Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Enrolacao cambial: governo repete as mesmas bobagens de sempre...
Se alguém acredita, meus parabéns, já temos candidatos ao ingênuo da semana...
Mil perdões se ofendo alguém, sobretudo nossas autoridades tão preclaras, mas as razões de por que eu acho que o governo está enxugando gelo são muito simples, mas o governo não parece perceber.
Existe um problema de desvalorização do dólar? Claro que existe: quando o governo americano despeja bilhões de dólares nos mercados, ele está empurrando a crise para os demais países, ou seja, dividindo o prejuízo com todos aqueles que usam o dólar. Isso é normal, e já foi feito antes, com acordo ou sem acordo no âmbito do G7, do G20, do FMI, seja lá onde for, o governo americano conduz um processo de desvalorização administrada do dólar, para ganhar competitividade e reduzir sua exposição internacional (ainda que sob risco de ver outros países se afastarem do dólar, um risco mínimo estima ele).
Existe um problema de manipulação cambial por parte da China? Claro que existe, mas a China apenas faz aquilo que o Brasil ou outros países já fizeram dezenas de vezes no passado, no presente e que continuarão fazendo cada vez que tiverem necessidade de preservar empregos industriais, competitividade exportadora, ainda que sob risco de deixar sua população mais pobre, relativamente. Mas os efeitos emprego são julgados mais importantes do que os de renda.
Existe um problema de VALORIZAÇÃO DO REAL? Claro que existe, e ele é causado inteiramente por nossas (minhas não, deles) políticas, não tendo nada a ver com a desvalorização do dólar ou com a manipulação do yuan. Essa valorização é feita aqui, made in Brazil, e deriva inteiramente de nossa política fiscal esquizofrênica, mais do que nossa política monetária de flutuação, e não manipulação, como gostariam alguns malucos universitários.
Enquanto os juros no Brasil forem quatro a cinco vezes maiores do que no resto do mundo, ou do que nos principais países exportadores de capitais, pelo menos, a nossa moeda vai continuar se valorizando.
Existe alguma maneira de coibir, inverter, corrigir esse ciclo ascendente?
CLARO QUE EXISTE. Basta o governo PARAR de gastar mais do que deve, mais do que arrecada, ser um extrator líquido da poupança privada, ser um despoupador contumaz e um gastador inveterado. E também parar de arrecadar nesses níveis de país rico, para uma renda de país pobre.
O governo é sempre o culpado, não procurem outro responsável.
Repito para ficar bem claro: O GOVERNO TEM TODA A CULPA DA VALORIZAÇÃO CAMBIAL.
Os empresários que ainda não perceberam isto ou são ingênuos, ou são desinformados, ou são estúpidos, por vezes todos os três, ao mesmo tempo.
Sorry, empresários: parem de cultivar governos esquizofrênicos...
Paulo Roberto de Almeida
Bastidores Líderes
boletim do Forum dos Líderes, 28/07/2011
Na sexta-feira da semana passada, Dilma garantiu que o governo não tomaria mais medidas cambiais até que o cenário externo ficasse mais claro.
Na segunda-feira, Guido Mantega "desautorizou" a presidente e disse que tinha medidas duras no bolso e alertou: "Podem se preparar".
O ministro tinha razão.
Ontem o governo soltou uma série de medidas que podem afetar o câmbio. A que traz novidades é uma só, as demais são remendos nos furos dos diques de medidas anteriores. É a que introduz um IOF de 1% nos contratos de câmbio do mercado futuro - e autoriza o governo a aumentar o imposto para até 25%, caso o mercado não se comporte como ele quer.
A idéia é conter a especulação dos que apostam na desvalorização contínua do dólar e tentar segurar a valorização do real.
Como todas as ideias que surgem da cabeça de Mantega - se bem que essa, parece, foi dada ao ministro pelo economista Roberto Gianetti da Fonseca, diretor de Comércio Exterior da Fiesp - a nova taxação também é polêmica.
Primeiro, em relação à sua eficácia. Achando que foi um tiro de canhão para matar uma formiga, o mercado acha que é questão de dias para se encontrar brechas para driblar a taxação.
Sempre elegante, o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira deixa no ar a insinuação de que Mantega talvez não saiba, mas o mercado financeiro hoje é global. O que é proibido ou caro aqui, se faz ali. E diz que a medida pode ser um tiro no pé.
Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central, é mais direto: a medida é "péssima" e "desesperada". Concorda com Marcílio que ela tende a diminuir a liquidez no Brasil e aumentá-la no Exterior. Trocando em miúdos: as operações com dólar futuro saem da BM&FBovespa e vão para a Bolsa de Mercadorias de Chicago. "É contra o Brasil", diz Loyola.
Se você acha que Loyola pegou pesado demais, veja o que disse Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes da Nomura Securities em Nova York: "É uma insanidade, uma medida sem noção, pois vai destruir o mercado de hedge no Brasil".
Para o economista Roberto Troster, ex-Febraban, a medida é "como jogar uma xícara de água em uma fogueira". Amaina um pouco na hora e logo o fogo volta com toda a força.
A maioria dos analistas concorda que, para conter a valorização do real, é preciso fazer aquilo que o governo nem quer ouvir falar: cortar gastos, para poder reduzir juros.
O presidente da Abimaq, Mário Bernardini, sintetiza: "O que precisa é parar de pagar juros quatro, cinco vezes maiores do que em outros países. O resto é quebra-galho".
Joelmir Beting acha que a medida pode ser suficiente não para manter o dólar flutuando acima de R$ 1,60, mas para evitar que flutue abaixo de R$ 1,50.
Alguns jornais manchetaram que o dólar teve ontem a maior alta em um ano, 1,3%, em decorrência das providências governamentais. É mais ou menos verdade. Esqueceram de dizer que o dólar subiu no mundo todo. E "a maior alta em um ano" corresponde a exatos e minguados três centavos.
Aumenta a sensação nos Estados Unidos que não se chegará a um acordo no Congresso sobre a elevação do teto da dívida e que o calote virá. O governo já está trabalhando em um plano para o day after, para ver o que vai deixar de pagar, se não houver acordo.
Mohamed El-Erian, executivo-chefe da Pimco, um dos maiores investidores globais, acha que o acordo acontecerá, mas não evitará que os Estados Unidos percam a nota triple A, a mais alta das agências de classificação de riscos. O que, além das consequências internas, causará turbulências não previsíveis no mercado financeiro global.
Ainda sobre a medida de Mantega, Tutty Vasquez diz que não se fala em outra coisa nos pontos de ônibus. Uma passageira sintetiza a opinião do povão: "Tudo isso é muito relativo".
Boa leitura.
Teodoro G. Meissner
Editor
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