sábado, 19 de junho de 2010

Governo censura... o governo: comecaram as "explicacoes"...

Sem comentários, ou melhor, apenas um: o governo não quer que, num documento de 3 mil páginas, alguns jornalistas mal intencionados escolham justamente 3 ou 4 páginas que fazem uma avaliação negativa de políticas governamentais para ressaltar, chamar a atenção, insistir no fracasso. O governo quer que se fale das outras 2.996 páginas que fazem uma avaliação positiva. Esses repórteres... ficam buscando agulha em palheiro...

Planejamento retira críticas do ar
Da Redação
O Globo, 19.06.2010

O Ministério do Planejamento retirou ontem, após 48 horas do lançamento e sob protestos de ministros, o Portal do Planejamento. Nele estava abrigada, on-line, uma publicação de três mil páginas com avaliações das ações do governo em diversos setores. A medida refletiu a polêmica na Esplanada provocada por alguns trechos do relatório, que continham críticas, por exemplo, às políticas agrária e de educação, admitiu o titular da pasta, ministro Paulo Bernardo, em entrevista à rádio CBN.

O ministro garantiu que o portal voltará ao ar assim que ajustes forem feitos, sem que as críticas sejam suprimidas. No entanto, poderá não mais ser de acesso irrestrito: — Estamos avaliando em que nível vai ser dado acesso, porque, num site para discutir políticas de governo, me parece razoável também que tenha um nível de acesso, para quem é gestor, para quem é jornalista, para o público em geral. Qualquer parte de governo faz isso.

Trechos do texto — publicados ontem pelo jornal “Valor Econômico” — questionam, por exemplo, o alcance da política de reforma agrária do governo Lula, a viabilidade econômica do biodiesel e a oportunidade de uma política de reconstrução da indústria nacional de defesa. O documento registra ainda que a taxa de câmbio apreciada dos últimos anos prejudicou as exportações nacionais e que os dados atuais refletem uma educação, no país, de baixa qualidade.

O ministro defendeu a iniciativa do documento como contribuição ao debate e à formulação das políticas públicas em curso no país. Mas atribuiu a responsabilidade pelas reflexões negativas nele contidas ao corpo técnico da Secretaria de Planejamento e Investimentos Estratégicos, que recebeu autorização do ministro para realizar o trabalho.

Paulo Bernardo contou ter recebido telefonemas de ministros como Fernando Haddad, da Educação, apontando erros em dados publicados e reclamando da divulgação de análises no site oficial do Planejamento “detonando as políticas”, sem que tenha sido aberto espaço à defesa das demais áreas: — Ficamos numa situação um pouco delicada de explicar que esta não é uma posição fechada do Ministério do Planejamento.

São técnicos que estão fazendo debate.

Paulo Bernardo afirmou que a iniciativa de tirar o Portal do ar foi do corpo técnico, que teria “ficado meio preocupado com a repercussão e achou melhor suspender”. Mas, para ele, a decisão é pertinente, para dar uma resposta clara a seus colegas.

O ministro, que estava em Foz do Iguaçu ontem, já convocou uma reunião com os técnicos responsáveis pelo trabalho, na próxima segunda-feira. Mas enfatizou que não acha razoável “que num site que tem três mil páginas e várias avaliações positivas sobre as políticas de governo, apenas as chamadas reflexões críticas sejam objeto de debate”.

6 comentários:

  1. Bem, professor, uma tristeza isso tudo. Espero que alguém tenha salvado o arquivo para que possamos passar os próximos meses debatendo os dados ali contidos.

    E observo, sendo desagradável: embora ninguém defenda uma imprensa domesticada, não deixa de ser triste também que, diante de por assim dizer um lapso de honestidade governamental, a reação tenha sido essa. Parece que a coisa imediatamente se transformou num circo - como se o documento registrasse um enorme fracasso, o que parece que não registra.

    A impressão é a de que nossos jornalistas não têm ideia do que estão falando, e além disso partem do pressuposto de que o público é igualmente ignorante. Certos ou não, tudo se torna um Fla-Flu. Para alguns Lula faz tudo certo e Serra tudo errado, para outros o contrário. Mesmo quando fazem rigorosamente o mesmo. E, para a imprensa 'neutra', claro, tudo está sempre errado. É como se um julgamento fosse feito com base apenas em testemunhos, sem que se possa ter recurso a qualquer técnica para avaliar se algo ocorreu ou não.

    Assim, o documento é importante e desejado não pelos dados que eventualmente traga, e que poderiam gerar debate honesto, mas pela potencialidade de que traga 'confissões' do governo federal de que fracassou. Aí sim fica uma manchete bonita, 'Governo admite que analfabetismo persiste', como se o analfabetismo persistir dependesse dessa confissão e não pudesse existir sem que Serra ou Dilma tenham essa ou aquela opinião. No dia do crescimento de 9%, parecia que o essencial era saber o que pensavam os candidatos, se Serra ia criticar, como Dilma ia se referir ao assunto, e não efetivamente o que aquilo significava.

    Ou seja, um debate desoladoramente pobre. O que, não justificando a ação atrapalhada, explica o porquê de o governo tirar do ar aquilo que poderia ser objeto de bom debate mas será - e é isso o que todos esperamos - apenas objeto de chicana e notícias alienadas (isto é, fora de qualquer contexto).

    Quando toda referência a fatos é substituída por uma guerra de versões, dá pra entender que os participantes simplesmente rejeitem encampar a versão alheia, não é mesmo? E, infelizmente, a crítica (válida) da atitude censora será recebida exatamente dessa forma: os opositores não estão preocupados de verdade, querem apenas bala para atirar no governo.

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  2. Acho assustadora a notícia de que com uma ordem e um clique a censura se fez sobre informações que deveriam ser públicas, sem níveis de acesso nem nada do tipo.

    Me fez lembrar uma postagem recente que o senhor fez, sobre um vídeo comemorativo da CNN, que sofreu censura quando transmitido aí na China. De arrepiar.

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  3. Certas pessoas são muito sensíveis as críticas, ou então acham que jornalistas só podem escrever a favor...
    Conheço certos países assim...
    Paulo Roberto de Almeida

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  4. Quem dera se esses 1% fossem irrelevantes. Como se as exportações do agronegócio brasileiro não afetassem toda a economia nacional.

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  5. Na condição de cidadão, contribuinte e eleitor, ou de acionista da Brasil S/A, eu não poderei mais ter livre acesso à auditoria da empresa? Esse caso me fez lembrar de uma cooperativa agrícola que conheci no passado. Os membros da diretoria tiraram vantagem de suas posições, e para não deixar rastros contrataram uma firma de auditoria suspeita. Bem mais tarde, quando os associados descobriram o tamanho do rombo financeiro, infelizmente já era tarde demais.

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  6. Caro contribuinte eleitor,
    Você como cidadão pagador de impostos, vem sendo ludibriado todos os dias, pois o governo está disfarçando empréstimos ao BNDES e a Petrobras, via Tesouro, como se fossem "investimentos" com retorno garantido, retirando isso da dívida ativa, mas deixando a conta para todos nós pagarmos. Isso é manipulação contábil e maquiagem financeira.
    Tenha absoluta certeza de que a bomba-relógio fiscal vem sendo construida de forma absolutamente irresponsável. Vamos pagar por isso dentro de alguns anos.
    Paulo Roberto de Almeida

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