O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 6 de outubro de 2019

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Nunca Antes na diplomacia: o discurso de Bolsonaro na ONU - Celso Amorim

Nunca Antes na Diplomacia é o título de meu livro de 2014, no qual eu fazia uma crítica severa da política externa lulopetista, marcada pelos arroubos megalomaníacos do chefe da tropa corrupta do PT e pelos trinados “megalonanicos” do chefe de sua diplomacia, o único diplomata profissional (que se conhece) a ter aderido a um partido em pleno exercício da carreira na condição de chanceler.
Pois é com esse título algo irônico que o “megalonanico” em questão começa sua peroração contra o lamentável e medíocre discurso do chefe de Estado — na verdade, chefe de um clã tribal — na abertura dos trabalhos da AGNU, uma crítica bem merecida, na qual eu descontaria os arroubos pro domo sua, se derramando em elogios ao “nunca antes” do lulopetismo diplomático.
Sem qualquer problema de consciência ou censura indevida, o que nunca foi minha atitude, transcrevo aqui esse artigo, com minha aprovação a 90% de seu conteúdo.
O bolsonarismo tem essa “qualidade”: ele é tão ruim, tão medíocre, tão sectário, que ele tem o dom de unir antigos adversários políticos.
Paulo Roberto de Almeida
Pirenópolis, 6/10/2019


Nunca antes na história deste País a diplomacia atingiu ponto tão baixo
Celso Amorim
Carta Capital, 4/10/2019

O discurso equivocado, arrogante e agressivo na ONU sela o isolamento do Brasil no cenário internacional

“Nunca antes na história deste País…” A maneira como Lula começava muitas de suas declarações, frequentemente recebidas com injustificada ironia pela mídia, pode aplicar-se, com sinal trocado, ao discurso do presidente Jair Messias Bolsonaro perante a Assembleia-Geral das Nações Unidas. Com efeito, “nunca antes” a diplomacia brasileira havia atingido um ponto tão baixo, tão mesquinho e tão distante da realidade, despertando reações que variaram entre a perplexidade e a chacota, além de justificada preocupação.

Nunca um discurso conceitualmente tão equivocado foi proferido com um tom tão arrogante e agressivo. As frases entrecortadas, lidas com ênfases incompreensivelmente mal colocadas, soavam como disparos de fuzil, como os que vitimaram Marielle Franco, Ágatha e tantos outros inocentes. Entre os equívocos, talvez o maior seja a noção distorcida de soberania, entendida como uma espécie de “licença para matar” em um determinado território. 

No ordenamento político-jurídico moderno, marcado pela interdependência e a busca, a soberania não pode ser vista de forma independente da responsabilidade para com o próprio povo e para com a humanidade. Pactos como os de direitos humanos ou sobre meio ambiente têm alcance universal, não apenas por representarem a consagração de valores civilizatórios, mas por expressarem a consciência de que o destino dos seres humanos é, ao fim e ao cabo, um só. 

A capacidade de apreender, como poucas outras nações podem fazê-lo, por contingências históricas, essa importante realidade está na raiz da aceitação tácita de uma tradição que faz com que o nosso país seja o primeiro a tomar a palavra no debate geral que abre, do ponto de vista político, esse grande conclave dos povos.

Ao longo dos últimos 70 e poucos anos, ministros e presidentes – e, por vezes, embaixadores especialmente designados – subiram ao pódio da ONU para levar mensagens de paz e conciliação permeadas de propostas sobre desenvolvimento econômico e social, comércio, meio ambiente, desarmamento e tantos outros temas.

Crises financeiras, disputas diplomáticas ou movimentos positivos, como a integração, bem como tensões e mesmo guerras, foram tratados pelos oradores – ultimamente, em geral, os líderes máximos – de um ponto de vista amplo, compatível com o privilégio do primeiro a falar. Mesmo quando foi necessário referir uma situação conflitiva do nosso país com outra nação – o que ocorreu muito raramente e cada vez menos na história recente –, foi feito de forma elegante e sem expressões desnecessariamente agressivas.

O que se viu na terça-feira 24 de setembro foi um personagem obcecado por ameaças inexistentes, deblaterando contra um pretenso globalismo que afrontaria a nossa soberania. Sim, é nossa responsabilidade soberana tratar da Amazônia. E não abdicaremos dela, como não deveríamos abdicar do nosso petróleo e da nossa tecnologia aeroespacial. Mas, sim, o que ocorre nessa importante região do mundo interessa a todo o planeta.

Ao se colocar contra o consenso praticamente universal sobre a importância da floresta como sumidouro de carbono (fator fundamental nas alterações climáticas), o presidente brasileiro revelou desconhecimento de fatos científicos comprovados. Da mesma forma, ao atacar o socialismo e a ideologia de gênero, demonstrou ser uma espécie de “Dom Quixote do mal” (perdão, Cervantes!), investindo contra moinhos de vento, com sua sanha destruidora. 

Nos quase 60 anos em que, como estudante interessado em política internacional, como diplomata profissional ou como ministro de Estado, acompanhei nossa atuação (com a provável exceção dos “anos de chumbo”), o Brasil procurou transmitir ao mundo a imagem de um país plural, tolerante, que buscava a paz e o desenvolvimento solidário das nações, mesmo quando a persistência de problemas internos (sobretudo a brutal desigualdade da nossa sociedade) poderia pôr em dúvida alguns desses propósitos. É que uma das características da política externa é justamente espelhar não só a realidade atual, mas aquela que projetamos para o nosso país e para o mundo.

Permito-me dizer que, nos anos em que servi no governo do presidente Lula, essa imagem se viu reforçada de forma inédita. A melhor síntese desse fato foi uma frase que entreouvi de um diálogo entre dois jovens diplomatas franceses ao entrarem no salão do Conselho Econômico e Social, onde se realizaria uma Cúpula sobre o Combate à Fome e à Pobreza, com a participação do presidente francês Jacques Chirac e o apoio do secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Ao observar o recinto repleto de chefes de Estado, reunidos por uma convocação do presidente brasileiro sobre temas tão relevantes, um dos diplomatas expressou sua admiração ao colega: “O Brasil abraça o mundo”.

Que contraste com a imagem do lobo solitário a atacar líderes de países amigos e valores abraçados pelo conjunto da humanidade, sem uma palavra sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sus-tentável (Agenda 2030), uma espécie de bússola para o futuro próximo, aprovada pelos chefes de governo dos 193 integrantes da ONU. Naquele momento, senti pena dos meus colegas mais novos, muitos deles idealistas – ainda que sem perder o sentido realista inerente à diplomacia –, obrigados, por profissão, a servir a um governo que pode ter muitas caras, mas certamente não a do povo brasileiro.

Não vou me estender sobre os prejuízos econômicos que essa submissão servil à ideologia trumpista (sem os pressupostos econômicos e militares que sustentariam a posição do seu modelo norte-americano) causará inevitavelmente ao Brasil, em particular a setores como o agronegócio, que apoiaram a eleição de Bolsonaro, ou a incoerência entre a saudação ao acordo de livre-comércio com a União Europeia e os ataques a um dos principais líderes do bloco.

Para um diplomata de carreira como eu, que tive, inclusive, o privilégio de subir àquela tribuna, em substituição ocasional aos presidentes sob os quais servi, o que mais dói é ver nosso país ridicularizado e relegado à condição de Estado-pária, que, diferentemente de outros que ganharam, justa ou injustamente, esse qualificativo, foi depositário de tanta confiança e esperança. Que este tempo de trevas passe rápido e que o Brasil se reencontre consigo próprio é tudo o que podemos esperar.

Joe Biden sobre a patifaria de Trump que deslanchou o pedido de impeachment

Joe Biden: Trump won’t destroy me, and he won’t destroy my family


Former vice president Joe Biden in Las Vegas on Oct. 2. (John Locher/AP)
Former vice president Joe Biden in Las Vegas on Oct. 2. (John Locher/AP)
The Washington Post, October 6, 2019

Joe Biden, the former vice president, is seeking the Democratic nomination for president.

Enough is enough. Every day — every few hours, seemingly — more evidence is uncovered revealing that President Trump is abusing the power of the presidency and is wholly unfit to be president. He is using the highest office in the land to advance his personal political interests instead of the national interest.

The president’s most recent violation of the rule of law — openly calling for China to interfere in our elections, as he stood on the South Lawn of the White House — is so outrageous, it’s clear he considers the presidency a free pass to do whatever he wants, with no accountability
He does not understand the immense responsibility demanded of all those who hold the office of the president of the United States. He sees only the power — and how it can benefit just one person: Donald Trump. 


Our first president, George Washington, famously could not tell a lie. President Trump seemingly cannot tell the truth — about anything. He slanders anyone he sees as a threat. That is why is he is frantically pushing flat-out lies, debunked conspiracy theories and smears against me and my family, no doubt hoping to undermine my candidacy for the presidency.
It’s the same cynical playbook he returns to again and again. But this time, it won’t work, because the American people know me — and they know him. I will put the integrity of my whole career in public service to this nation up against Trump’s lack of integrity any day of the week.
It all comes down to the abuse of power. That is the defining characteristic of the Trump presidency.
We now know he has abused the foreign policy of the United States in an attempt to extract political favors from multiple countries. He has directly asked three foreign governments to interfere in U.S. elections, including Russia, one of our greatest adversaries, and China, our closest competitor. He has corrupted the agencies of his administration — including the State Department, the National Security Council staff, the Justice Department and the office of the vice president — to do his personal political bidding. We also know that the people around him in the White House recognized just how profoundly wrong it was and worked overtime to cover up Trump’s abuses.


Thankfully, someone had the courage to blow the whistle. In America, not even the president is above the law. That’s a founding principle of our nation and our system of government. 
This isn’t just an academic exercise in political theory. A president who puts his self-interest ahead of the public good and the nation’s security poses a threat to the daily lives of every American.
Just days after the House of Representatives opened an impeachment inquiry against him, Trump hosted the president of the National Rifle Association in the Oval Office. Did they discuss the common-sense gun-safety legislation the nation so desperately needs? No — they talked about how the NRA can help reelect Donald Trump.
He’s so deep in the pocket of the fossil fuel industry, he’s literally sacrificing the planet’s future for personal political gain. He pulled out of the Paris climate agreement and froze fuel economy standards the Obama-Biden administration put in place for cars, and he’s preventing California from implementing its own higher standards. He won’t even acknowledge the climate crisis that he is making worse every day. 
In his phone call in June with Chinese President Xi Jinping — in addition to seeking his involvement in our election, which he then publicly repeated — Trump reportedly sold out the people of Hong Kong, who for months have been rallying in the streets for the democratic rights they are owed. 
America’s word and our standing in the world are in free fall because of the actions and incompetence of this president. 
It is easy to be distracted by Trump’s daily outrages — to become obsessed with them or numb to them, or to normalize behavior that Americans would not have tolerated in any of the previous presidents in the nation’s history. Not me. While the House does its job on impeachment, I’m going to stay focused on what matters: remaking education so every child in the country is equipped to succeed in the 21st century; getting weapons of war off the streets and ending the epidemic of gun violence; building on Obamacare so that every American has access to quality, affordable health care; taking on the climate emergency imperiling the planet; and much more. I’m going to fight to ensure that the United States is once again the leader of the free world; a champion of democracy; and the bulwark of a stable, peaceful international order. 
And to Trump and those who facilitate his abuses of power, and all the special interests funding his attacks against me: Please know that I’m not going anywhere. You won’t destroy me, and you won’t destroy my family. And come November 2020, I intend to beat you like a drum.

Read more:

Política externa: os desastres em série

E ainda não acabou:

Resultados práticos da “política externa para o povo” do olavo-bolsonarismo diplomático dos últimos 9 meses:
1) reforçaram o chavismo-madurismo na Venezuela;
2) trouxeram de volta o peronismo argentino;
3) converteram o Brasil em pária internacional, e não só no meio ambiente;
4) iniciaram uma luta insana contra a “ideologia de gênero” nos foros internacionais;
5) aliaram o Brasil aos mais execráveis líderes da extrema-direita mundial.

Tem muito mais a apresentar...
Até quando irá a destruição da política externa e da diplomacia brasileira sob a direção dos aloprados que subordinaram o Brasil aos desejos de Trump?
Paulo Roberto de Almeida
Pirenópolis, 6/09/2019

sábado, 5 de outubro de 2019

Silviano Santiago: 35 ensaios, ao longo de uma vida inteira (OESP)

'35 Ensaios' concentra o essencial da obra ensaística de Silviano Santiago

Livro reúne artigos que revelam a diversificada carreira intelectual de um 

dos críticos brasileiros mais importantes da atualidade, 

em seus mais de 60 anos de trabalho

Ubiratan Brasil, O Estado de S. Paulo 
04 de outubro de 2019 | 17h19 
Silviano Santiago gosta de desafios intelectuais - um dos mais importantes críticos literários do Brasil, ele (que também é um premiado escritor) ganhou projeção ao longo dos anos por seu incansável interesse em investir em territórios inexplorados e, principalmente, por corrigir seu rumo se necessário e até em se desmentir. 
Silviano Santiago
Obra do crítico literário Silviano Santiago dialoga com grandes nomes da literatura, como Joaquin Nabuco, Sérgio Buarque de Holanda e Caio Prado Jr.  Foto: Fernando Azevedo

Com seis décadas de uma carreira intelectual diversificada e múltipla, o crítico tem parte significativa de sua obra ensaística agora reunida no volume 35 Ensaios de Silviano Santiago (Companhia das Letras), com organização de Ítalo Moriconi. “A obra ensaística de Silviano dialoga com uma família de que fazem parte nomes como Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Candido, Caio Prado Jr., Celso Furtado, Raymundo Faoro, entre tantos outros”, observa Moriconi, no prefácio. 
De fato, os novos rumos da cultura e a política da globalização nunca escaparam ao olhar atento do escritor e ensaísta, que se debruçou em questões sociais e também na forma como a crítica literária é exercida na imprensa. Autor de obras referenciais, como Uma Literatura nos Trópicos (1978) e Cosmopolitismo do Pobre (2005), Silviano, em conversa com o Estado, faz uma relação entre dois clássicos, Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa.
  
Capa do livro '35 Ensaios', de Silviano Santiago. Obra reúne boa parte da sua crítica ensaística Foto: Companhia das Letras

 

‘Machado de Assis é tão moderno como Kafka ou Borges’

Silviano Santiago respondeu, por e-mail, às seguintes questões do Estado 
O senhor já disse que o ensaio tem a ver com a tentativa, com a experiência e com a audácia de trilhar caminhos desconhecidos. 
Perdoe a insistência no tom subjetivo. Tenho formação universitária, escrevi e defendi tese de doutorado, fui professor por 40 anos, orientei umas 50 teses, mas sou também escritor. Desde logo, julguei o ensaio mais harmonizável com a carreira de escritor. Sim, ensaio é experimento, disse-o Theodor Adorno, e o repeti. Numa tese, você esmiúça uma obra, a de Carlos Drummond, por exemplo. É trabalho de meia-vida, um catatau de 400 páginas. Num ensaio, 20 páginas, você elege o objeto de estudo, centraliza o foco da atenção e da intenção em detalhe a ser destacado e examinado à luz de microscópio.  
Como assim?
Exemplifico o momento-chave da opção. Em meados dos anos 1960, já conhecia bem a poesia de Drummond, mas a lia com a ajuda dos manifestos de vanguarda. De repente, topo com o poema A Máquina do Mundo, no livro Claro Enigma. Puro Camões e Os Lusíadas. Isso não acontece num poeta modernista! Aconteceu. Insanamente, dedico-me a questões paralelas a Drummond. Escrevo ensaio e o publico. Apresenta leitura original do poema de Drummond, mas fala também do papel da tradição na vanguarda modernista, das relações ditas como nulas entre os modernistas brasileiros e a literatura portuguesa clássica, da necessidade de se estudar a literatura nacional da perspectiva comparada, e assim por diante. O poeta não gostou do ensaio e me enviou um poema bem irônico (incluiu-o nas Obras Completas). Em nada recomendável na época, o experimento atingiu a consciente inconsciência do modernista e o nervo do poema. 
No ensaio ‘Retórica da Verossimilhança’, o senhor afirma, acerca dos descaminhos que encontrava na crítica machadiana, que Machado é essencialmente um romancista “ético”. 
Narrador e personagens do romance machadiano não requerem a cumplicidade fraterna do leitor. Nenhuma empatia. Eis a grande originalidade e sua miséria em terra e em época de leitores apressados e altissonantes. O romance machadiano despreza a cumplicidade do leitor de calças curtas; requer seu espírito crítico. Retomando Leonardo da Vinci, o romance para ele “é cosa mentale”, que se oferece ao leitor como objeto matreiro e sedutor, bem no ponto para ser servido à reflexão. Ao contrário do mestre José de Alencar que, como bom nacionalista, se dedicou a pintar os heróis da brava gente brasileira, Machado é um autor pós-épico.  
Como assim?
Seus personagens são sub-heróis. Não são escritos só com a memória recente da independência. São escritos com “toda a memória do mundo”, para retomar o título do documentário de Alain Resnais sobre a Biblioteca Nacional. Pós-dramático, o autor não chega a endossar os valores do Iluminismo, à diferença dos companheiros Aluísio Azevedo e Lima Barreto. Machado é tão moderno quanto Franz Kafka, Samuel Beckett ou Jorge Luis Borges. É o romancista da voz cansada, íntima e percuciente. Trêfegos, falastrões e dissimulados, seus personagens escondem à flor da pele as imperfeições da alma. Em Machado, a estética se alia à ética. Exige seus princípios no ato de leitura. Se não há heróis, tampouco há verdade escancarada. Ou melhor, a verdade só se escancara na dimensão da leitura. Em Dom Casmurro, escancara-se a verossimilhança do adultério feminino para que o leitor chegue à verdade do ciúme masculino, possessivo. Se o leitor se encantar com a verossimilhança, tropeça, cai no chão e é devorado pela esfinge.  

Silviano Santiago
Silviano Santiago, um dos mais importantes críticos literários do país, segura a obra 'Mil Rosas Roubadas' da editora Companhia das Letras.  Foto: Daniel Teixeira/ Estadão

Uma das principais funções da crítica hoje seria a intermediação entre o leitor e a obra de arte de difícil compreensão? 
A questão da domesticação é dependente da boa intenção do crítico. Ele já tem um repertório de leituras e, no diálogo com o leitor, julga necessário lhe oferecer como intermediário uma segunda obra que o ajudará na compreensão da primeira. Compara a obra que apresenta certa estranheza à obra já conhecida e assimilada. As boas intenções da intermediação podem pavimentar a desorientação maior do leitor.  
Como assim?
Uma obra de arte, se comparada a outra, ajuda (facilita a leitura da estranheza) e não ajuda (embaralha a compreensão justa da estranheza). O problema está menos na ajuda duma obra para a leitura de outra do que no protocolo de leitura exigido por uma obra e pela outra.  
Que tipo de problema provoca?
Abordar o Grande Sertão: Veredas, apoiando-se em Os Sertões, de Euclides da Cunha, ajuda o leitor, mas embaralha a compreensão dos dois. São duas obras admiráveis e afins, mas são díspares na leitura. O épico de Euclides representa um acontecimento histórico que se passa em região precisa. É simbólico da passagem da monarquia à República e apresenta um trabalho com personagens que levam os nomes de batismo. Nação em tumulto, revisão das instituições nacionais (o Exército), revolta do atraso à modernização, etc., servem de referência clara e necessária na construção da trama. Os Sertões se enquadra no gênero romance histórico. Já Grande Sertão é romance de caráter alegórico. Por meio de alegorias, fala duma nação de gosto desenvolvimentista que acaba por ser uma das mais injustas do planeta. No presente, passado e futuro, a ostentação convive com a miséria social e econômica. Pensem: a abertura da Avenida Central, hoje Rio Branco, é causa da invenção da favela carioca. Hoje, a Barra da Tijuca da Olimpíada convive com o morro do Alemão. Seus personagens vivem, portanto, num enclave perdido e feroz e não se expressam como “vidas secas”, afônicas. Como referência geográfica, o romance de Rosa só tem a proximidade de Brasília, que o nega, e seu estilo tem como modelo a estética do “menos que é mais”, que ele nega. Não é romance moderno, é nosso contemporâneo. Sob o efeito das luzes do planalto central, quer enxergar as trevas da nacionalidade. Se adubado pela leitura de Os Sertões, o leitor se perderá ao embrenhar na selva selvaggia criada de maneira intempestiva por Guimarães Rosa. 

Vencedores do Prêmio Brasil de Economia - Cofecon

Confira os vencedores do Prêmio Brasil de Economia
Cofecon, 3 de outubro de 2019
https://www.cofecon.org.br/2019/10/03/confira-os-vencedores-do-premio-brasil-de-economia/




Os vencedores do XXV Prêmio Brasil de Economia já foram definidos. A premiação ocorrerá na cerimônia de abertura do XXIII Congresso Brasileiro de Economia (CBE), no dia 16 de outubro de 2019, em Florianópolis. Confira, abaixo, a lista completa com os nomes dos ganhadores por categorias.
Categoria Livro de Economia
1º Lugar (Prêmio de R$ 8.000,00): Economista: Beatriz Macchione Saes – Registro: 34305-SP. Título: “Comércio ecologicamente desigual no século XXI. Evidências a partir da inserção brasileira no mercado internacional de minério de ferro”;
2º Lugar (Menção honrosa): Economista: José da Silveira Filho – Registro: 3991-PR. Título: “As metamorfoses do café. O surgimento da indústria brasileira (1860-1930)”;
3º Lugar (Menção honrosa): Economista: Fernanda Graziella Cardoso – Registro: 32771-SP. Título: “Nove clássicos do desenvolvimento econômico”.
                                                                                                 
Categoria Tese de Doutorado
1º Lugar (Prêmio de R$ 7.000,00): Economista: Tomás Amaral Torezani – Registro: 8700-RS. Título: “Evolução da produtividade brasileira: mudança estrutural e dinâmica tecnológica em uma abordagem multissetorial”;
2º Lugar (Menção honrosa): Economista: Lucas Milanez de Lima Almeida – Registro: 1621-PB. Título: “A desindustrialização à luz da Teoria Econômica Marxiana: conceitos, definições e um estudo do caso da economia brasileira pós-1990”; 
3º Lugar (Menção honrosa): Economista: Autenir Carvalho de Rezende – Registro: 2222-GO. Título: “Capitalismo histórico-espacial no Brasil – Sistemas de circulação, integração nacional e desenvolvimento”.

Categoria Dissertação de Mestrado
1º Lugar (Prêmio de R$ 5.000,00): Economista: Arthur Henrique Santos Bronzim. Registro: 36641-SP. Título: “A eficiência do gasto público como viabilizadora do novo regime fiscal: uma aplicação para as internações do Sistema Único de Saúde no Brasil entre 2008 e 2017”;
2º Lugar (Menção honrosa): Economista: Camila de Almeida Luca – Registro: 3263-SC. Título: “Influência dos fatores socioeconômicos familiares na escolha dos cursos de nível Superior para os ingressos na UDESC em 2018”;
3º Lugar (Menção honrosa): Economista: Alex Rilie Moreira Rodrigues – Registro: 703-RO. Título: “Análise da convergência de renda para os estados e municípios da região Centro-Oeste do Brasil: entre 1999 a 2015”.

Categoria Artigo Técnico ou Científico
1º Lugar (Prêmio de R$ 3.000,00): Economista: Augusta Pelinski Raiher – Registro: 7148-PR. Título: “Condição de pobreza e criminalidade: uma análise espacial entre os municípios do Paraná”;
2º Lugar (Menção honrosa): Economista: Keynis Cândido de Souto – Registro: 5191-PE e Economista: Marco Flávio da Cunha Resende – Registro: 4713-MG. Título: “Câmbio real e inovação tecnológica: evidências empíricas”;
3º Lugar (Menção honrosa): Economista: Kalinca Léia Becker – Registro: 7029-RS. Título: “Deficiência, emprego e salário no mercado de trabalho brasileiro”.
                                                                                                                                        Categoria Monografia de Graduação (Estudante)                                              1º Lugar (Prêmio de R$ 3.000,00): Estudante: Áurea Christina Santos Souza. Título: “Qualidade ambiental das regiões metropolitanas do Nordeste brasileiro: um estudo comparado”. Instituição: Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC;
2º Lugar (Menção honrosa): Estudante: Jefferson Chaves da Silva. Título: “Pobreza multidimensional nas mesorregiões catarinenses: um estudo a partir da abordagem das necessidades básicas”. Instituição: Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC;
3º Lugar (Menção honrosa): Estudante: Ana Clara Ramos Simões. Título: “Pobreza multidimensional em Minas Gerais: uma análise em suas mesorregiões nos anos 2000”. Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG.

Anthony Pereira no encontro da ANPOCS, 2019 - Relendo Samuel Huntington


 ANTHONY PEREIRA (Brazil Institute King's College London)24/10, quinta-feira, das 11h10 às 12h00, sala 5  – Anfiteatro Caxambu - Hotel Glória
Samuel Huntington, Brazilian "Decompression" and Democracy



The Harvard political science professor Samuel P. Huntington (1927-2008) was a leading theorist of the “third wave” of democratization. Some observers see his 1972 and 1974 visits to Brazil to advise the leaders of the authoritarian regime about “decompression”, or regime liberalization, as an important part of the third wave and the beginning of Brazil’s transition to democracy. This talk argues instead that Huntington’s commitment to democracy in this period was much weaker than most theorize. Elements of Huntington’s thinking revealed in his personal papers and in later publications remind us that commitments to democracy during the third wave were weaker than many believed, not only at the level of mass attitudes but also amongst intellectuals such as Huntington. This weakness has been revealed by the rise of nationalist-populist movements, politicians and discourse in many democracies in recent years