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sábado, 19 de dezembro de 2009
1571) Cupula do clima em Copenhage: fracasso anunciado
Reinaldo Azevedo, 19/12/2009
Hoje é dia 19, né? Os jornais devem noticiar o que está sendo considerado o desastre de Copenhague. Nada aconteceu. E os Estados Unidos estão no banco dos réus, como não poderia deixar de ser. Se o país tivesse cedido às exigências dos pobres, teria sido tratado como um gigante acuado; como não cedeu, então passa a ser um vilão. Em qualquer dos casos, não se reserva ao país senão o lugar do derrotado ou do arrogante, jamais o do parceiro.
Até porque não era mesmo de parceria que se falava ali. Todos foram lá salvar o planeta desde que o outro pagasse a conta. E, nesse caso, é óbvio que todo mundo olha o rico da mesa esperando que ele diga um “deixa comigo”. Mas Obama não disse. Até porque, e muitos lastimam, os EUA são uma democracia. As metas têm de ser aprovadas pelo Congresso. E Obama tem outras urgências. E certamente já se cercou de cientistas que o advertiram contra este novo milenarismo.
Hoje é dia 19, mas antecipei aqui as razões do fracasso no dia 17, sem ter ido a Copenhague (ver texto em azul no pé deste post). É claro que é sempre bom estar no local, desde que você leve junto aquilo que não muda por mais que mude o céu: o espírito. Às vezes, nada turva mais a inteligência do que a experiência! É evidente que muita gente se deixou levar por aquele clima (ops!) de “Vamos salvar o mundo; está em nossas mãos”. Salvar? A fazer o que querem alguns, ele poderia ser destruído por uma seqüência de catástrofes.
Dou um exemplo claríssimo e que nos diz respeito de perto. Sem a China, a economia brasileira iria para o vinagre. O país responde por boa parte dos fatores que fizeram Lula voar em céu de brigadeiro. Pois é… A China cresce 8% na crise; sem crise, ela faz mais. E é esse crescimento que tem financiado boa parte do mundo, o Brasil em especial. É consenso que, nesse ritmo, ela vai aumentar a emissão de carbono, em vez de diminuir . Mas pode ficar tranqüilo, leitor; isso não ameaça ninguém.
Pois bem: alguém me diz qual é a proposta? A China tem de crescer 4%? Se isso acontecer, o mundo vai à falência. E o primeiro a afundar, acreditem, será o Brasil. Que montante do valor destinado à infra-estrutura, por exemplo, deverá ser carreado para projetos de redução da emissão de carbono? Virá junto, suponho, um programa de esterilização em massa, não é? E tudo em nome do que não passa, até agora, de uma quimera. Mas que é influente e vai continuar por aí. Tanto é que todos os esforços se voltam agora a reunião do México, em 2010. E assim vai. Os produtores de escatologia continuarão a desenhar cenários catastróficos.
Lula fez um discurso forte, emocional, falou em milagre, chamou os grandes líderes do mundo à sua responsabilidade… Foi sucedido na tribuna por um Barack Obama frio, quase esfíngico, que não deu a menor bola para a torcida. Se a China não aceita ter as suas emissões inspecionadas, por que os EUA terão de ir para o banco dos réus de um Tribunal Climático Internacional? Ora…
Ah, ok, que os países poluam menos. Isso parece bom. Mas a economia mundial é coisa séria demais para ser decidida por meteorologistas e ongueiros. Especialmente porque é uma gente que quer se impor por meio da ditadura de opinião, que não aceita o contraditório. Se a reunião do México vier nos mesmos termos de Copenhague, vai de novo para o vinagre. E não é preciso estar em Copenhague para entender por quê. A rigor, estar lá, em muitos casos, até atrapalha a percepção. Digamos que é preciso estar nos livros de história para entender a Cupula de Babel.
Anteontem, expliquei aqui por que o resultado seria esse. O texto segue abaixo. Uma releitura rápida será interessante porque ele poderia ter sido escrito agora, depois que já se sabe que Copenhague não deu em nada. Quem lembra de tudo o que vai nele já pode saltar diretamente para os comentários. Ah, sim: toda religião tem sua própria versão para o fim do mundo, mas relaxem: o mundo não vai acabar. Não precisa sair por aí “beijando a boca de quem não devia”…
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OS RICOS E O ÓBVIO
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009 | 16:00
O discurso de Lula em Copenhague deixa claro por que a reunião já é um insucesso e por que se trata, como chamei, da última missa do aquecimento global. O assunto virou, como é natural, um braço-de-ferro entre países ricos e pobres, com o grupo dos emergentes tentando ser rico o bastante para dar as cartas e pobre o bastante para se aproveitar de eventuais incentivos. E isso, bem…, isso é contra a lógica do processo e contra a natureza dos… ricos.
Afinal, o que querem os não-ricos? Que os outros se comprometam com metas severas na emissão de carbono, por conta de seu passado, enquanto emergentes como Índia e China poderiam emitir à vontade. Reparem: se isso fosse possível, seria como propor uma troca pacífica de papéis: um grupo marcaria um encontro com o declínio econômico no médio prazo, financiando o outro. E o Brasil? A sua proposta de propaganda é boa porque a maior parte das emissões atribuídas ao país vem das queimadas. A sua redução não comprometeria tanto assim o seu desenvolvimento. Mesmo São Paulo, o estado mais desenvolvido do país, tem uma emissão considerada pequena, dado o seu PIB, em razão da grande frota de carros a álcool, da quase extinção das queimadas de cana, da existência da mata atlântica - pequena, sim, mas grande caso se considere o conjunto da economia do estado. As queimadas é que minam a nossa reputação junto aos Apóstolos da Igreja do Aquecimento Global dos Santos dos Últimos Dias.
Com os ricos e com os outros emergentes, a coisa é um pouco diferente. Metas severas de redução de carbono poderiam atingir gravemente suas respectivas indústrias. É por isso que China e Índia já disseram: “Estamos fora de qualquer meta vinculativa. Isso é coisa dos ricos. E nós não somos ricos”. O Brasil aceita o compromisso porque, em princípio, a sua colaboração não atingiria uma área vital da economia. Mas e os tais “ricos”? Os governos democráticos dos EUA e da Europa desenvolvida se entregarão, assim, ao cadafalso, com o compromisso adicional de financiar os muito pobres? Esqueçam. Trata-se de uma equação sem saída. É por isso que aquele troço não anda nem vai andar.
Vai-se criar o fundo, projetos serão desenvolvidos aqui e ali, as elites gorilas dos países muito atrasados vão se aproveitar de eventuais linhas de financiamento, e tudo vai ficando por isso mesmo. Como até Al Gore já admite que há um certo resfriamento do planeta - pelo menos se consideradas as previsões mais catastrofistas -, o que vai acabar esfriando também é o debate, que assumiu, como se nota, o viés a que estava destinado.
A turma do miolo mole deve ter achado que uma causa tão nobre como “salvar o planeta” anularia diferenças e nos colocaria a todos no mesmo barco. Pois é… Não aconteceu. O debate-boca se assemelhou a qualquer outro travado, por exemplo, na Organização Mundial do Comércio. Al Gore, o garoto-propaganda da causa, está perdidaço. Resolveu ser o aiatolá do xiismo ambientalista, o mundo achou a idéia bacana e resolveu pôr, como sempre, os EUA no banco dos réus, de sorte que a resistência de Barack Obama a Copenhague já é mais clara e mais evidente do que a resistência de Bush aos Protocolos dos Sábios de Kyoto.
2 comentários:
PRA, Toda essa história da Cúpula de Copenhague era algo que já se esperava por muitos, interessante é que mídia em alguns momentos criticou os negociadores(diplomatas) brasileiros pela "quase omissão" do Brasil em vários assuntos tomados como essenciais. Será que o insucesso quase total da comitiva brasileira foi, em parte ou totalmente, culpa de negociadores inexperientes? Um ex-ambientalista ligado ao Ministério do Meio Ambiente disse na edição de sexta, dia 19, no Jornal da Globo, que o Brasil colocou para negociar pessoas que não sabiam "nada" sobre o assunto. Pela sua experiência no campo diplomático você acha que isso possa ter ocorrido?
Carlos André
Carlos André,
Eu não sou competente para opinar sobre o tema, tanto que transcrevi os comentários de um jornalista, inclusive porque não estou envolvido na questão (sequer estou trabalhando atualmente na Secretaria de Estado das Relações Exteriores) e não disponho de conhecimento técnico ou das posições brasileiras suficiente para poder opinar sobre o que esteve na origem do fracasso, certamente não atribuível ao Brasil ou a suas posições defendidas na COP-15.
Minha modesta opinião, com base numa experiência negociadora e de vida diplomática, é que o assunto deveria ter sido tratado em bases estritamente técnicas e científicas (o que esteve longe de ocorrer, posto que as motivações dos principais países negociadoras eram estritamente políticas, com base em seus interesses econômicos) e deveria ter recebido um encaminhamento possível e tentativo, tendo em vista as muitas incertezas e imponderáveis que ainda cercam essa questão.
Existe um novo tipo de malthusianismo, do tipo "o mundo vai acabar, se não fizermos isso e mais aquilo", assim como antigamente se dizia que o mundo iria morrer de fome por excesso de população e falta de alimentos, paranóia não justificada pela história passada e respostas econômicas e tecnológicas da própria sociedade (o mundo teve a sua população multiplicada por seis no decurso do século 20, mas o seu PIB foi multiplicado vinte vezes).
Enfim, não participo da paranóia e do catastrofismo que presidiram às negocições recentes em Copenhagen, e acho que todos os países (com poucas exceções) atuaram mais com base em emoções do que com base na razão. Tampouco preciso dizer que não partilho da esquizofrênia dos ecologistas que se agitaram na capital dinamarquesa em torno de uma fantasmagórica "justiça ambiental".
No que se refere à competência da delegação brasileira, creio, pessoalmente que pessoas ideologicamente motivadas em torno da causa ambientalista, ou pessoas ideologicamente comprometidas com o stalinismo industrial que ainda preside várias políticas públicas de crescimento econômico no Brasil não são certamente as mais indicadas para presidir e participar de discussões como aquelas.
Mas, de forma geral, todo o exercício de Copenhagen era passavalmente esquizofrênico e paranóico, uma farsa, ou um jamboree com muito pouca racionalidade e grande emotividade.
Não é o tipo de exercício que eu escolheria para participar.
Paulo Roberto de Almeida
20.12.2009
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