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terça-feira, 5 de julho de 2011

Um Marcel Proust das baratas: vocacoes perdidas na burocracia

O memo do qual transcrevo apenas parte, abaixo, para não constranger as baratas, foi efetivamente preparado, protocolado e enviado por seu autor, um aspone, ou seja um importante assessor de um importante ministro de um importante ministério da importante Esplanada da importante capital brasileira.
Brasília fica, como todo mundo sabe, no cerrado central, um ambiente propício às vocações literárias, com seu céu sempre azul, nuvens resplandecentes (enfim, tem também seis meses de chuva), vegetação rasteira e políticos ainda mais rasteiros. Mas os aspones pertencem a outras categorias: pessoas que, sem ter muito o que fazer, se dedicam a suas lides literárias, como se lê abaixo, neste Memo 6714/2011, enviado em 1. de Julho, em caráter urgente, ao chefe do que se supõe seja um serviço de limpeza, ou de exterminação de seres indesejados (tem muita sigla obscura).
A prosa é saborosa, como vocês podem constatar...
Paulo Roberto de Almeida
" Assunto: Dedetização

Reitero pedido de providências urgentes para dar fim às baratas que infestam este Gabinete, em especial a copa e a máquina de café expresso, fazendo ninho, inclusive no interior das estações de trabalho, nos armários e nos aparelhos de telefone, e passeando de maneira tranquila e impune pelas coisas e pessoas, trabalhadores e visitantes.

2. Faz-se necessário esclarecer que, não obstante serem as baratas insetos de hábitos noturnos, mais ativas à noite, quando saem do abrigo para comer, copular e botar ovos, as que por aqui transitam não têm o menor constrangimento em desenvolver suas atividades também durante o dia, o que tem chamado a atenção até mesmo do próprio Ministro, que vem dividindo com elas, diuturna, democrática e insalubremente, o ambiente de trabalho.


Atenciosamente"

(Assinado)
[Nome]
Assessor Especial do Ministro

=====

Eu particularmente considero o autor uma grande vocação para a literatura, capaz de ingressar na Academia Brasiliense de Letras e, quem sabe até, galgar posições mais elevadas na nossa República das Letras.
Creio que as baratas continuarão conosco até o fim dos tempos, mas depois desse dramático memorandum, elas não conseguirão sobreviver no gabinete do ministro...
Paulo Roberto de Almeida

6 comentários:

Anônimo disse...

Eu trabalho lá! :-(

Paulo Roberto de Almeida disse...

OK, você já deve ter visto o expediente, e se quiser pode falar mais um pouco...
Paulo Roberto de Almeida

Anônimo disse...

E eu conheço muito bem e já trabalhei durante anos com quem redigiu o fatídico memo, que, por sinal, diante da repercussão gerada na esplanada, seja demitida, no lugar das baratas. A criatura pertence à categoria daqueles que imprimem uma escrita primorosa e bem humorada. Fazer o que ?

Anônimo disse...

E eu conheço muito bem a pessoa que redigiu esse memo, que, por sinal, diante da repercussão gerada na esplanada dos ministérios, talvez seja até demitida, no lugar das baratas. A criatura pertence à categoria daqueles que imprimem uma escrita primorosa e bem humorada. Fazer o que ? Quer conhecê-la ? Visite o blog: http://maracisantana.blogspot.com/

Anônimo disse...

A funcionária é psicóloga e dentre outros grupos de terapaia que organizou consta "AGORA JÁ POSSO CONTAR"(!)
*fonte:Blog Psicoproseando...com Maraci.

Vale!

Anônimo disse...

"Quando regressamos ao BNDE, Glycon de paiva e eu, encontramos o banco bastante mudado. Os severos critérios de recrutamento por concurso haviam sido consideravelmente flexibikizados. Encontramos nos gabinetes da presidência e da superintendência um grupo de secretárias de apreciáveis qualidades estéticas, recrutadas sem concurso.. Em nosso estrito moralismo resolvemos revigorar o sistema de concuros público. Previsivelmente, as meninas bonitas, ou não se candidataram ao concurso, ou foram em grande parte reprovadas. A geração concursada para o nível secretarial era intelectual e profissionalmente muito melhor preparada, porém, de um modo geral, de lamentável qualidade estética. O dia em que se procedeu à demissão coletiva das não-concursadas, e admissão coletiva das concursadas, foi humanamente penoso, regado a choros e protetos. Fiquei comovido quando, como diretor-superintendente, tive que assinar as portarias de demissão. Com sua tardicional verve, Glycon procurou consolar-me:- Não se preocupe, Roberto, essas meninas são tão bonitas que não ficarão desamparadas. Demitidas viverão muito melhor 'de metidas'".
*Excerto do livro/memórias "A Lanterna na Popa" de Roberto Campos.

Meus caros o "aparelhmamento" da máquina estatal não é um fenômeno novo!Porém, testemunhei uma nova variante onde a "companheirada" já estendeu seus tentáculos à organismos internacionais no processo seletivo para consultores de projetos de cooperação técnica entre o Brasil e países africanos!...Tá tudo dominado...!

Vale!