainda nem começou mas já agita um bocado

Notícias turbulentas:



A medida significa um alinhamento do País com Israel e o abandono de uma posição de equilíbrio mantida por décadas pela diplomacia brasileira.





Egito cancela viagem diplomática brasileira. Medida ocorre após declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro sobre embaixada em Israel.




O esforço da diplomacia brasileira tem sido o de garantir que o avanço do agronegócio ocorra de forma sustentável. A sinalização de que o Ministério ...






Escolheu um lado na confusão interna da Venezuela, contrariando um princípio da diplomacia brasileira. Fui a Caracas em 2003, uma época em que ...






O embaixador da Palestina no Brasildisse nesta segunda-feira esperar que ... "Ainda temos dois meses para deixar a diplomaciatrabalhar", afirmou.






Nesse mundo globalizado, o Brasil não pode se dar o luxo de ficar de fora. Nos governos Dilma e Temer, a diplomacia brasileirapraticamente ...






Em reação a Bolsonaro, Egito adia sem data visita oficial ao Brasil ... de uma posição de equilíbrio mantida por décadas pela diplomacia brasileira.






Foi um dos grandes momentos da diplomacia brasileira: o disco “Getz/Gilberto” abriu o mercado dos EUA e da Europa para a bossa nova. Bolsonaro ...






União Europeia relembra a novo mandatário brasileiro que a cooperação com Bruxelas inclui temas como direitos humanos e meio ambiente.






A primeira, que tem sido defendida por Paulo Guedes, representa um claro avanço para o Brasil: integrar nosso país à economia global. Promover o .


IPRI: eventos programados, novembro e dezembro 2018

 
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag
Planejamento de atividades de agosto a dezembro de 2018

Paulo Roberto de Almeida
Diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, IPRI-Funag
Versão 02-Pragramação 2sem2018 - preliminar: 06/11/2018

Novembro

Evento: Seminário “Diplomacia Científica: o valor da Inovação” c
Ministro Luís Felipe Silvério Fortuna 
Local: IRBr
Horário: Das 15h 
Data: 13/11/2018  

Evento: As Relações Internacionais  na Constituição de 1988, 
Apresentação do livro “Princípios  Constitucionais  de Relações Internacionais : significado, alcance  e aplicação” 
Conselheiro João Ernesto Christófolo.
Local: Sala D
Horário: Das 15h 
Data: 14 /11/2018  

Evento: A Política externa  e o novo  Governo” 
Apresentação do livro “Um diplomata a serviço  do Estado – na defesa  do interesse nacional”.
Embaixador Rubens Barbosa
Local: PNB
Horário: 15h
Data 20/11/2018

Evento:Prevenção de Genocídios em Conflitos Armados: a revolução silenciosa do princípio de proteção
Gustavo Macedo; comentários do diplomata Gustavo Senechal
Local: PNB 
Horário: 16h
Data 21/11/2018

Evento:Seminário: Historiografia da Política Externa Brasileira 
Local: Auditório do PNB
Horário: Das 09h às 18h30
Data 22/11/2018
Reserva do local: PNB 

Evento: “Juca Paranhos, O Barão  do Rio Branco” 
Livrodo embaixador  Luís Claúdio Villafañe ; comentários Emb. Rubens Ricupero
Local: Auditório do PNB
Horário: às 10h
Data 23/11/2018

Evento:Percursos Diplomáticos: Embaixador Sérgio Duarte 
Local: Auditório do IRBr
Horário: Das 15h às 17h30
Data 23/11/2018

Evento: Digital diplomacy” 
Former Prime-minister of Sweden Carl Bildt
Local: Auditório IRBr
Horário: Das 15h às 17h30
Data 27/11/2018
Reserva do Local:  Confirmada

Evento: Oliveira Lima, diplomata e historiador
Nathalia Henrich, diretora da Oliveira Lima Library
Emb. Paulo Rooberto de Almeida e Conselheiro André Heráclio do Rego
Local: Auditório PNB
Horário: Das 10h 
Data 28/11/2018

Evento: O papel do petróleo na matriz energética brasileira e mundial
Milton  Costa Filho, Secretário-Geral do Instituto Brasileiro do Petróleo - IBP  
Local: Auditório PNB
Horário: Das 15h às 17h30
Data 28/11/2018

Evento: Palestra-debate:Embaixador Roberto Jaguaribe (A CONFIRMAR)
Local: Auditório PNB
Horário: Das 15h às 17h30
Data 29/11/2018

Evento: Palestra-debate:Embaixador Paulo Estivallet (A CONFIRMAR )
Local: Auditório IRBr
Horário: Das 15h às 17h30
Data 30/11/2018

Dezembro

Evento: Percursos Diplomáticos: Embaixador Gilberto Saboia: 
Local: Auditório do IRBr
Horário: 15h
Data: 07/12/2018

Evento: Declaração Universal dos Direitos Humanos - de 10 de dezembro de 1948 
Local: Auditório do IRBr
Horário: Das 09h às 18h
Data 10/12/2018


Evento: Diálogos Internacionais do IPRI : Palestra-debate: Lançamento do livro do IPEA
Local: Auditório IRBr
Horário: Das 15h às 17h30
Data sem data 

Palpites para o novo Ministro da Educação - Claudio de Moura Castro (+ PRAlmeida)

Palpites para o futuro Ministro da Educação 

Claudio de Moura Castro

Vem aí um novo Ministro da Educação. Segundo um antigo ditado espanhol, “más sabe el diablo por viejo que por diablo”.  Como entro e saio do edifício do MEC, faz muito tempo, atrevo-me a oferecer alguns palpites.

1.    Ministro da Educação manda pouco (pode até mandar, mas ninguém obedece). Que inveja do da Fazenda! Canetadas não funcionaram, mesmo no período militar.

2.    Consertar a educação básica alçará o Ministro para a história. Mas quem o derruba é a universidade. Disse isso ao Portella, quando era Ministro. Apeado, por bulir com a universidade, alguém encontrou no seu gabinete o papelzinho em que ele anotou a frase. Outros ministros, por pouco, escaparam de igual sina. 

3.    E. Schiefelbein, reconhecido educador chileno, em determinado momento da sua vida virou Ministro da Educação. Como me disse, a lição mais importante desta experiência é ser necessário escolher três ou quatro metas e ir a fundo. Não dá para fazer muito mais. Pouco tempo depois de alçado à Presidência da República Checa, Vacla Vavel desabafou a um jornalista: “Como escritor, fui sempre cobrado pela originalidade. Como Presidente, tenho que repetir a mesma coisa mil vezes, até que todos se lembrem!”. Foco é tudo.

4.    O MEC aprendeu a fazer estatísticas e avaliar. Além disso, está encarregado de oferecer orientações para a Educação. Se cumprir bem esta agenda, já está ótimo. Mas usa mal os incentivos que poderiam ser embutidos em seus financiamentos. Por exemplo, poderia financiar as universidades em função do número de alunos formados ou por maiores pontuações no ENADE. Não faltam possibilidades, em todos os níveis. 

5.    O MEC não tem escolas, quase não as financia e não manda em quem as têm, os estados e municípios. Ainda assim, espera-se que seja responsável pela educação. Data vênia, muita humildade!

6.    O MEC atrapalha os estados mais maduros e deixa de socorrer os mais fracos. Deveria dar mais autonomia a uns e assistência bem próxima a outros. Isonomia é uma praga, não só nesse caso.

7.    Não se subestime a enorme força da burocracia do MEC.  Logo que entrou, F. Haddad, me ouviu falar dos “subterrâneos” do MEC. Perguntou a um amigo comum se, de fato, existiam. Suponho que ao sair estava mais do que convencido.

8.    Os políticos vão atazanar, pedindo empregos para parentes e buscando maneiras de tirar uma casquinha dos orçamentos.  Perigo à vista! 

9.    Na ordem geral das coisas, tudo indica que haja pouca corrupção na órbita do MEC, Afora alguns fundos mais vulneráveis, o resto ou é limpo ou é coisinha da raia miúda. Portanto, para quem quer reforçar seu caixa, não é uma boa opção. 

10. Depois da limpa feita por Paulo Renato, voltou a crescer a árvore de Natal dos programinhas disso ou daquilo, financiados e operados pelo MEC. Sua gestão é um petisco para os burocratas da casa. Até podem ser iniciativas simpáticas, mas falta-lhes massa crítica para fazerem diferença nacionalmente. Trocá-los por outros de menor número e mais impacto é uma bela missão. 

11. Há um bando de gente bem informada e serena, com ideias claras sobre o que precisa ser feito. Melhor ouvi-las que embarcar em soluções miraculosas.

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Permito-me acrescentar os meus próprios palpites (PRA):

12. Esqueça, rejeite, descarte qualquer proposta de “Escola Sem Partido”, ou desses grupos “anti-sexistas” nas escolas; concentre-se, única e exclusivamente, em reforçar o ensino de Português, de Matemática e de Ciências elementares, repito: única e exclusivamente, com poucas adições no currículo dos primeiros anos.

13. Exclua totalmente a obrigatoriedade do espanhol (ou portunhol) do currículo do fundamental; substitua pelo inglês e pelo uso da internet.

14. Exclua totalmente o caráter compulsório do ensino de Sociologia e Filosofia no médio, que isso é boquinha para marxistas desempregados; torne essas matérias opcionais, aliás, como sempre foi.

15. Não esqueça de dar pêsames ao seu colega astronauta, o tal que vai comandar o MCT, e que agora ganhou as universidades também; diga que você se sente compungido pelo inferno que ele vai enfrentar; ah, não se esqueça de dizer a ele que tente convencer o presidente a esquecer essa coisa de nomear reitores; isso seria criar uma guerra civil inutilmente, sem nenhum proveito para as universidades, ou para os alunos.

16. Acabe com o princípio da isonomia, esse prêmio à preguiça e à burrice progressiva.

17. Acabe com a estabilidade no professorado; como no caso da reforma previdenciária de capitalização, de longo prazo, comece a criar uma carreira paralela de professores, orientada pelo princípio da meritocracia, premiados por bons salários mas sem estabilidade; em mais ou menos 40 anos a educação pública vai melhorar…

De Tel Aviv a Jerusalem: a mudança de vários bilhões de dólares - Paulo Roberto de Almeida

No início do ano, ao ler uma "interessante" matéria numa revista "progressista", redigi imediatamente uma nota, como sempre faço quando me deparo, ou tropeço, neste caso, com coisas inusitadas que irrompem em minha tela, ou nas folhas que leio. Fiz este texto:

3249. “Um alerta sobre uma delicada questão diplomática: o caso de Israel”, Brasília, 23 fevereiro 2018, 3 p. Chamando a atenção para o apoio político dado por setores religiosos a Israel, como suscetíveis de influenciar a postura diplomática brasileira.

Como o assunto voltou à pauta, permito-me transcrever novamente o que escrevi em fevereiro, sem sequer reler, para não ficar tentado a mudar alguma coisa...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6 de novembro de 2018

Um alerta sobre uma delicada questão diplomática: o caso de Israel

Introdução
Recentemente, um órgão da imprensa brasileira (Revista Piauí, 19/02/2018), trouxe uma matéria sobre o crescente apoio político ao pré-candidato Jair Bolsonaro, vindo de meios simpáticos à causa de Israel entre círculos de empresários judeus de São Paulo: “Empresários paulistas contam porque apoiam Bolsonaro” (disponível neste link: http://piaui.folha.uol.com.br/empresarios-paulistas-contam-por-que-estimulam-bolsonaro/). A alegação para o apoio era a de que o candidato seria o único, dentre os já declarados, a ser “favorável a Israel”. A justificativa foi explícita: “É pessoalmente comprometido com o Estado de Israel”. Supõe-se que a mesma justificativa para o apoio a esse candidato possa vir, oportunamente,da já respeitável bancada evangélica no Congresso brasileiro, apoiadora incondicional de Israel, e que representa uma fração não desprezível, talvez até mais de 30%, do eleitorado brasileiro.
É importante chamar a atenção, e fazer um alerta preventivo, quanto ao caráter indesejável de se introduzir essa questão no debate político-eleitoral, por uma tripla preocupação a partir de minha posição como diplomata, mas também como eleitor, ou simples cidadão brasileiro: a inadequação de se introduzir um tema religioso no debate político; sua problemática dimensão diplomática, tendo em vista a posição tradicional do Brasil no tocante a Israel e à questão do status de Jerusalém; os possíveis efeitos desastrosos, no plano comercial-econômico, de uma tomada de posição deste candidato, ou de quaisquer outros, quanto a uma possível mudança de postura diplomática do Brasil, no seguimento da decisão da administração Trump de efetuar o deslocamento da embaixada dos EUA em Israel de Tel Aviv a Jerusalém.

A dimensão religiosa
A Constituição brasileira reconhece a validade, a legitimidade e a liberdade de todas as expressões religiosas no seio da sociedade, sem qualquer tipo de preferência ou discriminação. O Estado, porém, é laico, e não poderia deixar suas politicas públicas, mormente suas posturas diplomáticas, serem influenciadas por demandas específicas de um credo religioso qualquer, sob risco de ser acusado de introduzir a temática religiosa na esfera das grandes definições estatais, especialmente diplomáticas, que devem ficar necessariamente autônomas e independentes de preferências expressas no âmbito de um grupo religioso determinado, por mais influente ou majoritário que este possa ser. O antigo país católico romano que é o Brasil já traz uma crescente diversidade religiosa, e um crescimento visível das afiliações evangélicas, com poder suficiente para influenciar tomadas de decisão políticas na esfera do parlamento, sob a justificativa de que podem expressar correntes relevantes da opinião pública.
Esse parece ser o caso da bancada evangélica, comprometida com uma série de objetivos nos planos ético ou moral – casos do aborto, das opções de gênero, do chamado “casamento homossexual”, etc. –, no plano médico-científico – experimentos com células-tronco, por exemplo –, na esfera educacional – ensino de criacionismo ao lado da teoria da seleção natural – ou ainda, e mais importante para este argumento, a questão de Israel, não como Estado soberano, como qualquer outro, na comunidade internacional, mas como o representante legítimo da “palavra de Deus” na Terra. 
Seria conveniente que tal preferência religiosa não se traduzisse em qualquer pressão sobre o Estado brasileiro, especificamente sobre sua política externa, no caso concreto do reconhecimento de Jerusalém como “capital verdadeira” do Estado de Israel e na eventual transferência da embaixada do Brasil a essa cidade, considerada como “internacional” por ampla maioria dos países membros da ONU, e assim tem sido historicamente. O Brasil tem orgulho de ter sido um dos patrocinadores da criação do Estado de Israel, na famosa partilha da ONU de 1947, prevendo a criação de um estado palestino e a “neutralização” de Jerusalém como cidade comum a diversos credos. Uma interferência desse tipo sobre uma política pública seria, no limite, inconstitucional e extremamente controversa no plano diplomático, como agora argumentado.

A dimensão diplomática
Durante toda a história recente do Oriente Médio, e no acompanhamento dos dramáticos conflitos que ocorrem na região, a postura dos diferentes governos do Brasil desde o nascimento do Estado de Israel, tem sido a de apoio político e diplomático à sua existência, reconhecendo porém a necessidade de cumprimento escrupuloso de decisões da Organização das Nações Unidas, e de seu órgão de segurança, quanto ao equilíbrio necessário para se reconhecer os direitos do povo palestino a um Estado soberano, legalmente constituído. Jerusalém dispõe de um status especial, não sendo reconhecida como capital de Israel, a despeito de tentativas de parte do espectro político israelense e de grupos de apoio na esfera religiosa ao redor do mundo. Essa questão foi novamente trazida a exame pela comunidade internacional em face da decisão do presidente Trump de instalar sua embaixada naquela cidade, como “capital de Israel”, no que pode ser eventualmente seguido por iniciativas similares de um punhado de países. 
Não convém ao Brasil, país de tradicional acolhimento de imigrantes de todos os credos e origens raciais, e diplomaticamente um seguidor estrito do direito internacional em todas as vertentes de sua política externa, “importar” uma controvérsia de duvidosa legitimidade política ou diplomática, que não contribuiria em nada para consolidar o seu capital de parceiro imparcial de todos os atores e protagonistas dos dramas do Oriente Médio, quando sua postura tradicional tem sido, justamente, a de “exportar” apelos ao diálogo e à solução pacífica das controvérsias políticas e diplomáticas.
Qualquer pronunciamento de um dos candidatos à presidência do Brasil nessa questão teria o efeito de suscitar controvérsias internas e de colocar um problema no plano diplomático que atualmente inexiste, e deveria permanecer dessa forma. Não convém ao Brasil criar pontos de atrito ou fricções diplomáticas com Estados da região que possuem significativo contingente de expatriados, atualmente naturalizados e totalmente integrados à comunidade nacional, quando seu maior capital diplomático nos problemas do Oriente Médio é justamente a equidistância entre as partes em conflito.

A dimensão econômico-comercial
O Brasil é hoje um dos maiores fornecedores de grãos e carnes, dada a pujança de seu agronegócio, para diferentes mercados do mundo, destacando-se especialmente como um grande exportador de cortes avícolas no sistema “halal” para mercados árabes e muçulmanos em geral. Essa atividade representa bilhões de dólares em exportações, milhares de empregos no Brasil e um dos mais significativos nichos de competitividade nacional nos mercados externos, com perspectivas futuras ainda mais promissoras no comércio internacional do país. Disso deriva que qualquer tomada de posição do Brasil na questão de Jerusalém, ou mesmo de inflexão diplomática de sua postura equilibrada no sentido de maior apoio a Israel, poderia precipitar consequências políticas de grande impacto econômico e social nas regiões exportadoras de cortes especiais para mercados do Oriente Médio ou do mundo muçulmano. 
Cabe, assim, alertar preventivamente quanto à dimensão do problema em causa.

23 de fevereiro de 2018

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Professor convidado no IHEAL de Paris: abertura da seleção

Appel à candidatures pour les chaires de professeurs invités de 
l’Institut des Hautes Études de l’Amérique latine (Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3) 

Année universitaire 2019-2020


Cet appel est disponible en françaisanglaisespagnol et portugais
Appel à candidature pour l'année 2019-2020 SESSION OUVERTE JUSQU’AU 15 NOVEMBRE 2018



Conditions d’accès

■ Le candidat doit être âgé de moins de 65 ans lors de sa prise de fonction à l’IHEAL, être titulaire d’un doctorat depuis 5 ans au minimum ; être enseignant en poste dans une université ou être chercheur titulaire d'un organisme de recherche étranger au moment de la candidature.

■ Les invitations sont valables pour des séjours longs d’un semestre (4 mois entre septembre et décembre 2019 pour le premier semestre; entre janvier et avril 2020 pour le second semestre). Cela permet une véritable insertion des professeurs invités dans les activités d’enseignement et de recherche de l’Université.

■ Il est demandé aux bénéficiaires de la chaire de dispenser deux enseignements par semestre. Pour chacun de ces enseignements, la charge horaire totale est de 24 heures. Les cours correspondent aux thèmes de recherche et de compétences du professeur invité. Toutefois, les enseignements proposés peuvent subir des modifications en fonctions des besoins de l’IHEAL. Les cours des professeurs invités peuvent être dispensés en français, en espagnol ou en anglais.

■ L’IHEAL reçoit des candidatures dans les disciplines suivantes : histoire, géographie, anthropologie, sociologie, économie et science politique. Pour l'année universitaire 2019-2020, la commission de recrutement portera une attention particulière - mais non exclusive – aux propositions de cours relevant de la géographie et de l’anthropologie, ainsi qu’à celles portant sur l’Amérique centrale, les Caraïbes et les pays andins. Les enseignants seront susceptibles de dispenser des cours dans le nouveau Master LAGLOBE (Latin America and Europe in a Global World) de l’IHEAL, qui bénéficie d’un soutien de l’Union Européenne.

■ Les enseignants et chercheurs bénéficiant d’une chaire pourront réaliser des activités dans d’autres composantes de l’Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, ainsi que dans d’autres institutions universitaires françaises ou européennes avec lesquelles l’IHEAL entretient des collaborations.

■ A partir de la rentrée de l’année 2019-2020, dans le cadre du projet du Campus Condorcet, l’IHEAL intègre les locaux de la Cité des humanités et des sciences sociales situés au nord de Paris. L’ensemble des cours seront dispensés dans le nouveau campus.


Dossier de candidature

Les candidatures se feront directement en ligne. Les candidats devront :
1/ Remplir le formulaire en ligne disponible à l’adresse suivante : formulaire de candidature
2/ Envoyer, par e-mail uniquement, les documents suivants (en format Word, PDF ou image scannée) à l’adresse iheal-chaires@sorbonne-nouvelle.fr. Veuillez noter que seuls les documents demandés seront pris en compte.

■ Une lettre de motivation à l'attention du comité de sélection de l'IHEAL.

■ Un certificat de rattachement en tant qu’employé d’une université ou centre de recherche correspondant à l’année 2018.

■ Un curriculum vitae synthétique (6 pages maximum) comportant l’information personnelle de base ; la formation universitaire (en excluant les séminaires ou les formations de moins d’un an) ; l’expérience professionnelle, les activités d’enseignement et de recherche ; les activités administratives et de valorisation de la recherche le cas échéant ; la participation à des colloques de portée nationale ou internationale ; et la liste des publications, classée par ouvrages, articles dans des revues à comité de lecture, nationales ou internationales, rapports de recherche, actes de colloques et compte-rendu d’ouvrages dans des revues à comité de lecture. Toutes les informations du CV doivent être présentées par ordre chronologique en partant des dates les plus récentes vers les plus anciennes.

■ Deux lettres de recommandation avec tampon et signature.

■ Une copie du diplôme de doctorat.

■ Trois propositions de cours en vue d’un séjour d’un semestre, sous forme d’un résumé (abstract) de deux pages maximum par cours comprenant les thèmes et les objectifs visés, ainsi qu’une bibliographie sommaire. Merci d’indiquer la langue dans laquelle sera dispensé chaque cours.

■ Une copie du passeport en cours de validité.


Le dossier complet (formulaire + email avec pièces jointes) devra nous parvenir au plus tard le 15 NOVEMBRE 2018 avant minuit (heure française). 

Un email de confirmation vous sera adressé dans les jours suivant la réception du dossier. Les dossiers incomplets ou parvenus au-delà de ce délai ne pourront être examinés par la commission de recrutement de l’Université. Nous ne recevrons aucun dossier sous forme papier. Seules les pièces transmises par e-mail seront prises en compte. Tous les dossiers feront l'objet d'une double évaluation dont l'une réalisée par un chercheur ou un enseignant-chercheur extérieur à l'IHEAL.


Pour tout renseignement complémentaire, s’adresser à :

Manuel Rodríguez Barriga (Responsable administratif des Chaires)

Sergio Florencio, diplomata e professor no IRBr, escreve sobre a divisão do Brasil

Meu grande amigo, o embaixador Sergio Florencio, escreveu, ainda antes do segundo turno das eleições presidenciais, a um amigo comum, que provavelmente manifestou-lhe a intenção de votar por um dos dois candidatos.
Como suas considerações possuem um valor intrínseco que supera largamente o pleito eleitoral, e nossas escolhas individuais, solicitei autorização para postar sua carta neste espaço público, apenas omitindo o nome do destinatário original.
Admiro o espírito arguto, aberto, e bem informado de Sergio Florêncio, meu dileto amigo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5 de novembro de 2018


Estimado amigo Axxxxxxx Axxxx,
De: Sergio Florêncio
Brasília, 27/10/2018

A mensagem ao amigo vai na contramão do Brasil de hoje. Uma nação dividida onde os polos não conversam, os adversários viram inimigos e os argumentos não visam à razão, mas sim à polêmica. A mensagem busca o ausente – o diálogo franco e plural.
Você tem razão ao apontar os riscos para o país em eleger um candidato- Bolsonaro -  com afirmações contrárias aos direitos humanos, à liberdade de imprensa, ao pluralismo e à  democracia. 
Tem razão igualmente ao deixar claro que o candidato Haddad representa uma linha mais esclarecida e moderada  do Partido dos Trabalhadores, não só por sua formação mas também por seu desempenho como Ministro da Educação.
Assim,  minhas divergências com sua mensagem não são personalizadas nos dois representantes do PT e do PSL.  As diferenças com o amigo residem em algo mais profundo - o papel das instituições. Embora os indivíduos sejam o sujeito da História, eles passam e as instituições ficam.
A Revolução de 30 construiu o arcabouço do Estado brasileiro moderno. Apesar da absurda  repressão do Estado Novo, foram lá lançadas as âncoras de um Estado moderno. Âncoras  que respondiam ao imperativo  da transição de um país agroexportador para uma economia em processo de incipiente mas acelerada urbanização e industrialização.
As instituições edificadas na Era Vargas - DASP,  trabalhismo, sindicatos, previdência social  - foram modernizadoras. Além disso, sobreviveram durante décadas às intempéries das sístoles e diástoles da política e às crises de uma economia ciclotímica pautada por inflação crônica, milagres econômicos ilusórios, recessão e estagnação.
A partir de meados dos anos 90 e até o final da primeira década de 2000, esse cenário de crise mudou. O país teve a fortunade contar com um presidente (FHC) promotor do reformismo econômico – estabilidade do Plano Real, Lei de Responsabilidade Fiscal e Tripé Macroeconômico – e de ter tido como seu sucessor  um mandatário que soube por um tempo  preservar a política econômica de FHC,  bem como  ampliar e aprofundar políticas sociais – lastreadas nas reformas anteriores e numa economia mundial em expansão.
Além dessa fortuna, o país demonstrou contar com instituições sólidas, profissionais e voltadas para políticas de Estado -  era a nossa virtú.  Entretanto, com o aparelhamento e a politização das instituições, promovidos pelo PT,  essas virtudes foram perdendo vigor.  
Minha discordância com o amigo de tantos anos reside nesse último ponto. Sua mensagem identifica condenáveis declarações de um candidato que ameaçam no plano retórico nossas instituições. Mas seu texto não reconhece – no outro candidato -  as devastadoras políticas do Partido dos Trabalhadores dedicadas apenas à sobrevivência e contrárias à alternância no poder. 
Que políticas foram essas?  Aquelas implementadas – com irresponsabilidade e enorme dano para o país -  a partir da segunda metade do último mandato de Lula e durante todo o governo Dilma.  Consistiram em instrumentalizar o Estado para fins político-eleitorais, promover políticas apenas de corte populista e em adiar reformas essenciais ao desenvolvimento sólido e sustentável do país. 
Essas políticas produziram um  ilusório quadro de crescimento e estabilidade em uma economia que já estava marcada naquela época por desequilíbrios gravíssimos e que ficaram  manifestos no estelionato eleitoral promovido por Dilma. 
Os danos mais profundos são conhecidos: transformação da Petrobrás na empresa petrolífera mais endividada do mundo, vítima de corrupção e níveis inéditos; adiamento injustificável das licitações do pré-sal, com prejuízos gigantescos;  medidas populistas na área energética e monetária ( redução artificial de tarifas e da taxa básica de juros); aumentos exagerados do salário mínimo muito acima da inflação, com danos à produtividade e alimentadores da inflação; déficit gigantesco nas contas públicas;  desastrosa política de comércio exterior isolacionista -  ignorava os mais de 400 acordos de livre comércio firmados no mundo e a generalização das cadeias globais de valor; e um descontrole irresponsável das contas públicas.
Esse conjunto de vícios protagonizado pelo Partido dos Trabalhadores comprometeu de forma devastadora aquele binômio de fortuna e virtú  -  a marca da transição civilizada de FHC para Lula  .
Foram esses vícios  que transformaram a transição civilizada de 2002 na eleição polarizada de  2018. Foram deformações profundas e duradoras. Além de comprometer a política, a economia e a ética, causaram um dano mais irreparável ao país – fragilizaram e comprometeram de forma marcante  nossas instituições. 
A administração direta foi vítima do aparelhamento das instituições. Isso se  refletiu em políticas econômicas de corte populista implementadas, no plano macroeconômico,  pelo Ministério da Fazenda, na área de comércio exterior pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio -  MDIC, na infraestrutura pelo Ministério de Minas e Energia, e na educação  ( o absurdamente caro e sem resultados programa Ciência sem Fronteiras), implementado pelo Ministério da Educação. Nas estatais a devastação foi ainda maior. Nas agências reguladoras o desvirtuamento anulou o propósito inicial de sua criação. 
A instituição a que nós dois  pertencemos – Itamaraty -  foi também objeto dessa fragilização. O país assumiu -   a partir do segundo mandato de Lula e durante o governo Dilma – posições comprometedoras de nossa tradicional consistência em política externa: obsessão por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU ( aspiração legítima, mas obsessão irresponsável);  decisão oportunista de lançar uma iniciativa turco-brasileira sobre o programa nuclear iraniano, responsável por desastrosa derrota do brasileira em votação no Conselho de Segurança da ONU; identificação exagerada e irrefletida na América do Sul, com países da órbita da ALBA; estagnação do Mercosul; e isolamento da política comercial em uma dinâmica mundial de acordos de livre comércio e de cadeias globais de valor. 
Sua mensagem tem a virtude de apontar os riscos de apoiar um candidato com declarações contrárias aos princípios que sempre defendemos – direitos humanos, liberdade de imprensa e pluralismo político. Mas tem o vício de omitir os devastadores danos provocados pelo Partido dos Trabalhadores. 
Parece remota a possibilidade de que um candidato – mesmo com as virtudes pessoais de Haddad – possa colocar-se contra o Partido e o líder que o elegeu, ambos  responsáveis pelo grave quadro atual de recessão econômica, divisão social  e polarização política.   
Se a retórica  de um candidato representa  risco à democracia, a prática  do outro – representante do PT – constitui  ameaça à economia e às instituições. O país ficou sem opção.

Um grande abraço do amigo  
Sergio Florencio